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MARASMO POLITICO PORTUGAL - DSpace CEU

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m tcfiS<br />

<strong>MARASMO</strong> <strong>POLITICO</strong><br />

D E<br />

<strong>PORTUGAL</strong><br />

,E<br />

SEÜS REMEDIOS RADICAES<br />

T O M O P R J A J E IR O .<br />

I .I S B O A :<br />

N a Imprbnsa N acional.<br />

i 834.


i i M i i i i i i i i i i i i i f i m i i i i i i i i i i i i i n i n<br />

O MUNDO<br />

DO L I V R O<br />

l l ' L . da T rin d ad e-I3<br />

Telcf. 36 99 51<br />

iiniuHuiiiiHiUiiiniiiiiiiitutiii<br />

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é^'T^iK'ë^ûT^ (yy€dce^^^oTn-ófw m o‘JM ‘r


GENUINA EXPOSigAO<br />

D O<br />

T R E M E N D O <strong>MARASMO</strong> <strong>POLITICO</strong><br />

EM QUE CAHIO <strong>PORTUGAL</strong> ,<br />

COM DESE N G A Ñ A D A INDICAQXo<br />

DOS<br />

UNICOS REMEDIOS APROPRIADOS A ‘ SUA CURA<br />

RADICAL,<br />

DEDICADA<br />

AOS VERDADEIROS AMIGOS DO BEM PUBLICO<br />

POR<br />

ANTONIO MAXIMINO DULAC,<br />

Cavalleiro professo na Ordem de Chritto, Officiai Maior<br />

graduado da Secretario d'Etiado dos J^egocios Eccle~<br />

siasticos e de Justiga, e um dos Directores do Conse-<br />

Ilio d' Agricultura da Sociedade Promotora da Industria.<br />

S u a d ere benevoli est p rim ù m , d e v i carrigere.<br />

Seneca.<br />

TO M O L<br />

L I S B O A :<br />

NA IMPRENSA NACIONAL.<br />

1 834.<br />

Com Licenza.


INVE.*?. • .


PROLOGO.<br />

E s t a Obra que prîncipiei quando principiou ,<br />

em 1828, a declarar-se nesta Capital o Governo<br />

da Usurpaçiïo, que tantos males causou a este<br />

Reino , estava acabada quando , em Julho de<br />

1833 , se restauren nella o da Legitimidade,<br />

que Ihe promette iantos bens. Porém as varias<br />

faces que, pelas suas varias oscillaçôes, tinhSo<br />

ofierecido os negocios públicos , durante esse<br />

desgraçado lustro, de tai modo tinh/ïo oiTuscado<br />

a perspectiva na confusao dos meus objectos,<br />

que SÓ , quando a serenidade propria dos ultimes<br />

tempos me permittio considera-Ios fixos no<br />

seu verdadeiro ponto de vista , e combinar as<br />

partes corn o tudo da minha composiçSo , pude<br />

vèr claramente que tinba afogado a ordem na<br />

abundancia da minha materia, e conhecer a ne-<br />

cessidade de refundir a sua substancia , e redn><br />

7Í-la , como reduzi, de quatro Tomos , a que teria<br />

deitado na sua prolixidade, aos dous em que se<br />

acha no seu Compendio. Este resumo, que logo<br />

resolvi, logo oemprendi; mas devo confessar<br />

com ingenuidade que mais procurava adiantar,<br />

mais atrazava a minha empreza , que tive de<br />

concluir com observar o preceito d’Horacio/esima<br />

lente. Como porém o motivo da minha pressa<br />

fosse o desejo de publicar o meu trabalho na<br />

abertura das Córtes, que tüo inesperados obstáculos<br />

tem retardado, este retardamento de urna<br />

parte cobrio o da outra.<br />

Nâo inculcarci este novo parto do meu fra-<br />

A 2


co engenho pelo seu merecimento. Oseu louvor<br />

por bòca propria seria o seu vituperio por alheias ;<br />

mas deixando a cada um avalia-Io corno entender,<br />

só o recomraendarei pelos raeus bons intentos.<br />

Francez por nascimento, e extracçâo, sou<br />

Portuguez , vai para 41 annos, pelo lugar que<br />

occupo: o sou ainda mais- pelo genio que dà o<br />

habito , pelos laços sociaes que tecem as rela-<br />

çoes civis , pelos vinculos naturaes queprendem<br />

a uma numerosa familia: o sou tanto que nunca<br />

podéra tomar por minha Patria nativa mais sincero<br />

interesse do que tomo por minha Patria<br />

adoptiva : e se ha alguma differença é a do patriotismo<br />

da gratidSo ter-rne penhorado mais do<br />

que talvez teria feito o patriotismo deobrigaçao.<br />

Destes meusleaes sentimentos éuma prova pou-<br />

co equivoca o sacrificio espontaneo, que iìz em<br />

J808 às urgencias do Estado demetade do meu<br />

ordenado, por todo o tempo que durasse a ultima<br />

guerra, que este Reino teve de sustentar contra<br />

o dominador queentao era daFrança; sacrificio<br />

que , pelos seis annos decorridos até o de<br />

3814, importou n’uns dous contos deréis, eque<br />

se foi pequeño emsi, foi grande segundo as mi*<br />

nhas forças. NSo menos relevante , posto que<br />

inenos dispendiosa prova dei do iiieu mesmo interesse<br />

para o damesma Pairia , pelas muitas diligencias<br />

que, em 1817, fiz para dispór as von-<br />

tades, e obter as assignaturas dos Lavradores,<br />

e Commerciantes de vinho deste Reino n’uma<br />

breve Memoria, que tinha lavrado em nome de<br />

todos, e na quai, representando a progressiva decadencia<br />

a que se ia reduzindo a exlracçâo desse<br />

genero nacional , pela igual admissao da es-<br />

trangeiro no Brasil , supplicava , ao Senhor Rei<br />

D. Joáo VI , que Sania Gloria.haja, as sanda-


veis providencias, que com eíTeilo Sua Mages-<br />

tacle se dignou outorgar Ihes pelo seu Regio Al-<br />

vaníde25 d’Abrii de 1818 , e que produzíráo, em<br />

quanto durárao, as vanlagens que dellas se es-<br />

peravao ; providencias que se devêrâo inteira-<br />

inente aos muitos passos que dei nesta Capital<br />

para aproroptar os Papéis, e aos que déo no Rio<br />

de Janeiro , para promover os seus despachos,<br />

o Conselheiro Manoel José Sarmento , a queiri<br />

os entreguei aqui promptos na occasiáo do sen<br />

embarque para essa Capital , e de queni fui o<br />

correspondente ñas particij)açoes dos progresses<br />

da sua comniissao. Outra prova, que dei dos mes-<br />

mos meus sentimentos, e muito mais laboriosa,<br />

foi a da voiumosissima Memoria que, em seguimento<br />

daquella breve , passei nesse mesmo anno<br />

a compór, com o titulo de Vozes dos Leaes<br />

P artuguezes, cujaprimeira redacçâo mereceo tal<br />

aprovaçâo da Regencia que , até Agosto de<br />

1820, governou este Reino, que me prometteo<br />

a sua mais eflìcaz recommendaçao á Real Con-<br />

sideraçâo do dito Senhor D. JoSo V I, e que á<br />

Sua Augusta Presença a remetleria pelo Excel-<br />

lentissimo Senhor Conde, agora Duque de Palmella,<br />

próximamente chegado a esta Capital de<br />

caminhó a ir tornar a Pasta dos Negocios Es-<br />

trangeiros na do Brasil.<br />

Mal se poderia duvidar de que as minhaa<br />

viátas nesse arduo empenho tendessem tanto maia<br />

exclusivamente para o bem püblico, quanto menos<br />

interessavüío o meu proprio as muitas refor^<br />

mas, einnovaçoes liberaes que propunha (I ), e<br />

ma¡s me era dilBcil revestir as minhas propostas<br />

( I ) E n tre outras m u itas, a aboiiçâo dos Foraes , e de-outros<br />

varit» g ravaraes de iotoleravel pezo sobre a ag ricultu ra ; o nivela-


de taes còres, que as tornassem d’eslfâniiaveis eni<br />

recommendaveis. Mas quem imaginasse o contrario<br />

se desimaginaria ao saber que por se nSo<br />

veri6car o priraeiro destino desse trabalho , de<br />

que tinha apromptado dous Exemplares manus-<br />

criptos, em raz§lo da uova ordem de oousas que<br />

começou a 24 d’Agoslo do mesmo anno, e por<br />

me parecer que esta novidade, longe d’estorvar,<br />

favorecería a execuçao dos meus planos, reser-<br />

vei o mais nitido desses Exemplares para ter a<br />

honra de apresenta-lo, corno o apresentei, aoSe-<br />

nhor D. Joito VI na sua feliz chegada do Hio<br />

de Janeiro , e com alguns retoques , allusivos<br />

aos acontecimehtos do tempo , tratei immediatamente<br />

de imprimir ooutro, parapode-lo distribuir<br />

logo que se abrissern as Côrtes: e com ef-<br />

feito , odislribui por todos os seus Membres, pelos<br />

Conselheiros , e Ministros d’Estado , pelas<br />

principaes Authoridades clvis e militares da Córte,<br />

e das Provincias, com tal profusáo d’Exem-<br />

plares , e desapego d’interesse, que como pou-<br />

cos compravao o que tinháo , ou podiâo ter<br />

gratuitamente , nâo resarci na sua venda pelos<br />

Livreiros a terça parte da despeza de<br />

um conto de réis, que tinha feito pela sua im-<br />

pressSo , até a chamada RestauraçSo de 1023 ,<br />

em que todos cessárilo de procara-los pelo peri-<br />

goso cheiro do seu liberalismo. Nao cessei por<br />

isso os meus entretenimentos litterarios ; mudando<br />

porém d’objectos, dediquei os meus momentos<br />

vagos ora a rever, e rectificar engenhos hy-<br />

draulicos , que muito antes excogit«*íra para re-<br />

m ento dosD ireitos d 'im p o rta ç à o , com a dim iim içào d o sd e e x p o rta -<br />

ç â o , m uito favoraveis ao co m m ercio ; o alliv io das pescas nacio-<br />

iiaeá.cujos benaúcios j á se devem á illu s tr a la politica do G overno<br />

C onstitucional.


vu<br />

gas de hortas e campos; ora a examinar, eaper-<br />

feiçoar um systema de reforma dosnossos defei-<br />

luosissimos carros de bois, que tambem muito<br />

anles tinha imaginado, combinado, e desenvolvido<br />

com desenhos explanalorios , e cálculos de-<br />

monstrativos das suas vantagens para alüvio dos<br />

animaes, e beneficio das estradas, até que tornando<br />

a animar~se as minhas esperanças pela<br />

feliz chegada da Carta Constitucional em i836 ,<br />

tornei a entregar-me aos meus assumplos eco-<br />

nomico-politicos. Foi entito o meu primeiro Es-<br />

cripto uma especie d’Oraçâo Congratulatoria,<br />

em que celebre! o festivo Juramento da mesraa<br />

Carta, e declarei o espirito renascente da minha<br />

libertada Obra, Vozes dos Leaes Portugués<br />

zes , a que a juntei em fórma de aviso supple-<br />

mentario, e foi o segundo, em 1827 , o meu E xa m c<br />

Crüico , Comparativo do estado actual, em que<br />

analisando, e descutindo a questáo, nesse tempo<br />

controvertida, sobre a conveniencia, e desconveniencia<br />

do estabelecimento de um Porto Franco<br />

em Lisboa^ procurei conciliar as opinides divergentes<br />

sobre os pontos principaes ; eparame-<br />

Ihor conseguir estefim, imprimi tambem aquella<br />

trabalho, e remetti delle Exemplares a todos<br />

08 Membros d’ambas as Camaras, e a quem jul-<br />

guei mais influente na sua decisáo (I). Como<br />

porém ainda se frustrasse este novo sacrificio peía<br />

Facçâo revolucionaria que, para depois usurpar<br />

todos os direitos da Legitimidade , princi-<br />

(1 ) A ntes d e d ar este novo a o P r e lo , tive a satisfaçào de v ê t<br />

realizar-se este estabeleciiB ento pelo im p e rial Decreco de 22 do<br />

M arço do präsente a n n o , com a differença do de m eu plano de<br />

d aterm in ar'se 1 por 100 d e d ire ito de deposito, em lugar do sim ­<br />

ples pagam en to d ’a rro a z en a g em , que eu tin h a pro p o sto , por m e<br />

parecer entào» corno m e parece a in d a , m uito m ais conveniente.


piava por invadir todos os Poderes Políticos, e<br />

para melhor conseguir os seus dañados fíns, aca-<br />

bou por afastar do seu contacto todos os que<br />

reputava oppostos aos seus atlentados, com este<br />

absoluto descanço do exercicio do meu Jugar,<br />

procurei outro absoluto emprego aos meus<br />

cuidados no entretenimento do presente traballio<br />

, que sempre olentou aviva esperança de<br />

prepara-lo para melhor tempo.<br />

Nao se limitáráo a isso os meus entreteni-<br />

uientos Iliterarios ; mas náo fallarei de outros<br />

muitos sobre varios objectos d’economia politica,<br />

e mesmo rural, pornSo presumir que a pro-<br />

longaçâo dos meus dias me permitía dar-lhe a<br />

ultima demSo, e publica-los. Naquelles mesmos<br />

poucos em que ióco, nSo é para allegar servi»<br />

90S, mas sómente para dar a conheccr por elles,<br />

a quem me nSo conhecer por outro modo,<br />

que tiz quanto pude para desempenhar o debito,<br />

que contraili para com um Paiz, onde nada<br />

trouxe menos urna educaçâo liberal, e onde tu-<br />

do achei menos um Povo tSo feliz como o po^<br />

dia ser ; e que tudo quanto lerabrei para<br />

promover esta felicidade , outros muitos pode-<br />

riáo té-la feito com mais acertó , mas nioguem<br />

com mais desejo d’acertar.


INTRODUCÇÂO<br />

PLANO DA OI3RA.<br />

E<br />

(Q uando a fortuna de unia Naçao bem constituida<br />

foi atacada de uina calamidade extraordinaria<br />

, que exhaurio as fontes da sua prosperi-<br />

dade, que extinguió os raesmos recursos da sua<br />

subsistencia , hào de necessariamente participar<br />

todos os seus Povos da sorte commnm , e sof-<br />

frer mais cu menos os seus individuos segundo<br />

as suas circuinstancias particulares os expozessem<br />

aos seus golpes; cessando porém a causa, ces-<br />

sHo os seus eíleitos; voltao gradualmente as cousas<br />

^ara o seu curso ordinario, e se restabelece<br />

insensivelmente aqueüe Corpo politico dos sens<br />

soíTrimentos accidentaes para seu l>eni estar ordinario,<br />

como um corpo humano de urna molestia<br />

aguda para unía perfeila convalescença , logo<br />

que urna crise favoravel desvanece os paroxismos<br />

das suas angustias. Quando porém este<br />

corpo hnmano, antes deacomeltido da sua molestia<br />

aguda , já padecía molestias chronicas,<br />

que embaraçavao, ou perturbavao as suas func-<br />

coes naluraes, que attenuavao . ou amorteciao<br />

os seus espiriios viiaes . ent?ío é que a sua cura<br />

se -torna tan-to mais difficil quanto mais mirrados<br />

suo osorgiìos do seu temperamento ; enlao é que<br />

Tom. J. B


piava por invadir todos os Poderes Políticos, e<br />

para ineihor conseguir os seus dañados fìns, aca-<br />

bou por afastar do seu contacto todos os que<br />

reputava oppostos aos seus atlentados, com este<br />

absoluto descanço do exercicio do meu iu*<br />

gar, procurei outro absoluto emprego aos ineus<br />

cuidados no entretenimento do presente traba-<br />

Ího , que sempre alentou aviva esperança de<br />

prepara-lo para melhor tempo.<br />

Náo se limitáráo a isso os meus entretenir<br />

inentos Iliterarios ; nías náo fallarei de outros<br />

muitos sobre varios objectos d’economia politica,<br />

e mesmo rural, pornSo presumir que a pro-<br />

longaçâo dos meus dias me permilta dar-lhe a<br />

ultima demSo, e publica-los. Naquelles mesmos<br />

poucos em que íóco, nao é para allegar servidos,<br />

mas sómente para dar a conhecer por elles,<br />

a quem me nSo conhecer por outro modo,<br />

que fíz quanto pude para desempenhar o debito,<br />

que contrahi para com um Paiz, onde nada<br />

trouxe menos urna educaçSo liberal, e onde tudo<br />

achei menos um Povo tSo feliz como o po'<br />

dia ser ; e que tudo quanto lembrei para<br />

promover esta felicidade , outros muitos pode-<br />

riáo té'la feito com mais acerto , mas nioguem<br />

com mais desejo d’acertar.


INTRODUCÇAO<br />

E<br />

PLANO DA OBRA.<br />

C^UANDO a fortuna de un)a Naçâo bem cons-<br />

liiuida foi atacada de uma calamidade extraor*<br />

dinaria, que exhaurio as fontes da sua prosperi-<br />

dade, que extinguió os mesmos recursos da sua<br />

subsistencia , hilo de necessariamente participar<br />

lodos os seus Povos da sorte commiim , e sof-<br />

frer mais ou menos os seus individuos segundo<br />

as suas circumslancias particulares os expozesseiii<br />

aos seus golpes; cessando porém a causa, cassilo<br />

os seus eíléitos; voUao gradualmente as cousas<br />

para o seu curso ordinario , e se restabelece<br />

insensivelmente aquelle Corpo politico d


OS sens remedios sao tanto mais urgentes , e a<br />

sua applicaçao tanto mais melindrosa , quanto<br />

mais a sua situaçSo é perigosa, e forçosa a ne-<br />

cessidade da sua salvaçSo; e o que é do Corpo<br />

politico para o humano, no primeiro caso, o é<br />

do humano para o politico no segundo, o é in-<br />

dispensaveln)en(e para Portugal , que é agora o<br />

paciente d’aiiibos os achaques , e cujos varios<br />

doentes precis/ïo de varias receitas, de que fallarei<br />

adiante. lia com ludo de commum entre<br />

elles certa aiî’eiçao morbosa , de que convem<br />

tratar primeiro, j)0à ser a mais funesta na sua demora,<br />

e porque, era quanto se nao cura, torna<br />

as mais incuraveis.<br />

Alludo áquelle hnmor bilioso que , levedan-<br />

do pouco a poiico pelo fermento das paixoes<br />

aversas, exacerbando-se tanto mais quanto mais<br />

acre era a sua fermentaçao, rompeo impetuosamente<br />

pela violencia do seu choque, cresceo,<br />

exaltou-se, subio ao grao de uma febre ardente,<br />

maligna, contagiososa, que, na força da sua<br />

agitaçâo convulsiva j inquietou , atordoou , en-<br />

louqueceo o doenle ao auge de tudo quebrar,<br />

rasgar, despedaçar ; ao ponto de ludo cobrir de-<br />

ruinas em si e ao redor; e ainda que declinou<br />

da sua intensidade , ainda que abrandou nos<br />

seus paroxismos, nào se despedio na sua dura-<br />

çâo; obra solapadamente a modo de um cancro<br />

ascoroso, que mina, que roe ; a modo de um<br />

espasmo vertiginoso, que consome, que prostra<br />

esse Corpo politico , tanto gasta o tìsico como<br />

agasta o moral; atiera, desfigura, transtorna todo<br />

o seu tempcramenlo organico.<br />

Sendo este accesso lodo d* irrilaçao , deve<br />

ser o seu Iratamento todo com calmantes , e<br />

destes sSo os melhores os que eortirao melhor


«fleito em igual caso da sua applicaçao , que<br />

passo a referir.<br />

A pintar com as suas dévidas côres o inven-<br />

civel valor , e inabalavel constancia com que<br />

Henrique JV , o grande Henrique de França,<br />

combaLeo, aplacou, extinguió os inauditos furores<br />

da Liga que, sob capa de Keligiíío, conspi-<br />

rárao antigamente contra a sua legitima acces-<br />

sao aoThrono daquelle Reino, e do mesmo pincel<br />

0 mesmo animo e firmeza com que o Senhor<br />

D. PedroIV debellou, subverteo , anniquilou os<br />

nefandos perjuros que tramàrào a usurpacSo, e<br />

disputarao a restituiçao do de Portugal a sua Augusta<br />

Filha, far-se-iSo dous niagnilìcos paineis,<br />


te os «cus filhos desgarrados, desengana-Ios dos<br />

seus erros , consola-ios dos seus padecimentos,<br />

allivia-los dosseus inaltís, fazendo triunfar ahu-<br />

nianidade em toda a parte onde fez triunfar a<br />

justi^a , por este mais bello triunfo da mais bel-<br />

Ja causa, j;í nao seria identidade de retrato, sería<br />

identidade de modelo daquelle seu grande,<br />

sublime, incomparavel progenitor; como elle o<br />

idolo de todos os nacionaes; como eile a admi-<br />

ra^íío de todos os estrangeiros ; como elle o mais<br />

excellente typo do mais exceilente Principe : que<br />

com m ando , respondeu = le p la is ir


tligo! a copia ntlo só imitaría , mas excedería Cf<br />

orig;iiiaì quanto as instituì^òes liberaes , qua ja<br />

déo corno Rei a lodos os seus Subditos, exce-<br />

«lem quaesquer indultos graciosos que Ihes dés-<br />

se como Regente, e quanto mais vale prevenir<br />

despra^as futuras do que remediar as presentes.<br />

Para indicar os graos de misericordia que invoco<br />

dos ineus humildes votos , graduarci as<br />

culpas dos réos, a que refiro a sua applica^áo.<br />

Recorrendo os campos, vé-se que os misera-<br />

veis aldeSos , incorporados em guerrilhas , ou<br />

dispersos em bandos, forSo os que comettérao<br />

as maiores atrocidades ; mas pobres d’idéas ,<br />

mais pobres de juizo , njio lendo discernimento<br />

proprio para escolher o melhor partido, nem li-<br />

berdade para segui-lo, como poiliao deixar d’a-<br />

bracjar o peior que se Ihes sugerisse, nem de<br />

leva>lo a excessos proporcionados ao seu embru-<br />

tecimento ? Se foi maior a culpa dos seus cri-<br />

mes, é porque maior foi a sua ignorancia, ecre-<br />

l i l R t i , pelo m uito que la su a d o , e afogueado , viro«*se para ell<br />

e , o llie disse : /a / /a ¿ te r d a d e , meu p rim o , este p asso é um p o u -<br />

eo opressado p a ra vos: stm S en h o r, resjwndeo o D uque , e td o<br />

opressado 9«6 estou quasi a a rreó e n la r, e p o r pouco q u e F ossa<br />

M a g esta d e con/m uassc , d a ría cabo de mim ssm querer. O ra<br />

p o is , Ihe replicou E lR e i, de um ar risonho, e tornando a a b ra-<br />

^a-lo ; eis au>’ica vinganga que pcrlendo tira r de vos p elo m.uí-<br />

to que tambem me fiz a le s a n d a r depressa', toque lá a máo. Co»<br />

m o o D u q u e , penetrado de n^aneiras tao graclu&as, forceja'ise nov<br />

a m ente para beijar-lhe a m áo, que Sua M agestad ellie estendia, protestando<br />

que de lá em dia u te o serviría contra oe seus proprios<br />

fd h o s. E u Iho creio , respondeo H e n riq u e; mas p a r a poderes ser-<br />

vir-m e m nis tempo , precisáis d escansa r, e refressar-vos ; meu<br />

bom e fie l servidor R o sn i ( depois D u q u e de S u lli) vos acompa-<br />

n k a rá , vos escolherá um q u a rto , d a rá duus g a rra fa s de vinko<br />

d 'j^rh o is, de que s ti ndo de.


dulidacìe , de que nao tem culpa ; e merecem<br />

tanto mais compaixâo, quanto mais justamente<br />

se pode orar por elles como Nosso Senhor Jesu<br />

Christo orou por osJudeos que o crucificárao =<br />

M eu P a i, perdoai lhesj porque nâo sabem o que<br />

fazem .<br />

Passando Ks Villas, encontrao-se entre muí-<br />

tos occultamente fiéis, muitos realmente intìeis,<br />

mas desses ìnfiéis , que verdadeiramente pouco<br />

menos idiotas , e pouco mais sabicoes que os<br />

sdas aldeas, tao servís de caracter, quiio versa-<br />

teis d’opiniòes; tao mudaveis desystemns (juao<br />

nullos de politica, acomodando as suas caras U<br />

feiçâo dos seus papéis, instigaviío osprimeiros,<br />

porque erao instigados de terceiros, mais como<br />

mandatarios do que como mandOes.<br />

Chegando iís Cidades é que se acliño os<br />

principaes motares da J’accsío revolucionaria<br />

que, para substituir o governo despotico ao governo<br />

Constitucional, eubslituirâo o fanatismo á<br />

Religi/io, e a Legitimidade ú usurpaçâo. O governo<br />

despotico tem poucos amigos verdadei-<br />

ros , porque poucos anifio sinceramente o que<br />

pode esmaga*los arbitrariamente. Muitos porém<br />

nmao nelle o que delle tem, ou esperfío; oque<br />

ceva os seus interesses, ou favorece a sua am-<br />

l>iç3o, cujo objecto cesando, cessa o seu amor;<br />

mas nao póde cessar tiïo depressa , porque tàio<br />

depressa nîîo se desapeg3o desse engodo.<br />

Os homens sao geraimente o que os fazem<br />

ser a falta, ou falsidaile da sua educaçîîo, o vicio<br />

ou virtude dos seus exemplos , que consti-<br />

lnem o seu caracter, porque formììo osseus ha-<br />

hitos; e muitos que pornatureza seriào bons, e<br />

optiuìos, por circumstancias sào máos, e pessi-<br />

inos ; pelo que nuo era de esperar que no cáhos


do veiho mundo, onde tantos, ha tanto tempo*,<br />

vivi3o d’abusos, todos espontanea e simultanea-<br />

nionle os sacriíicassem ás reformas de um mundo<br />

novo. Foiassim mesmo ñas Cidades que, por<br />

Iiaver mais ilJustraçjîo, houve mais patriotismo ,<br />

«laquelle nobre patriotismo , que rebentou no<br />

Porto com a expIosSo dovolcâo, e se desenvol-<br />

veo em Lisboa com a rapidez do raio ( 1); aqui<br />

como alii dissipou as tramas da rebelliâo como<br />

a iu'z do dia dissipa as trevas da noite . e nas<br />

mais a medida que , desafogada a sua oppres-<br />

(1 ) J à eu tin h a prognosticado estesuccesso a a lg u n s bonsann*<br />

g o s , e bons defensores d a ju sta C ausa no P orto , por cartas d a ­<br />

tadas dos principios do M arço de 18SS, em q u e , participando-<br />

ihes a m in h a tençao d ’ahi m a n d a r, logo que com pletasse dezese-<br />

se annos de id a d e . um úlho ancioso d e ir unir-se a seu ir m a o ,<br />

que já lá fora nos principios de N ovem bro de 18S2 , antes de co m ­<br />

p letar dezoito ditos ; e participando-llies tam b em o trabalho eni<br />

que aquí m e occupava para , segundo as m inhas fracas fo rças, coad-<br />

ju v a r a m esm a C a u sa , depois de referir © parallelo quefizera das<br />

tram as d a nova Facçâo de P o rtugal com as tram as d a antiga L ig<br />

a d a F ra n g a , accrescentava litleralm ente = » fa is a n t successi-<br />

» v em eut le jném e parallele entre cet état passe de la F rance et<br />

» le présent du P o rtu g a l, plus jà i cherché de ra p p o rt, plus ja i<br />

»» trouvé de conform ité entre les vertus R oyales de H enri IV e t<br />

n celles de son illustre petit fils, Fiere IV ; entre les dispositions-<br />

M m orales et les'actes phisiques de leurs sujets repectifs, tous m oins<br />

M coupables p ar m alice que par ig n o ran ce, par m auvaise foi que<br />

M par séduction, et m ieux je crois avoir prévu que par les m êm es<br />

>» exploits le second obtiendra le m êm e succès; c ’est à d ire , que<br />

t( sa m arche se changera de m ilitaire en triom phale à proporiio»<br />

» q u 'il avancera \e rs sa C a p ita le , parceque c'est le centre des lu><br />

» nii^res des Portugais condensées p arcelles des étrangers, dont la<br />

» réunion b rille à mesure qu’elle s’approche de ce point de leu r<br />

>' foyer ; parce qu’il en est ici bien ]>eu dont il faille dessiller les<br />

>» y e u x pour convertir le c œ u r, la plu p art professant en Secret ce<br />

» q u'ils abjurent en public , et parcequ’enfin s’il en reste quel-<br />

» ques uns qui tiennent encore à l ’avenglem ent de leur e sp rit, ils<br />

» ne tiendront point à l'e v id en c e des fa its, m ais s'em presseront de<br />

n joindre leurs hom m ages a u x acclam ations de ceux dont ils vou«<br />

» droDt p artager le bonheur.


sSo, pode respirar asuafidelidade. Embora pois<br />

sejSo entregues aos melos judiciaes para, segundo<br />

todo o rigor das Leis criminaes, serem con-<br />

demnados a soffrer as penas que merecér3o, e<br />

reparar os (latimos que causHrao aquelies furibundos<br />

que, por atrocidades mais deliberadas de<br />

roubos, incendios, assassinios, ele. inanifestdríio<br />

urna indole mais ferina, ou , por urna perseverança<br />

mais contumaz, urnadepravaçiîo mais incorrigi-<br />

vel. Em taes monstros dahumanidade nunca póde<br />

disfarçar-se o mal que fizerSo á Sociedade,<br />

nem deixar de prevenir o que ainda podeni fa-<br />

zer-lhe.<br />

Aquc-lles porém que por força ou fraqueza,<br />

por engano ou surpre:ìa, por fascinados da mà<br />

causa, ou desesperados da boa, se deixdrào ar-<br />

rastar pela torrente, e mais longe forao levarlos,<br />

menos poderíio recuar, estes, senao forem bastante<br />

castigados pelos trabalbos que passárao ,<br />

oserao pela confusaoque tiverem dosseus erros,<br />

ou pelos remorsos que sentirem dos seus maleficios:<br />

e de mais, os crimes de tantos rúes, que<br />

tanta diílerenca fazcm entre si pela da gravicla-<br />

de da sua especie, ou as circumstancias da sua<br />

perpetraçiio , a fariâo ainda maior pelos afi’ectos,<br />

ou desadectos da sua representacào. Dahi adif-<br />

iicnldade de graduar as culpas; daqui a impos-<br />

sibilidade de proporcionar-lhes ns penas , ou a<br />

necossidade de perdoa-las todas, i^'inalmente, amigos<br />

Íntimos, e parentes pro.xinios, tao proximos<br />

alé .conio irmilos para irmaos , pais para filhos,<br />

jnaridos para mulheres , e o'.itros muitos que a<br />

simpathia, o sangue, a natureza unissem bein<br />

unidos por uaia vez, corno poderla a Lei sepa-<br />

ra-ÌQs para sempre Fechou-se oTemplo de Ja*<br />

no, abra se o Tempio da concordia geral; apa-


gou*so o incendio flagrante, apaguem-se as suas<br />

cinzas fumegantes por esse perdio decima, que<br />

dò a t-odos OS oiTendidos debaixo oexemplo com<br />

a lÌ9


tlo*se certificado que dous Senadores conèpira*<br />

vSo contra elle , os adverlio de renunciar aos<br />

sens designios , e os converleo ao seu dever,<br />

concedendo-lhes o que desi'javjïo; chegou atë a<br />

adinilii-los á sua meza.<br />

O segundo, fechadp no seu palacio, de que<br />

o horror , e o terror guordaviïo as portas , iin-<br />

niolava dentro , ou assignava fora as suas des-<br />

graçadas victimas, niio poupando, nassuas sanguinarias<br />

vinganças, neuj aos mais respeitaveis Ci-<br />

dadîïos, nem aos feus mais proxiinos parenl.es.<br />

O prin>eiro, quando se vio no cume dopo*<br />

der, assentou que mais podia, menos devia exi-<br />

gir dos seus subditos. Na sua mesma meza , a<br />

que 0 merecimento dava o direito, e a ainiza-<br />

de fazia o convite, o maior regalo do banquete<br />

era a livre jovialidade dos convidados.<br />

O segundo, quando tudo pôde, tudo quiz,<br />

até o nome de Deos , e Senhor. Convidando<br />

urna vez os principaes Senadores de Roma, os<br />

fez conduzir para urna grande sala armadi de<br />

preto, allumiada proviso uns poucos d’homens<br />

t3o negros como a mesma arma<br />

mens« o fazia a animaes. Ero falta de outros,<br />

divertia-se no seu gabinete a apanhar moscas ^


e pica*]^8 com um ponleiro agudo ; cujo ferino<br />

entreteuimento eternizou o gracioso dito de um<br />

seu famulo que, perguntado ee o Imperador estava<br />

SÓ : S im , respondeo elle , e (ào só , que nem<br />

sequer moscas tem comstqo.<br />

Para encurtar um parallelo , que multo poderla<br />

estender, só accrescentarel


me pareciâo , ISo longas me parecêrao na sua<br />

final verificaçaü : e para morlrar que os meus<br />

sentimentos d’aversSo ii rebeldia, e d’indulgen-<br />

cia para os rebeldes forao sempre os mesmos ,<br />

repetirei as mesmas frases pelo mesmo idioma,<br />

em que exprimi os nieus primeiros votos.<br />

= Une fusion universelle de toutes les opinions<br />

politiques en une doctrine fondamentale<br />

de monarchie constitutionnelle , et d’ordre social.<br />

Qu’on rassure les faibles , qu’on entraine<br />

]es incertains; qu’on porte la conviction dans<br />

tous les esprits ; qu’on bannisse la crainte de<br />

tous les cœurs , et que nos tristes apostats,<br />

confondus de honte ou dereconnoissance, au milieu<br />

de ]a grande famille , li’ayent d’aulre sup-<br />

p'ice que le remords d’en avoir éloigné le bonheur<br />

et le dépit d’en voir le retour, escorté<br />

par les fidèles qui l’avaient accompagné dans<br />

son éxil. Il est partout des griefs à rédresse,<br />

des réparations à faire, des plaies à guérir, et<br />

nulle part les moyens de satisfaire à tous les<br />

plaignants. La pairie fait appel de toutes les<br />

plaintes intéressées à tous les souiTrants désintéressés-,<br />

qui ne se plaignent pas. Seuls disposés<br />

à faire le sacrifice de leurs intérêts particuliers<br />

à l’intérêt public , ils peuvent seuls attirer par<br />

3a vertu magnétique de leurs cœurs tendres la<br />

masse ferrugineuse des cœurs durs, et rétremper<br />

cet esprit égoiste , qui a fait tant de mal en<br />

Portugal, de cet autre esprit libéral, qui lui fé-<br />

rail tant de bien ; de cet esprit vraiment réli-<br />

gieux et vraiment civique, qui fesait dire à l’illustre<br />

auteur du Telémaque , le digne précepteur,<br />

des Rois et plus digne Archevêque de Cambrai,<br />

Lamotte Félenon, g u il fa lla it aimer plus sa fa ^<br />

mille que soi même, et plus sa patrie qu^ sa fam ilU .


Tal ine pareceo , e parece ainda o srnlido<br />

genuino ()a iiossa sabia (/onslituiçSo ; tal o ver*<br />

dadeiro liberalismo, que respira e inspira, e tal<br />

o mais nobre triunlo da mais nobre causa, que<br />

menos se resenle dos estragos físicos que dos<br />

moracs, por menos funestos na sua existencia,<br />

e mais reparavois nos seus damnos; e por isso<br />

lanibeni , ainda que uns e outros conlribuirúo<br />

muito a aggravar os males agudos do doenle<br />

j)üliiico a que alludi, estendi me particularmente,<br />

nesta InlroducçSo, sobre o curativo dos- pri-<br />

meirüs, por mais urgentes eperigosos, e por nao<br />

tornar a fallar delles em oulra parte; e quanto<br />

aos segundos , posto que muito serios , nâo co-<br />

nhecendo especificos fortes, quesejSo convenien»<br />

tes á muita fraqueza do mesmo doente, limitar-<br />

me-hei a indicar aqui, por regiraen interino o<br />

mais proprio aoseu estado actual, e o mais bem<br />

próvado pelo mais hábil facultativo, Sulli, como<br />

mostrarei adiante , o de uma economia muito<br />

estricta, que o modo de uma dieta muito rigorosa<br />

, prepace o dito paciente para os cordiaes<br />

animantes, e tonicos confortativos que inculco<br />

1)0 processo da minha Obra, segundo a natureza<br />

das diversas molestias chronicas , .de que se<br />

con»plicao, ou coiu que se confundem todos o&<br />

seus padecimentos (i).<br />

(1 ) D éíde que coinpuz eele P la n o e Introducçâo, nos princi*<br />

}iiüs d(i presente anno , a nia¿'nanim a cleroencia do S u a Mages*<br />

lad e Im p erial p;evenio ta c exuberantem en te os m eus desejos,<br />

m anifestados na prim eira parte do m eu discurso, que já nao tem<br />

objecto esía ex-pressao due m eus sentinientos ao en trar u a lm p re n -<br />

sa. N a d a m udei assim m es5io n a anticipaç&o dos m eus h u m ildes<br />

votos, }>e1o m uito que m e lionro em nSo ter feito seuao anti><br />

cip ar o panegirico das sublim es virtudes em que S u a M agestade<br />

Im p erial, cad a vez m ai» , se vai parecendo com seu ¡rauiortal avo<br />

Henriq>íe IV .


Pelo que toca a essas molestias chronicas,<br />

como sfîo muitos os seus achaques, muitos h.lo<br />

de ser o8 topicos da sua appücaçSo ; por¿m o<br />

mais urgente é o mais efficaz , e o mais eiììcaz o<br />

que tir» de raiz a causa de seu maior mal; é,<br />

h'em di'ivida, um bom systema d’economia rural ;<br />

porqtio, á proporçâo que por elle melhora a agricultura<br />

territorial, por eila melhora o mesmo enfermo<br />

politico, a que se allude, e vai adquirin-<br />

do forças para os mais tratamentos de que pre-<br />

cisao seus mais achaques. Foi tambem a deseo-<br />

berta deste remedio o objecto dò meu maior<br />

empenho , e o seu preparo o do meu maior<br />

apuro.<br />

A agricultura, considerada na sua onlem, é<br />

a primeira das artes; considerada na sua gradua-<br />

ç5o, é a maiâ excelsa das industrias ; considerada<br />

nas seus productos , é a mais abundante<br />

das minas; e considerada na sua occupaçao, á<br />

a mais digna do homem livre = niftil homme<br />

iibtro dignihiSy diaia Cicero a seu filho; é o asilo<br />

do pobre, é o dominio do rico ; é finalmente<br />

a mSi commum doshomens, porque da substancia<br />

dos seus pellos pròve aos seus communs<br />

sustentos, tanto mais abastadamente quanto mais<br />

cuidadosamente promovem a sua fecundidade;<br />

e sendo especialmente debaixo daquelle respeito<br />

que rae proponho considera-la, tratare! principalmente<br />

de como deve dispòr-se esta pro-<br />

moçâo.<br />

A politica é para a arte de governar em terra<br />

o que é a bussola para a arte de governar no<br />

mar; mas quando, diz C. Ganilh, Essai Economique<br />

sur le Revenu P ublic, Tom. I. pag. 187;<br />

mas quando os usos c costumes de um P aiz nâo<br />

offerecem mais que versatilidades sobre um ponto


J ■ I »<br />

fJe úireito positivo; quando se nao pode julffar do<br />

que se hade fa z e r peto que já se fez, coixceituar o<br />

fu tu ro pelo passado, e' eniao absolutamente forço-<br />

so rtmoiìULT á oriifCìtx das cousas, unwa fo n it lim-<br />

pa donde possao ciimanar principios putos , e re~<br />

(¡ras certas pura a dirccçao dus fiomens e dos ne-<br />

qoctos para um bom cjìIo ; doutrina esta que<br />

abracei como a mais liiiuinosa , e predirei se»<br />

^^uir corno a mais segura para o firn do meu in-<br />

u-i;(o.<br />

Com esle intento, comecci por fazer o inventario<br />

dos varios fundos, e varios agentes empre-<br />

gados na promoçjio da ajçricuJtura, bem como<br />

dus varios frutos produzidos pelo seu concurso,<br />

e distinguir do monte destes productos a parte<br />

que correspondía ;í acçao de cada um desses<br />

concorrentes. Sobre isso, para fazer a minha ap-<br />

plicaçâo mais exacta, dirigi-me pelo que emse-<br />

melliante caso inculca como mais seguro Mr. de<br />

IMoleon , um dos mais sabios coilaboradores do<br />

Recueil industriel, m anufacturier et agricole de<br />

F rance, no Caderno 20, em que diz = j7 nous<br />

suffira de citer des chiffres qui attachent les re'suU<br />

tats : c'est le langage teplus e'loquent et le plus ir-<br />

resistible íÍ employer^ rara fallar com a mesma<br />

c'ioquoncia empreguei do mesmo modo os alga-<br />

lismos dos meus dados por argumentos, e com<br />

a mesma irresistibilidade rnostrei , pelos meus<br />

adiados, como sendo os varios fundos e agencias,<br />

que coricorrem para a producçSo da dita<br />

agricultura, de varios denos , destes varios do-<br />

nos dcvem ser osseus productos, conforme seja<br />

o seu concurso a produzi-los.<br />

Pelas applioaçdes que fiz dos meus cálculos,<br />

a todos os casos, provei que qualquer imposicSo<br />

sobre os productos brutos damesma agricultura


\(ì<br />

c ordinariamente injusta pela sua natureza, s


çoes, no em que se coadunavâo com os meus<br />

principios; e no em que discrepavâo , reduzi as<br />

minhas observaçôes aos devidos Jimittîs da mais<br />

respeitosa controversia.<br />

Tendo assim declarado a materia doprimei*<br />

ro Tomo da minha Obra, mais interessante por*<br />

mais abundante de principios politicos , resta<br />

agora declarar a materia do segundo, mais curiosa<br />

por abundar mais de factos historíeos.<br />

NSo sepóife duvidar que os factos mais con-<br />

vencem do que os ditos, eque quanto mais pi-<br />

cào a curiosidade , e arrebatSo a admiraçSo,<br />

quanto mais cativiïo a attençSo, e excitao a einu-<br />

iacü) Nesla certeza, julguei que o melhor modo<br />

d'abonar os meus principios neste Paiz era<br />

relatar os successos da sua apj^icaçao em ou-<br />

Iros , e para juntar a -esla melhor abonaçào esse<br />

maiar interesse , deliberei-me a comecar a<br />

materia do meu segundo Tomo por um breve<br />

esboço hislorico do jà preconisado reinado de<br />

Henrique IV de -Franca, e do famoso Ministerio<br />

do seu famoso Superintendente das finanças<br />

Sulli, em circumstancias muilo analogas ás eiu<br />

que se acha hoje Portugal , í»ívo só para confirmar<br />

o que diiise refrh do grande caracter do<br />

primeiro, pelo que ahi disser da sua grande ma-<br />

gnanimidade, nfio só para ofi'erecer no segundo<br />

o mais perfeito modelo da mais perfeita admi-<br />

nistraçao, masprincipalments para mostrar, pelos<br />

miiagres que obrou com a boa ordem , e boa<br />

economia do seu -regimen , quSo poderosa é a<br />

virtude .deste regimen, tambem mui recommen-<br />

dado ^-elro.<br />

Tornando depois aomeu primeiro assumpto,<br />

o da agricultura , analisei a fecundidade natural<br />

dos seus diversos ramos , o por esta analise<br />

Tom. 1. o


fiz ver a que poderiao chegar os seus producios<br />

promovidos neste Reino por todos os recursos<br />

que as suas vantagens territoriaes oflereccm á<br />

sua progressiva industria. Para sobre isso prevenir<br />

o aigumento , que se poderia tirar da li-<br />

mitaçiïo do nosso eonünerkle contra a exlensao<br />

deslas vantagens , anticipei a minha resjiosta<br />

.'iquelia olijeccao , mostrando primeiro como , ñas<br />

suas proporçüGS, os Paizes mais limitados as (i*<br />

iihao aicancado em maior grao; e depois, para<br />

(iislo mesmo dar um exemplo mais assignalado ,<br />

tracei outro esboco das níois raras maravilhas<br />

que no Egypto obrára a mesu>a agricultura nos<br />

tempos dos seu& mais briliiautes fastos , e de<br />

que resLáo ainda irrefragaveis (esLemunhas ; cu*<br />

jo quadro tanto mais completa a prova da uíi-<br />

Bha these, quanto mais esUi})eudas sao as sce-<br />

was que nelle se representno, e mais estreito o<br />

iheatro da sua representa


quista , e a tiverao pela sua melhor Provincia<br />

no auge da sua maior grandeza; e prosegnindo<br />

pelas hordas do Norte e do Sul que, depois de<br />

lao oppriinidas pela força dos niesmos Romanos,<br />

se aproveitárao da ^ua fraqueza para dissolverò<br />

seu Imperio, e repartir as suas Provincias<br />

, íiz ver como todos esses Povos , e mais<br />

adventicios que, de varios nomes, e varias ter^<br />

ras os acompanhárao, ou seguírSo , tiverao ñas<br />

desta Peninsula a forluna mais prospera do que<br />

ñas de que vinháo , e pelas multas vantagens<br />

que nellas colhêriïo, as muitas que nellas sepo-<br />

dem oolher. Os que porém mais se distinguirao<br />

de-todos , os que mais tigurao no meu painel,<br />

por terem mais figurado reste theatro peninsular;<br />

os que nelle iançarao abarra mais longe em<br />

agricultura , induslria , e civilisaçao , forno aquelies<br />

frícanos de varias tribus, e varios appelli-<br />

dos, queasnossas rancosas Chronicas todos confundem<br />

indistÍDctamenie pelo nome de Mauros ,<br />

e taxáo igualmente do epilheto de Barbaros ,<br />

mas barbHTOs que, por expurgadas fontes, mostre!<br />

tereui patenteado omaiorgráo de policía , te.<br />

rem subido ao maior auge de poder e riquezas ,<br />

terem-se elevado ao maior fastidio de gloria e<br />

illustracíío , ao ponto de fazerem de Cordova,<br />

maior Reino que fundárao , o mais invejado,<br />

pelo mais florecente da ICuropa ; e do de Granada<br />

, o menor que consolid.'irao , o mais estavel<br />

pelo mais forte ñas suas proporroes ; ao ponto<br />

até de lornarem as partes desta Pertinsuia, que<br />

por mais tempo dorain;írao , a vergonha pelo<br />

contraste dos que nao tivtrao , ou náo conser-<br />

várao no seu dominio , e onde tanto puflerao<br />

governos barbaros , e alé despóticos nos secólos<br />

da ignorancia, que nfío hiïo de poder gover-<br />

D 2


nos civiíisados , esobre tudo constiLucionaes,<br />

no Seculo das luaes!<br />

Fiüaimente, para melhor inculcar o muito<br />

que se deve esperar do successo dos PorLugue-<br />

zes em ludo o que empretiderem, com osmeios<br />

necessarios para consegui-io, mencionei o mullo<br />

que já conseguirao em tudo o que empren-<br />

deriío com estes meios adequados aos seus fins,<br />

e para confirma-lo igualmente por outros grandes<br />

exemplos alheios, citei outros grandes casos<br />

allieios de iijual degradaban, e regeneraciio nacional<br />

, apontaiido o que delles raais Ihes convem<br />

imitar, segundo as suas mai.s analogas circumstancias;<br />

no que tudo me refiro ao contexto<br />

da minha Obra para abbreviar a exposi^¿Ía<br />

do meu plano.<br />

CAPITULO I.<br />

E m que se f a z um a breve exposi^áo de como se<br />

abaleo , quehrou, despeda^ou a facticia armando<br />

da fortuna de Porlwjal , c dos<br />

únicos meios que ficáo de restaura-la.<br />

i ELA independencia do Brasil , consequenle<br />

da sua poluica separa^ao de Portugal, despegá-<br />

r3o-se as azas postilas que liulìiioelevado afortuna<br />

deste Reino, cotno o vvo íl’ícaro, muito aci-<br />

ma do seu natural ; e tendo , como este Areo-<br />

naula, cabido no mar, deve procurar a sua sal-<br />

vagito para a terra. Alas que salva^So ihe offe-<br />

rece a torra ?<br />

Já niio podem ToUar a Portugal os gloriosos


lempos do seu grande Navegador, oSenliorRei<br />

I). iV'lanoel: j:ar; e se (udo isso houvesse, sería ludo<br />

novamente caduco, por ser novaraente (delicio.<br />

Voltem pois os Portuguezes para os mais<br />

afortunados lempos do seu grande Lavrador, o<br />

Senhor Rei D. Diniz, que, se os seus campos,<br />

ora despovoados e inouilos , Ihes nao promet-<br />

lem, por lào ülustres feilos, iSo brilhantes suc-<br />

cessos, segurSo-lhea, por menos arriscaílas em-<br />

prezas, mais solidas vantagens; segurào-lhes o<br />

que mais ihes convem , e que mais carecem.<br />

Mas para consegui Io, épreciso quefaçiîo oque<br />

fizerSo OS Inglezes que,no que mais Ihes serve<br />

d’emulaçào, mais Ihes devem servir d’exemplo.<br />

E ’ estupenda a progressSo das suas riquezas,<br />

porque foi estupenda a progressivo da sua agricultura<br />

, cujo primeiro ramo, d proporçiïo que<br />

desenvojveo as suas forças, as foi communican-<br />

do a todos os mais da sua industria e commercio<br />

, e levou todos , uns apôz outros, ao mesmo<br />

grao de altura, prosperidade e extensiïo. Ke~<br />

serva-ndo fallar adiante dos seus principius mop<br />

tores, fallarei agora do seu movimento estatis-<br />

tico.<br />

o Author de Vinleret des nalions de l 'Euro»<br />

p e , referindo se a ÍM. Dcivenant , E*tadisla logiez<br />

, que tinha passado boa parte da sua vid»<br />

a fazer estes cálculos, diz, Tom. I. eCap. Vili,<br />

da sua Obra, que em 1698 o rendimento gérai<br />

da mesma NaçSo nf(o passava de 44 milhoos de<br />

libras esterlinas , nem o público do Rstado de<br />

3,355.162 ditas, e para isso mesmo todas as im-<br />

posiçôes erào bastante carregadas. Desde essa<br />

lejnpo até á paz d’ÜtrecbX, ainda que o seuGo-


verno aggravou algümas taxas nos generös do<br />

seu consumo, e alguns direitos nas l’aulas das<br />

suas Alfandegas, em pouco podia aviiltar a sua<br />

importancia, pelos estorvos que a seu commercio<br />

poz a guerra da successäo d’Hespanlia , a<br />

que a Inglaterra tomou uma parte muito activa,<br />

durante o reinado de Anna ; tanta assim (jue,<br />

para supprir a estas despezas extraordinarias,<br />

leve de recorrer a varios emprestinios ,• que segundo<br />

Carlos Ganilh , no seu Essai Politique<br />

sur le revenu public, Tom. I. pag. 393, levarlo<br />

a sua divida pública de 14.945 926 libras esterlinas,<br />

em queseachava, para 52.145.363 ditas,<br />

a que subira quando, em 1714 , a dinastia actualmente<br />

reinante foi elevado ao Throno, que<br />

tâo dignamer.te occupa ; subida apezar da quai<br />

a sua agricultura, aínda languida, posto que já<br />

acalentada, como direi adiante, principiou atomar<br />

a actividade cada vez mais rapida que vou<br />

a dizer.<br />

Segundo Ckalmers , Auctor acreditado de<br />

nma Obra d’Economia Politica , em que se funda<br />

lîaert, no seu Tableau de la grande Breiarpie, etc.<br />

Tom. III. pag. 242 , nâo se tendo passado<br />

Bill algum para tapadas de baldíos , durante o<br />

reinado de Guilherme III, e apenas um, debaixo<br />

do de Anna, passârâo-s« dezesete dÎtos debaixo<br />

do di* Jorge I , cento oitenta e dous ditos debaixo<br />

do de Jorge II, eseteeentos e dous ditos só nos<br />

primeiros quatorze annos do reinado de Jorge III,<br />

eao mesmo tempo quatrocentos cincoenta edous<br />

ditos para abrir novas , ou concertar velhas estradas,<br />

e dezenove ditos para iiovos canaes de<br />

navegaçiîo; por cujos meios, observa o mesmo<br />

Chai mers, se accrescentou ao Reino m ais terreno<br />

util dü que elle tinha adquirido peins differentes


querrás que sustentára desde a revolu^ ao. Porén) ,<br />

tU»hí em (liauLe, muilo maior havia deser esteac-<br />

crescentameiito, pelo muito inais que se muln[)Íi-<br />

cárSo aqutlles liüls ; pois que, segundo tlisse<br />

em 179tí Lord Mawkesburg na Camara dos Pares,<br />

só no anno de J 782 se linhao passado no-<br />

vecenlos e dous ditos para as ditas tapadas ,<br />

evinte e nove ditos para a abertura dos ditos capaes<br />

navegaveis ; em 1795 duzentos e dezesete<br />

ditos dos primeiros, e quarenta e sete ditos dos<br />

segundos; e quanto senao passariao antes e depois,<br />

mencionados nos Relatorios dos seus Ministros,<br />

ei^pregoados ñas Fallas dos seus Oradores.''<br />

Dessas progressivas afervora9oes agrícolas<br />

se colligem os rápidos progressos, que fizerao os<br />

seus empresarios ruraes no cobrir dos mais vinosos<br />

mantos da vegetai/ilo as mais agrestes no*<br />

doas do seu solo; no tornar seus mais áridos er*<br />

mos nos seus mais fertis campos ; no transformar<br />

successivamente os mais tristes espectáculos<br />

ñas mais risonhas scenas da agricultura , e<br />

com isso mudar a face sombria, o semblante<br />

desabrido que tinha geralmente seu Reino na-<br />

quelle aspecto aprazivei, nobre, rico, feliz, que<br />

geralmenle tomou, eque mais se observa, mais<br />

se admira.<br />

Dir se-ha que, por certo, nSo foi pelas únicas<br />

vantagens de taes empresarios que Inglaterra<br />

tumou tal aspecto ; mas direi eu, como , por<br />

certo, forSo estas vantagens , que promovérao<br />

iia sua agricultura , as que mais promovérSo as<br />

da sua industria ; umas e outras afj que mais<br />

promovór3o asdo seu commercio, todas as da<br />

sua prosperidade geral, por certo tambem forao<br />

08 que mais contribuirlo para o seu edifìcio os<br />


cerses, e os que mais consoüdárito a sua dura*<br />

çSo , pelos terem fundado dentro dos limites do<br />

seu l’aiz.<br />

He verdade que todos os Membres de um<br />

Corpo social podem contribuir para o bem da<br />

sua associaçiïo, segundo a energia das suas forças<br />

; mas nSo é verdade que todos Ihe contri-<br />

buâo na mesma proporçSo pelo diverso exerci-<br />

cio das suas faculdades. Os Proprietarios dos fu n ­<br />

dos lerritoriaes (landedmen) sâo os verdodeiros douas<br />

da nassa náo politica , disse Boiinbroke nas<br />

suas rejlexôes sobre o estado'da Naçâo Jncjlcza,<br />

e os Proprietarios dos fuììdos pecuniarios (uìone-<br />

yed rnen) sao como meros passarjeiros a seu bordo<br />

: cujo pensamento desenvolvendo Ganilh ,<br />

Tem. II , liv. III , do seu jd citado Essai,<br />

observa que os primeiros adherem essenoial-<br />

mente ao solo donde tirao a sua subsistencia, e<br />

participando inevitavelmente da siia boa ou i«ú<br />

fortuna, identificSo se intimamente com seu interesse,<br />

porque identiíicSo a sua sorte-com a da<br />

sua Patria : que os segundos, podendo levar tu-<br />

do comsigo, capital, ou industria, nao podem<br />

ter o mesmo affecto patriótico, porque nSo tem<br />

o mesmo apégo individual , nem outro espirito<br />

que o de cosmopolitas, que Ibes faz escolher para<br />

sua habitaçjïo o Paiz que mais conta Ihes faz<br />

pela sua conveniencia ; do que infere concluden*<br />

temente o mesmo Economista Politico que, ainda<br />

que em um Corpo social bem organisatio níio<br />

se deve tirar a uns para se dar a oulfos seus<br />

Membros, na concorrencia de uns com outros,<br />

merecen) a preferencia os primeiros , pela sua<br />

mais eíFicaz contribuic3o ao bem commum d«<br />

todos; em abono do que, cita tambem o exemplo<br />

d’Inglaterra, cujo-systema de nun-ca aggra-


vaT a sua agricultura de quaesquer novas impo*<br />

siçOes, que as urgencias do Estado possâo exigir<br />

dos seus mais ramos productivos , tem siHo<br />

ahi coroado do mais feliz successo. Reservando<br />

explanar adiante a fórma porque se estabeleceo,<br />

só direi aqui as bases em que se assenloii.<br />

O valor de qualquer fundo regula se pelo interesse<br />

que resulta do seu eniprego , livre das<br />

despezas do seu producto; proposi(;áo esta tSo<br />

evidente, que seria ocioso qualquer argumento<br />

para prova-la , assim como é desnecessario di-<br />

zer-se que, na sua applicaç


prîar as suas partes ás minhas analyses , subdividi<br />

0 primeiro fundo emdous, a saber, um simples,<br />

consistindo meramente no châo, nii e crii<br />

dequaesquer bemfeitorias preparativas para sua<br />

cuUura, a que couservei o nome de territorial ;<br />

e outro composto, consistindo nestas bemfeko-<br />

rias preparativas, que sâo, ou podem ser muitas,<br />

e de varias especies , a que darei o nome<br />

de prediaes.<br />

Todos esses fundos , ou avanços podem ser<br />

proprios de um , ou de muitos proprietarios ;<br />

mas sejao de quem forem , devem conferir a seus<br />

donos um interesse liquido proporcional ao valor<br />

do seu concurso para o morite do seu producto,<br />

segundo os principios reirò estabelecidos. Dis-<br />

tingSo-se pois estes interesses produzidos , e se<br />

distinguirá o valor desses fundos productivos.<br />

O primeiro fundo, que consiste meramente<br />

no châo nii e crii, considerado abstractamente,<br />

ou na sua separaçSo dos mais avanços preparativos,<br />

e promotores da sua fructificaçao, nenhum<br />

valor positivo tem só por si, porque nada pro-<br />

duz sem o auxilio desses avanços; mas tem um<br />

valor virtual, proporcionado ao que póde por elles<br />

produzir , fóra dos juros que pertencem a<br />

quem pertençSo os mesmos avanços , de modo<br />

com tudo que se entendáo sempre limitados<br />

aqu^ile valor, e seu producto , como o é o capital<br />

do seu fundo, eillimitados estes juros, como<br />

o seja o emprego destes avanços, ou a industria<br />

do seu aproveitamento; oque tudo deve<br />

ser examinado, balanceado, eponderado com a<br />

mais seria attençao, por ser o que constitue o<br />

mais sagrado direito de propriedade rural , e a<br />

melhor base do melhor systeina d’imposiçâo fis*<br />

cal.


