14.05.2013 Views

Uma nova Igreja para um jovem bispo - Arquidiocese de Maringá

Uma nova Igreja para um jovem bispo - Arquidiocese de Maringá

Uma nova Igreja para um jovem bispo - Arquidiocese de Maringá

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

38<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

o assunto, mas, no fundo, sofriam por ele e <strong>de</strong>le tinham pena. Também o sentiam paroquianos, conhecidos e<br />

amigos que, entretanto, <strong>de</strong>scobriram criativa maneira <strong>de</strong> amenizar a futura sauda<strong>de</strong>, fazendo chegar ao cura<br />

<strong>um</strong>a mostra do carinho que lhe <strong>de</strong>dicavam. Recorda Alice que “congregados marianos, moços e moças, estudantes<br />

<strong>de</strong> faculda<strong>de</strong> vizinha da casa paroquial, quando passavam na rua, mesmo <strong>de</strong> noite, em coro cantavam<br />

<strong>Maringá</strong>, <strong>Maringá</strong>...”, refrão da melodia composta por Joubert <strong>de</strong> Carvalho, sucesso nacional <strong>de</strong> então,<br />

responsável pelo nome conferido à cida<strong>de</strong> que brotava da floresta norte-<strong>para</strong>naense.<br />

A inesperada transferência do padre mexeu também com a vida da mãe e das irmãs, levando-as a apressar<br />

a aquisição <strong>de</strong> <strong>um</strong> apartamento no edifício Spadoni, em construção no centro da cida<strong>de</strong>. No mês <strong>de</strong> março,<br />

dias antes da posse do novo <strong>bispo</strong> em <strong>Maringá</strong>, as três <strong>de</strong>ixaram a casa paroquial. Não podiam ocupar o apartamento,<br />

ainda em fase <strong>de</strong> conclusão. Acomodaram-se na casa <strong>de</strong> Jupira, outra irmã do <strong>bispo</strong>, cujo casamento<br />

com Paulo Prado ele havia assistido a 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1941, dia seguinte à sua or<strong>de</strong>nação sacerdotal. Após<br />

quinze anos <strong>de</strong> casados, Jupira e Nenzico (apelido <strong>de</strong> Paulo) já tinham os filhos Ana Vera, Paulinho, Eliana e<br />

Cristina, todos crescidos. De repente, a casa passou a acomodar <strong>um</strong>a família <strong>de</strong> nove pessoas, em vez <strong>de</strong> seis.<br />

Só em 15 <strong>de</strong> agosto daquele ano foi entregue o apartamento no Spadoni. Mas as três não se mudaram logo,<br />

porque Jupira não concordava em que <strong>de</strong>ixassem sua residência. Finalmente, a 1º <strong>de</strong> outubro, dona Guilhermina<br />

conseguiu vencer a resistência da filha e se transferiu <strong>para</strong> o apartamento on<strong>de</strong> passaria os últimos 24<br />

anos <strong>de</strong> sua longa existência. “Tenho outros filhos e preciso <strong>de</strong> <strong>um</strong> lugar on<strong>de</strong> recebê-los” foi o arg<strong>um</strong>ento<br />

que a mãe usou, recorda Alice. Apesar <strong>de</strong> fazer questão <strong>de</strong> <strong>um</strong> canto seu <strong>para</strong> acolher os filhos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957<br />

até sua morte, o Natal ela o passava com o <strong>bispo</strong> em <strong>Maringá</strong>. Aos outros, quando se queixavam, respondia:<br />

“Vocês têm esposo(a), têm filhos. Ele não tem ninguém”. Somente a doença, em raríssimas ocasiões, impediu-a<br />

<strong>de</strong> passar em <strong>Maringá</strong>, com Maria e Alice, as festas <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ano.<br />

À semelhança <strong>de</strong> Agostinho, <strong>para</strong> quem o amor <strong>de</strong> Mônica se mostrou <strong>de</strong>cisivo na moldagem da têmpera<br />

