15.05.2013 Views

Doseamento do álcool etílico no sangue - Planeta Optimus Clix

Doseamento do álcool etílico no sangue - Planeta Optimus Clix

Doseamento do álcool etílico no sangue - Planeta Optimus Clix

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ETANOL<br />

Trabalho n.º 1<br />

<strong>Doseamento</strong> <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> <strong>etílico</strong> <strong>no</strong> <strong>sangue</strong><br />

(Méto<strong>do</strong> de Widmark)<br />

Propriedades físicas e químicas<br />

O <strong>álcool</strong> é um líqui<strong>do</strong> incolor, de o<strong>do</strong>r característico.<br />

Densidade – 0,8<br />

Ponto de Ebulição – 78,5 o C<br />

Solúvel na água em todas as proporções.<br />

Formula química - CH3CH2OH<br />

O eta<strong>no</strong>l, como to<strong>do</strong>s os álcoois, é um redutor, poden<strong>do</strong> ser oxida<strong>do</strong> de duas formas:<br />

directamente por combustão completa, com formação de CO2 + H2O,<br />

ou em duas etapas ( POR OXIDAÇÃO ENZIMÁTICA), com formação de aldeí<strong>do</strong><br />

acético segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> acético, conforme o esquema seguinte:<br />

CH3CH2OH → CH3COH → CH3COOH<br />

O ÁLCOOL E O ORGANISMO<br />

O TRAJECTO DO ÁLCOOL NO ORGANISMO<br />

Absorção<br />

O <strong>álcool</strong> ingeri<strong>do</strong> passa através <strong>do</strong> esófago e chega ao estômago. Se o indivíduo está<br />

em jejum, a absorção <strong>no</strong> estômago é praticamente nula, atingin<strong>do</strong> o intesti<strong>no</strong> pouco<br />

depois. Se o estômago está cheio, o <strong>álcool</strong>, é em parte absorvi<strong>do</strong> lentamente através<br />

das suas paredes, uma vez que permanece durante um certo tempo em contacto com<br />

os alimentos, o <strong>álcool</strong> não absorvi<strong>do</strong> passa para o intesti<strong>no</strong> delga<strong>do</strong>, onde é absorvi<strong>do</strong><br />

rapidamente.<br />

7


Transformações metabólicas <strong>do</strong> Álcool<br />

Ao contrário <strong>do</strong>s Lípi<strong>do</strong>s, Hidratos de Carbo<strong>no</strong> e Proteínas, o <strong>álcool</strong> não é<br />

armazena<strong>do</strong> <strong>no</strong>s órgãos, portanto é imediatamente metaboliza<strong>do</strong>.<br />

É <strong>no</strong> fíga<strong>do</strong> que cerca de 95% <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> é oxida<strong>do</strong>, os 5% restantes são metaboliza<strong>do</strong>s<br />

<strong>no</strong>utros órgãos ( rins, cérebro e pâncreas).<br />

Sabe-se que os efeitos tóxicos <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> fíga<strong>do</strong> estão directamente relaciona<strong>do</strong>s<br />

com o seu metabolismo, sen<strong>do</strong> por isso importante compreender as várias etapas <strong>do</strong><br />

seu metabolismo.<br />

PRIMEIRA ETAPA: Transformação <strong>do</strong> Eta<strong>no</strong>l em Acetaldeí<strong>do</strong><br />

Existem 3 vias possíveis:<br />

A) Via da <strong>álcool</strong>-desidrogenase (ADH)<br />

É a via principal. A ADH, enzima cujo co-factor é o NAD, fica localizada <strong>no</strong><br />

citoplasma da célula hepática. Em condições <strong>no</strong>rmais permite a oxidação de 7 a 8 g de<br />

Eta<strong>no</strong>l por hora, ou seja, 100 mg por Kg de peso corporal por hora.<br />

A reacção pode ser representada <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:<br />

CH3CH2OH + NAD + CH3COH + NADH<br />

Foram caracterizadas várias enzimas de ADH. Além disso é possível distinguir numa<br />

população <strong>do</strong>is grupos de indivíduos geneticamente determina<strong>do</strong>s em função da ADH<br />

típica e os indivíduos com a ADH atípica, que possui in vitro uma actividade quatro a<br />

cinco vezes superior. No entanto, in vitro, não há diferenças nítidas na eliminação <strong>do</strong><br />

