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1 “Terror”, “Horror” e “Repulsa”: Stephen King e o cálculo da ...

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se de uma reflexão de caráter burkeano, muito embora não haja nenhuma menção<br />

explícita a Edmund Burke no ensaio Supernatural Horror in Literature. Na concepção<br />

do ficcionista norte-americano, a narrativa de horror sobreviveria e se desenvolveria<br />

justamente por estar associa<strong>da</strong> a mecanismos profundos e fun<strong>da</strong>mentais do ser humano.<br />

Ain<strong>da</strong> que admitisse que os temas corriqueiros do dia-a-dia dominassem a maior parte<br />

<strong>da</strong> experiência humana, Lovecraft acreditava que mesmo nos indivíduos mais racionais<br />

residiria uma herança biológica capaz de ser toca<strong>da</strong> pelas narrativas que inspiram medo.<br />

Também burkeana é a idéia de que o ser humano recor<strong>da</strong>r-se-ia mais facilmente<br />

<strong>da</strong> dor e <strong>da</strong> ameaça <strong>da</strong> morte do que do prazer. Para Lovecraft, as sensações<br />

relaciona<strong>da</strong>s aos aspectos positivos <strong>da</strong>s crenças em elementos sobrenaturais teriam sido,<br />

desde o início <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, capitalizados e formalizados pelos rituais religiosos<br />

convencionais. Já os aspectos mais sombrios e malignos dos mistérios cósmicos<br />

acabaram sendo encampados pelas narrativas populares e folclóricas.<br />

Principais combustíveis dessas narrativas, a incerteza e o perigo seriam, sob o<br />

ponto de vista lovecraftiano, aliados: o que é desconhecido acaba sendo visto como<br />

uma fonte de possibili<strong>da</strong>des perigosas e malévolas. A combinação entre a curiosi<strong>da</strong>de, a<br />

sensação do perigo, a intuição do mal e a inevitável fascinação do maravilhoso possuiria<br />

uma vitali<strong>da</strong>de inerente à própria raça humana. Por essa razão, a literatura que consegue<br />

despertar aquilo que Lovecraft chamou de “cosmic fear” (ibidem, p. 15) sempre existiu<br />

e sempre existirá.<br />

Neste ensaio, proponho uma leitura de Danse Macabre – livro em que <strong>Stephen</strong><br />

<strong>King</strong> reúne uma série de ensaios a respeito de suas idéias sobre o fenômeno do horror,<br />

na literatura e em outras formas midiáticas, como o cinema, a televisão, o rádio, revistas<br />

em quadrinhos etc. – que ressalte tantos os aspectos aristotélicos e poeanos quanto os<br />

burkeanos e lovecraftianos <strong>da</strong> reflexão do ficcionista norte-americano, demonstrando,<br />

desse modo, sua filiação ao que gostaria de chamar de tradição crítica dos ficcionistas<br />

de horror.<br />

A “Dança <strong>da</strong> Morte”<br />

Duas questões, ambas de caráter um tanto paradoxal, motivam <strong>Stephen</strong> <strong>King</strong> em<br />

Danse Macabre: (i) por que as narrativas que li<strong>da</strong>m com o horror e com o medo atraem<br />

as pessoas? (ii) por que, em um mundo tão repleto de horrores reais, criar horrores<br />

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