Remontando á origem das cousas distinctas<br />

por esses principios , supponha-se que o proprietario<br />

do primeiro fundo simplesraente ter*<br />

ritorial, nSo querendo , ou náo podendo redu-<br />

zi-Io á cultura pelos mais avanços prediaes, primitivos<br />

e annuaes , o ceda a um terceiro, q ie<br />

queíra, e possa fazer as suas vezes , por qualquer<br />

contrato de retribuiçSo. Se esta retribui-<br />

çâo ficar dentro dos limites do valor virtual aci-<br />

ma determinado, o direito do cedente exigi-ia,<br />

e a obrigaçSo do cessionario pagar«iha , sáo justos<br />

e inviolaveis de parte a parte, seja qual for<br />

a natureza do seu contrato; e igualmente o se-<br />

rifío era outro qualquer trespasse d’avanços pre-<br />

diaes , juntos áquelle fundo territorial , dentro<br />

dos niesmos limites de prestaçôes certas , proporcionadas<br />

a capitaes fixos: e como o que fosse<br />

agora justo, e inviolavel o foi sempre , e ha<br />

de se-io em todos os tempos, os mesmos direitos<br />

e obrigaçoes dos seus representados tem os<br />

representantes desses contratos. Logo pois, para<br />

assignar exactamente os verdadeiros direitos<br />

e obrigaçoes detaes contrahentes nos productos<br />

da agricultura, era preciso determinar primeiro<br />

estes mesmos productos. E ’ o que vou a fazer,<br />

aproveitando-me para isso dos trabalhos já fei-<br />

los pelo Conde r'haptal, na sua excellente Obra<br />

intitulada = Ue CIndustrie Française , cujo compasso<br />

de proporçâo deve reputar-se tanto mais<br />

apurado nas suas divisoes, quanto mais rectificado<br />

nos seus cálculos; e tanto mais applicavel<br />

;í Eíítatistica de Portugal, quanto mais sÂlo ana-<br />

logas as suas respectivas virtualidades ruraes.


CAPITULO II.<br />

Sobre a extensao territorial y eaproducçâo agricola<br />

do Solo Continental da Fronça^ e a avalm-<br />

çâo do seu producto bruto, t liquido, pela<br />

Conde ChaptaL<br />

PBiNciPiANDO o dito Conde. por estimar a su-<br />

pertìcie da França de uns 52.000.000 hectaros<br />

(l) a divide em 85 Departamentos , 368 Circu»<br />

\os ( arrondissements) 3.659 Caiitôes, 36.990 Com-<br />

munidades (com m unautés) e 3 milhòes de casas,<br />

ou habitaçôes rusticas, alem das urbanas, que<br />

leva a 2.431 000 ; dos moinhos , que leva a<br />

76.000 ; das officinas e manufacturas , que leva<br />

a 35.000 ; das forjas, fornalhas, e dos foraos de<br />

cal e estuque , que leva a 16.0 0 0, sendo a sua<br />

populaçSo (2) segundo os últimos censos, a que<br />

se refere, de 29.927.388 almas.<br />

Calculando 6.555000 hectaros dessa superficie<br />

occupados por caminbos, estradas, ruas,praças,<br />

passeioB, ribeiros , rio», montes, rochedos este-<br />

ris, ele., julga ametade do resto de, 45.445.000<br />

ditos, empregado em térras lavradias; a citava<br />

parte em matas; uma decima quinta parte em<br />

pastos; outro tanto em prados; a vigésima segunda<br />

(1 ) C ada liectaro lero cousa de 30 geiras Poituguezas.<br />

(2 ) P o p u la ^ á o relativa ao anno d e 1 8 1 8 , em que este A u -<br />

ctoT escrevia a O b ra de que se faz este extracto, m as que já che*<br />

g a a uns m ilhdes e m eló , a té o m eado do presente anoo<br />

d e I8SS .


parte em vinhas, e uma decima terça parte era<br />

terras vagasele , e com mais explicita subdivisSo<br />

dos seus lotes, déclara, a saber:<br />

Em terras araveis.................. 22.818.000 hectaros<br />

Em matas de c ó rte .............. 6.6 12.000 ditos<br />

Eü) ditas de alto cresciraento 460.000 ditos<br />

Em pastos . . « ..................... 3.525.000 ditos<br />

Em prados................................ 3 488.000 ditos<br />

Em vinhas............................... 1.977 000 ditos<br />

Em castanbaes......................... 406 000 ditoa<br />

Em pomares . . . .................. 339.000 ditos<br />

Em hortas . . . . , ............... 328.000 ditos<br />

Em ta n q u es............................ 213 000 ditos<br />

Em paúes ............................... 186.000 ditos<br />

Em plantaçôeâ de luparos e<br />

sementeiras de linhos . . . 60.000 ditos<br />

Em saissaes e salgueiraes. . 53.000 ditos<br />

Em olivaes................................ 43.000 ditos<br />

Em pedreiras e minas . . . . 28.000 ditos<br />

Em jardins, bosques, e parques<br />

de recreio..................... 16.000 ditos<br />

Em viveiros de plantas . . . 23.000 ditos<br />

Em mina de turba .............. 7.000 ditos<br />

Em canaes de navegaçâo e<br />

rega.......................................... 9.000 ditos<br />

Ëm particulares culturas . . . 780.000 ditos<br />

Ëm terras vagas, charnecas<br />

e matagaes............................ 2.841.000 dites<br />

Ero propriedades edificadas,<br />

e impostas............................ 213.000 ditos<br />

Os mesmos 45.445.000 ditos<br />

Antes de entrar ero materia observa ÍVlr.<br />

Chaptal que tendo , em 1815 , o Ministro da


Fazenda mandado aos Departamentos Commis-<br />

garios especiaes , encarregados de indagar , e<br />

averiguar o rendimento imponivcl da França,<br />

o achKriïo, sobre as bases em que se fundârSo ,<br />

e inciuindo o das ditas casas, de i.626.000.000<br />

francos, mas que procedendo se ao eeu apuramen-<br />

to pelo producto medio do arpente (cousa de melo<br />

hectaro) se reduziria a 1 486.244.653 dilos, e des-<br />

ceria mesmo a 1.323 138.877 ditos , proporcionando<br />

se o dos Canidés, já cadastrados. ao dos<br />

que o nao tinhao ainda sido. Deixando porém estas<br />

estimativas , cujo meio termo é 1.478.461.176,<br />

passarei ao calculo que delle fez o mesmo Mr.<br />

Chaptal, citando osseus artigos, e aa avaliaçôee<br />

do seu novo meio termo imponivel.<br />

Avanças lerritoriaes e prediaes.<br />

Começando pela avaliaçâo do Solo Francez,<br />

que diz formar o primeiro capitai da sua<br />

agricultura, mas cujo preço varia ao infinito segundo<br />

a sua qualidade . situaqSo, pt5e e»n pri-<br />

raeiro lugar as terras lavradlas, cujo rendimento,<br />

variavel de uma até 10 partes., estima no<br />

meio termo de 30 fr. por hectaro, a que corresponde<br />

o principal de 600 ditos, que multiplicados<br />

por 22.818.000 , que disse ter a França desta<br />

especie, deitâo a ..............13.690.800.000 fr.<br />

Estima as diversas matas que<br />

especificou no rendimento<br />

medio de 20 fr. por cada hectaro,<br />

cujo principal de 400 ,<br />

multiplicado peloseu numero<br />

de 7.072.000 , deila a . . 3.828 800.000 d.*<br />

Estima o mesmo rendimento<br />

de cada hectaro de vinha em


100 fr. correspondentes a<br />

2.000 (le principal, que mul-<br />

tiplicdoB pelo seu numero<br />

de 1.977.000 ditos deitao a 3.954.000.000 fr.<br />

Comprehende debaixo do mesmo<br />

nome de terras de for-<br />

ragens os prados, cuja her-<br />

va geralmente se sega , e<br />

guarda para se comer em<br />

secco ; e os pastos, cuja her-<br />

va se come nelles em verde ;<br />

porém estima cada hectaro<br />

dos primeiros no muito<br />

maior rendimento de 100 fr.<br />

que correspondem a 2.000<br />

ditos de principal , e multiplicados<br />

pelo seu numero de<br />

3.488.000, deitSo a . . . . 6.976.000.000 d.'<br />

Estima cada hectaro de pasto<br />

no rendimento de 10 fr. que<br />

correspondem a 200 do principal,<br />

e multiplicados pelo<br />

seu numero de 3.525.000,<br />

deitSo a .................................... 705.000.000 d.'<br />

Passando desses fundos , que<br />

chama os principaes , aos<br />

secundarios da agricultura<br />

Franceza, estima, asaber.<br />

Os 406.000 hectaros de casta-<br />

nhaes em 20 fr. de rendimento<br />

, que correspondem<br />

a 400 ditos de principal por<br />

cada um, e pelo seu nume*<br />

ro a ............................................ 162.400.000 d.'<br />

Os 359.000 ditos de pomares<br />

em40fr. tambem de rendi­


mento, que correspondem a<br />

800 ditos de principal por<br />

cada um , e pelo seu nu*<br />

mero, a ..................................... 287.200.000 fr.<br />

Os 328.000 ditos de borl as em<br />

100 fr. tambem de rendimento,<br />

que corespondem a 2.400<br />

ditos de principal por cada<br />

um, e por todos a .............. 787.200.000 â*<br />

Dos 7.470.000 hectaros, que<br />

considera occupados com<br />

omnímodas culturas parti-<br />

cuiares , ou com casas, pe-<br />

dreiras, minas de turba, e<br />

outras, baldíos, etc. sepa^<br />

ra 3.440.000 dites de omnígenos<br />

productos , que nSo<br />

podem ser avahados por um<br />

rendimento commum , ou ^<br />

nâo pertencem á agricultura,<br />

e ficáo 4.036.000. Es»<br />

tes mesmos os reparte em<br />

duas classes, á primeira das<br />

quaes.em numerodel26.000<br />

hectaros , occupados com vi-<br />

veiros , luparos , olivetos,<br />

e outras mais valiosas pian-<br />

taçôes , dii o maior rendimento<br />

de 50 fr., que correspondem<br />

a 1.000 ditos de<br />

principal por cada um , e<br />

por todos a ............................. 126.000,006 d.*<br />

Da outra classe de 3.910 000<br />

hectaros, que constâo de sa-<br />

issaes.salgueiraes, bosques,<br />

parques, ele., attendendo


aos muitos baldíos , charnecas<br />

, e terras vagas que<br />

comprehendem , reduz o seu<br />

communi rendimento a 5 fr.<br />

que correspondem a 100 ditos<br />

do principal por cada<br />

um , e por todos a . . . . 391.000.000 fr.<br />

Oreando em 399.000 hectaros<br />

a superficie dos seus palies<br />

e tanques, diz que o seu valor<br />

varía ao infinito , mas<br />

que exceptos os do interior,<br />

geralmente piscosos,<br />

os mais pouco retidem ; pelo<br />

que rcduz o seu coni-<br />

nium rendimento a 4 fr. que<br />

correspondem a 80 ditos de<br />

principal por cada um , e<br />

por todos a ............................ 3i,920>000 d.“<br />

Prescindindo dos mais hecla-<br />

ros occupados com pedreiras,<br />

minas, etc., cujo producto<br />

perlence ao diverso<br />

ramo da classe industria),<br />

passa aos edificios ruraes, ( l )<br />

que leva ao numero de<br />

3.000.000 necessarios para<br />

habitaíjao dos homens e dos<br />

animaos, e a arrecada^So<br />

dos seus fructos , cujo va-<br />

(1 ) A f l v e r t e aqui q u e , ain d a q u e , na avalia^ao ordinaria dos<br />

predios rústicos se costum a som ente attender a o q u e nelles dá u m<br />

efTectiv.o.jendim ^Uto, e desattender os sews edificios, e a sua m ob<br />

ilia . nao ju lg o u dever om iltir estes.objectos , porque sao indis»<br />

pensaveis á s u a adm iiiistra^áo , e por .tanto devem e n tra r em li*<br />

n h a de conta.<br />

Tbm. i. F


lor,que estima emi.ooo fr.<br />

por cada granja de 15 hecla-<br />

ros , a que os appropria,<br />

deità por todos a ................. 3.000.000.000 fr.<br />

E de ludo resulta , por capital<br />

imiiiovel das propriedadt*s —------— —<br />

de que trata, a somma de 32.940.320.000 d.*<br />

En»l»merando Mr. Chapta! no seu computo<br />

todo o valor territorial da agricultura Franceza,<br />

comprehende na denominaçâo de cupital immo-<br />

vel todo oque distingui pelo de fundos territo-<br />

riaes e d’avanços prediaes ; mas esta distincçSo<br />

que nos fez nos seus cálculos tendentes aoulros<br />

fins , a renovo aquí para o diverso objeoto dos<br />

meus, bem que salte aos oilios dos mesmos artigos<br />

da sua avaliaçSo , pelos precos infinitamente<br />

variaveis, em que gradua os terrenos deque<br />

trata, segundo as suas facuidades. productivas,<br />

faculdades que n3o devem á sua natureza bruta<br />

, só por si de pouco ou nenhum valor, mas<br />

aos avanços preparativos da sua cultura , que<br />

podem levar este pouco ou nada ao infinito, segundo,<br />

pelo merecimento e circumstancias da.<br />

sua applicaçâo, promovâo o augmento, ou va*<br />

lor do seu producto.<br />

Assim mesmo esses dous capitaes unidos fí*<br />

carino improductivos, e por tanto sera valor al-<br />

gum , se se Ihes nao juntassem outros que des-<br />

sem a vida a todos , os quaes outros elle tambera<br />

distingue no seu mappa, nao pela denomina-<br />

çSo de primitivos e annuaes, que adoptei de ou-<br />

tros Auctores, mas pela separaçao das suas especies<br />

, que passo a declarar , fazendo da prí-<br />

meira a dos primitivos.


Avanços primitivos,<br />

Entráo nesta conta os que Mr. Chaptal chama<br />

mobilia de toda a sorte, propria e necessaria<br />

ao trafego rural, e consiste nos diversos ap-<br />

parelhos da lavoura, maquinas decarreto, etc.,<br />

cujo valor, por cada uma das h»bitaçoes rusticas<br />

a que os refere , diz que nâo póde estimar<br />

em menos de I ooo fr., e por todos no presupposto<br />

numero de 3.000.0000<br />

ditos em ................................... 3.000.000.000 fr.<br />

Enlrao tambem na mesma<br />

conta os gados dasuaiavra,<br />

6 aiaís animaes de toda a<br />

especie necessarios aos seus<br />

trabalbos , ou proprios da<br />

criaçâo dos seus campos,<br />

cujo numero e valor estima<br />

como se segue.<br />

Em 1.701.740 os sens bois,<br />

que avalla a 260 fr. cada<br />

um, e todos a ..................... 340.348.000 d.’<br />

Em 214.131 OS seus touros,<br />

que avalla a 100 fr. cada<br />

um , e todos a ..................... 2 1 413.000 d.*<br />

Em 3.909.959 as suas vacas,<br />

que avalla a 70 fr. cada<br />

uma, e todas a ..................... 273.697.130 d."<br />

Em 856.122 as suas novilhas<br />

de 1 para 3 annos, que avalla<br />

a 50 fr. cada uma, e todas<br />

a ...................................... 42.806.100 d."<br />

Em 291.021 OS seus bezerros<br />

da mesma idade, que avalla<br />

a 60fr. cada um, e todos a 17.461.260 d.*<br />

F 2


Em 1.406.671 OS seus cavai-<br />

ios, eguas, ou muías, que<br />

avelia a 250 fr. cada um ,<br />

e todos a ............................... 35I.6G7.750 fr.<br />

Em 465.946 os sens potros<br />

abaixo de 4 annos, que avalla<br />

a JOO fr. cada um , e<br />

todos a ........................................ 46.594.600 d;'<br />

Em 7-66.310 os seus Mérinos<br />

puros, que avalia a 30 fr.<br />

cadaum, e (odos a . , . , 22.909 300 d.’<br />

Em 3.578.748 os mestizos ,<br />

que avalia a 12 fr. cada um ,<br />

e todos a .................................. 42.944.976 d .‘’<br />

Em 30.843.850 OS seus car-<br />

neiros indigenos, que avalla<br />

a 5 fr. cada um , e todos<br />

a ........................................... I54;2 19.260 d,’<br />

Em 51.600.000 ascabeçasdas<br />

suas aves de penna de toda<br />

especie, que avalia a 1 fr.<br />

cada uma, e todas a . . . 6 1 .600.000 d.*^<br />

Em 3.900.000 osseus porcos,<br />

que avalia a 40 fr. cada<br />

um , e todos a ....................... lôS.OOO.OOO d.*<br />

Em 2.400.000 osseus burros,<br />

que avalia a 25 fr. cada um ,<br />

e todos a ...................................... 60.000.000 d.“<br />

Deque tudo résulta por capital<br />

movel dos avanços p r i- ---------------- -—<br />

mitivos a somma de . . . . 4 581.741.476 d.<br />

Antepôem o Conde Chaptal o calculo do producto<br />

bruto da agricultura Franceza ao dos<br />

seus terceiros avanços, que sSo os annuaes, ou<br />

despezas dos seus costeamentos ; e depois de<br />

achar o valor destes, o tira daquelle ¿ para achar


O seu liquido; mas para seguir a ordem de materias<br />

que eslabeleci, posporci o calculo do primeiro<br />

ao do terceiro valor , e farei depois a<br />

mesma deducçao, que dará o mesmo resultado.<br />

/Ruancos annuacs.<br />

Avallando assementes, desde a quinta até a<br />

decima parte da totalidade de cada especie de<br />

colheita, a que proporciona cada especie dese-<br />

menteira pelos preços abaixo designados, poe a<br />

sua monta no valor d e . . . . 381.252.536 fr.<br />

Tendo supposto amilhôes de<br />

habilaçôes ruraes , a que at-<br />

tribuio toda a agencia nos<br />

campos, e cuja populaçâo<br />

estima de i2 milhoes de<br />

proprietarios d’ambos os<br />

sexes, e de todas asidades^<br />

julga necessario um assa-<br />

jariado ao anno por cada 2<br />

dos mesmos casaes para<br />

coadjuvar os seus trabalbos<br />

ordinarios; e avallando o seu<br />

salario em J20 fr. que, por<br />

meio termo, arbitra a cada<br />

um d’ambos os sexos, e desde<br />

a idade de 10 alé 15 annos,<br />

em que diz costumáo<br />

fazer áquelle serviço, leva<br />

o seu importe, por 1.500.000<br />

individuos, a .................., . 180.000.000 d.*<br />

Além deste serviço ordinario,.<br />

ha pelo menos tres principaes<br />

ao anno , que exigem<br />

temporariamente o auxilio<br />

dos braços de fóra , quaes<br />

08 da celia, e debuiha dos


cereaes , o da sega do feno,<br />

fenage , e o da vindima, cuja<br />

despeza extraordinaria<br />

or^a muito maior em uns<br />

productos do que em outros,<br />

segundo a sua especie, mas<br />

que, em attengSo ao concurso<br />

dos bracos de casa<br />

para os mesmos trabaihos,<br />

reduz, a saber,<br />

Para os cereaes a ..................... 160.777.654 fr.<br />

Para os fenos a ........................ 56.733.830 d.*<br />

Para a vindima, cuja despeza<br />

poe na quinta parte do valor<br />

do seu producto , a . . . . 179.735.418 d."<br />

Estima em um vigésimo (5<br />

por loo) do seu primeiro valor<br />

, -íis despezas necessarias<br />

para os reparos dos edificios<br />

ruraes , e a manuten-<br />


familias que, pelo assigna-<br />

do numero de 3.000.000 dos<br />

ditos casaos, gaslÄo . . . . 1.125.000.000 fr.<br />

No que nada se comjîrehende<br />

da despeza dos auxiliares<br />

temporarios dos seus trabalhos,<br />

por 1er já sido posta<br />

em conta separada.<br />

Orça a luorlandade annua! das<br />

cavalgadnras, empregadas<br />

na agricultura , em 110.000<br />

a c lia , « a cb a rao os m ais Estadistas na Gxaçao defse a rb itrio , pela<br />

infinita v a rie Ja d e d ’especies, qiiatidades, evalores das substancias<br />

a n im a es, e v eg e ta e s que Ihes servein d ’a lin ifn to , e cuja quanti-<br />

d ade deve a u g m entar ou dim in u ir segundo as proporçôes físicas<br />

de cad a individuo, eosprii)cii)iu8 nutricios d o seu m esm o alim en ­<br />

to (a que ch am a idèa m ài) ju lg a com tudo que seu term o mais<br />

íx ac to ' é o que m ais ju sta e g eralm ente corresponde aopreço me»<br />

ú io , que é de 1 fr. 25 e o n t., e q u e , porSO O dias de trab alh o que<br />

conta ao a n n o , d á a m esm a conta de 875 fr.<br />

P a ra prevenir as objecçôes de quein repute dim inuto aquelle<br />

term o para as fam ilias do cam po , pede-lhes que a tte n d io prim<br />

e iro , que ñas m esm asC id ades seach ao fam ilias q u e p a g a o alu-<br />

gneres das caf=as <br />

talidade do seu sustento consiste em castanhas, sarraceno , cen-<br />

telo , m ilh o , b a ta ta s, lég u m es, leiles, hortali


cabeças, cujo valor, pelos<br />

preços (las avaliaçôes que<br />

dellas fez, deità a .............. 27.5000.000 fr.<br />

Orça o desperecimento graduai<br />

das mais, erapregadas<br />

no mesmo serviço , em 12<br />

por 100 do valor da sua<br />

compra, que pela monta do<br />

seu numero, deitao a. . . , 29.305.646 d /<br />

Orça a mortandade annual do<br />

gado lanigero pelo menos<br />

em 5 por 100, e a do gado<br />

vacum em 2 por 100 do seu<br />

custo ; oque (alem dos estragos<br />

extraordinarios que<br />

causeo ás vezes flagellos epidémicos<br />

, vem a deitar, pelo<br />

dito gado lanigero a . , . . 1 1.007.676 d."<br />

E pelo dito vacum, a . . . . J3.917.507 d.<br />

Orça a mortandade dos por-<br />

cos , burros, e aves de penna<br />

na perda annual de . . ,6.000 ooo d."<br />

Para avallar a avea e as for-<br />

ragens que consomem os<br />

animaes empregadosnaagri-<br />

cultura , tira do producto<br />

total destas especies , cuja<br />

conta se verá em baixo, o<br />

que corresponde ao consu-<br />

nio de 250.000 bestas, que<br />

julga empregadas em outros<br />

serviços com sua raçiïo<br />

diaria de 1. fr. 25 cent., e<br />

acha de resto, para os pri-<br />

m«iros animaes, o valor de 8'62.780 248 d.<br />

Cujas addiçôes todas , que


propriamente se devem considerar<br />

, e eflectivamenle<br />

considera Mr. Chaptal corno<br />

avanços ou despezas an-<br />

ntiaes da agricultura Franceza,<br />

seelevao a ................. 3.334.005.515 fr.<br />

No que é bem obvio que nada valem para<br />

a mesma agricultura uns sem outros fundos,<br />

pois qua todos concorrem pelo seu modo a pro-<br />

duzir um effeito commum, de que cada um deve<br />

tirar a sua respectiva retribuiçiïo, para cujo<br />

arbitfamento segue o computo do seu producto.<br />

Producto medio dos mencionados heclaros dequal^<br />

quer cultura da F ra n ça , com os preços tarn-<br />

kem medios dos generös da sua qualquer<br />

producçâo.<br />

Compoe-se estes productos, diz Mr. Chaptaî,<br />

mio só dos da terra, mas dos que fornecem os<br />

animaes. Passando a exainina*los, observa que<br />

os da terra se clasaificao em duas especies principaes,<br />

uma das quaes serve para sustento dos<br />

homens e dos animaes, e a outra para as preci-<br />

8oes da industria, pertencendo á primeira classe<br />

os cereaes , as carnes , os legumes, as frutas<br />

, etc., e á segunda as pelles-, as madeiras,<br />

os linhos , a ruiva dos tintureiros , et€. ; com<br />

advertencia porém que a agricuiliira tem outra<br />

fonte de beneficios muito aftendiveis , qual a<br />

criaçfïo dos animaes a que dá o ser, de que ludo<br />

, sobre así^ignar a quantidade e qualidade,<br />

detf'rmina o valor pelos precos abaixo coordinados<br />

na resumida serie dos seus previos inventa-<br />

rjos, e.relativas avaliaçôes.<br />

Tom. T. o


Producios cereaes , ou homogéneos.<br />

61.500.200 hectolitros (i) ele<br />

trigo, a prego tie 18 fr. . 927.003.600 fr.<br />

30.290.161 ditos de centeio<br />

6 mistura, a pre^o de 12<br />

ditos ....................................... 303.481.932 d.’<br />

6.302.316. ditos de milho grosso<br />

a prego de 12 ditos . . 75.627.792 d.<br />

8.409.473 ditos de sarraceno,<br />

a prego de 12 ditos . . . . 50.456.838 d.<br />

12.576 603 ditos de sevada a<br />

prego de lo d ito s .............. 125.766.030 d.*<br />

7.798.616 ditos de legumes<br />

seccos , a prego d.e 18 ditos 32.375.088 d,<br />

19.800*74l ditos de batatas, a<br />

prego de 3 d ito s .................. 59.402.223 d.<br />

62 066.587 ditos de aveia(2) a<br />

prego de 9 ditos , .............. 288.599.283 d,"<br />

1.103.177 ditos de graos miudos,<br />

a prego de fi ditos . . 6.619.062 d.*<br />

Somma . 1.929.331.848 d.'<br />

Maiores productos animaes.<br />

375.000 bois gordos, que animalmente<br />

se vendem para<br />

os agouges, a prego de 350<br />

fr. por cada n m ..................... 131.250.ooo d.*<br />

(1 ) E sta m edida corresponde m uito appro xim adam ente a 7 é<br />

dos nossos alqtieires.<br />

(2 ) H e bem sabido q u e g era lm e n te em F ra n ç a o uso d a a v e ia<br />

suppre a c e ra d a paca as bestas cavallares.


482.000 vacas de igual consumo,<br />

a preço de iOO ditos ; 48.200.000 fr.<br />

2.082.000 vitellas de igual consumo,<br />

a preço de 15 ditos . 31.230.000 d.*<br />

5.575.000 carneiros que annualmente<br />

se exportiïo, ou<br />

seconsomem no interior, a<br />

preço de 7 d ito s................. 39.025,000 d.*<br />

3.525.000 porcos idem, apreso<br />

de 56 d ito s ...................... 197 400.000 d.*<br />

Somma . 446,105.000 d.*<br />

Menores productos homoaeneos.<br />

Tendo avaliado relrh o capital<br />

das aves de penna ein<br />

51.600.000 fr., calcula agora<br />

o seu producto annua! pelo<br />

seu renovo, e seu reno-<br />

vo por um quinto do seu numero,<br />

que sSo 8.320,000 caberas<br />

de gallos , egallinhas,<br />

que estima em 8.000.000<br />

fr. , e ajuntando-lhe mais<br />

1 0 .000.000 ditos pelo valor<br />

dos patos e gansos, com o<br />

dos perús, pombos, e ou-<br />

íras aves don)esticas de<br />

qualquer especie, leva tudo<br />

a 18.000.000 d."<br />

intima a postura annual dos<br />

ovos, a 30 cent, a du'zia,<br />

f*ni 39.000.000 fr., mas de-<br />

duzindo da sua quantia a necessaria<br />

para a reproduc*<br />

G 2


çao da sua especie , reduz a<br />

sua monla a 38.700 000 dilos<br />

j eaccrescentando-lhe o<br />

resullado desta reproduc-<br />

çSo em franges, que, a pre-<br />

Ç0 de 1. fr. 50 cent, o par,<br />

avalla em 8.000.000 fr. leva<br />

ludo a ............................ 46.700.000 fr.<br />

Estimando em 20 fr. o producto<br />

geral doleite decada<br />

vaca , por meio termo<br />

do seu maior, e menor valor<br />

e abundancia, leva essa<br />

addiçâü pelo numero de<br />

3.909.959 ditas, a ............... 78.199.180 d."<br />

Estima o producto medio do<br />

Jeite d’ovelha em 75 céntimo<br />

, que, pelo numero de<br />

9.500.000 ditas que sup-<br />

pdem nas que se ordenhào,<br />

fazeni 7.125.000 d.*<br />

Calculando em J2 milhdes as<br />

ovelbasparideiras, eemll<br />

milhdes de cordeiros oseu<br />

parto annual, reserva duas<br />

tercas partes delles para<br />

supprir os que se vendem<br />

ou morrem , e avallando em<br />

2 fr. cada um dos da outra<br />

terça parte, em numero de<br />

3,666.666 , leva esta addi-<br />

çao a ................. 7.333.333 d.<br />

Para determinar o beneficio<br />

dacrescença annual dos potros,<br />

bezerros, e novilhas<br />

fixa em 4 annos ft criaçSo


dos primeiros , e em 3 di'<br />

tos a das mais crias, e nesta^<br />

proporçâo estima o quarto<br />

crescido dús ditos potros em 17.372^.900 fr»<br />

O terço crescido dos bezerros<br />

e m ............................................ 12.500.000 d.*<br />

E o mesmo terço das novilhas<br />

em . . . . ................................ 9.690.000 d.’<br />

O cordeiro, diz elle, dá IS des-<br />

de o primeiro anno, e esta<br />

lájá no quarto indemnisa o<br />

proprietario da despeza do<br />

seu sustento : as femeas já no<br />

terceiro anno parem eaug><br />

nientáo o seu valor con) o<br />

da sua cria, e seu leite; o<br />

que, porum renovo annual<br />

de 3 mtlhdes d’ovelhas pari-<br />

deiras , faz um accrescimo<br />

de . . . - .............................. «.250.000 d /<br />

Tendo calculado em 399.000<br />

hectaros a superficie do»<br />

tanques e paúes , observa<br />

que esta sorte de propriedade<br />

serve para mukos usos,<br />

quaes os das pastagens dos<br />

bois, vacas e cavailos; os<br />

da criaçâo dos patos , gansos,<br />

etc., e sobre tudo para<br />

a pesca dopeixe. Como es*<br />

te ultimo producto é o mais<br />

avultado , o comprehende<br />

no dos ríos pela forma seguirne,<br />

j4 Direcçâo do cadastra , continua<br />

eììCfavaliou em 463.000


«hectaros a porçâo do Solo<br />

» Francez coberta de rios. O<br />

99 producto da sua pesca é o<br />

7» unico que por ora se haja<br />

»de calcular, porque con-<br />

corre ao suslento dos ho-<br />

j>mens. O auctor da ba-<br />

»lança do commercio le-<br />

»vou seu dito producto a<br />

» 20.000.000 fr , e por todas<br />

» as informaçôes que pude<br />

9} alcançar sobre esta roate-<br />

» ria , n


çSo, e seu valor, é suppo-<br />

las todas comidas em secco,<br />

e determinar oque délias é<br />

assim necessario para os aci-<br />

maes a que servem de alimento.<br />

Para esta supposi'<br />

ç{io, observando a grande<br />

differença que faz a herva<br />

fresca, comida no lugar da<br />

sua producçâo , pela muita<br />

agua que contem , da que<br />

se come em feno no cur-<br />

ral, ou na cavalhariça, pela<br />

que perdeo na sua dessi-<br />

caçSo, diz que geralmente<br />

é necessario o quadruplo do<br />

pezo da primeira para for-<br />

necer a mesma substancia<br />

nutritiva da segunda, razâo<br />

esta deproporçâo que cresce<br />

ainda muito a respeito<br />

da palha, por nâo ser mais<br />

que uma astea lenhosa, eu*<br />

jos succos forâo tito exhaustos<br />

pela formaç3o do sea<br />

grao, que apenas conserva<br />

a quinta parte dosseus principios<br />

alimenticios, e a pouco<br />

mai^ serve do que a lastrar<br />

o estomago dos animaes.<br />

Formando sobre isso tabellas<br />

das forragens seccas, que<br />

consomem annualmente ern<br />

França seus já numerados<br />

animaes cavallares; vacuns,


e lanigeros, pela multipli-<br />

caç^o das suas raçôes diarias,<br />

reguladas no pezo de<br />

8 Kilogramas (1) para os<br />

cavallos ; 12 i ditos para<br />

OS bois , e i dito para os<br />

carneiros , quantidade media<br />

commum àcspecie e idade<br />

de todos, (2) estima a sua<br />

monta em 40.848.a58.i50<br />

Kilogramas, equivalentes a<br />

400.483.581 quintaes métricos.<br />

Adverte poróm que<br />

duas terças partes dessas<br />

forragens s3o comidas em<br />

Terde nos sitios da sua pro-<br />

ducçâo , e por niïo tereni<br />

despezas d’amanhos , nSo<br />

tem outro valor senào o do<br />

juro do capitai dos seus hectaros<br />

productivos, capitai<br />

orçador€irô em 605.000.000<br />

fr. , e por tanto juro correspondente<br />

a ........................ 30.250.000 fr.<br />

Pelo que toca ásforragens provenientes<br />

dos prados na-<br />

turaes e artificiaes , pres-<br />

cindindo d’algiimas,que tambem<br />

se dao de comer em<br />

(1 ) 45 ^ K ilo g ram as equivaiem a ICO arraléis Portiiguezes,<br />

e o quintal m etrico a 100 K ilo g ra m a s, que fazeni 218 dos<br />

ijiesm os arrateis.<br />

( 5) N ao ju lg o u , diz e lle , por em linha de conta o valor do<br />

consum o do b u rro , porque este anim al tao precioso qiiao sobrio<br />

costum a sustentar-se do refugo dos m ais , d ’algum as hervas que<br />

ach a nas bordas das estradas e v a lla ? , e outras plantas que se nao<br />

tem por forragen^.


verde , principalmente aos<br />

gados que se querem en-<br />

gordar, eporísso vSo com-<br />

prehendídas na conta acima,<br />

avalía as mais, que eñectí><br />

vaniente se comem em sec*<br />

co, na terça parte de todas,<br />

cousa de 136.163.198 quin-<br />

taes melricos , e cada um<br />

destes qulntaes, pela despeza<br />

dasuasega, preparaç5o,<br />

arrecadaçâo e conservaçâo<br />

em S fr. que pela sua quantia<br />

deitâo a ............................. 680.805.96S fr.<br />

Somma . . 972.475.966 d.*<br />

Findaodo summarlamente o<br />

seu quadro pelos varios productos<br />

dos mais hectaros di8-<br />

tincla, ou promiscuamente<br />

assignados no seu mappa re-<br />

tró, SÒ diversifica o das vinhas,<br />

estimando-o pelo in«*<br />

ventarlo dos seus hectaros<br />

, achados em 1008 de<br />

1.613.939 ditos (1), e nesta<br />

propor^


Estima conformemente ao dito<br />

mappa odas lás dosseus<br />

carneiros em ............................ 81-.399.317 fr.<br />

Estima o dos cocoes dos seus<br />

bichos de seda e m .............. 15.442,827 d.®<br />

Estima o dos seus linhos em* 19.ooo.ooo d.*<br />

Estima o dos chamados cañamos<br />

e m ................................... 30,941.840 d.'*<br />

Estima o da ruiva dos tintu«<br />

reiros t ì m ............................... 4.0000.000 d."<br />

Estima o dos cortes das snas<br />

diversas matas e m .............. 141 440.000 d.*<br />

Estima o dos seus oleos e<br />

aceites de toda a especie<br />

em ........................................... 60.000.000 d.*<br />

Estima o que chama de pequeñas<br />

culturas,como o pastel,<br />

o lirio dos tintureiros,<br />

o luparo, o alca^us e a^a*<br />

frSo e n i .................................... i.700.000 d.'<br />

E ultimamente o producto dos<br />

seus castanhaes em . . . . 8.120.000 d.’<br />

Para nada omittir de tudo<br />

quanto dáatgum rendimento<br />

ao agricultor, tendo incluido<br />

na avalia^So que fez<br />

dos gados entregues aos<br />

a^ougues o valor das suas<br />

pelles , estima agora separadamente<br />

as dos cavallos<br />

que morrem e m .................. 770.000 d.“<br />

Cuja addi^So junta ásmais an><br />

tecedentes leva a sua somma<br />

total a ............................... 4.678.708.885 d.“<br />

Mas advertindo , e advertin-<br />

do bem que, sendo tudo pro­


duelo bruto, hâo delle sahir<br />

as despezas da gua produca<br />

çSo, somniadas reirò em . 3.334.005.Ô15 d.*"<br />

E ficasoraente oseu liquido de 1.344.703.370<br />

Liquido este maior que o achado peios da><br />

dos que tinhSo offerecido osCantôes já cadastra-<br />

dos, porém menor que o meio termo dos 3 mencionados<br />

a pag 30, e que merece mais credito de<br />

e.xacto pelo melhor apuramento das suas partes.<br />

Este mesmo liquido é oque Mr. Chaptal chama<br />

producto geral imponivel da Franca, e cuja<br />

imposiqao, se fosse, diz elle, bem iguaimen-<br />

te repartida, nâo chegaria á quinta parte dasua<br />

monta, quando, no seu estado actual abrangia<br />

a terça parte delle em aiguns Departamentos,<br />

e apenas a outava em outros. Esta observaçâo<br />

de Mr. Chaptal pede alguns esclarecimentos »<br />

que Ihe darei antes de proseguir no mesmo as-<br />

sumpto.<br />

Esclarecimentos ácercn da imposiçâo territorial<br />

da Franca.<br />

Nao existía antigamente em França, como nao<br />

existe ainda hoje em Portugal, avaliaçâo alguma<br />

do seu rendimento territorial, como se ve do Essai<br />

Politique sur le revenu public de Charles G anilh,<br />

Tomo 2.% e pag. 368 da sua Ediçâo de 1806,<br />

de sorte que a sua imposiçâo nâo assentava em<br />

base alguma fiel , nem segura A Assemblea<br />

Constituinte, quecreou a sua contribuiçâo, cui-<br />

dou supprir àquella falta annunciando que a taxa<br />

em que tinha fìxado o seu importe nao passarla<br />

da sexta parte do liquido producto do seu<br />

centinente, do que seseguia quea sua repartiçâo<br />

H a


pelos proprietarios nâo havia de exceder esta nies-<br />

ma quola do rendimento decada um. Como porém<br />

os seus repartidores nSo eráo auctorisados<br />

a parar uestes imites, antes obrigados a preen-<br />

cher pela soa clislribuiçSo a somma exigida pela<br />

Lei, levantarâo-se de toda a parte clamores<br />

geraes de gravames, que avisáráo a Assemblèa<br />

Constituinte do erro em que tinha enchido com<br />

suppôt que a di(a contribuiçâo nSo abrangeria<br />

mais que a sexta parte do rendimento total. A<br />

Assemblèa Legislativa , que succedeo á Cons-<br />

tituinte, composta por inteiro de Membros novos,<br />

roas convencida da inexacçSo da supposta<br />

proporçâo entre a mesma contribuiçiTIo, e a taxa<br />

fíxada para a sua repartiçSo , tentou reme-<br />

diar-Ihe, declarando-a restricta da sexta para a<br />

quinta parte do sobredito rendimento ; porém<br />

essa declaraçSo nao oíTereceo maissegurança aos<br />

contribuintes , nem menos embaraço aos repartidores;<br />

a estes, porque nSo tinhao por guia e<br />

garante das suas operaçôes senSo a sua opiniâo<br />

e consciencia; áquelles, porque náo tinháo dados<br />

certos com que convencer o seu erro , ou<br />

malicia; enem os primeiros estaváo auctorisados<br />

a chamar os segundos á esliniaçâo do seu rendimento,<br />

nem aoccasifío dava tempo para isso;<br />

do que se seguia forçosamente a sua distribui-<br />

çâo vaga e incerta, e é bastante difficil prever<br />

o que dahi teria resultado se o papel moeda,<br />

era cuja especie se admittia o seu pagamento,<br />

nSo moderasse , pela sua gradual e successiva<br />

baixa, os excessos das suas imposiçôes , vindo<br />

assim, por alguma fórma, &o simuUaneo soccor-<br />

ro dos contribuintes, reparlidores^e legisladores. (1)<br />

(1 ) O Corpo L egislativo d eterm inava a sua ta x a , e fazia a<br />

« la prim eira divisao pelos D epartam entos. O Conselho g eral de


Depois de desapparecer o pape] moeda, a contribuiamo<br />

territorial foi ainda uma vez levada<br />

diO m axim um aquejá subira de 240.000.000 fr.,<br />

sem que o Corpo Legislativo prescrevesse re-<br />

gra aiguma para a sua reparti^So. Pensou sem<br />

düvida que a reuniao de 9 Departamentos, que<br />

tomavSo a seu cargo uma decima parte do seu<br />

importe, procurarla a iodos os mais um allivio<br />

sufficiente para ninguem ficar gravado do seu<br />

pezo ; mas enganou-se ainda desta vez. Novas<br />

queixas universaes, e mais que tudo as muitas<br />

faltas de pagamento , obrigárSo o dito Corpo<br />

Legislativo a diminuir a sua monta , que por<br />

uma successiva baixa se reduzio Analmente a<br />

210.000.000 fr. em que continuou depois a estar<br />

, e parece 6xa , ìì excep(jào com tudo dos<br />

céntimos addicionaes , que incidentemente re-<br />

clamem as urgencias do Estado.<br />

Proseguindo Ganilh na materia , observa que<br />

nenhuma daquellas baixas satisfez por entSo,<br />

qem aquietou inteiramente os Povos, pela grande<br />

difficuldade que sempre houve em determinar<br />

exactamente a massa liquida do rendimento<br />

püblico, e ajustar a sua imposÍ9So á quinta<br />

parte do de cada particular. Mas esta diOìeul-<br />

dade tao mal vencida no principio, e mais ardua<br />

de vencer pela indigencia da agricultura<br />

Franceza, do que pela falta do seu inventario,<br />

venceo-se admiravelmente de bom para melhor<br />

nos tempos successivos, desde aquel e principalmente<br />

em que o retorno da paz e o restabeleci-<br />

cada Departam ento fazia adap arte que Ihetocava petos$eus circuios;<br />

o Conselho de cada circulo a da sua quota pelas suas Com-<br />

m unas ; (Fregtiezias) e finalmente o Maire d e c a d a C om m una,<br />

assistido dos seus C om m issaiios, a do seu contingente pelos pro-<br />

prietarios.


mento da liberdade, acompanhados da incessane<br />

te progressSo das suas luzes, augraentarao prodigiosamente<br />

a sua producçâü, sem que a sua<br />

politica aggravasse os seus productos.<br />

Os Elementos, de que Mr. Cbaptal formou a<br />

sua Eslatislica, sSo geralmente o meio termo dos<br />

productos agrícolas da Franca, desde o anno de<br />

1800 até o de 1812, como o diz elle mesmo á<br />

pag. 29 do Plano e motivos da sua Obra; e posto<br />

que, na individuaçâo dos documentos deque<br />

a instruio, cite alguns aicançados posteriormente<br />

até o anno de I8Ì8, em que a escreveo, é<br />

mais para confirmar os seus cálculos do que para<br />

ampliar os seus limites ; limites com tudo<br />

que, por estacionarios, re]>utáo-se communs ao<br />

anno do 1814. Em seguimento áquella Estatis-<br />

tica do Conde Chaptal , poderia juntar aqui a<br />

do Barao Carlos Dupin, pela sua excellente Obra<br />

intitulada » Des forces productives et Commerciales<br />

de la France , e por ella mostrar os maravi-<br />

Ihosos progresses agrícolas que, principalmente<br />

desde essa memoravel época de 1814 em diante,<br />

fez a mesma França ; progresses que tanto<br />

mais facilitàrào o assento quanto mais alargarào<br />

as bases da sua dila conlribuiçiïo ; reservando<br />

porém o magnifico quadro, que délies faz o citado<br />

Barâo Dupin , para outro lugar da sua meihor<br />

exposiçâo, relomarei o fio do meu assumplo no<br />

ponto em que o deixei dos cálculos de IMr.<br />

Chaptal.


