BENSUSSAN uma ética do indecidível - escritura: linguagem e ...
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Flutuação<br />
Desse sintagma maior <strong>do</strong> <strong>indecidível</strong>, a flutuação de « La <strong>do</strong>uble<br />
séance » oferece algo como um quase-conceito, radicalmente concorrente<br />
da relève: « flutuação entre os textos : a flutuação, suspenso aéreo <strong>do</strong> véu, da<br />
gaze ou <strong>do</strong> gás...evolui segun<strong>do</strong> o hymen. Cada vez que ela aparece, a palavra<br />
flutuação sugere a sugestão mallarmaica, desvela com dificuldade, muito<br />
próxima de desaparecer, a indecisão <strong>do</strong> que permanece suspenso, nem isso<br />
nem aquilo, entre aqui e lá... Entre os <strong>do</strong>is, confusão e distinção... A hesitação<br />
de um « véu », de um « voo », de um « obstáculo » » 12 . Esta indecisão, em não<br />
se decidin<strong>do</strong>, impede a decisão em sua indeterminação inata e a engaja no<br />
que ela tem de incalculável. Ela forma em última instância <strong>uma</strong> <strong>ética</strong> que se<br />
poderia nomear <strong>uma</strong> <strong>ética</strong> da flutuação. É necessário guardar-se de entender<br />
demasia<strong>do</strong> apressadamente a expressão em um mau senti<strong>do</strong>, como o mau<br />
flutuar <strong>do</strong> eterno indeciso ou a infeliz indecisão <strong>do</strong> fraco. Em jogo sobre sua<br />
dupla cena dividida sem remédio, « sem um », implica<strong>do</strong> em sua estrutura<br />
bífida e adial<strong>ética</strong>, o <strong>indecidível</strong> atribui e expõe a decisão e a responsabilidade<br />
às oposições, às distinções, às fronteiras, aos cortes « entre os <strong>do</strong>is » (conceitos,<br />
territórios, línguas...). A <strong>ética</strong> da flutuação não se deixa aproximar senão<br />
como truque da ubiquidade e, para dizer tu<strong>do</strong>, marranismo. Poder-se-ia<br />
determinar elipticamente o marranismo como jogo ético <strong>do</strong> <strong>indecidível</strong> e<br />
<strong>do</strong> impartilhável, oculto sob a moral exibida de <strong>uma</strong> decisão publicamente<br />
partilhada. A <strong>ética</strong> marrana da flutuação é o mercúrio prático-moral ao uso<br />
daqueles que se mantém alhures, os exila<strong>do</strong>s <strong>do</strong> lugar-uno, os tenentes <strong>do</strong><br />
mais de um lugar. Ela é, pois, sob certos aspectos, <strong>uma</strong> <strong>ética</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s<br />
– menos em um senti<strong>do</strong> político imediato que a prenderia em <strong>uma</strong> oposição<br />
termo a termo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s <strong>do</strong>minantes, que em <strong>uma</strong> figura que<br />
Derrida nomeia em algum lugar, em <strong>uma</strong> conversa, « estratégia <strong>do</strong> vivente »,<br />
ou ainda « estratégia <strong>do</strong> desejo ». Se se pode dizê-lo assim, a máxima aí seria:<br />
« você não me pegará! », em to<strong>do</strong> caso não aí onde eu teria podi<strong>do</strong> me reunir<br />
to<strong>do</strong> em um, e não de imediato, pois, divisível, eu voo, eu velo e eu salto13 . O<br />
desencaixe que se pode daqui em diante qualificar de marrano produz um<br />
diferimento, um distanciamento ético. O <strong>indecidível</strong> contém um recurso,<br />
12. Ibid., p. 292-3.<br />
13. O autor faz aqui um jogo<br />
com os verbos: je vole, je voile e je<br />
voltige, dificilmente preservada em<br />
português. (N. <strong>do</strong> T.)<br />
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