CONFISSÕES Um dos temas do Carnaval Multicultural-Recife 2011. a ser seguida na hora de criar a decoração. No caso de Tereza, suas obras são sensuais, mas estáticas. Utilizamos essa referência como base, mas exploramos também outros elementos de sua obra, como os tamanduás, gatos e o Homem da Meia Noite. O Homem é típico do Carnaval de Olinda, mas a artista mora na costa do Amparo, mesmo lugar onde habita o personagem durante os dias de folia, então era inevitável utilizar essa referência. B&C: Seu trabalho com o Carnaval começou no final da revitalização do Recife Antigo, que vinha sido feita desde os anos 70. Há, na hora de projetar a cenografia, uma preocupação em valorizar a arquitetura local? CL: O Carnaval aqui é muito maior do que o bairro de Recife Antigo, então nossa preocupação e cuidado se estende à toda cidade. Ao bolar a decoração, buscamos criar peças que participem do cenário sem interferir nele. Também há uma grande fiscalização da Prefeitura, do órgão que cuida do patrimônio histórico e do próprio CREA. Não podemos prender nada em pontes, postes, prédios e pisos, com o risco de se embargar a montagem. A nossa proposta é revestir a cidade para a folia, valorizando-a e nunca a escondendo. B&C: O que mais te atrai no Carnaval recifense? Costuma ficar na cidade para os dias de folia? CL: A diversidade do Carnaval recifense é incrível. São oito pólos centralizados com shows, além dos 9 pólos que ficam fora do centro da cidade. Cada um guarda sua identidade, 70 | MARÇO 2011 que eu procuro respeitar quando crio a decoração. Tem o pólo Fantasia, que assim como nos Carnavais antigos, as pessoas ainda vão fantasiadas. Tem o pólo Mangue, que faz referência ao Manguebeat de Chico Science e o pólo Afro, que resgata as tradições do maracatu. Me agrada ver como, apesar de tão diferentes pela música e pelas pessoas, os pólos se integram uns com os outros. Gosto também do ritual dos Tambores Silenciosos, quando tudo se apaga e os participantes pedem, falando e cantado em português e yorubá, proteção aos ancestrais para o período de Carnaval. Passo o Carnaval na cidade todos os anos. Já passava a data em Recife antes de trabalhar nele, e agora devo prestigiar aqueles que estão prestigiando também o meu trabalho. B&C: Você coleciona arte sacra e popular... CL: A paixão começou nos anos 70. Vinha de uma família simples, então apenas admirava a estética de esculturas sacras em lugares públicos. Quando comecei a trabalhar, tive a oportunidade de adquirir peças. Gosto muito dos imaginários dos santos de roca, santos antigos e populares, de terracota e mais simples. Eles têm uma sofisticação profunda, diferente de santos enfeitados com tintas douradas. O Brasil é muito rico nesse aspecto artístico, principalmente o Nordeste. Temos o Mestre Expedito do Piauí, a beleza do Bumba Meu Boi no Maranhão, a tradição pernambucana de peças em barro e madeira. Meus dois filhos moram em São Paulo, mas eu acredito mesmo que o passado e o futuro do Brasil estão no Nordeste. Aqui, nossa história é contada com paixão e sedimentação. MARÇO 2011 | 71
72 | MARÇO 2011 BRASIL NO MUNDO do brasil e pelo brasil POR HELENA MONTANARINI FOTO DIVULGAÇÃO O Universo de Athos Bulcão nos croquis e passarela do inverno 2011. MARÇO 2011 | 73