<strong>de</strong> cristão, <strong>de</strong> <strong>bispo</strong> <strong>de</strong> Hipona e doutor do Oci<strong>de</strong>nte, também o <strong>bispo</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> recebeu da mãe a<br />

iniciação na fé e o constante acompanhamento em sua vida <strong>de</strong> pastor, <strong>de</strong> mestre e pai da <strong>Igreja</strong> estabelecida em<br />

<strong>Maringá</strong>. Ela chegou n<strong>um</strong> dos muitos monomotores que, no dia anterior à posse, aterrissaram no poeirento<br />

campo <strong>de</strong> aviação, pomposamente chamado aeroporto <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> que, além <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> aeronave,<br />

recebia só os DC3 da VASP ou da Real Aerovias. Surpreen<strong>de</strong>u-se com a multidão que aguardava em terra.<br />

“Será que vai chegar alg<strong>um</strong> político no mesmo horário que a gente?” questionavam as filhas. Mas a recepção<br />

era mesmo <strong>para</strong> elas. Para acolher a mãe do <strong>bispo</strong>, o bom padre Germano tinha convidado todas as senhoras<br />

da paróquia que pu<strong>de</strong>ra contatar. A residência do <strong>bispo</strong> tinha sido pre<strong>para</strong>da com cuidado. Alunas internas<br />

do Colégio Santa Cruz, na companhia <strong>de</strong> irmã Il<strong>um</strong>inada Vandillo Ríos, tinham-se esmerado n<strong>um</strong>a faxina em<br />

regra, fazendo brilhar a <strong>nova</strong> habitação, agora em condições <strong>de</strong> receber o novo e ilustre morador.<br />

Todo o ambiente festivo, entretanto, não se esten<strong>de</strong>u <strong>para</strong> muito além do dia da posse. A áspera realida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong>a cida<strong>de</strong> em formação logo se tornou evi<strong>de</strong>nte <strong>para</strong> as assustadas moradoras da Capital do Café,<br />

como era conhecida a Ribeirão Preto da época. Mais tar<strong>de</strong>, Londrina seria chamada Capital Mundial do Café,<br />

<strong>para</strong> acentuar a distinção entre ambas.<br />

Ciente <strong>de</strong> que “quem quer faz, quem não quer manda”, dona Guilhermina não se pôs a choramingar a<br />

falta <strong>de</strong> serviçais encarregadas dos afazeres domésticos <strong>para</strong> a residência episcopal. Ass<strong>um</strong>iu com naturalida<strong>de</strong><br />

as funções <strong>de</strong> dona <strong>de</strong> casa, sem fugir <strong>de</strong> serviço nenh<strong>um</strong> reclamado por <strong>um</strong>a terra em que limpeza não era o<br />

forte. Os mais antigos conservam viva a lembrança do “chora-paulista” (Fig. 1), provi<strong>de</strong>ncial invenção <strong>de</strong>stas<br />

<strong>para</strong>gens. Consistia em <strong>um</strong>a lâmina com o fio voltado <strong>para</strong> cima, fixada em haste <strong>de</strong> ferro on<strong>de</strong> a “vítima”<br />

apoiava as mãos <strong>para</strong> raspar o barro da sola do calçado. Depois <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as horas <strong>de</strong> uso, ac<strong>um</strong>ulava-se embaixo<br />

da lâmina <strong>um</strong>a montanha <strong>de</strong> barro, que secava em pouco tempo e exigia remoção completa, sob pena<br />

<strong>de</strong> anular toda a utilida<strong>de</strong> do limpa-pés. Depois do primeiro uso, <strong>de</strong>volver às roupas claras a cor primitiva<br />

parecia missão impossível. Em se tratando <strong>de</strong> veste branca, aí então era caso perdido: cor original, nunca<br />

mais. Camisa branca <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> se conhecia <strong>de</strong> longe, n<strong>um</strong> simples bater <strong>de</strong> olhos. O branco aqui obtido<br />

no tanque revelava-se diferente <strong>de</strong> qualquer outro do resto do mundo. E máquina <strong>de</strong> lavar era sonho <strong>para</strong><br />

décadas mais tar<strong>de</strong>.<br />

Com invejável disposição <strong>para</strong> seus 67 anos, a mãe do <strong>bispo</strong> encarou as tarefas <strong>de</strong> lavar, passar, cozinhar

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!