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BENSUSSAN uma ética do indecidível - escritura: linguagem e ...

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<strong>uma</strong> reserva, <strong>uma</strong> guarda, mas também um risco sem mesura, <strong>uma</strong> extrema<br />

exposição, esses se entre-implican<strong>do</strong> por aquelas. A morte pode sempre deterse<br />

no encontro de <strong>uma</strong> decisão que resolveria para um contra o outro desejo,<br />

mesmo para um no outro, para o um <strong>do</strong> <strong>do</strong>is, como na dial<strong>ética</strong> <strong>do</strong> mestre e<br />

<strong>do</strong> escravo. Mas ela bem pode também encarnar-se, retorcida e inesperada,<br />

na quase-desaparição <strong>do</strong> lugar realizada pela indecisão suspensiva <strong>do</strong> « nem<br />

isso nem aquilo ». Aconteceu que Derrida relaciona expressamente a lógica<br />

da flutuação <strong>ética</strong> e da suplementarização desconstrutiva a um biografema<br />

preciso, a experiência de <strong>uma</strong> francesidade <strong>indecidível</strong>, de <strong>uma</strong> nacionalidade<br />

flutuante, outorgada e retomada, concedida e ameaçada: « os Judeus da Argélia<br />

de minha geração [os quais] não eram, de mil maneiras, indecidivelmente,<br />

nem franceses nem não-franceses » 14 . Eu me permito aqui adicionar ou incluir<br />

o seguinte: após a guerra, e <strong>uma</strong> vez reestabeleci<strong>do</strong> o decreto Crémieux, que<br />

lhe restituía seus direitos civis de Francês, Léon Bensussan, meu tio, um desses<br />

Judeus da Argélia da geração de Derrida, respondia a um funcionário que lhe<br />

questionava qual era sua « nacionalidade »: « variável ! ». Indecidível, portanto,<br />

ou ainda: mais de <strong>uma</strong>, isto é: não tenho senão <strong>uma</strong> e não é a minha! A <strong>ética</strong> <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s, como <strong>ética</strong> marrana, irônica, impaciente, certamente diz respeito<br />

a <strong>uma</strong> certa recusa, mesmo à língua e seus retornos, de dar crédito a resulta<strong>do</strong>s<br />

obrigatórios e institucionalmente enquadra<strong>do</strong>s, tais como são propostos às<br />

pertencenças exclusivas, às escolhas, às alternativas entre os conceitos, os<br />

opostos contraditórios, às figuras ou mesmo às <strong>do</strong>bras internas às figuras.<br />

Assim, não é necessário « escolher seu campo » e seu sedentarismo. Isso seria,<br />

em menos de <strong>do</strong>is, renunciar. Seria necessário, pelo contrário, atravessar a<br />

khôra, o que abre o lugar, to<strong>do</strong>s os lugares, e faz nascer ao acontecimento de<br />

<strong>uma</strong> decisão. O « nem isso nem aquilo » não significa o aban<strong>do</strong>no resigna<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is – é o inverso. Importa que se tenha fortemente o esse e o aquele<br />

na curvatura mesma da decisão <strong>indecidível</strong>, mais precisamente confiar-se a<br />

ambos, às suas instâncias decisivas.<br />

O tempo <strong>do</strong> outro: venha, me ame<br />

14. « Abraham, l’autre ». In:<br />

Judéités, dir. J.Cohen et R.Zagury-<br />

Orly, Galilée, 2003, p. 28.<br />

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