Envelhecimento e velhice na família contemporânea - Núcleo de ...

Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 26
querem ser cuidados somente por eles até o fim da vida. Mais do
que isso, muitos gerontólogos têm afirmado que a boa velhice é
aquela vivida com filhos, netos e eventualmente bisnetos, na mesma
casa.
Desconhecendo a heterogeneidade das experiências de
envelhecimento, que exigem de sociólogos como Hareven definições
muito precisas das características do grupo estudado, muitos
gerontólogos, de maneira apressada se agarram à família. Passam,
então, a fazer coro com outros especialistas que, preocupados com a
ineficiência e, sobretudo, com os custos financeiros das políticas
sociais, têm proposto uma nova agenda moral empenhada em
questionar a dependência em relação ao Estado. Nessa nova agenda,
a família emerge como agência capaz de solucionar uma gama
enorme de problemas sociais.
Os gerontólogos, que assim procedem, esquecem que, tal como
ocorre com os asilos de idosos, reportagens, documentários e
notícias apresentam diariamente os abusos cometidos por maridos e
companheiros contra as mulheres, por pais contra seus filhos
crianças e adolescentes e por filhos contra seus pais idosos.
Esquecem também que, com dados muito dramáticos, estudos
sobre família mostram que essa instituição não pode ser considerada
espaço de harmonia, carinho e cuidado “num mundo sem coração”.
Pelo contrário, os estudos feministas têm demonstrado com vigor
que a família é um espaço de relações de opressão em que o abuso
físico e emocional, o crime e a ausência de direitos individuais
competem com as estatísticas sobre a violência entre desconhecidos
nos grandes centros urbanos.
Esquecem ainda do investimento feito por tantos outros
gerontólogos no estudo do estresse do cuidador, provocado pelas
dificuldades envolvidas no cuidado do idoso, particularmente