Envelhecimento e velhice na família contemporânea - Núcleo de ...
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Guita G.Debert e Júlio A.Simões – <strong>Envelhecimento</strong> e <strong>velhice</strong> <strong>na</strong> <strong>família</strong> <strong>contemporânea</strong> 17<br />
Desenha-se, assim, um cenário dramático em que, diante do<br />
predomínio <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> política social que prega o<br />
enxugamento do Estado e responsabiliza a <strong>família</strong> pelo cuidado <strong>de</strong><br />
seus <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, mais <strong>família</strong>s se vêem com meios reduzidos para<br />
enfrentar <strong>de</strong>mandas crescentes <strong>de</strong> apoio – não só transferência <strong>de</strong><br />
renda, mas também cuidados pessoais, suporte emocio<strong>na</strong>l e outros<br />
“recursos intangíveis” – aos seus membros mais vulneráveis, tanto<br />
jovens como velhos. Em tal cenário, a mobilização <strong>de</strong> apoios<br />
intergeracio<strong>na</strong>is informais tor<strong>na</strong>-se uma importante estratégia <strong>de</strong><br />
sobrevivência, o que po<strong>de</strong> resultar <strong>na</strong> co-residência entre idosos e<br />
seus filhos, netos e até bisnetos.<br />
Os arranjos familiares com a presença <strong>de</strong> idosos no Brasil<br />
po<strong>de</strong>m ser divididos em dois grupos (Camarano et alii, 2004): as<br />
<strong>família</strong>s <strong>de</strong> idosos, em que o idoso é chefe ou cônjuge, e as <strong>família</strong>s<br />
com idosos, em que estes são parentes do chefe ou do cônjuge. Nos<br />
últimos vinte anos, aumentou a proporção <strong>de</strong> arranjos familiares com<br />
a presença <strong>de</strong> idosos (<strong>de</strong> 21,1%, em 1980, para 24,1%, em 2000),<br />
sendo que esse crescimento se <strong>de</strong>u principalmente <strong>na</strong>s <strong>família</strong>s <strong>de</strong><br />
idosos (<strong>de</strong> 17,1%, em 1980, para 20,9%, em 2000). No mesmo<br />
período, as <strong>família</strong>s com idosos diminuíram tanto em números<br />
absolutos como proporcio<strong>na</strong>lmente, fato que po<strong>de</strong> ser correlacio<strong>na</strong>do<br />
com o <strong>de</strong>clínio geral da <strong>de</strong>pendência (funcio<strong>na</strong>l ou fi<strong>na</strong>nceira) dos<br />
idosos.<br />
A composição <strong>de</strong>sses dois tipos <strong>de</strong> <strong>família</strong>s reflete algumas<br />
tendências observadas nos arranjos familiares da população<br />
brasileira como um todo. Tanto as <strong>família</strong>s <strong>de</strong> idosos quanto as<br />
<strong>família</strong>s com idosos formam estruturas domiciliares marcadas pela<br />
convivência entre gerações: mesmo <strong>na</strong>s <strong>família</strong>s em que o idoso é<br />
chefe ou cônjuge, a proporção <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ntes idosos não ultrapassa<br />
45% do total <strong>de</strong> membros. Em ambos os tipos, também se verifica