Eta<strong>no</strong>l.<br />

B) Sistema de oxidação microssomal (SOM)<br />

Pensa-se que este sistema oxida sensivelmente cerca de 20% <strong>do</strong> Eta<strong>no</strong>l ingeri<strong>do</strong>,<br />

aumentan<strong>do</strong> esta proporção com a importância <strong>do</strong> consumo de <strong>álcool</strong>. Tal como as<br />

outras oxidações microssomais, este sistema é susceptível de ser induzi<strong>do</strong>.<br />

A reacção pode ser representada <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:<br />

CH3CH2OH + NADPH + O2 CH3COH +NADP + + 2H2O<br />

Este sistema (SOM) é pouco específico, permitin<strong>do</strong> o metabolismo de numerosas<br />

substâncias, tais como medicamentos ou tóxicos industriais.<br />

8


C) Via catalase<br />

Esta via intervém pouco frequentemente em indivíduos <strong>no</strong>rmais, adquirin<strong>do</strong> maior<br />

importância <strong>no</strong> alcoolismo crónico, devi<strong>do</strong> a uma adaptação enzimática induzida pelo<br />

Eta<strong>no</strong>l.<br />

A reacção pode se representada <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:<br />

CH3CH2OH + H2O2 CH3COH + H2O2<br />

SEGUNDA ETAPA : Catabolismo <strong>do</strong> Acetaldeí<strong>do</strong><br />

O Acetaldeí<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> na oxidação <strong>do</strong> Álcool (1ª etapa) é em seguida oxida<strong>do</strong>,<br />

transforman<strong>do</strong>-se em Áci<strong>do</strong> Acético que se encontra sob a forma de Acetil-CoA. A<br />

reacção necessita da presença de ADH ( aldeí<strong>do</strong> desidrogenase) e NAD + .<br />

CH3COH + NAD + + H2O CH3COOH + NADH + H +<br />

TERCEIRA ETAPA : Degradação <strong>do</strong> Áci<strong>do</strong> Acético<br />

O áci<strong>do</strong> Acético , sob a forma de Acetil-CoA, pode seguir duas vias:<br />

I)Degrada<strong>do</strong> <strong>no</strong> ciclo de Krebs com a formação de água e dióxi<strong>do</strong> de carbo<strong>no</strong><br />

II) Utiliza<strong>do</strong> na síntese de colesterol e áci<strong>do</strong>s gor<strong>do</strong>s.<br />

CH3COOH + ATP,CoA AMP,Ppi + CH3CoA<br />

(Acetil-CoA)<br />

Ciclo de Krebs<br />

CO2 + H2O Síntese de Ác. gor<strong>do</strong>s e colesterol<br />

ALCOOLÉMIA<br />

A alcoolémia define-se como a concentração de <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> <strong>sangue</strong>, expressa em g/l.<br />

9


A alcoolémia varia em função <strong>do</strong> tempo, ela aumenta rapidamente à medida que se dá<br />

a absorção, diminuin<strong>do</strong> depois lentamente durante a degradação <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> fíga<strong>do</strong>.<br />

A alcoolémia resulta <strong>do</strong> equilíbrio a da<strong>do</strong> momento entre a absorção, a oxidação e a<br />

eliminação <strong>do</strong> <strong>álcool</strong>.<br />

Observan<strong>do</strong> a curva de alcoolémia pode-se verificar que varia em função <strong>do</strong> tempo e<br />

aumenta à medida que se dá a absorção, diminuin<strong>do</strong> depois lentamente durante a<br />

degradação <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> fíga<strong>do</strong>.<br />

Alcoolémia<br />

1,0<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

PERIGO<br />

1 2 3 4 5 6 7<br />

Tempo ( horas)<br />

A curva de alcoolémia varia com uma série de parâmetros tais como: variações<br />

individuais (ex.: peso, sexo ou esta<strong>do</strong> geral <strong>do</strong> indivíduo), existência ou não de<br />

alimentos <strong>no</strong> estômago e com as características de bebida ingerida.<br />

IMPORTÂNCIA DA DETERMINAÇÂO DA ALCOOLÉMIA<br />

A determinação da taxa de alcoolémia é a melhor maneira de apreciar o esta<strong>do</strong> de<br />

intoxicação alcoólica de um indivíduo.<br />

Segun<strong>do</strong> a chamada “Lei <strong>do</strong> Álcool”(Dec. Lei n.º 3782 de 29 de Março) a<br />

determinação da alcoolémia é o méto<strong>do</strong> oficial de análise. A lei pune os condutores<br />

cuja taxa de alcoolémia for superior a 0,5 g/L.<br />

10


INTOXICAÇÃO ALCOÓLICA AGUDA<br />

Aspectos clínicos<br />

Esta intoxicação provoca toda uma série de perturbações que evoluem em três fases:<br />