CAPITULO III.<br />

E m que, á vista dos referidos cálculos, e seus achados,<br />

se manifesta, com toda a clareza^ o que per-<br />

tence a cada um dos interessadns nos proda-<br />

cetos dessa agricultura., sequndo asfacuidades productivas<br />

dos respectivos avanços cotn que con'<br />

corrérâo á sua prnducçâo ; como tambem o que<br />

compete ao tributo dos seus com m uns encargos.<br />

ÍXe bem obvio á menor veflexäo que , com-<br />

pondo-se os capitaes dessa agricultura de varios<br />

avanzos chamados territoriaes, prediaes, e primitivos<br />

, que todos concorrem á sua produiiçâo<br />

pelo auxilio , e intervençâo dos auiiuaes, cada<br />

um dos proprietarios desses fundos tem seu igual<br />

direito fundado no seu communi producto , segundo<br />

as facüidades productivas doseu respectivo<br />

concurso; mas o tem somente naquclle producto<br />

que sahe liquido dos últimos annuaes ^<br />

os quaes,pela sua acçSo , Ihederâo oser, ou a<br />

utilidade; e tambem doe seus communs encargos<br />

tributarios, que, pelo seu uso, protegem as<br />

ijuas respectivas propriedades. Logo pois só pelo<br />

computo dos. ditos primeiros avanzos , e sua<br />

combinaçâo com este seu liquido producto é que<br />

se póde justamente determinar as partilhas que<br />

direitamente pertencem a cada um dos interes-<br />

sados nesses fundos productivos^ determinaçàio<br />

que resta a fazer.<br />

Ëm resultado dos cálculos do Conde Chap-<br />

ptal, recopilados retró y reduz-se aquelle liquido


producto em França ao computo de 1.344.705.370<br />

fr. que sSo os únicos que ha para assim parli-<br />

Ihar.<br />

Muito bem se percebe como, tirados do mesmo<br />

liquido os ditos encargos tributarios , que<br />

pela quota físcal da mesma<br />

França, iraportSo e m ............. 268.940.694 fr.<br />

Fic3o 1.075.762.696 ditos, de<br />

que pertencem aos proprietarios<br />

dos avanços territo-<br />

riaes e prediaes, napropor-<br />

çâo dos seus referido fundos..............................................<br />

944.403.534 d.*<br />

£ aos dos primitivos, na mesma<br />

sua relativa proporçâo . 131 359.162 d.*<br />

Ou mais a uns, e menos a outros,<br />

segundo mais ou menos<br />

accuniulem dos taes seus<br />

fundos productivos, sem passar<br />

todavia as suasaddiçôes,<br />

com a do fìsco, do mesmo<br />

computo de............................ 1.344.705 370 d.“<br />

Mas por modo algum se percebe como se<br />

possâo fazer essas , ou outras quaesquer parti-<br />

ihas sem inventario do seu acervo commum,<br />

nem, no caso de que se trata, como possa este<br />

acervo commum ser outro que o liquido producto<br />

dos fundos que o produzíráo, tal qual o ha,<br />

e apparece do seu dito inventario, e náo qual<br />

se imagine, ou se períenda baver por qualquer<br />

supposiçâo.<br />

No dito caso de que se trata, o que ha, e<br />

apparece sáo meramente 1.344 705.370 fr. produzidos<br />

por 37.522 061.476 ditos, cujo primeíro<br />

termo, unico partivel , mal chega a 3 (I)<br />

( l ) T endo igualm ente C. G anilti feito sea calculo d a riqueza


por 100 do segundo , isto é, 36 por l.ooo um<br />

do outro; e ainda que emendando o notado dea-<br />

concerto, que n3o advertio o Conde Chaptal, do<br />

capitai das suas vinhas por 1.977.000 hectaros<br />

comoseu rendimento por 1.613.939 ditos, seac-<br />

crescentasse a este conséquente a diiTerença<br />

que , pela sua propria estimarlo , Ihe falta de<br />

36.306 100 fr. relativos aos 363.061 hectaros que<br />

dellas omiltio, este accrescentamento só levaria<br />

aquelle termo de 1.344.703*370 para 1.381.009.470<br />

fr. que, nesta mesma proporcao, nSo chegariàto<br />

a 3 ¿ por 100, equivalentes a 37 por 1 000 do<br />

seu dito antecedente ; mas para ainda apurar<br />

maior proporçâo de um para outro desses termos,<br />

(iepois de va!er-me da notada inadvertencia<br />

do mesmo Conde Chaptal para augmentar<br />

o seu dividendo, aproveitarei uma das suas observaçôes<br />

para diminuir o seu divisor.<br />

Observou o dito Conde que , posto que na<br />

avaliaçâo de um predio rustico para sua compra<br />

, ou herança , se nâo costume attender ao<br />

valor dos seus edificios, nem da sua mobilia,<br />

por nâo serem verdadeiramente rendosos , nâo<br />

deixou elle de coinprehende-Ios no seu computo<br />

, por serem necessarios á agencia da agricultura,<br />

e terem importado um capitai, que deve<br />

entrar na conta dos seus fundos; mas deduzin-<br />

territorial d a F ra n ç a até o anno de 1789 , e d a d ’Iii^ la terra até<br />

1 7 9 9 , n a su a Tkcoria de l'economie P olitique , fo n d ée sur le s fa its<br />

rtsu lla n s des statistiques de la F rance et de l Aurjleterre, observa<br />

no m appa com parativo que inserio á pag. 212 dol.® T om o desta<br />

O b ra , im pressa e m l b l d , que é su/nrnamcnte notavel atc/en -<br />

tid a d e do liquido producto de $ ^ aie ^ p o r 100 quo acltou<br />

ìiu m e outro F a iz nos fu n d o s empreñados nas sxias respectivas<br />

a g riculturas ; resultado este aiiiila m enor que o achado posteriorm<br />

ente por M r. C h a p ta l, de perto de 8 por 100 dos seus<br />

íundos retro m encionados.<br />

Tom. 1. r


do o qne por tSo boas razOes nâo dediizio , e<br />

por ambos os objectos deita a 6.000.000 fr. pas-<br />

sar.i o ti’rmo divisorio de 37,522.061.470 para<br />

31.522.061.476 dilos, em cuja proporçâo o<br />

referido dividendo , ou iiqnido producto de<br />

J.381.009.470 ditos, subirá a perto de 4 por<br />

JOO , equivalentes a 44 por l.OOO dos seus menores<br />

fundos productivos. Mas admittida que<br />

seja esta mesma maior proporçâo do liquido producto<br />

nos fundos productivos da agricultura , como<br />

poderia jamais conceber-se justa , ou fazer se<br />

recta a sua quahjuer partilha pelo bruto, cuja<br />

menor quota , por exemplo, a de um dizimo,<br />

levaria mais de dobro do mesmo liquido?<br />

Para espargir ainda ntaior luz na minha de-<br />

monslraçâo , passando do concreto ao discreto<br />

do meu assumpto, ou do todo ás partes de que<br />

se trata, guiado sempre f)or Mr, Chaptal, applicare!<br />

a minha prova ao producto de um dos<br />

principaes, e mais fecundos ramos da agricultura<br />

franceza, por cuja coinparaçâo se pederá jul«<br />

gar dos mais.<br />

Depois d’avaliar geralmente o mesmo Chaptal<br />

seus hectaros de vinha em 2.000 fr. pelo seu<br />

rendimento de 100 ditos, que s3o 5 por 100 do<br />

seu capital, estimou o producto bruto de 1.613.939<br />

dos mesmos hectaros em 718.941.676 fr. que<br />

correspondem a 445 fr. 46 cent, por cada um;<br />

mas aquelle rendimento ou juro nâo é senâo o<br />

producto liquido deste hectaro ; logo este liquido<br />

é para esse bruto como 100 para 445<br />

ou cotilo IO.OqO para 44 546, ou, pormenor ex-<br />

pressâo, como 6.000 para 22.273 , que vem a<br />

ser um do outro, em cuja proporçâo o di><br />

zimo ¡evantado em especie, ou seu valor, sobre<br />

o producto bruto, seria o quarto termo da pro-


gressfío de que 10 fosse o terceiro; istohe, pela<br />

operaçâo seria 44 , que siïo mais de 44 e<br />

e meio por 100 do liquido ; o que bein mostra<br />

quanto só esse dizimo carrega, opprime, esma-<br />

ga a agricultura, e quao incompalivel ë com a<br />

sua prosperidade; mas quanto mais on.to säo os<br />

foraes, cuja menor pensâo, a do outavo, ou ju*<br />

gada Ihe leva nessa proporçâo mais de 55 § por<br />

1 0 0; a do quinto, mais de 85 por 100, e a do<br />

quarto excede seu mesmo liquido producto de<br />

mais de 18 por 100.<br />

He verdade que relativameute ao producto<br />

de que se trata, o das vìnhas, corno tambem a<br />

todos OS mais productos agricolas , nem todos<br />

os cálculos economioos coincidem no mesmo resultado<br />

liquido, o qual pende de tempos, localidades<br />

e circumstancias t3o variaveis no seu<br />

concurso como na sua duracelo. Por exemplo, o<br />

já citado Simonde de Sismondi, partindo d’ou-<br />

tros principios, ou seferindo-se a outros dados,<br />

diz Tom. 2.*’, e pag. I8 i dosseus N ouveaux P rin-<br />

cipes d*Economie Polii, que o mencionado dizimo<br />

leva a terça parte do rendimento de uma vinha,<br />

a melade do de uma plantaçâo de hiparos , de<br />

uma sementeira de linho ; todo o de uma boria,<br />

em quanto só leva a quinta parte do de uma<br />

seara de päo, e apenas a sétima, ou outava parte<br />

de um hervaçal. Mas estes mesmos cálculos<br />

de Mr. Simonde, ou seus achados , pelo pouco<br />

que diflerem , e por muito que difTerissem dos<br />

de Mr. Chaptal, tornäo e tornariilo bem evidente<br />

aquiilo em que concordSo ambos, com todos<br />

osEconofnistas políticos, que mais se despende<br />

nos amanhos de um predio rustico . maior é a<br />

sua producç^io, e que, nâo se repartindo aquella<br />

despeza, nilo se póde repartir este producto<br />

I 2


por qualquer quota senhoril, dizimal, ou fiscal,<br />

e muito menos pela caterva de todas , 1.“ porque<br />

nSo cabem no seu rendimento liquido, corno<br />

acabo de provar por deraonstracjoes uìathe*<br />

maticas; e 2.“ porque ainda quando coubessem,<br />

nao seriao compaliveis com o andamento da<br />

agricultura, nem com a justica distributiva dos<br />

eeus productos ; cujas provas tambem já dadas<br />

por algarismos reforcarei por outras mais palpa-<br />

veis de razSo.<br />

CAPITÜLO IV.<br />

E m q u e se reforçâo as provas da tncompatibilidade<br />

das mencionadas parlilhas com o andamento<br />

da agricultura^ e com ajustiça dislribuli^<br />

va dos seus producios,<br />

VISTA do que secalculou, e achou é evidente<br />

que o Lavrador de uma terra sujeita a uma,<br />

ou muitas das ditas partilhas do producto bruto<br />

da sua cultura , se quer melhorar a especie,<br />

ou promover a abundancia dos seus frutos , o<br />

nao póde fazer senSo á força do seu trabalho,<br />

ou despeza ; e por tanto , tanto mais em seu<br />

prejuizo quanto mais trabalhar , ou despender<br />

para adquirir costosamente o que ha de repartir<br />

gratuitamente ; mas nSo é naturai que nin-<br />

guem se queira prejudicar voluntariamente, logo<br />

nao é de esperar que o Lavrador de tal terra<br />

jámais assim forceje para taes melhoramen-<br />

tos, ou promoçôes dos seus fructos, antes que,<br />

pela razao inversa de mais utilisar proporcional-


mente no menos que Ihe der coin mais descaiï-<br />

ç o , ou economìa , cada vez mais a deixe peio-<br />

rar na sua fructificacao. Este argumen(o só por<br />

si irrefragavel, se corrobora ainda muito do seguiate.<br />

Os capitaes da agricultura, que, como quaesquer<br />

capitaes, se avaliào no seu valor vendavei<br />

pelo seu juro de 5 por 100, longe de dar efl'e-<br />

ctivamente este rendimento , dao apenas o positivo<br />

de 3 IO, que traz comsigo a quebra de<br />

1 ^ do seu menor producto por outro commum<br />

em prego ; prejuizo este que, na mesma propor*<br />

çâo com que augmenta a difficuldade de conciliar<br />

as ditas prestaçôes com tal baixa de rendi*<br />

mento, na me»'ma hade augmentar a repugnancia<br />

de applicar novos fundos a um emprego iSo<br />

quebrantador do seu valor vendavei.<br />

Tem-se allegado em defeza das ditas parti-<br />

Ihas , e outras omnímodas prestaçôes impostas<br />

por íoraes, o direito de propriedade, que per-<br />

mitte a cada um usar do seu a seu arbitrio , e<br />

por tanto ceder o seu dominio com as condi-<br />

çôes dominicaes que Ihe aprouver ; mas este direito<br />

de propriedade, nó corredio dos fortes , e<br />

nó gordio dos fracos, é justamente o que mais<br />

repugna, contrasta, implica com o uso de que<br />

se trata; em cuja prova, o pouco que tiver de<br />

accrescentar aoque disse retrh ápog. 27 , o tira-<br />

reí do que já dissera da pag. 145 em diante do<br />

l / Tomo da minha Obra = f^ozes dos Leacs<br />

Porluguezes.<br />

Por isso mesmo que o direito de propriedade<br />

permitte a cada proprietario usar do seu a<br />

seu arbitrio, prohibe-lhe usar assim do alheio,<br />

porque este alheio tem igualmente seu proprietario<br />

, e este proprietario eeu igual direito no


f)ue é SPU , com a mesma exclus/to do alheio»<br />

H esta saber quai seja aquelle proprio , e este<br />

aiheio. (I)<br />

Nao se duvida, nem se pòde duvidar, que<br />

( 1) T tnha eu escrito tudo o que já disse , e m ais direi dos<br />

prejnizoi que causavâo o sF o raes á a g n c n llu ra m uilo antes do D ecreto<br />

de 13 d'A gosto de 1 8 S 2 , que excedeo as niinijas esperau-<br />

ç a s , n a extincçào dos geus g ra v ain es, e outras m ullas abotiçôes; o<br />

])osto q u e . ao recopiU r o m eu tra ltia lh o , já livesse sido p roaiul-<br />

g a d o , e até vindo às m in h a sm à o s, para nao interro m p er a o rd e m<br />

d a niiu h a m a te ria , deiiberei-m e a accreicentar por esta nota sep<br />

arad a ü que m e occorreo àcerca das suas principaes disposiçôes,<br />

reduzidas substaneialm ente aos tres artigos suguintes.<br />

E m 1.'' Ivigar, extingnin'Jo o dito D ecreto a n atureza dos bens<br />

cham aco? d a C o rô a . e a jarisprudcncia porque i»e regulavào , de*<br />

c ia ra revógaveis, e revogadas todas asdoaçoes feitas p e lo sSenlio-<br />

res iieis destes Reinos de taes b e n s , e do> Direitos cbam aHn^ Keaes<br />

nelies im postos; aboie outro sim todos os foraes dados ás terras pe-<br />

ioi njesmos Senbores R eis, ou seus D o n atario s, e todos os seus foro<br />

s, pensóos, {]Uotas, raçSes certas, e incsrtas de q u a lq u e r deno-<br />

m in açào , ain d a que reduzÎJas a p re s ta ç i^ fundadas e u ie m p ra z a -<br />

nientos o u su b em p razam ento s, e a té osseus la u d e m io s, rep u tan d o<br />

tu d o trib u to s, ou contribuiçôes particulares , e com o t a l , im p ro ­<br />

prio a constituir o patrim onio de qualquer in d iv id u o , fa m ilia , ou<br />

corporaçâo; e ab o lin d o tam b em do m esm o m odo os Prazos d a C or<br />

ô a , os R elegos, e R eguen g o s, os S enborios, e A lcaid arias inore<br />

s , salv a som ente aos proviJos a conservaçâo p u ram ente liouoriil-<br />

ca dos seus titu lo s, converte os sens varios fundos em bens a!lo-<br />

diaes , e isentos de qualq u er retribuiçao a favor dos seus pos:>ui-<br />

dores territo riaes. p a ra poderem livrem ente g o z a r, ou dispor delle*<br />

ao ?eu arbitrio.<br />

E m 2.® lu g ar, determ in a que osditos b e n s, com postos d e ter*<br />

ras c u lta s, ou in cu ltas, que ainda estiverem em poder dos seus<br />

D o natario}, e por e lle s, ou seus agentes a d m in istrad o s, sem te*<br />

rem passado a terceiros possuidores por titulo alg u m de encargo<br />

oneroso, Ibes fiquem tam b em conservados com o seu s p ro p rio s, livres<br />

e a llo d ia e s, e se nâo tereni tornado indignos disso.<br />

E m S.® lu g a r . que os m esm os ben? m antidos no dom inio<br />

im m ediato da C o ró » , ou q i e se llie b ajào d e in co rp o ra r, sejào<br />

considerados nacionaes. c corno taes alienav eis, ou applicados á<br />

iiidem m isaçào dos D onatarios lesa los pelas sobre.iita'« disposi-<br />

ÇÔ2S, o u d o sC o m in en d a d o res, C orporaçoesou in d iv id u o s, q u esenj


consìslHO osca])i(aes da agricultura no8 4 fundos<br />

que, pelas denominaçoes adoptadas retrò y se<br />

chaniao terriloriaes, prediaes, primitivos, ean-<br />

nuaes: ndo se duvida tào pouco, nea) póde du-<br />

ser a titu lo de beneficios ecclesiasticos, com pensador por outro m od<br />

o , gosavao de dÌ2Ìmos abolidos pelo Decreto de SO de Jiilh o a n ­<br />

te rio r, na m esm a razSo d e m e tad e do rendim ento d e q u e seach as-<br />

sem privados, regulada está nietade pela d o q n e em term o m edio<br />

tivei>6em liqnidam ei^te recebidu nos qiiatro últim os annos do seu<br />

usufVucto, sendo igualm ente os predios asbim haviitos por urnas e<br />

outras com pensaçôes reputado* proprios dos seus novos possuidores,<br />

com o se os tivessem com prado á Fazenda p ú b lica; e 'tatu in d o fin<br />

alm ente q 'ie d e n eiih u m a p erie n ça o opposta à sentença g érai deste<br />

D ecreto se possa to m ar conhecim ento ju d ic ia l, seni que o negocio<br />

seja levado ao Poder L egislativo p a ra definir se os bens de que<br />

se tra ta tin h ao a n a tiire z a q u e se Ihe a ttrib u e , ou para a c lara r ex><br />

(iressoes duvidosas noeterm os dasaua« indem nisaçôes, cujas dispo-<br />

siçôes aii¿s tm n a d a altcrdo a L eyisla cdoJo sco a tra to s feito sso ò re<br />

bens paírim o n ia et d'^s particuÍares.<br />

A H berdade de fa lta r e « « re v er , que é o prim eiro bem qn©<br />

vem da C arta p a ra o C id ad S o , é tam b em o prim eiro quevom do<br />

CidadSo para a Caii«a p ú b lica, quando o q u e falla ouescreve t(.'m<br />

per seu unico objecto o m esm u b e m , e o faz com tal uiodestia e<br />

m oderaçào q u e , se nao convence n o q u e d i/, n Ío offende n o q u e<br />

propoe. I’ara d ar u m a prova nao.equivoca de que é ejite a g o ra ,<br />

com o foi se m p re , o uieu unico objecto , e o é d a m elhor m ente,<br />

basta prevenir q u e sou foreiro d a C o ró a , e m esm o d o sseu sD o n a ­<br />

tario s, e nao D onatario d e lla ; pots q u e , aover>se q u e , segundo a<br />

nattireza das núnhas poucas propjit^dadt's, o re.


vidar, de que todos estes fundos sejâo productivos,<br />

porque todos concorrem , e sao necessa-<br />

rios á producçâo dos seus fructos : n;io se du-<br />

vida finalmente, nem póde duvidar-se, que to-<br />

v iâo necessaria e tbrçosam eiite reform ar-se taes pensües por se-<br />

rem , u â o trib u to s, ou contribtiiçôej p a rticu la res, m as peiores que<br />

taes tributos ou contribuiçÔ es, m ais nociv as, m ais in to lerav eis, u<br />

m ais incom pativeis com a prosperidade d a a g ric u ltu ra , cujos productos<br />

destroem , e a té coni os intéressés dos m esmos senhorios , cu*<br />

jos fundos a v ilta o ; pe'o que m niio m eliso n g ea o te r anticipado a<br />

m inila opiniâo conform e á do referido M inistro , e m ui cordial*<br />

m ente a b en çoo, com todos os verdadeiros am an tes da C ausa púb<br />

lic a , o A ugusto R egen te, por ter co rlado de um golpe alexan -<br />

driiio o nó g o rd io , que sendo tío nrgeute n a sua so lu çào , pode-<br />

ra ser tao moroso no seu deseiivolvim ento pordiscussao p a rla m e n ­<br />

tar. M as pelo que respeita ao córte tolal das ditas pensóes m esm o<br />

certas, e m o d eradas, em quaesquer térras d a sua im posiçào, de<br />

m odo a ficarem to io s os fiiirlo s, em que seaciiem im p o stas, in-<br />

to iram enle (ivres para seus últim os possuidores lerritoriaes de q u a lquer<br />

relribuiçào á C o rò a , ou ao Tliesouro P ú b lic o , aos referidos<br />

D onatarios, ou a quaesquer dos seus successores, por serem todas<br />

essas prestaçoses trib u to s, ou contribuiçÔes particulares de uns p a ra<br />

outro s, e com o taes incom pativeis com os interesse^ e progresso»<br />

geraes d a a g ric u ltu ra , nem taes cousequencias do M inistro re la ­<br />

tor se podem deduzir das suas premiosas ; n e m , deduziveis que<br />

fossem dosseus principios, teriào por resultado os fms que inculca,<br />

com o vou a m ostra-Io.<br />

J á eu tin h a igualm en te provado retro , a té á evidencia ,<br />

que as terras, e m q u e seach áo im postas essas pensóes, tin h ao sid o<br />

a propriedade de um prim eiro possuidor, que asim p o zera em um<br />

segundo ao ceder-lbe o seu fu n d o , e q u e , ou fosse esse fundo p u ­<br />

ram ente te rrito ria l, ou ju n ta m en te p re d ia l, con^tituia u m c a p ila l<br />

im niovel proprio do p rim eiro , e c o m í u m a propriedade vale outra<br />

proporcional no seu dito c a p ita l, o u n o se u ju ro , nao póde ha-<br />

ver dúvida de q u e , n io tendo o cedente recebido do cessionario<br />

n a p rim eira especie o equivalente ao fundo que Ihe tran sm ittio ,<br />

o póJe ju stam en te ex ig ir n a segunda: nem d e q u e , tendo-o sem ­<br />

pre assim e x ig id o , tenha sem pre o m esm o direito de exig i-lo por<br />

s i, OUSQU^ suecessores dentro dos m esmos justos lim ite?, e m q u a n -<br />

to d u rar a p ro priedidd tra n s m iltid a , porque sem pre é propriedade<br />

p ro lu cto ra da prim eira p re sta ç io . e sao 0 3 producios d equem<br />

sao os fmi Joj pro iu cto res, c j;n o esiabeleci retro , pag. 2 7 , e estib e-


tíos estes fru(os sej


duo, ou corporaçâo o unico proprietario de todos<br />

OS ditos fundos , o é tambem de todos os<br />

seus productos (salva sempre a mesma restric-<br />

çao) mas que sendo varios os seus proprietarios,<br />

verao, e conservárao as suas doaçÔes livres detaes encargos, nada<br />

se Ihes revoga, antes tudo se Ihes consolida na mesma estabi-<br />

lid ade, faz esta diiferença entre uns, e outros Donatarios um a dis-<br />

tincçâo tanto mais odiosa quanto mais notavel; faria outra igual<br />

entre os foreiros quetivessem sido dos prim eiros, e o s que viessem a<br />

se-lo dossegundos, e suscitaría em am bas as classes tanto mais em u-<br />

laçâo, io v eja , e desconlentam entos, quanto mais seus respectivos<br />

Individuos se julgassem preteridos nos seus merecimentos , ou vissera<br />

outros avantajados nas suas sortes.<br />

A ’quelles multos inconvenientes accrescerilo os muitos em ba-<br />

raços de proporcionar compensaçôes ás ditas doaçôes ; ánecessida-<br />

de de promove-las a difficuldade de ajusta-las, ejuntam ente aine-<br />

vitavei demora no determinar e fixar a contribuiçao territorial<br />

}>roposta adian te, e convencida de urgentissima na sua condu'-So.<br />

M nalm ente os muitos em jjenhos, e poucos recursos do Estado nao<br />

deixâo carecer de mais necessarias applicaçÔes asaboliçôes qu eve-<br />

nliâo a ter lugar, e quando faltassem as denecessidade n io falta-<br />

riao as de conveniencia.<br />

Nos tempos m ais felizes da antiga R om a, as terras que sein -<br />

Ciirporiivao nosspus dominios erào repartidas pelos defensores, ou<br />

vin¿'adores da Patria: homens cornados de louros nâo sedespreza-<br />

vao de empunhar dassuas niàos victoriosas o arado depois da lança<br />

; triutifava a agricultura como triunfava a República; e assim<br />

so afargavao e cim entavao os alicersea da sua futura grandeza;<br />

exem p lo que foi de algum modo , e m ui felizm ente im itado nos<br />

listados Unidos da A m erica, para consolidar asuaem ancipaçao politica,<br />

eultim am ente n a G recia , onde grande parté dosque foráo<br />

seus libertadores doju go Turco sao hoja seuscultivadores agrícolas.<br />

Estas reflexSes terao adiante maior desinvolvimento.<br />

A q u e , sim , de todas essas aboliçôes me parece a mais justa<br />

e conveniente é a dos laudem ios, pelas seguintes razoes.<br />

Comparando os fundos territoriaes com os pecuniarios nos direitos<br />

da sua retribuiçào proporcionaes aos valores doa seus capi-<br />

taes, nos casos da sua cessào a um cham ado foreiro, ou mutuario<br />

, adia-se que nao tem mais acçao o cedente de um que o de<br />

outro fundo para aggravar osseus juros, quando augm ente o rendim<br />

ento dos seus respectivos ceîssionarios; porqne »em u m , nem<br />

outro rendimento póde augmentar senao ¡íelo trabalho, industria.


varios devem ser os quinhOea dos seus frutos,<br />

conforme sejSo os lotes dos seas fundos , para<br />

ludo ser de seu dono nas suas justas proporçoes ;<br />

do que se segue pela mesma razSo que, a as-<br />

sociarem-se os co-proprietarios dequaesquer desses<br />

fundos com osco-proprietarios dequaesquer<br />

outros na parçaria de todos , náo poderia nenhum<br />

delles exigir mais do monte commum do<br />

seu producto do que correspondesse ao seu particular<br />

fundo, sem violar a propriedade alheia,<br />

porque, a exigir mais, exigirla o alheio no que<br />

pertencesse ao seu respectivo fundo , faria so-<br />

ciedade leonina em tudo o que fosse lesiva a<br />

seus socios: do que sesegue, pela mesma raz3o<br />

de nao poder exigir mais pela sua parearla, que<br />

nao poderia tambem impór mais pela cessîïo do<br />

seu fundo, sem a mesma violaçSo, eviolacáo até<br />

tanto mais lesiva quanto mais prolongada; cuja<br />

ultima consequencia Iraz comsigo outra annexa,<br />

a saber ; que todo e qualquer proprietario<br />

ou despeza dos m esmos respectivos cessionarios, e é assim todo o<br />

seu augm ento deqiiem a«sim o faga todo se u ; razao esta d a se m -<br />

razao dos foraes.<br />

P o r ser assim todo o rendim ento de quem assim o fa^a todo<br />

se u , o é tam b em o c a p ita l: e co m o , nos casos d e v e n d a, o fo ­<br />

reiro nao vende senao este m esm o au g m e n to , pois que aprestando<br />

q ue d elle recebia seu dito cedente conlitiúa a recebe-la do com prad<br />

o r, segue-se que tudo o que o m esm o cedente exig e do producto<br />

da v e n d a , a titu lo de lau d e m io , o e x ig e d o c ap ital proprio doseu<br />

cessionario, do m esm o m odo que la ria o m u tu ante de um fundo<br />

pecuniario


de todo e qualquer dominio territoría] que, na<br />

ce£sâo do seu fundo, liver imposto maior parti-<br />

]ha dos seus frutos da que compete ao juro do<br />

seu valor vendavel, regulado pelo seu producto,<br />

liquido dos mais productos pertencentes aos mais<br />

fundos empregados, e necessarios á sua produc-<br />

9S0 , e bem assim aos tributos dos seus encar*<br />

gos, tem estabeiecido nos seus cessionarios uma<br />

violaçâo perpetua das suas respectivas propriedades<br />

, violaçâo tambem leonina , por contraria<br />

ao direito natural que tambem alies lem no que é<br />

seu, e que deve ser cohibida pelas Leis fnnda-<br />

mentaes de toda a boa organisaçâo social, que protegem<br />

igualmente todas as propriedades indivi-<br />

duaes. Liquidando-se pois estas propriedades in*<br />

dividuaes, surgem os limites, dentro dos quaes<br />

cada ui dos proprietarios deve restringir o uso<br />

do que é seu, para n3o usar do alheio.<br />

O proprietario , ou senhor qualquer acima<br />

supposto nao cedeo doseu dominio senSo ofundo<br />

da primeira especie, talvez nú e crú de todos<br />

os avanços preparativos da sua cultura ; e<br />

por tanto , de pouco valor vendavel só por si,<br />

pelo pouco que podía produzir liquido destes<br />

avanços proprios dos seus cessionarios; por tan»<br />

to, tambem , pouco podia exigir destes cessio-<br />

liarios pelo producto daquelle seu fundo, porque,<br />

de contrario, o que mais exigisse, o teria<br />

exigido do producto dos fundos dos mesmos cessionarios;<br />

mal exigido que seria mal dado , e<br />

mal dado mal possuido. M as ainda concedido,<br />

se concessive! for, que maior fosse o valor vendavel<br />

do tal proprietario, ou senhor, por qualquer<br />

accessorio do seu fundo , este accessorio<br />

sempreseguiria a natureza do seu principal, sempre<br />

formaria um só capital tixo , a cujo maior


juro deverà tambem proporcionar-se, sim, uma<br />

maior prestaç^o dos cessionarios , mas sempre<br />

prestaçâo fixa, e nunca progressiva dos seus frutos<br />

, por ser só propria a progressao desies frutos<br />

de quem o seja a progressSo dos trabaIi»os,<br />

ou despezas empregadas na sua psoducçâo.<br />

Remontâo muito alem da Monarchia Portu-<br />

gueza os vicios radicaes, que tolheu odesenvol-<br />

vimento da agricultura deste Reino, e de todos<br />

OS mais ramos productivos da sua prosperidade<br />

pública. Trazidos, na sua origem, de fora, pe-<br />

garào , grassarao, variarao nas diversas partes<br />

da Península segundo o arbitrio , ou capricho<br />

dosseus importadores, mas sem engolfar-me no<br />

tenebroso cáhos da historia antiga, cnjos principaes<br />

acontecimentos reservo esboçar adiante,<br />

só direi, depassagem, por mais fácil de provar,<br />

que, de todos os estrangeiros que, a seu turno,<br />

forao expulsores , ou expulses dos valerosos habitantes<br />

deste bello Paiz , os mais barbaros forao<br />

os Godos , e de todas as suas barbaridades<br />

a maior de todas foi a de repovoar por corpora-<br />

çoes de mao morta o que tinhiio despovoado<br />

por guerras assoiadoras, por ser o mais absurdo<br />

modo de povoar o multiplicar os que pela sua<br />

proíissáo se tornao inhabeis a multiplicar-se.<br />

Nao se póde negar que muito se deve aos<br />

Pelagios , ultima estirpe dos últimos Reis Godos,<br />

por terem salvailo nos inaccessiveis montes<br />

das Asturias os ensanguenlados restos da Monarchia<br />

Hespanhola, e mais ainda aos seus sue-<br />

cessores pela terem paulatinamente libertado do<br />

jugo Africano; mas é preciso confessar que, se<br />

muito trabalhárilo para a recuperaçào do dominio<br />

dos seus Ëstados, pouco acertárSo na pro-<br />

moçâo da felicidade dos seus Poyos.


Pelos tres Seculos de fanatismo e ignorancia<br />

decorridos desde AÍTonso 1. cognominado o<br />

Cathoücoy Genro do dito Pelagio , até Aífonso<br />

VI , cognominado o B ravo , Sogro do nosso<br />

Conde Henrique , a maior parte dos Principes<br />

Cliristáos, que arrancáriío aos Arabes os despojos<br />

septentrionaes da dita Monarchia Hespanho*<br />

Ja, (izerSo consistir a sua politica na sua devo-<br />

^ào , e a sua devo^ào no instaurar ou erigir<br />

Bispados . no restabelecer ou fundar Cathe-<br />

draes, e Basilicas, e mais que tudo Mosteiros<br />

principaes , ou seus filiaes ; simples ou du-<br />

plices (l) e dar Ihes para sua chamada repovoa-<br />

(?ííü, grande parte das terras que retomaváo, e<br />

devastavào pelas suas assola^òes ; e náo só terras,<br />

e mais terras de immensa exlens3o (2) mas<br />

privilegios, isenQoes, direitos e regalias taes que<br />

(1 ) C ham avào-se duplices os povoados de hom ens e m ulhe-<br />

re s, dos quaes h av ia m uitos nas P rovincias Septentrionaes deste<br />

Keino j á anles do Seculo X , corno os de C e lle , de L a c r a , de<br />

C restum a, de 6’. M ig u el de R ib a P a io a , de Lorvd o de M o n i“<br />

r o , e outros varios incontestavolm ente povoados pelas doa^oes citadas<br />

n a nota 2 2 0 , addita á eru d ita M em oria para a H isto ria da<br />

L e g isla n d o , e costumcs de P o rtu g a l , com posta por /Intorno da<br />

S i h a do A m a ra i, e inserida no 7.®T om o das de L itle ra lu ra P o r-<br />

iu g u e z a , publicadas pela A cadem ia Real d asS cien cias, onde c la ­<br />

r a . d istin c ta, e repetidam ente se d e sig n io / r a / r c s et só ro res, frar<br />

des e freirás.<br />

( 2) A lg u m as de tam a n h a extensào q u e , n a nota 160 á raes-<br />

m a M em o ria, cita seu A uctor u m D ocum ento d atad o do 1." de<br />

M aio de 8 6 7 , e inserido no X I . T om o d ì H espanha S a g r a d a '<br />

pelo qual se vé que o Bispo desterrado de D u m e , S a b o ric o , rog<br />

ava ao de L u j o , P ln o ia n o , que Ihs coM edesse corno p re stim o ,<br />

p a r a seu vestido e sustento, as Ig reja s que tinha no C ondado d e<br />

•M o n teneg ro , desde o rio H um e a té o n o E u v e , e desde o nos«<br />

cimento do Minhrt a i¿ a costa do m a r ( S 6 legoas de c u rso ) a d ­<br />

vertindo ibid, que este de L u g o tin h a tam b em im m ensas posses-<br />

s5ss q iie , a titu lo d e povo%dor d a mesna C id a d e , Ihe d o ára A f"<br />

fcijso o C i tM i c o , dspois de tom a*!as aos M ouros.


chegaviîo a igualar os Magestatìcos, forrt^ando<br />

assilli corno uns JCstados em oulros Estados , e<br />

reduzindo os da soberanía a mui poucos, e mui<br />

contingentes tributos , alguns tielles d'exolicos<br />

nonies, e vergonhosaexacçâo, quaes os chamados<br />

injurias e calumnias , <br />

correndo cada um , segundo a sua devoçâo e<br />

suas posses , ao menos para uma Capella , ou<br />

Ermi


que tinbâo ahi vindoabraçar urna vida chamada<br />

ascetica y isto é mais conimoda.<br />

Nâo é do meu objecto analisar essa mons-<br />

truosidade de doaçues , que derâo origfm mais<br />

ou meiios remota aos Solares , Solarieg'os, Behetrías,<br />

Coutos, Reguengos, Realengos, Abadengos,<br />

Beneíactorias , Foraes, Padroados, e<br />

outros varios direitos , ou pertençdes senhoris,<br />

confusamente mencionadas pelo Auctor da M emoria<br />

que acabo de citar na nota, e vagamente<br />

definidas pelo do Elucidario das palavras , íer-<br />

mos ^ e frases antigas (l). Quanto porém aos<br />

atrazos que produziráo na civilisaçâo mora! dos<br />

seus Povos taes instituiçôes, com as da sua or-<br />

ganisaçào social em diversas classes de nobres ,<br />

desde infançôes até peces , misturados de es-<br />

cravos por criaçâo ^ por penas, por tomadlas ^ dá<br />

bastante a conhece los o nSo restar desses tempos<br />

senáo escrituras , e contratos lavrados em<br />

Jatim semigothotico,/ormando assim , diz o Auctor<br />

da mesma Memoria, á pag. 214, um a A l-<br />

garavia cada vez mais inintelligivel , que attesta<br />

a barbaridade das suas letras, a que era pouco<br />

inferior a rudeza dos seus costumes ; e quanto<br />

á sua inñuencia politica na sua industria nacional,<br />

ainda mais se manifesta pelo que diz , e<br />

prova da pag. 204 em diante , cora citar, e apon-<br />

tar as muitas escripturas das muitas alienaçôes,<br />

que se faziáo de terras de lierdades, das mesmas<br />

chamadas villas , em troca de um boi, de urna<br />

vaca y de uma bezcrra, de uma egoa, de um cavallo<br />

, de uma m anta , de pelle , de uma<br />

CO E lucidario tao poaco seguro oom o m ostrao as m uitas re-<br />

ctifica^oss que llie fez Jo ao P edro R ib e iro , no T o m o -i." , e P a rts<br />

3.* das suas Dissertagoes.


medida de p a o , etc. E qual nSo seria a penuria<br />

da sua agricultura, a grosseria das suas artes,<br />

a nullidade do seu commercio, com tal miseria<br />

da 8ua estatistica !<br />

He verdade que a cada passo os ditos Povos<br />

se achavao distrahidos , ou iiikpedidos dos seus<br />

trabalhos ordinarios pelas inquietai,oes , correrías.<br />

ou incurs3es dos JVlouros, ou dos mesmos<br />

Chriátaos que , nas desavenças particulares dos<br />

sens Reguíos, nao se poupavao mais entre si;<br />

(l) mas tudo isso era aínda eíTeito da nipsina<br />

causa. As gentes d’RlIíei uniílo-se as dos Condes,<br />

0 outros Senhores territoriaes, ou comba-<br />

tiao separadamente, segundo as disposiçdes dos<br />

seus chefes, ou occurrencias doscasos. Porém,<br />

náo havendo entre elles tropas regulareí, o po*<br />

der da sua força nâo era ajudado do da sua disciplina,<br />

nem o seu valor do do seu patriotismo,<br />

pelo pouco que inieressavào na conservaçao do<br />

que defendiao; motivos porque tao raras eriîo as<br />

decisoes das suas batalhas campaes , e lâo fréquentes<br />

as renovaçoes dos seus acomettiinentos<br />

liostis.<br />

Uma nova época, urna época mais brilhantô<br />

assignala os fastos da Historia peninsular no en-<br />

cerramento do Seculo Xf. Alfonso V i, o bravo<br />

Alfonso, Rei de Castella e de Leao, depois de<br />

vencer os seus rivaes, e paciíicar os seus Estados,<br />

pelo valor do seu braço, e o auxilio de tres<br />

Principes Francezes que, com alguina tropa , Ihe<br />

mandcíra seu parente, Fiiippe 1, Reí de Fran-<br />

( 1) N a época d a fiin d a ç ito da M oiiarcliia P o rtu g u e z a , h avia<br />

m uís delO O annos, que por r i v a l id a d e s , ou disputas desuccessoes,<br />

erao quasi incessantes entre Principes Christâos , que nâo poucas<br />

vezes d ieg ârâo a p edir, e d a r auxilio aos M o u t o s uns contra ou-<br />

tros.<br />

Tom . T. L


ça , nao tendo filhos varoes , procura segurar a<br />

sua successao em tres thalamos dignos das suas<br />

tres filhas ainda donzellas, e já por recompensa<br />

dos seus relevantes servicos , já por correspondencia<br />

das suas altas qualidades , Ihes escolhe<br />

por esposos aquellas tres illustres estrangeiros,<br />

um dos quaes , de que só fallarei , é o Conde<br />

Henrique, a quein dá sua íilha Thereza, e por<br />

apanagio do seu casamento as vastas possessóes<br />

que já tinha ao Norte e Sul do Douro, berço da<br />

Monarchia Portugueza, de que torno a tratar.<br />

E ’ muito raro que um hornera, por superior<br />

que seja aos mais homens , eleve as suas idéaa<br />

de governo e legislaçSo acima das que consa-<br />

grou o uso, ou abuso já inveterado porum longo<br />

habito. O Senhor Conde Henrique, ao tomar<br />

posse dos seus novos dominios , achou nelles<br />

muitas doaçoes que Ihe convinha respeitar , e<br />

achando tambem muitas terras maninhas, para<br />

povoar e cultivar, ou porque as preoccupaçoes<br />

dominantes no seu tempo Ihe nao suggeriâo melhor<br />

plano , ou porque os incessantes cuidados<br />

da guerra Ihe nao permittiao reduzi-los á pratica,<br />

as repartió largamente pelas ditas Corpora-<br />

çoes de mao moría, principalmente para a Ca-<br />

thedral de Braga , e os Monges Benedictinos.<br />

Succedeo-lhe seu filho o grande O. Affonso Hen-<br />

riques que, com um animo tSo esforçado, tanta<br />

dilatou os limites desta Monarchia, de que veio<br />

a ser primeiro Rei titular; o qual, passando da<br />

Beira á Estremadura , e da Kstreinadura ao<br />

Alemtejo, levando tudo adiante desi, á propor-<br />

ÇÎÎ0 que ia conquistando, ia doando terras, ora<br />

íís Cathedraes de Viseu e Coimbra, ora aoMos-<br />

teiro de Santa Cruz da mesma Cidade , ora á<br />

Congregaçâo Cisterciense , que introduzio em


Portugal, epara quem foi mais generoso (í) ora<br />

á chamada Freiría de Evora , hoje Ordem de<br />

A vís , e a outras varias Communidades Seculares<br />

e Regulares. Seguio depois as mesmas pisadas<br />

seu filho e successor, O. Sancho I.*. e ainda<br />

depois desíe Rei, bpu filho e successor, O.<br />

Afl’onso II, que foi quem doou o sitio de Avis<br />

á dita Freiría de Evora, com a costumada con-<br />

diçâo de povoar e cultivar'^ mas que conhecendo<br />

jcá o erro de laes pOvoaçoes e culturas por taes<br />

Corporaç()es , pois que nellas ficavao todas as<br />

vanlagens, em quanio os Seculares se achaváo<br />

rcduzidos á triste condi^áo de puros jornaleiros,<br />

prohibio que de lá em diante os Mosteiros e<br />

Jíjréjas podessem conservar e adquirir bens de raíz<br />

m ais que os que se juhjassem bastantes para sa-<br />

tisfüçâo dos anniversarios dosdefuntos ; cuja Lei,<br />

feita sem data, nas Córtes de Coirabra, reno-<br />

vou o Senhor Rei D. Diniz por outra de 21 de<br />

Março de 1 3 2 9 , em que, pelos mesmos motivos,<br />

prohibio aos Regulares o adquirirem , ou herda-<br />

rem mais bens de rais do que os que j d possuiao<br />

de patrim oiiio, como refere o Auctor da IVlemo-<br />

ria para a Historia da Agricultura em Portugal^<br />

inserida no 2 * Tomo da citada Collecçâo, publicada<br />

pela Academia Rea! dasSciencias. Mas<br />

nem estas e outras muitas Leis , chamadas de<br />

amortisacao, que se promulgárSo áquelle respei-<br />

( 1 ) A lguns Chronistas d ’A lcobaça, referindo-se a D iiarleN u -<br />

tics d e L e a o , e o u tro s, tem fallado d e u m voto feifo pelo Senhor<br />

I>, Aílonso H enriques , indo á conquista d s Santarem , em virtù-<br />

d£ do q u a l, sobre a sua to m ada deísta V illa , aqnelle Rei doaria<br />

ao seu Mosteiro tudo o que se avistava desde a S erra d’A lbardos<br />

até o m ar ; m as JoSo Pedro R ibeiro destroe inteiram sote os fundam<br />

entos desta votiva d o a ça o , á p a g . 7 d a C issertaçâo que men*<br />

cionarei adiante.<br />

L 2


to, erâo sufficientes para sortirem o seti p^rten-<br />

dido eü’eiCo , nem liverâo a sua dévida observancia.<br />

As doaçoes Regias, tâo crescidas, con-<br />

linuárao a crescer; e porque os Donatarios que<br />

mais possuiâo, mais desejaviïo , e mais tinh/ïo<br />

meios de adquirir, chegáriio ao ponto que s6 A l-<br />

cobaça , diz o ingenuo Auctor (^J) da Memoria<br />

sobfe o direito de Correiçâo usado nos anligos<br />

tempos , só Mcobaça veio a possuir mais de 3 0<br />

Villas. Trinta Villas tragadas por um só Mos-<br />

teiro, alem de outras suas muitas rendas de térras,<br />

e quintas! B entos, Gracianos ,C ru zio s, D o”<br />

miníeos ,Jeronym os, e tc ., todos tem assuasCliro-<br />

nicas cheias de louvoresdados aosReis que Ihes<br />

fízerSo doaçô.es , como se a maior perfeiçiîo da<br />

Realeza estivasse na maior largueza para as suas<br />

Corpuraçoes. E que diremos das muitas mais<br />

doaçoes particulares, que seajuntárSo ásReaes,<br />

para fundaçoes de Conventos eClausuras deum<br />

ou outro sexo ; para instituiçoes das chamadas<br />

Ordens Militares; para massas Abbaciaes eC^ol-<br />

legiaes, e outras varias grandezas ou superfluidades<br />

Ecclesiasticas, em quanto os mais necessarios<br />

Ministros do Altar, os do paslo espiritual,<br />

os Parochos, morriao á fome das suas mi-<br />

seraveis congruas, ou vivivao á força das suas<br />

escandalosas extorsoes.^ E por isso tambem, que<br />

Parochos, geralmente I Que Parochos com tal<br />

vida , ou tai morte !<br />

Mas nem essas muitas doaçoes Ecclesiasti-<br />

cas. que mais esmagárao a agricultura , forao as<br />

unicas que a opprimírSo. Jií o Senhor Conde<br />

(1 ) O Auctor desta M em oria a 4.*, inserida no m esmo T om . 2.*,<br />

Jevou oaccessit pela sua m a lc ria , que só m erecía pela sua íVaa-<br />

queza.


