O ego e o ID e outros trabalhos VOLUME XIX - ceapp
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O componente sádico do instinto sexual seria o exemplo clássico de uma fusão instintual útil; e o<br />
sadismo que se tornou independente como perversão seria típico de uma desfusão, embora não<br />
conduzida a extremos. A partir deste ponto, obtemos a visão de um grande domínio de fatos que<br />
ainda não tinham sido considerados sob essa luz. Percebemos que, para fins de descarga, o<br />
instinto de destruição é habitualmente colocado a serviço de Eros; suspeitamos que a crise<br />
epiléptica é produto e indicação de uma desfusão instintual, e viemos a compreender que a<br />
desfusão instintual e o surgimento pronunciado do instinto de morte exigem consideração<br />
específica entre os efeitos de algumas neuroses graves, tais como, por exemplo, as neuroses<br />
obsessivas. Fazendo uma generalização rápida, poderíamos conjecturar que a essência de uma<br />
regressão da libido (da fase genital para a anal-sádica, por exemplo) reside numa desfusão de<br />
instintos, tal como, inversamente, o avanço de uma fase anterior para a genital definitiva estaria<br />
condicionado a um acréscimo de componentes eróticos.Surge também a questão de saber se a<br />
ambivalência comum, que com tanta freqüência é inusitadamente forte na disposição<br />
constitucional à neurose, não deveria ser encarada como produto de uma desfusão; a<br />
ambivalência, contudo, é um fenômeno tão fundamental que ela mais provavelmente representa<br />
uma fusão instintual que não se completou.<br />
É natural que voltemos a indagar com interesse se não poderia haver vinculações<br />
instrutivas a serem traçadas entre, de um lado, as estruturas que presumimos existir - o <strong>ego</strong>, o<br />
super<strong>ego</strong> e o id - e, de outro, as duas classes de instintos; e, além disso, se se poderia<br />
demonstrar que o princípio de prazer que domina os processos mentais tem alguma relação<br />
constante tanto com as duas classes de instintos quanto com essas diferenciações que traçamos<br />
na mente. Antes de debater isto, porém, temos de afastar uma dúvida que surge em relação aos<br />
termos em que o próprio problema é enunciado. É verdade que não há dúvida sobre o princípio<br />
de prazer, e a diferenciação dentro do <strong>ego</strong> possui boa justificação clínica; mas a distinção entre<br />
as duas classes de instintos não parece suficientemente assegurada e é possível que se possa<br />
encontrar fatos da análise clínica que ponham fim à sua pretensão.<br />
Parece existir um fato desse tipo. Para a oposição entre as duas classes de instintos<br />
podemos colocar a polaridade do amor e do ódio. Não há dificuldade em encontrar um<br />
representante de Eros; mas temos de ficar gratos se pudemos achar um representante do<br />
evasivo instinto de morte no instinto de destruição, ao qual o ódio aponta o caminho. Ora, a<br />
observação clínica demonstra não apenas que o amor, com inesperada regularidade, se faz<br />
acompanhar pelo ódio (ambivalência), e que, nos relacionamentos humanos, o ódio é<br />
freqüentemente um precursor do amor, mas também que, num certo número de circunstâncias, o<br />
ódio se transforma em amor e o amor em ódio. Se essa modificação é mais que uma mera<br />
sucessão temporal - isto é, se um deles realmente se transforma no outro -, então perde-se<br />
completamente a base para uma distinção tão fundamental como a existente entre instintos<br />
eróticos e instintos de morte, distinção que pressupõe processos fisiológicos correndo em