I) Fase de Excitação<br />

Esta fase corresponde a um perío<strong>do</strong> de euforia, ausência de inibições psíquicas e<br />

também a uma diminuição <strong>do</strong> próprio controlo. Em alguns casos, a excitação <strong>do</strong><br />

indivíduo corresponde a um exacerbamento da agressividade e <strong>do</strong> instinto sexual,<br />

poden<strong>do</strong> transformar-se num indivíduo perigoso. O indivíduo não tem consciência <strong>do</strong><br />

seu esta<strong>do</strong>, o que constitui uma fonte de acidentes quer ao volante de um automóvel<br />

quer <strong>no</strong> local de trabalho. Há na realidade uma diminuição das capacidades visuais e<br />

auditivas e <strong>do</strong> tempo de reacção.<br />

II) Fase de incoordenação<br />

Os movimentos voluntários tornam-se difíceis de executar. Há incoerência na<br />

conversa e o indivíduo apresenta-se em esta<strong>do</strong> de confusão mental.<br />

O <strong>álcool</strong> provoca uma analgesia mais ou me<strong>no</strong>s forte, tornan<strong>do</strong> o indivíduo<br />

embriaga<strong>do</strong> pouco sensível a quedas e golpes. O esta<strong>do</strong> de embriaguez pode terminar<br />

aqui por uma fase de so<strong>no</strong> mais ou me<strong>no</strong>s profun<strong>do</strong>. Ao acordar o indivíduo sente<br />

<strong>do</strong>res de cabeça, náuseas e indisposição. Se estes sintomas não são observa<strong>do</strong>s é<br />

porque a intoxicação é mais grave poden<strong>do</strong> o quadro clínico alterar-se<br />

progressivamente com o aparecimento de palidez com bradicardia e miose.<br />

III) Fase de coma<br />

A fase de so<strong>no</strong> pode ir até ao coma. Nesta altura o indivíduo torna-se insensível às<br />

excitações exteriores, os reflexos desaparecem, pode observar-se midríase,<br />

relaxamento <strong>do</strong>s esfíncteres e diminuição da temperatura central.<br />

O grau de intoxicação é função da alcoolémia.<br />

Para valores muito baixos (0,2 a 0,3 g/L), já aparecem modificações sensoriais,<br />

motoras e psíquicas, como se ilustra <strong>no</strong> quadro seguinte:<br />

TAXA DE ALCOOLÉMIA OBSERVAÇÕES<br />

0,1 Não se observam alterações<br />

0,15 Controlo motor ligeiramente atingi<strong>do</strong><br />

0,6 Prolongamento <strong>do</strong> tempo de reacção<br />

1,0 Taxa crítica: Prolongamento <strong>do</strong> tempo de reacção<br />

Aparecimento de incoordenação motora<br />

Prolongamento <strong>do</strong> tempo de reacção auditivo e óptico<br />

1,5 Perturbações neuro-sensoriais nítidas<br />

Embriaguez clínica em 50 % <strong>do</strong>s indivíduos<br />

2 a 2,2 Embriaguez evidente em 100 % <strong>do</strong>s indivíduos<br />

4,0 Coma<br />

5 a 7 Morte<br />

11


ALCOOLISMO CRÓNICO<br />

O alcoolismo crónico é mais discreto que o agu<strong>do</strong>. No início é ig<strong>no</strong>ra<strong>do</strong> ou<br />

inconsciente, mas é uma forma particularmente perigosa para a saúde.<br />

O alcoolismo crónico ou etilismo pode resultar da repetição de crises de embriaguez,<br />

ou <strong>do</strong> consumo excessivo de bebidas alcoólicas durante numerosos a<strong>no</strong>s. Enquanto<br />

que a intoxicação ocasional é reversível, a absorção regular de <strong>álcool</strong> pelo organismo<br />

durante um longo perío<strong>do</strong>, vai originar graves repercussões metabólicas e lesões em<br />

numerosos órgãos, como o aparelho digestivo, sistema nervoso, aparelho<br />

cardiovascular, pulmões, glândulas hormonais e sexuais.<br />

No aparelho digestivo observam-se efeitos negativos a nível <strong>do</strong> esófago, estômago,<br />

fíga<strong>do</strong> e pâncreas. A absorção <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> através da mucosa estomacal vai intervir<br />

sobre a motricidade e secreção <strong>do</strong> estômago. No fíga<strong>do</strong>, uma sobrecarga <strong>do</strong>s<br />