Henrique, ao principiar a Monarchia Portugueza,<br />

tinha principiado a doar com mâo larga aos<br />

principaes Francezes que o acumpanhàrâo, com<br />

mao armada, a tomar posse dos seus novos dominios;<br />

e o Senhor Rei D. AíToniío Hetiriques,<br />

pelos mesmos motivos da sua generosa gratidâo<br />

aos 8eus assignalacios serviços , fez ainda maio-<br />

res JiberalidaHes aos mesmos estrangeiros , cru-<br />

sados coni Inglezes e Aliemaes, cuja poderosa<br />

Armada, no seu transito para a Terra Santa,<br />

tanto o auxiiiou na famosa tomada de Lisboa.<br />

( 1 ) Todos OS mais seus Augustos successores,<br />

em quanto tiverào qua dar, derSo , ou por im-<br />

( 1) E litre as varias relaçÔ^s, que deste grande acontecim ento<br />

se achào nas M em orias a n tig a s, m e cingirai á mais verosím il do<br />

CUroniiita D u arte N unes de L e l o , cujo sum m ario é o segiiinte.<br />

= A rdendo o Senhor D . Affon«) H e n n q u e s, depois da tom ada de<br />

S antarem (d ella fallarei aTliante) de puxar as suas conquistas até<br />

ás costas do m ar, inciuindo neltas esta C a p ita l, proseguía o seu<br />

intento com senhorear-se dos seus arredores, a fim de encartar os<br />

recursos dos inim igos de quanto e'^tendesse osseus. T inha já inves*<br />

tido e tom ado o Castello de C intra , quando pondo*se uní d ia a<br />

observar dahi o m a r , divisou im provisam ente u m a poderosa Arm<br />

ad a de J 50 v é ia s. que dem andava- a terra ; de cu jo aspecto m uito<br />

m ara v ilh a d o , m andoucuidadosauiente f^aher o q u e e r a , e a q u e<br />

viiiha. R ecebendo a in lo n u a ^ lo de que e rlo uns H mil hom ens<br />

de forças com binadas d ’A llem anha , de França , e d 'liig late rra<br />

que , debaixo das ins’^n ias de C ru zad o s, ilo á Conqui


pulso da sua hondade , ou por sorpreza da sua<br />

boa fé; e assim, por um ou outro modo, quasl<br />

todo o seu Reino se aohou repartido por Donatarios<br />

escapando pouco aos últimos, Seculares,<br />

do que escapára aos primeiros, Eeclesiasticos.<br />

Porém, se essa ionga profusSo dedoaçôes terriloriaes,<br />

muito prejudicou á Coróa, eao Estado,<br />

pelos incdlculaveis rendimentos que Ihes tirou,<br />

muito mais projiidicou aos Povos, pelos intole-<br />

raveis gravames que Ihes accrescentou , cuja<br />

prova , bem adiantada no presente Capitulo ,<br />

concluirei no seguinte.<br />

c a p i t u l o V.<br />

JE^m que se conlinúa a materia antecedente, com<br />

nova relevancia das suas provas.<br />

A LGLNS Escritores dos nossos dias , como o<br />

Auctor da citada M em oria para a H istoria da<br />

Agricultura de Portugal ^ referindo se boamente<br />

apias tradÍQ^es Monachaes, ou a Chronicas adu-<br />

latorias , tem pretendido que as mencionadas<br />

doa^oes tioh/to produzido, no principio da Mo-<br />

t a l m odo apertárao todos a C idade , uns por m a r , outros por terr<br />

a , cjue a le n d é rjo em cinco mezes de cerco, a 25 d e O u tu b ro de<br />

I 1&8 ; sobre o q u e , querendo o vencerior repartir os m uitos despojos<br />

de)la pelos sftusatrxiliadóres, oreciisárSo bizarrai'nente; m as<br />

nSo se deixando o offerertte exceder em b río , brindou uns com ricos<br />

presente!?, proveo a.to d o s de abundantes refrescos; e aos que<br />

acceitárSo ficar no- P a iz . fez am pfas doa9oss de té rra s, das quaes,<br />

se diz , coubérSo A lm ad a , e V iila F r a n c a á in g le z e s , q u e se n a o<br />

d eclaiao; e A z a m b u ja , A rru d a , L o u rin h a , V illa V e rd e, a uns<br />

ChiW e Roiim , £). Lifcerche, D. I .i g e l , e otitros Francezes. '


iiarchia, grantlefl vantagens para a povoaqStr, e<br />

agricultura deste Reino , porque , diz este, vi'^<br />

vendo aínda os Monges (Benedictinos) em todo o<br />

rigor dos Irabalhos monásticos , como meros jo r-<br />

naleiros, so' se recolhiáo aos seus Mosteiros ñas<br />

horas do repouso, e orocáo, e o mais tempo em-<br />

pregaváo cm cultivar por suas proprias m áos, do<br />

que parece inferir que, luars semultiplicaváo os<br />

seus Mosteiros, mais se multiplicavSo os traba*<br />

]hos com que elles fundaváo Povoa^Óes e Fre~<br />

guezias para commodo dos Seculares, que poraU<br />

gum modo se aggregaváo ás suas lavouras, eda-<br />

h i conjecturar a causa, porque a Provincia do<br />

M inho veio a ser a mais povoada, e por conse-<br />

quencia a mais abundante. Com mais sS crítica<br />

o Auctor das f^ariedades sobre objectos relativos<br />

ás artes., etc. achando a causa da sua mesma<br />

maior popula^ao e cultura na sua melhor defeza<br />

natural, eprotecQiÍo militar, accrescenta, Tom.<br />

2. p. 2Cü; inas que nos contem maravilhas os Es^<br />

critores , que vivérao nlguns Seculos depois , so-<br />

bre o pretendido ísiado Jlorecente da nossa agricultura<br />

nesses tempos de m iseria, e nos que oacredi-^<br />

temos! Porém sem demorar-me aqui e»n um pon*<br />

lo nimiamente controverso para ser discutido j<br />

nSo posso deixar de observar J.* que , se t3o<br />

bem povoárao, e cullivárao Monges , por bons<br />

trabalhadores, as térras que se ihes derao, tanto<br />

melhor teriao cultivado Seculares, igualmen*<br />

te bous trabalhadores , as que se Ihes desaem;<br />

porque, a!em de serem os mesmos homens, ede<br />

terem as mesmas faculdades físicas , e intelie*<br />

ctuaes em um e outro estado, tinhSo no segundo<br />

sobre o primeiro o poder moral, que involve<br />

a vantagem política de reproduzir , e multipli-<br />

cer a sua especie pela sua classe, quando ; na


primeira, a falta daquelle poder diminuía a sua<br />

especie de quanto o celibato da sua classe di-<br />

miuuia a sua propagaçSo. Nao foi assim que<br />

cultivánio osFlamengos, quando convertêrao os<br />

seus selváticos bosques em araenissimos campos;<br />

náo foi assim que o fizerSo os Brabançcies,<br />

quando cobrirào os seus.estereis areaes deferti-<br />

lissimas searas, e muito menos os ílollandezes,<br />

quando, alargando os limites do seu dominio sobre<br />

o eenhorio dos seus mares, dosseus immundos<br />

charcos de reptis foruiárao nitidissimos vi-<br />

veiros de plantas e gados: e por esta diflferença<br />

dé cultivar, e povoar, que differença de culturas<br />

e povoacoHs?<br />

Observarei em segundo lugar que , se com<br />

efíeito promoverao os ditos Regularías , a favor<br />

dos Seculares, que por alr/iim modo seaggrtjaváo<br />

ás suas lavottras, os-commodos que Ihes querem<br />

attribuir seus panegiristas, no tempo do seu fervor,<br />

laboriosidade e uioderaçao , quanto mais<br />

merecessem «emelhante louvor por tal procedimento<br />

em tal tempo, tanto mais mereciaa vitu-<br />

j>prio , no da sua relaxaçâo, ociosidade, e am-<br />

bicrio pelos incommodos que ihes davao ; pois<br />

que, se o primeiro termo de uma progressào é<br />

effeclivamente o melhor , os seguintes devem<br />

ser tanto peiores quanto mais uà sua serie se<br />

aproximem ao extremo opposto ; mas que extremo!<br />

Cahe a penna da miìo, ofFusca-se o en-<br />

tendimento , irriti-se a imaginacao ao analisar<br />

e cotejar as intoleraveis raçoes de quintos, quarp<br />

tos até tercos, impr>stos nas colheitas daquelles<br />

beus aggrpgados, tornados seus foreiros , como<br />

se os seus foraes Ihus fizessem chover do Ceo<br />

para os seus campos, sem mais trabalho que o<br />


que algum día cbovia aos israelitas nos deser*<br />

tos do seu transito para a Terra de Promissâo,<br />

e por cima pitanças, e alcavalas de toda a sor»<br />

te , como se o seu apanlio fosse de ninho de guincho<br />

, onde ha de tudo, e para tudo; e por cima<br />

servidos, e tarefas de todo o lote, como se os<br />

seus Colonos fossem os seus escravos sujeitos a<br />

todos os seus encargos, e proprios a todo oaeu<br />

mister; de cujos excessos Iranscreverei aqui aU<br />

guns exemplos, tirados da excellente Memoria<br />

de JoSo Pedro Ribeiro sobre os inconvenientes e<br />

vantaqens dos P razos, etc. inserida no 7.® Tomo<br />

da mencionada Collecçao da Academia Real das<br />

Sciencias , sem necessidade de notar , por ser<br />

assaz notavel de por si , a monstruosa mistura<br />

das suas imposiçôes ernphiteiiticas com as de fo ^<br />

t'ües.<br />

1.® exemploy do mez d'^ibril, e E ra de 1367.<br />

« Que dedes em cada hum anno aoMonstei-<br />

» ro e por cabedal 3 moyos e 1 quarteiro de<br />

» pam segundo feitos por teiga «esta , e dardes<br />

» 5 teigas de trigo, e dardes stivadamente tres<br />

»? moyos de vinho feitos; e dardes de comer ao<br />

que for midir ; e dardes por direítura huma<br />

« espadua de porco de costas e hum bra-<br />

» gal , 2 capóes , 20 ovos, I cabrito , 1 meio<br />

» alqueire de nianteiga e duas freamas, I por-<br />

» covivo, l carneiro vivo, tres soldos de pam,<br />

» I almude de vinho por serviço; e dardes por<br />

línho e por promissa 6 soldos , 9 dinheiros de<br />

?} luitosa, 6 soldos de colheita d’ElRei, e adu-<br />

}i zerdes os dereitos aoMonsteiro, e dardes gei-<br />

íj ra de cada doniaa, etc.<br />

Tmn. I. M


O 2.' , de 31 de J u lh o , e E ra de 1387,<br />

33 De todolos fruitos, e novos, e de todalas<br />

}i oulras cousas, que Déos der no dito Casal,<br />

« o quinto : e de mais todolos foros que nos<br />

» sempre ouvemos do dito Casal, edemais hura<br />

« sexteiro de trigo mourisco, 1 spadoa de por-<br />

}t co de nove costas em dia de Natal. Itera hu-<br />

« raa déla de leite cscurrudo , e 1 fazedura de<br />

» nianteiga em dia de Fascoa. Em cima deJVFa-<br />

t> yo i alqueire de farinha amassada com huma<br />

if tegelada, e com cinco ovos, e a dita tegelada<br />

TI ser de codeas. Em dia de SSo Miguel de Se-<br />

? tembro 2 alqueires de trigo Mourisco , e J ca*<br />

» páto, e 10 ovos.<br />

O 3.' y de A b ril, e E ra de J390.<br />

Daredes 10 quarteiros de milho feitos por<br />

« rasoeira , 5 teigas de centeio, 3 teigas de trigo,<br />

»> teiga de escrivaninha , 12 puíjaes de vinho<br />

feitos por quarta do Porto, que corria antes<br />

u da rabalva, 2 capóes , 4 galinhas , 20 ovos,<br />

meyo alqueire de manteiga , carneiro vivo,<br />

>7 carneiro morto, com 5 soldos de pam, pé de<br />

» porco com 2 soldos de pam , bragal, spadoa,<br />

9f marrara , cabrito , 20 homens cada anno de<br />

77 geira, esterco, e palha como de costume.<br />

O 4.", de & de Janeiro^ e E ra de 1460,<br />

» Daredes servido de Maio, e colheita del-<br />

7> R ei, e luitosa de cada pessoa o milhor sinal<br />

que ouverdes , e em cada hum anno 1 pu9al<br />

» de vinho, e 2 galinhas, e midirdes o campo<br />

» de talhorn de ter


ff Déos em elle der, e dardes 2 soidûs e um al><br />

fi roude de cevada ao ovençal , e nduzerdes o<br />

» pam , e a carne decaoavezes, e as outras cou-<br />

n sas dos outros lugares , cada que comprir ao<br />

» Convento, e ajudardes a fazer a nossa vinha<br />

ff de onega, e dardes a madeira e oesterco pa-<br />

» ra ella, cada que cumprir e ajudardes a fazer<br />

» a adega, e dardes a madeira e o colmo para<br />

» ella , cada que compridouro for , e dardes<br />

« serviço ao Prior como sempre foi de costume,<br />

»> e dardes todalas cousas que sempre desse ca*<br />

ff sal deram , e em cada hum aono por a feira<br />

fi do Advento e da Coresma á primeira pessoa<br />

dar 7 maravedís ; á 2.‘ 8 ; á 3/ 9, etc. Em<br />

uma palavra , tudo excogitârâo taes senhorios<br />

para amofìnar, despojar, ecativar seusforeiros;<br />

ora prohibindo-lhes levantar seus pâes das ei-<br />

ras, tirar seus vinhos, ou azeites dos lagares,<br />

antes da sua indeterminada parliçom ; ora im-<br />

pondo-lhes Eiradigas e Lagarndigas denSo menos<br />

onerosa prestaçâo, ora prevenindo que po-<br />

dessem ser julgados por outros Juizes que os<br />

da sua nomeaçâo, pelos terem na sua mâo; de-<br />

fendendo lhes encostar-se a qualquer poderoso,<br />

trazer as suas rendas, fazer*lhes algum serviço,<br />

para priva los da sua qualquer protecçrio ; ve-<br />

dando-lhes até o receberem os Sacramentos de<br />

oulra Freguezia que nSo fosse a dosseusCuras,<br />

para segurar os Dizimos


Tencionava concluir o m6u assumpto nes*<br />

te Capitulo , mostrando que o que referí<br />

mais particularmente aos Mosteiros , e Conventos<br />

se refere igualmente ás Cathedraes e<br />

Collegiadas , aos Bispos Diocesanos , aos Mes-<br />

tres das Ordens, e a todos os mais altos ou bai-<br />

xos Donatarios, Ecclesiasticos , ou Seculares;<br />

de jurisdicçSo, ou sem ella; Fidaigos de maior<br />

ou menor solar , senhores ou nSo de baraço e<br />

cutélo , de pendáo e caldeira , que tem Colonos,<br />

eq u e, porque todos juntos nas suas doa^<br />

çôes abarcárao no seu dominio a universalidad^<br />

das terras do Reino, e prepotentes pelo seu monopolio,<br />

naocontratársío pensoes jutita& cora seus<br />

foreiros, maa forçârâo-lhas iiiiquas, fizerao com-<br />

elles sociedades leoninas, em que,<br />

Sans la moindre façon nos seigneurs, les, lions,<br />

Prirent ainsi leurs parts sur celles des moutons,<br />

com a mesma sem ceremonia todos os seus<br />

foraes devem ser apanhados na mesma rede var-<br />

redoura, todos cortados com ame&ma fouce ro-<br />

çadoura , e reduzidos aos termos de razSo declarados<br />

retro, termos que sao os únicos fiado-<br />

dores dos justos interesses dos Lavradores , e<br />

únicos promotores dos seguros progressos da<br />

agricultura, principal base da felicidade dos Povos,<br />

e da prosperidade do Estado, l’orém, ao<br />

desempenhar o meu intento , se me apresentou<br />

uma Obra moderna , cujo Auctor , Membro e<br />

Chronista geral da sua Ordem Monachal , se<br />

persuade ter defendido os foraes do seu poderoso<br />

Mosteiro tao victoriosamente, que me nSo<br />

pude abster de abbreviar a materia deste Capi"<br />

tulo paraampliaradoseguinte, emrefutaçSo dos<br />

seus argumentos»


CAPITULO VL<br />

E m (jue se examináo analitica e criticamente o»<br />

argumentos apologéticos dos Foraes de que se<br />

tra ta , deduzidos na citada O bra, intitulada =¡<br />

Historia Chronologica, Critica, do Real Mos-<br />

teiro (le Alcoba^a , da CongregacSo Cister-<br />

cience, para servir de continua9ao á Alcoba«<br />

9a lllustrada, etc.<br />

S^AHio á luz, em 1827 , esta célebreproduc


àlhos do cam po, que a sania regra Ihe exig ía ,<br />

parece inferir dahi corno conseqiiencia , o que<br />

accrescenta corno historico, que, apenas chega^<br />

dos ao berço da sua fundaçao, tralárao com tal<br />

fe rv o r , e diligencia dehaver pelo trabalho das suas<br />

màos oque era necessario para manter-se nos seus<br />

desertos, que em quarenta e tanto annos consegui-<br />

rào desbravar a ll um a legoa em distancia do seu<br />

Mosteiro.<br />

Para melhor refutaçâo deste artigo, dividin-<br />

do'o em 2 , mostrarei no J.° que nem tSo fraco<br />

era tal pai corno o faz tal filho, nem tâo fortes<br />

erâo taes fundadores, que podessem desbravar<br />

taes desertos ; e no 2.* que nao havia laes desertos<br />

a desbravar.<br />

£Im 1.° lugar, e quanto á 1.‘ parte do 1." artigo,<br />

nâo era tSo débil S. Bernardo para os trabalhos<br />

do campo como o faz oChronista da sua<br />

ordem; pois que, o Padre Adriao Baillet, que<br />

se préza de ter escrito as vidas dos Santos sobre<br />

o que nos ftea de mais authentieo , e m ais seguro<br />

das suas Historias , e nada é parco de louvores<br />

para o de que se trata , diz q u e , com eíTeito, no<br />

tempo do seu noviciado, fo r a abrigado a obedecer<br />

ao seu Abbade (de Cister) q u e, vendo a delicadeza<br />

doseu tem peram ento, Ihe prohibirá ir á eeifa dos<br />

pâes com os mais irm âos, e Ihe trocara este duro<br />

trabalho p o r oulro menos penoso ; mas logo accrescenta<br />

que o pesar que disso teve o fe z rtcor^<br />

rer a D éos, pedindo-lhe forças p ara nao 1er mais<br />

a confusao de ser delles distinguido por indulgencia<br />

algum a; no que fo i táo plenamente attendido<br />

que no anno seguinte o vírao com admiraçâo exceder<br />

os mais pela sua actividade na mesma cei-<br />

f a : que quando se ackavao occupadas em alguma<br />

ia reja , em que se nâo podia metter p o r menos ha-


èî7, ou menos p ra tico, compensava esta fa lta cavando<br />

a terra , cortando lenha, carregando^ com<br />

ella ás costas , e fazendo sempre ou cousas tâo penosas<br />

como qualquer outro ^ aum ais baxxas ^ afim<br />

de supprir aoque fosse m ais laborioso pelo que era<br />

inais humilde.<br />

Quanto á 2.“ parte do artigo , relativo aos<br />

desertas desbravados y o mesmo Baillet, fallando<br />

da maneira com que o mesmo Santo fundouCJa-<br />

raval, que de filial de Cister veio a ser cabeça<br />

de toda a Ordem Cisterciense, diz que sahindo<br />

elle de cruz alçada, cora 12 discípulos, representando<br />

o Apostolado, conforme o costume desse<br />

tempo, andou primeiro vagueando ao Deos dará<br />

, sem destino de lugar fixo para seu estabe-<br />

lecímento , até que dando no Valle do Absintho,<br />

sito entre dous montes do Bispado de Langres,<br />

o escolheo para assento do seu Mosteiro , pelo<br />

seu retiro mais deserto ; mas assim mesmo nSo<br />

tâo deserto que nSo tivesse habitantes, e habitantes<br />

caritativos , que, tocados da fadiga cora<br />

que o dito Santo , e seus companheiros, a des-<br />

peito da sua pobreza, principiárSo a cortar, e<br />

falquear madeiras, que havia bastas , para construir<br />

suas celias, com seu oratorio, os assislirSo<br />

das suas esmolas , e ajudáráo dos seus braços<br />

n'uma empreza, que aliàs Ihes teria sido inexe-<br />

quivel j tanto assim que tendo depois ido o mesmo<br />

Santo receber a bençâo do Bispo de Cha-<br />

lons, achou 5 na sua volta, a sua pequeña Com-<br />

munidade reduzida ao ultimo desalentó e miseria,<br />

por se ter esfriado na sua ausencia a cari-<br />

dade dos devotos, que a sua presença, e suas<br />

virtudes affervoravâo ; e posto que, conlinúa o<br />

Historiador, posto que foi Deos servido favorecer<br />

o seu Servo de muitos soccorros ineepera-


dos para os seus Monges, como estes soccorros<br />

náo erao certos, nera regulares, Ihes n^o impe-<br />

díráo de descorçoar muitas vezes , ao ponto de<br />

formar a resoluçSo de abandonar um estabeieci-<br />

mento tao austero , e tSo pobre, para voltar a<br />

Cister; resoluçâo de que nSío cessou de recor-<br />

rer a Déos pelas suas oraçôes , e aos mais decididos<br />

departido pelas suasadmoestaçôes , mas<br />

deque nada teria bastado para seus fins, se nâo<br />

tornasse juntamente a resokiçâo de os n3o obri-<br />

gar a «ma disciplina tao rigorosa como a que<br />

elle observava , e principalmente se ihe nao<br />

viesse como do Ceo um donativo de dinheiro<br />

táo extraordinario , que bastou para sustentar<br />

toda a Communidade , até que ella podesse<br />

ganba-lo pelos trabalhos ruraes dos seus membros.<br />

Sobre o que occorrem as diias bera obvias re-<br />

flexoes seguintes.<br />

1.* O que náo pudéra fazer tamanho Santo<br />

n’uns desertes tSo pouco desertes , como o fa-<br />

riâo peccadores em outros tao ermos que pre-<br />

ijisassem até de desbravarse? E 2 * os magníficos<br />

elogios que tem feito o nosso Chronista, e<br />

mais Chronistas da sua Ordera ao seu Augusto<br />

Fundador, pelas suas grandiosas doaçôes, como<br />

poderiáo fazer ihos se as suas liberalidades sere-<br />

duzissem a taes desertes bravios.?<br />

Mas nem taes desertes havia , n«m podia<br />

have-los nos pertendidos campos das suas jiroe-<br />

zas monachaes. O Senhor Joao Pedro Ribeiro,<br />

que juntou a tantos merecimentos litlerarios o<br />

de tirar muitas nevoas á idiota credulidade de<br />

inuilas fabulas, historiadas nas nossas rançosas<br />

Chronicas, tirou-me tambem o trabalho de convencer<br />

a falsidade de semelhante supposiçSo.<br />

Nas sapientissimas reflexdes que fez sobre a


materia sujeita, naXVI* das snasDissertaçoes,<br />

publicadas em 1829 pela Academia Real das<br />

Sciencias (Tom. IV. Part. 11/) apurando os textos<br />

, e acarando o sentido das Doaçôes feítas<br />

aos Cistercienses de Alcobaça, oppoem os mais<br />

irrefragaveis testemunhos a's mais vâs conjecturas<br />

de que as (erras dos seus coutos se achassem<br />

desertas e despovoadas, nos tempos da fiin-<br />

daç3p do seu Moeteiro. E como , e quando o<br />

leriSo sido.? Os Rojnanos, que longo tempo li-<br />

nhiïo occüpado as Mespanhas, tinIjSo promovido<br />

a agricultura em todas as suas parles. Os<br />

Godos, que llies succederiïo , por mais relaxados<br />

que fossem . o niïo seriâa tanto que apa-<br />

gassem todos os vestigios das suas bemfVitorias,<br />

porque nisso destruiriiio lodas as fontes da sua<br />

subsistencia, attentariSo á sua propria existencia<br />

Os Arabes (I) que depois invadirlo a Pe-<br />

mnsula , os Mouros , e mais Tribus da Africa<br />

que vierao atraz delles, toriiarao se aqui os Povos<br />

mais industriosos e esclarecidos di> mundo,<br />

como se verá adiante : e como se poderia sup*<br />

pôr, ainda que o contrario se riiîo provasse, que<br />

taes Povos deixas^ein de cultivar o que achassem<br />

de inculto nos dominios da sua invasâo,<br />

tornados ch;ìos do seu patrimon-io , inaiuinciaes<br />

das suas riquezas, thealros das suas luzes ? Sobre<br />

tudo, corno poderia o Conde Henrique, nes-<br />

(1 ) Ü S Arab«s que tnvadirào a H'-spaiiha (liiz o citado A uctor)<br />

nà'ierào qnaes «;e siippòetu or«linariamet>te , corno os actaaes<br />

Africanos Urna Naçâiv i>oÌi'la nSo abusa dassiia-« vamagi-ns, por<br />

ìntt're'ìse nie^mo tilo abiisoti da sorte des vencidos. A Religiào e<br />

proprieda'ie nào forao atacadas; ficàrào subsistindo I^rf-jas, Mos-<br />

le iro s. BiíípíH, em mnitas i'és, e se ceK-bfàrâoConcilios. Foi necessario<br />

(|ííe dons Bisjios, e uin Cond- Calliulico, Corlezàoô. fus-<br />

sem a causa de contar a llefj'aiilja Martyres debaixo do seu yo-<br />

verix».<br />

Tom. L N


sa supposîçâo, sustentar, e aiargar as suas tloa-<br />

çoes nupciaes? Cotiio podí^ria spu filho, o Grande<br />

Ad’onso Henri'jues , levantar exeicitos , e<br />

apromptar recursos para ir conibater e vencer 03<br />

chamados cinco Reís IVloiiros , nos campos de<br />

Oiirique: correr e recorrer com elles de uma<br />

para outra Provincia, tomar Sanlarein , l-isboa,<br />

a maior parte do Reino, e em toda aparte achar<br />

iiiantimentos, despojos, anquezas? Finalmen-<br />

le, que seria feito repenlinamente dos hai)ilar»-<br />

les do Paiz naluraes, ou naluralisados , Íncolas<br />

ou adventicios, e principalmente dos M iisara-<br />

hes ( 1) que fundidos , ou confundidos com gentes<br />

de todas as castas, eSeitas, formavao aquellas<br />

povoaçoes indusiriosas , e forneci.lo estes<br />

abundantes mantimentos, e valiosas prezas?<br />

Pelos fundamentos que t^ve o novoChronis-<br />

tí» de Alcobaca de erinar os circuitos do seu<br />

Mosteiro, que queria desbravar pelos seus furi-<br />

dadores, póde julgar-se dos qi.-e teria de mani-<br />

nhar os mais sitios das suas doaçoes, para igualmente<br />

attribuir as suas primeiras roteaçües e<br />

culturas aos primeiros sef/uidores da sua regra,<br />

que, a seu dizer, pag. 4 , só Linhao figura hu>na-<br />

tia , e em todo o mais erâo A tjo s^ tao sobrios, e<br />

frugaes no seu sustento que, conlenlaiidose eom<br />

p a o , horlaliças, elegiimes para si, só procuravao<br />

obler cousas mclhores , e rnais substaaciaes. para<br />

regalar os innumeraveis hospedes eperegriiios gue,<br />

de toda aparte acudiáo ao seu Mostciro (pag.35),<br />

dentro de cujos nutres até linhSo u:ï: Hospital,<br />

(1) Por Mnsarahes, [jnlavra di-rivada por comi¡>güo e synco-<br />

das Latiiias = J\¡ixti .JraOes:^ se eiilftndiao os muilos Cluis*<br />

laos, que viviáo eni me!o dos mais numerosos dissidentes de valias<br />

Seitaa e castas, senio livres de observar a sua JRelìgiào, oom<br />

tanto que nao ènteii'Jessera co¡n a dominante.


em que tratavao como enfertneiros , e curavao<br />

como medicos os pobres doentes , nSo só dos<br />

seus coutos, mas de todo o Reino, (pag. 46)<br />

Estas graciosas asserçoes poderiâo desmen-<br />

íir-se só por graciosas negaçdes.; mas para juntar<br />

mais algumas provas ás que JK dei da insub-<br />

sistencia dos seus fundamentos , as tirarei das<br />

proprias palavras do Chronista, pag. 13 da sua<br />

Obra , onde diz que , conjeclurnr gue naquelks<br />

affortuiiados tempos hasíaria nomear qualquer M on-<br />

je para se fic a r enlcndendo que era um varao se~<br />

guidar do cuminho cslreüo ^ cíe. , induziria no pe^<br />

rigo de se dar lauvores de soniidade a este , ou<br />

aquelle que os náo merecessem , de cujas excep-<br />

çôes apontarido alguns casos , em que nao era<br />

de esperar^se alargasse tanto , os desculpa, di-<br />

zefído = o que nao adm ira , vista a froqueza hum<br />

ana ; ernais abaixo, descobre até aleveza das<br />

suas primeiras conjecturas, confessando que nada<br />

era fá c il discernir, em tal distancia detempos^<br />

e escassez de noticias, que bem pouvas daquella era<br />

chegárao ale'7ws. Sobre oque, só farei o seguiate<br />

argumento.<br />

As proezas agricolas , que o Chronista attribue<br />

áquelles seus primeiros Monjes, nfio tem<br />

mais fundamento do que as santidades angélicas<br />

que Ihes suppoem , visto o perrgo que elle<br />

mesmo acautela da sua nimia credulidade , e<br />

vista especialmente a falla de noticias que confessa<br />

ter dos tempos a que as refere; logo, descontando<br />

o que nos seus ditos tom semblante<br />

de meras patranhas, pouco resta a acreditar de<br />

verdadeiras fa^anhas.<br />

Suppondo , com a mesma carencia de provas,<br />

(juo dos seus muitos Irabalhos campestres<br />

resuUarao muitas granjas e quintas , as deriío,<br />

N 2


cortlinüa elle (pa^. 37) por Carta de Forai, im -<br />

pondo aos seus Colonos , ou Coseiros, pur p n n ci-<br />

paes eondiçôeSy as de pagarem aquario do pâo, e<br />

legumes na cira; o mesmo dovinho no lagar, com<br />

tiinlo que fosse dns innhas plantadas pelos M on-<br />

jes , porque das plantadas de novo só pagariáo o<br />

quinto ; como tambem pagariáo o quarto do línho<br />

no eslendedouro j da azeitviia no olival, e o quinto<br />

do fru to das amores que houvessem d ep ja n ta r,<br />

concluindo dahi o muito que elles animavao a la-<br />

vouru , puis fa ziá o a ju s ta dijfercnça das térras<br />

cultivadas para as incultas ; e se a islo se aceres-<br />

centar (¡ve elles proviâo os JLavradorvs de instru-<br />

7nentos , e utensilios necessarios , adtaiUando sc~<br />

mentes , adminiUrundo-ihes gratuitamente os Sacramentos<br />

^ acudindo-lhcs com todo o preciso nas<br />

suas necessidadcs , so quem estiver cegó os trata-<br />

rú por oppressores y e tmmigos daqucUcs Povos.,<br />

uo que muito nos conia o Chronisla tle Alcoba-<br />

•:a , ¡>orein vai>se amostrar q u e tudo qunnto conta<br />

niïo passa de ijm conto.<br />

Pelo que respeiía aos quartos e quintos que<br />

defende, muito mais cego é do que seus impugnadores,<br />

no Ogurar (al animaçào da lavoura por<br />

taes impostos nos seus productos brutos. Para<br />

curar-se da propria cegueira , basta .que lance<br />

OS olhos sobie os seus prod4ictos liquides, adiados<br />

retri) pjig. 50, j>ois nelles vera que nem se-<br />

ijuer chegào estes para aqueiles. Li como fiO-<br />

di/ïo iinpor-se se niïo podiào pagar se? I'j muito<br />

jnenos animar por ellt^s a lrab:d!iar quem tives-<br />

se de paga-los dos frutos des seus trabalíios?<br />

Para tacs traba!liadures v que s e nào póde duvidar<br />

forçosa a sobria frngalitlade, que seduvidou<br />

voluntaria para taes Senliorios. i\1as estes, tal-<br />

vpz , é que seriiîo os hospedes e peregrinos re*


gülaâos Chm cousas m eìhores, erìicts suhsiaiîciûes,<br />

e aquelles os mortìjicados eom pao , iegvrues e<br />

hortalizas ; scudo assim o facto cerio, será a dúvida<br />

em pouco, só na equi\ocaçâo dos nomes.<br />

Quanto aos iììstrumentos e ufeusiliosy de qua<br />

()iz proviào OS seus Lavradcrcs , as sementes que<br />

ihes ridiantavao, os snccorros com que Ihes ncudiao<br />

em lado 0 preciso y sao mais de presumir taes na-<br />

cessidades do que laes supprimenlos dessa pobre<br />

gente; mas se com eiTeito os honve, a que<br />

nSo cliegaria a sua miseria, quando cessou a sua<br />

presJaçao sem cessarem as suad precisòesi Nâo<br />

teriao elles entSo, ao menos entao, outros motivos<br />

que os da sua cegueira para tratarem seus<br />

JMonjes pur stus oppressorcs e inimiijos ? E de<br />

mais, que provas dá elle dessa sua antiga generosidad«<br />

para os seus amigos Lavradores, senao<br />

a fé da sua palavra ? IVIas esta palavra, já tantas<br />

vezes desmentida , aló pela contraposiçSo<br />

dos seus fundanieiitos , ainda a desmente mais<br />

urna vez j^rla incoherencia dos seus ditos , ao<br />

monos n’um ponto , que (orna os mais suspei*<br />

los, vindo a ser este ponto o de adm inùlrarem<br />

elles (jvaluilcímcnle os Sucramenlos ^ que passo a<br />

resolver.<br />

Os Diziinos, de que modo que fossem instituidos<br />

nos Paizes Catholicos, forao sempre considerados<br />

tomo a base principal da manutençSo<br />

dò seu culto , náo pelo seu producto haver de<br />

yppiicar-se í'.'-seL'cialmente aoseu suslento, mas<br />

{)('lo seu siistenlo saliir primariamente do seu<br />

prodnclo, ilcniíe llie velo a denominaçâo de Ec-<br />

ciesiasticos ; sobre o que, apropositarei oseguin-<br />

te argumento.<br />

Arroga-se o Auctor da Historia Chronologica,<br />

pag. 44 da sua Obra, isto é, arroga aos seus


Cistercitínces, porantiga posse, por Bullas Pontificias,<br />

por privjl»^gios especiaes, todo o direito<br />

:i todüs aquelies diziinos (ios seus bens, que diz<br />

Jhes forao doadus , e suppoz roteados por elles,<br />

ou ií suci cuüta : arroga-se , alem do que diz,<br />

uíii tanto Ae Iriiji) par Cíisaria ^ galinha p o r forjo<br />

dos seus Colonos, e até banaes, ainda pertendi-<br />

dos depois de abolidos : eni uma palavra, tudo<br />

quer o Chronisla obrigado ao sen Mosteiro, e<br />

nada de obri^a


(es aos sens Foraes , tratamento de que tanto<br />

se queixa, e t/ìo pouco se justifica.<br />

Acabo com tudo esie Capitulo, que teria sido<br />

multo mais estense, ge nello livesse notado<br />

quanto achei de nolavel na Obra que conunen-<br />

tei, prot**8itando quo aquella paixao cjue anima<br />

seu auctor contra quem eegue as irinhas opi-<br />

nioe^g, me nSo anin>on, amim, na refuta^iío das<br />

SU3S. O verdadeiro liberal , para ser coherente<br />

coin o sentido do seu nome , procura sempre<br />

adorar , e nAo azedar os seus adversarios ; ga-<br />

nlinr para calivar a sua vontade, convencer para<br />

render o seu animo; em uma palavra, recti-<br />

íirar os seus erros, sem offender osen melindre,<br />

íí’ ;ís vezes mui difficil attender, quanto se deve<br />

, Á (Vaqueza de jcuzo rie uns , á for^a das<br />

preoccupacoes , ou dos hábitos de outros, que<br />

iodos rnerecem indulgencia , porque lodos cau-<br />

síio iliusoes , e iílusoes tanto mais invenciveis<br />

quanto mais toc3o ao interesse cu amor proprio<br />

de cada um ; mas se nSo fiz quanto me propuz,<br />

fiz o que pude para defender a causa do interesse<br />

público sern atacar a do interesse particular,<br />

daquelle particular que, quando é bem entendido,<br />

e bem regulado , marcha sempre a par do<br />

piihlico ; e quando o nSo acompanhe Jogo , o<br />

segue de Ino perto que , o passo que Ihe dé,<br />

mullo bem ihe está dado. Porém rem somente<br />

os gravantes particulares , mas tambem os públicos<br />

prejudicao áquella causa geral , quando<br />

carregáo nos productos brutos da agricultura;<br />

pt4o que, coherente com os principios do meu<br />

sysloina, conlinuarei o desenvolvimento da mi-<br />

riha prova pelo desenvolvimiento destee prejui*<br />

zos, materia do Capitulo seguinle.


CAPITCLO VII.<br />

E m q iie oprava já dada retrò deim plicnr npros-<br />

peridnde da aijricuUnra com a subsistencia dus<br />

seus j á notados encargos particulares, se torna<br />

agora mais luminosa pela demonstrando da sua<br />

mesma implicancia coìn a conserva^:ào dos di'<br />

simos , e juc/adas , ou outros quaesijuer «c-<br />

melUanles impostos públicos ito seu producto<br />

bruto.<br />

1- RESCINDÏNDO (la origpm (]os Dizimos na Lei<br />

judaica, só direi que asna insliluií^fío na Lei<br />

nova parece derivar-se do offerecimenlo voluntario<br />

que, no Seculo VI, fizer/ìo os (ìeis de certa<br />

porcao do seu rendimento para congrua sus*<br />

tentaçâo dos Parochos, em su])priniento das Obla-<br />

çôes tambera voluntarias, com que at


que Iiouve em consolida-los naquelle Reino, pelos<br />

grandes estragos que jíí os Povos nelles ex-<br />

penmentavao, ou delles previäo.<br />

Na Inglaterra, onde os mais animadores fomentos<br />

elevarlo a agricultura ao mais sublime<br />

gráo, e a fixaçSo do seu imposto territorial de-<br />

serabaraçou os seus productos de mais encargos<br />

liscaes; onde os grandes proprietarios, por incli-<br />

liaçàio de genio , como por força de exemplo,<br />

encarao a agricultura com a dignidade que Ihe<br />

compete de uma das mais nobres profissoes, e<br />

folgao de viver a maior parte do anno nas suas<br />

herdades , presidir aos seus Irabalhos , cotejar<br />

as suas despezas, apurar os seus lucros; e accomodando<br />

as suas precisoes aos generös da sua<br />

produccao, empregao as suas economías no augmento<br />

das suas lavras ; onde a maior cultura<br />

dos pastos naturaes e arliticiaes généralisa a<br />

maior crIacSo dos gados , os gados fornecem<br />

maior copia deestrumes, osestrun


gravames, em prova do que basta tornar a citar<br />

aqui o irrefragavel testemunlio que j;i citei<br />

á pag. IS2 do 1." Tomo das minhas Vuzes das<br />

Leaes Porluguezes, testemunho do seu niais sabio<br />

agronomo, mais curioso indagador dos seus<br />

productos , mais acreditado avaliador dos seus<br />

achados, (.estemunlio do celebre Arthur Yóung,<br />

que, depois de correr, a penna na míio, quatro<br />

inií milhas da sua I’atria, examinando, ponderando,<br />

calcuiando tudo, rematava as suas ob-<br />

servacOes pela seguinle relaçâo do seu resultado.<br />

j} O Dizimo é a especie de contribuicío a<br />

j? mais onerosa , que ficasse na agricultura da<br />

>i Gran-Bretanha. Essa imposi^fto sobrecarrega<br />

« de tal modo a cultura das térras que, se fos-<br />

« se geralmente cobrada em especie, levaria o<br />

j» desalentó aos campos ao ponto alé de anni-<br />

» quilar toda a idèa de bemfeitorías. Felizmen-<br />

}> te o nosso Clero pensa mui nobremente , e<br />

está nimiamente longe do espirito de um sor-<br />

>} dido interesse para viver em estado de guerci<br />

ra com seus freguezes, como succede eflectl-<br />

» vamente nos différentes sitios onde ávidos Di-<br />

57 zimeiros vem cobrar esta contribuiçao sobre<br />

}) as colheitas. Coni tudo, ha ainda varias Fre-<br />

» guezias , onde os Dizimos se exigem cm es-<br />

» pecie; mas affouto-me a dizer que a cultura<br />

das térras , longe de prosperar , acha se em<br />

tal estado de languidez, e abatimento, que é<br />

» fácil adivinhar que oseu cultivador se nega ás<br />

emprezas que poderiSo torna-la fiorente. Devo<br />

« outrosìm observar que nas muitas viagens que<br />

» fiz em Inglaterra , para tomar um conheci-<br />

» mento exacto do estado da sua agricultura,<br />

it nunca vi, nas parles onde os Dizimos se exi-


j> gem do producto bruto, que a cuUura tives-<br />

» se ahi este semblante de vida, que anriuncia<br />

» a abastança geral. Estava pelo contrario co-<br />

îj rao maniatada, e incapaz do menor desenvol-<br />

)j vimento. Nao é necessario metter se em lon-<br />

» gos cálculos para convencer-se deque o Dizi-<br />

» roe em especie ha de tender sempre á de-<br />

I» gradaçiïo das térras. A rcgfneraçiïo , e os<br />

)> progressos da agricultura ingleza sao certa-<br />

» mente devidos a que uma parte do Reino é<br />

isenta de pagar Dizimos , e nas partes onde<br />

nSo ha esta isençSo , lem quasi todos os di-<br />

» zimadores acceitado uma composiçSo razoa-<br />

» vel, ft muilo menos onerosa aos cultivadores.<br />

Os Dizimes fazem talvez mais estrago eiii<br />

Portugal, (I) e díio menos proveito do que em ou*<br />

ira qualquer parte da Europa , pela diversidade<br />

da Eua imposiçfïo, pola variedade da sua appli*<br />

caçîio, e pela forma da soa cobrança. Quanto<br />

á diversidivde da sua imposi(^2LO , é tal a diíTe-<br />

rença do eííectivo ao signiíÍcütivo da sua laxa<br />

que chega de uma quinta a uma sexagésima<br />

parte dos fructos sujeitos á sua exacçao, sendo<br />

do primeiro termo os que se exigem em cortos<br />

Dislrictos para certas Commendas de Malta, e<br />

do ultimo os regulados pela constituiçiïo do Ar-<br />

cebispo Primaz de Braga , mencionada á pag,<br />

JOO do 1.* Tomo da minha Obra = l^ozes dos<br />

heaes Porluguczes, e havendo entre estes extremos<br />

muitos intermedios variaveis ilesde o,^ »nais<br />

ordinario , até o ¿ ¿ , e mesmo o mais raros,<br />

oomo declara iVlanoel d’Almeida de Sousa , o<br />

(1 ) J á íin h a redigiJo n m ateria destfe C apitu lo , quando vi o<br />

P ecreto du sua abol.çâo, e j’or i'so accresceiitei a J ia n te , n o C a p .<br />

XXJ. u in a nota sobre isso , que terla aqoi lido m elhor cabi*<br />

rnento.<br />

0 2


Lohâo, nas suas Dissertaçôes sobre os mesmos D i'<br />

¡^imos.<br />

Quanto á distribuiçSo do seu producto , é<br />

pouco menos variada a sua applicaçiïo paraCor-<br />

poraçoes Seculares ou Regulares a titulo dos<br />

seus encargos pios, ou profanos ; para bens da<br />

Corôa e Ordens , principalmente Commendas;<br />

para juros de divida pública nas xîharaadas Col-<br />

lecias dos providos , e dos annos do morto , e<br />

outros muitos destinos que , quanto levSo nas<br />

suas doaçôes , tanto tiräo á porçSo dedicada<br />

aos verdadeiros Ministros do Altar.<br />

Quanto a forma da sua cobranza, ou se /az<br />

esta por conta dosseus proprietarios, entretrues<br />

á direcçâo dos seus Priostes j Prebendeiros, Procuradores<br />

, Sollicitadores, ou outros varios seus<br />

encarregados de varios nonies, ou por conta doa<br />

seus rendeiros , arrematantes do seu producto,<br />

e directores ou feitores da sua administracSo.<br />

No 1.* caso, que de escandalosas alterca(¿oes,<br />

de odiosos procedimentos , de interminaveis litigios<br />

para tirar apelle a quem recusa dar o vello<br />

, em que, quasi sempre , sahe mais tosquea-<br />

da ovelha que menos lem hi.' E em meio do<br />

tudo isso, que de despezas para caminhos, me-<br />

diijoesj recebimentos, transportais, arrecadaçoes,<br />

Fiéis , líscriturarios desta grangearia ! Que de<br />

depredaçoes nas especies, de desvios no destino,<br />

de desperdicios noemprego dos generös assim<br />

dizimados ! Uma máquina complicada de<br />

l3o diversas rodas, e rotaçoes , apparelhada a<br />

uma hydra de cabeças tâo desconformes , e bo^<br />

cas UÌO vorazes, que póde levar no seu anda*<br />

mento por liquido apuro do seu carreto?<br />

No 2.® caso o successo é ainda peior. Por<br />

uma parte, os rendeiros s3o contratadores, o^


contraíadores sSo especuladores, os especuladores<br />

querem ganhar \ os seus gaahos sfío o que mais<br />

sacilo aos Lavrad»res , mais por tanto os háo<br />

de vexar; por outra, os Lavradores querem viver,<br />

sustentar as suas familias, manier suas^<br />

lavouras; o niïo podem fazer contra aquelle ex-<br />

cesso de vexâmes, maiores hao de ser a sua força<br />

a resiistir-lhe, ou a sua astucia a escapar-lhe j<br />

maiores os estragos deste conflicto.<br />

Náo sao assim mesmo comparaveis esses estragos<br />

aos que fazem a imposicao, e arrecada-<br />

çâo da jugada , oii oitavo , pela multidao dos<br />

empregados na sua exacçSo, que tanto augmen-<br />

tao as despezas das suas diligencias; pela varie-<br />

dade de privilegios, e versatilidade deisençoes,<br />

que tantos azos díío á arbitrariedade dos sens<br />

pagamentos, principalmente desde a renovada<br />

arremataçiïo do seu contracto; pela indiscriçao,<br />

ou venalidade dosseus liscaes, que tanto favore-<br />

cem a ambiçao dos seus contratadores na parte<br />

em que se substiluio a cobrança do seu valor


ele lerreiros , separaçao ele griïo«, estada , ou<br />

saida de especies, com íncalculaveis embaraços ,<br />

incomniodos, prejuizos, dissabores ; alem decu-<br />

jos gravaines ordinarios dos Lavradores jugadei-<br />

ros, ou oilaveiros, ha oulros extraordinarios de<br />

denuncias, de tomadias, de multas, decondemna-<br />

çoes, que carregáo principalmente nos mais pobres<br />

, rústicos e desvalidos seareiros. Inexora-<br />

veis zangues accomettem com aspereza estas<br />

miseraveis abeilías , accusSo-as com dureza,<br />

í^xprobríio-lhes com injurias qualquer extravio<br />

feito ou ficticio do seu mel : estes mais debeis<br />

insectos estremecem, protestáo , conjuriío; nSo<br />

ha compaixâo que ihes vaiha, nSo ha razSo que<br />

os desculpe : a sua mesma necessidade prova o<br />

seu crime; por este crime perdem em um dia o<br />

irabalho de um anno, e querendo vivcr do seu<br />

producto, morrem por elle.<br />

Sendo a ju«;ada acima mencionada tâo noci*<br />

va á cultura do trigo, e milho, a que se refere,<br />

e mesmo á do iinho, a que diz igualmente<br />

respeito na proporçao do seu insigriiñcante pro»<br />

ducío, o é muito mais á do vinho a que Ihe é<br />

relativa, e se vai a mencionar, principalmente<br />

desde que, substituido o pagamento do seu valor<br />

á entrega da sua especie, se renovou a arrema-<br />

taçâo do seu contracto ; mas, para melhor in-<br />

lelligencia deste segundo ponto , convem dar<br />

alguma explicaçâo dosseus encargos; oque vou<br />

;i fazer, segundo mefor possivel desembrulha-Ios<br />

da confusao que os involve.<br />

A jugada, que a Carta de Lei de 25 de Mar-<br />

Ç0 de 1 776 compara ao oitavo, tem delie muitas<br />

diil'erenças notaveis pelo que respeita aos<br />

vinhos da Comarca de Santnrem.<br />

Nos 9 ramos onerados da sua imposiçao


8 differente# modos de atac.ir o genero de que<br />

se Irata; 3 diversas classes do sen producto su-<br />

jeitas a diversos tributos , e 3 diversos preçus<br />

estabelecidos para o seu pagamento.<br />

No chamado ramo de S. Cibríio aprehen-<br />

(le-se aqueÜe genero á-bica do logar, mede-se,<br />

ou avença-se o seu producto em mosto, e car-<br />

rega se )he a imposiçiïo no prorata de 1 por 8<br />

da sua monta, a que se arbitra uní preco privativo<br />

desta especie, que logo direi.<br />

Nos mais ramos, em geral , cada Lavrador<br />

faz a sua vindima, e seu vinho á sua vontade,<br />

6 recolliido seu producto nas suas vasilhas, reputa<br />

se cosido, e sujeito á imposiçâo de 1 por<br />

J-0 almutles do seu contendo , para cujo pagamento<br />

arbitra-se um preço menor , e outro<br />

maior, conforme o predicamento dosseus lotes,<br />

ou mais verdadeiramente, conforme os mais exóticos<br />

principios da sua lotaçâo, que tambem direi.<br />

Exceptua se dessa regra o vinho da Chamusca,<br />

assim chamado pelos seus donos terem<br />

ahi as suas adegas, ainda que Ihes venha o seu producto<br />

do termo deSantarem. Caícula-se este producto<br />

por dornas de uvas, reguladas por certo<br />

padrao , e fiscalisadas por modo particular, ecar-<br />

rega-se-lhe a imposiçiîo no prorata de i por 12<br />

almudes do seu mosto, aque se arbitra um preço<br />

que tambem direi.<br />

Trescindindo agora dos arrolamentos relativos<br />

á 1.* e 3.* classe , que com apparencia de<br />

mais simples se complicao ás vezes den-ais em»<br />

haraços e difilculdades, só fallarei do resp -ctivo<br />

á do meio , por 1er mais couhecimento da sua<br />

pratica.<br />

Acabada a vindima, é necesFario que os do-<br />

nos das adegas do seu recolhinieato esperem


pelo varejo dos seus arrematantes j varejo que,<br />

l>osto que marcado pela Lei, é sempre subordi*<br />

nado ao arbitrio dos seus executores , sem poder<br />

dispór de cousa alguma até cauto desta diligencia<br />

Apparecem íinaimenle , nao ao coro-<br />

modo dos vinhateiros , njas só quando querem<br />

os ditüs arrematantes , ou seus procuradores ,<br />

que, accomjianhados de uní chamado Escrivao,<br />

e urnas vezes sim, e outras nao, de um Almo-<br />

xarife, mandao imperiosa , e instantáneamente<br />

abrir portas ejanelias, tudo buscao, pesquiziio,<br />

iiidagao de viuho, ou surrapa; e sem bilola de<br />

jírandeza, nem regrá de proporçâo , tudo modem<br />

li sua vontade, sem distincçâo de lotes ou<br />

qualidades ; tudo arrollo a seu bel prazer ; no<br />

que, se mal vai a quem consente, peíor sahe a<br />

quem conteste , pelo silencio que impoem aos<br />

‘jueixosos do seu procedimentos, ou obstáculos<br />

que oppoem á reforma do seu louvamento.<br />

Acabados esses varejos dasadegas, que, como<br />

08 das eiras, flagelUo tanto mais os pobres la*<br />

vradores, quanto mais oa achao fracos na defeza<br />

dos seus açoites, segue o processo, o nefando<br />

processo da determinaçao do preço dos vi-<br />

lihos comprehendidos para pagamento das suas<br />

respectivas quotas snjeitas. As formalidades para<br />

isso fcâo simples , os meios luminosos , e os<br />

regulameritos positivos. Dous lavradores bons<br />

de cada Lugar , ou Villa , com approvaçào e<br />

assistencia dos seus companheiros , conft-rem ,<br />

consultào , deliberäo nobre o que virao, ou ou*<br />

\irao dos ajustes , ou vendas «leste genero nas<br />

b-uas respectivas povoaçûes, e levâo e apresen-<br />

tà ) o resultado das suas averiguaçôes a Cama»<br />

ra do seu Oistricto , cnjos vogaes , em Sessao<br />

¿./rgidida pelo seu Juiz de l'Vra, tem de confor-


snar-se a estas ÎDstrucçôes na combinaçâo , e<br />

determinammo de um preço geral , accomodado<br />

aomeio termo daquelles pailiculares. Eis o q u e<br />

se ha de fazej*, mas nâo o que se faz.<br />

A ntes da Camara apparelhar a sua deliberaçSo,<br />

tem os Arrematantes armado cdadas á sua vota-<br />

çâo, e firmes nasua resoluçâo de levar ávante os<br />

seus planos, oraescondendo-se solapadamente por<br />

detraz da coriina, ora apparecendo abertamen-<br />

te na scena, uns a sorprender os incautos, oulros<br />

a illaqiiear os cautos das suas manobras;<br />

tars volías )he dâo, taes subtilezas fazeoi, taes<br />

feitiçris usâo, que turvâo a vista aos vogaes, fi-<br />

gurâo-lhes o que nâo ha, até figurarem elles o<br />

que sâo, egoístas, venaes, traidores; em prova<br />

do que basta citar o ultimo arbitramento desse<br />

chamado pre


Conselhp da Fazenda, consistindo em que nos-<br />

Districlos que pareceo aas mesmos Arrematantes<br />

designar pelo nome d'Arneiros^ e reputar de<br />

nielhor producto , se idt*ntificasse seu preço ao<br />

àosB à irro s; determinaçSo esta em tudo i!legil,<br />

por'emanada inteiramente do puro arbiirio da-<br />

quelle Tribuìial*, e sem audiencia dos supplì*<br />

cados 5 que teriâo rax


fallar RO de-Chamusca, por ir compre-<br />

hendido no do campo para seu, respectivo eifei-<br />

to, para mostrar o mal ,que correspondçm esses<br />

preços das jugadas aos das ventlas das especies<br />

a fjue se, rrferem , darei aqui uma icl(5a<br />

goral destí s, que serviráo áqueiles de termos de<br />

comparaçâo.<br />

Ji.’ de notoriedade pública que o preço effe-<br />

clivo, por que se vnder5o geralmente osvinhoa<br />

sujeilos, fon^o, a saber:<br />

Os (io campo,,a que prouve aos dit< s Arre-<br />

malaules conservar sou nome, pelos preços de<br />

io até; Í2.000 rs, por pipa, cujo meio terno é o<br />

de i 1.000 rs. que correspondem a 423 poral-<br />

mude.<br />

Os que quizeriïo distinguir poE vinho de ^r-<br />

neiros y e se nSo distinguera sen«1o pela escassez<br />

da sua/colheita, o niesmo preço, ou talvez menor,<br />

pela maior pobreza dos seus Lavradores,<br />

que costuma pò^los era maior penuria doauten-<br />

silios necessarios a sua boa factura e conservaçao,<br />

e obriga-los n>&ìs apressadas vendas.<br />

< E’ tanibem de noloriedade pública, que os<br />

vinbos dos Lavradores dos Boirros , de pouco<br />

roelbor condiçfto que os dos A rneiros, se vn-<br />

denlo , pela maior parle, dei2 até J4.000 rs. a<br />

pipa, e se alguns subirlo a mais, outros descô-<br />

râo a menos, de sorte que mal póde reputar-se<br />

seu termo medio o tde 13.000 ditos por pipa,<br />

que correspondem a 500 rs. por almude; e isso<br />

sem fallar dos extremos comparaveis , que ndo<br />

compensariao a maior pela menor desproporçâo<br />

dos íeus termos.<br />

Aproximardo-se agora os referidos termos,<br />

acba se a sua differenza contra os Lavradores,<br />

p 2


e a favor dos Contratadores; isto é, a lesáo de<br />

UDS por outros, a saber:<br />

Quanto aos vinhos do Catnpo^ a que vai de<br />

>1.000 para 19.760 dito, é tle 8 760 dito por pipa<br />

, e de 876 ditos por excesso d e exacçâo.<br />

Quanto aos dos intitulados uirneiros , a que<br />

vai dos niesmos U.OOO dito para 25.740 ditos,<br />

e é de H.740 ditos por pipa , e de J.426 ditos<br />

por excesso de exacçao.<br />

Ë quanto iìnaiinente aos dos chamados 5ûiV-<br />

ros , a que vai de 1^3.000 dito para os mesmos<br />

25 7-íO ditos, e é de 12,740 dito por pfpa, e d e<br />

J-230 ditos por excedo de exacçâo. Ora, quando<br />

vai tanto em tsío pouco , que nâo irá em<br />

iDuito ? no muilo relativo ao tributo , e poueo<br />

relativo ao producto?<br />

AHegíio os Contraeladores que os Lavradores<br />

Ihes pagüo as quotas partes das suas imposi*<br />

çOes na forma da Lei , em cuja metade, dinhei-<br />

ro papel ^ soOfiem elles uní deseonlo que se Ibes<br />

deve resarcir por augmento do seu preço, Mas,<br />

em primeiro lugar , como fazem elles os pagamentos<br />

dos seus contractos , senSo da njcsma<br />

forma, porque recebem os dessas quotas partes<br />

? K se nada se Ihes desconla pela metade<br />

que dao, que se Ihes ha de descontar pela q«ue<br />

recebáo na uiesnia especie ? K muito menos<br />

porque , nem tai metade papel , que dâo por<br />

grosso, a recebera por miudo dos seus devedo*<br />

Fes; umas vezes porque a nâo tem, outras ve-<br />

zes porque se nâo ajusta ao seu pagamento»<br />

cm cujos casos nâo se esquecem de converter<br />

em seu beneficio a vantagem do seu credito-. E<br />

depois , justo que fosse aquelle pretextado re-<br />

sarcimento na sua exacta proporçâo , guhïo po-


deria se-Io com tâo ezorbitanle desproporçSa<br />

do pedido ao devido?<br />

Em 2.“ lugar , pelos frivolos pretextos que<br />

allegäo os dito« Contratadores pära elevar o seu<br />

chamado preço do meio a läo subido termo ,<br />

quäo solidas razôes nào teriäo os Lavradore» a<br />

allegar para abaixa-lo )>ara o extremo opposto!<br />

PoderiSo dizer que nem sempre vendeni seu<br />

dito producto a dinheiro melai , antes sào frequentes<br />

os casos dos seus compradores offere-<br />

cer-ihos, por elles, mais ou menos dinheiro papel<br />

, que sâo obrigados de acc@itar por necessi-<br />

tados de vender. PoderiSo dizer que nem este,<br />

nem outro qwalquer seu preço é livre para seu<br />

genero , mas ordinariamente cativo da sua me-<br />

diçâo y e seu transporte a mais ou menos distancia<br />

daseu embarque para Lisboa, cujas despezas<br />

lanto o embaratecem quanto mais avul-<br />

tâo. Poderiao dizer que muitos desperdicios ,<br />

continuas quebras, repetidos furtos, contiogen-<br />

tes ruinas , empates de vendas , fallencias de<br />

pagamentos ... mas alem do negocio de todos<br />

uäo ser o negocio de ninguem , porque ninguem<br />

quer tomar a si o negocio de todos, de que serviria<br />

a fraca voz dos Lavradores contra o forte<br />

brado dos Contratadores? (I) Pofém nSo só implica<br />

a prosperidade da agriculaura com taes<br />

impostos , pela multiplicidade dos seus grava-<br />

roes, repugnao outrosim com elles os seus progresses<br />

, pela indole da sua imposiçâo , como<br />

vou mostrar no Capitulo seguiute.<br />

(1 ) Di


C;!PITOLO VIII.<br />

Eyn .<br />

j A LGUNS PublicÍBÍas tem comparado' o direíío<br />

que íia de inipór qualquer tributo nos productos<br />

vegelaes d^ s futidos territoriaes ao que haja de<br />

impo-lo nos producios fabris dos fundos influs*<br />

Iriaes, e iíito'rxim bastante razSo de pívridade,<br />

poiá que, uns e outros. sito igualmente produLos<br />

affifií'iaes, e obtidos de diversos fur»dos por diversas<br />

arte?, artes e fundos qne s5o igualmei^e<br />

dos sens Arlificcs. Convencido pois dajustii^a<br />

do «eu parallelo, o aproveilani para o weu argumento,<br />

em qne, de aFia'ogas j remieisas tira*<br />

rei analoga« consequencias.<br />

Tin fabricadle de ren


petencia , cila por exemplo as molas, espiraee '<br />

düsrelogjos d’algibeira, exemplo tirado dps opu?*-.<br />

culos de Alcfuroti, em que este diz =s » 1 arra-<br />

»> tel de ferro bruto cu&ta , de primeira mSo ,<br />

»» cüusa de 5 soliius. Oeste ferr} n5o é tambem o valor da ferro que crescet»,,,<br />

