Envelhecimento e velhice na família contemporânea - Núcleo de ...

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 1
Autor Guita Grin Debert
Júlio Assis Simões
Título da obra Tratado de Geriatria e
Gerontologia
Título do capítulo Envelhecimento e velhice na
Introdução
Revendo mitos
família contemporânea
O mito da universalidade, naturalidade e imutabilidade da
família nuclear
O mito da “Idade do Ouro” da velhice
Envelhecimento e arranjos familiares
Envelhecimento e arranjos familiares no Brasil
Relações intergeracionais e mudanças no curso da vida familiar
Família e hipocrisia social
Conclusões
Bibliografia

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 2
Envelhecimento e velhice na família contemporânea
Títulos Universitários
Guita Grin Debert
Guita Grin Debert e Júlio Assis Simões
Doutora em Ciência Política pela USP, Livre-Docente e Professora
Titular do Departamento de Antropologia da UNICAMP.
Júlio Assis Simões
Doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP, Professor do
Departamento de Antropologia da USP.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 3
Envelhecimento e velhice na família contemporânea
Introdução
Guita Grin Debert e Júlio Assis Simões
Tratar do idoso e da família é atravessar o fogo cruzado de
visões ambivalentes e contraditórias sobre o que é envelhecimento
adequado e qualidade de vida na velhice. A tendência dos enfoques
baseados na reflexão sobre a condição dos velhos é considerar que a
troca e a ajuda mútua no interior da família nuclear garantiram, ao
longo da história, a sobrevivência e o bem-estar dos idosos e que,
portanto, é dos seus filhos que todos esperam cuidados e amparo na
velhice. Em contrapartida a essa visão, boa parte das investigações e
discussões sobre a família nas ciências sociais, contemporaneamente,
questiona o modo pelo qual a família nuclear é tratada no senso
comum e em certas teorias sociais; particularmente a tendência de
considerá-la uma instituição natural, universal e imutável.
Esse debate fica ainda mais acirrado quando as análises se
voltam para as políticas públicas que têm como público alvo a
família ou para os mecanismos legais de tipificação de parentesco e
casamento. É à família nuclear que o instrumental jurídico brasileiro
se atém, ao estabelecer, na Constituição, que os filhos maiores têm o
dever de ajudar e amparar os pais na velhice e que os programas de
apoio aos idosos devem se dar, preferencialmente, dentro de seus
domicílios. Os formuladores das políticas nessas áreas parecem não
se dar conta das configurações que a família assume, das elevadas
taxas de divórcio, dos recasamentos, da diversidade de formas de
coabitação e de tantos outros dados que apontam a fragilidade do
modelo da família nuclear e a heterogeneidade de posições que o

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 4
idoso pode ocupar em cada um desses casos. Ao mesmo tempo, os
formuladores de políticas parecem fazer ouvidos moucos aos
desafios do envelhecimento populacional, o número crescente de
idosos na população acompanhado da redução das taxas de
fecundidade. Esses dados tornam cada vez mais evidente que ter
filhos e netos tenderá a ser característica de um número
crescentemente limitado de cidadãos. Esses dados indicam, também,
que a paternidade legal não corresponde necessariamente às relações
de afeto, cuidado e conflito envolvidas na coabitação. Somado às
novas tecnologias reprodutivas, o processo de transformação por que
passa a família é de tal monta que esta, num futuro muito próximo,
poderá conter estruturas relacionais inimagináveis. Como sugere
com humor Goldani (2004:224), os filhos in vitro, por exemplo,
podem ter até cinco pais, não contando mudanças de possíveis novos
casamentos: uma mãe doadora, uma mãe de nascimento, uma mãe
social (responsável pela criação da criança), um pai doador e um pai
social.
O primeiro passo neste trabalho, portanto, é rever dois mitos
que se reforçam mutuamente e emperram a reflexão sobre família e
envelhecimento: de um lado, a suposta universalidade, naturalidade e
imutabilidade da família nuclear; de outro, o mito da família extensa
que corresponderia a uma “Idade de Ouro”, em que a velhice era
supostamente vivida sem queixas e sofrimentos, sob os cuidados,
respeito e consideração providos nas unidades domésticas
multigeracionais.
Em seguida, apresentamos dados sobre a família brasileira
contemporânea, à luz das informações sobre a variedade dos arranjos
residenciais envolvendo idosos, dando ênfase às conclusões
extraídas do resultado de pesquisas quantitativas, particularmente do
rico material levantado no IPEA (Camarano, 2004).

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 5
O terceiro item tratará da diversidade das famílias e das
mudanças pelas quais elas passam ao longo do curso da vida
familiar. As pesquisas qualitativas sobre idoso e família são em
número diminuto, mas o trabalho de Hareven (1986; 1999) oferece
elementos interessantes sobre como esse tipo de pesquisa pode ter
um amplo rendimento intelectual – particularmente quando a análise
sociológica das famílias estudadas é feita com rigor, levando em
conta os processos políticos, sociais e econômicos que caracterizam
momentos históricos, bem como as conjunturas específicas que
marcam o curso da vida familiar.
Na conclusão, retomamos a questão das políticas públicas
voltadas para a velhice, salientando que no novo papel atribuído à
família está presente uma hipocrisia social. Não apenas porque se
desconhecem as diferentes formas de família e unidades domésticas,
ou porque não se avalia adequadamente o impacto do
envelhecimento populacional na configuração das famílias. A
hipocrisia social reside também na visão anacrônica de que a família
é “o refúgio num mundo sem coração” e que é desejo dos velhos
viverem na casa dos filhos e por eles serem cuidados até o fim da
vida. Essa visão impede a emergência de outras formas criativas de
dar dignidade às etapas mais avançadas do curso da vida.
Revendo mitos
O mito da universalidade, naturalidade e imutabilidade da
família nuclear
A família nuclear – unidade constituída pelo par heterossexual
e seus filhos dependentes – tende a ser tratada como o modelo
natural e universal de agrupamento humano. A legitimação deste

