14.05.2013 Views

Uma nova Igreja para um jovem bispo - Arquidiocese de Maringá

Uma nova Igreja para um jovem bispo - Arquidiocese de Maringá

Uma nova Igreja para um jovem bispo - Arquidiocese de Maringá

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

26<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

fazia idéia do r<strong>um</strong>o <strong>de</strong>ssa tal <strong>Maringá</strong> <strong>para</strong> on<strong>de</strong> fora nomeado o cura da catedral.<br />

Em minutos, a casa se encheu <strong>de</strong> gente. O telefone não <strong>de</strong>u trégua pelo resto do dia. C<strong>um</strong>primentos<br />

chegavam <strong>de</strong> todo canto. Até o final da tar<strong>de</strong>, recordam dom Jaime e as irmãs, a mãe continuou meio “fora<br />

do ar”. Recebia felicitações, atendia as pessoas, sorria, mas <strong>de</strong>monstrava não enten<strong>de</strong>r bem o que estava acontecendo.<br />

Volta e meia, perguntava: “Para on<strong>de</strong> mesmo ele vai?” Só à noite conseguiu superar os efeitos da<br />

notícia e voltou a tomar pé da situação. 1<br />

Naquela manhã, o <strong>bispo</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto chamara monsenhor Jaime ao telefone: “Se você tem almoço<br />

programado <strong>para</strong> hoje, <strong>de</strong>smarque. Quero que venha almoçar comigo”. Imaginando tratar-se <strong>de</strong> gentileza<br />

pela ocorrência, nesse dia, do seu 15º aniversário <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação sacerdotal, o cura teve a surpresa <strong>de</strong>, ao chegar,<br />

ver-se ro<strong>de</strong>ado por <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> colegas convidados, como ele, pelo <strong>bispo</strong>. Pontualmente ao meio-dia,<br />

dom Luís do Amaral Mousinho, simpático nor<strong>de</strong>stino, sempre a irradiar bom h<strong>um</strong>or e paixão pela <strong>Igreja</strong>,<br />

levantou-se e pediu a atenção dos presentes: “Quero ser o primeiro a dar a notícia da nomeação e também<br />

a c<strong>um</strong>primentar o novo <strong>bispo</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, monsenhor Jaime”. Depois do emocionado abraço, sob palmas<br />

calorosas <strong>de</strong> todos, encaminhou-se ao telefone <strong>para</strong> comunicar à mãe <strong>de</strong>le a feliz notícia. A avó <strong>de</strong> Ângela<br />

prorrompeu em choro e trancou-se no banheiro.<br />

Oito dias antes, em 29 <strong>de</strong> novembro, saindo da catedral, a caminho <strong>de</strong> casa <strong>para</strong> o almoço, monsenhor<br />

Jaime passara, conforme o cost<strong>um</strong>e, pelo palácio episcopal <strong>para</strong> apanhar a correspondência que o correio lá<br />

entregava. Chamou-lhe a atenção <strong>um</strong>a carta da Nunciatura Apostólica do Brasil, sediada no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

então capital do país. Mesmo nos dias atuais provoca sobressalto em qualquer padre abrir carta remetida<br />

pela nunciatura e <strong>de</strong><strong>para</strong>r com <strong>um</strong> segundo envelope lacrado, on<strong>de</strong> se lê em pequeno retângulo vermelho:<br />

“Pessoal – Reservada – Sob segredo pontifício”. Não é praxe o núncio apostólico escrever <strong>para</strong> os milhares<br />

<strong>de</strong> presbíteros espalhados pelo vasto território nacional. Menos ainda, tratando-se <strong>de</strong> correspondência cujo<br />

conteúdo só o papa autoriza revelar. Na época, o sigilo vinha reservado ao antigo Santo Ofício, nome atual<br />

da Congregação <strong>para</strong> a Doutrina da Fé. Gerava clima <strong>de</strong> pesado mistério e, no <strong>de</strong>stinatário, <strong>um</strong>a ansieda<strong>de</strong><br />

cheia <strong>de</strong> respeitoso temor.<br />

Com o coração aos pulos, leu e releu várias vezes <strong>para</strong> certificar-se <strong>de</strong> que seus olhos não mentiam.<br />

Não havia possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> engano. Embora sentisse como <strong>um</strong> soco a lhe golpear o estômago, era verda<strong>de</strong>. O<br />

ofício dizia mesmo que ele tinha sido eleito <strong>bispo</strong> da <strong>Igreja</strong> (Carta 1).<br />

O impacto provocou reação tão forte que, passado meio século, dom Jaime recorda em pormenores:<br />

“Na hora, senti que o mundo ia acabar. A única idéia que me ocorreu foi dirigir-me ao seminário, on<strong>de</strong> trabalhava<br />

cônego Horácio Longo, meu confessor. Eu só conseguia chorar. Perguntei-lhe que resposta dar ao<br />

núncio”. Consultado com antecedência, evi<strong>de</strong>ntemente, como sempre faz a nunciatura apostólica a respeito<br />

dos candidatos a <strong>bispo</strong>, cônego Horácio divertia-se com a aflição <strong>de</strong> penitente. Rindo gostosamente, <strong>de</strong>u sua<br />

orientação: “Mas é claro que sua resposta vai ser afirmativa. Tem que aceitar, sim”. O arce<strong>bispo</strong> relembra:<br />

“Voltei <strong>para</strong> casa, tentei disfarçar como pu<strong>de</strong> e passei a esperar ansioso pelo término do sigilo pontifício,<br />

aquele peso que me sufocava o peito”.<br />

Não era pequena a <strong>de</strong>solação do pobre cura. Com quarenta anos, seria <strong>um</strong> dos mais jovens membros<br />

do episcopado brasileiro. Embora, à época, se escolhessem candidatos mais novos do que hoje – em especial<br />

<strong>de</strong>pois do pontificado <strong>de</strong> João Paulo II –, ainda assim, raramente a <strong>Igreja</strong> alçava à dignida<strong>de</strong> episcopal alguém<br />

com menos <strong>de</strong> quarenta e cinco, cinqüenta anos. Exercendo o ministério em Ribeirão Preto, on<strong>de</strong> trabalhava<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a or<strong>de</strong>nação, Jaime tinha motivos <strong>para</strong> se consi<strong>de</strong>rar realizado. Benquisto pelo povo, pelos colegas e<br />

pelo <strong>bispo</strong>, fiel à <strong>Igreja</strong> e à própria vocação, zeloso, bom orador, culto, respeitado, procurador da construção<br />

do famoso seminário menor <strong>de</strong> Brodósqui (SP), futuro referencial <strong>de</strong> seminário <strong>para</strong> o Brasil, diretor diocesano<br />

da Obra das Vocações Sacerdotais, querido pela família com a qual <strong>de</strong>sfrutava a ventura <strong>de</strong> conviver, reunia<br />

tudo que compõe a idéia <strong>de</strong> homem feliz. De quem não prevê mudança brusca <strong>de</strong> r<strong>um</strong>o no caminho que<br />

1 Informações familiares fornecidas por Alice Coelho Sproesser, irmã <strong>de</strong> dom Jaime Luiz Coelho, na residência <strong>de</strong>ste, em <strong>Maringá</strong>,<br />

em 10 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2006.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!