>i mas- o do seu feitio pelo do seu trabaihQ.<br />

Ora, n’umcomo em outre exemplo, deveria coi«<br />

razào , equidade j .ou justiça-O-tributo pçnhorar<br />

taes productos eui proporçâo aa crescimeiilQ do><br />

seu vaior? Ë quae^j serico os artíceos que qui*<br />

zessem, e podessem ievar os seus artefaclos a<br />

tal gráa de acabaaieiilo , cqhv taes peuhoras do<br />

seu traballio e industria?<br />

Para com regra deaivalogia eslabeJecer a paridad«<br />

de principios e coosequencias desses ca*<br />

sos para o meu , supporci um terreno que de<br />

pouco valioso, por pouco rendoso do seu fundo,<br />

à força de industria no seu melhoramento, e de<br />

trabalho do seu cultivo, se tenUa tornado do or><br />

dinario em ex(raordina>io producto , tal por<br />

exemplo como os que concebe o sabio Auctor<br />

de In Matson des champs , ou M unuel du Cultivateur<br />

^ IVI. D. Pfiiigucr, á pag. 271 do I.’ Tomo<br />

desta excellente Obra , em que diz qiie a fe c u n -<br />

, didade do trigo, tm buma terra bern preparado-,<br />

€ bem cultivada, ckega a scr prodigiosa, em pror


va do que cita em nota a terra volcanica da<br />

Italia, que produz commumrnenle 100 , e chega<br />

a produzir 150 por 1 , altribuindo a mesma<br />

propriedade ás do E^ypto, da Syria, e da Pa*<br />

iestina no tempo dos Romanos. Acrescenta, na<br />

fé de Plinio, a muito maior maravilha de um pe<br />

de trigo que , sob o Im perio de Augusto, Ihe remetiera<br />

um Prefeito da L y d ia , levando 400 espigas<br />

produzidas por um só g rá o , e a de outro p e ,<br />

com 300 espigas, que recebera depois Nero, (I)<br />

Seja o que for daexaeçâo desses factos, nSo<br />

é menos verdade que a perfeiçâo da industria,<br />

junta a perseverança do trabalho, produzem fenómenos,<br />

e grandes fenomenos na arte a^rico>'<br />

la, como nas artes fabris; e que se se nSo deve<br />

multar de certos tributos os productos destas,<br />

para nSo aíalhar os seus progressos, nSo se<br />

devem táo pouco multar os productos daquella<br />

pelo mesmo motivo ; e até por outro aínda maior,<br />

o de que a primeira multa só prejudica a um<br />

ou outro ramo de prosperidade piíblica, e a segunda<br />

prejudica a todos, porque destroe as bases<br />

do seu sustento.<br />

Mas para tirar outro ainda mais concludente<br />

argumento de outro mais analogo parallelo,<br />

depois de considerar o ultimo objecto na prodigiosa<br />

virtude da sua producç3o , considerarei<br />

a maravilhosa serie da sua reproducçâo, e indicando<br />

o extremo do seu desenvolvimento o<br />

( 1 ) Sem ser ta o estujietifia por rara , é m uilo adm iravel por<br />

co m m um a ]>rod«c


compararei com o já indicado do penultimo ob><br />

jecto.<br />

Difficilinente se ha de suppòr que baste o<br />

trabalho de 20 annos, ainda que trabalho continuo,<br />

para levar o valor do dito arratei de fer*<br />

ro de Ô soldos a 480.000 francos ; mas, admittida<br />

que seja esta snpposiçâo , supponha-se tambem<br />

semeado, e tornado a semear, pelo mesmo<br />

espaço de 20 annos, esse simples grào detrito,<br />

CUJO nome significa a unidade de menor pezo, e<br />

a entidade de menor valor. Pela sua ordinaria<br />

muitiplicaçâo de 10 por um em terra assaz com*<br />

mum, chegaria a sua producçào, no cabo dos<br />

primeiros lo annos , a 10.000.ooo.ooo , que a<br />

10.000 ditos, muito sufficientes por cada individuo,<br />

bastariào para sustentar um dia 1.000.000<br />

pessoas aduitas; e a continuar dahi por diantea<br />

mesma progressào, que muito bein sepòde imaginar<br />

, havendo gente para sua sementeira , e<br />

terra para sua cultura , crescerla de tal modo<br />

a sua monta pelos mais io annos, qua nâo cabe-<br />

ria nos celleiros do mundo , nem poderia ser<br />

consumida pelos homens e animaes granívoros<br />

da terra ; sobre cujo novo parallelo de productos<br />

, nos mesmos vinte annos da sua produc-<br />

çâo, deixo a considerar as razdes de preferencia<br />

que tenha um a outro proposto ramo, na rivali-<br />

dade da sua politica prolecçâo.<br />

l’oróm nem só á muitiplicaçâo de trigo , mais<br />

nobre basa da sustantaçâo do homem civilisado,<br />

e de uso lào antigo , qua se acha mencionado<br />

no primeiro dos nossos Livros Sagrados, fo Ge-<br />

nesisj competem essas attribuiçoes de merecimento;<br />

competem igualmente, nas suas relativas<br />

proporçdes, a todos os mais cereaes do seu<br />

mantimento ; competem ás raizes alimentares,<br />

Tom. I. a


principalmente tuberosas ; ás plantas leguniino*<br />

sas, oleoginosas , testis, filamentosas , tinturíaes,<br />

vinhosas, e a outras muitas, indígenas e exóticas,<br />

classificadas ñas numerosas familias da sua<br />

vasta nomenclatura , que se poderiâo escoiher<br />

peias suas especies mais uteis , e cultivar, segundo<br />

a sua naturalidade , pelas temperaturas<br />

dos noseos climas mais appropriadas á sua boa<br />

criaçâo ; e compelem nâo s¿ a essas menores<br />

plantas, oumais rasteiros arbustos, mas ásmais<br />

alterosas arvores , ás bellas , e frondosas arvo-<br />

res sobre tudo, tâo raras e tSo desprezadas nea-<br />

te Reino, e ramo com tudo do mais fácil augmento<br />

pela sua mais espontanea vegetaçâo por<br />

infinitos sitios ora incultos, mas nao improprios<br />

a uma ou outra das suas criaçôes, criaçôes uti*<br />

lissimas ; umas pelas suas lenhas , e madeiras;<br />

outras pelos seus fructos ; algumas pelos suas<br />

substancias extractivas ; todas pelo ornamento,<br />

e a salubridade das suas comaa.<br />

Tudo, ou quasi tudo o que na multiplicaçâo<br />

dos referidos vegetaes servisse para o uso, sustento,<br />

ou regalo dos homens, serviría tambem<br />

para multiplicar os animaes do seu mesroo pro-<br />

veito ; porque todos, ou quasi todos esses vegetaes<br />

fornecem uma, ou outra especie de alimen*<br />

tos proprios a uma ou outra especie destes animaes,<br />

que na proporçâo da sua fartura se pro-<br />

pagariáo, na proporçâo da sua propagaçâo da-<br />

riSo carnes, leites, manteigas, queijos, couros,<br />

ISs, estrumes, etc., alem dos importantissimos<br />

serviços que fariáo i e a que nâo chegaria, ou<br />

nao poderia chegar a multiplicaçâo dosseus productos,<br />

avallada pelade tantos ramos productivos,<br />

cultivados por uma Naçâo tornada tâo industriosa<br />

quao lirre!


Accresce ainda a favor da agricultura outra<br />

razSo de preferencia tSo pouco atlendida quSo<br />

attendivel, e vem a ser, que os productos da industria<br />

fabril se devem no seu tudo ao trabalho<br />

da sua produc^So , de sorte que , na perda ou<br />

ganho dos seus artefactos , nada se perde , ou<br />

ganha senSo a inSo d’obra do seu artifìcio. Os<br />

productos do reino vegetai, e animai, pelo contrario,<br />

oque menos devem é ao trabalho do seu<br />

cultivo, ou criaqao, e o mais é á ac9So da na-<br />

tureza pelas suas operag^es; d do Geo pelos seus<br />

orvalhos e chuvas; á da terra pela sua fecundidade;<br />

á do dia pelo seu caior; á da noite pelos<br />

seus refrigerios ; á do clima pela sua amenida-<br />

de , e á do tempo pela sua duragSo ; de sorte<br />

que, na perda, ou ganho destes productos, perdesse,<br />

ou ganha-se todo esse trabalho da natu-<br />

reza; perde se, ou ganha ie tanto mais em Portugal,<br />

quanlo mais a temperatura dos seus eie*<br />

roentos favorecería as suas opera^oes na pro-<br />

mo


ealcâo progressivamente as suas bases productoras.<br />

Urna terra esteril, porbaldia, passa a fecunda,<br />

pelo seu cultivo, á proporçâo que mais<br />

mechida do seu trabalho, mais se satura dos meteoros<br />

da sua atmosfera , mais se nutre dos residuos<br />

da sua vegetaçâo, mais se tempera dos<br />

estrumes dos seus adubos , até elevar gradualmente<br />

oseu valor pelasua fertilidade, aum auge<br />

que muito admira, e pouco crè quem nunca<br />

o vio nem ouvio no seu paiz.<br />

Merece fìnalmenle a agricultura essa preferencia,<br />

nâo só por essas maiores vantagens que<br />

ofTerece na sua producçâo , mas pela maior se-<br />

gurança que dá aos seus productores. As artes<br />

lem por limites dos seus empregos os das pre-<br />

cisoes dos seus proiluctos para o consumo interno,<br />

ou commercio externo de qualquer paiz;<br />

mas qualquer paiz, por muitas contingencias<br />

tem muitas variaçôes que , aos mesmos embarazos<br />

a que expóem seus empregos, expoem a<br />

agencia e existencia dos seus artifices. A agricultura<br />

tem, é verdade , a mesma medida nos<br />

empregos dos seus frutos , mas tem em maior<br />

gráo de proporçâo, por maior força deprecisao,<br />

seus consumidores nos seus productores ; cuja<br />

diiferença é a de segurança destes productores ,<br />

tanto mais firme quanlo maior eeja a multipli-<br />

caçâo de uns por outros.<br />

Nada do que disse quer dizer que se náo<br />

devení favorecer as artes industriosas; antes tudo<br />

tende a inculcar que devendo favorecer-se<br />

muilo estas artes, muito mais se deve favorecer<br />

a agricultura, porque a agricultura tudo favorece,<br />

é mina geral de que sahem todas as riquezas<br />

particulares. Mas qual será a arithmetica<br />

politica que, porufnaparte, abranja e resguar-


de os legítimos direitos de cada urna das pro><br />

priedades agrestes, e pela outra designe o verdadeiro<br />

termo geral das suas justas contribui-<br />

çoes para as precisôes publicas? E qual a me><br />

Ihor formula para a melhor soluçSo deste problema<br />

?<br />

Fara satisfazer a esta questuo , a dividirei<br />

em duas; a 1/ relativa aos direitos e interesses<br />

particulares, e a 2/ relativa aos geraes, e darei<br />

a cada uma a sua respectiva resposta.<br />

' CAPITULO IX.<br />

Sobre as prestaçôes , porque se devem supprir os<br />

encargos de quaesquer imposiçôes particulares<br />

nos predios rústicos, seja qual fo r a sua<br />

origem e qualidade.<br />

S i c muito poucos , como jii disse, em Portugal,<br />

os proprietarios, c principalmente os agricultores<br />

, que reunâo a preciosa vantagem do<br />

dominio directo ao util dos seus predios rústicos.<br />

Quanto aos carregados, e sobrecarregados<br />

das pensôes , e principalmente das raçôes de<br />

foraes, e outras da m^sma natureza já tiescrilas,<br />

pelo muito que tratei dos principios em que se<br />

fuodâo os direitos de propriedade dos Senhorios<br />

e dos foreiros, pouco mais resta do que fazer a<br />

applicaçâo desses principios ás suas respectivas<br />

propriedaiies ; applicaçâo que consiste no determinar<br />

e arbitrar pelos seus rendimentos uma<br />

prestaçâo àquelles Senhorios tal, que corespon-<br />

da ao valor dos fundos territoriaes que cederSo


a estes foreiros ; prestaçSo regulada na razâo de<br />

5 por 100 dos meamos capitaes cedidos , como<br />

outro qualquer juro legal , para nao ser mais<br />

gravoso a este ramo do que a qualquer outro<br />

de industria pública ; e prestaçao fìxa , e nâo<br />

hypothetica, para nâo atacar, com seu augmento,<br />

os justos interesses dos mais fundos empre-<br />

gados pelos cessionarios nas proprietlades que<br />

receberâo; nem, com sua diminuiçâo, desfalcar<br />

os juros destas propriedades recebidas, muito Á<br />

semelhança de um foro emphiteutico ; mas com<br />

a differenza do seu laudemio reduzir^se á sua<br />

minima quota , ou melhor ainda supprimir-se,<br />

pelas ponderosas razôes deduiidas no fim da nota<br />

reirò , pag. 6 7.<br />

Mas como se poderiâo estimar aqu^lles fundos<br />

territoriaes , e os mesmos chamados prediaes,<br />

ha tanto tempo ceflidos pelos âenhorios,<br />

e confundidos com os dos foreiros, para determinar<br />

, e arbitrar esta prestaçâo de uns para<br />

outros ?<br />

E ’ este o ponto da questao maia difficil de<br />

resolver com exacçâo; mas vem em auxilio da<br />

sua soluçâo, com bastante aproximaçâo, a advertencia<br />

feita relrh por Mr. Chaptal, de nâo<br />

avallar, segundo o costume, seyiáo o que dá um<br />

verdadeiro rendim ento^ e na dúvida de propriedade<br />

disto mesmo que o dé, julga>lo a favor dos<br />

possuidores foreiros, por Ihes ser mais favoravel<br />

a presumpçâo do seu direito ; presumpçâo esta<br />

de que aliàs fícáo de algum modo compensados<br />

os Senhorios, pela que tambem os favorece de<br />

que, mais moderada for a prestaçâo que se Ihes<br />

arbitrar , mais fácil , seguro e promplo será o<br />

seu pagamento ; ao que accresce a consideraçâo<br />

de que , mais leves sao os encargos dos agri-


cultores, mais pròmovem ob pioductofi da agricultura<br />

; mais abundào estes productos ^ mais<br />

diminue o seu preço ; e na mesma proporçSô<br />

augmenta a sua imposiçào no valor que se ¡he<br />

arbitrou.<br />

Tinha feito uma longa exposiçâo das omni-<br />

modas vantagens que acompanhSo estas suaves<br />

formas de contratos, únicos adaptados a supprir<br />

os intoleraveis de foraes , e outros da mesma<br />

natureía. Porém julguei dever supprimir aqui<br />

o meu novo trabalho pelo assaz ampio desenvol-<br />

vimento que dei A sua materia no ).* Tomo das<br />

minhas Vozes dos Leaes P orluyutzcs, principalmente<br />

desde pag. 102 até pag. 142, onde mostre!<br />

o grande realce que, pelos mesmos contratos,<br />

deo á agricultura da Toscana o immortal<br />

Pedro Leopoldo , auguí^to bisavó da nossa augusta<br />

Soberana; em cuja conformidade, fíndan-<br />

do este Capitulo, relativo á 1/ questáo, passo<br />

a tratar da 2.* no seguinle.<br />

CAPITULO X.<br />

E m que se mostra a unica contribuiçao terriíoriaí<br />

• que se póde im p ó r, e como se ha deprír, na agri^<br />

culiura f em harmonía com as nossas sabias ins-<br />

tituîçôes nacionaes , e a nossa progressiva reí«<br />

tauraçao politica,<br />

] E um dos principios ¡mais obvios do direito natural<br />

que todos os membros de uma Sociedade<br />

politica, que tem de participar igualmente dos<br />

bens da sua associaçâo , segundo as suas cir-


cumstancias, participen! igualmente dos encargos<br />

da sua manutention segundo as suas possi-<br />

bilídades; e esse mesmo principio é inleiramen-<br />

te conforme aos §§. 14, 2i , e 23 do artigo 145<br />

da abençoada Carta Constitucionai, outori^ada<br />

pelo Augusto Restaurador desta Monarchia.<br />

Ora, se na origem da Sociedade politica de que<br />

se trata, se procurasse o melhor modo de cada<br />

um dos seus membros fìntar-se com uma prestaçâo<br />

dos seus teres para manter o bem com*<br />

mum da sua associaçHO, semddvida se escoihe-<br />

ria por melhor oque, sendo mais suave, sortisse<br />

o mesmo efleito; mas se, alem de mais suave<br />

, sortisse ainda melhor effeito , seria ainda<br />

melhor a escolha , escolha para cujo acertó of-<br />

fereço as seguintes observaçôes.<br />

A muUiplicidade de impostos , diz Filandieri,<br />

Cap. 29, e Liv. 2.® sobre as Leis Polit. Eco-<br />

nom., a mulliplicidade de impostos e'u m Jìaqello<br />

para o p o v o , e para o Soberano ; para o povo ,<br />

porque pagfi de cern modos um a somma , cuja<br />

prestaçâo fella de um sò llie pouparia todos os vexâmes<br />

que destroem a sua libcrdade, e causao a sua<br />

m iseria; e para o Soberano, pelo muito que perde<br />

do muito que poderia ganhar nas despezas da<br />

sua exacçâo , e nos desperdicios da sua m onta.<br />

S â o , por assim d ize r, taes impostas no Corpo politico<br />

, N. B. , corno seriào as sangrias no corpo<br />

hum ano, cujas picadas, feilas em ioo partes dos<br />

seus m em bros, com enfraqutce-lo m u ila m a is, da-<br />

riào muito menos sangue do que sahiria de um a<br />

incisào opportunamente fe tta em um a das suas<br />

veias.<br />

E ’ porém muito para advertir que oque ternaria<br />

de mais forte mais fraco um ou outro cor*<br />

po DO vigor das suas forças , e reduziria a um


extremo abatimento no meio da sua debilidade; de<br />

sorte que, a cautela que seria necessario tomar<br />

jio primeiro estado para conservar-lhe a saude,<br />

seria necessario observa-la no segundo para con-<br />

servar-lhe a vida. Porém se é muito diíBcil observar<br />

aproximadamente esta cautela naqueüa<br />

unica cisura de sabida extracçao de sangue ,<br />

pela muita diíTicuklade que ha de saber-se com<br />

aproxiniaçiîo se o que assim se tira é o que se<br />

póde tirar a qualquer desses corpos , sem prejuizo<br />

do estado em que se acha, é absolutamente<br />

impossivel obser-va-la de longe nessas muitas<br />

fétidas de muitas partes dos seus membres, por<br />

restar , alem disso, a saber o que verdadeiramente<br />

sahe de cada uma dellas; o que, na pro-<br />

porçîio com que augmenta o perigo do sen es-<br />

vaimento, torna mais visivel a necessidade de<br />

reformar o systema das muitas contribui«,’oes<br />

territoriaes, figuradas pelas muitas sangrías, e re-<br />

duzi-iasa um meio lançamento por um meio golpe.<br />

Mas qual deve ser a abertura da sua cisura,<br />

e qual a sua sangria, para proporciona la<br />

ás respectivas forças dos respectivos membros<br />

de um corpo politico!^ Alguns Economistas políticos,<br />

como o dito Filangieri, na sua Sciencia<br />

da hecjisiaçâo , Simonde de Sismondi , no seu<br />

Tratado de Ecoymmia Politica , e outros , perlendem<br />

que, de todos os-rendimentos pul)!icos,<br />

os da agricuítur« síío es mais facéis de avaliar<br />

na sua liquidacao , por serem mais patentes os<br />

seus fundos productivos, e mais visiveis os seua<br />

productos e despezas. Sem discutir os fundamentos<br />

desta questAo , indicare! os 4 modos,<br />

porque S« costuma resolver.<br />

Consiste o I." na factura do chamado cadas-<br />

tro. a que se procede, por agrimensura, dos bens<br />

T o m . I . K


iiraes de que se compôem os predios rústicos,<br />

eestiroaçSo dosseus productos , segundo a abundancia<br />

e qualidade dos seus frutos , combinado<br />

o seu valor local com as despezas tambem lo-<br />

caes do seu grangeo e administraçao ; »vas um<br />

e outro valor tomados no mais aproximado meio<br />

termo da sua monta annual, calculado sobre os^<br />

variaveis de muitos annos , (ordinariamente 7<br />

da sua successiva produccSo); cujo balanco re-<br />

puta-se regular.<br />

Consiste o 2“ quasi no mesmo processo, com<br />

a diiferença de njìo haver nelle a agrimensura<br />

do 1.“ , m’as somente vistoria ocular , e exame<br />

individuai de cada uma das propriedades ruraes,<br />

commettidas estas diligencias a escolhi-<br />

dos louvados , com a assistencia dos visinhos<br />

mais praticos, e mais acreditados , para com as<br />

suas informaçôas auxiliar as averiguaçoes que<br />

hajSo de tirar-se para o mesmo fim.<br />

Consiste o 3.” na regulaçSo de preço , em<br />

que anda a sua renda por contrato de arrenda-<br />

mento dos seus fundos , em cujo caso se sup*<br />

pdem tiradas pelos rendeiros as competentes<br />

informaçoes do seu rendimento liquido, que se<br />

aproxima do de seu contracto.<br />

Consiste o 4.’ na estimaçâo do seu producto<br />

liquido pelo valor vendavei dos mesmos predios<br />

rústicos , feita pelos mesmos Commissarios da<br />

2.‘ , e com os mesmos auxilios necessarios ás<br />

suas averiguaçoes , para neste caso proporcio-<br />

iiar-se oseu rendimento imponivel aojuro a que<br />

corresponde o seu capital.<br />

Fica sempre entendido, 1.® que por nenhum<br />

desses 4 modos se deve proceder a avaliar os<br />

ditos rendimenios imponiveis , nem taxar-lhes<br />

as suas respectivas contribuiçoes , sem a com*


pótenle audiencia de cada um dos inleressados<br />

conlribuintes, ou yeus procuradores, para po-<br />

derem allegar o que Ihes convier da sua justa<br />

opposiçiïo : 2.“, que, por via de regra, niío devem<br />

entrar em conta para sua imposiçiïo as casas<br />

, nem a mobilia dos predios rusticos (a nao<br />

serem casas de recreio) segundo mais ou menos<br />

valhüo por si, mas segundo mais ou menos fa-<br />

ç3o valer os frutos , para cuja grangearia ser-<br />

vem , bem como para assistencia dos seus gran-<br />

.geadores ; e até deve descontar-se da sua importancia<br />

a necessaria (iespeza do seu concerto,<br />

ou renovaçao , nos termos advertidos por JVÎr.<br />

Chaptal , para niìo desfalcar a monutencao do<br />

seu capital. Porém sobre esses varios mbdos oc-<br />

correm varias reflexoes, que passo a appropriar<br />

a cada um delles.<br />

O 1.“ modo de proceder é tido e havido per<br />

lo mais perfeito nos seus resultados, como niui-<br />

to bem observa Ganilh no seu Essai sur le revenu<br />

public^ Tom. lí. pag 362 , e por isso foi<br />

preferido a lodos os mais nas varios parles da<br />

Allemanha , e da Italia que ella ; mas é tambem<br />

o que ofierece mais diiïiculdades na sua<br />

^xecuçiio, pelo maior espaco de tempo que gas-<br />

la, a maior còpia de luzes que pede , o maior<br />

numero de pessoas que occupa, e a muilo maior<br />

despeza que faz; inconvenientes estes , porque<br />

o nao approva Ad. S.miîii nas suas Riquezas das<br />

]Sa çôes y Liv. 5.“ ('ap. 11 , e porque tambem nào<br />

chegou a concluir-se em França, niïo obstante<br />

a muita actividade com que principiou a pra-<br />

ticar-8e, durante o ministerio de IVlr. Chaptal,<br />

e se continuou por vezes depois.<br />

0 2/ modo, por muito mais simples, é muito<br />

mais facii e expedito , e até póde ser pouco<br />

R 2


dispendioso, pelo grande numero de individuos<br />

que a pràtica liabilita em loda a parte a ajuizar<br />

commoda, e acertadamente de semelhantes ren-<br />

dimentos, e pelos sobreditos auxilios locaes, que<br />

achiìo a rectificar os seus cálculos O que sim é<br />

mais arriscado a falhar é a imparcialidade nos<br />

seus arbitrios; mas alem deste perigo ser transcendente<br />

a todos os mais processos, póde acautelarse<br />

pelas penas que se comminem aos de-<br />

Jinquentes de odio, ou suborno, facéis de des-<br />

cobrir pela publicidade de todos os seus actos ;<br />

ou ao menos de remediar pela liberdade dos recursos<br />

deixados aos queixosos das suas prevarica-<br />

çoes.<br />

0 3.* modo, ainda que parece ordinariamente<br />

o mais certo , nao é sempre o mais seguro<br />

para regular aimposiçSo deque se trata na exacta<br />

proporçîîo dos rendimentos líquidos das propriedades<br />

rusticas , pelos conluios , disfarces',<br />

cavillaçôes, deque s3o susceptiveis os contratos<br />

dos seus arrendamentos, uns dissimulando, nas<br />

rendas que manifestîïo , os premios e gratifica-<br />

çôes que receberao; ou tro s dimínuindo-as nasua<br />

monta, por adianta-las nas suas prestaçôes, oa<br />

compensa-las em bemfeitorias ; outros promet-<br />

tendo-as excessivas, c o m os sinistros designios de<br />

as nao pagar, ou de resarcir com usura as van-<br />

tageiis que figurâo, pela ruina dos predios; cujas<br />

desigualdades, eoutras m u itas atiesta amul-<br />

tiduo de questoes e litigios que parem semelhantes<br />

contratos.<br />

O quarto modo seria tanto mais defeituoso<br />

em Portugal, quanto mais atrazados s3o os seus<br />

melhoramentos ruraes: e comefíeito, n’um Reino<br />

cujo territorio se acha infructífero na maior<br />

parte da sua extensao, niïo por carencia de fer-


tilidadc, mas por falta de cultura, como poderia<br />

negarse a muitos , e muitissimos daquelles<br />

seus terrenos incultos o valor vendavei que tem<br />

pela sua qualitlade? E corno poderia dar-se-lhe<br />

um rendimento que nao tem pelo seu desapro-<br />

veiiamento? Pòde com tudo essa avaliaçâo servir<br />

de muiio para a decisAio de muitos casos<br />

duvidosos nas terras aproveitadas, e até é es-<br />

sencial para reduzir os exceasos dos foraes aos<br />

justos limites propostos rclrò. (1)<br />

A obvia consequencia de todas as referidas<br />

observaçoes é que, seja qual for omethodo que<br />

se adopte para liquidar esses rendimentos lerritoriaes,<br />

melhnr por estes do que por aquelles<br />

lermos , e melhor ainda com o auxilio de uns<br />

por outros se conseguirá a aproximaçâo do seu<br />

liquido producto, mas nunca asuaperfeita exac-<br />

çâo, porque, nem todos os seus elementos s3o<br />

tao visiveis que nao possSo escapar á mais seria<br />

attençpio , nem tSo certos que nSo possSo<br />

falhar nas suas addicdes. Como porém o que se<br />

nSo póde conseguir bem por uma forma , con-<br />

segue-se por outra; e como aínda, o que mais<br />

perfeitamente se conseguisse nao seria o que<br />

mais durasse na sua perfeiçâo, porque as terras<br />

▼ariao continuamente nos seus rendimenios, segundo<br />

diversitìca a industria do seu cultivo, por<br />

isso a Inglaterra, que sempre tende ao objecto<br />

mais util pelo meio mais facil , os embaraços<br />

que n


■ Foi no anno de 1692 que se resolveo e 6x€-<br />

ciilou a famosa medida conhecida pelo nome de<br />

L a m i ta x , (taxa agraria) por acto do quarto<br />

anno do reinado de Guiilierme I I I , eMaria sua<br />

muiher, cujolhrono, ainda vacillante , contribuio<br />

muito a segurar contra os esforços do expulso<br />

Jacques ií. pela grande satisfaçao que<br />

causou aos L and lords (os proprietarios ruraes)<br />

e o muito que engrossou o seu partido na mesma<br />

classe a mais respeilavel, assim como a maiâ<br />

influente da naçîio.<br />

Persuadido aquelle Príncipe que nada seria<br />

mais capaz de ganhar-lhe a affeiçao dos seus<br />

subditos do que mostrar-lhes que tinha nelles<br />

confiança, nem de obrigar a sua honra do que<br />

penhorar a sua delicadeza , com este intuito<br />

mandou reformar o antigo cadastro do Reino,<br />

nSo por agrimensura , nem outras preven-<br />

çoes suspeitosas depouca fé na sinceridade das<br />

suas coulÎïSGes , mas porum brioso abandono á<br />

franqueza das suas declaraçiües , a que se lia-<br />

víáo de proporcionar as suas contribuiçoes ; no<br />

,quft o successo de tal modo preencheo as suas<br />

esperanzas que, sendo a sua deliberanno accei-<br />

ta como conc-essào de favor, surtió os efl'eítos<br />

de uma especulaçào de iiileresse, e produzio as<br />

vantagens de ambas.<br />

Desde essa época as declaraçoos dos proprietarios<br />

ruraes servirao sempre de base á dita taxa<br />

agraria, que segundo dizHaert, no seu 7a-<br />

Ucüu de rA n tjkterre , Toni. 3.“ pag. 170, tem variado<br />

de um schilling por libra, islo é, de um<br />

vigosiuio do rendimento de cada proprietario,<br />

aló o dobro, tresdobro, e quadruplo da mesma<br />

imposiçâo , conforme o regule annualmente uiu<br />

Bill du Parlamento para as urgencias do Estado


Quando cliega ao ultimo termo de quatrò<br />

tigesimos, leva essa contribuiçào d’inglaterra a<br />

J.985.673 livr. c a da Escossia a 47.964 ditas,<br />

que deiiSo, por ambos, a 2.037.627 ditas (n3o<br />

fallando da de Irlanda, que se regula por outros<br />

principios (I) cujo producto nao provem somente<br />

dos predios rústicos , mas em grande parte<br />

dos urbanos, e dos capitaes empregados noCom-<br />

niercio, no Banco, nas Coinpanbias de Seguro,<br />

eie. todos impostos com muita suavidade.<br />

Mas ainda que o que dessa imposiçSo oné-<br />

ra OS predios rústicos d’inglaterra , nSo seja<br />

seniio uma leve porçiîo do que carrega os mais<br />

capitaes, postos ahi em movimento, e uma das<br />

menores addiçôes das immensas rendas que tira<br />

este Reino das suas muitas fontes de riquezas,<br />

(2) ainda que naquella maior eievaçSo do seu<br />

quadruplo vigesimal , fixo nos seus antigos as-<br />

sentos, e só variavel nas suas quotas annuaes,<br />

nao passa o seu máximo de um verdadeiro dizi-<br />

ino, sPíjundo os cálculos do seu grande Arith^<br />

melico Politico , A rthur Young , Cap. 10 , em<br />

que só avalia cada um desses apparentes vigesi^<br />

mos em um eflectivo quadragesimo dos produ-<br />

(1 ) Isso deve referir-se ao tem p o , em que «screvia o citado<br />

A u c U r, h averá 40 annos.<br />

(2 ) As principaes fontes dos seus rendim entos públicos sao as<br />

suas a lfa n d eg a s, e assnas siz as, cvijo im m enso ram o abran g e infinitos<br />

generös de co n su m o , m uito productivos, especialm ente no<br />

que respeita a bebidas espirituosas. Scguem depois os direitos sob<br />

re a m ateria p rim a d a cerveja , os S e llo s, as Licen^as para lo*<br />

ja s e arm a ze n s, as fab ric as, os traQcos , os oílicios m ecánicos, o<br />

s a l. os C orreios, e principalm ente os objectos de lu x o , quaes a<br />

m u ltip licid ade de criados, de c a e s, de c av a llo s, d e carruagens,<br />

e a té m esm o de ja n e tla s, e outros m uitos artigos de m e n o r pro*<br />

duc^ao por cad a um , m as de grande pezo n a imposícáo d e to*<br />

dosr


ctos líquidos dos seus ditos predios, fracçSo esta<br />

que seni hoje tanto mais diminuta quanto<br />

maiores lenhao sido os meliioramentos e pro-<br />

gressos da sua agricultura, assim mesmo, nSo<br />

se póde duvidar que, junta essa laxa a outra que<br />

ahi se paga, chamada dos pobres \ a certos iin-<br />

postos de Freguezias (para concertos de Igrejas<br />

ecaminhos) ou alguns restos de direitos feudaes,<br />

que ainda gravíío algumas das suas terras, e<br />

principalmenle ao seu Di/iino esclesiastico, (l)<br />

sejao geralmente mais pezados os encargos da<br />

mesma agricultura íngleza do que os da Franceza,<br />

desde a reducçao dos desta a um quinto<br />

do seu liquido producto ; e o sao muito mais<br />

naquellas fazendas , cujos dizimadores náo tem<br />

ainda tomado o louvavel partido de fazer o acor-<br />

do mencionado retrh, pag. 98 ; noque sevé que,<br />

se a agricu^Uura Ingleza It’va vantagem íí Franceza<br />

na primazia do seu desafogo, a leva tambem<br />

esta ííquella no complemento dos seus allí-<br />

vios, por cujo melhor partido, quand^9 podér al-<br />

cança-la no seu adiantamento, a poderá vence-r<br />

nos seus progí-essos.<br />

Voltando porém á singular forma com que<br />

a politica deIngUterra procedeo entao a cadas-<br />

trar as suas imposiçoes territoriaes, observarei,<br />

lia fé dos seus mesmos Escritores, que se aava-<br />

reza de alguns seus proprietanos os induzio<br />

a diminuir o valor dos seus bens, ao da-ios ao<br />

^Manifesto, para liberlar da sua contribuiçao o<br />

que sonegassem dos seus rendimentos , a opi*<br />

uiao de outros os levou a exagerar o dos seus,<br />

(.'O K ’ notorio que estes D izim os . na [jarle em que aim ia<br />

íH bsi'.tení, tem pido o objecto d sg ra v issim as, e renhidas qiie-;tóes<br />

IK> l^arlajoentp do In g la te r r a , já .p a ra aboli


para engrandecer a sua representacSo civil, de<br />

sorte que o que fallava pela mesqninhez de<br />

uns, sendo compensado pelo que accrescenla»<br />

va a ostentacSo de ouiros , e retidos a maior<br />

parte nos limites proximos da verdade pelo aeu<br />

pundonor, ou seu receio de que a publicidade<br />

das suas alteraçôes , junta á notoriedade das<br />

suas posses, compromettesse a repulaç/ïo do seu<br />

caracler , rosultou des diversos brios de cada<br />

um quasi o mesmo elTeito que teria resultado<br />

de ig:ual franqueza de (oilos.<br />

Nîïo me aflbutarei a dizer que em Portugal<br />

bastaría o mesmo procedimento para conseguir<br />

o mesmo resultarlo; mas sim direi que seria um<br />

excellente preliminar dos mais propostos retro<br />

em seu auxilio , e servirla de muito , nos seus<br />

elementos, a ICstatifatica do Conde Chapial, que<br />

igualmente propuz reirò ^ e de que reproduzirei<br />

aqui alguns artigos ]>ara norma da sua applica-<br />

çao a Portugal.<br />

CAPITULO XI.<br />

i?m gue se reprndazem aìguns arlù/ns da dita Es-<br />

iatislica de Franc a para uorma dos seus calcu-<br />

¡OS, e appiicagao dos seus elementos na de<br />

Portugal.<br />

L ARA mais raz3o de pnridade escollierei os 3<br />

generös domáis identico, e niaiscouimum cultivo<br />

de Franca , e l’oriugal, e pelas proporçoes<br />

que acìiou o dito Fstadista entre os seus productos<br />

brutos , e líquidos naquelie Paiz , indica-<br />

Tom . 1. s


ei as que muâ i\ppoxiti)afkniHi:i-e a»»'pudein siijv*<br />

pôr entre osmestnos profliictob d«sieR.€Îno, eu-<br />

jo resultado reaolve o problema ein questao,<br />

coin apresenlar o rendimento imponivel nosseus<br />

analogos ramos.<br />

Tomando-se por }.“ objecto de coraparaç/ïo<br />

o mais ossonciai deste parallelo que, sein dùvi-<br />

da, siïo asierras iavradias, productoras do pâo ,<br />

leguines, e ouïras varias especies, que fazem a<br />

b-ase principal docominuiu sustento, ver-se-ha<br />

que o referido Conde , tendo orçado a sua ex-<br />

tensiïo em 22,3f8.000 hectaros, estimou o valoe<br />

vendavel decada uui ern 600 franco»; e por estr<br />

valor st'u rendimento liquido em 30 ditos , que<br />

por lodos deita a 684.540 OOo ditos.<br />

Ver se-ha tambem que o lodo des(e rendimento<br />

era o unico iuiponivel , por ser o unico<br />

^ipurado do producto bruto de 1.929.331 848 di*<br />

tos, pelo preço medio das varias especies de sua<br />

comprehensào; sendo por tanto este para aquello<br />

na mesma razào de 1.929.381.848 dilos para<br />

684.540.000 ditos, que vem a ser a de 100 por<br />

tins 35, 48 ditos.<br />

Tomando-se [)0r 2.* objecto de comparaçao<br />

0 que bem merere a immediata contemplaç/to,<br />

qual o dos vinhos , achar se-ha ainda muito<br />

maior desproporçSo entre os termos doseu ren-<br />

diu)enlo imponivel, e seu producto bruto, pois que<br />

aos 1.613.939 hectaros da K* plantaçao, a que,<br />

pelo seu valor vendavei de 2 000 fr. dK somente<br />

©liquido producto dei 00 fr. por cada um, e por<br />

(odos o de 16 1.393.900 ditos, dà o bruto, tam-<br />

btìm pelo seu dito preço do meio , de 7 J 8.941.675<br />

ditos, vindo a ser este para aquelle na razito de<br />

100 para 22,i6, e vice-versa.<br />

Quanto aos oliyaes, que porei em 3.* lugar,.


peía ordein da sua importancia neste Reino,<br />

Bao fornece a Estatistica de ÍVIr. Chaptal dados<br />

tao certos para igual regra de proporçâo, porque,<br />

ntio passando este ramo fura deponeos De-<br />

parlainenlos meridionaes da França, em que a<br />

anienidade do clima favorece oseu cultivo, e<br />

se consomé boa parte dos seus frutos , náo li-<br />

nha sido seu produelo liquido, e bruto o objecto<br />

de tao miudas indagaçôes do mesmo F'sia-<br />

dista. Contentando-se com escolher enlre as varias<br />

estimaçôes do seu diio producto em azeite<br />

o meio termo que julgou maiü.exaclo, e com-<br />

prehendendo esta especie coni as dos mais ve-<br />

geties oleoginosos , cuja cultura dizia ter augmentado<br />

eonsideravelmeníe nos uilimos annos,<br />

sem dizer as despezas do seu augmento , orça-<br />

va o todo do seu valor em 70.ooo.ooo fr. ; e ainda<br />

que na separaçao que fez de 4.03C.GOO heclaros<br />

menos productivos do solo Francez, exceptuou<br />

delles 126.000 ditos occupados coni viveiros ,<br />

lupulos, oltvfios, etc., cujo rendimento levou a<br />

50 fr. por dilo, esta commum avaliacao de varias<br />

especies nao designa termo de proporçâo<br />

para cada uma dellas ; Á falla porém dos seus<br />

esclarecimentos itesla parte dos srus cálculos,<br />

supprirei por outros de toda a confiança.<br />

O j;í citado Simonde deSismondi, que foi<br />

b annos agricultor pratico na Toscana ,* e que<br />

assaz mostra o beni que enlendeo a sua protìs-<br />

6í1o pelo bem ()ue descrove o exercicio desta arte,<br />

no sen quadro da agricultura do mesmo paiz;<br />

o dito Simonde , notando nos seus A^ouveaux<br />

P ìiììcipts d 'Economie Polit. Tom. z.“ jiag-. 184,<br />

a extr^-ma difierença que ha enlre sens ^producios<br />

liqnidos, e os brutos, segundo a natureza<br />

dos lerrenos, os avanços da sua cultura, a qua-<br />

S 2


liíiade dos seus fruotos, a contingencia dos seüs<br />

recolhimentüs, os interesseíí do sen aproveita-<br />

menlo, ao fallar das planlacoes delupulos, avalla<br />

o seu dizimo , pago em especie, na metade<br />

do sen rendimento liquido ; o que suppÔe este<br />

rendimento do um quinto do seu producto bruto<br />

; e porque o referido Conde Chaptal poem<br />

no rnesmo parallelo o rendimento doslupulos, e<br />

o dos oiivaes de Kran^a , na mema proporçâo<br />

seria (ambem o dos olivaes de Portugal o mesmo<br />

(juinlo, ou 20 por loo do seu producto bruto<br />

a-imu al.<br />

l*\)i por essa forma que o Conde Chaptal,<br />

depi'is de estirwar os pruductos brutos da agricultura<br />

do solo I'Vancez em 4»678.708 885 fr. re-<br />

duzio o seu rendimento liquido a 1.344.703.370<br />

ditos, se/ido nestes 28,78 poi 100daquelles im-<br />

poniveis de um quinto na sua contribuiçâo territorial,<br />

em termo medio, composto de muitos<br />

termos iiifinitaraente variaveis entre si ; porque<br />

nao só o 1.* de 35,48 para 100 , relativo ás terras<br />

lavradias , difiere na sua generaJidade de<br />

J3,32 por 100


nòpso mais commum cultivo; e supporei aO'seu<br />

proprietario, e culüvador, por termo medio an-<br />

nual, a saber :<br />

Pelas Fuas ditas Ierras lavradias<br />

o producto bruto de . . 350.00o reís<br />

Pelas suas ditas viulias, odos<br />

mesm os................................... 360.000 dit.<br />

Pelos seus ditos oiivaes o de 300.000 dit.<br />

Sendo ludo i.ooo üOO dit.<br />

de que se ha de apurar o rendimento imponivel<br />

na mesma proporçâo.<br />

Neste caso a 1.’ addlçao de-<br />

350-000 dilos das terras la-<br />

vradias, na razao de 35,48<br />

por 100, ser;í dt*................. 124.Í80 d¡t.<br />

A 2.“ de 350.000 ditos das vinhas<br />

, na razno de 22,16<br />

por 100, SPtíí de ................. 77.SCO drt.<br />

E a 3.* de 300 000 dilos dos<br />

oiivaes, na de 20 por 100,<br />

será de ................................... 60.000 dit.<br />

E todo o rendimento de . . . 261.740 dit.<br />

cuja iinposiçiïo , na razâo de-<br />

mil quinto, será de . . . , . 52.348 dit,<br />

E seu remanecente de^ para<br />

seu dito proprietario de . . 209.392 dit.<br />

Este remanecente é o n o li m e tangere, re-<br />

commendado por todos os Economistas politi<br />

eos, e rfspeitado por todos os Governos íibe-<br />

raes, salvos os encargos emfileuticos reservados


e ir ò , pag[. 1 2 6 ,segundoosDireiios dos Senìiorios<br />

antes definidos, e altendidas para as diiTerenles<br />

avalia93es de rendimentos as differenqas de predios<br />

que attendeo Mr. Chaptal , para cuja per*<br />

feita imitatilo se devem confrontar lodos osmais<br />

objectos dos seus cálculos (I) no que sejSo ap-<br />

plicaveis aos mesmos fins , fina de que passo a<br />

expòr as multas e indispensaveis necessidades.<br />

CAPITULO XII.<br />

E m que se expoe as m uüas e indispensaveis necessidades<br />

que aqui ha de proceder á mesma E s ­<br />

tatistica, pelas que tambem ha de reqular por<br />

tila a contribui^áo territorial deste Reino.<br />

J T ara um Corpo político ser bem constituido<br />

dSo basta que osseus membros sejSo bem coordinados<br />

nas suas relaçoes civís , é preciso tambem<br />

que osejSo nassuas funcçÔes vitaes. Assim<br />

é, e só assim que, por utna perfeila correspondencia,<br />

seestabelece um perfeíto equilibrio entre<br />

o lodo , e suas partes; que a ordem geral se<br />

mantera dassímetrias particulares; que um bem<br />

procura outro bem ; que os eífeitos tem reac-<br />

çâo nas causas, e o espirito de communidade,<br />

que nelles e nellas se enfiltra, todos eslreita na<br />

( 1 ) N ao se póde presum ir m aior proporçâo g eral entre os<br />

productos liqnidos e oc brutos de P o rto g a !, do que entre os mesm<br />

o s . respectivos á F ra n ç a ; antes talvez m en o r, pela nossa mais<br />

atrazada industria no produ2Ír, e aproveitar as hen io g ín eas fon-<br />

tes do nosso cultivo.


sua iiniào, todos viviBca no scii complexe, tocios<br />

proinove nos seus progressos.<br />

Mas no Corpo politico de que se trata, nem<br />

ha aquella org;anis;i(;;ìo vital , uem póde haver<br />

estas vantagc^ns sociaes d< s seus membres, sem<br />

a proposta regulaçao das suas preslaçoes onerosas<br />

; ») pois que, por uma parle, como diz Ga-<br />

>} iiilh, na liilroducçao ásua T h eifñ n (V K con. P o -<br />

» U l. , por uma parte, a E slatütica^ e n E cono^iia<br />

» sao indispensaveis uma .-í outra, empres-<br />

•> tao-se HMJluos soccorros , e tirao do seu con*-<br />

M curso uma consistencia que liiïo lem na sua<br />

« separaí.JÍo. A Eslalislica dá á Ecouojiiia poli-<br />

>5 tica um impulso certo, dirige e segura a sua<br />

« marcha, prova, e garante os seus successos;<br />

» e a seu turiio a Economia politica illustra os<br />

trabaihos da listatistica ; os estende ou res-<br />

» Iringe , determina a sua importancia e utili-<br />

» dade. Uma ajunta as materias, outra levanta<br />

« o ediücio daSciencia. Logo pois só desua boa<br />

» uniao podem sahir os principios da boa admi-<br />

>i nistracao. »<br />

Por outra, nao tem este Ideino elementos alguns<br />

estatisticos, de que possa seu governo va-<br />

ler-se para determinar a quota das suas imposi-<br />

çoes em ordem a regular a marcha da sua dita<br />

administra(;ào. Todos os trabalhos até aqui fei-<br />

tos pelo Ministerio da Fazenda, nos lempos cons-<br />

titucionaoa, para levar o ornamento das rendas<br />

publicas a um certo grao de aproximaçâo, mos-<br />

trno a inutilidade das que se possao ainda fazer<br />

para consegíiir este desojado , e iiìdisp


glalerra, e no seu dobro a contribuiamo territorial<br />

da Franca , a unica que deve subsistir na<br />

agricultura de Portugal , quanto á indole da sua<br />

imposiçâo restricta ao seu rendimento lìquido,<br />

mas elevar*se, nasua quota, ao quinto doseu producto.<br />

JVlas como ajusiar seu lançamento aos<br />

verdadeiros termos desta Collecta ? Nisso bal-<br />

daráose, em 1826 , os zelosos esforços do Ministro<br />

que entSo era da Fazenda , o Excellen-<br />

tissimo Barâo do Sobral, como se vó do Reía-<br />

iorio que fez , e das providencias que pedio ás<br />

Córtes, pela sua proposta de Lei de lo de No-<br />

yembro do mesmo anno, para ao menos remediar<br />

alguns abusos mais prejudiciaes á sua ar-<br />

recadaçâo , em quanto senSo proporcionassem<br />

outras mais seguras, e geraes á sua taxaçfto;<br />

mas qtiaes outras se poderiao jamais proporcionar<br />

a este eífeito sem a precedencia, e o auxilio<br />

da referida EstatisticaP Sendo porém tî O tempo presente está prenhe do futu-<br />

}f ro >f dizia o celebre Leibnitz ; de cujo sentencioso<br />

dito tirando os meus principaes argumentos<br />

, mostrarei as muitas necessidades que<br />

encerra essa maior necessidade de acautelar o<br />

)>arto do 2.* , em vista da roonstruusidade do<br />

parto do J."