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 6
modelo, em que o marido é tido como o provedor do lar e a esposa
se encarrega em tempo integral do cuidado dos filhos e do marido, é
feita pela alegação de que ele responderia a imperativos biológicos e
desempenharia papéis fundamentais para a sobrevivência da espécie
humana, como a regulação da sexualidade, a reprodução, a
socialização das crianças, a divisão de trabalho e a cooperação entre
os sexos.
É essa tese, de cunho biológico, que estudos antropológicos,
históricos e sociológicos sobre a família, com a importante
contribuição das teorias feministas, se empenham em rever.
Preocupadas em descrever a diversidade das formas de
sociedades e culturas, as pesquisas antropológicas indicam que a
família de tipo nuclear pode ser encontrada em sociedades muito
diferentes do ponto de vista das formas de organização social,
econômica e política. Mas é sobretudo a existência de sistemas muito
complexos de parentesco e de organização de unidades domésticas
que revelam a plasticidade das formas culturais e das práticas sociais
acionadas na regulação da sexualidade, na reprodução, na
socialização das crianças e na cooperação econômica entre os sexos. ∗
Os estudos históricos mostram que a família nuclear é uma
invenção relativamente recente nas sociedades ocidentais. A obra
clássica de Engels (1995), sobre a historicidade da família nuclear e
monogâmica, na sua relação com o capitalismo, foi completada por
historiadores empenhados em sofisticar as análises sobre as
mudanças nas formas de família. Ariès (1981; 1991) mostrou que a
sensibilidade em relação à família nuclear só ganha a configuração
que conhecemos no século XIX, momento em que o trabalho, o lazer
e o convívio com a família se apresentam como atividades separadas
∗ Para uma visão das reflexões antropológicas clássicas sobre parentesco, bem como das análises comparadas
de sistemas de parentesco, domicílios e formas de família em diferentes contextos, pode-se consultar Goody,
1974. Para uma discussão instigante sobre parentesco contemporâneo, problematizando a relação naturezacultura,
ver Strathern, 1992.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 7
em compartimentos estanques. Focalizando a transformação dos
afetos e sentimentos, Ariès descreve um processo de longa duração
que leva à separação de duas esferas, o público e o privado, e à
emergência do indivíduo como valor próprio dos ideais da
modernidade, a liberdade e a igualdade. Nesse processo, a própria
noção moderna de “infância” é construída, na medida em que a
necessidade de educar a criança e preparar seu futuro faz com que os
pais se afastem das antigas sociabilidades da vizinhança e do
parentesco extenso para se concentrar na privacidade do lar e de seu
novo complemento, a escola. ∗
Na mesma linha de crítica à naturalização e universalização da
família nuclear está a obra clássica de Parsons (1955), que marcou a
sociologia sobre o tema até a década de 1970. Para Parsons, a
“família nuclear isolada” é uma resposta à necessidade do
desenvolvimento industrial, posto ter permitido à família adquirir e
conquistar mobilidade e independência em relação ao grupo de
parentesco mais amplo. A família nuclear assegurava também que,
num mundo impessoal, adultos e crianças tivessem um núcleo
afetivo limitado e estável. Sendo as atividades produtivas realizadas
fora do espaço doméstico, a família passou a desempenhar a função
de socializar as crianças, cabendo às mães o desempenho das
funções expressivas e as atividades sócio-emocionais, e aos pais, as
funções instrumentais que conectariam a família às outras
instituições do mundo público.
A ênfase na funcionalidade da família teve como contrapartida
a visão de que ela seria, nas sociedades urbanizadas e
industrializadas, inevitável como esfera do cuidado e do amor. A
família como “um refúgio num mundo sem coração” é a expressão
que serve de título ao livro de Lasch (1991), que lamenta a perda de
∗
Para uma avaliação da contribuição de várias correntes da história social para o estudo da família, ver
Fonseca, 1989.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 8
autoridade dos pais, bombardeada na sociedade contemporânea pelo
saber técnico dos psicólogos, educadores, assistentes sociais e outros
especialistas. Lasch apresenta a crise contemporânea da vida familiar
como resultado da ingerência e do controle de um mundo público
cada vez mais ameaçador, que acaba por submeter os indivíduos a
formas novas e mais constrangedoras de dominação, enfraquecendo
sua capacidade de resistência. Sua crítica, porém, aposta justamente
na defesa e na preservação do modelo de núcleo familiar, como
unidade solidária do par conjugal e seus filhos.
Foram as teorias feministas que levaram mais a fundo a crítica
à visão idealizada da família nuclear. Essas teorias mostraram com
muito rigor o modo como a linguagem funcionalista, com sua ênfase
na complementaridade dos papéis sociais, obscurece as formas de
dominação e de reprodução das desigualdades de gênero e geração
que marcam a experiência familiar e encobre os conflitos envolvidos
na distribuição, entre seus membros, de recursos sempre limitados.
As teorias de gênero mostraram com clareza que a noção de família
tem um peso político e é carregada de valores ideológicos que
prescrevem maneiras moralmente corretas de conduzir a vida e as
formas adequadas de estabelecer trocas, cuidados e outras relações
entre os seres humanos. ∗
Vistas em conjunto, essas contribuições críticas das ciências
sociais e históricas para o estudo da família constroem uma
abordagem sensível à “economia política” das relações
intergeracionais na família. Essa abordagem não toma a
solidariedade entre pais e filhos como dada; mas como algo que se
constrói por meio do reconhecimento das diferenças de geração e
gênero e de suas conseqüências (Walker, 1993; Goldani, 2004). Essa
abordagem também insiste na importância de considerar a interação
∗ Importantes reflexões feministas sobre gênero e família podem ser encontradas em Rubin, 1975; Pateman,
1988; Strathern, 1995; Butler, 2003; Haraway, 2004.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 9
entre público e privado, mostrando como as políticas sociais afetam
as relações familiares. É um instrumental crítico extremamente
valioso para compreender as condições em que a ideologia da
família, como espaço de paz, harmonia, proteção e cuidado, tem sido
renovada recentemente, nos contextos em que se propõe a redução
dos gastos públicos e se declara a ineficiência das políticas públicas
voltadas para a velhice.
O mito da “Idade de Ouro” da velhice
Até muito recentemente, tratar da velhice nas sociedades
industrializadas era traçar um quadro dramático da perda de status
dos velhos. Os processos de industrialização e urbanização e a
correspondente nuclearização da família teriam destruído a
segurança econômica e as relações estreitas que vigoravam entre as
gerações nas sociedades tradicionais. Neste novo contexto, os idosos
se transformariam em um peso para a família e para o Estado, em
oposição à situação anterior em que eles, dada sua sabedoria e
experiência, eram membros respeitados na família e na comunidade.
O empobrecimento e os preconceitos marcariam a velhice nas
sociedades modernas, que abandonariam os velhos a uma existência
sem significado.
Essa concepção de velhice funda a gerontologia e prevalece no
senso comum, que tende a romantizar o passado como momento
privilegiado para as relações de harmonia e solidariedade. ∗ Novas
pesquisas, porém, levaram a uma revisão dessa concepção. Hoje há
um acordo entre os historiadores considerando-se que, dada a
precariedade dos dados disponíveis, é muito limitado o
conhecimento que se pode obter da situação dos velhos em períodos
∗
Para análises do discurso gerontológico ocidental e sua transposição para os países “em desenvolvimento”,
ver Cohen, 1994; Debert, 1999, cap.5.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 10
históricos distantes ou mesmo em épocas relativamente próximas,
de modo que a idéia de uma “Idade de Ouro” não se sustenta.
Thompson (1991), por exemplo, com base no levantamento de
histórias de vida de idosos na Inglaterra, compôs um quadro das
relações familiares, de meados do século XIX até o presente, em que
se percebe a continuidade de um mesmo padrão ao longo do período
tratado. Segundo esse quadro, as relações entre avós e netos são
muito semelhantes, e os filhos são ainda a principal fonte de apoio
esperada, em momentos de crise. Da mesma forma, o ideal de
autonomia representado pela recusa dos pais idosos em morar com
os filhos, quando gozam de boa saúde e independência financeira,
parece vigorar há mais tempo do que em geral se imagina.
A idealização das formas de solidariedade nas sociedades
indígenas de pequena escala, por sua vez, é contestada pelas
etnografias. Os antropólogos mostram que nessas sociedades, onde
as relações de convivência perduram por toda a vida ou durante
períodos bem longos (long life social arenas, segundo Moore, 1978),
a solidão não é um aspecto da experiência de envelhecimento, pois o
isolamento do idoso é virtualmente impossível. Cada indivíduo é
testemunha dos fracassos e sucessos que os outros obtiveram ao
longo da existência. Assim, não se pode afirmar que envelhecer
nessas sociedades seja uma experiência necessariamente feliz, já que
as possibilidades de obter respeito e afeto de parentes e vizinhos na
velhice dependem, em grande parte, das posições de prestígio e de
poder ocupadas pela pessoa durante a vida. Em contrapartida,
tampouco se pode sustentar que processos de mudança nessas
sociedades levem necessariamente à perda de prestígio e poder das
gerações mais velhas. Políticas coloniais, como as desenvolvidas
pelos britânicos na África, muitas vezes consistiram em reforçar
deliberadamente o poder declinante de lideranças idosas (Laitin,