hepatócitos conduz a necrose celular e a perturbação <strong>no</strong> metabolismo <strong>do</strong>s hidratos de<br />

carbo<strong>no</strong>, de proteínas e <strong>do</strong>s lípi<strong>do</strong>s. O eta<strong>no</strong>l desempenha ainda um importante papel<br />

nas pancreatites crónicas.<br />

No que respeita ao sistema nervoso, as consequências <strong>do</strong> alcoolismo crónico são<br />

igualmente bastante graves. O alcoolismo crónico é responsável por uma alteração<br />

progressiva da personalidade, por lesões e perturbações encefálicas, polinevrites e<br />

lesões oculares.<br />

O conceito e função da bebida alcoólica têm evolui<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s tempos,<br />

actualmente o aumento <strong>do</strong> consumo de <strong>álcool</strong> a nível da população mundial tem<br />

“levanta<strong>do</strong>” diversos problemas de ordem social que se tornaram num tema de debate<br />

frequente, tal como o consumo de drogas de abuso.<br />

As tabelas seguintes têm por objectivo informar da percentagem de <strong>álcool</strong> existente<br />

nas bebidas de maior consumo.<br />

BEBIDAS % DE ÁLCOOL<br />

Cerveja de barril 2,5 a 3<br />

Cerveja de garrafa 3,5 a 5<br />

Vinhos correntes 10 a 16<br />

Licores 39 a 43<br />

Brandy 40 a 47<br />

Whisky 45 a 50<br />

Rum 50 a 55<br />

12


TIPO DE RECIPIENTE CAPACIDADE (ml) CONTEÚDO DE ÁLCOOL (ml)<br />

Imperial 200 5<br />

Garrafa de cerveja 200 8<br />

Copo de vinho tinto 70 9<br />

Copo de Whisky 60 30<br />

Copo de Cognac 35 14<br />

Toxicologia analítica<br />

A determinação de <strong>álcool</strong> <strong>etílico</strong> é das análises mais frequentes solicitadas <strong>no</strong>s<br />

laboratórios de Toxicologia. O seu interesse situa-se em três âmbitos diferentes:<br />

I) Estas determinações interessam aos agentes da autoridade para controlo <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong> de sobriedade <strong>do</strong>s condutores e assim sancionar aqueles cuja taxa de<br />

alcoolémia seja superior a 0,5 g/L.<br />

II) Interessam às empresas, quer as que utilizam como análise de rotina para<br />

terem conhecimento se os seus funcionários estão ou não a trabalhar sob<br />

influência <strong>do</strong> <strong>álcool</strong>, quer às que as utilizam somente em casos de distúrbios e<br />

acidentes de trabalho.<br />

III) O apuramento da taxa alcoolémia interessa sobretu<strong>do</strong> à Toxicologia Forense.<br />

Recolha da amostra<br />

Para determinar a concentração de <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> <strong>sangue</strong> recorre-se <strong>no</strong>rmalmente à colheita<br />

de 3 tipos de amostra: <strong>sangue</strong>, ar expira<strong>do</strong> e urina<br />

SANGUE<br />

No que diz respeito à recolha desta amostra biológica temos que destacar <strong>do</strong>is casos:<br />

Recolha de <strong>sangue</strong> em condutores de veículos ou funcionários de empresas;<br />

Recolha de <strong>sangue</strong> post-mortem.<br />

Em qualquer <strong>do</strong>s casos, antes da recolha da amostra de <strong>sangue</strong>, a área da pele deve ser<br />

desinfectada com um anti-séptico, como por exemplo, uma solução aquosa de cloreto<br />

de mercúrio1:1000.<br />

O <strong>álcool</strong>, como é evidente, não deve ser utiliza<strong>do</strong>.<br />

Depois de recolhida, é adiciona<strong>do</strong> um anticoagulante à amostra de <strong>sangue</strong>. Se a<br />

amostra não é analisada imediatamente, o anticoagulante a usar é o fluoreto de sódio,<br />

pois além de ser um anticoagulante é também um conservante. A amostra deve ser<br />

mantida à temperatura de 4 o C.<br />

13


Quan<strong>do</strong> a determinação <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> é feita em cadáveres (ex.: caso de mortes na<br />

estrada), a recolha de <strong>sangue</strong> é feita a partir <strong>do</strong> coração, <strong>no</strong>rmalmente sem ser feita na<br />

autópsia. A amostra recolhida nestas condições pode ser realmente “<strong>sangue</strong> <strong>do</strong><br />

coração” ou somente um flui<strong>do</strong> <strong>do</strong> organismo resultante de da<strong>no</strong>s que provocaram a<br />