CAPITULO XIIL<br />

E m que se desenvolvem asm uilas necessidades que<br />

ha de subsliluir a todas as imposiçoes, que gra-<br />

vavao os producios da agricultura, um a unica con-<br />

tribuiçâo assenlada no seu rendimento liquido^<br />

e apurada pelos meios propostos p ara a fa ctu ra<br />

do seu inventario.<br />

1,* JCj necessaria aquella substituiçao pelas ra-<br />

2ü6S deduziclas relrh lias muitas picadas , que<br />

iwuito mais doem , e muito menos rendem do<br />

que faria uma só sangria no corpo humano ,<br />

comparado ao politico; mas como fallei ahi por<br />

figuras, fallarei aqui por realidades muito mais<br />

convencentes, e tomarei por primeiro termo de<br />

eomparaçao as jugadas de Santarem.<br />

Nilo repetirei aqui o que já disse dos vexâmes,<br />

violencias , e desordens inherentes á barbara<br />

arrecadaçao deste barbaro tributo , entregue<br />

á quasi arbitraria disposiçao dos administradores,<br />

e muito mais dos contraladores do sen<br />

producto. Quem disso duvidar pederá certifi-<br />

car*se pelas muitas victimas da sua oppressSo,<br />

de quem nao receio ser desmentido senao , talvez<br />

, ))ela minoracSo dos seus‘padecimentos.<br />

Poróm o que ó ainda mais para pasmar é o nenhum<br />

, e menos ainda que nenhum proveito,<br />

que dava ao Estado essa mesma arrecadaçao,<br />

feita por uma forma, e o pouco que Ihe vinha a<br />

dar , feila por outra , cujas duas proposiçdes,<br />

que parecem paradoxes incriveis , vou tornar<br />

Tom. I. T


verdades palpaveis pela sua explicaçao tirada de<br />

documentos authenticos, que pude alcançar sobre<br />

esta materia.<br />

Havia já muitos annos que a dita arrecada*<br />

çao da jugada de Santarem se fazia pelos numerosos<br />

enipregados nesle ramo , quando, no<br />

meado do de i 827 , o Conselho da Fazenda se<br />

lembrou de renovar oseu contrato; mas náo lendo<br />

em si dados com que podesse guiar-se nos<br />

termos da sua arrematadlo, osdeprecou ao Real<br />

Erario, que só Ihe remetteo os respectivos aos<br />

2 annos de 1822 , e 1823 , porque só até estes<br />

últimos annos tinha recebido, ou ao menos apurado<br />

as suas contas.<br />

Por estas contas constava que naquelles 2<br />

annos tinha rendido, a saber:<br />

N o 1/ de 1322.<br />

Por 147 moios e 27 alqueires de tri- Réis.<br />

go, a Ô20 ditos por alqueire . . . 4.599.400<br />

Por 78 ditos, e 46 ditos de milho,<br />

a 400 por dito.................................... 1.890.400<br />

Por 315 pipas, e 9 almudes de vi-<br />

nho, ao chamado preço do mosto<br />

de 280 réis por aimude . . . . 2.207.520<br />

Por 26 1 ditos, e 6 ditos do chamado<br />

vinho cozido, ou dornas da Chamusca,<br />

a 340 réis por almude . . 2.220.540<br />

Por t u d o .................................. . . . . 10.917.860<br />

De que, descontando-de os ordenados<br />

de .................................................. 6 963.575<br />

Ficavíío.................................................... 3.954.287


Por 134 moioa, e 28 alqiieires de tri* Réis.<br />

go , a 540 por a lq u e ire................. 4.376.720<br />

Por 101 dilos, e 17 ditos de miiho a<br />

340 por d i t o ............................ 2.187.720<br />

Por 323 pipas, e 24 almudes de vi-<br />

iiho ao chamado pretto do mosto<br />

de 280 por almude............................. 2.131.740<br />

Por 399 ditos, e 19 ditos do chamado<br />

vinho cozido, e ditas dornas, a<br />

400 por dito ( 1 ) ................................ 4.797.120<br />

-Por tudo (2) ...........................................J 3.493.300<br />

D e que , descontando-se os mesmos<br />

ordenados d e ....................................... 6.963.573<br />

f ì c a v i t o ........................................................ 6.520.727<br />

Rendimento liquido de<br />

1022 ........................... 3.954.287<br />

Dito de 1823 . . . . 6.529.727<br />

S o m m a .....................to 484 0I4<br />

Termo aiedio . . . . 5.242,007<br />

E que termo medio o de 2 annos, e annos<br />

( 1) Nesse anno so arào q iietx as geraes dos L avradores com prehendidos<br />

na exorb itan cia de?se preço ]>eta abnad ancia e barateza<br />

d.i especie: exorbitancia que se nao soube a que se devia attrib<br />

u ir. p o rn à o liaver coirtratadores n a liç a ; m as d eque assim mes*<br />

m o n S o liver.lo os qneixosos outro recurso que o de adoçar o sv a-<br />

rejadores das buas a d eg as, p a ra dim inuir no m anifesto o q u e crescia<br />

no dito preço do seu producto.<br />

'¡:) N ao se falla na ju g ad a d o lin h o , cnjo producto é insigni-<br />

ficaniisïimo.<br />

T 2


já remotos, pelo de 7 ditos immediatos, que se<br />

juIgSo necessarios para adoptar qualquer medida<br />

prudente, em qualquer systema de finanças?<br />

A’vista disso arrematou o Conselho<br />

da Fazenda a jugada de Santarem Réis.<br />

por 3 annos, ao preço de . . . . 7.035.000<br />

Tomarlo os contratadores outrosim<br />

a seu cargo pagar as tenças impostas<br />

no seu rendimento , na<br />

quantia d e ......................................... 1.445,989<br />

ObrigarSo-se mais a pagar 1 por JOO,<br />

e 2 por J.OOO das addiçoes acim<br />

a, cujo acrescimo corresponde<br />

a U ns........................................................... 100.000<br />

Somma ludo em . ................................ 8.580.989<br />

Jím que se niïo comprehendem os<br />

ordenados acima deduzidos, porque<br />

tambem ficaráo ao cargo dos<br />

contratadores.<br />

Por esta forma, vierao a ser os termos<br />

decomparaç3o da receita administrada,<br />

e da arrematada a so-<br />

bredila somma para com o mencionado<br />

termo medio d e ............... 5.242,007<br />

cuja differença a favor do Erario<br />

parecia ser de 3.338.982 ditos, a<br />

saber, o seu desencargo dasdilas<br />

tenças de 1.445.989 ditos, e seu<br />

proveito d e ......................................... 1.892.993<br />

de que Ihe redundava , alem d o ------———<br />

seu dilo ailivio , o beneficio de 7.135.000<br />

Mas longe do que parecia, nem beneficio<br />

algum tirava o mesrno Erario<br />

do referido rendimento, nem<br />

sequer ibe bastava o seu produ-


cto para os seus encargos ; pois<br />

que, alem das mencionadas ten-<br />

ças , achava-se onerado de chamadas<br />

ordinarias da enorme importancia<br />

de 7.019.282 rs. , e de<br />

mais a mais de uns juros de<br />

284.225 ditos , cujas addiçôes prefazicìo<br />

a quantia de ..................... 7.303.50G<br />

a quai, cotejada com seu supposto<br />

benefìcio , o deixava annualmente<br />

prejudicado, pordevedorde 168.606<br />

Mas este prejuizo do Erario nada era ao pé<br />

do estrago ou desperdicio da substancia dos pobres<br />

lavradores ; pois que , segundo a opiniáo<br />

geral na Comarca de Santarem , os generös ju-<br />

gadeiros, que se costumaväo arrolar pela referida<br />

administraçao, näo chegavao á terça parte<br />

dos sujeilos dquelle tributo , alem dos isentos<br />

por privilegios já abolidos; do que sesegue que<br />

escapavao ordinariamente ao manifesto mais de<br />

duas terças partes delles , ou pela incuria dos<br />

administradores, ou pela astucia dos tributarios,<br />

ou pelo conluio dos seus mutuos manejos para<br />

mâocommunaçâo dos seus reciprocos interesses.<br />

Para maior clareza, applicando o caso a um<br />

exemplo, e tomando por primeiro termo decom-<br />

paraçSo 12.205.580 ditos, que é o medio da re-<br />

ceita administrada nos annos de 1822 , e \Z'¿á<br />

que, em 1827 remetteo a respectiva Contadoria<br />

do Real Erario ao Conselho da Fazenda, nessa<br />

proporçâo seria o segundo termo de mais do tresdobro<br />

daquelle primeiro , isto é , de mais de<br />

36.616.740 ditos de gravames annuaes para os<br />

lavradores da Comarca de Santarem, que ao mesmo<br />

tempo deixariäo o mesmo Ërario gravado do


^mpenho tambemannual d e 3.607.489 ditos que,<br />

para salisfaçao dos seus encargos , fallarirto na<br />

receita administrada, em lugar dos 168.506 ditos,<br />

que faltavilo na arrematada. He verdade que<br />

por mais que se muki’plicassem os Empregados<br />

nas vigias, pesquizas, e buscas, ou observaçoes<br />

das colheitas dos ditos lavradores; por mais premios<br />

que se promettessem aos denunciantes, ou<br />

mais penas que se comminassem aos réos dos<br />

seus extravíos, nunca se conseguirla livrar a in-<br />

teira arrecadaçâo daquelle tributo de todos os<br />

subterfugios, em que, por força de exempîo, ou<br />

de necessidade, muitos dos seus tributarios pro-<br />

curâo salvar, ou ao menos resgatar maior, ou<br />

menor parte da sua imposiç/io. Os seus mesmos<br />

arrematantes muito bem o sabem , e com essa<br />

multiplicaçao que fazem dos agentes, e despezas<br />

da sua fmcalisaçâo , nâo aspirâo a evitar o<br />

que é absolutamente inevitavei ; mas aspirâo a<br />

compensar se com usura por uma parte do que<br />

ihes falta por mingoa da outra; isto he, aspirao<br />

a multiplicar por esses meios as multas, ou con*<br />

demnaçOes comascustas do seu proveito; nova<br />

fonte de nâo menos ruinosa pendencia do que de<br />

funesta desmoraiisaçâo dos povos sujeitos as<br />

suas concusfcües , e nova causa nâo menos urgente<br />

da cura de tantos males, sem bens alguns<br />

provenientes de semelhante exacçâo.<br />

E ’ necessaria aquella subslituiçao para base<br />

csscncial da fundaçao e promoçâo da ai>.ricuUui-<br />

ra , pois que a agricultura pede trabalhos, estes<br />

trabalhas pedem salarios , estes salarios pe-<br />

dem capitaes . estes capitaes pedem juros que<br />

^0 ûâo podem liquidar senSo pelo balanço das<br />

suas receitas e despezas , nem garantir sena©


pelo saldo dosseus lucros neste ramo, corno em<br />

qualquer outro a que se applicassem.<br />

2.® E’ necessaria, e absolutamente necessaria,<br />

porque tocia aNaçào que precisa comprar,<br />

precisa vender aos estrangeiros , e vender-lhes<br />

tanto mais dos seus proprios productos quanto<br />

mais Ihes compre dosalheios: ora, como ascuas<br />

quaesquer mercadorias nacionaes h3o de ir sus-<br />

íentaf um combate mercantil com outras análogas<br />

mcrcadorias estrangeiras , em mercados tambem<br />

estrangeiros, para aquellas do seu concurso<br />

poder fazer frente a estas da sua opposiçâo,<br />

é preciso que possâo acomette-las com as mesmas<br />

vantagens, e para isto que levem o mesmo<br />

desembaraço dos encargos da sua producçâo, e<br />

dos tropeços do seu movimento. Para abbreviar<br />

este ponto peloqne sobre elledisse îispag. 126,<br />

241 ató 262 , e 2S1 das minhas V ozes dos L ea cs<br />

JPortufjuezes , só Ihe darei algum esclarecimen*<br />

to pela geguinte contraposrçao as nossas circumstancias<br />

estatisticas.<br />

Quando a Inglaterra , em consequencia da<br />

sua politica separaçâo dos seus dominios da<br />

America , parecia ter perdido muito perdendo<br />

o monopolio dos seus mercados, achou-se que realmente<br />

perderà pouco, porque o ascendente que<br />

tinha nelles adquirido pela sua sujeiçSo fjüal,<br />

brevemente o recnperou pelo seu poder commercial,<br />

estando já habilitada a fazer ahi a mesma<br />

opposiçâo que fazia nos mais mercados estrangeiros,<br />

habilitaçâo pela qual, onde n5o vence<br />

a superioridade dos seus productos indus-<br />

triaes , acode com allivios na sua producçâo,<br />

onde niïo vence nem aquella superioridade, nem<br />

estes allivios, acode com franquías na sua sahi*<br />

da; e onde nàio vence nem um nem outro refor-


ço, acode com ajudas para seu caminho ; vence<br />

por todos os modos, porque ataca com todas as<br />

forças os mais temiveis rivaes dos seus empre*<br />

gos, verificando assim o que disse um grande<br />

Poeta :<br />

Londres, jadis barbare, est le centre des arts,<br />

Le magasiíi du monde et le temple de Mars.<br />

iVías Portugal que , com a mesma politica<br />

separaçao dos seus dominios da America, longe<br />

de 1er a mesma habilitaçSü de productos indus-<br />

triaes, nao os tem nem sequer para seus niais<br />

communs, e mais indispensaveis usos, e apenas<br />

superabunda em alguna territoriaes , como poderia<br />

deixar de habilitar estes da sua superabundancia<br />

para supprir àquelles da sua carencia<br />

, por analogos auxilios da sua opposiçao aos<br />

que encontrao rivaes do seu concurso, tanto nes-<br />

ses seus mercados, que se tornarao de nacionaes<br />

estrangeiros, como nos mais, que sempre o fo-<br />

fcio? Óra, para julgatrse da sua aclual habilita-<br />

çîîo a este concurso, compare-se o genero danos-<br />

sa maior abundancia , e mais conveniente ex-<br />

portaçào , o nesso vinho com o de França, só<br />

nos respectivos encargos da sua prodncçao , e<br />

.jior este parallelo se verá quao inferiores sejao<br />

OS azos da sua dita apposiçno.<br />

E’ necessaria para restabelecer aboa fé, e a<br />

boa mora! entre os povos agricoias; excitar oaeu<br />

brio , empenhar a sua honra a satisfazer com<br />

pontualidade e exacçâo os encargos da sua obri-<br />

gaçào ; virtudes estas impossiveis de suggerir<br />

.á(pielles cuja cautela ou desconfianca sào os únicos<br />

meios de minorar a ana oppressito. Varios<br />

Auctoies teio citado como uin illustre testeuui*


nho do auge a que póde chegar a delicadeza<br />

desses sentimentos, a foTUia com que algum dia<br />

se preenchia a contribuiçào pública em Ham-<br />

burgo , cuja cobrança o Baráo de Bielfeid explica<br />

do modo seguinte, no Tom. 1.’, eCap. J2<br />

das suas — In stitu tio n s P olitiques.<br />

y> Cada Cidadiio tem de pagar annualmente<br />

» um quarto por 100 do seu capital ; esta con-<br />

» tribuicSo se recebe em uma caixa aberta, co-<br />

» berta com um grande panno, detrás do qual es<br />

» tâo assenlados 2 Senadores, a quem o contri-<br />

>i buinte promette , debaixo de juramento, pa*<br />

’> gar fielmente o importe do seu debito. Sobre<br />

j> isso, levanta-se um canto do referido panno,<br />

e o proprio contribuinte deità elle mesmo na<br />

» dita caixa a somma que trouxe, e se confun*<br />

5» de com o dinheiro dos mais ; a cujo respeito<br />

» adverte A. Sraith , relatando substancialmen-<br />

te o caso do mesmo modo, Liv. V. Cap. 2.*<br />

jj áassuás Riquezas das N açôes, que nem tem de<br />

)> declarar o que deità , nem se Ihe póde per-<br />

•> guntar, e que, com tudo, esta collecta passa<br />

» geralmente por multo bem paga ; accrescen-<br />

» lando que assim ha de ser en> um paiz onde<br />

o povo tem grande confîança nos seus Magis-<br />

)i grados, é plenamente convencido que o im-<br />

?> posto ó necessario para as precisoes do Esta-<br />

)f do , e será fieinjente applicado aos objectos<br />

doseu destino. »> AlgunsCantoes Suissos, segundo<br />

o mesmo Smith , oífereciáo iguaes exemplos<br />

de candura em iguaes provas da sua fídeli-<br />

dade.<br />

No 5.’ Tom. c\os A n n a es das Sciencias e Artes^<br />

redigidos eui París por uma sociedade de bene-<br />

ineritos Portugueses , que serviáo a Patria na<br />

ausencia della, acha-se a interessante descripçao<br />

Tom. L V


das latadas de parreiras da uva chamada chas-<br />

selas , usadas^ nas puvoaçôes do districto de Fontainebleau<br />

, em que, depois do seu Auctor explicar<br />

com uma eslampa os excellentes inetho-<br />

dos desta cultura, e o grande partido que della<br />

se lira, observa que uas aldeas onde lia essas<br />

latadas, » nao obstante acharem-se alguns dos<br />

ff seus parreiraes encostados ás casas dos lavra-<br />

» dores, outros revestindo os muros das suas cer*<br />

n cas, á borda das estradas pubUcas mais fre-<br />

quentadas , a pezar mesmo do nenhum res-<br />

’> guardo dos seus donos , cnnservao-se ahi os<br />

» seus fructos intactos , e sem receio algum<br />

» dos viandantes ; respeilo este que se repula<br />

>9 devido á exacta execuçao das Leis agrarias,<br />

» escritas com simpiicidade e clareza para re-<br />

w gulamenlo dos guardas de campo , e muilo<br />

>} principalmente aos costumes que se formao<br />

y) em meio de um povo agricola , que, pelo seu<br />

w proprio interesse, se habitua a venerar a pro-<br />

priedade alheia.<br />

IMas nSo é por Hamburguezes , Suissos ,<br />

ou F'rancezes , que lem , ou livello aquelles<br />

louvaveis altributos do seu caracter. Km<br />

loda a parle os homens nascem com as mesmas<br />

paixôes , de que derivilo os mesmos vicios ou<br />

virtudes, segundo a direcçào que se Ihe dá para<br />

um ou outro objecto. Esta direcçao porém vem<br />

de cima para baixo , e só está o remedio onde<br />

está a causa do mal.<br />

Ë’ necessaria até para o bem da ReiigiSo ,<br />

desta mesma nossa Santa lieligiào , tào hvpo*<br />

critamente invocada quSo escandalosamente profanada<br />

pelos antagonistas das reformas.<br />

Náo se péde duvidar que o maior interesse<br />

da ReligiSo depende do melhor corihecimento


(las suas doutrinas, e da melhor observancia dos<br />

seus preceitos , sem fanalismo no seu ensino,<br />

nem superstiçâü nassuas pratica«, para que corresponda<br />

a gravidade do seu culto á dignidade<br />

do seu objecto , e se identifique o bom Christâo<br />

com o bom CidadSo. JVIas depende geralmente<br />

áquelle conhecimento , e esta observancia de<br />

quem dá a liçâo, e o exemplo aos povos entre*<br />

gues á sua direcçSo espirituul; dependem sobre<br />

tudo dosParochos propostos ao serviço dasFre-<br />

^uezias , porque sendo cada um nos seus gremios<br />

pastores hemogeneos de oveihas conge-<br />

riiaes que, com ame»


que haja nas Dioceses do Reine Seminarios pro*<br />

prios a foroîar Candidatos habéis para taes ministerios,<br />

e que, depois de assim formados taes<br />

Candidatos, achem, nas Freguezias a que forem<br />

propostos , congruas suiîîcientes para de-<br />

sempenho das suas funcçôes parochiaes. Todos<br />

estes estabelecimentos pedem doiaçoes fixas na<br />

8ua quantia , e certas nos seus fundos , para<br />

nSo haver contestaçôes na sua exigencia, nem<br />

fallencia nos seus pagamentos, e proporcionadas<br />

íí imporlancia dos seus objeclos , para corresponder<br />

aos fins da sua applicaçâo: pedem quasi<br />

tudo, pois que quasi nada ha no estado actual<br />

de imposiçâo , arrecadaçâo e distribuiçâo das<br />

rendas territoriaes , em que os operarios mais<br />

laboriosos dessas vtnhns do Senhor sâo gerahnen-<br />

le os mais miseraveis ; as suas Igrejas as mais<br />

S év ère p o u r a u tr u i, p o u r lu i m ê m e indnlgei> t.<br />

Q u i pour un vil profit q uitte uii tem ple in d ig e n t.<br />

D égrad e par son ton la chaire p a sto ra le ,<br />

E t su r l ’esp rit d u jo u r com pose sa m o rale.<br />

F id è le à $on é g lis e , e t c h e r à son tr o u p e a u ,<br />

L e v ra i [lasteur re ssem b le à c e t a n tiq u e o rm e a u<br />

Q u i , des j e u x d u v illa g e a n cien d é p o s ita ire .<br />

L e u r a p ré té c e n t an s son o m b re h é ré d ita ire ;<br />

E t d o n t les v erts r a m e a u x , d e l ’à g e trio m p h a n ts .<br />

O n t v u m o u rir le p è re é l n a îtra les eiiiaïU s.<br />

P a s ses sages c o n seils, sa b o n té , sa p ru d e n c e ,<br />

11 e st pour U vULiije une autre prot>Uienee.<br />

Q u e lle obácure in d ig en ce é c h a p p e à ses b ie n fa its?<br />

D ieu seul n 'ig n o re p a s les h e u re u x q n 'il a faits.<br />

S o u v e n t d a n s ses ré d u its le m a lh e u r assem b le<br />

L e b éguin , la d o u le u r, e t le tré p a s e iise m b le .<br />

I l p a r a i t , e t so u d a in le m a l p erd son h o r re u r .<br />

L e besoin sa d é tre s s e , et la m o rt sa te rre u r.<br />

Q u i p ré v ie n t le besoin p ré v ie n t so u v e n t le c r im e ,<br />

L e p a u v re le b é n i t , e t le ric h e T e stitn e ;<br />

K t so u v e n t d e u x m o rte ls , l 'u n d è l ’a u tre e n n e m is ,<br />

S 'e m èra sien f ¿ aa table et retournent ami*.<br />

0 A b b a d e D e lille , n o seu tfom m e d e t champs , C a n t. 1.


uinosas; as suas alíalas as rnais indecentes; em<br />

quanto os mais ociosos consomem noluxo, e na<br />

abundancia os dizimos das suas Freguezias, estipendios<br />

dos seus curatos , e patrimonios dos<br />

seus pobres<br />

pj’ finalmente necessaria para excitar o patriotismo,<br />

aquelle nobre patriotismo que faz o<br />

mais glorioso timbre da Ña9ílo, e o mais firme<br />

baluarte da sua defeza; mas patriotismo que só<br />

póde excitar o que póde sustei>ta-io , o enleio<br />

da vontade geral com o interesse de cada um<br />

a defender a causa póbiica como causa propria,<br />

sem cuslar-lhe sacrificio algum para este obje-<br />

clo. por ser este metiuo objecto o do>eu maior<br />

sacrificio, para cujos fins direi qual seja a quota<br />

tributaria mais conveniente, e a in»'lhor for*<br />

nía da sua arrecada^áo.<br />

c a p í t u l o XiV.<br />

Sobre a d eterm inaçao da quola trib u ta ria inais<br />

co n ven ien te, e a m elh o r fo r m a d a aua<br />

arrecadaçâo.<br />

.V So se póde duvidar que a certeza da perpetua<br />

isençâo do tributo jiromova os productos da<br />

agricultura a um gráo de augmento, e prosperidade,<br />

que n3o promette a incerteza da sua futura<br />

i«>posiçf(o. Ha com tudo duas especies de<br />

contribuiçÔes mui différentes na sua natureza ,<br />

assiiu como nos seus effeitos. A 1.*, que ataca<br />

os pruductos brutos da dita agricultura , é in-<br />

compauvel até com seu andamento, como já so*


sobejamente se provou ; a 2.* , que só entende<br />

com OS líquidos, se pouco favorece os seus pro-<br />

gresb'oa, pouco estorva a sua actividade, quaii'<br />

do segura aos seus agentes a recompensa dos<br />

seus trabalhos , segundo os seus esmeros , e o<br />

juro dos seus fundos , segundo a uülidade dos<br />

seus empregos; e até esta especie decontribui-<br />

^ao , seria sempre a mais acertarla , por mais<br />

comprehensiva, eniais igual, se nao fosse a mais<br />

embarazada pelas repelidas diínculrlades do seu<br />

assentamento ; diíljculdades que parecem ter sido<br />

o principal motivo da sua ñxaQao em base:«<br />

permanentes, por termos variaveis, em Inglaterra<br />

e Franr;a (I). i’orém asdiversas circumstancias<br />

de l’ortugal oíferecem diversos motivos de<br />

procedimento. l*or um lado, senda a agricultura<br />

deste Keino tSo atrazada, que raais de metade<br />

do seu territorio se acha inculta, ou mal cultivada<br />

, pelo melhor que o poderia ser, nao seria<br />

proprio de uma boa economia limitar os seus<br />

recursos com as suas imposi^oes áoutra metade<br />

bem cultivada, com inteira isen^ào dos terrenos<br />

que viessem a ser imponiveis pelas suas futuras<br />

bemfeitorisacoes. Por outro lado, sendo a sua<br />

promosso tao urgente , e tío necessarios seus<br />

ditos recursos , nao seria proprio de uma, boa<br />

politica penhorar os seus adiantamentos cora<br />

imposizcles que em Inglaterra, e Franca julga-<br />

( 1 ) V a ria o estes teruios e


ío contrarias aos seus progresses. Kenle conflicto<br />

de urgencia de remedios, e contrariedades<br />

na sua applicaçao, o partido mais prudente é o<br />

de um meio termo que, com menos inconvenien*<br />

tes, possa sortir mais aproximadamente os mesmos<br />

eiTeilos, e consiste visiveimente em apressar<br />

quanto antes a determinaçao da proposta<br />

contribuiçao, nas terras já imponiveis, por seu<br />

qualquer actual rendimento , regulando o seu<br />

tributo pelo moderado quinto do seu liquido producto,<br />

como se fez eni França; mas producto<br />

mais bem calculado antes de ser imposto, e reservar<br />

qualquer futura iinposiçâo em quaesquer<br />

futuras bemfeitorisaçoesj)araquando osseus proprietarios<br />

tiverem superabundantemente resarcido,<br />

pelo seu usu-fructo, as desf»ezas dos seus<br />

empregos, e o premio dos seus trabalhos, applicando<br />

a estes tins as isençoes interinas de 10<br />

( i ) até 30 annos, concedidas pelo Alvará de 1 I de<br />

Abril de 1815, ou outras disposiçôes posteriores,<br />

declaradas na Carta de Lei de 24 de Novembro<br />

de 1823 , segundo forem apropriadas aos casos<br />

occorrentes; porém com menos formalidades no<br />

processo, menos complicaçilo nas diligencias,<br />

menos despezas na verificaçâo dos respectivos<br />

indultos, para mais promover as vantagens ge-<br />

raes, segundo mais se facilitem os meios particulares<br />

dos seus aproveitamentos.<br />

Ora , determinados que fossem os (ermos, e as-<br />

( 1 ) F o i esle u m dos m eios q u e , p a ra p ro m o v e r o a u g m e n to<br />

d a a g r ic u ltu ra , e m p re g o u o S e n h o r R ei D. D in iz , p o r a n to n o m a ­<br />

sia o Lavrador. P o r C a rta He 10 d o J u r I io d e I S I 9 , c ita d a á<br />

p a g , 19 d o 11-“ T jr n . d as Memorias de Littéral. Portug. isentou<br />

p o r 10 a n n o s a J u z a rte T e n re iro dos dixtmos e colheitas, p o r ter<br />

a b e rto mats de hvma legoa áe Ierra m aninha, co m lieen ça d'ccon-<br />

tin n a r d e b a ix o d a tiw sm a m ercé.


Bentos as bases da proposta contribuÌ93o territorial<br />

, qual seria a melhor fórma da sua percep-<br />

9S0 ? E ’ o que vai a ser a materia do Capitulo<br />

seguinte.<br />

c a p í t u l o XV.<br />

Sobre a m elbor fo r m a de p erceb er a p ro p o sta<br />

contrihui^ào territo ria l.<br />

-y<br />

E,<br />

STAG unanimemente concordes todos os Kconomistas<br />

políticos em que nSo póde convir ao<br />

bem do Estado a cobrança da imposiçSo , de<br />

que se (rata, na especie da materia imposta,<br />

pelos muitos embaraços e despezas que acorapanhariao<br />

a sua arrecadacSo , e o pouco interesse<br />

que saliiria do seu emprego , (I) razOes<br />

porque estáo igualmente conformes todos osGo-<br />

(1 ) F ro p o re i unid ex c e p ç à o a esla re g ra re la tiv a m e n te aos<br />

M inistros d a R e lig iá o d ed icad o s ao serviço d a s ig r e ja s P a r o c h ia e s ,e<br />

m ais e stab elecim en to s sacros ou proKirios, q u s a té a g o ra se in an tiiilia o<br />

d e D iz im o s , e d a q u i e m d ia n te leiiliá o de n iA te r-s e á cu sía d o Est<br />

a d o ; e x c e p ç à o q u e j>asso a e x p lic a r , e fu n d a m e n ta r.<br />

P o r u m a p a rte n ao se p o d e d u v id a r q u e os D izim o s fo rao m u i<br />

b e m , e m u i ju s ta m e n te a b o lid o s , q u aiito á s u a im posiçS o nos<br />

p ro d u c to s b ru to s d a a g ric u lu ra , p o r ser assaz p ro v a d o q u e o seu g r a ­<br />

v a m e e ra in c o m p a tiv e l co m a p ro sp erid ad e deste r a m o ; o ías dev e<br />

confessar-se q u e a o p iiiiáo p ú b lic a ta x o u d e p re m a tu ra esta ab o li-<br />

ç â o p o r n a o s e re m , n em p o d erem ser os seus recursos im m e d ia ta ­<br />

m e n te su p p rid o s por o u tro s ta o u rg e n te s quaO in d isp en sav eis nas<br />

su as v arias a p p ljcaçô es sa cra s e profanas.<br />

P o r o u tr a p a r te , n a s tristes c irc u m sta n c ia s e m q u e se a c h a es-<br />

tp R e in o , p o r c au sas o rig in a d a s d e te m p o s an tig o s , e m u iio a g -<br />

g r a v a d a s dos m o d e rn o s , seria ra u i penoso ao s la r r a d o r e s , p rin c ip<br />

a lm e n te a q u e lie s d a s p artes m ais rem o tas d a C a p it a l , o a p ro q ip ta *


vernos no exigir oseu valor a dinheiro corrente,<br />

variando só as quotas partes , e os tempos dos<br />

seus vencimentos. Na França, por exemplo, e<br />

na Prussia , se reparte a sua percepçâo em<br />

o p p o rtu n a m e n te em (iin h e iro p re s ta ç ô e a q u e tin h â o s e m p re p ro m p ta s<br />

doá seus frucios , nas estaçôes d as su as c o lh e ita s ; pois q u e , p a ra<br />

essa p ro m p tific a ç â o , te rià o s e m p re , o u quasi se m p re d e m a lb a ra ­<br />

ta r ab suas espycies p o r m a is ou m en o s sacrificio do seu v a l o r ,<br />

q u e n ào fa z iS o d ’a n te s , en tre g a n d o as m esm as especies ; nem ofa-*<br />

z iào OS q u e a s re c e b ià o , p o rq u e , o u e rà o seus proprio s co n su m id o ­<br />

r e s , ou n ao tin h a o ta n ta pressa d a su a v en d a.<br />

P o r o u tra fin a lm e n te os nossos P o v o s ià o d e s g ra ç a d a m e n te ta o<br />

ig n o ra n te s n a su a g e n e r a lid a d e , e p n rc im a tà o iilu d id o s o u a b u ­<br />

sad o s (b e m o m o s tr a r lo seus ú ltim o s p ro ced im en to s) q u e r e p u g n a o ,<br />

re c a lc itrâ o p e rtin a z m e n te á s m esm as m u d a n ç a s p a ra m e lh o r , e m<br />

q u a n to n à o .vem , n a o a p a lp a o m e lh o ram en to s q u e n a o e n te n -<br />

d e m , e q u e n âo e x p e rim e rita rià o d e re p e n te ; p o rq u e , a le m d a i u a<br />

c o s tu m a la j>restaçào em especie ser-ib es m ais s u a v e , p e la so b red i-<br />

t a r a z a o , c a d a u m dos prestad o res p ro c u ra v a , e o rd in a ria m e n te<br />

conseguía liv ra r se d o q n e tin h a m a is g ra v o so a su a im p o siç â o ,<br />

p re sta n d o m en o s do q u e Ilie e ra im posto.<br />

A ‘ v ista d is ío , p a rece q u e o p la n o a g o ra m ais a c e rta d o se ­<br />

l l a d e te rm in a r q u a n to an tes a co n trib u iç â o te rrito ria l d e todo o<br />

R e in o , co titrib u içâo q u e n ecessa riam en te c o m p re lie n d e ria a d e c a -<br />

d a F r e g u e z ia ; e q u e , d e te rm in a d o ao m e im o te m p o o q u e de c a d a<br />

u m dettes ú ltim o s producto s liquidos houvesse d e sa h ir p ara o fisc<br />

o , c ficar p a ra as d ita s co nsignaçôes locacs d a s u a o b r ig a ç à o , «a<br />

erdenasse o p a g a m e n to d a 1 .“ p a rte a d in h e ir o , e o d a S . * e m esp<br />

ecie ; a b o n a d a s u m a e o u tra p a rte aos seus p a g a d o re s pelo m esm<br />

o preço re g u la d o r d a su a resp ectiv a ta x a ç à o a d in h e iro . O q u e ,<br />

co m tu ü o , p ro p o n h o co m o p rin c ip a !, e n a o in té ira d o ta ç io dos re -<br />

íerid o s M inistros d o A l t a r , o n d o T h ro n o , q u e se m p re , p o r u m ou.<br />

o u tro su b sid :o , d ev em ter m eios suíT icientespara se u c o m m o d o tra -<br />

ta m e n to , e d e c e n te d esem p eo h o d o s e u im p o rta n tiísim o m in isterio .<br />

P o d e ria , ta lv e z , esse p a g a m e n to e m e sp e c :? d e iin s c a u sar su a<br />

e m u la ç à o a o u tro s , q u e tivessem d e fa z e -lo em d in h e iro , pelo pon»<br />

d e ra d o in co n v en ien te do seu m a io r e m b a r^ ç o a p ro m p tifica-lo op-<br />

p p rtu n a m e n te ; m as p o d eria ta m b e m prevenir-se esta su a a n n u a l<br />

d i.'tin c ç â o , a ite rn a n ü o ^ e successi va nv;n te por to d o s; e ta lv e z b a sta<br />

ría p ara sua c o m m u m satisi^çao a p a rtic u la r su a v isa ç a o q::e act-<br />

m a p ro jío n h o , á im ita ç a o d a q u e in v en to u e p ra tic o u P e d ro LeO’<br />

pt;ldo n a T o scan a.<br />

Torn. J, X


mezadas adìanladas , contra os graves inconvenientes<br />

que pondera Ganiiii, Tom. 2.", e pag".<br />

383 do seu já citado Essai ^ pelos qnaes prefere<br />

o systema d’Inglaterra, onde se faz o seu pagamento<br />

em uma só prestaçao , mas na occasiíio<br />

mais opportuna do seu vencimento, que coincide<br />

com a das rendas dos proprietarios ; e a este d’lu'<br />

glaterra prefere o de Baviera , pelas suas duas<br />

vezes, e duas épocas de S. JoSo, e Natal, co*<br />

ino rs da Decima em Portugal.<br />

Porém a melhor de todas as formas estabe-<br />

lecidas foi a que estabeleceo na Toscana o grande<br />

Pedro Leopoldo , Augusto bisavó da nossa<br />

Augusta Rainha , e menciona Simonde deSis-<br />

jnondi nos seus já citados Principios de Econ.<br />

Polit. Tom. 2. Cap 4.<br />

Consistía na sua pcrcepçSo em 3 pagamentos,<br />

vencidos nos mezes ¿’Agosto e Novembro<br />

do anno corrente, e Fevereiro do seguinte, cada<br />

um delles posteriores á colheifa dos- 3 principaes<br />

fructos da sua cultura , pño , vinho , e<br />

azeite, ein que maiormente recahia a sua iinpo-<br />

siçao , com a vantagem a favor do contnbuin-<br />

le, de que, pa^>^ando até IVlarço , termo de seu<br />

prazo , se llie desconlavao 5 por 100 da inipor-<br />

toncia de seu debito ; e näo pagando até esse<br />

lempo , nao podia ser perseguido pela demora<br />

até o anrvo ; mas logo que findasse o novo termo<br />

da sua espera , crescia a sua divida de uma<br />

multa de ]o por JOO a favor do collector; mul«<br />

ta a que raras vezes se expunha o iavrador.<br />

Nào ha dévida de que seja este o systema<br />

mais suave de contnbuiçâo, pela niîo haver de<br />

que os maiores embarazos dos contribuinles sao<br />

os da opportuna , e conveniente conversâo dos<br />

generös do seu cultivo nos dinheiros da sua im-


posiçâo; embaraços que muito diminuem, senSî><br />

removem inteiramente os


para cuja melhor persuasilo confrontarei esses<br />

resultados do antigo systema da velha França<br />

com os da mencionada reforma d’lnglaierra ,<br />

ao mesmo tempo, e no mesmo ramo da sua im-<br />

posiçâo, por ser já entâo, emujto antes a mesmo<br />

que aínda é?<br />

O Bill, diz Baert, no seu já citado Tableau^<br />

Tom. 3." pag, 170 , o Bill que seu Parlamento<br />

passa todos oa annos para esta contribniçâo ,<br />

chamada L a n d ta x , variavel de menor para<br />

maior até o extremo apparente (1) de 4 schellins<br />

por livra, nomea Commissarios escolhidos d’entre<br />

os principaes proprietarios de cada Condado<br />

Estes Commissarios nomeáo por í.eus asses-<br />

sores dous habitantes de cada Freguezia , que<br />

náo podem recusar o seu encargo, pena de 2<br />

até S schellins de multa. Estes assessores repar-<br />

tem a somma que toca á mesma Freguezia por<br />

entre os afazendados della, debaixo da vigilancia<br />

de inspectores (Surveyors) nomeados pelos<br />

Lords da Thesouraria. Sendo a contribuiçâo de<br />

cada um fixa nas suas bases , e só variavel nos<br />

lermos da sua imposiçào, como se observou reirò,<br />

aquelles partidores regulâo-se pelas parti-<br />

Jhas anteriores, e se Ihe fazem alguma mudan-<br />

ça . éso pela que tenha tido a renda das propriedades<br />

arrendadas, guiando-se aliás sempre pela<br />

antiga.<br />

Essa operaçâo é tâo simples, facil. e clara><br />

que parece excluir toda a possibilidade de en-<br />

gano, ou controversia. Assim mesmo o direita<br />

dos proprietarios é ahi tâo sagrado , que é per-<br />

mittido A cada um queixar-se do que entende<br />

(1 ) D igo apparente« pela razao j á d ita do m uito que augtneiv*<br />

taiÍlo 08 reudiiceDtos sem au g m entar a iu a imposicao.


ser-lhe gravoso , e pedir justiça aos ditos Com-<br />

missarios, e em ultima instancia aos Tribunaes<br />

da Fazenda; o que obriga os Hitos assessores á<br />

mais circuiuspecta imparcialidade para nâo in-<br />

correrem a responsabilidade de uma taxaçâo,<br />

que nâo possâo justificar.<br />

Resolvidas todas as duvidas , os referidos<br />

Commiüsatios remettem um transumpto de cada<br />

repartiçâo a collectores particulares , que tem<br />

de prestar fìanca pelo seu exercicio , mas nâo<br />

sâo obrigados a servir fóra das suas Freguezias,<br />

Estes Collectores fnzem as cobranças dos col-<br />

lectados, e levâo o seu producto aos mencionados<br />

recebedores, nâo passando de 10 milhas de<br />

distancia, alem das quaes tem os mesmos recebedores<br />

demandarlo buscar ás suas casas, etc.,<br />

do que tudu eis o que importa a despeza da ar-<br />

recadaçâo, alé a sua entrega ao T a x Office y<br />

Contadoria geral de outras muitas cobranças.<br />

Retem os Collectores . . . 2 dinheiros por livra<br />

Retem os Recebedores . . 3 ditos. . . por dita<br />

Retem os Caixeiros dos<br />

Commissarios.................ì \ ditos . . por dita<br />

Tudo . . 6 1 ditos<br />

E porque a livra tem 240 dinheiros, vem aser<br />

fi i<br />

¿3 ditos, que correspondem a 2 ^ por 100, e a<br />

urna 4.‘ parte da de lo * por loo , quecalculeu retrò<br />

Mr Necker, pelas diversas arrecadaçôes das<br />

diversas imposicoes territoriaes da França.<br />

Porém se assim era calculavel o prejuizo en-<br />

tao resultante para o Fisco de semelhantes aggraves<br />

fiscaes , incalculavel era o que delie resultava<br />

aoB poyos que aggravava. Oqueuao po-


deudo mostrar pela equiparacelo dos seus males<br />

coetáneos, ( 1) inostrarei pela contraposicao dos<br />

seus bens posteriores, primeiro devidos ao preconi-<br />

sado melhoramento das suas imposiçôes terriLo-<br />

riaes, e successivamente ampliados segundo ode-<br />

senvolvimento das suas roais ¿nstituiçôe« naeio-<br />

£aes.<br />

CAPITULO XVL<br />

Jim cfue se contrapócm os modernos progressos<br />

agricolas da Franga aos seus anteriores atrazos<br />

a p a r das ditas diversas causas retardativas, e<br />

impulsivas do seu movimento nos seus varios<br />

ramos.<br />

O s elementos , de que o Conde Chaptal for-<br />

mou a sua Estatisiica , sao geralmente o meio<br />

termo dos productos agricolas da França desde<br />

o anno de 1800 até o de 1812, como o diz elle<br />

mesmo i4 pag. 29 do plano , c motivos da sua<br />

Obra ; e posto que na especificaçuo dos documentos<br />

em que funda as suas provas , cita alguns,<br />

que cheg3o até o anno de 1818, em que<br />

a escrevia, é mais para confirmar osseus cálculos<br />

do que para estender os seus limites que,<br />

com tudo, por estacionarios, podem reputar-se<br />

idénticos aos de 1814.<br />

Até essa época representa taes seus ditos<br />

(1 ) S e ria aqui m ais n atu ral o p a ra lle lo da v e lh a F ra n ç a co m<br />

a I n g la te rr a c o e v a ; m as p a ra m a io r sorjireza da su a p ro p ria trans»<br />

fig n ra ç â o , a c o m p a ra re ) p rim e iro c o m e lla m e íin a , nas difFereii-*<br />

te« é|)Ocas d a » la re p rc se n ta ç a o , e depois co m a liig la re rra .


progresses agricolas que affou(a*se a dizer, pa».<br />

J63 do 1.® Tomo ila sua Obra que as suas<br />

» colheitas já chegaváo ao decuplo do que erao<br />

ein 1789, e ao mesmo tempo animaes numero-<br />

fi sos e robustos lavravSo e engordaváo as suas<br />

n ierras; alimentos saôs e abundantes, moradas<br />

)) aceiadas e commodas, vestidos simples, mas<br />

» decentes eráo ja olote dos habitantes docam-<br />

n po , donde a abastança tinha bannido a mise-<br />

» na. » Porém tudo isso era ainda pouco pelo<br />

muito mais que veio a ser, e mais apparatosa-<br />

mente representa o illustre Barâo Carlos Dupin,<br />

na sua excellente Obra intitulada des Forces<br />

productives et commerciales de la France ^ de cujo<br />

J." Tomo tirei o proseguimento da li^statistica<br />

do dito Conde Chaptal, até o anno de 1G27.<br />

E ’ nesla , sobre tudo nesta magnifica Obra<br />

que se vem ostentados em magnifico quadro esses<br />

maravilhosos progresses da França, desde a<br />

dita época d e l 8H ; amemeravel época emque,<br />

diz seu eloquentissimo Auctor » o uso legai das<br />

» suas fecundas liberdades fez viver de uma<br />

fi existencia mais energica , e crescer de um<br />

ìì crescimento mais rapido o seu corpo social.<br />

No seguinte extracto, que fiz do dito quadro,<br />

distinguem-se , pelos seus caracteres, os riscos<br />

que trasladei litteralmente desque recopilei sal-<br />

teadameute.<br />

Por » forças productivas e commerciaes a<br />

entende o BarSo Dupin as forças » combinadas<br />

» dos homens, dos animaes, e da natureza, ap-<br />

» piicadas, em França , aos trabalhos da agri-<br />

iì cultura, da industria, e do commercio. Estas<br />

» forças nílo tem umaacçao puramente material<br />

Ìì e fisica, mas tem por motor, freio e regula-


í> dor o espirilo e a prudencia dos bomens com<br />

a energia das suas vontades.<br />

f} Assim as luzes dos Povos, como os seus<br />

>> costumes, tem relaçoea e proporçoes intimas,<br />

e necessarias com o desenvolvimenlo das suas<br />

ff forças productivas e commerciaes, relaçoes e<br />

fy proporçOes que procurou indagar , e aclarar<br />

?> resumindo em um feixe os elementos da civi-<br />

?» lisaçâo Franceza, e relatando com íidelidade<br />

o que vio, leo e calculou para fazer da Fran-<br />

ça constitucional unía Estatistica comparada<br />

3» com a da França imperial , que seu Auctor<br />

Mr.Chaptal, já mostrara incomparavel com a da<br />

?? velha França.<br />

ff Desde 1803, diz elle á pag. 3 da sua in-<br />

troducçao ?? desde 1003 até 1015, I2Campanha3<br />

« nos cuslárao perlo de um milhao de iiomens<br />

morios nos campos de batallia, nas estradas,<br />

nos hospitaes, nas prtsoes, e para isso gasta-<br />

mos 6 mil milhoes. Em fim a fortuna cança-<br />

da quebrou o eceptro imperial , destruio as<br />

nossas confederaçoes, separou as anexas niais<br />

uteis do «ceso antigo territorio. Duas inva-<br />

» sues desiruirao, ou consumirào no velho Solo<br />

mil e quinheutos milhoes de materias primas<br />

ou lavradas, de casas, deoificinas, de utensi*<br />

Jios, de animaes necessarios á agricultura, ás<br />

fabricas, ao commercio, e por preço da paz,<br />

V em nome da Alliança , a nossa Patria vio se<br />

37 condemnada a pagar outros mil e quinhentoa<br />

>i milhoes para Ihe impedir de poder nimiamen-<br />

3j te cedo recuperar oseu bem estar, seu esplen-<br />

>1 dor, e sua força.<br />

» Eis pois nove mi! milhoes de francos tira-<br />

dos, em 12 annos, á industria ¡)roducliva da'<br />

¡7 França, e perdidos para sempre; e de mais a


n mais a mesroa França desapossada de todas as<br />

» suas conquistas, e opprimida de 200 mil es-<br />

t) trangeiros acampados no d o s s o territorio , e<br />

w nelle vivendo á costa da nossa gloria e iortu-<br />

n na até o fìm de 1818.<br />

}} Ora pois , desde 1818 até 1827 , só em 9<br />

« annos , sararSo todas essas profundas e san-<br />

ff guiñarías chagas. Em vao o olho procura as<br />

ff nossas cicatrizes ; a Patria reparou assuas ira-<br />

>f mensas desgraças, refez se doseu esfalfamen-<br />

to, e graças á sua energia moral, ditoso fru-<br />

ff lo das suas liberdailes , ei-la mais robusta,<br />

>» mais activa , mais importante do que nunca<br />

?ï foi. A vista dos esforços que fez para renas-<br />

» cer, ereassumir a sua primeira iVîagestade , é<br />

» o mais sublime espectáculo que se possa of-<br />

ff ferecer ás Naçoes.<br />

Tinhamos perdido um milhSo e quinhentos<br />

ff mil homens em 23 annos de guerras; e em 13<br />

ff annos somente a fecundidade das nossas mais<br />

« fez crescer a populaçâo de dous milhôes e<br />

ff quinhentos mil habitantes. Quatrocentos mil<br />

if soldados, ou marinheiros andavao ou dissemi-<br />

» nados nas fortalezas lomadas aos estrangeiros,<br />

» para esperar a volta de uma fortuna que nflo<br />

ff devia voltar, on dispersos por Ierras inimigas,<br />

¡i desde os desertos da Siberia até os presidios<br />

ff de Africa , e desde os pontees de Inglaterra<br />

ff alé as masmorras das Ilhas Briiannicas. To-<br />

« dos regressarSo para a Patria , eSOO milguer-<br />

» re iros, ainda debaixo das armas, as depoze-<br />

» rao no altar da concordia. Assirn 700 mil ho-<br />

JÎ mens, que tinhâo alternadamente ido á pro-<br />

« va de batalhas , e climas lerriveis , tornaráo<br />

>} a ver seus lares , que os tarnariio a uma no-<br />

T o m . I . Y


jf va vida, a da liberdade gozada no Solo nata-<br />

« licio....<br />

» Veteranos Francezes , o mundo vos admi-<br />

ra por altos feitos de armas, e eu niais ainda<br />

» vos admiro pelo vosso novo exercicio de vir-<br />

« tudes civicas •. .e igual energia ein trabalhos<br />

« que niîo tinhâo o esliinulo do perigo, nem o<br />

fi engodo da gloria!! E ’ nisso, sobre tudo, que<br />

ff fizesles reconhecer os Soldados de um grande<br />

ff Exercilo por dignos, filhos de uma grande Na-<br />

» çâoü Ao mesmo tempo que aagricaltura der-<br />

ff ramava nos nossos celeiros thesouros inespe-<br />

>f rados , reparavamos as nossas mais perdas<br />

ff agrícolas. Nos Departamentos que os Exerci-<br />

ff tos estrangeiros tinhSo esmagado do seu pe-<br />

ff zo, tinhao a seu bel prazer devastado opaiz,<br />

f’ queimado as casas e granjas, talado as sea-<br />

ff ras debaixo dos pés dos seus cavallos, rouba-<br />

» do os gados, exacerbado sob as bandeiras da<br />

if amizade todos os maies do odio , e da vin-<br />

f> gança. As requisiçoes para os provimentos<br />

dos Exercitos, principalmente dos estrangei-<br />

ff ros, em gado ovelhum , vacum, e cavaliar,<br />

ff tinhâo diminuido consideravelmente todas as<br />

ff especies, principalmente as grandes especies<br />

fi domesticas, de que darei niguma idèa, dizen-<br />

« doquesó n’um dos nossos Departamentos, odo<br />

ff Aisne , a presença deses estrangeiros custara<br />

M 75 milhôes de francos.<br />

ff Já desapparecerâo todos esses estragos, e<br />

ff se indemnisarâo todas as suas perdas. Asnos-<br />

ff sas casas e granjas achâo*se reconstruidas; os<br />

ff nossos gados sao tao numerosos como antes da<br />

« guerra , e já se contáo 5 milhôes de cabcças<br />

íf de gado ovelhum, e 400 mil cavallos mais do


1 que na fatal época em que o inimigo se do-<br />

M miciliou no nosso teiritorio ; ou demais for-<br />

tf ças animaes auxiliadoras das humanas dosnos-<br />

» sos productores agricoias, industriaes e com*<br />

» merciaes. ^<br />

Ainda que o meu principal objecto , na re-<br />

copilaçâo desse quadro, é inculcar, pelas niara-<br />

vilhas que fez a agricultura em França, as que<br />

póde fazer em Portugal , sendo aqui fecundada<br />

pelos mesmos fomentos que a fecundaráo alli,<br />

náo posso abster-me de juntar*ihe , para maior<br />

emulaçâo, o que Ihe juntou seu Auctor dos simultáneos<br />

progressos da industria do mesmo<br />

Reino, cujos varios ramos, insertados no mesmo<br />

tronco, ainda que diíÍerentes pela sua na-<br />

tureza , assemelh3o*se na siia fructifiçSo, como<br />

as bases nutritivas das suas especies. Fis pois<br />

.0 que, virando-se para a industria, continúa a<br />

dizer Mr. Dupin.<br />

fi Nos nossos Deparlamentos do Norte e<br />

» Oeste con tavâO 'S e perdas ininiensas. Fabricas<br />

>1 taes como as de Mr. Japy , que mantinhîïo<br />

no AltoRheno mais de mil equiiihentos obrei-<br />

ros, tendo desapparecido, tornaráo a appare-<br />

» cer. A Belgica e os Departamentos da mar-<br />

>f gem esquerda do Rheno, separados da F’ran-<br />

>j ça , a tinhSo repentinamente privado de in-<br />

» tìnitas ofiìcinas, e de minas decarvào, de fer-<br />

-•> ro, de cobre , de zinco, e tc . , os nossos fa-<br />

»> bricantes tudo introduzirao , tudo supprirào<br />

» no nosso Solo. Fomos escrutar nos paizes es-<br />

trangeiros os misterios da sua industria para<br />

« resuscitar a nossa: resuscito», engrandeceo ,<br />

» eei la melhor, mais variada, mais beila, mais<br />

f} opulenta que nunca. Já duas vezes a França<br />

•> maravilhada, soberba desses tributos do ge-<br />

Y 2


** nio, e da actividade, vio o estrangeiro ren-<br />

» der*lhe a dupla homenagem (los seus elogios<br />

» forçados, e das suas satiras afl’ectadas; e bre-<br />

M veinente, na bella estaçâo, que vai succeder<br />

» á primavera, a veremos, pela terceira vez, ex~<br />

» ceder se a si mesmo, e oflerecer-se aos<br />

» sos olhos com novas descobertas, que háo de<br />

» merecer honras , quaes póde apregoa-las um<br />

Seculo de luzes. »<br />

Passando a especificar por mindo o que<br />

declarou em grosso,em 1812, continúa elle^?» obra-<br />

ÎÎ vamos 35 milhoes de kilogramas de là Fran~<br />

» ceza, e já obramos 45 milhoes ditos, e 8 mi-<br />

Ihoes do estrangeiro. Faltavao-nos gados que<br />

)i fornecesseiii a là comprida e lustrosa, neces-<br />

» saría para os chales e vestidos ondados. Po-<br />

» semos á contribuiçào o Meio dia , o Orienti<br />

te, e o Occidente para mais enfeitar o sexo,<br />

» que mais enfeita um povo civilisado. A Asia<br />

» concorreo com suas cabras do Thibet; a Afri-<br />

» ca com seus carneiros da Nubia ; a Europa<br />

}> occidental com os do Leicester (já tinhâo os<br />

« Merinos d’Hespanha) Inventamos artes de-<br />

>i licadas para reduzir a productos analogos vel-<br />

n los de admiravel fineza ; e o cachemira de<br />

f> Prança apresentou modelos que poderao ser<br />

>í imitados, mas nSo excedidos em Inglaterra.<br />

»Em 18I2fiavamos somente dez milhóes tre-<br />

» zentos e sessenta mil kilograraas de algodSo.<br />

« Agora fiamos 28 milhoes ditos em gráos supe*<br />

?í riores de finura, eosreduzimos a uma infinida-<br />

de de tissus, q u e primeiro apenas sabíamos fa-<br />

» bricar, eque depois tanto facilitamos, apiri*<br />

ÎÏ mos, e multiplicamos. Nilo tinhamos senáo ma-<br />

» quinas imperfeitas para as fiaçôes de números bu -<br />

» bidos, assim como para pintear, cardar, tos-


nquear, lustrar, estampar as estofas. Temos<br />

i> importado umas , e inventado outras , e as<br />

>i nossas oíScinas estáo cheias délias , (N. B.)<br />

» prova material do beneficio , que acha uma<br />

f» Naçâo a regenerar-se a si mesmo.<br />

>i Já nenhuma Naçâo rivalisa comnosco no<br />

» trabalho das serias: mas os mesmos termos a<br />

ff que só nóstinhamos chegado, os trespassamos<br />

ff de muito. A China tinha a vantagem depro-<br />

» duzir uma seda, cuja esplendida alvura exce-<br />

de as manufacturas de todas as mais especies<br />

« de chrysolidas conbecidas no Oriente. Natu*<br />

ff ralismos entre nó« o bicho que a produz , e<br />

ff brevemente fabricamos os adniiraveis crepes<br />

ff do seu paiz natal, aperfeiçoando a fiacao da<br />

ff sua materia, igualando a lisura do seu tissu,<br />

V alcançando a especiosidade dos seus lûmes,<br />

>j a viveza dos seus matizes , a belleza da sua<br />

» vista. Depois da paz, levamos para a opulen-<br />

ff ta Asia tapetes imitados dos da Persia eTur-<br />

)f quia, e melhores ainda que os .«eus modelos,<br />

ff com os quaes os mandamos rivalisar a duaa<br />

; mil legoas de distancia. Antes dos nossos de-<br />

» sastres (os das invasoes estrangeiras) Leao<br />

>f contava pouco mais de ico mil almas. Apa-<br />

» garáo-se os vestigios dos mesmas desastres,<br />

íj com tal vantagem, que já mais de 150 mil la-<br />

ff boriosos habitantes povoSo , e fazem florecer<br />

ff aquella bella Cidade pela sua engenhosa acti*<br />

ff vidade, ao mesmo tempo que París levanta-se<br />

» fonnidavel rival da Rainha do Rhodano , e<br />

n conta, entre as muitas causas da sua progres-<br />

« siva populaçâo , os numerosos empregos que<br />

ff resultáo dos trabalhos das sedas, do algodáo,<br />

ff das lás, e do cachemira. Uma sabia Estatisti-<br />

ca flos apresenta já a mesma Cidade fabril


ff canâo 14 milhoes de chales ; mais de 6 nii><br />

» Ihoes de movéis e alíalas preciosas, e expor-<br />

» landò annualmente 57 milhoes de artefactos<br />

if sobejos ao seu uso; e eis a C'apital do Keino<br />

>f engrandecida, e embellecida por infinitos edì-<br />

« ficios consagrados á ulilidade pública, e par-<br />

M ticular. )}<br />

Voltando para a industria das Provincias ,<br />

mostra seus varios ramos adiantando-se dos mesmos<br />

passos ; por uma parte a Química extrahin-<br />

do de inuteis materias utilissimos saes, ácidos,<br />

tintas; por outra a Lithografia avanzando á sua<br />

perfeiçào 5 e de caminho prestando os mais eco-<br />

nomicos servicios ás Artes pelos seus debuxos,<br />

näo só no papel , mas nos tecidos de algodao ,<br />

de lit, de seda; enao só em todo o panno, mas<br />

em toda a louca, desde a mais commum, até a<br />

mais fina, e finura extensiva a todas as formas,<br />

accompdada a todos osgostoçî, proporcional ato-<br />

dos 09 preces. Aqui a tapecaria desenvc^vendo<br />

indefinitamente os sous rolos , e a pintura en-<br />

riquecendo-os das suas mais lindas córes. Aco-<br />

Já a mineralogia promovendo incessantemente<br />

as suas lavras, a fundiçâo refinando os seus me-<br />

taes, as forjas malleando os seos productos-; eq^ie<br />

näo diria a poder dizer os infinitos artefactos<br />

dos seus infinitos artificios ? Mas n;lo portendo<br />

nomear as suas especies, pela sua muliidäo, só<br />

direi, para dar alguma idèa da sua copia que,<br />

segundo o seu descriptor achava-se provado,<br />

?> por um modico direito de cunho, que as fa-<br />

>’ inilias Francezas augmentavuo annualmente<br />

suas aifaias, suas baixelas , suas joias de 20<br />

}) tnilhòes de francos. »?<br />

Porém, era muito maior proporçfto que olu-<br />

xo de uns tinha crescido o bem estar de todos ;


pois que, á medida que os simultáneos progres*<br />

sos da agricultura , e da industria foráo dando<br />

mais que fazer, deráo mais a ganhar aos seus<br />

respectivos operarios , e póde cada um delles<br />

pe!o seu trabalho prover-se de tanto meihores<br />

alimentos , reparos , e commodos domesiicos,<br />

quanto mais a sua abundancia ia diminuindo o<br />

seu preço. Eis os melhoramentos mais intéressantes,<br />

por mais transcendentes, e de tal importancia<br />

que, por elles estima IVlr. Dupin , pag. 45,<br />

o augmento da longevidade humana em razâo<br />

maior que a de 28 paia 36, e oque resulta desta<br />

longevidade para o das suas forças productoras<br />

em 36 por loo, formando seus mui curiosos<br />

caicuios da maneira seguinte.<br />

Depois de estimar em mais de 28 para 36 a<br />

dita longevidade, peias ditas causas , avalia em<br />

30 por 100 o relativo augmento das suas forças<br />

productivas, e juntando a este computo 27 por<br />

JOO de augmento na sua populaçâo, mas tiran»<br />

do a terça parte deste numero, por ser comprehensivo<br />

de todas asidades, e diminutivo da sua<br />

energia , deixa pela igual actividade do resto<br />

18 ditos, que juntos aos 30 ditos, fariSo 48 por<br />

100. Attendendo porém a que se devia abater<br />

desta mesma conta o que as suas guerras Iho<br />

linhao feito perder em mortos, estropeados, ou<br />

inválidos prematuros, cujo numero póem em 12<br />

por 100, reduz aquella monta aos ditos 36 por<br />

JOO de forcai-’ humanas accrescidas ; advertindo<br />

que fez remontar a origem da sua accumuJaçâo<br />

a 40 annos, durante os qu^es foi muito perturbada<br />

a ordem da sua progressSo.<br />

Passando desse computo de forças materiaes<br />

ao das espiriluaes, que considera no desenvol—<br />

vimeoto das faculdades intellectuaes por todos os


grâos de illuslraçÔes indivîduaes, desde as ins><br />

trucçdes primarias até ás Sciencias mais altas,<br />

mostra ainda mais rapida a sua progressao , a»<br />

mais erguido o seu cumulo. Nâo podendo recopilar<br />

aqui os muitos cálculos que fez dos seus<br />

progressives elementos , conlentar-me-hei com<br />

offerecer jior exemplo de comparaçSo o resumo<br />

que , á pag. ]6 , pôem das producçoes littera-<br />

rias das suas imprensas , durante o periodo cons*<br />

titucional a que se refere, « é o seguinte.<br />

Em I8I4 I8I5 1820 J 825 I82G<br />

45.675.089 55,549.U9 80 921.SOS 128.010.485 U4.56l.094<br />

Advertindo que sendo tudo isso folhas de<br />

Jivros instructivos em um ou outro ramo, der-<br />

ramâo proporcionaes lu/es de todas as Sciencias,<br />

alem das que espalhem milhoes e milhôes<br />

de Folhas noveleiras de Jornaes, que nàoerîtr^<br />

nesta conta.<br />

Ainda que esse quadro, muito abreviado do<br />

que pinta i\lr. Dupin da feliz transformaçao da<br />

velha França para a nova, agrade mais intimamente<br />

ás almas nobres, filantrópicas esensiveis,<br />

que mais se comprazem, se deleitâo, seenlevao<br />

nos melhoramentos da sorte dos seus semelhan-<br />

tes, n3o deixa de agradar muito aos varios gos-<br />

tos pelos varios traeos que junta a sen painel.<br />

Agrada muito ao austero Financeiro , que<br />

tudse diminuido o odioso im-<br />

(1) Tinlia baíxado a contribuiçdo directa de S47.S84.549 fr.