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 11
1977). Movimentos recentes de revivescência cultural, que
renovam a importância política das tradições coletivas, também
podem ter o efeito de reverter a balança de prestígio em favor dos
mais velhos (Amoss, 1981).
A correlação negativa entre modernização e velhice pode ser
reavaliada a partir dos estudos comparativos sobre renda e grupos
etários. Esses estudos questionam a idéia de que a pauperização
caracteriza o envelhecimento nas sociedades ocidentais
contemporâneas. Especialmente nos momentos em que o
desemprego ou o subemprego atinge proporções alarmantes, a
universalização das aposentadorias e da pensão na velhice é capaz de
assegurar aos idosos um rendimento regular, mesmo que de valor
reduzido, o que repercute não só em sua condição de vida, mas
também na de suas famílias. ∗ Como veremos adiante, isso é o que se
passa no Brasil.
Envelhecimento e arranjos familiares
A correlação negativa entre modernização e velhice é revista
também nos estudos preocupados em identificar os arranjos de
moradias e os tipos de relações que os idosos mantêm com os filhos
nos contextos urbanos contemporâneos. Esses estudos assinalam que
a solidariedade entre as gerações na família, longe de ser dada,
envolve um processo dinâmico de construção de formas de
relacionamento e trocas instrumentais e afetivas.
Pesquisa comparativa feita na Inglaterra, na Dinamarca e nos
∗ O trabalho de Mackain (1972) sobre a antiga União Soviética mostra que os fundos de pensão transformaram
os idosos em membros valorizados e prestigiados nas unidades domésticas. Isso também teria ocorrido durante
a depressão nos Estados Unidos. Keith (1980), baseando-se nesses dados, observou que a análise de políticas
públicas, em conjunturas específicas, mostra que a relação dos velhos com a modernização é antes curvilinear:
há um declínio no status associado à modernização que pode ser revertido, posteriormente, nas sociedades
mais ricas. Para outros dados sobre a importância contemporânea do rendimento dos idosos (especialmente
provenientes de aposentadorias e pensões) para seus familiares e para o desenvolvimento social, em diversos
países e contextos, ver Camarano et alii, 2004.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 12
Estados Unidos, ainda no final dos anos 1960 (Shanas et alii,
1968), concluiu que embora os idosos experimentassem uma retração
nos seus contatos públicos, suas relações com os filhos adultos pouco
se modificavam. Uma proporção expressiva dos idosos entrevistados
vivia com pelo menos um dos filhos, ou residia próximo deles,
visitando-os com freqüência. ∗ Pesquisas mais recentes mostram que,
nos Estados Unidos e na Europa, a tendência é que os idosos passem
a morar em unidades domésticas separadas das dos filhos, embora
isso seja menos evidente na Europa Meridional e Oriental (Wall
1989).
Outros estudos sugerem que a tendência de idosos morarem sós
não tem de ser, necessariamente, percebida como reflexo de um
abandono por parte de seus familiares. Isso pode significar um novo
tipo de arranjo, a “intimidade à distância” (Rosenmayr e Koeckeis,
1963), facilitado pelo aumento da mobilidade e pelo aperfeiçoamento
das formas de comunicação, em que a troca e a assistência ocorrem
de maneira intensa (Cohler, 1983). Em pesquisas recentes feitas em
países onde a co-residência está em declínio, como Alemanha,
Canadá, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, grande parte dos
idosos declarou receber dos filhos diversos tipos de ajuda, em casos
de doença, para transporte ou na realização de tarefas domésticas
(Grundy, 2001). ∗∗ A “intimidade à distância” não impede que as
relações familiares sejam fundamentais na assistência ao idoso e nas
expectativas em relação ao processo de envelhecimento ∗∗∗ .
∗ Moravam com os filhos 20% dos idosos pesquisados na Dinamarca, 28% nos Estados Unidos e 42% na
Inglaterra. Entre os que não moravam com os filhos, 40% na Inglaterra, 49% nos Estados Unidos e 55% na
Dinamarca residiam a uma distância de cerca de trinta minutos da casa deles. Cerca de 2/3 dos idosos diziam
ter visto os filhos no dia em que foram entrevistados ou no dia anterior, e 1/5 na semana anterior (Shanas et
alii, 1968).
∗∗ Resumindo esses dados, Camarano et alii (2004) observam que em casos de doença, idosos de mais de 65
anos reportaram receber ajuda dos filhos em proporções que variam de 69% nos Estados Unidos até 90% no
Japão. Na Alemanha, 90% dos idosos declararam receber algum tipo de ajuda dos filhos: 87% quando estão
doentes; 60% para a realização de atividades domésticas; 72% com transporte; e apenas 24% com dinheiro.
∗∗∗ Arber e Gilbert (1989), analisando os dados do General Household Survey de 1980, mostram que na
Inglaterra ainda eram os filhos os maiores provedores de assistência aos pais idosos, quando estes moram sós.
O trabalho de Stubs (1989), sobre a decisão de inquilinos de setores médios da população de comprar o imóvel
que alugavam em Sunderland (Inglaterra), nos anos 1970 e 1980, associa esta decisão ao processo de

