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Envelhecimento e velhice na família contemporânea - Núcleo de ...

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Guita G.Debert e Júlio A.Simões – <strong>Envelhecimento</strong> e <strong>velhice</strong> <strong>na</strong> <strong>família</strong> <strong>contemporânea</strong> 19<br />

a saú<strong>de</strong>, e às <strong>de</strong>spesas do lar, o que incluía com freqüência ser<br />

solidário com os apuros das gerações mais jovens.<br />

Para fazer frente a essas obrigações e responsabilida<strong>de</strong>s<br />

continuadas, era justificável, aos olhos <strong>de</strong>sses aposentados, que<br />

muitos continuassem trabalhando para complementar a renda, visto<br />

que os rendimentos auferidos com a aposentadoria eram<br />

insuficientes e “indignos”. Compreendia-se, pois, o trabalho <strong>na</strong> ida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aposentadoria “por necessida<strong>de</strong>”. Não seria, entretanto,<br />

moralmente legítimo que um homem <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>votara sua vida<br />

ao trabalho, fosse obrigado a continuar trabalhando para sobreviver.<br />

Nesse aspecto, o retorno ao mercado <strong>de</strong> trabalho não seria uma<br />

solução para os problemas do aposentado. Ele <strong>de</strong>veria, ao contrário,<br />

po<strong>de</strong>r contar com uma aposentadoria dig<strong>na</strong>, como compensação justa<br />

às contribuições prestadas. “Lutar pela sobrevivência” <strong>na</strong> <strong>velhice</strong><br />

era, assim, exigir o respeito ao direito à aposentadoria.<br />

Quando esses aposentados refletiam sobre as relações com seus<br />

familiares, reconheciam haver certo caráter “transitivo” <strong>na</strong>s relações<br />

intergeracio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>ntro da <strong>família</strong>: isto é, que os filhos, ao se<br />

casarem, tendiam a <strong>de</strong>slocar seu foco primordial <strong>de</strong> <strong>de</strong>veres<br />

familiares para o cônjuge e os próprios filhos. Mas o aparecimento<br />

<strong>de</strong> noras, genros e netos, apesar <strong>de</strong> eventualmente perturbador, era<br />

aceito como um fato da vida, e também como uma fonte <strong>de</strong> alegrias.<br />

Assim, a percepção da transitivida<strong>de</strong> <strong>na</strong>s relações intergeracio<strong>na</strong>is<br />

era formulada menos em temos <strong>de</strong> queixa em relação a uma<br />

expectativa <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> familiar interrompida, e mais como<br />

meio para reforçar uma vez mais a centralida<strong>de</strong> do direito à<br />

aposentadoria dig<strong>na</strong>, fundamental para evitar a <strong>de</strong>pendência em<br />

relação aos filhos, a perda da estima <strong>na</strong> <strong>família</strong>, o <strong>de</strong>sprezo e a<br />

solidão. ∗ Desse ponto <strong>de</strong> vista, não seria possível, nem seria moral<br />

∗ Para mais <strong>de</strong>talhes, ver Simões, 2004.

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