posto das Loterías de 1 1.901 806 ditos, näo obd-<br />

taute ter-se reduzido de 2.176 para 1.349 o numero<br />

das Cidades que pagavâo octroi (especie<br />

de direito que seimpoeni, ese cobra para se applicar<br />

a precisöes locaes) tinha augmentado o<br />

rendimentc) público de 977.695.489 francos ¡)ara<br />

986.136.905 ditos, observando que ao mesmo<br />

» tempo que todas as receitas tinhao crescido<br />

» progressivamente, tinhäo decrescido na mesma<br />

proporçâo as despezas da sua cobrança. a E<br />

quanto mais agradaveis nSo sao esse augmento,<br />

(1) e esta diminuiçao á vista do dobro, e mais<br />

do ilobro dos termos inversos de Mr. Necker,<br />

de cujo tempo Mr. Dupin data a progressâo dos<br />

seus ?<br />

Agrada igualmente ao soberbo Estadista,<br />

que tudo vê no respeito politico, e represenla-<br />

çSo nacional, pelo que manifesta do engrande-<br />

cimento das suas forças terrestres e navaes; da<br />

vastidâo e multiplicidade dos seus arsenaes; da<br />

abundancia e variedade dos seus petrechos; do<br />

desenvolviiiienlo dos seus trabaihos públicos ;<br />

da actividade da sua industria, da extensâo do<br />

seu commercio , da immensidade dos seus recursos.<br />

para S i i 589.5)10 d ito s, pelo sobejo suppriniento da indirecta da<br />

in d u stria , e do coim n ercid , e j á se reduzìa o m eio term o d a sua<br />

im p o siç â o para cada contribuinte a 15 p o r 10Ü do seu re n d im e n ­<br />

to ; m js é para notar que codio abran g ia no seu m onte a c b a in a -<br />


Agrada aínda lïiais ao Filosofo moral» que a<br />

tudo prcfere 08 melhoramentos racionaes da especie<br />

humana , pelo que Ihe mostra de vant»-<br />

gejis que, na successiio das idades, vSo levando<br />

as gfetaçôes novas ás antigas , em rectificables<br />

de idéas , e desabuaos de opinií^es ; em<br />

aproximaç3o de umas para outras classes e convivencias<br />

soCiaes ; em fusíío d^ affeclos como de<br />

interesses; era multiplicaçâo de beneficióse civilidades<br />

; e finalmente em honestidade de costumes,<br />

e isençrto de crimes. O que attribue aos<br />

sentimentos mais generosos, mais honrados, ou<br />

mais religiosos que ifispirSo uma educaçSo mais<br />

liberal , e uma instrucçSo mais geral , e prova<br />

pelo numero periodicamente decrescido dos de-<br />

lictOs e penas de que junta o mappa (I) , prova<br />

que confirma o que se disse retro, ápag. 146<br />

das latadas de FiUítainebleau.<br />

Assim mesnio, pelos muitos melhoramentos<br />

pstatisiieos. politicos c moraes, que mostra ter<br />

adquirido a Franca, nSo disfarça Mr. Dupin os<br />

muilos que ainda Ihe resláo a a


CAPITULO XVIf.<br />

E m que se fa z sum m ariam ente o curioso parallel<br />

lo dos ditos melhoramentos que já tem adquirido<br />

a F rança com os que a inda póde adquirir,<br />

á vi^ta dos de Inglaterra f que selheconfrontáo.<br />

Ü a’ estimava o Conde Chaptai , pag. 292 da<br />

sua mencionada E&tatis(ica , em 20 milhoes o<br />

numero de individuos aílectos <br />

rei, em seu resultado que , náo comprehenden-<br />

do entre seus respectivos agentes os individuos<br />

de menos de i2 annos, nero 09 de mais de 60<br />

ditos, estima osmais intermedios em *18.812.077<br />

ditos. Graduando sobre isso as suas diversas<br />

forças pelos seus diversos sexos, e idades, com<br />

equiparar as de mulheres á roetade das de ho-<br />

n3ens,easdosÍQdividgos de U para 17 annos, ede<br />

para 60 ditos á metadedos respectivo^interine-<br />

Z 2


dios , viris e muÍheris; dando por supprido o<br />

que falta de energia individual aos que inclue<br />

no seu numero pelo que sobra aos que delle<br />

exclue ahaixo, e acima das ditas idades, observa<br />

que , nâo obslante contar cora muitos que ,<br />

peias suas fortunas, sua molestias, ou sua man-<br />

drice, pouco ou nada fazem, jul^a assim mesmo a<br />

sua conta assaz exacta pelo que podem fazer, e<br />

avaiia todas as virtualidades de 3i.600.000 individuos<br />

na força de i 2 609 o57 homens rto pleno<br />

vigor da sua idade, de que deixa para a industria<br />

manufactureira e commercial a terça parte<br />

d e ........................................................ 4.203.019 dit.<br />

e toma para a agricola as outras<br />

duas terças d i t o ............................ 8.406.030<br />

que sommSo nos rnesmos . . . . J2.609.037 dit.<br />

ìN’o que é de attender que'<br />

esta ultima intensidade de forças<br />

humanas representa a extensSo<br />

das d e ............................................... 21.o3€.667<br />

individuos, a cuja agencia se re-<br />

ferem.<br />

j> Se a industria humana, continua o Barao<br />

Dupin j>nño tivesse achado o meio de auxiliar-se<br />

» de outras forças, estaria reduzida as que aca^<br />

» bamos de enumerar. Vamos ver quSo ¿rran-<br />

» des sâo os soccorros que Ihe preslSo as forças<br />

animaes, e os motores inanimados. »<br />

Quanto aos auxilios dos animaes, avalía as<br />

forças dos cavaiios, e dos machos no séptuplo<br />

da dos homens; e a dos bois em perto do quadruplo<br />

da dos mesmos homens ; em muito menos<br />

as tías varas , e um pouco mais as dos burros<br />

que as dos homens. Advertindo que , para<br />

forniaçâo dos seus cálculos , se aproveitara dos


ecénseamentos des^s animaes, que Ihe tinhSo<br />

RÌ(]o communicado8 pelo Ministerio do interior,<br />

e julgava mais exactos ; mas que minios dos<br />

bois nelles coniprelienciidos achando-se nos campos<br />

só para engordar , muitas vacas reservadas<br />

para a c.riaçâo, e muitos burros de idade ainda<br />

impropria ao trabalho, faz por isso á prestaçào<br />

dos seus auxilios um desconlo , que julga pro*<br />

porcional .'1 diminuiçao das suas respectivas forças<br />

nos. termos segumtes.<br />

Forças agricoias vivas da Franca.<br />

Kspecie humana . . 2 1.006.667<br />

equivalentes a ......................... 8.40G.038 dit,<br />

Cavallos......................j.600.ODO 1 1.200.000<br />

Bois e vacas..............6.973.ooo I7.432.500<br />

B u r r o s ......................... 0240.000 oo.240.ooo<br />

Total . . 37.270.538 dit.<br />

j} Este primeiro resuUado , continúa o dito<br />

Bario >? faz-nos vt^r cjue , no total das forças<br />

» agricoias da França, a especie humana entra<br />

« por pouco mais de um quinto; do que se se-<br />

gue que o homem tem aqui achado o meio<br />

jj de quintuplar o que póde fornecer aos'lraba-<br />

» Ihos da agricultura , e equivale ao quintuplo<br />

das suas proprias forças nesle emprego. »<br />

'Mao é por certo necessario inculcar aqui o<br />

grande conceito que merece , no que (üz da<br />

Gran-Bretanha , o mesmo Auctor , que tanto<br />

acreditào no mundo Iliterario os vastos conhe-<br />

cimentos , que mostra ter adquirido dos uiara-<br />

vilhosos progressos industriaes deste Keino os 6<br />

Tomos das suas iateressansissimas viagens nel-


ie, bera como o Systema da adminislraçâo B ri"<br />

i£inntca\ pelo que só direi ojuizoquefaz das mencionadas<br />

forças animaes, empregadas nasua agri*<br />

cultura , relativamente ás do mesmo emprego<br />

em França, que ihes compara.<br />

Estimando a populacao de Inglaterra, juntamente<br />

com a de Escossia, em 15.000.000 habitantes<br />

, diz que.nfío passa ahi de um terço a<br />

parte delia empregada na agricultura, e se de-<br />

dicâo os mais 2 terços aos mais ramos de industria<br />

, ou conimercio : sobre o que rerluzindo,<br />

por seus calculados descontos e compensa-<br />

çoes o i.* terço , que é deô.ooo.ooo individuos,<br />

a 2.132.446 Irabcilhadores no pleno rigor da sua<br />

idade, forma o seguinte mappa das suas forças,<br />

e das mais vivas do seu auxilio:<br />

Especie humana . . . 5.000.000<br />

equivalentes a ............................ 2.132.446 dit.<br />

Cavallos adultos . . . 1.250.000 8.750.000<br />

Bois e vacas, etc. . . .^.500.000 13.750.900 dit<br />

Total deslas forças . . 24.632.446 dit.<br />

Sobre u que , combinando a proporçâo da<br />

força tolai á i'orça humana applicada á agricultura,<br />

observa que os agricultores da Gran-Bre*<br />

tanha tem achado o meio de crear uma força<br />

auimal quatti 12 vezes lauta quanta é a sua propria<br />

corporal , com que poderiSo cultivar pro-<br />

porcionalmenle mais terras, se as tivessem , na<br />

mesDia maior proporçâo; a cujo respeito faz outra<br />

observaçâo muito importante para desengaño<br />

doslavradores mais ambiciosos delavrar muilo<br />

, do que cuidadosos em lavrar bem.<br />

Estimando em 46.000.000 ot hectaros agri-


cuitados em França , e ein 21,643.000 ditos os<br />

agricultados na (iran-Bretanha ; e repariindo<br />

por elles as respectivas forças da sna applica-<br />

çâo 5 acha que a cada mil heclarOs da Gran-<br />

Bretanha correspondem as de i 138 dos ditos<br />

trabaihadores.qiiando aos mil de F ranca só correspondem<br />

as de RIO ditos, cuja differente acçâo ,<br />

que faz uma differença enorme nos trabalhos dos<br />

seus respectivos hectaros , a faz tambem nos<br />

seus productos, niïo só pelos seus melhores ama-<br />

nhos locaes, mas pelos sens mais copiosos adii-*<br />

bos animaes.<br />

Mais notavel superioridade de forças comparativas<br />

attribue ainda Mr. Dupin íí Inglaterra<br />

sobre a França nos varios parallèles que faz<br />

dos seus respectivos azos industriaes. Nao me<br />

permittindü a brevidade deste Capitulo recopilar<br />

os seus quadros, me restringirei a mencienar<br />

dous dos mais salientes , e dar uma idèa ilos<br />

niais pelos seus relativos resultados.<br />

Tendo estimado no Cap. 111. a populaçâo da<br />

l'rança em 31.600.000 habitantes, e deixa-<br />

do para a agricultura as duas terças partes de<br />

21.056.667 dosseus individuos, ficaráo para seus<br />

mais raTOOs de industria e commercio 10.533.333<br />

ditos, cujas forças adultas ava-<br />

liou nas de ¿ . 4.203.019 hom.<br />

Estiinando agora , no Cap. IV ,<br />

o numero dos seus cavallos,<br />

aííectos aos últimos ramos, em<br />

300.000 , cujas forças proporcionaes<br />

avalia nas d e .............. 2. loo.000 dit,<br />

pdem umas e outras era . . 6.303.019 dit.<br />

Fazendo , so^re isso , cálculos<br />

analogos das da Gran-Breta>


nha , apresenta o seguinte quadro<br />

:<br />

Pelas duas terças parles da sua<br />

populaçâo , que eui numero<br />

de 10.000.0000 habitantes dados<br />

aos mesmos ramos , dâo<br />

proporcionalmente.................. 4 2tí4.''893 dit.<br />

Por 250.000’ cavallos nc mesmo<br />

em prego............................ • • • I 750.000<br />

Sommando umas e outras em 6.014,893 dit.<br />

E que proporçâo de forç-as vivas industriaes<br />

com a extensáo territorial de um e otilro paiz?<br />

j’orém isso mesmo ó nada pela desproporçâo<br />

das forças inanimadaá do seu auxilio, que compara<br />

, e de que citarei , por exemplo , as que<br />

Jhe fornece o vapor , vapor que converteo as<br />

suas níinas de carvao em minas de ouro.<br />

Advertindo que, segundo asinformaçoes que<br />

alcançara , rjâo se fíóile suppôr que a força total<br />

dus maquinas de vapor usadas em França<br />

exceda a de 6o mil dynamos (1) , estima o seu<br />

effeito equivalente ao trabalho de 480.000 dos<br />

ditos homens feitos, virando d manivella.<br />

A Gran-Brelanha , continiia elle, possue em<br />

maquinas do vapor .uma força,motora pelo menos<br />

de noo.ooo dynamos , que equivalem á de<br />

6.400,000 dos mesmos homens á manivella ; do<br />

que se segue, só nssta especie, a desproporçâo<br />

de 480.000 para 6.400 000 ditos.<br />

Finalmenlo , calculando uns apos outrobj os<br />

( I ) U iu d y n am o (tliz elle) ig u ala m il k tlogram as levanta.los<br />

á altu ra de m il inetrus: 8 trab a liiad o te s, qne virao á m a d v e l l a ,<br />

po:leiii eui um dia levantar m il k ilogram as á d ita .altura ; isto e ,<br />

p ro Ju zir um d y n anio du trab alh o .


iDais auxilios de forças por urna e outra parte<br />

tiradas dos ventes e agoas , e combinando as<br />

suas respectivas addiçôes, conclue, em seu resultado,<br />

que as que tira a França desses motores<br />

inanimados pouco excedem a quarta parle<br />

das que delles tira a Gran-Brelanha para seus<br />

relativos effeitos industriaes ; e se a quanlidade<br />

das suas forças agricoias e industriaes é proporcional<br />

á quanlidade de seus procuctos analogos,<br />

como parece inculcar á pag. 30, que immensa<br />

desproporçâo das suas riquezas facticias pelos<br />

annos de 1826 , a que refere os seus paraitelos!<br />

Porém ee estes parallèles deprimem o conceito<br />

da França abaixo do de Inglaterra, outros mgi-<br />

tos deprimen) o de Inglaterra abaixo do da<br />

França.<br />

Em I." lugar, tendo primeiro ñlr. Dupin referido<br />

os cálculos que fez da progressâo das forças<br />

productivas da Franca aos 46 annos decorridos<br />

desde o de 1780 *até o de i826 , comparou<br />

depois o meio termo do seu crescimento annual<br />

com o meio termo do crescimento annual dos<br />

últimos 12 annos constitucionaes do seu perio*<br />

do , qne lambem calculou , e achou este termo<br />

quasi dobrado daquelle , na razSo de um milháo<br />

de individuos de ambos os sexos, e de todas as<br />

idades. (1) Epoxijue, pelos progressives melhoramentos<br />

moraes e físicos , de que propuem os<br />

(1 ) M r. D o m b a sle, D irector d a Escola theorica, pratica , efa*<br />

brica d e K o v ile . dando c o n ta , no T om o dos seus annaes relativos<br />

ao anno de 1 8 2 8 , dos progresses agricoias, e industriaes que prom<br />

overá neste.C onselho (C o m m u n e) aquelle eslabelecinieiito desde<br />

Janeiro de 1 8 2 2 , ém que principiara o stu an d am en to , nao obstan<br />

te a insiifficiencia dos seus fundos m otores, d iz , pag. 1 0 0 , que<br />

u m a d as v an tagen s que ahi produzira era to rn ar o m ovim ento de<br />

su a popuiaçào S vezes m ais rapido, qtie este ultim o meio term o do<br />

Tom. L A A


meios, diz que a mctad« da sua populaçâo, ora<br />

empregada na sua agricultura, pederá ser suffi-<br />

ctente para os seus trabaihos, e a outra metade<br />

reservada para os de industria , que nSo será<br />

quando a França chegar a este auge de forças<br />

productivas? Attendendo principalmente a que<br />

as humanas salo muito mais aperfeiçoadoras do^<br />

seus productos do que quaesquer outras animadas,<br />

ou inanimadas; eaqueestes productos háo<br />

de serao mesmo tempo mais valiosos por mais per-<br />

feitos ; e tanto mais baratos quanto niais crescer<br />

o numero, e diminuir o dispendio dos seus<br />

agentes. Alem do que , se Inglaterra é tísica,<br />

ou moralmente mais robusta , é por ser mais<br />

provecta na sua idade constitucional, a cuja vi-<br />

rilidade ja chegou , estando ainda a França na<br />

suâ adolescencia ; e assim, quanto excede a sua<br />

rival nas ditas forças da sua idade, tanto póde<br />

excede-ia nas dos seus productos ; mas sendo<br />

tudo na ordem civil, como na moral, limitado na<br />

sua especie , quem primeiro chegar , primeiro<br />

ha de parar na impreterivel meta da sua respectiva<br />

carreira.<br />

«alcalado pelo B arao D u p in , e q u e , a ser propoicional este m o-<br />

v im ento em todc» os m aisC onselhos d a F ra n ç a , levaría a p o p u la -<br />

çào deste R ein o , no aunó de 1862 , a m ais de 60 m ilhoes de h abitantes.<br />

E a q u e n Io c h eg ariao , o u n S o c h e g a ra o , n a m esm a pro-<br />

p o rç ao , todas as suas respectivas forças productoras!<br />

A buscar oulro term o depro p o rçâo com as nossas analogas forças<br />

P o rtu g u ezas, achar-se*ia na ra z io da su a progressào in v e rs a ,<br />

causada pela d im in u içlo das suas in d iv id u alid ades, ou ainterrup-<br />

çùodos seus exercicios por días Santos de g u a rd a , d e M issa , de Ro-<br />

m ag ens, de C irio s, e tc ., cuja excessiva q u antidade se poderia sup-<br />

p rim ir com grande vaiU agem 'da nossa in d u stria , e sem prejuizo<br />

n e n h u m , antes com m uito proveilo d a R e iig ia o ; m as por nao ser<br />

aqui o lugaT de desenvolver , com a d e se ja ra , a m atèria deste as-<br />

sum pto, rem etió ao L eitor curioso do seu m elhor desenvolvim ento<br />

aos citados A nnaes do sobredito M r,. D om basle.


Em 2.* Ingar, se os Inglezes se roostrao por<br />

algunia forma mais homens, os Francezes sernos*<br />

trâo por ouïra mais humanos. O idolo daqueU<br />

Jes é ouro , o idolo destes é o prazer ; e conforme<br />

uns e mitros mais sacriHcâo no akar de<br />

sua devoçâo , mais recebem de favores da suq<br />

divindade.<br />

Näo fallando aqui dos grandes nem peque^<br />

nos proprietarios dessa Na^äo, que vivem lauta,<br />

ou abastadamente das suas respectivas rendas,<br />

só tratarei da sorte dos mai», que (¡ividixei eíB<br />

duas classes, uma dellas que aspira a fazer fortuna<br />

pela sua industria , e a outra a comer potr<br />

ella.<br />

Um olho constantemente fito no seu obj


prezarias , que por diversos trafegos aspinio ao<br />

mesujo fim , longe está essa neutralisaçâo de<br />

conceder-se da sua respectiva 2.^ classe, incomparavel<br />

raente a mais numerosa, por comprehensiva<br />

de quaesquer operarios de quaesquer ramos<br />

da sua respectiva industria, como passo a<br />

mostrar pelo parallelo que delles fez J. B, Say,<br />

testemunha-de vista , e tao hábil observador,<br />

quSo sabio Juiz critico do seu relativo estado.<br />

Depois desse Economista Politico explicar<br />

no seu Opasculo de CAngleterre et des Anglais ^<br />

impresso em 1816 , corno para proporcionar a<br />

subvençâo dos seus subsidios á enormidade das<br />

suas despezas annuaes , e dos juros da sua divida<br />

pública, (l) tinha a ing^laterra sobrecarre-<br />

gado de impostos todos os generös de consumo ,<br />

que tanto escareci/to ahi todos os meios de subsistencia,<br />

observa >9 que nao bastando os ganhos<br />

» de cada profissSo para delles viver , eräo to-<br />

’> dos obrigados a impór se continuas privaçôes;<br />

»> que os que tinhSo um modico rendimento<br />

” proprio, sem mais nada a que tornar-se , nSo<br />

’i podendo passar corn elle no seu Paiz , viajaii<br />

vâo por outros menos dispendiosos, como a<br />

« França, Belgica, e Italia, e os oiBciaes que<br />

ÌÌ meramente tinhâo os seus officio» , por mais<br />

ìì e melhor que trabaihassem , raras vezes po*<br />

ÌÌ diäo supprir, com o fruto do seu trabalho, as<br />

n precisoes das suas familias, sem mais ou me-<br />

fi nos soccorro qne , conforme o numero dos<br />

(1 ) SÓ no anno de 1813 (d iz elle pag. 14) exœ d eo a m o n ta<br />

daquelles ju ro s e despezas a IH .8 9 1 .0 0 0 liv. est. que exce-<br />

dem m uito a m il dos nossos m ilhôes p^lo cam bio ao p a r ; e che*<br />

gâo a m il e quatrocentos m ilhôes pelo cam bio corrente ; » e isso<br />

» com appareocia de au g m entar essa m o n ta no anno seguinte. >•


n seus membros , Ihes subministiavao as sua&<br />

Freguezias do producto da taxa dos pobres;<br />

e se dizia ser a terça parle da populaçâo de<br />

» lijglaterra , a que tinba de recorrer assim á<br />

caridade pública : que na verdade se encon-<br />

travâo ahi poucos mendigos, mas era porque<br />

)> esses soccorros se davao ao domicilio , em<br />

}} termos de os obrigar a fazer alguma cousa,<br />

por nâo bastar ás suas necessidades : que um<br />

)> viajante Ingiez de boa fé , que atravessara a<br />

f) França, mostrara a cada passo asorpreza que<br />

» Ihe causava o ver que cada um podia ahi vi-<br />

>1 ver com seu trabalho: que assim a Naçâo In-<br />

gleza, nasua generaiidade , era obrigada a<br />

5> um trabalho arduo sem poder descançar, e com<br />

effeito mio descançava : que n3o se viàty alli<br />

f* ociosos de profìssao ir àgandaia, e erâo as ca-<br />

» sas de caiTé e biihar quasi vasias, os passeios<br />

públicos quasi desertos em outro qualquer<br />

» dia que nâo fosse o Domingo , ficando cada<br />

» um absorto no seu negocio, para nâo ser amea-<br />

» çado de uma prompta ruina, logo que desam-<br />

parasse a sua occupaçao; de sorte que, uns<br />

por ambiçâo de adquirir , outros por necessidade<br />

de viver, era tudo uma roda viva de movimento,<br />

uma efíervescencia continua de trabaihos,<br />

uma aÜuviâu perenne de obras. Mas pelo<br />

mesmo firn de ganhar, ou comer, ou para ludo<br />

ser extraordinario em uma Naçâo tambem extraordinaria<br />

, ao mesmo tempo que nella reina-<br />

va a industria na sua maior actividade, reina-<br />

va o crime no seu maior auge, ao ponto » que<br />

>i só no anno de 1813 diz o mesmo Say, pag.<br />

27 do seu citado Opúsculo » só no anno de 13J3<br />

>i houve om Inglaterra 1& mil condemnaçôes.<br />

n A Europa inleira nâo apresenta outras tan»


)ì tas, € O seu numero cresce progresvsivamente<br />

>j de um para outro anno , como os impostos,<br />

)i como a divida pública , etc. » cujo contraste<br />

com o progressivo decrescimento indicado retrò,<br />

pag. 170, e outros seus paraMelos aqui transpos-<br />

to6, &(


E m que se mostra como, longe de d im in u ir^ ha<br />

de augmentar o valor da contribuiçâo territo-<br />

rial da agricultura pela reducçao dos seus ditos<br />

impostos a u m quinto ^ ou 20 por 20 do seu<br />

rendimento liquido.<br />

-U ARA formar o meu parallelo , procurarei por<br />

primeiro termo de comparaçSo a monta total<br />

dos rendimenios públicos provenientes da agricultura<br />

pelas suas antigas imposiçoes ; e, por<br />

2.° , o que della haja de provir pela unica que<br />

se propôe em sua substituiçao.<br />

NSo me lisongeo de poder liquidar ÍQÍeira><br />

mente o l.“ termo, pela multiplicidade das Collectas<br />

de que se compclem , e a variedade das<br />

applicaçoes que tera , sem estabilidadé em seus<br />

assentos, nem dados certos nos seus apuros; o<br />

que, quanto tende a palliar a incuria, ou arbi-<br />

trarieciade das suas exacçÔes , tanto concorre<br />

para confundir os limites do seu producto.<br />

Jíí no Relatorio que, a l i de Fevereiro de<br />

]828 , apresentou á Camara dos Deputados o<br />

Ministro que entSo era da Fazenda, ponderando<br />

seu Auctur a discordancia que achara em<br />

todos os elementos doá seus cálculos »5 reclama-<br />

» va a indulgencia com que tinha direito de ser<br />

»■ tratado pelas diíBculdades que tivera de ven-<br />

» cer para levar o seu orçamento mesmo ao es-<br />

« tado de imperfeiçâo em que o considerava, e<br />

>7 aa realidade se achava?; tanto assim que, ao


declarar mais abaixo os ñns que se propozera<br />

no arranjo das suas idéas, confessava ingenuamente<br />

que >i longe de lisongear-se de haver<br />

» conseguido uma parte dos fins em vista, e!le<br />

cria, pelo contrario, que apenas nao teria de<br />

» tudo perdido o fruto do seu zelo , e traba-<br />

Iho. >f<br />

O que porém torna ainda mais difllcU a soluçâo<br />

da questäo é que , nos varios resumos de<br />

impostos deque forma seu dito orí^amento, nao<br />

se póde, entre os que chama directos , distinguir<br />

e conceiluar os que verdadeiramente pertencem<br />

Á contribuiça© territorial, quaes säo os<br />

dizimos de toda e qualquer especie ; os subsidios<br />

iitterarios ; os outavos e jugadas ; certas<br />

prestaçôes a certo»' alinoxarifados ; as decimas<br />

lançadas nos predios rusticos, e mesmo em grande<br />

parte as sisas de derrama, fintas , etc. pelas<br />

muitas terras em que , nSo havendo industria,<br />

iiem commercio que odém , é forçoso que<br />

a agricultura o pague. Sendo-me com tudo necessario<br />

tomar um rumo para chegar ao mesmo<br />

tim , e näo achando melhor direcçâo para mais<br />

segUTo éxito, supprirei por conjecturas e infor-<br />

maçôes, ou combinaçoes provaveis o que faltar<br />

de elementos certos para meus cálculos , cujo<br />

resultado tanto menos poderá ser argüido de<br />

erroneo, quanto menos seja possivel rectifica-lo.<br />

Segundo o orçamento do referido Ministro,<br />

constante do seu resumo A = chegáo<br />

as decimas de todo o Reino, confundidas as das<br />

propriedades coni as dos maneios, juros e ordenados<br />

ao auge de 1.Í28.289.500 réis ; mas segundo<br />

as melhores averiguaçôes que eu pude<br />

lazer das suas especies , pelas fontes dos seus<br />

productos, mal póde reputarte urna terça parte


tleÜPS proveniente dos predios rústicos ; n?to<br />

obsIanLe o que, suppondo esta terça parte ad-<br />

fiìissivel, deixarei o seu computo<br />

eui ........................................... 376.096.167 réis<br />

e o sijbsidio litterario , pela<br />

m esm a conta em que o pOe de II 5.625.000<br />

Por ambas as parcellas 40l.720.iG7<br />

Eslima o meánio Ministro , no seu resumo<br />

iV = , as deciuias ordinarias dos Dizimos I^’c*<br />

clesiasticos em 147.000.000 r:^. , e as C'üii>-<br />

mendas em 53,000.000 ditos que , por ambas.,<br />

deitíio a 203.000.000 dilos.<br />

Gusta mnilo o conciliar esta conia com a<br />

que pouC'"» antes tlz


iDÍñuicífo; (r) Assìiì) iiiesüío a opiniSo do Ministro<br />

lem mais abonacao a seu favor, pelas ra-<br />

2oes obvias da maior circumspecç?î(> a que se<br />

acliava adstricto , procedendo ex-o/Jido , e pelo<br />

maior auxilio de informaeôes que se Ihe devem<br />

suppòr em seus acerlos. Nesla collisilo , nSo<br />

acbando motivo sufficieiite para adoptar , nem<br />

rejeitar inteiramente um nem outro termo , pe-<br />

loa nao ver justificados, nem convencidos de erro,<br />

tomarei entre elles um interniedio mais pro-<br />

ximo do primeiro , a que me j)arece bastante<br />

chegado o de J80.000.000 ditos, que, na respectiva<br />

proporçâo das suas partes integrantes, da-<br />

ria, pelo rendiaiento dasComm<br />

endas.......................................... 49.655.200 dit.<br />

e pelo dos dilos dizimos ecclesiasticos...................................<br />

130.344.800 dit.<br />

que sáo os mesm&s . . . 180.000.000 dit.<br />

(1 ) Com data de 16 de OiUtibro de 1324 baixoti ex p sd id o ,<br />

pelo cham ado Despacho do G a b in e te , ao Conselho da F azen d a um<br />

A viso Kegio q u e , sobre m encionar os grandes abusos que dizia<br />

terem -se ¡ntroduzido , e irem progressivam ente augm entan d o no<br />

pagam en to dos D izim o s, em grave prejuizo d a lg r e ja , e se u sM i-<br />

nistros , e d e outras m uitas partes iiiteressadas na Mía cobrança,<br />

por varias doaçôes, m eroès, e outras aj)[>licaç5es du seu rendim ento<br />

, ordenaVa ao dito T ribunal que » seni perda de tem p o ponde-<br />

" racse, e submeUesse á Real approvaçào de S u a M agestade en-<br />

» tùo reinante as providencias que Ih epareces^ni niais opporlunas,<br />

« e efficazes para se p a g are m exactam ente,- sein as delongas ordi-<br />

>• natias do Ju izo contencioso. »»<br />

T in h a eu feifo um extracto circum síancíado desta C onsulta,<br />

em qne o C o n su lh e nâo deixava de propôr alg u m as m edidas con*<br />

ciliadoras de m e n o s oppressào n a exig e n cia , e m ais segurança na<br />

prestaçHo desse gravoso e n c a rg o , nâo obstante a virulenta diatri-'<br />

be com que o Procurador da F a z e n d a , levantando-se de m ío a rm<br />

ad a contra a pertendida tendencia dos Fovos p a ia Jim ovaçôes<br />

levolucionarias, pedia Decreto fulm inante d e raios e coriseos con«


Este ultimo termo, multiplicado por IO, seria<br />

0 verdadeiro valor daquella especie de contri*<br />

buiçào, se podesse suppòr*se oseu producto todo<br />

proveniente de dizinios; mas varias das suas<br />

partes componentes , talyez mais da terça dos<br />

rendimenlos das Commendas , e mais da quinta<br />

dos das Jgrejas provem de outras fontes, quaes<br />

as de rendas, e foros de Ierras , gozos de Pas-<br />

eaes , e outras varias relribui(¿oes looaes dire*<br />

ctas, 011 indireclas, que nao pertenceai á mesma<br />

classe; pelo


proxiinaçfî'o, o valor total da<br />

sua cobrança de .....................1.400.000.000 dit.<br />

cuja especie , junta com os<br />

das duas parcellas retró, estimadas<br />

em ...................................491.721.167 dit.<br />

importa e m ................................J.89 1.721,167. dit.<br />

Mas para prescindir de miu-<br />

dezas insignificantes , porei a<br />

sua somma e r a ......................... 1.892.000.000 diti.<br />

que reprcsentâo no seu jjos-<br />

sivel apuro todo oim))orte da<br />

antiga imposiçâo territorial ,<br />

J.® termo que se procurava.<br />

Para agora achar o 2.* termo, que se Ihe ha<br />

de comparar, nSovejo oulro meio mais acertado<br />

que o de procurar a sua monta provavel pela ef-<br />

fectiva da de França , attentas, e con»binadas<br />

as suas respectivas grandezas superficiaes , ©<br />

oircumstancias geologica» , na época , já mencionada<br />

, da reCorma da sua imposiçfîo territorial,<br />

e da translaçao do seu assento de cima do<br />

producto bruto para o liquido da sua agricultura;<br />

o que vou a fazer pela maneira seguinte,<br />

A França, nos seus anligos limites, tpie sao<br />

os mesmos em que os repoz a paz ile Paris de<br />

18 15, tinha, segundo o citado Neckor (Tom.<br />

J." (/iip. 10.) 2G.9&I legoas quadradas de 25 ao<br />

grào ; 26.386 dilas segundo as Cartas da Academia<br />

das Sciencias ; 2b.039 ditas segundo o<br />

seu celebre Geografo de Lisie , e 22.700 dilas<br />

segundo Mr. Gutherie. que dfí a Portugal a ex-<br />

lensSo de 4 800 ditas.*!<br />

Nao me acharvdo habilitado a fazer um jui-<br />

zo critico dessas mediçôes superficiaes, supporei


a da França bastante aproximáda Ha sua juste-<br />

za no seu meio leriiio . e attendefìdo á mais gè-<br />

ral montuosidade de PorttJgal, estimarej a sua<br />

extensito pro[)orcional n’ntn quinto da de Fran^<br />

ça, 2." termo que se ha de comparar.<br />

Para l'ormar agora o meu parallelo do estado<br />

actual deste Reino com o de França, relativo<br />

á época em que, sacudindo o pezo dos seus<br />

antigos gravames territoriaes , eslava ainda reduzida<br />

áquella penuria de produccòes agricoias,<br />

que tinha causado á sua miseria , e causava a<br />

sua revoluçâoj direi: se a mesma França póde<br />

entSo obter da sua agricultura a mencionada<br />

contribuiçâo de 240 milhoes de francos ao transferir<br />

a injposiçSo do producto bruto para o liquido<br />

deste ramo , nas mesmas proporçoes de<br />

circumstancias estatisticas, poderia tambem Portugal<br />

obter pela mesma translaçào , e mesma<br />

proporçSo, a quinta parte, que sería 48.000.000 fr,<br />

Oppôr-se-ha contra isso, e bem opposto, o<br />

que se disse retrò , pag. 124 que a maior parte<br />

(leste Reino se achava sem cultura, ou mal cultivada<br />

pelo melhor que o poderia ser; e oppôr-<br />

se-ha tambem o que se referio dos clamores ge-<br />

raes que excilou cm França essa mesma sua<br />

imposiçîio de 240 milhoes ; o que ludo ternari^<br />

aqui iínpossivel a supposta proj)orçao.<br />

l’ara diinlnuir a força da 1.“ parte desta ob-<br />

ji'ccno , observarei que , polos immenses progresses<br />

agrícolas que rnosiron o Conde Chapial,<br />

e ajîôs elle o IJarao Dupiu , 1er feilo a França,<br />

e eslMr aiiida fazendo, se póde convencer o immenso<br />

at raza mento em que (ambem se achava<br />

na época relativa àsua comparaçao com Portugal<br />

; mas porque , assim mesmo , n?ìo se póde<br />

considerar em tanta degradaçao territorial como


iça0 , a reduzi-<br />

rei a .................................................... 32.000,000 fr.<br />

Poréin, dir*ae-ha ainda, a populaçao da Fcan-<br />

ça era entiïo de 24 niiliiôes de habitantes (I)<br />

■cm cuja proporçâo deveria ser a de Portugal<br />

de 4,800.000 ditos, para equilibrar as suas respectivas<br />

forças humanas productivas, e proporcional<br />

a sua applicaçao á agricuiti^ra para equiparar<br />

a sua producçâo ; mas sendo apenas a de<br />

Portugal de 3 milhôes de habitantes , tem ades-<br />

proporçâo desles 3 .000 000 para 4.300.000 ditos,<br />

qne vem a ser a de 5 para U; e lera oniras mullas<br />

desproporçOes nas suas mesmas forças ani-<br />

«laes, economicas , industriaes, etc.; tanto tem<br />

fe'ido o abandono, o desleixo, a pobreza da nossa<br />

dita agricultura, e tantos liño de ser os seus<br />

atrazos de outra qualquer que se ihe possa comparar.<br />

Concedendo por ponco tempo a 1.* parte<br />

desse argtuuenlo relativo á desproporçâo da nostra<br />

populaçâo, e diminuiçSo de forças humana«<br />

appiicadas á nossa agricultura , tirarei pela de»<br />

ficiencia dasf partes das suas forças productivas<br />

ignaes=| partes à sua producçâo; e tirando mais<br />

umaf parle por outra igual menoridade que se<br />

queira suppôr as suas mais forças animaes , eco*<br />

.iiomicas, industriaes , etc., affectas ao mesmo<br />

ramo, assim mes


neos (le França, (1) sâo susceptiveis de lïiaior<br />

iuiposiçâo, assim mesmo, digo , com todas es«<br />

tas deduc(;oes, que reduziriSo á metade os aci-<br />

ma calculados 32 000.000 fr. ficaria a contribui-<br />

çAo lerriloriai deste Reino em 16.000.000 fr.<br />

que, reduzidos a dinheiro Porluguez pelo cariibio<br />

ao par , d a riâ o ..................2.§60.000.000 dit.<br />

que conjparativainente á contribuiçâo<br />

retrh d e ...................... 1.892.000.000 dit.<br />

Seriâo m ais......................... - 668.000.000 dit.<br />

pelo que finalmente se vê quanto a nova im-<br />

posiçSo augmenta o rendimento público das antigas,<br />

e o augmenta nao só na mas^a doseu producto,<br />

mas na economia das suas despezas com<br />

IVIinistros e Tribunaes, coro Juntas eAlmoxari-<br />

fados, com loda a caterva de Juizes, Procuradores,<br />

Síndicos, Sollicitadores, Corretores, Por-<br />

leiros , Meirinhos, Escrivàes, Caminheiros, eie.<br />

que quanto menos vierem a ter de incumbencias<br />

fiscaes, tanto mais hao de diminuir em nu-<br />

niero, e poupar de ordenados, saUrios, e pen-<br />

«"5cs ao Thesouro nacional. Porém sendo tâo<br />

grande a vantagem que deste sistema resulta a<br />

favor da Fazenda nacioiial, maior, inealculavel-<br />

mente maior será a que resultar a favor das fa-<br />

zendas dos povos agricolas, corno se póde considerar<br />

dos muito incomparavelmente maiorea<br />

jirejuizos que ihes resultào do systema opposto j<br />

para o que , sem mais repeti^ào de ditos, me<br />

( 1) Vejâo se os preços medios dos productos cereaes, etc. áa><br />

agricultu ra F ra n c e z a , declarados retro , á pag. 4 2 , e com pa-<br />

len^-se com os lieuiogeiieos d a Portugueza : com parem *se tam b em<br />

os preçoSr por qne tem vindo de F rança trigos, farin h as, etc.