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 13
Em outra direção caminha uma série de estudos que tendem a
dissolver a idéia de que o bem-estar na velhice estaria ligado à
intensidade das relações familiares ou ao convívio intergeracional.
Mais do que a convivência num espaço heterogêneo, do ponto de
vista da idade cronológica, é a segregação espacial dos idosos que
permite a ampliação de sua rede de relações sociais, o aumento do
número de atividades desenvolvidas e a satisfação na velhice. É essa,
em geral, a conclusão a que chegam os estudos sobre idosos vivendo
em conjuntos residenciais segregados ou em condomínios fechados
com serviços e outras facilidades ou, ainda, em hotéis ou congregate
housings. Os títulos das obras sobre o tema, que envolvem tanto
pesquisas quantitativas quanto qualitativas com entrevistas em
profundidade e observação participante, deixam claro o que o
conjunto de dados levantados revela: The unexpected community: old
people, new lifes; Retirement communities; Networks as adaptation;
Living together; If I live to be 100... Novas comunidades são criadas,
papéis sociais anteriormente perdidos são reencontrados, redes de
solidariedade, de trocas e de afeto são desenvolvidas de maneira
intensa e gratificante, promovendo uma experiência de
envelhecimento positiva, mesmo para aqueles cujos vínculos com
filhos e parentes são tênues. As diferenças de gênero são apagadas
ou, quando mantidas, ganham outros significados. Relações
interétnicas tornam-se mais harmônicas, uns ajudam aos outros de
modo que a independência de cada um possa ser mantida e a
institucionalização evitada. ∗ Enfim, a segregação espacial do idoso é,
envelhecimento. Os compradores eram, sobretudo, aqueles que estavam próximos da aposentadoria e a
aquisição da casa estava diretamente relacionada à preocupação em assegurar a continuidade da vida familiar.
A casa própria era a forma de garantir uma vida familiar privada e autônoma e talvez um campo para uma
reciprocidade futura com os filhos (“em troca dos cuidados que vocês terão conosco na velhice, herdarão uma
propriedade”).
∗ O trabalho de Jacob (1975) é uma exceção na imagem positiva dada pelas pesquisas em sociologia e
antropologia sobre a segregação espacial dos idosos. Seu trabalho de cunho antropológico mostra os idosos
como apáticos, passivos e solitários; o conjunto habitacional por ela estudado é etnicamente diverso e ela
chama a atenção para as animosidades entre negros e brancos e para o mal-estar dos residentes sadios para
com os doentes e aqueles que têm limitações físicas.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 14
aqui, defendida como a solução mais adequada a um
envelhecimento bem-sucedido.
Os trabalhos de cunho antropológico sobre as novas
comunidades de idosos ajudam a redirecionar a reflexão sobre a
velhice em dois sentidos relevantes (Keith, 1980). Por um lado,
permitem rever a idéia dos idosos como vítimas passivas das
mudanças sociais, apontando, ao contrário, o seu papel ativo como
operadores de mudanças, fazendo novos arranjos sociais. Por outro
lado, esses estudos comparam as alternativas criadas pelos idosos
com aquelas de outros grupos que também responderam de forma
inovadora aos desafios colocados pela experiência contemporânea.
Os motivos que conduzem à criação das comunidades de idosos são
os mesmos que levam à formação de comunidades de outros grupos
em diferentes faixas etárias – como o desejo por homogeneidade e
interdependência em face à ameaça exterior. Se, no caso dos idosos,
é a idade cronológica que estabelece um elo entre os residentes, ela
passa a ser irrelevante para definir o status da pessoa na experiência
comunitária. As identidades recicladas e criadas no interior dessas
comunidades são uma forma ativa de rejeição a um conjunto de
valores que acabam por colocar certos setores nos degraus mais
baixos da hierarquia social. Esses estudos alertam, ainda, para o fato
de que a família não é adequada enquanto mundo social total para os
idosos nem para qualquer um depois da infância. As novas formas de
sociabilidade na velhice não deveriam, assim, ser pensadas como
substitutas das relações familiares, mas como esferas distintas de
relações.
Além disso, o fato de os idosos viverem com os filhos não é
garantia da presença de respeito e prestígio nem da ausência de maus
tratos. As denúncias de violência física contra idosos aparecem nos
casos em que diferentes gerações convivem na mesma unidade

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 15
doméstica. Assim, a persistência de moradias multigeracionais não
pode ser vista necessariamente como garantia de uma velhice bem-
sucedida. Morar junto não é índice de relações mais amistosas entre
os idosos e seus filhos (Evandrou e Victor, 1989; Debert, 2001).
A dificuldade central dos trabalhos que procuram avaliar o
bem-estar na velhice está, sem dúvida, na ausência de medidores
eficazes e definitivos sobre a qualidade das relações entre gerações
na família, ou sobre os significados da integração ou da segregação
espacial. A velhice é, assim, retratada de maneira distinta em função
do tipo de interação focalizada. Pensar na relação entre o idoso e a
família é ora fazer um retrato trágico da experiência de
envelhecimento, ora minimizar o impacto das transformações
ocorridas nas relações familiares. Pensar na interação entre idosos é,
pelo contrário, traçar um quadro em que um conjunto de mudanças e
a criatividade grupal seriam capazes de minimizar ou mesmo negar
os inconvenientes trazidos pelo avanço da idade.
Envelhecimento e arranjos familiares no Brasil
As pesquisas demográficas mostram crescente diversidade e
fluidez nos arranjos familiares brasileiros, evocando um cenário bem
mais complexo do que a suposta passagem do modelo “patriarcal”
(Corrêa, 1994), associado à convivência de muitos parentes e um
sistema hierárquico rígido de valores e posições de autoridade, para
o modelo “moderno”, formado pelo casal heterossexual e seus filhos,
onde a criança ocuparia lugar de destaque.
Os diferentes tipos de famílias em torno dos quais se organiza a
maioria dos domicílios brasileiros tendem a abarcar um complexo de
relações de parentes e não-parentes gerado por casamentos, divórcios
e recasamentos. Entre as famílias com filhos, predominam os

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 16
arranjos nucleares biparentais, mas a instabilidade das relações
afetivas e o número crescente de mulheres solteiras com filhos fazem
com que se verifique um número cada vez maior de crianças vivendo
em famílias monoparentais, em sua maioria chefiadas por mulheres
que ingressaram no mercado de trabalho e acumulam papéis de
provedoras e cuidadoras ∗ . Além disso, embora os domicílios
brasileiros se organizem na maior parte como “famílias”, é
expressivo o crescimento dos arranjos “não-familiares” ∗∗ compostos
por grupos sem relações de parentesco ou por pessoas que vivem
sozinhas – homens mais jovens e solteiros e, principalmente,
mulheres mais velhas e viúvas.
O aumento generalizado da esperança de vida, associado ao
rápido declínio da taxa de fecundidade, tem propiciado uma
convivência prolongada sem precedentes entre diferentes gerações
nas famílias, assim como uma superposição de papéis associada a
essa convivência. O aumento da longevidade reflete, em parte, a
melhora geral nas condições de vida dos idosos, mas também
implica maior probabilidade de que estes tenham de enfrentar
incapacidades físicas ou mentais por períodos mais longos. Isso leva
a uma situação em que “nunca tantas pessoas viveram por tanto
tempo e alcançaram as idades adultas avançadas, tendo pais e outros
parentes idosos que demandam ajuda” (Goldani, 1993:71). Ao
mesmo tempo, as gerações mais jovens tendem a passar mais tempo
como dependentes econômicos dos pais, devido ao prolongamento
dos anos na escola e às dificuldades de sua inserção no mercado de
trabalho, além da mencionada instabilidade das relações afetivas.
∗ De acordo com as Pesquisas Nacionais de Amostras por Domicílios (PNADs) de 1990 e 2001, a distribuição
das famílias com crianças mostra que o tipo biparental nuclear representa 67% e 63%, respectivamente, e o
monoparental nuclear, 12,4% e 15,6%, respectivamente (apud Camarano, 2004).
∗∗ Em 2001, cerca de 80% da população brasileira vivia em áreas urbanas. Dentre os domicílios urbanos, cerca
de 86% organizavam-se segundo diferentes arranjos familiares, e os 14% restantes eram arranjos “nãofamiliares”.
No período 1990-2001, os domicílios com famílias aumentaram cerca de 45%, enquanto os
arranjos familiares aumentaram cerca de 75%.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 17
Desenha-se, assim, um cenário dramático em que, diante do
predomínio de um modelo de política social que prega o
enxugamento do Estado e responsabiliza a família pelo cuidado de
seus dependentes, mais famílias se vêem com meios reduzidos para
enfrentar demandas crescentes de apoio – não só transferência de
renda, mas também cuidados pessoais, suporte emocional e outros
“recursos intangíveis” – aos seus membros mais vulneráveis, tanto
jovens como velhos. Em tal cenário, a mobilização de apoios
intergeracionais informais torna-se uma importante estratégia de
sobrevivência, o que pode resultar na co-residência entre idosos e
seus filhos, netos e até bisnetos.
Os arranjos familiares com a presença de idosos no Brasil
podem ser divididos em dois grupos (Camarano et alii, 2004): as
famílias de idosos, em que o idoso é chefe ou cônjuge, e as famílias
com idosos, em que estes são parentes do chefe ou do cônjuge. Nos
últimos vinte anos, aumentou a proporção de arranjos familiares com
a presença de idosos (de 21,1%, em 1980, para 24,1%, em 2000),
sendo que esse crescimento se deu principalmente nas famílias de
idosos (de 17,1%, em 1980, para 20,9%, em 2000). No mesmo
período, as famílias com idosos diminuíram tanto em números
absolutos como proporcionalmente, fato que pode ser correlacionado
com o declínio geral da dependência (funcional ou financeira) dos
idosos.
A composição desses dois tipos de famílias reflete algumas
tendências observadas nos arranjos familiares da população
brasileira como um todo. Tanto as famílias de idosos quanto as
famílias com idosos formam estruturas domiciliares marcadas pela
convivência entre gerações: mesmo nas famílias em que o idoso é
chefe ou cônjuge, a proporção de residentes idosos não ultrapassa
45% do total de membros. Em ambos os tipos, também se verifica