morte, os resulta<strong>do</strong>s podem assim ser totalmente falsos. Obviamente, quanto maior for<br />

o traumatismo sofri<strong>do</strong>, incluin<strong>do</strong> ruptura de órgãos, maior será o erro cometi<strong>do</strong> ao<br />

analisar a tal amostra de <strong>sangue</strong>. Neste caso, e acompanhan<strong>do</strong> a determinação da<br />

concentração de <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> <strong>sangue</strong> deveria ser feita uma análise da composição total da<br />

amostra, ou testes que confirmem que se trata de uma amostra <strong>no</strong>rmal de <strong>sangue</strong> que<br />

vai ser analisada. Mesmo quan<strong>do</strong> são executadas autópsias, é pratica comum a recolha<br />

de uma única amostra de <strong>sangue</strong>, proveniente <strong>do</strong> coração intacto.<br />

A prática que é seguida e aconselhada pelos patologistas é a recolha de várias<br />

amostras de <strong>sangue</strong>. Assim, deveria ser recolhi<strong>do</strong> <strong>sangue</strong> <strong>do</strong> la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong> coração<br />

quan<strong>do</strong> intacto e das veias femural e cubital, para que possa ser confirmada a<br />

distribuição de <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> <strong>sangue</strong> através <strong>do</strong> organismo.<br />

Um alto teor de <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> estômago de um cadáver pode causar difusão <strong>do</strong> mesmo a<br />

partir <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> estomacal, para o fluí<strong>do</strong> pericardial e algumas vezes para o <strong>sangue</strong><br />

<strong>do</strong> coração. Analisan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s de vários estu<strong>do</strong>s feitos, verificamos que as<br />

opiniões não coincidem. Enquanto que alguns autores concluem que há um aumento<br />

níti<strong>do</strong> de <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> fluí<strong>do</strong> pericardial e <strong>no</strong> <strong>sangue</strong> <strong>do</strong> coração proveniente de uma<br />

difusão <strong>do</strong> estômago, outros há que afirmam que esta migração post-mortem <strong>do</strong> <strong>álcool</strong><br />

é pouco significativa.<br />

As amostras de <strong>sangue</strong> devem ser recolhidas <strong>do</strong> cadáver o mais ce<strong>do</strong> possível, ou,<br />

caso contrário, este deve ser armazena<strong>do</strong> imediatamente em câmara frigorífica. Este<br />

princípio deve ser sempre cumpri<strong>do</strong> a fim de obtermos os resulta<strong>do</strong>s que<br />

correspondam ao valor inicial da alcoolémia. Se estas condições não forem<br />

verificadas vão aparecer alterações deste valor devi<strong>do</strong> a uma destruição ou<br />

neoformação de <strong>álcool</strong> post-mortem resultante da fermentação <strong>no</strong>s vários teci<strong>do</strong>s.<br />

URINA<br />

A determinação da concentração de <strong>álcool</strong> na urina poderá ter interesse <strong>no</strong>s casos em<br />

que não seja possível a obtenção de uma amostra de <strong>sangue</strong>, como é o caso de<br />

indivíduos para quem esta recolha possa ser gravemente prejudicial à saúde<br />

AR EXPIRADO<br />

Á medida que os aparelhos de análise de ar expira<strong>do</strong> se vão aperfeiçoan<strong>do</strong>, vai<br />

haven<strong>do</strong> crescente confiança <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s <strong>no</strong>vos analisa<strong>do</strong>res.<br />

Antes da recolha da amostra de ar expira<strong>do</strong> recomenda-se a lavagem da boca com<br />

água. Esta amostra é <strong>no</strong>rmalmente analisada imediatamente depois da recolha, mas<br />

pode ser armazenada durante cerca de duas horas num saco de cloreto de polivinilo ou<br />

de alumínio flexível.<br />

14


Determinação da alcoolémia<br />

Podemos considerar <strong>do</strong>is grupos de técnicas:<br />

Méto<strong>do</strong>s directos (análise de <strong>sangue</strong>);<br />

Méto<strong>do</strong>s indirectos (análise de outros produtos biológicos, principalmente ar<br />

expira<strong>do</strong>).<br />

Méto<strong>do</strong>s directos<br />

Dentro destes méto<strong>do</strong>s podemos distinguir: Méto<strong>do</strong>s clássicos;<br />

Méto<strong>do</strong>s recentes.<br />

Méto<strong>do</strong>s clássicos<br />

A reacção de ANSTIE é a base de numerosos méto<strong>do</strong>s para <strong>do</strong>seamento <strong>do</strong> <strong>álcool</strong>,<br />

mais conheci<strong>do</strong>s por “Méto<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Dicromato”.<br />

