Envelhecimento e velhice na família contemporânea - Núcleo de ...
Envelhecimento e velhice na família contemporânea - Núcleo de ...
Envelhecimento e velhice na família contemporânea - Núcleo de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Guita G.Debert e Júlio A.Simões – <strong>Envelhecimento</strong> e <strong>velhice</strong> <strong>na</strong> <strong>família</strong> <strong>contemporânea</strong> 27<br />
quando ele é membro da <strong>família</strong> (Santos e Rifiotis, 2003).<br />
O pós-guerra assistiu, <strong>na</strong> Europa, a uma crescente intervenção<br />
do Estado e <strong>de</strong> outras agências da socieda<strong>de</strong> em ativida<strong>de</strong>s antes<br />
relegadas à <strong>família</strong>. Contudo, como mostra Simon Biggs (1996),<br />
<strong>na</strong>quela época as i<strong>de</strong>ologias e práticas do Welfare State tinham um<br />
conteúdo pater<strong>na</strong>lista que impedia o questio<strong>na</strong>mento da integrida<strong>de</strong><br />
da <strong>família</strong> como instância privilegiada para arcar com o cuidado <strong>de</strong><br />
seus membros. Esse pater<strong>na</strong>lismo foi abalado, nos anos 1970, com os<br />
movimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia da violência doméstica contra a criança e a<br />
mulher. Pesquisas <strong>na</strong>s Delegacias <strong>de</strong> Proteção ao Idoso em São<br />
Paulo indicam que os agressores, <strong>na</strong> maioria dos casos, são filhos e<br />
outros parentes, notadamente quando resi<strong>de</strong>m <strong>na</strong> mesma unida<strong>de</strong><br />
domestica do idoso (Baptista e Juvêncio, 1995; Debert, 2001).<br />
A Constituição brasileira <strong>de</strong> 1988 consi<strong>de</strong>ra uma obrigação da<br />
<strong>família</strong> cuidar <strong>de</strong> seus membros vulneráveis, dando a essa instituição<br />
uma nova centralida<strong>de</strong>. A bolsa <strong>família</strong>, por exemplo, estimula esse<br />
novo papel da <strong>família</strong>, exigindo que a mãe man<strong>de</strong> os filhos para a<br />
escola. Po<strong>de</strong>ria a “bolsa idoso”, ao trazer novos recursos econômicos<br />
para a renda doméstica, transformar a <strong>família</strong> em espaço <strong>de</strong> amor e<br />
carinho? Respon<strong>de</strong>r positivamente a essa questão é ver a <strong>família</strong><br />
obrigada a se transformar num aliado fundamental <strong>de</strong> políticas<br />
sociais ineficazes e <strong>de</strong> instituições resistentes em aprimorar seu<br />
próprio <strong>de</strong>sempenho.<br />
Uma nova óptica, distinta da que caracterizou o papel da<br />
instituição familiar em agendas anteriores, entra em jogo. Estamos<br />
muito distantes da <strong>família</strong> patriarcal, tal como esse mo<strong>de</strong>lo foi<br />
caracterizado no estudo sobre a <strong>família</strong> brasileira. Não se trata <strong>de</strong> um<br />
mundo privado impenetrável às instituições estatais e ao sistema <strong>de</strong><br />
justiça. Estamos também muito distantes da <strong>família</strong> como o reino da<br />
proteção e da afetivida<strong>de</strong>. Com as novas políticas sociais, ela passa a