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 18
um aumento na proporção de mulheres como chefe das famílias.
Há mais famílias de idosos compostas pela mãe e seus filhos e por
mulheres vivendo sozinhas. Em termos relativos, o aumento do
percentual de mulheres como chefe de famílias tem sido ainda mais
intenso nas famílias com idosos, o que parece remeter à preferência
culturalmente modelada dos idosos de morar com suas filhas.
Do ponto de vista dos recursos materiais, nos dois tipos de
arranjos familiares considerados aumentaram as proporções de
beneficiários da seguridade social, bem como a contribuição dos
idosos para a renda das famílias e a renda média dos domicílios. Para
todas essas famílias, o trabalho aparece como a mais importante
fonte de renda. Os idosos chefes de família são, em média, 3,6 anos
mais jovens dos que não assumem essa condição, participam mais do
mercado de trabalho e tendem a apresentar melhores condições de
saúde, embora haja também um segmento considerável de idosos
dependentes entre os classificados como chefes de família. ∗
É interessante articular esses dados quantitativos, de alcance
geral, com dados qualitativos referentes à experiência de homens
aposentados, beneficiários do regime geral da previdência, que nos
anos 1980 e 1990 se constituíram como um relevante ator político no
país (Simões, 2000; 2004). Para esses sujeitos, a elaboração da
imagem do aposentado como “provedor” foi importante no esforço
de desconstruir a representação dos mais velhos como um encargo
para a família e para a sociedade. Em linhas gerais, tratava-se de
mostrar que muitos aposentados ainda eram arrimos de família, que a
aposentadoria não os livrara da necessidade de continuar
assegurando o sustento de suas famílias. Ao contrário, muitas vezes,
aumentava-lhes a responsabilidade, pois tinham de fazer frente às
despesas pessoais crescentes, ligadas principalmente ao cuidado com
∗ Para mais detalhes, ver Camarano et alii, 2004.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 19
a saúde, e às despesas do lar, o que incluía com freqüência ser
solidário com os apuros das gerações mais jovens.
Para fazer frente a essas obrigações e responsabilidades
continuadas, era justificável, aos olhos desses aposentados, que
muitos continuassem trabalhando para complementar a renda, visto
que os rendimentos auferidos com a aposentadoria eram
insuficientes e “indignos”. Compreendia-se, pois, o trabalho na idade
de aposentadoria “por necessidade”. Não seria, entretanto,
moralmente legítimo que um homem de idade, que devotara sua vida
ao trabalho, fosse obrigado a continuar trabalhando para sobreviver.
Nesse aspecto, o retorno ao mercado de trabalho não seria uma
solução para os problemas do aposentado. Ele deveria, ao contrário,
poder contar com uma aposentadoria digna, como compensação justa
às contribuições prestadas. “Lutar pela sobrevivência” na velhice
era, assim, exigir o respeito ao direito à aposentadoria.
Quando esses aposentados refletiam sobre as relações com seus
familiares, reconheciam haver certo caráter “transitivo” nas relações
intergeracionais dentro da família: isto é, que os filhos, ao se
casarem, tendiam a deslocar seu foco primordial de deveres
familiares para o cônjuge e os próprios filhos. Mas o aparecimento
de noras, genros e netos, apesar de eventualmente perturbador, era
aceito como um fato da vida, e também como uma fonte de alegrias.
Assim, a percepção da transitividade nas relações intergeracionais
era formulada menos em temos de queixa em relação a uma
expectativa de reciprocidade familiar interrompida, e mais como
meio para reforçar uma vez mais a centralidade do direito à
aposentadoria digna, fundamental para evitar a dependência em
relação aos filhos, a perda da estima na família, o desprezo e a
solidão. ∗ Desse ponto de vista, não seria possível, nem seria moral
∗ Para mais detalhes, ver Simões, 2004.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 20
esperar exclusivamente das famílias o sustento de seus idosos.
Faltando ao compromisso moral de conceder aposentadorias dignas,
o Estado estaria colaborando para minar a solidariedade entre
gerações na família, forçando o aposentado, após ter sustentado a
família com seu trabalho, a se manter com uma renda
consideravelmente menor e a se submeter a uma indigna
dependência dos parentes mais jovens.
Convém sublinhar alguns dos aspectos mais significativos dos
dados quantitativos e qualitativos acima expostos. Eles mostram,
antes de tudo, que as pessoas de mais idade, apesar de suas
vulnerabilidades, estão também desempenhando papéis importantes
na família, na sociedade e na vida política do país. No que diz
respeito aos arranjos familiares, os dados corroboram a relevância da
co-residência de idosos e filhos como estratégia de ajuda mútua. A
co-residência traz benefícios aos idosos, especialmente para os
homens que podem conservar seu papel de provedor e para as
mulheres que não dispõem de nenhuma forma de renda. Parece
claro, porém, que as vantagens são ainda maiores para as gerações
mais novas. A renda dos idosos contribui para reduzir a precisão do
trabalho infantil na subsistência familiar, especialmente entre os
mais pobres, possibilitando aumentar a escolarização das crianças e
dar mais atenção a suas necessidades. ∗ É um amparo para os jovens e
adultos diante das dificuldades de inserção no mercado de trabalho e
outras restrições econômicas, assim como nos casos freqüentes de
retorno de filhos separados ou divorciados à casa dos pais,
solicitando ajuda para educar seus filhos (Peixoto, 2004).
As transferências de apoio familiar das gerações mais velhas
para as mais novas são especialmente notáveis nas famílias em que o
∗ Camarano et alii (2004) observaram um aumento expressivo na proporção de crianças de 7 a 14 anos
residindo em famílias com a presença de idosos que freqüentavam a escola, assim como uma redução na
proporção de netos que trabalham. Lloyd-Sherlock (2001), pesquisando em favelas em São Paulo, verificou
que os idosos gastam mais sua renda com os outros membros da família, especialmente os netos, do que
consigo próprios.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 21
idoso é chefe ou cônjuge, mas também são significativas nas
famílias em que o idoso é parente do chefe ou cônjuge. A co-
residência entre gerações está especialmente mais associada às
necessidades dos filhos jovens e adultos nas regiões mais pobres,
como o Nordeste, onde o intercâmbio geracional é também mais
intenso – mas, mesmo em São Paulo, é mais freqüente os idosos
prestarem ajuda financeira a seus filhos do que o inverso (Saad,
2004). Ademais, a renda dos idosos tem um papel significativo
também na dinamização das economias locais, especialmente nas
áreas rurais e microurbanas mais pobres (Delgado e Cardoso Jr.,
2004).
Se essas observações sobre transferências de apoio das
gerações mais velhas para as mais novas ressaltam, mais uma vez, a
importância do papel dos idosos na família e na sociedade, elas
mostram também como o contexto socioeconômico, particularmente
desfavorável para os mais jovens, pode ser igualmente danoso para
os idosos, que “não só vêem exaurir suas principais fontes de ajuda
informal, como também acabam eles mesmos por arcar com o ônus
de se tornarem fonte de ajuda informal para os familiares” (Saad,
2004:203). Os aposentados militantes acima citados consideravam
que a necessidade de manterem a si próprios, em face de despesas
crescentes com tratamentos de saúde, e ainda continuar contribuindo
para o orçamento familiar, mesmo depois de uma vida dedicada ao
trabalho, equivalia a uma “sobrecarga”, realçada pelos valores
indignos das aposentadorias (Simões, 2004).
Fica claro, portanto, que o funcionamento do contrato
intergeracional informal nas famílias brasileiras, segundo o qual os
pais cuidam dos filhos e esperam ser cuidados por eles na velhice, é
afetado por dificuldades econômicas mais amplas e por deficiências
das políticas sociais e não pode ser compreendido apenas no âmbito

