Envelhecimento e velhice na família contemporânea - Núcleo de ...

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Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 28 ser percebida como uma instância em que os deveres de cada um de seus membros, ao longo do curso da vida, estão claramente definidos, e as agências estatais devem criar mecanismos, tal como as bolsas, capazes de reforçar e estimular o desempenho dos respectivos papéis familiares. Muito já se falou que a família, nas políticas públicas, é uma espécie de eufemismo para se falar nas obrigações da mulher. Mas é preciso reconhecer também que considerar a família como a garantia “natural” da sobrevivência e do bem-estar do idoso é obrigá-la a assumir um leque enorme de deveres e, ao mesmo tempo, impedir que investimentos financeiros e intelectuais sejam acionados na construção de outros formatos institucionais capazes de tratar a velhice com dignidade. Conclusões Para concluir, vale a pena lembrar do conjunto de significados que as creches ∗ tinham até muito recentemente. Elas eram vistas como uma espécie de depósitos de crianças a serviço das famílias e das mães que, por razões mais ou menos justificáveis, não podiam se ocupar devidamente do cuidado de seus filhos pequenos. Em pouco mais de uma década, essa visão foi inteiramente desfeita. Hoje é praticamente consensual a consideração de que impedir uma criança, a partir dos dois anos, de estar numa creche significa privá-la do desenvolvimento de uma sociabilidade adequada. Obviamente não usamos mais a palavra “creche”, substituída por “escola maternal”, “jardim da infância”, ou “centro de educação infantil”, entre outras expressões que ganharam uma conotação positiva. Mas não se pode esquecer de todos os outros investimentos ∗ Agradecemos a Elizabeth Mercadante, professora do programa de estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC/SP, que, como sempre, com grande sensibilidade, chamou-nos a atenção para a mudança dos significados que a creche aciona.
Guita G.Debert e Júlio A.Simões – Envelhecimento e velhice na família contemporânea 29 feitos no estudo da educação da criança, que transformaram a pré- escola numa experiência imprescindível para o bem-estar na infância e em uma conquista para a vida social no mundo contemporâneo. Apostar que o bem-estar da velhice está na família, num contexto em que ela tende a assumir formatos tão inesperados, é adiar inconseqüentemente a reflexão e as propostas de práticas inovadoras para uma experiência de envelhecimento bem-sucedida. Bibliografia AMOSS, P.T. “Cost Salish elders”. In: AMOSS, P.T. e HARREL, S. (orgs.). Other Ways of Growing Old - Anthropological Perspectives, Stanford: Stanford University Press, 1981. ARBER, S. e GILBERT, G.N. “Transition in caring: gender, life course and the care of the elderly”. In: BYTHEWAY, B. et alii (orgs.). Becoming and being old: sociological approach to later life, Londres: Sage Publications, 1989. ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. ARIÈS, P. “Por uma história da vida privada”. In: ARIÈS, P. e CHARIER, R. (orgs.). História da vida privada. v. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. BAPTISTA, V.A. e JUVENCIO, F.C. “As Delegacias de Proteção aos Idosos de São Paulo e Campinas”. Relatório de Pesquisa. CNPq, IFCH/Unicamp, 1995. BARROS, M.M.L. “Redes sociais e cotidiano de velhos num subúrbio carioca”. Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares. PPCIS/UERJ, 3, 2, 2001. BIGGS, S. “A family concern: elder abuse in British social policy”.
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