Teñro fio quo disse dos ^ravaiups dos diziinos, e<br />

■jiiHudiis , e se pólle dizer de outros quaeàquer<br />

scDieihantes Iributos iinpostoìs nos productos brutos<br />

tía sua cultura. Assirn , e só assim os agricultores<br />

l^ortuguezes , alliviados do seu pezo,<br />

sollos (las shhs pêas, livres nos seus azos, po-<br />

derîio aoitipanhar com os agriv ultores das mais<br />

iS'açoos que tem o iiiesiiio deseiubaraço , e até<br />

correr o pareo qiíe elles já corrôrÆo com niais<br />

se^^urança de premio , f>ort|ue tenïo , para me-<br />

llmr dirigir os sens pas^os , a» U. ot^s da experiencia<br />

(jtie üii'ora t*s^eá «nais ad antados Ihes<br />

dii > , e iitvo tiiìh:ìo quaiiilo se lançariïo na mes*<br />

ma carreira.<br />

IMas assim , SÓ Hssitn se desvanecerá breve^<br />

uiente a l."* parle do ar^juniento acîaia concedido<br />

por pouco lempo, pois que assiin, e só as-<br />

s'im a a¡,uicuUiira Poriugueza honrosa nasua pro-<br />

tissSo, e lucrosa nos seus trabalhos, attrahindo<br />

J.* pela necessidade dos seus recursos, conservará<br />

depois pelo interesse do seu cultivo tiuto<br />

mais forças humanas, fjuanlo mais se achìo vagas<br />

, ou hito de vag;ar (ìe outros ramos iucius-<br />

iriaes, ou deeinpre^^os públicos, sem haver outros<br />

meios de prover uiilmente as suas coinpe-<br />

tenies occupaçôes, nem dereuiediar oj)portuna-<br />

nienle ás urgentes precisòes que se Ihes si^-ito,<br />

ou seguirao da sus])ensàio , ou cessaçào dos seus<br />

jìristinos exerciri*)s<br />

Assim. e só assifn muitos dos bravos defeFi-<br />

sores da Raiìiha da f'arta , niÌo menos a i.ni-<br />

raveis |)h1o seu dt'^ìril.t'rf-sse (jUi-* pelo >-eu va-<br />

Jor, u lào lib rat's uos sens procr^dimeuios com<br />

ò uas svjas ojiii,U)es , ao píMulurarem as suas<br />

•armî’.s vicloriosas r»o altar da conci-rdia, voita-<br />

j-Ùo\cafileiites e*sa isiVilüs para oîseus larets, ua


certeza de que » o gaìardito que nSo possa dar<br />

a todos a Patria restaurada do seu cativeiro, o<br />

darà a cada um a agricultura remida da sua op-<br />

pressSo, en o vo s C onciìm atos ^ novos A tlilio S i juntarás<br />

a gloria de o ter merecido por feitoe heroicos<br />

àgioria de adquiridlo por trabalhos rústicos<br />

( I ) . Esle nobre exemplo, e aquella urgente<br />

necessidade, envolvendo no seu impulso até os<br />

grandes proprietarios descahidos da graça, ou<br />

desenfatuados da nobreza, e cujas ruinosas rendas<br />

nâo chegao para suas desregradas despezas<br />

, nem já podem supprir por mercês graciosas,<br />

ouempreslitnos usurarios, irâo osmais sensatos<br />

buscar melhor fortuna na melhor adminis-<br />

traçSo das suas herdades. Do concurso das suas<br />

diversas forças, ora mortas na Corte, se formará<br />

uma força viva nos campos , que animará,<br />

que fomentará , que alentará as já moribundas<br />

da agricultura; farà ahi ser os homens oque sâo<br />

em toda a parte , segundo a mudança dos seus<br />

objectos muda a tendencia dos seus aífectos.<br />

» Eh J dans quels lieux le ciel, mieux qu’au séjour<br />

des champs,<br />

»»Nous instruit-il d’exemple aux généreux pen*<br />

chants ?<br />

»D e bienfaits mutuels, voyez vivre le monde.<br />

»Ce champ nourrit le bœuf, et le bœuf le féconde;<br />

L ’arbre suce la terre, et ses rameaux flétris<br />

>5 A leur sol maternel vont mêler leurs débris;<br />

( l ) A esses bravos que n âo tiverem terras p ro p ria s, ou as<br />

n ào tiverein proporcionadas aos seus serviços , e m ereciuientos, é<br />

que sao applicaveis asreflexôes q u e fiz r e tr o , pag. 66 no fim d«<br />

n o ta.<br />

T o m . T. ce


»Les monts rendentlenrseaux A la terre arrosée»<br />

H L’onde rafraîchit l’air, l’air s’épanche en rosée;<br />

Tout donne et tont reçoit, tout jouit et tout sert.<br />

«Les cœurs durs troublent seuls ce sublime con-<br />

cert.<br />

CAPITULO XIX.<br />

E m que , p o r p rin cìp io do eshoço do reinado de<br />

H e n riq u e de F r a n ç a ^ e da a d m in islra çâ o<br />

de S u d i, sebosquejuo us p rim eiro s tragos h ísto n -<br />

eos do nascim ento , criaçâo fisica , e ca ra cter<br />

m o ra l daquelle q ra n d e P rin cip e, e deste seu g ra n ^<br />

de M in istro .<br />

1.® bosguejo respectivo a H e n riq u e I f^ .<br />

H ENRiauE IV. , filho de Antonio de Bourbon,<br />

Duque de Vendóme , e Rei de Navarra,<br />

e de Jeanne d’Albret, herdeira do raesmo Reino,<br />

foi outavo neto por linha masculina de Sâo<br />

Luiz, Rei de França, e nasceo a 1 3 de Dezem-<br />

bro de 1 5 5 3 no Castello de Pau , Capital do<br />

Bearn. As particularidades do seu nascimento<br />

(1 ) T endo com posto a Introducçào á ininlia OJsra nos p rin ­<br />

cipios do presente a n n o , antes de acabar a sua re d a o ç io , tin h a<br />

feito ao roesm o tem po a distribuiçâo das suas materia*; em dous<br />

T oreo s, só por aproxim açao m en tal d o seu igual volum e. A chand<br />

o -p o réo i, depois de acabar a sua reco p ilaçao , m ais volum oso o<br />

2.® Tom o do que o l . * , addicionei este de u m a pequeña parte dç-<br />

çlarad a para aquelle á p ag. 17 d a d ita Introducçào , qu» assim<br />

hei por em endada.


sâo tîlo singulares que» nâo podendo referi-las<br />

miudamente , pela 8oa ex.teiJS3o , nâo saberîa<br />

como oniitti-las inteiramente no seu sommario,-<br />

pelo seu interesse.<br />

Achando-se sua dita mài com seu dito pài<br />

na Picardia, onde tinha ido tomar o cortinians<br />

do de um exercito contra Carlos V , seu avó,<br />

Henrique d’Albret, que muito amava a sua fi-«<br />

Iha, sabendo da sua avançada prenhez, a man-<br />

dou chamar junto á sua pessoa, pelo grande de-<br />

sejo que tinha de tomar a seu cuidado o feiÍÉ-<br />

parto , e boa conservaçâo da sua tenra prole,«<br />

que um secreto presentimento Ihe fazia dizer<br />

« havia de vinga-io das injurias que receberal<br />

jí da Hespanha « (alludia á usurpaçao que est»<br />

Potencia ihe tinha feito da alta Navarra , que^<br />

perlencra ao seu Keino do mesmo nome). A co**<br />

rajosa Princeza nao hesitou um instante pel®<br />

melindroso estado em que se achava ; despedio-se<br />

do seu marido , atravessou em poucos dias a<br />

França, e che^ou a Pau a 4 de Dezembro. ’<br />

Tinha jáEiKei seu pai feito eeu testamento<br />

e a filha grande desejo de o ver, por ter ouvido<br />

que ihe nao era tâo favoravel como podéra esperar,<br />

mas desejo de que a sua delicadeza ihe<br />

nao permittia abrir-se : vindo porém o pai a dea-*<br />

cobrir Iho , prometteo Ratisfazer-lho , moatrando-<br />

Ihe odilo testamento logo que ella Ihe mostrasse<br />

lambem o que trazia no seu seiü, todavia com<br />

a celebre condiçâo de que no acto do seu parto<br />

cantasse uma cantiga ?5para IhenSo fazer, dizia<br />

elle, um tiiho chorao, nem carantonha » A Prin^<br />

ceza Iho prometteo , e teve tal animo que , a<br />

ppzar das grandes dores que passava, cumprio<br />

a sua palavra. cantando-lhe a tal cantiga na sua<br />

lingua Bearneza, no momento em que sentio a<br />

cc 2


pai entrar no seu quarto. Note-se que, por um<br />

phenomeno pouco usuai, acrian9aveio ao mundo<br />

sem chorar, nem choromingar >y comu se a<br />

natureza, observa o Auctor a que me refiro<br />

(l), como se a natureza dispensasse deste signal<br />

» ordinario da tristeza aquelle que a Providencia<br />

>5 destinava para alegrar extraordinariamente os<br />

9i mais.<br />

Assim que o av6 vio o recem-nascido, met-<br />

teo-o muito contente na aba do seu roupäo , e<br />

deo Á mai o seu testamento niettido em uma<br />

caixa deouro, dizendo-lhe; » Minha fìiha, eis<br />

» o que é vosso, e isto cà é meu : » sobre o que,<br />

levando-o para seu quarto, esfre|;ou Ihe os bei-<br />

cinhos com um dente de alho, e Ihe fez engolir<br />

lima pinga de vinho pela sua ta


dado da sua bem escolhida aia , Suzanna de<br />

Bourbon , prohibio do seu uso iodos os mimos<br />

e delicadezas com que se costumào criar os infantes<br />

da sua classe, e que jiilgava só proprio«<br />

a amollecer o animo quanto eSeminSo o corpo;<br />

sobre cujos principios,dando-lhe assuas instruc-<br />

çôes, nada de louçainhas, Ihe disse elle, nos<br />

a seus trajes; nada de ninharias nos seus brincos ;<br />

» nada deadulaçâo, nem sequer de tratamento<br />

fi de Principe nas suas praticas, pois que nada<br />

» disso serve, coniinuou elle, senào a ensober-<br />

>f becer o coraçSo , e inspirar mais fumos de<br />

a vaidade a quem deve respirar mais sentimen-<br />

» tos de generosidade. >9 Descreveo-lhe outro<br />

sim que o vestisse, e sustentasse seni luxo, nem<br />

regalo, mas só corno se vebtiao e sustentavào<br />

OS mais meninos do paiz : e com efíeito , nâo<br />

obstante o pouco que Henrique d’Albret sobre-<br />

viveo á data do seu plano , levado o menino,<br />

conformemente ássuas instrucçoes, para o Castello<br />

de Courasse, sitio áspero e montuoso do<br />

Bearn, onde passou os primeiros annos da sua<br />

infancia, ahi como elles, e com elles comendo,<br />

ora seu páo cazeiro, ora carne, ora queijo, ora<br />

alhos , e outros alimentos igualmente grossei-<br />

ros; ahí, na sua companhia, correndo os mon*<br />

tes, e valles, trepando aos rochedos, e saltando<br />

os vallados, de tal modo se familiarisou com<br />

08 exercicios mais duros , e se habiiilou para<br />

os trabalhos mais arduos que, se jámais houve<br />

outros semelhantes elementos de educaçâo que<br />

tanto se apropriassem a láo excelso Principe,<br />

jámais houve tao excelso Principe que tanto se<br />

aproveitas&ie de semelhantes elementos de edu><br />

caçâo para sobriedade do seu sustento, para ri-<br />

jeza do geu temperamento , para agilidade do


seu corpo, para afouteza do seu animo , e oa'-<br />

tras maravilhosas prendas da sua pessoa, qua<br />

mais o ajudarSo a superar os obatacuios da sua<br />

carreira, mais realçarao o lustre dà sua vida (l).-<br />

He verdade que , corno o diz nas suas M em orias<br />

Sulli, a natureza se compradera a ornar esse<br />

Reai Infante dos seus mais raros dotes, i’or<br />

urna parte, formando iiìe o corpo, e seus meni'<br />

bros com aquellas exactas proporçoes que cons-<br />

tituem oiioraein sàdio, vigoroso, activo, e des--<br />

tro, tinha-ihe dado com uma fisionomía aberta,<br />

nobre, exp'ressiva, umas feiçoes tâo regulares,-<br />

e uin colorido tâo vivo. sobre um rosto tâo animado,<br />

que fixera da sua figura, a figura mais perfetta<br />

e gentil. Por outra parte temperara-liie o<br />

genio de tanto agrado, candura, e añabilidade<br />

que, abrandando-o que ihe impuzerà de augusto<br />

e magestoso pelo que Ihe mesclara dejovial'<br />

e prasenteiro, fizera da sua indole a indo4e mais<br />

gracjnsa e amavel.<br />

Mas por admiraveis que fossem os dotes da<br />

sua pessoa , mais admiraveis er«^o os doles da<br />

sua aima como guerreiro, como politico-, como<br />

Rei. No Conselho o mais assizado , nas traças<br />

o mais sagaz, na Ordenança das Tropas o mois<br />

(1 ) O m encionado plano elem en tar d ’E IR ei de N a v arra tem<br />

.sua analogía com o que a H istoria an tig a atlribiie a A m enopo-<br />

Jis, R ii Ho E g j’pto , paTa h a b ilita r seu flih o , o grande Sesostris,<br />

áquelles feitos m aiores que os de A lexandre o grande,- q u een cherao<br />

o m undo do brado do seu n o m e , d a siia g lo ria , e dassuss proezas.<br />

T in h a do m esm o m odo preparado o seu te m p e rtm e n to , a sua<br />

fo rça, a sua a g iltd a d e , m andando vir á sua C órte um bom num<br />

ero de m eninos o rd in ario s, nascido» no m esm o dia qne seu fillio,<br />

e determ inando qne ahi . na sua com panliia , sem distincçâo da<br />

sua p essoa, corresse o m esm o pareo dos seu» exercicios corporaes,<br />

sujeitando-se aos m esm os trab a ih c s , soifresdo as uiesm as privaçôes,<br />

eiidurccendo-se ás m esm as fadlgas. •


h abri, na acçâo o mais activo; tndo combinando,<br />

prevendo , e acautelando opportunamente,<br />

ou remediando instantáneamente , era vê-lo em<br />

dia de combate marchando o 1." á testa dos seus<br />

bravos , e com elles entrando dos primeiros no<br />

conflicto ; era vé-lo batendo-se á direita e esquerda,<br />

ferir, matar, ou aprisionar como o maia<br />

simples soldado; era vé-lo acudindo, reunindo,<br />

ou puxando n’uma ou outra parte ; em toda a<br />

parte alentar , e mandar como o maia consum*<br />

mado General ; e sempre animoso , intrepido,<br />

incançavel, sampre mostrando o camiriho da gloria<br />

pelo seu pennacho branco, sempre arrebatando<br />

a p a l m a da victoria pelo seu valor !! Porém,<br />

täo magnanimo , e temivel era na resistencia,<br />

tao brioso , e clemente era no rendimento ou<br />

derrota dos seus contrarios. » Ponpai , gritara<br />

elle aos seus batalhoes ainda assanhados no seu<br />

alcance , ou na sus briga , poupai os meus<br />

Francezes : já näo süo os meus inimigos, já<br />

91 säo os meus fiihos, salvai-mos. Mas airjda<br />

que sempre, e em toda a occasiäo manifestasse<br />

essa mesma generosidade de sentimentos, nunca<br />

tanto como desde que as forças, que se diri-<br />

giao vagamente contra sen partido, se declara-<br />

räo abertamente contra a sua pesRoa, eseus direitos;<br />

pois que, quando em 1585 se fulminou<br />

em Roma o nefando anathema manejado em<br />

França , que o declarava inhábil a succeder á<br />

Coroa deste Reino, desligava do juramento de<br />

fidelidade até o seu proprio de Navarra , para<br />

jnstiticar a sua consciencia de toda a culpa que<br />

se Ihe imputasse, protestou n’uma e outra < ór-<br />

te contra toda acalumnia que se jhe tivesí^e forjado;<br />

e para livrar o paiz em que havia de reinar<br />

dos males que a seu pezar Ihe podesse acar>


etar a malicia dos seus adversarios , antes de<br />

atear-se o seu furor , ofFereceo-se a tomar os<br />

seus golpes sobre si, decidindo a contenda com<br />

bater*se 1 contra I ; 2 contra 2; 10 contra 10,<br />

ou qualquer numero contra qualquer outro ,<br />

com qualquer arma , e em qualquer parte que<br />

quizesse escoiher o chefe da Liga , Duque de<br />

Guisa , que nSo póde deixar de admirar tanta<br />

magnanimidade , mas recusou o desafío, com o<br />

pretexto da dignidade de Rei de Navarra, com<br />

que talvez córou o medo da sua espada.<br />

Tal era Henrique nas maximas cousas, tal<br />

era nas minimas : no arraial , com seus Soldados<br />

ou Generaes , outro Soldado ou General,<br />

risonho , meigo, faceto; aqui comendo com uns<br />

seu páo de muniçâo , alii riscando com outros<br />

seus planos de campanha; no campo um heroe<br />

impavido, invencivel, o primeiro a arrostar os<br />

perigos, o ultimo a decidir a fortuna, inabalavel<br />

a todos os seus azares. Nao podende acabar<br />

este esboço , pelo muito que estenderla o meu<br />

painel , só Ihe accrescentarei, por ultimo traço,<br />

que entre seus meihores pintores uns p compa*<br />

raviïo a Tito na bondade doseu coraçâo, outros<br />

a Trajano nas sollicitudes doseu espirito, outros<br />

a Cesar no valor do seu animo, mas todos<br />

convierSo que se os seus modelos tinhào feito<br />

cousas mais grandes , seu imitador fez cousas<br />

mais bellas , até na escolha do seu incompara-<br />

vel Ministro Sulli, cujoesboço serve de pendente<br />

, e mesmo de relevo ao do seu chefe.<br />

2.* Bosquejo relativo ao seu M inistro Sulli.<br />

 satisfazer avaidosa curiosidade da sua so-<br />

berba genealogia , diria que Maxicniliano de


Sethune, simples JBarSo de Rosni, Senhorio antiquissimo<br />

da sua familia, perto de J’arís, tirava<br />

a origeni do seu nome do illustre Solar de<br />

Bethune , e outros tao nobres que tinhao enla-<br />

cado a sua ascendencia com a de muitas casas<br />

entilo reinantes na Muropa, mas a satisfazer so-<br />

rnente o mais justo interesse que inspira a fama<br />

do seu merecimento, direi que toda adeveo aos<br />

serviços da sua pessoa, serviços taes que o rehabilitarlo<br />

da modesta condiçiïo, a que o redu-<br />

zira a decadencia da sua fortuna, aos eminentes<br />

tilulos e dignidatles de Marquez de Rosni,<br />

e Dnque Par de Sulli; de I\larechal de França,<br />

de Superintendente Geral das suas finanças ,<br />

Gran-Mestte da sua artilheria, Gran Vedor do<br />

mesmo Reino, eoutros qurt successivamente Ihe<br />

conferio seu recto avaliador , e prompto remu-<br />

nerador.<br />

Nascido no Castello do seu dito Senhorio de<br />

Rosni a J3 de Dezembro de 1560, tinha justamente<br />

7 annos menos queHennque, nascido no<br />

mesmo dia e mez do anuo de 1553 , e ponco<br />

mais de 10 da sua idade quando, em 1572, foi,<br />

pe!o seu pai, apresentado, em Vendóme, áqnel-<br />

le JMonarcha, que era ainda só Principe de Navarra,<br />

o qual se agradou lanto do s*.ni ar , da<br />

sua tiiìionomia, do comprimento que Ihe fez, do<br />

modo porque se houve, que o abracou duas vezes<br />

, e com as expressoes mais lisonjeiras para<br />

sua familia, e as mais aflectuosas á sua pessoa,<br />

Ihe pronietteo a sua proteccau o arnizade, pro-<br />

inessas a (]ue este excellente Princijje satisfez ,<br />

laquelle digno añlhado correspondeo muito »cima<br />

das suas mutuas esperancas. Acompanhati-<br />

do dahi o joven Rosni a Kainha mai tle Navarr<br />

a , e seu dito fìllio para a Corle de Franca, fi-<br />

'rorn. I. DD


CO» continuando a sua educarao em Paris atë os<br />

16 annos da sua idade (l) eni que, no de 1575 ,<br />

unindo a sua sorte á doseu prolector, rehrou-se,<br />

ou mais verdadeiramente ftigio da dita Córte,<br />

onde estava como prizioneiro. , para a ('idade<br />

d'Alencao, e desta para a de Tours, l’oi nosar-<br />

raba!des desta Cidade que , ardetido de Tazer o<br />

seu f.rimeiro ensaio em armas, o fez roin tal arrojo<br />

que, informado o Principe, Uei de Navarra,<br />

da sua excessiva afouleza, louvou-lhe o<br />

seu denodo, mas exlranhou-ihe a sua temenda-<br />

de, ordenando-lhe n que dabi em diante poupas-<br />

>> semais a sua pessoa, e Iha guardasse para oc-<br />

« casioes de poder-llie fazer mais imjtortantes<br />

» servicos; ;> guarda que com efleito a sua fortuna<br />

tornou profetica , mas preceito que o seu<br />

genio nâo Ihe permittio comprir.<br />

'Nao me sendo possivel segni-lo no desenvolvimento<br />

dos seus progressos sen> exceder os limites<br />

do meu esboco, lembrando aquelies rios<br />

que, de principio tenues nas suas fontes cristal-<br />

linas, mas túmidos, fumosos, irre]>resaveis nos<br />

seus borbotoes , saltáo em torrentes , despe-<br />

nhao-se de enxurradas, correm , pr*='cipiláo se ,<br />

derrubao, arrastao, dispersáo tudu quanto encentra<br />

a Rua estrepitosa fuga; mas abrandando<br />

pouco a pouco o seu impeto, á medida que vao<br />

crescendo os fluxos dos seus cabedaes , passao<br />

(1 ) Ahi escapo« e m l 5 7 2 , quasi m ilagro sam ente, a o h o rren-<br />

do m assacre d a B a rlh e lem ia d a , refug¡ando-se alta noite por entre<br />

m il pericos para o C ollegio de B o rg o n h a, de que era estu d an te,<br />

e cujo honrado Heitor o recebco m nito h um ana e caridosanjente«<br />

e o teve S dia» e>condido em um caraarim occu lto ; sendo no en?<br />

tan to pouco m enores os perigos que passava o m esmo Principe d a .<br />

I^avarra ju n to á |>essoa de C arlos IX , a cujos caprichos religi‘'>iOS<br />

leve de sujeitar*se p a ra escapar ás teiriveis am eaças que Ihe U t,


a volver placidamente as suas ondas dos campos<br />

ás Villas , das Villas ás Cidades, das Cidades<br />

ás íózes, derramando a fecundidade das suas regas<br />

, a abundancia das suas pescas, as vantagens<br />

da sua navegaçiïo até oncle estendem oseu<br />

curso, pela 1.“^ parte da minha allegoria repre-<br />

sentarei Rosni; mas Rosni que, ainda delicado<br />

pela sua idade juvenil, ejàesforçado peloseu ani-<br />

nío varonil , ávido de perigos , impaciente de<br />

obstáculos . insaciavel de gloria , tudo rompe<br />

quanto encontra o seu irresistivel choque, deixando<br />

sempre por vestigios ruinas, esempre levando<br />

por insignias trofeos ; e pela 2.* representare!<br />

Sulli, mas Sulli já sereno no seu espiri-<br />

to, já provecto na sua madureza ; Sulli que, moderando<br />

a sua marcha á proporçâo que vai crescendo<br />

a plenitude da sua sabedorla, passa a volver<br />

magistralmente os seus cuidados de uns para<br />

outros negocios do Estado , nelle por elles<br />

restabelece a ordem pública , promove o bem<br />

commum , fomenta a prosperidade goral até onde<br />

estende os seus passos ; sendo-aqui sempre<br />

o mesmo heroe , como alii os mesmos ríos, considerados<br />

nos seus diversos movimentos pelas<br />

diversas estaçoes das suas carreiras.<br />

Basta esse simples parallelo da sua activida-<br />

de militar para dar uma idèa geral da muita<br />

parte que teria nas heroicas proezas do seu Real<br />

Protector: porém foi tao singular a que teve na<br />

gloria de seu reinarlo , que se nao pode figurar<br />

sem reunir os principa(?s rasgos da sua ad-<br />

niinistraçào , de cujo compendio reservo fa'iCí<br />

adiante o complemento deste esboco.


Sohre o estado economÍ€0 ’prjlilico em qtie se acha^<br />

va a Fronda na epoca em que me devolvco a<br />

Coróa deste Reino a Henrique //^. , e as pri~<br />

m eiras soliicitudes do seu remado.<br />

Q'uANDO O Augusto vencedor da Liga subió<br />

por direito de conquista ao Throno que ihe perteiicia<br />

por diieito de nascimento, restituio pouco<br />

a pouco á Franca, pelos ampios indultos da<br />

sua uu xhaurivel clemencia, um repouso de longo<br />

ten po banido do seu Solo pelo incendio que<br />

nelle aleara o fanatismo interno, e ainda assoprava<br />

a ambiçao externa (1) , achava-se este<br />

Reino exhausto no seu Erario, empobrecido nos<br />

seus productos, perdido no seu credito, grava»<br />

do de eiiormissimas dividas atrazadas, e despe-<br />

(1 ) E ’ m uilo diíficil assignat o verdadeiro principio do reina»<br />

d o de H eiiriqiié IV . A inda que seu antéce>sor , H enrique I I í ,<br />

la lk c e u a 8 d'A gosto d e 1589 , ainda que eutrou eni P arís pelo<br />

m eado de Març*- de 1 5 S 4 , tendo já abraçado a R eligiao C atho-<br />

lic a , ain d a que o intitulado T en ente G eneral do Ë stado e C urca<br />

d e 1-raji^a, e C hcf’e d a L 'g a , D uque d e M a y e n n a , Ihefez a s u a<br />

subm i sào nos ))rincipios do anno d e 1596 , continuarao as iacçÔes<br />

particulares , prott-gidas ¡»eia H espanba , a a g ita i de tal modo<br />

um as 0 « outids partes desse K ein o , que só se pòde contar o resta-<br />

belecim er.so da '•ua tranquiilidade , p erturbada por guerras civis<br />

h avia m ais de 30 ant o s, desde a paz de Vorvins pubhcada a 12<br />

d e M aio «!e 1598 Coin tu d o , deduzirei a m ateria dos m eus as-<br />

fiumi'ius dos j'r.iKipios do dito anno de 1 5 9 6 , em que coiivocoii<br />

os Estados (ie ra e s , e com eçüu a iniciar S ulli nos negocios d a sua<br />

adm inistra^áo econum ica.


zas corrpntes ; ^ por cima , swjeito o seu ponco<br />

rendiuiemo a infinitas iiitapida(,oes parlicuUrüS<br />

em nieiü de uina confusAo geral de imposicSo,<br />

6 arrecadaçao dos seus diversos ramos: ein uma<br />

palavra , oílérecia uma perfeila injagem do de<br />

Portugal, quando o nosso magHaíiimo Regente<br />

reunió tambem o direito da sua coníjursta ao<br />

direito do seu nascimento, jK perlencente, pelo<br />

ter cedido, á t»ua Augusta filí»a, nossa legitima<br />

Rainha.<br />

Em t;ïo criticas circun)stancias , que mais<br />

inagoavao o seu paternal coraçiïo do que a gloria<br />

dos seus triunfos lisongfava o seu real animo<br />

, fez o que podia fazer Henrique IV. Para<br />

applicar ao mais urgente trabalho seu mais<br />

expedito operario, principiou em 1596 por ingerir<br />

nos negocios da Fazenda o dito l^osni,<br />

que tendo até ahi sido o seu principal braço e<br />

conselhtiro em todos os seus successes militares,<br />

veio brevemente a se*lo em lodos os acertos da<br />

sua administraçao economica ; e para acudir<br />

successivamente a todas as mais necessidades<br />

publicas , convocou os Estados Geraes da Na-<br />

çâo para franca, sincera, e desinteressadamen-<br />

te discutirem , e proporem-llie os meios mais<br />

eiìlcazes de a todas prover.<br />

Em tempo de bonança niïo ha máo piloto,<br />

dizçm os marcantes , porque quando iodos foi-<br />

gao, todos dizem bem da funcçâo ; porém em<br />

lempo procelloso é só bom mestre o que sabe<br />

aparelhar a náo conforme a derrota , navegar<br />

segundo os ventos ; e ora com os clhos filos na<br />

bussola, ora cojh as máos postas no leme, sempre<br />

attento ao seu rmno , os perigos que nSo<br />

póde evitar prudentemente , os arrosta corajo-<br />

eaiuenle ; as cousas que dSo póde levar as sa*


crifica pessoas que ha de salvar, mas sé por<br />

acanhada resoluçâo, ou por temerarias contem-<br />

plaçoes, sacrifica este principal dquelle accessorio<br />

, quando deveria obrar delibera , quando<br />

deveria caminhar pàra , quando poderia chegar<br />

ao porto do seu salvamento , chega ao escolho<br />

da sua perdiçâo.<br />

A nao Civil do Estado nao é menos arriscada<br />

na sua carreira politica do que a marítima<br />

nasua nautica derrota; mas alera de serem mais<br />

raros os seus bons pilotos, sâo mais avessos ás<br />

rigorosas medidas do seu seguro andamento os<br />

que compoem a sua equipagem ; uns porque,<br />

nao conhecendo tanto os perigos que os amea-<br />

f;ao, os nao jiilgao lamanlios como se Ihes pin*<br />

lao; outros porque, nao os vendo tâo imminentes,<br />

ijâo considerâo as suas prevencôes tâo urgentes;<br />

e outros finalmente, e estes em maior<br />

numéro , porque embaídos da presumpçào de<br />

poder escapar ao naufragio dos mais, nao que-<br />

rem fazer sarriticio algum pnra a salvacáo com-<br />

inum ; em cujo conflicto de desvairados pareceres,<br />

e vontades é precisa muita discriçâo , firmeza<br />

e coragem para vencer todos os arbitrios;<br />

e tudo teve no supremo gráo , tudo usou com<br />

summa vanlagem na conducta do baixel de que<br />

se (rata o dito i^osni , que d’aqui em diante<br />

chauiarei Sulii, como Ihe ciiamao os seus histo-<br />

riographos, e ns suas mesmas M em orias, a qua^<br />

principalmente n;e retiro na minha recopilaçâo.


c a p í t u l o XXI.<br />

Sobre os artificios e intrigas com que os emulas de<br />

Ito sn i, dito S u lli, prociirarao atrnvcssar o seu<br />

prim eiro despacho de Conselhciro da F nzem la;<br />

e bem assim sobre os seus prim eiros trabalhos<br />

Jiscaes, e frutos da sua fiscaiisagáo.<br />

T '<br />

A ENDO FIRei nomcado Sulli Conselheiro do<br />

Beu Conselho d’E^tado e Fazenda , para aproveitar<br />

o seu maior descanso nos objectos já da<br />

sua maior importancia, foi tal o recejo qne con*<br />

ceberílo os seus velhos Membros de ter nelle ,<br />

com um olheiro mui perspicaz, um censor mui<br />

severo da sua reJaxa


a mesma posíé , vio neste acto representar se<br />

para com elle uma daquellas comicas fart;as ,<br />

referida no Liv. 0.* das suas M emorias , que só<br />

se costuma ver representada nas Côrtes , pelo<br />

refinado acolhimento com que os seus compa*<br />

lihoiros, devorados no interior do mais negro<br />

pezar, compozerSo as suas caras , as suas ma-<br />

neiras, as suas expressoes de modo a añectarem<br />

D mais vivo prazer , requintando na fineza de<br />

todos , e encarecendo*lhe mais a impaciencia<br />

com qne a|ji o espirava quem mala intrigara<br />

para dahi afast;j-lo. iVIas estas mascaras de cor-<br />

iezia jd conhecidas de Sulli , pouco lardou a<br />

lira-las aos Cortezaos.<br />

Precisava ElKei de dinheiro , e mío só 03<br />

cofres reaes se achaviio vasios, mas o Conselho<br />

da Fazenda tinha inalbaralado os seus mais ren-<br />

dosos contratos, e por cima hypothecado osseus<br />

producios a dividas antigas, e illiquidas, Fm<br />

tao criticas circumstancias propoz Sulli a Sua<br />

JVlageslade que, eni quanto se fossem juntando<br />

os Lstados Geraes , mandasse recorrer as priti-<br />

cipaesComarcas do Reino, para nellas se toma-<br />

rem informaçoes mais certas das quotas partes<br />

das suas contribuicoes , das causas da sua di-<br />

íninuicHo , e dos possiveiá meios de augmenta-las<br />

, tanto para o mesmo Senhor regular sobre<br />

estes d;tdüs as requisít^oes que houvesse de<br />

fazer aos dilos Kstadus, como para servirem a<br />

estes Esrtados de bases para suas delibera


ainda feita a proposta quando , pouco depois,<br />

Sua Magestade mandou vir o dito Conselho a<br />

Monceaux, onde elle se achava, ahi Iha fez elle<br />

mesmo. Aprovaräo-na pienamente os Conse-<br />

Iheiros , na persuasao de que as Commissôes<br />

dessas incumbencias seriSo dadas aos mais in><br />

fluentes d’entre elles. Como porém vissem que<br />

ElRei apenas comettia um delles para duas Comarcas,<br />

escolhia outros 4 Commissarios de fóra<br />

para uma, ou duasComarcas cada um, e reservava<br />

as 4 majores para a Commissâo de Sulli,<br />

arrependeräo-se muito de terem dado o seu assenso<br />

asemelhante proposta, enâo podendo annullar<br />

a sua deiiberaçâo, dispuserâo*se a frus><br />

trar os seus effeitos. Tomando o mesmo Sulli<br />

por alvo dos seus tiros, principiarSo por taxa-io<br />

de nescio, d’estouvado, d’exotico, e outros semelhantes<br />

improperios; do que passarâo a prevenir<br />

de tal modo os Thesoureiros, os Recebedores,<br />

os Escriväes, e seus Empregados subalternos,<br />

que todos venal, oucegamente submissos<br />

aos seus patronos, comprazeräo ás^uas insinua-<br />

çôes por differentes modos ; uns fechando os<br />

seus escritorios, e ausentando-se; outros apre*<br />

sentando contas astuciosamente concertadas para<br />

palliar as suas fraudes ; outros contentando>se<br />

com exhibir ordens assignadas de aiguns Conse-<br />

Iheiros para vedar os seus registos e papéis a<br />

qualquer exame.<br />

Contra esse conialo geral usou Sulli dos<br />

meios de doçura; usou dos estímulos do brío,<br />

dos incentivos do interesse , e até dos termos<br />

de ameaças, sem que a nada cedessem. Usando<br />

entao do unico recurso que Ihe restava, e para<br />

que estava auctorisado , o de suspender do sea<br />

exercicio a generalidade desses funccionarios> e<br />

T o m . I . EE


conjetter provisoriâmente as suas funcçôes ao»<br />

dous únicos de cada reparliçao que llie inerece-<br />

rSo mais conceito de boa fé e probidade, con-<br />

seguio por este expediente apossar-se de todos<br />

08 livros, escritos, e memorias » que Ihe servi-<br />

» râo de fio para recorrer o dedalo das Suas tra-<br />

» ficancias. È que nâo vi entâo, diz Sulli, á medi-<br />

» da que por elle fui adiantando os meus pas-<br />

» sosi Mas, poderia eu explicar os artificiosos<br />

embustes das suas ardilosas ciladas , as suas<br />

dolosas ambiguidades , as âuas malignas con-<br />

« fissoes, os seus disfarçados duplos empregos,<br />

9i as suas encobertas omissoes , as suas indus-<br />

» triosas falsificaçôes, etc ? Sémente direi que<br />

por assignaçôes de débitos velhos , ou reem-<br />

»9 bolsos; por vencimentos antigos, eordens em<br />

99 branco de pagamentos ao portador , apurei<br />

9f mais de ôoo mil escudos , (600 mil cruzados)<br />

99 e a que nâo teria chegado a restituiçâo de<br />

» todos esses malvados empregados aoapurar>se,<br />

99 e exigir-se a dévida satisfaçào das suas lon-<br />

9f gas prevaricaçôes ! «<br />

Quanto SuHi aproveitara a sua ausencia pa*<br />

ra melhorar os negocios d’EIRei, tanto os seus<br />

adversarios no Conselho a aproveitarâo para<br />

peiorar os seus. Presentindo que as vantagens que<br />

tirasse das suas diligencias condemnariâo as in-<br />

trigas que tinhâo movido contra a sua empre-<br />

2a, para sanear as suas primeiras calumnias in-<br />

ventarâo outras, quaes as das suas pertendidas<br />

concussdes dos povos , e usurpaçoes aos Offi-<br />

eiaes móres da Corèa, aos mesm


Erario , visto que delles teria neüegsaríamente<br />

de sabir para suas dévidas consignaçôes.<br />

O que chegava a Sulli dessas imposturas<br />

pouco o abalava, e pouco tambem a ElRei de<br />

principio o que dellas se Ihe insinuava; porém<br />

lanto cresceo a força da cabala, a multidáo dos<br />

§eus socios , e impudencia dos seus testemunhos,<br />

fi^urando-lhe que Sulli enchera as priaóes<br />

de Officiaes de P'azenda, e trazia após ai una 50<br />

dos principaes, carregados de ferro, que come*<br />

ÇOU o Principe a recear , pelo excesso da sua<br />

bondade, algum excesso de severidade no sen<br />

M inistro, e o simples convite que Ihe tinha feito<br />

de voltar da sua commissäo , Iho converteo<br />

em ordem positiva. Sobre isso Sulli, ainda que<br />

bem sentido de näo poder concluir as suas la*<br />

refas, näo hesitou em fazer as suas disposiçOes<br />

para a partida: fechou immediatamente as ¿uas<br />

escripturaçdes , aproroptou em boa ordem ©clareza<br />

todas as peças justificativas das suas receitas,<br />

e descargas; e trazendo comsigo, nos competentes<br />

cofres bem escoltados, lodo o dinheiro<br />

que tinha apurado, se dirigió para Roao, onde<br />

ElRei já tinha ido para a abertura des Estados<br />

Geraes.<br />

Ao apresentar-se Sulli a Sua Magestade, cuja<br />

boa fé Ihe näo permittira suspeitar de inteira<br />

falsidade tantos testemunhos contra elle levantados,<br />

ainda que o abraçou logo que o vio,<br />

näo deixou de Ihe mostrar certo ar de frieza,<br />

que derao bem a conhecer ao apresentado o<br />

muito que seus émulos teriäo trabalhado para<br />

perde-lo no seu conceito. Perguntou-lhe primeiro<br />

porque trouxera inutilmente comsigo to»<br />

do esse, dinheiro, consignado a pessoas que elle<br />

näo quería morliíicar, e que estaväo no eos*<br />

KB 2


turne lie recebe-ltí pelas suas tnSos dos contratos<br />

aífectos aos seus pagamentos ; e cotiio Sulli<br />

Ihe respondesse que nada , absolutamente nada<br />

trouxera destinado aos pensionarios do Estado,<br />

nem aos Principes do sangue, os quaes se acha-<br />

váo até ahi exactamente pagos do que se Ihes<br />

devia, e o seriào dahi em diante com a mesma<br />

pontualidade, pois que elle nSo bolira nos seus<br />

dinheiros , nen> contratos , ficou ElRei tSo estupefacto<br />

que Iho fez repetir por vezes, e sobre<br />

a insistencia da sua afirmativa = ’» eis , par*<br />

ff bleu, tornou Sua Magestade , eis bem mal-<br />

93 vada gente , e malvadas impudencias. Mas,<br />

ÍÍ pelo que toca a todos esses Recebedores , e<br />

}f Ofíjciaes de Fazenda, continuou eJIe, que ar-<br />

ff rastastes presos atraz de vós, que fareis dei-<br />

?} les? A surpreza que mostrei a esta nova persi<br />

gunta foi tal, diz Sulli, que servio de respos-<br />

>y ta e convicçâo a ElRei da vileza desta mes-<br />

9f ma calumnia, e a mim de esperanza de que<br />

» Ihe descobriria melhor do que (udo o que eu<br />

ÍÍ podesse dizer-lhe a perversidade dos do Con-<br />

« seibo. Nâo me perguntando entao mais nada<br />

í9 a esses respeitos, passou pelo contrario a en-<br />

» cher-me de elogios e afagos. >f Tinhao dito a<br />

Sua Magestade que tudo o mais que Sulli trou-<br />

xesse se reduziria a bem pouca cousa. (os Com-<br />

missarios mandados ás mais Comarcas nada ti-<br />

nháo trazido das suas diligencias senSo vaos<br />

projectos de melhoramentos, á excepçào de um<br />

só que trouxera 80 mil cruzados) Perguntado<br />

sobre este artigo, respondeoSulli, que nao tendo<br />

elle distrahido do que colhera cousa alguma<br />

nem para assuas proprias despezas, acharia Sua<br />

jWagestade a sua Collecta loda, justitìcada pelos<br />

seus Mappas e Memorias , na somma de


l.ôO. O fraDCOS, c u ja quaotia, pela sua monta,<br />

e pela precisao que della tinha, muito ngradou<br />

a El Ilei , que muilo a agradeceo , e até a re-<br />

munerou ao sea Collector, recommendandü-lhe<br />

de náo divulgar o que entre elles acabava de<br />

passar.<br />

Todos esses factos, e outros que accrescen*<br />

la, da mais refinada perversidade , manifestáo a<br />

extrema devassidáo a que as guerras do fanatismo<br />

e da ambiçâo tinhäo nesse tempo levado os<br />

costumes em França, e oque parece mais estra-<br />

nho é ser tâo geral a sua corrupçâo que conta><br />

minasse igualmente as CorporaçÔes e os individuos<br />

, ao ponto de nem sequer no Erario<br />

Regio fìcarem seguros das rapiñas dos Conse-<br />

Iheiros da Fazenda os Cofres que Sulli tinha<br />

ahi remettido ; mas este novo attentado da sua<br />

cubîça, novamente frustrado pelo mesmo Sulli,<br />

é tâo vergonhoso pela sua baixeza ecumplicída^<br />

de que, depois de recopilar a sua narraçâo sobre<br />

o que se acha no Liv. 8.* das suas ditas M emorias,<br />

o pejo que tive de ínseri-lo aqui m*o fez<br />

supprimir.


CAPITULO XXII.<br />

Aberlttra que fe z E lR e i dos Estados Geraes; vào<br />

titulo de Assemblea dos Noiaveis que tomarào,<br />

fu n d o dos seus trabalhos , e summarto das suas<br />

ddiberagóes.<br />

T ? end& noentanto cbegado odia aprazado para<br />

a abertura dos Estados, Henrique IV a fez<br />

com a dignìdade que convinha a um grande<br />

Principe, e ao mesmo tempo com aquel e garba<br />

cavalieiroso que caracterisava o seu g^nio fran*<br />

co, liso, aberto.<br />

Depois do Monarcha declarar-lhes que para<br />

prevenir o menor ar decoaccSo nSo qnizera que<br />

o seu Congresso se composesse de Deputados<br />

por elle nomeados, e servilmente sujeitos aoseu<br />

arbitrio, m asque nelle se admittissem livremen-<br />

te todas as pessoas de qualquer estado , e con-<br />

di^So que pela sua sabedoria fossem mais capa-<br />

zes de propòr-lhe sem rebufo o que convinha<br />

ao bem público, accrescentou que nSo perten-<br />

dia pòr limites aos seus poderes , mas sómente<br />

Ihes pedia que nao abusassem delles paraaviltar<br />

a Auctoridade Reai, primeiro nervo do Estado.<br />

Fallando sobre isso dos principaes objectos de<br />

que se haviSo de occupar, recommendou como<br />

mais urgentes , e essenciaes os meios de restabelecer<br />

a ordera , e a uniào entre todos os<br />

Membros do Estado , e successivamente os de<br />

alliviar os seus Povos dos gravames que padecido,<br />

os de desonerar o Erario das muitas divi«


das a seu cargo, que elle nao tinha contrahido,<br />

nías quena pagar; os de reformar, ou diminuir<br />

as pensoes gratuitas, ou excessivas, sem prejuizo<br />

das que íossein justas, e moderadas; os deas-<br />

signar para o futuro fundos liquides e suíHcíen«<br />

tes para manutençSo da gente de guerra , e<br />

signiticou á Assemblèa o muito que coníiava<br />

nas suas boas disposiçôes , e esperava do successo<br />

dus seus trabalhos, pelas seguintes expres-<br />

soes litteralmente traduzidas.<br />

Se eu fìzesse tim bre, disse elle, de passar<br />

)f por grande Orador , traria aqui mais bellas<br />

n palavras do que boá vontade ; porém a minha<br />

ambiçâo tende para cousa mais nobre do que<br />

» a mesma eloquencia. Aspiro ao glorioso titu-<br />

Io de Libertador, e Restaurador da França:<br />

}ì já pelo favor do Geo ... tirei na da servidào<br />

i( e ruina em que jazia ; quero repo-la na sua<br />

>t primeira força, e antigo esplendor. Ajudais-me,<br />

}> meus caros subditos , nesta 2.“ gloriosa era-<br />

M preza , como me ajudastes na I.*. Nâo vos<br />

« chamei aqui , como faziâo os meus anteces*<br />

j> sores , para obrigar-vos a aprovar cegaraen-<br />

te as minhas Tontades : mas para receber os<br />

» vossos conselhos, acredita-los, seguidlos; em<br />

» uma palavra , pôr-me em tuteila nas vossas<br />

mâos. E ’ vontade que raras vezes péga aos Reis,<br />

}j aos barbaças , aos victoriosos como eu; mas<br />

}> o amor que tenho para todos os meus subdi-<br />

>t tos, e o meu summo desejo do seu bem es-<br />

» tar , fazem-me achar tudo facil , tudo hon-<br />

z roso, fi<br />

Sobre essas palavras, que penetrarâo os ou-<br />

vintes, até ornais intimo dassuas aimas, levan-<br />

lou-se E lR ei, e dizendo-lhes que, para a maior<br />

liberdade das suas deliberaçôes, nfîo queria a


sisLir ás suas Sessues por si, nein por sens Con-<br />

selheiros , retirou-se da Assemblèa , deixando<br />

sömente Suili para fornecer o erro que abnegara Henrique , e costuma<br />

fi passar em herança aos Principes hereditarios,<br />

f> consistindo em que o Monarcha é senhor dos<br />

a bens e da vida dos seus subditos , e com 4<br />

2 palavras = tei est notre plaisir — pôde dispea-<br />

a sar-se de dar a razâo do seu procedimento, e<br />

>i até mesmo de ter razâo para proceder; depois de<br />

fazer mui judiciosos raciocinios sobre o grande<br />

partido que se poderia tirar da convocaçâo<br />

dos Estados Geraes , sendo compostos de pessoas<br />

escolhidas pela pureza das suas intençdes,<br />

a rectidâo dos seus principios, eaclaridade das<br />

suas luzes ; e o pouco fructo que ordinariamente<br />

se tira das suas reuniôes , por nellas ingeri-<br />

rem-se, e contraporem-se a cada hornera de sizo


muitos insensatos, cuja maior preponderancia é<br />

a ruaiur presumpçao, passando a fallar do Congresso<br />

de ()ue se trala , diz que se coinpunha<br />

geraiinente de gente de toga , e de Fazenda<br />

que, datidu-lhes na fantasia de hombrear, pela<br />

sua auctoriddde e representarse, com o Clero,<br />

e Nobreza , e imaginando que Ihes seria indecoroso<br />

Irajar-se da libré do povo , que Ihes<br />

figurava o nome * da inveja, observa elle, principili obJectO da<br />

ff Inveja do vulgo , e ao mesuto tempo do sea<br />

>i maior respeilo e venera^áo ; ou para melhor<br />

>i dizer, prova inconlestavel da sua íDHÍor indis-<br />

» criçâo e loucura. >» Desile j;í, esse contraste<br />

de uns com o exterior grave , e modesto que<br />

devera acompanhar a todos alomar sinceramea-<br />

te parte nos negocios mais serios do Estado,<br />

incuicou a Sulii o pouco que se podia esperar<br />

das suas communs deliberaçôes, cujo summario<br />

recapitularei da sua mais longe exposiçâo nas<br />

citadas iliemorias, excepto algumas dassuas ob-<br />

servaçôes, que traduzirei litterHlmente.<br />

Quando Ihes foi necessario proceder ás con-<br />

clusdes que buscavâo , principalmente sobre a<br />

forma da imposiçào , e arrecadaçao dos subsidios<br />

, pensarâo que nada havia melhor a fazer<br />

do que compilar um moniâo de antiguados re-<br />

guUmentos inuteis, e até contrarios ás circumstancias<br />

occorrentes; e em lugar de.refleclir que<br />

os Corpus collectivos devem tralar-se coiro os<br />

individuos , para os quaes convem usar de re-<br />

Torn, I. F F


medios extraordinarios, apropriados ás suas mo*<br />

lestias extraordinarias , ou mudar-lhes as receitas<br />

conforme mudem osseussymptomas; tai foi a<br />

for(ja das suas preoccupaçôes que se obstinarSo<br />

a procurar a cura dos seus males presentes nas<br />

mesmas mezinhas, cuja passada applicaçao mostrara<br />

ter-lhos causado. Um respeito cegó para<br />

as antigualhas , uma apparencia falsa das cousas<br />

remotas, um juizo precipitado sobre o passado<br />

, e uma falta de vista do futuro , que o<br />

amor proprio nSo deixa confessar , eis o que<br />

perpelúa os abusos. NSo se devem mudar os<br />

usos e costumes de um paiz, dizem elles; concedo,<br />

diz-lhes Sulli, cada vez que nenhuma necessidade<br />

ha para isso.<br />

Depois de tirarem da poeira um sem numero<br />

de alfarrabios , cujos contextos nâo quadra-<br />

yS.0 pelas suas formulas com as do tempo, nem<br />

pelas suas disposiçôes com os seus fins , pondo<br />

de parte o seu volumoso trabalho, recorreráo a<br />

outro expediente deque, por quer que Iheacha-<br />

rSo de especioso, adoptarao inconsideradamente<br />

oprojecto. Foi o dacreaçâo deum novo Conselho<br />

de Fazenda , chamado de R a zâ o , cujos<br />

primeiros vogaes seriao nomeados pelos da Assemblèa,<br />

e os seus successores pelas Côrtes Soberanas.<br />

Mas » era ainda isso , observa Sulli,<br />

» prover a um mal por outro mal; pois que, se<br />

j) o Conselho já existente tinha sido a principal<br />

» causa da desordera da mesma fazenda, e da<br />

a miseria dos povos , que meihoramento se po-<br />

>» dia esperar de outro que se creasse? » Nada<br />

disso occorreo áquelles Togados que , uns fascinados<br />

doesquisito do nome, outros cngodados<br />

do cheiro da isca, induzirSo a maioria da Assemblèa<br />

a render-se a seu conceito , como ee


fosse um niaravilhoso parlo do geu nngenha.<br />

Lenibraräo mais o.df^spropoiito, qut« rio irif'i'mo<br />

modo fizeräo adoptar, de dividir as rendas Reaes<br />

em duas partes iguaes , reter o novo Conseiho<br />

em si a administraçâo da J/ parte , passar a<br />

ËIKei, pelos seus Ministros , a da 2*, e ticar<br />

cada um com os respectivos encargos a(f'Ctos<br />

ás suas r^^spectivas atlribuiçôes ; aiiocaçôes, que<br />

seria mais fastidioso do que interessante espe*<br />

cifìcar aoui : é porque o orçamento de 30 mi-<br />

Ihôes délivras, a que em grosso (inhào levado<br />

os rendimentos da i^>ança. Ibes {lareceo exces><br />

sivo de uits 5 milhoes ditas , decidirâo que se<br />

iroporia um soldo por livra (especie de sisa de<br />

sobre lodos os generös e fazendas que se<br />

vendessem e comprassero no Reino , cujo pro*<br />

ducto julgar/)o suilicienie para supprir áquella<br />

falla. Tendo assim a Assemblèa organis^du, e<br />

concertado oseu systenia, o mandou, pelos seus<br />

Depulados, propôr á Sanrçâo d’ElRei, que os<br />

jecebeo em [deno Conselho.<br />

Fim do Tom. J,<br />

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D O PRIMEIRO T O M O .<br />

In t r o d u c ç X o , e P l a n o da O b r a . . . Pag. 1<br />

C a p i t u l o i. E m que se f a z um a breve<br />

exposiçâo de como se abaleo, quebrou ,<br />

despedaçou a facticia armaçâo da fo r tu ­<br />

na de P ortugal, e dos únicos meios que ficao<br />

de resiaura-la........................................... 20<br />

CAP. II, Sobre a extensáo territorial^ e a<br />

producçâo agricola do Solo Continental da<br />

França , « a avaliaçâs do seu producto<br />

bruto t e liquido, pelo Conde Chaptal . . 28<br />

CAP. III. E m que , á vista dos referidos<br />

cálculos , e seus achados , se manifesta<br />

com toda a clareza o que perlence a ca-<br />

da utn dos interessados nos productos des*<br />

ta agricultura, segundo as faculdades pro~<br />

ductívas dos respectivos avanços com que<br />

concorrerâo á sua producçâo ; como tarn-<br />

hem o que compele ao tributo dosseus comm<br />

uns encargos ............................................. . 85<br />

CAP. IV. Como sereforçâo as provas da in-<br />

compaiibiltdade das mencionadas partilhas<br />

tom o andamento da agricultura, ecom a<br />

justiça distributiva dos seus productos . . . 6o*<br />

CAP. V. E m que se continúa a materia<br />

antecedente, com nova relevancia das suas<br />

p r o v a s ............................................................... 72<br />

CAP. VI. E m que se exam ináo analitica<br />

e criticamente os argumentos apologéticos<br />

dos Foraes de que se trata , deduzidos<br />

na Obra , intitulada =3 Historia Chro>


nologica, Critica, do Reai Moateiro de<br />

Alcobaça , da Congregaçâo Cistercien-<br />

ce, para servir de continuaçâo á Alcoba-<br />

ça liUiHtrada , etc............................................. B5<br />

CAP. Vìi. E m que aprnva já dada retrò<br />

de im plicar n prosperidnd^ da agricultura<br />

com a subsistencia dos seus Já notados<br />

encargos p trticulareSy se torna agora mais<br />

lum inosapelademonstraçâo da sua mesma<br />

implicancia com a con&eroaçào dos dizt^<br />

m o s, e jugadas , ou oulros quaesquer i€-<br />

mel/uintes ioipostos públicos no seu pro~<br />

ducto bruto .........................................................<br />

CAP. Vili. E m que á mesma prova de<br />

im plicar a prosperidade da agricultura<br />

com OS ditos impostos ^ pela multiplicidade<br />

dos seus gravames , se ju n ta a de repu^<br />

gnar com elles os seus progressos pela in^<br />

dole da sua im p o siçâ o.................................. 101<br />

CAP. IX. Sohre as p r estaçôes , porque se<br />

devem supprir os encargos de quaesquer ini-<br />

posiçôes particulares nos predios rusticos,<br />

seja qual for a sua origem e qualidade . 1J7<br />

CAP. X. É m que se mostra a unica contribuiçâo<br />

que se póde im p ó r, e como se ha de<br />

pór na agricultura , em harmonía com<br />

as nossos sabias instifuiçôes nacionaes, e a<br />

nossa progressiva restaurnçâo politica . . 219<br />

CAP. XI. E m que se repraduzem aiguns<br />

artigos da dila Estatistica de França para<br />

norm a dos seus cálculos , e applicaçâo<br />

dos sens elementos á de Portugal . . . . 129<br />

CAP. XI í. E m que se eorpótm as muttas e<br />

indispensaveis necessidades que aqui ha de<br />

proceder á mesma E statistica, pelas que


ta m b em ha de re g u la r m r ella a contribuiçâo<br />

territo ria l deste R e i n o ...................... 134^<br />

CAP. XIIJ. E m q u e se desenvolvem as m u ita<br />

s necessidades queha de su b stitu ir a todas<br />

as imposiçôes , que g ra va v â o os pro d u cto s<br />

d a a g r ic u ltu r a , u m a u nica contribuiçào as-<br />

sen ta d a no seu ren d im e n to liq u id o , e a p u ­<br />

ra d a pelos m eios pro p o sto s p a r a a f a c tu r a<br />

do seu in v e n ta r io ................................ . . . 137<br />

CAP. XIV. Sobre a d eterm inaçâo da quota<br />

trib u ta ria m a is conveniente , e a m elh o r<br />

fo r m a d a sua a r r e c a d a ç â o ......................... 149<br />

CAP. XV. Sobre a m e lh o r fo r m a de p e r ­<br />

ceber a p ro p o sta contribuiçào te rrito ria l . 16X<br />

CAP. XVI. E m que se co n ira p ô em os m o ­<br />

dernos p rogressos a grícolas d a F r a n ç a<br />

aos seus a n terio res a tra zo s a p a r d o s d itas<br />

d iversa s causas r e ta r d a tiv a s, e im p u lsivas<br />

d o se u m o vim en to nos seus va rio s r a ­<br />

m o s ................................................................ • • 158<br />

CAP. XVII. E m que se f a z su m m a ria -<br />

m e n te o curioso p a ra lle lo dos ditos m d h o -<br />

ram enloSi que j á tem a d q u irid o a F r a n ­<br />

ça , co m os que a in d a p ó d e a d q u ir ir , á v is ­<br />

ta dos de I n g la te r r a , que se Ihe co n fro n -<br />

ta o ......................................................................... 171<br />

GAP. XVIII. E m q u e se m ostra com o, Ion-<br />

ge de d im in u ir , ha de a u g m e n ta r o va lo r<br />

da contribuiçào lerrilo ria i d a a g ricu ltu ra<br />

p e la reducçâo dosseus dilos im postos a u m<br />

q u in to , ou 20 p o r 20 do seu ren d im en to<br />

liq u i d o ............................................................... 183<br />

GAP XIX. E m q u e , p o r p rin c ip io do es-<br />

boço do reinado d e H e n riq u e de F r a n ­<br />

ç a , e d a a d m in istra çâ o de S u lli, se bos*<br />

quejáo os p rim e iro s traços historíeos do


nascimentOj criaçâo Jìsica, e carncter moro/<br />

dnqudle grande P rin cip e, c deste seu<br />

grande M in istro ............................................. 194<br />

CAP. XX. Subre o estado economico-politi-<br />

co em que se achava a F rança , na epoca<br />

em que se devolveo a Corda deste Reino a<br />

Henrique I V , , e as prim eiras sollicitudes<br />

do seu re in c u io ................................................ 204<br />

CAP. XXI. Sobre os artificios e intrigas com<br />

que OS émulos de R osni, dito S u lli, procu-<br />

rarao atravessar o seu prim eiro despacho<br />

de Conselheiro da Fazenda ; e bem assim<br />

sobre os seus primeiros trabalhos fiscaes,<br />

e OS frutos da sua fiscal^saçâo.................. 207<br />

CAP. XXII. Abertura que fe z E lR e i dos<br />

Estados Geraes ; vâo titulo da Assemblea<br />

dos NHaveis que tom arâo, fu n d o dosseus<br />

trabalhos, e summario das suas delibera-<br />

ç ô e s .............................................................. t . 214


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