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 22
das preferências e características individuais ou grupais. A co-
residência pode trazer benefícios múltiplos, mas não se sabe se, do
ponto de vista dos idosos ou de seus filhos, esses arranjos familiares
correspondem à sua vontade ou se resultam de uma “solidariedade
imposta” (Camarano et alii, 2004:145). É bastante plausível supor
que, em face de possibilidades reais de viverem separados, pais
idosos e filhos adultos dariam prioridade à sua autonomia e
satisfação pessoais, segundo o modelo da “intimidade à distância” de
que falamos anteriormente, e que está associado ao aumento do
padrão de vida e à redução da dependência dos idosos (Barros, 2001;
Goldani, 2004; Motta, 2004; Peixoto, 2004). Indicadores de
transferências de recursos não são capazes, por si só, de avaliar a
qualidade das relações entre as gerações na família e nada dizem
acerca das inquietações, incertezas, insatisfações e tensões vividas
no cotidiano dos domicílios multigeracionais brasileiros, onde não é
rara a violência contra idosos (Debert, 2001).
São necessárias mais pesquisas de cunho etnográfico sobre
relações intergeracionais na família, que privilegiem a
particularidade das experiências vividas – em que marcadores sociais
de classe, “raça” e gênero ganham relevância – e o modo como
pessoas articulam sua percepção das normais culturais e suas
práticas, contra o pano de fundo das condições socioeconômicas e
das políticas sociais, inclusive no contexto das atuais discussões
sobre direitos de gênero, sexualidade e geração (Scott, 2004). É
importante, também, que essas pesquisas sejam capazes de levar em
conta as mudanças no curso de vida familiar, como procuramos
indicar a seguir.
Relações intergeracionais e mudanças no curso da vida
familiar

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 23
Num artigo sobre mudanças históricas e curso da vida, a
socióloga Tamara Hareven (1986) descreveu atitudes em relação à
velhice e obrigações familiares para três grupos em famílias que
emigraram para as áreas industrializadas do norte da Inglaterra no
final do século XIX. O primeiro grupo compreendia os nascidos
antes de 1910; o segundo, os nascidos entre 1910 e 1919 e o terceiro,
entre 1920 e 1929. Apesar do curto intervalo de tempo, Hareven
pôde identificar mudanças significativas na percepção que cada
grupo tinha das mudanças históricas, das etapas do curso da vida e
das obrigações familiares, sobretudo no que diz respeito a quem deve
se encarregar do cuidado dos idosos.
A geração mais velha, que emigrou para a Inglaterra, cuidou
dos pais idosos e via a família como a principal fonte de apoio ao
indivíduo ao longo de toda a sua vida. Para esse grupo, a velhice ou
outros estágios como “a adolescência” ou “a meia idade” tinham
pouco significado; a vida era um todo contínuo em que as grandes
transições eram marcadas por eventos sociais e políticos, como as
migrações ou as guerras. A própria idéia do “ninho vazio” como uma
etapa da experiência familiar não tinha sentido. Para essas gerações e
nessas comunidades de imigrantes pobres, o ninho raramente ficava
vazio, porque sempre havia crianças nas casas e era comum uma das
filhas adiar ou desistir do casamento para permanecer cuidando dos
pais.
Para a segunda geração, que na época da pesquisa incluía
pessoas na faixa dos 70 anos, foi possível verificar uma atitude
muito mais ambígua em relação ao cuidado com os velhos, que
envolvia uma clara hierarquia de expectativas. Essa geração também
entrou na vida adulta num momento em que o suporte institucional
da velhice era muito precário e ela foi socializada para pensar nos

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 24
parentes como a principal fonte de apoio e segurança dos idosos.
Contudo, esse grupo considerava que o mais desejável era poder
manter a auto-suficiência ao longo de toda a vida. Se isso não fosse
possível, não era com a assistência da família extensa que almejavam
poder contar, mas sim com a da família nuclear, o cônjuge ou os
filhos. A assistência institucional, nesse caso, aparecia como uma
terceira opção na hierarquia de expectativas.
Com a terceira geração, a família perde a centralidade no
cuidado da velhice. Esse grupo também foi socializado na ideologia
da família como fonte principal de apoio, mas via com grande mal-
estar a dependência exclusiva do apoio familiar nessa fase da vida.
Na faixa dos 60 anos, na época da pesquisa, o grupo testemunhou de
maneira mais efetiva a crescente demarcação burocrática dos
estágios da vida, isto é, o conjunto de leis regulamentando deveres e
direitos de cidadania em função da idade cronológica, que
compreendia desde a entrada obrigatória na escola, a proibição do
trabalho infantil, até o direito à aposentadoria.
Diferentemente do que ocorreu com a primeira geração, a
velhice era, para o terceiro grupo, um estágio claramente delimitado
no curso da vida para o qual todos deveriam se preparar, por meio de
formas de poupança e da associação a planos de aposentadoria.
Habituados a lidar ao longo da vida com instituições
burocráticas – públicas ou privadas –, essa geração esperava poder
contar com esse tipo de agências na velhice. Via com muita
inquietação a possibilidade de depender do suporte financeiro dos
filhos ou ter que morar na casa deles, quando ficassem inválidos ou
perdessem a capacidade de cuidar de si próprios. Manter a
independência financeira e autonomia frente à casa dos filhos era
para eles, inclusive, uma das condições necessárias para alimentar
boas relações afetivas e sustentar outros tipos almejados de trocas

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 25
entre as gerações.
Esse terceiro grupo, cujos pais compunham um dos escalões
mais pobres da Inglaterra, foi beneficiado por um processo de
mobilidade ascendente, passando a compor os setores médios da
população. Apesar de ter sido socializada na ideologia da
responsabilidade familiar, conclui Hareven, essa geração fez a
transição para um modo mais individualista e demonstrou uma
aceitação maior dos serviços institucionalizados em substituição à
assistência familiar.
Família e hipocrisia social
No Brasil contemporâneo, a família passou a ocupar a cena
principal das políticas sociais. Estimulada pelas políticas de renda
mínima e por um número crescente de tipos de bolsas, ela é obrigada
a desempenhar inúmeros papéis que, até muito recentemente, eram
considerados próprios de outras agências públicas governamentais
ou não-governamentais.
Sabemos que os asilos de velhos são, em sua grande maioria,
muito precários. Periodicamente, os meios de comunicação de massa
exibem cenas dramáticas de desrespeito à dignidade humana nessas
instituições que até hoje, muitas vezes, ainda abrigam no mesmo
espaço doentes mentais e idosos com graus distintos de dependência
funcional.
O combate a essas instituições e o estudo de novas práticas
dignificantes da velhice, que poderiam e deveriam ser desenvolvidas
no interior delas, não são objetos privilegiados da gerontologia. Pelo
contrário, muitos gerontólogos desprezam essa tarefa porque estão
empenhados em convencer os agentes do Estado e da sociedade civil
de que os idosos brasileiros desejam viver na casa dos filhos e

