O ego e o ID e outros trabalhos VOLUME XIX - ceapp
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diversas vicissitudes ainda é muito obscuro e mal foi enfrentado, até o presente. Nos instintos<br />
componentes sexuais, que são especialmente acessíveis à observação, é possível perceber<br />
alguns processos que pertencem à mesma cat<strong>ego</strong>ria dos que estamos estudando. Vemos, por<br />
exemplo, que existe um certo grau de comunicação entre os instintos componentes, que um<br />
instinto que deriva de uma fonte erógena específica pode transmitir sua intensidade para reforçar<br />
outro instinto componente que se origina de outra fonte, que a satisfação de determinado instinto<br />
pode tomar o lugar da satisfação de outro - e demais fatos da mesma natureza, que devem<br />
incentivar-nos a nos aventurarmos por certas hipóteses.<br />
Além do mais, no presente estudo estou apenas apresentando uma hipótese; não tenho<br />
prova a oferecer. Parece ser uma concepção plausível que essa energia deslocável e neutra,<br />
que é, sem dúvida, ativa tanto no <strong>ego</strong> quanto no id, proceda do estoque narcísico de libido - que<br />
ela seja Eros dessexualizado. (Os instintos eróticos parecem ser em geral mais plásticos, mais<br />
facilmente desviados e deslocados que os instinto destrutivos.) Disso, podemos facilmente<br />
passar a presumir que essa libido deslocável é empregada a serviço do princípio de prazer, para<br />
neutralizar bloqueios e facilitar a descarga. Com relação a isso, é fácil observar uma certa<br />
indiferença quanto ao caminho ao longo do qual a descarga se efetua, desde que se realize de<br />
algum modo. Conhecemos este traço; é característico dos processos de catexia no id. Ele é<br />
encontrado nas catexias eróticas, onde se manifesta uma indiferença peculiar com relação aos<br />
objetos, sendo especialmente evidente nas transferências que surgem na análise, as quais se<br />
desenvolvem de modo inevitável, independentemente das pessoas que são seu objeto. Há não<br />
muito tempo atrás, Rank [1923] publicou alguns bons exemplos da maneira pela qual atos<br />
neuróticos de vingança podem ser dirigidos contra a pessoa errada. Tal comportamento por<br />
parte do inconsciente nos faz lembrar a cômica história dos três alfaiates de aldeia, um dos quais<br />
tinha de ser enforcado porque o único ferreiro do povoado cometera um delito capital.A punição<br />
tem de ser exigida, mesmo que ela não incida sobre o culpado. Foi estudando o trabalho do<br />
sonho que pela primeira vez nos deparamos com esse tipo de frouxidão nos deslocamentos<br />
ocasionados pelo processo primário. Nesse caso, os objetos eram assim relegados a uma<br />
posição de importância não mais que secundária, tal como, no caso que estamos agora<br />
debatendo, são os caminhos de descarga. Seria característico do <strong>ego</strong> ser mais específico sobre<br />
a escolha tanto de um objeto quanto de um caminho de descarga.<br />
Se essa energia deslocável é libido dessexualizada, ela também pode ser descrita como<br />
energia sublimada, pois ainda reteria a finalidade principal de Eros - a de unir e ligar - na medida<br />
em que auxilia no sentido de estabelecer a unidade, ou tendência à unidade, que é<br />
particularmente característica do <strong>ego</strong>. Se os processos de pensamento, no sentido mais amplo,<br />
devem ser incluídos entre esses deslocamentos, então a atividade de pensar é também suprida<br />
pela sublimação de forças motivadoras eróticas.<br />
Chegamos aqui novamente à possibilidade, que já foi debatida [[1]], de que a sublimação