BENSUSSAN uma ética do indecidível - escritura: linguagem e ...
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Esta tripla articulação permite compreender melhor ou melhor<br />
determinar a <strong>ética</strong> da flutuação ou a <strong>ética</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s/marranos que<br />
colocou-se em questão. Para dizer a coisa mesma, <strong>uma</strong> certa messianicidade<br />
sem messianismo é muito profundamente implicada em <strong>uma</strong> possível <strong>ética</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>indecidível</strong>, para além mesmo de seus espera<strong>do</strong>s derridianos estritos. É<br />
necessário precisar de <strong>uma</strong> vez o conteú<strong>do</strong> da esperança no que ele se aglomera<br />
ao tempo e ao outro no <strong>indecidível</strong> – não a esperança em geral, portanto, mas<br />
a esperança pelo <strong>indecidível</strong> ou esperança enquanto ela comanda toda decisão<br />
vivente.<br />
Esperar pelo <strong>indecidível</strong><br />
Não se espera senão pelo que está em tensão no instante mesmo<br />
em que o esperar se estabelece, de <strong>uma</strong> vinda, de um amor. Dito de outro<br />
mo<strong>do</strong>, não se espera pelas coisas longínquas – ou então trata-se de <strong>uma</strong><br />
esperança que constitui o esquema pelo qual se imagina o porvir e se dá<br />
seu conceito. Espera-se portanto pelo que é muito próximo, seja o mais<br />
incalculável, o mais não-pré-determinável, o mais im-pré-pensável, pelo<br />
que está o mais carrega<strong>do</strong> de espera e de inquietude, no instante. De um<br />
la<strong>do</strong> « venha, ame-me » não pode dizer-se senão a partir de <strong>uma</strong> vinda já<br />
vinda, um amor já aí – não se poderia endereçar-se a quem se apresenta,<br />
que não entenderia, nesse senti<strong>do</strong>, nem o vir, nem o amar, nem a imperiosa<br />
injunção. É bem necessário que alg<strong>uma</strong> coisa dessa espera esteja já contida<br />
no endereçamento que dela jorra para que ela possa somente proferir-se.<br />
Mas, por outro la<strong>do</strong> e ao mesmo tempo, esta atualização prévia não efetua<br />
nenh<strong>uma</strong> reatualização automática, ela não é nem tem garantia de nada.<br />
Pelo contrário, ela exacerba a questão de sua renovação <strong>indecidível</strong>, ela exige<br />
que eu não saiba decidir, isso de que não há lugar para mim « decidir », que<br />
é requeri<strong>do</strong> e improvável a um só tempo. O esperar condensa assim o mais<br />
próximo e o mais <strong>indecidível</strong> em <strong>uma</strong> intensidade temporal inaudita. Aí,<br />
logo em seguida, isso acontece, isso vai acontecer; mas o acontecimento,<br />
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