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 26
querem ser cuidados somente por eles até o fim da vida. Mais do
que isso, muitos gerontólogos têm afirmado que a boa velhice é
aquela vivida com filhos, netos e eventualmente bisnetos, na mesma
casa.
Desconhecendo a heterogeneidade das experiências de
envelhecimento, que exigem de sociólogos como Hareven definições
muito precisas das características do grupo estudado, muitos
gerontólogos, de maneira apressada se agarram à família. Passam,
então, a fazer coro com outros especialistas que, preocupados com a
ineficiência e, sobretudo, com os custos financeiros das políticas
sociais, têm proposto uma nova agenda moral empenhada em
questionar a dependência em relação ao Estado. Nessa nova agenda,
a família emerge como agência capaz de solucionar uma gama
enorme de problemas sociais.
Os gerontólogos, que assim procedem, esquecem que, tal como
ocorre com os asilos de idosos, reportagens, documentários e
notícias apresentam diariamente os abusos cometidos por maridos e
companheiros contra as mulheres, por pais contra seus filhos
crianças e adolescentes e por filhos contra seus pais idosos.
Esquecem também que, com dados muito dramáticos, estudos
sobre família mostram que essa instituição não pode ser considerada
espaço de harmonia, carinho e cuidado “num mundo sem coração”.
Pelo contrário, os estudos feministas têm demonstrado com vigor
que a família é um espaço de relações de opressão em que o abuso
físico e emocional, o crime e a ausência de direitos individuais
competem com as estatísticas sobre a violência entre desconhecidos
nos grandes centros urbanos.
Esquecem ainda do investimento feito por tantos outros
gerontólogos no estudo do estresse do cuidador, provocado pelas
dificuldades envolvidas no cuidado do idoso, particularmente

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 27
quando ele é membro da família (Santos e Rifiotis, 2003).
O pós-guerra assistiu, na Europa, a uma crescente intervenção
do Estado e de outras agências da sociedade em atividades antes
relegadas à família. Contudo, como mostra Simon Biggs (1996),
naquela época as ideologias e práticas do Welfare State tinham um
conteúdo paternalista que impedia o questionamento da integridade
da família como instância privilegiada para arcar com o cuidado de
seus membros. Esse paternalismo foi abalado, nos anos 1970, com os
movimentos de denúncia da violência doméstica contra a criança e a
mulher. Pesquisas nas Delegacias de Proteção ao Idoso em São
Paulo indicam que os agressores, na maioria dos casos, são filhos e
outros parentes, notadamente quando residem na mesma unidade
domestica do idoso (Baptista e Juvêncio, 1995; Debert, 2001).
A Constituição brasileira de 1988 considera uma obrigação da
família cuidar de seus membros vulneráveis, dando a essa instituição
uma nova centralidade. A bolsa família, por exemplo, estimula esse
novo papel da família, exigindo que a mãe mande os filhos para a
escola. Poderia a “bolsa idoso”, ao trazer novos recursos econômicos
para a renda doméstica, transformar a família em espaço de amor e
carinho? Responder positivamente a essa questão é ver a família
obrigada a se transformar num aliado fundamental de políticas
sociais ineficazes e de instituições resistentes em aprimorar seu
próprio desempenho.
Uma nova óptica, distinta da que caracterizou o papel da
instituição familiar em agendas anteriores, entra em jogo. Estamos
muito distantes da família patriarcal, tal como esse modelo foi
caracterizado no estudo sobre a família brasileira. Não se trata de um
mundo privado impenetrável às instituições estatais e ao sistema de
justiça. Estamos também muito distantes da família como o reino da
proteção e da afetividade. Com as novas políticas sociais, ela passa a