Em 1863, Anstie reparou que o reagente que veio mais tarde a a<strong>do</strong>ptar o seu <strong>no</strong>me (1g<br />

de K2Cr2O7 dissolvi<strong>do</strong> em 300 ml de H2SO4 concentra<strong>do</strong>) virava de amarelo para<br />

verde azula<strong>do</strong> à temperatura ambiente, quan<strong>do</strong> se faz borbulhar através dele ar que<br />

passou primeiro através de uma solução aquosa diluída de <strong>álcool</strong> ou uma urina de um<br />

indivíduo obtida pouco depois da ingestão de uma bebida alcoólica. Esta mudança de<br />

cor é consequência da redução <strong>do</strong> dicromato, cujo ião crómio sofre uma variação de<br />

valência +6 para +3, devi<strong>do</strong> à oxidação <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> a áci<strong>do</strong> acético.<br />

Mais tarde surgiram uma série de variações <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de Anstie, variações essas que<br />

envolviam o uso de áci<strong>do</strong> sulfúrico (em diversas concentrações), com o aumento da<br />

temperatura inicial e finalmente a determinação quantitativa <strong>do</strong> dicromato ou <strong>do</strong> áci<strong>do</strong><br />

acético.<br />

De entre os méto<strong>do</strong>s que se baseiam na reacção de Anstie, talvez o mais conheci<strong>do</strong><br />

seja o “MÉTODO DE WIDMARK”.<br />

Este méto<strong>do</strong> vai ser efectua<strong>do</strong> durante as aulas práticas e será discuti<strong>do</strong> com mais<br />

porme<strong>no</strong>r <strong>no</strong> final desta introdução.<br />

Os méto<strong>do</strong>s da ”CÉLULA DE CONWAY” também se fundamentam na mesma<br />

reacção. Esta reacção passa-se numa célula (célula de Conway) em que na parte<br />

central é coloca<strong>do</strong> o dicromato e na parte lateral o <strong>sangue</strong> e uma solução saturada de<br />

carbonato de sódio. O <strong>álcool</strong> existente <strong>no</strong> <strong>sangue</strong> é separa<strong>do</strong> deste por um processo<br />

de difusão, suceden<strong>do</strong> depois a reacção já descrita anteriormente.<br />

15


Os <strong>do</strong>is tipos de méto<strong>do</strong>s que utilizam a célula de Conway podem ser:<br />

Semi-quantitativos – teste diz-se positivo se se verificar uma mudança de<br />

coloração na solução de dicromato existente na parte<br />

central da célula;<br />

Quantitativo – Lê-se <strong>no</strong> espectrofotómetro a absorvância <strong>do</strong> dicromato.<br />

O “MÉTODO DO PERMANGANATO DE FRIEDMAN E KLAAS” é outro méto<strong>do</strong><br />

clássico. Neste méto<strong>do</strong> o <strong>álcool</strong> é separa<strong>do</strong> por intermédio de uma destilação. Parte <strong>do</strong><br />

destila<strong>do</strong> é mistura<strong>do</strong> com permanganato de potássio e hidróxi<strong>do</strong> de sódio e aqueci<strong>do</strong><br />

a 100 o C durante 20 minutos. Depois de arrefeci<strong>do</strong> e acidifica<strong>do</strong>, o excesso de<br />

permanganato é determina<strong>do</strong> por io<strong>do</strong>metria.<br />

MÉTODOS RECENTES<br />

Méto<strong>do</strong> Enzimáticos<br />

Estes méto<strong>do</strong>s baseiam-se na oxidação <strong>do</strong> eta<strong>no</strong>l na presença de uma enzima <strong>álcool</strong>desidrogenase<br />

(ADH) e de difosfopiridina nucleóti<strong>do</strong> (DPN) segun<strong>do</strong> a reacção:<br />

CH3CH2OH + DPN → CH3CHO + DPNH2<br />

Para impedir a reversibilidade da reacção pode ser adicionada semicarbazina<br />

(NH2NHCONH2) para combinar com o acetaldeí<strong>do</strong> e um tampão para manter o pH<br />

entre 8,6 e 9,6. O DPNH2 forma<strong>do</strong> é depois determina<strong>do</strong> <strong>no</strong> espectrofotómetro.<br />

Quanto à preparação da amostra, podemos referir que o soro pode ser utiliza<strong>do</strong><br />

directamente, mas o <strong>sangue</strong> total tem de ser primeiro destila<strong>do</strong> ou desproteiniza<strong>do</strong>.<br />

