Envelhecimento e velhice na família contemporânea - Núcleo de ...
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Guita G.Debert e Júlio A.Simões – <strong>Envelhecimento</strong> e <strong>velhice</strong> <strong>na</strong> <strong>família</strong> <strong>contemporânea</strong> 20<br />
esperar exclusivamente das <strong>família</strong>s o sustento <strong>de</strong> seus idosos.<br />
Faltando ao compromisso moral <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r aposentadorias dig<strong>na</strong>s,<br />
o Estado estaria colaborando para mi<strong>na</strong>r a solidarieda<strong>de</strong> entre<br />
gerações <strong>na</strong> <strong>família</strong>, forçando o aposentado, após ter sustentado a<br />
<strong>família</strong> com seu trabalho, a se manter com uma renda<br />
consi<strong>de</strong>ravelmente menor e a se submeter a uma indig<strong>na</strong><br />
<strong>de</strong>pendência dos parentes mais jovens.<br />
Convém sublinhar alguns dos aspectos mais significativos dos<br />
dados quantitativos e qualitativos acima expostos. Eles mostram,<br />
antes <strong>de</strong> tudo, que as pessoas <strong>de</strong> mais ida<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> suas<br />
vulnerabilida<strong>de</strong>s, estão também <strong>de</strong>sempenhando papéis importantes<br />
<strong>na</strong> <strong>família</strong>, <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong> e <strong>na</strong> vida política do país. No que diz<br />
respeito aos arranjos familiares, os dados corroboram a relevância da<br />
co-residência <strong>de</strong> idosos e filhos como estratégia <strong>de</strong> ajuda mútua. A<br />
co-residência traz benefícios aos idosos, especialmente para os<br />
homens que po<strong>de</strong>m conservar seu papel <strong>de</strong> provedor e para as<br />
mulheres que não dispõem <strong>de</strong> nenhuma forma <strong>de</strong> renda. Parece<br />
claro, porém, que as vantagens são ainda maiores para as gerações<br />
mais novas. A renda dos idosos contribui para reduzir a precisão do<br />
trabalho infantil <strong>na</strong> subsistência familiar, especialmente entre os<br />
mais pobres, possibilitando aumentar a escolarização das crianças e<br />
dar mais atenção a suas necessida<strong>de</strong>s. ∗ É um amparo para os jovens e<br />
adultos diante das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho e<br />
outras restrições econômicas, assim como nos casos freqüentes <strong>de</strong><br />
retorno <strong>de</strong> filhos separados ou divorciados à casa dos pais,<br />
solicitando ajuda para educar seus filhos (Peixoto, 2004).<br />
As transferências <strong>de</strong> apoio familiar das gerações mais velhas<br />
para as mais novas são especialmente notáveis <strong>na</strong>s <strong>família</strong>s em que o<br />
∗ Camarano et alii (2004) observaram um aumento expressivo <strong>na</strong> proporção <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> 7 a 14 anos<br />
residindo em <strong>família</strong>s com a presença <strong>de</strong> idosos que freqüentavam a escola, assim como uma redução <strong>na</strong><br />
proporção <strong>de</strong> netos que trabalham. Lloyd-Sherlock (2001), pesquisando em favelas em São Paulo, verificou<br />
que os idosos gastam mais sua renda com os outros membros da <strong>família</strong>, especialmente os netos, do que<br />
consigo próprios.