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 28
ser percebida como uma instância em que os deveres de cada um
de seus membros, ao longo do curso da vida, estão claramente
definidos, e as agências estatais devem criar mecanismos, tal como
as bolsas, capazes de reforçar e estimular o desempenho dos
respectivos papéis familiares.
Muito já se falou que a família, nas políticas públicas, é uma
espécie de eufemismo para se falar nas obrigações da mulher. Mas é
preciso reconhecer também que considerar a família como a garantia
“natural” da sobrevivência e do bem-estar do idoso é obrigá-la a
assumir um leque enorme de deveres e, ao mesmo tempo, impedir
que investimentos financeiros e intelectuais sejam acionados na
construção de outros formatos institucionais capazes de tratar a
velhice com dignidade.
Conclusões
Para concluir, vale a pena lembrar do conjunto de significados
que as creches ∗ tinham até muito recentemente. Elas eram vistas
como uma espécie de depósitos de crianças a serviço das famílias e
das mães que, por razões mais ou menos justificáveis, não podiam se
ocupar devidamente do cuidado de seus filhos pequenos. Em pouco
mais de uma década, essa visão foi inteiramente desfeita. Hoje é
praticamente consensual a consideração de que impedir uma criança,
a partir dos dois anos, de estar numa creche significa privá-la do
desenvolvimento de uma sociabilidade adequada.
Obviamente não usamos mais a palavra “creche”, substituída
por “escola maternal”, “jardim da infância”, ou “centro de educação
infantil”, entre outras expressões que ganharam uma conotação
positiva. Mas não se pode esquecer de todos os outros investimentos
∗ Agradecemos a Elizabeth Mercadante, professora do programa de estudos Pós-Graduados em Gerontologia
da PUC/SP, que, como sempre, com grande sensibilidade, chamou-nos a atenção para a mudança dos
significados que a creche aciona.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 29
feitos no estudo da educação da criança, que transformaram a pré-
escola numa experiência imprescindível para o bem-estar na infância
e em uma conquista para a vida social no mundo contemporâneo.
Apostar que o bem-estar da velhice está na família, num
contexto em que ela tende a assumir formatos tão inesperados, é
adiar inconseqüentemente a reflexão e as propostas de práticas
inovadoras para uma experiência de envelhecimento bem-sucedida.
Bibliografia
AMOSS, P.T. “Cost Salish elders”. In: AMOSS, P.T. e HARREL, S.
(orgs.). Other Ways of Growing Old - Anthropological
Perspectives, Stanford: Stanford University Press, 1981.
ARBER, S. e GILBERT, G.N. “Transition in caring: gender, life
course and the care of the elderly”. In: BYTHEWAY, B. et alii
(orgs.). Becoming and being old: sociological approach to later
life, Londres: Sage Publications, 1989.
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1981.
ARIÈS, P. “Por uma história da vida privada”. In: ARIÈS, P. e
CHARIER, R. (orgs.). História da vida privada. v. 3. São Paulo:
Companhia das Letras, 1991.
BAPTISTA, V.A. e JUVENCIO, F.C. “As Delegacias de Proteção
aos Idosos de São Paulo e Campinas”. Relatório de Pesquisa.
CNPq, IFCH/Unicamp, 1995.
BARROS, M.M.L. “Redes sociais e cotidiano de velhos num
subúrbio carioca”. Interseções: Revista de Estudos
Interdisciplinares. PPCIS/UERJ, 3, 2, 2001.
BIGGS, S. “A family concern: elder abuse in British social policy”.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 30
Critical Social Policy, 16, 2: 63-88, 1996.
BUTLER, J. “O parentesco é sempre tido como heterossexual?”
cadernos pagu, 21: 219-260, 2003
CAMARANO, A.A. et alii “Famílias: espaço de compartilhamento
de recursos e vulnerabilidades”. In: CAMARANO, A.A. (org.).
Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro:
IPEA, 2004, p. 137-167.
COHEN, L. “Não há velhice na Índia: os usos da gerontologia”. In:
DEBERT, G.G. (org.) Antropologia e velhice. Textos didáticos.
Campinas, IFCH/Unicamp, 1994, p. 73-134.
COHLER, B.J. “Autonomy and interdependence in the family of
adulthood: a psychological perspective”. The Gerontologist, 23,
1, 1983.
CORRÊA, M. “Repensando a família patriarcal brasileira”. In:
ARANTES, A.A. et alii (orgs.). Colcha de retalhos: estudos
sobre a família no Brasil. São Paulo: Ed. da Unicamp, 1994.
DEBERT, G.G. A reinvenção da velhice. São Paulo: Edusp/Fapesp,
1999.
DEBERT, G.G. “A família e as novas políticas sociais no contexto
brasileiro”. Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares.
PPCIS/UERJ, 3, 2: 71-92, 2001
DELGADO, G.C. e CARDOSO Jr., J.C. “O idoso e a previdência
rural no Brasil: a experiência recente de universalização”. In:
CAMARANO, A.A. (org.). Os novos idosos brasileiros: muito
além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA, 2004, p. 293-319.
ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do
Estado. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
EVANDROU, M. e VICTOR, C.R. “Differentiation in later life:
social class and housing tenure cleavages”. In: BYTHEWAY, B.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 31
et alii (orgs.). Becoming and being old: sociological approach
to later life, Londres: Sage Publications, 1989.
FONSECA, C. “A história social no estudo da família: uma excursão
interdisciplinar”. BIB, 27: 51-73, 1989.
GOLDANI, A.M. “As famílias no Brasil contemporâneo e o mito da
desestruturação”. cadernos pagu, 1:67-110. 1993
GOLDANI, A.M. “Relações intergeracionais e reconstrução do
Estado de Bem-Estar. Por que se deve repensar essa relação para
o Brasil?”. In: CAMARANO, A.A. (org.). Os novos idosos
brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA, 2004, p.
211-250.
GOODY, J. (org.). The character of kinship. Cambridge: Cambridge
University Press, 1974.
GRUNDY, E. “Living arrangements of older persons and family
support in more developed countries”. Population Bulletin of the
United Nations – Special Issue, 42-43, 2001.
HARAWAY, D. “Gênero para um dicionário marxista: a política
sexual de uma palavra”. cadernos pagu, 22: 201-246, 2004
HAREVEN, T. “Historical change in the social construction of the
life course”. Human Development 29: 171-180, 1986
HAREVEN, T. “Novas imagens do envelhecimento e a construção
social do curso da vida”. cadernos pagu, 13: 11-35,1999.
JACOB, J. Older persons and retirement community. Springfield:
Charles C. Thomas, 1975
KEITH, J. “The best is yet to be: toward an Anthropology of age”.
Annual Review of Anthropology, 9, 1980.
LAITIN, D.D. Hegemony and culture - politics and religious change
among the Yoruba. Chicago: Chicago University Press, 1977
LASCH, C. Refúgio num mundo sem coração – A família: santuário

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 32
ou instituição sitiada? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
LLOYD-SHERLOCK, P. “Living arrangements of older persons and
poverty. Population Bulletin of the United Nations – Special
Issue, 42-43, 2001.
MACKAIN, W.C. “The aged in URSS”. In: COWGILL, D. e
HOLMES, L. (orgs.). Aging and modernization. Nova York:
Appleton Century Crofts, 1972.
MOORE, S. F. “Old age in a life-term social arena: Some Chagga of
Kilimagaro in 1974”. In: MYERHOFF, B. e SIMIC, A. (orgs.).
Life's career-aging - cultural variations on growing old. Beverly
Hills: Sage, 1978.
MOTTA, A.B. “Sociabilidades possíveis: idosos e tempo
geracional”. In: PEIXOTO, C. (org.) Família e envelhecimento.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004, p.109-144.
PARSONS, T. Family, socialization, and interaction process. Nova
York, The Free Press, 1955.
PATEMAN, C. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
PEIXOTO, C. “Aposentadoria: retorno ao trabalho e solidariedade
familiar”.In: PEIXOTO, C. (org.) Família e envelhecimento. Rio
de Janeiro: Editora FGV, 2004, p.57-84.
ROSENMAYR, L. e KOECKEIS, E. “Theory of aging and family”.
International Social Science Journal, 15, 3, 1963
RUBIN, G. “The traffic in women: notes on ‘the political economy
of sex’”.In: RAPP, R.R. (org.). Toward an anthropology of
women. Nova York: Monthly Review Press, 1975.
SAAD, P.M. “Transferência de apoio intergeracional no Brasil e na
América Latina”. In: CAMARANO, A.A. (org.). Os novos
idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA,
2004, p. 169-209.

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 33
SANTOS, S.M.A. e RIFIOTIS, T. “Cuidados familiares de idosos
dementados: uma reflexão sobre o cuidado e o papel dos
conflitos na dinâmica da família cuidadora”. In: VON SIMSON,
O. et alii (orgs.) As múltiplas faces da velhice no Brasil.
Campinas: Alínea, 2003, p. 141-164.
SCOTT, P. “Família, gênero e poder no Brasil no século XX”. BIB,
58: 29-78, 2004.
SHANAS, E.P. et alii . Older people in three industrial societies.
New York, Atherton Press. 1968.
SIMÕES, J.A. Entre o lobby e as ruas: movimento de aposentados e
politização da aposentadoria. Tese de Doutorado. Campinas,
Unicamp, 2000.
SIMÕES, J.A. “Provedores e militantes: imagens de homens
aposentados na família e na vida pública”. In: PEIXOTO, C.
(org.) Família e envelhecimento. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2004, p.25-56.
STRATHERN, M. After nature: English kinship in the late twentieth
century. Cambridge University Press, 1992.
STRATHERN, M. “Necessidade de pais e necessidade de mães”.
Estudos Feministas, 3, 2, 1995.
STUBS, C. “Property rites? An investigation of tenure change in
middle age”. In: BYTHEWAY, B. et alii (orgs.). Becoming and
being old: sociological approach to later life. Londres: Sage
Publications, 1989.
THOMPSON, P. et. alii (1991), I don't feel old; the experience of
later life. Oxford, New York, Oxford University Press.
WALKER, A. “Intergenerational relations and welfare restructuring:
the social construction of an intergenerational problem.” In:
BENGSTON, V. L., ASCHENBAUM, A (orgs.) The changing

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 34
contract across generations. Nova York: Aldine De Gruyter,
1993.
WALL, R. (1989), “The living arrangements of the elderly in Europe
in the 1980s”. BYTHEWAY, B. et alii (orgs.). Becoming and
being old: sociological approach to later life. Londres: Sage
Publications, 1989.