O méto<strong>do</strong> enzimático apesar de ser considera<strong>do</strong> um méto<strong>do</strong> específico, não apresenta<br />

uma especificidade absoluta, pois a enzima ADH, para além de reagir com o eta<strong>no</strong>l,<br />

reage também com o isopropa<strong>no</strong>l e com o buta<strong>no</strong>l, embora com estes últimos a taxa<br />

de oxidação seja muito me<strong>no</strong>r <strong>do</strong> que com o eta<strong>no</strong>l.<br />

16


Cromatografia de fase gasosa<br />

A cromatografia de fase gasosa é um méto<strong>do</strong> analítico em que é possível a<br />

determinação <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> por diversas técnicas:<br />

Injecção líquida(após desproteinização ou diluição <strong>do</strong> <strong>sangue</strong>);<br />

Injecção gasosa(Headspace).<br />

Na técnica de “headspace”, a concentração de <strong>álcool</strong> na fase gasosa está<br />

correlacionada com a concentração <strong>do</strong> mesmo <strong>no</strong> <strong>sangue</strong>, segun<strong>do</strong> a lei de Henry.<br />

Depois de conhecida a concentração de <strong>álcool</strong> na fase gasosa e saben<strong>do</strong> o coeficiente<br />

de partilha, facilmente se calcula a concentração <strong>do</strong> mesmo <strong>no</strong> <strong>sangue</strong>.<br />

O frasco é coloca<strong>do</strong> em banho-maria a uma determinada temperatura, durante um<br />

intervalo de tempo, de mo<strong>do</strong> a que o <strong>álcool</strong> existente na amostra entre em equilíbrio<br />

com a fase gasosa.<br />

A cromatografia de fase gasosa é um méto<strong>do</strong> altamente específico e de grande<br />

sensibilidade e rigor, sen<strong>do</strong> o mais utiliza<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>s de avaliação da credibilidade<br />

quer de técnicas mais recentes quer <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s clássicos.<br />

Célula de Combustível<br />

Este aparelho (Alcoómetro AE-DI) utiliza uma célula electroquímica de combustível<br />

para detectar e medir a concentração de <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> vapor de “headspace” acima da<br />

amostra de <strong>sangue</strong> ou <strong>no</strong> ar expira<strong>do</strong>. Neste sistema, o <strong>álcool</strong> existente na amostra é<br />

electro-quimicamente oxida<strong>do</strong> a áci<strong>do</strong> acético em presença <strong>do</strong> eléctro<strong>do</strong> de platina, na<br />

célula de combustível. Esta reacção liberta electrões a partir da molécula <strong>do</strong> <strong>álcool</strong>,<br />

forman<strong>do</strong> um fluxo de electrões que produz uma variação de voltagem através de uma<br />

resistência externa. Esta voltagem é directamente proporcional à concentração de<br />

<strong>álcool</strong> <strong>no</strong> vapor “headspace”, o qual, por sua vez, está em equilíbrio com a<br />

concentração <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> fluí<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> a lei de Henry.<br />

O resulta<strong>do</strong> é forneci<strong>do</strong> em termos de taxa de <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> <strong>sangue</strong> em unidades<br />

escolhidas até um mínimo de 0,01 mg/ml.<br />

Esta técnica tem ainda a vantagem de ser rápida, uma vez que não necessita de<br />

tratamento prévio da amostra e requer apenas 1 a 2 minutos entre amostras sucessivas.<br />

17


Este é o méto<strong>do</strong> que foi aprova<strong>do</strong> para a determinação directa de alcoolémia <strong>no</strong><br />

âmbito da lei Portuguesa.<br />

MÉTODOS INDIRECTOS<br />

To<strong>do</strong>s os testes <strong>do</strong> <strong>álcool</strong> <strong>no</strong> ar expira<strong>do</strong> se baseiam <strong>no</strong> princípio de que a distribuição<br />

<strong>do</strong> <strong>álcool</strong> entre o <strong>sangue</strong> e o ar alveolar obedece à lei de Henry.<br />

Estes testes compreendem técnicas rápidas, não invasivas e que têm a vantagem de<br />

poderem ser utilizadas na estrada por agentes da autoridade, não necessitan<strong>do</strong> da<br />

presença de médicos ou técnicos de laboratório.<br />

Os analisa<strong>do</strong>res de ar expira<strong>do</strong> podem ser classifica<strong>do</strong>s em 2 grupos. Esta<br />

classificação está relacionada com a precisão, especificidade e rigor <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

obti<strong>do</strong>s, assim temos os Analisa<strong>do</strong>res de Triagem e os Analisa<strong>do</strong>res Formais.<br />

