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O ego e o ID e outros trabalhos VOLUME XIX - ceapp

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comprometa a sua felicidade eterna, mas apenas uma exigência efetuada pelo Diabo, que o<br />

pintor deve satisfazer. Impressiona-nos como inteiramente ilógico e absurdo que esse homem<br />

deva entregar sua alma, não por algo que deva conseguir do Demônio, mas por algo que tem de<br />

fazer para este. A promessa feita pelo pintor, porém, parece ainda mais estranha.<br />

O primeiro ‘syngrapha’ [compromisso], redigido a tinta, diz o seguinte: ‘Ich Christoph<br />

Haizmann vndterschreibe mich disen Herrn sein leibeigener Sohn auff 9. Jahr. 1669 Jahr.’ O<br />

segundo, escrito com sangue, diz:<br />

‘Anno 1669.<br />

‘Christoph Haizmann. Ich verschreibe mich disen Satan ich sein leibeigner Sohn zu sein,<br />

und in 9. Jahr ihm mein Lieb und Seel zuzugeheren.’ Todo o nosso espanto se desfaz, contudo,<br />

se lermos o texto dos compromissos no sentido de que aquilo que é representado neles como<br />

uma exigência feita pelo Demônio, é, pelo contrário, um serviço por ele desempenhado - quer<br />

dizer, trata-se de um pedido feito pelo pintor. O pacto incompreensível teria, nesse caso, um<br />

significado direto e poderia ser assim parafraseado: o Demônio compromete-se a substituir o pai<br />

perdido pelo pintor durante nove anos. Ao final desse tempo, o pintor se torna propriedade, em<br />

corpo e alma, do Demônio, como era o costume usual em tais barganhas. A seqüência de<br />

pensamento que motivou o pintor a fazer o pacto parece ter sido esta: a morte do pai o fizera<br />

perder sua disposição de ânimo e capacidade de trabalhar; se pudesse conseguir um substituto<br />

paterno, poderia esperar reconquistar o que perdera.<br />

Um homem que caiu em melancolia por causa da morte do pai deve realmente ter<br />

gostado muito dele. Se assim foi, no entanto, é muito estranho que esse homem tenha tido a<br />

idéia de aceitar o Demônio como substituto do pai que amara.<br />

III - O DEMÔNIO COMO SUBSTITUTO PATERNO<br />

Temo que os críticos sóbrios não estarão preparados para admitir que essa nova<br />

interpretação tenha esclarecido o significado desse pacto com o Demônio. Terão duas objeções<br />

a fazer-lhe.<br />

Em primeiro lugar, dirão que não é necessário encarar o pacto como um contrato em<br />

que os compromissos de ambas as partes foram estabelecidos. Pelo contrário, argumentarão,<br />

ele contém apenas a promessa do pintor; a do Diabo é omitida do texto, sendo, por assim dizer,<br />

sousentendue: o pintor faz duas promessas - primeiro, ser o filho do Demônio durante nove<br />

anos, e, segundo, pertencer-lhe inteiramente após a morte. Assim, uma das premissas em que<br />

nossa conclusão se funda, seria dispensada.<br />

A segunda objeção será a de não termos justificativa para ligar qualquer importância<br />

especial à expressão ‘filho obrigado do Demônio’; que ela não é mais que uma figura comum de

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