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BENSUSSAN uma ética do indecidível - escritura: linguagem e ...

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aparente impossibilidade em um requerimento no entanto muito simples : a<br />

língua lhes é inóspita e ela é no entanto o que os acolhe. Eles formam a instância<br />

de um chama<strong>do</strong> que eu apreen<strong>do</strong> dizen<strong>do</strong> a tal outro para « vir » ou para me<br />

« amar ». Eu « deci<strong>do</strong> » dizer, e dizer imperiosamente, porque não posso fazer<br />

de outra forma, não posso dizer n<strong>uma</strong> não-língua. É-me necessário dizer<br />

na língua <strong>do</strong> outro, na outra língua que eu jamais falarei. Tu<strong>do</strong> nesse dizer<br />

é portanto radicalmente golpea<strong>do</strong> de indecisão ou de <strong>indecidível</strong> : a vinda, o<br />

amor, o vin<strong>do</strong>uro e o ama<strong>do</strong> a que me remeto. O dizer, aqui, não tem outro<br />

senti<strong>do</strong> senão o <strong>indecidível</strong> ao qual ele se expõe. Escutemos as duas vozes tão<br />

próximas e tão díspares a um só tempo, de Derrida, e então de Rosenzweig.<br />

« Venha não é <strong>uma</strong> modificação de vir […] Por consequência<br />

minha « hipótese » não designa mais <strong>uma</strong> operação lógica ou<br />

científica. Ela descreve sobretu<strong>do</strong> o avanço insólito de venha<br />

sobre vir. É um passo a mais ou a menos sob vir. É subtrair alg<strong>uma</strong><br />

coisa em toda posição, tal como ela se propaga e recita através <strong>do</strong>s<br />

mo<strong>do</strong>s <strong>do</strong> vir ou da vinda, por exemplo, o porvir, o acontecimento,<br />

o advento, etc., mas também através de to<strong>do</strong>s os tempos e mo<strong>do</strong>s<br />

verbais <strong>do</strong> ir-e-vir. Venha não dá <strong>uma</strong> ordem, ele não procede<br />

aqui de nenh<strong>uma</strong> autoridade, de lei nenh<strong>uma</strong>, de nenh<strong>uma</strong><br />

hierarquia […] Uma « palavra », deixan<strong>do</strong> inteiramente de ser<br />

<strong>uma</strong> palavra, desobedece à prescrição gramatical ou linguística,<br />

ou semântica, que lhe determinariam ser – aqui – imperativo,<br />

presente, a tal pessoa, etc. Eis <strong>uma</strong> <strong>escritura</strong>, a mais arriscada<br />

que seja, subtrain<strong>do</strong> alg<strong>uma</strong> coisa à ordem da <strong>linguagem</strong> que ela<br />

aí <strong>do</strong>bra em retorno com um rigor muito suave e inflexível […]<br />

Venha não é um imperativo, não é um presente. Não sê-lo, eis o<br />

que o que não lhe confere <strong>uma</strong> sorte de selvageria não linguística<br />

deixan<strong>do</strong> o acontecimento venha em liberdade. Isso insiste, pelo<br />

contrário, na língua de maneira singular, inquietan<strong>do</strong> todas as<br />

seguranças linguísticas, gramaticais, semânticas. Venha não dá<br />

<strong>uma</strong> ordem no presente a <strong>uma</strong> pessoa » 16 .<br />

« O amor não é somente livre oferenda? E eis que se o comanda?<br />

Sim, certamente, não se pode comandar o amor; nenhum terceiro<br />

pode comandá-lo nem obtê-lo pela força. Nenhum terceiro<br />

o pode, mas o único o pode. O coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> amor não pode<br />

vir senão da boca <strong>do</strong> amante. Somente aquele que ama pode<br />

dizer: Ame-me […] O amor daquele que ama não possui outra<br />

palavra para expressar-se senão o coman<strong>do</strong> […] O coman<strong>do</strong><br />

16. Parages, Galilée, 1986, p. 25-<br />

6. Não <strong>do</strong>u conta alg<strong>uma</strong> aqui<br />

da referência blanchotiana da<br />

sentença.<br />

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