Analisa<strong>do</strong>res de Triagem<br />

São sistemas simples, cómo<strong>do</strong>s e geralmente portáteis, mas os resulta<strong>do</strong>s podem<br />

conter uma margem de erro que os torna inadequa<strong>do</strong>s na prova legal definitiva da taxa<br />

real de alcoolémia. São utiliza<strong>do</strong>s na vigilância das estradas, tornan<strong>do</strong>-se necessário a<br />

utilização de méto<strong>do</strong>s mais rigorosos sempre que o ar expira<strong>do</strong> <strong>do</strong> condutor revelar<br />

um teor de <strong>álcool</strong> superior à taxa limite.<br />

Analisa<strong>do</strong>res Formais<br />

Estes aparelhos, embora alguns deles se baseiem em princípios idênticos aos <strong>do</strong>s<br />

Analisa<strong>do</strong>res de Triagem, são mais rigorosos pois sofrem alguns aperfeiçoamentos<br />

técnicos. Apesar <strong>do</strong> maior rigor, não são <strong>no</strong>rmalmente utiliza<strong>do</strong>s na vigilância das<br />

estradas, pois a maioria requer fornecimento exter<strong>no</strong> de energia.<br />

Meto<strong>do</strong>logia a utilizar na aula prática<br />

Méto<strong>do</strong> de Widmark<br />

É um micro-méto<strong>do</strong> valorosíssimo quan<strong>do</strong> se tem que trabalhar com peque<strong>no</strong>s<br />

volumes de <strong>sangue</strong>.<br />

Neste méto<strong>do</strong>, o <strong>álcool</strong> é separa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>sangue</strong> por intermédio de difusão <strong>no</strong> frasco de<br />

Widmark, em banho-maria à temperatura de 60 o C e durante duas horas. Depois de<br />

18


etira<strong>do</strong> o frasco <strong>do</strong> banho, o excesso de dicromato que não é reduzi<strong>do</strong> pelo <strong>álcool</strong> é<br />

titula<strong>do</strong> por Io<strong>do</strong>metria.<br />

O méto<strong>do</strong> de Widmark não é específico, há centenas de compostos orgânicos que<br />

poderão causar a redução <strong>do</strong> dicromato na presença de áci<strong>do</strong> sulfúrico concentra<strong>do</strong>.<br />

No entanto, grande parte destes compostos não são voláteis. Os que são voláteis,<br />

como o éter, clorofórmio e alguns solventes industriais reduzem o dicromato muito<br />

lentamente, e, para além deste facto, a concentração destes compostos <strong>no</strong> <strong>sangue</strong>,<br />

provocaria <strong>no</strong> indivíduo uma grave intoxicação ou mesmo a morte.<br />

REACÇÕES:<br />

3 C2H5OH + 2 K2Cr2O7 + 8 H2SO4 → 3 CH3COOH + 2 Cr2(SO4)3 + K2SO4 + 11<br />

H2O<br />

(x2) K2Cr2O7 + 6 KI + 7 H2SO4 → Cr2(SO4)3 + 4 K2SO4 + 7 H2O +3 I2<br />

(x2) 3 I2 + 6 Na2S2O3 → 3 Na2S4O6 + 6 NaI<br />

Apuramento de resulta<strong>do</strong>s<br />

3 C2H5OH ⇔ 12 Na2S2O3<br />

C2H5OH ⇔ 4 Na2S2O3<br />

Na2S2O3 ⇔ PM C2H5OH / 4<br />

÷3<br />

10 5 ml Na2S2O3 (N /100) ⇔ 11,5 g<br />

VB - VA ⇔ X<br />

( VB ml - VA ml ) Na2S2O3 ⇔ X g/<strong>álcool</strong> em 0,2 ml de <strong>sangue</strong><br />

X g ⎯ 0,2 ml (toma de ensaio)<br />

Y ⎯ 1000 ml<br />

÷4<br />

Y = Quantidade de <strong>álcool</strong> em g /L<br />

19<br />

PM (Eta<strong>no</strong>l) =46<br />

PM Eta<strong>no</strong>l / 4=46/4=11,5<br />

Solução de Hipossulfito 0,01 N<br />

0,01 eq Na2S2O3⇔ 1000 ml<br />

1 eq ⇔ V ml<br />

1 equivalente de Na2S2O3 em V= 10 5 ml

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!