A contribuição dos grupos amadores de teatro para a ... - ECA - USP
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por inteiro, embora procurasse afirmar-se com a maior dignida<strong>de</strong> artística.<br />
(2000: 395, 396)<br />
Os novos <strong>grupos</strong> <strong>de</strong> estudantes frequentemente tinham como objetivos a<br />
manifestação cultural e artística. Mesmo não sendo uma meta específica<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>dos</strong> projetos <strong>dos</strong> <strong>grupos</strong>, esse tipo <strong>de</strong> <strong>teatro</strong> amador continua com a<br />
característica <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> atribuída antes somente aos <strong>amadores</strong><br />
imigrantes. Contrariando a hipótese inicial, o <strong>teatro</strong> amador das décadas <strong>de</strong><br />
1970 e 1980 se mostra semelhante, neste sentido, àquele praticado por<br />
imigrantes, mesmo que agora muito mais concentra<strong>dos</strong> nas questões artísticas<br />
e culturais. Muitos estudantes procuravam o <strong>teatro</strong> como forma <strong>de</strong> expressão<br />
neste período em que não eram possíveis manifestações, assim, ao contrário<br />
da hipótese inicial, o <strong>teatro</strong> amador continua com o caráter <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> e<br />
comunicação. Agora, porém, os jovens reuniam-se como uma forma <strong>de</strong> escape<br />
do período mais bruto da ditadura militar que ocorria no país. O ambiente não<br />
era propício <strong>para</strong> reuniões <strong>de</strong> <strong>grupos</strong>, assim o <strong>teatro</strong> tornava-se uma <strong>de</strong>sculpa<br />
<strong>para</strong> o encontro <strong>de</strong> pessoas. Esta característica é notada na fala <strong>de</strong> Pascoal da<br />
Conceição:<br />
O <strong>teatro</strong> vai ser fundamental porque nós estávamos ali discutindo<br />
política, discutindo a vida do país e ouvindo as músicas todas que tocavam<br />
nesse sentido. Eu, meu grupo <strong>de</strong> amigos, era um grupo que gostava <strong>de</strong> <strong>teatro</strong><br />
que eu não me lembro exatamente talvez a gente teve, a gente já se pensava<br />
fazendo <strong>teatro</strong>, aliás até hoje. Eles não foram pra carreira, mas era uma coisa<br />
que a gente... um canal <strong>de</strong> expressão realmente. Pra todo mundo, pra nós,<br />
alguns foram pra música, eu me lembro que eu até comecei a estudar um<br />
pouco <strong>de</strong> música <strong>de</strong>pois não <strong>de</strong>senvolvi, mas eu gostava muito <strong>de</strong>ssa coisa do<br />
<strong>teatro</strong>, tinha muito prazer, não era ainda profissão, mas eu consi<strong>de</strong>ro esse<br />
momento embrionário porque esse interesse me levou a assistir ao <strong>teatro</strong>, a ir<br />
aos <strong>teatro</strong>s, porque na época o <strong>teatro</strong> era um ponto <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> gente, era<br />
muito efervescente. (CONCEIÇÃO, 2011)<br />
O <strong>teatro</strong> profissional havia englobado muitas características <strong>dos</strong><br />
<strong>amadores</strong> e alguns espetáculos começam a ser apresenta<strong>dos</strong> em locais<br />
inusita<strong>dos</strong> como, por exemplo, galpões, ruas, presídios e outros locais. A<br />
censura, porém não corroborava com este tipo <strong>de</strong> visão inovadora, <strong>de</strong><br />
subversão das características tradicionais, assim estas apresentações passam<br />
a ser vistas com cautela pela censura. Muitas vezes eram os <strong>grupos</strong> <strong>de</strong><br />
orientação política que tentavam quebrar <strong>para</strong>digmas teatrais, inserir<br />
discussões sobre o po<strong>de</strong>r e também conscientizar os públicos.<br />
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