INSTRUÇÕES PARA NAVEGAÇÃO - Portal Artefacto
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CONTEMPORÂNEO<br />
Araquém<br />
Alcântara<br />
O HOMEM QUE ENXERGA A NATUREZA<br />
POR FELIPE FILIZOLA<br />
FOTOS NARAQUÉM ALCÂNTARA<br />
Com o lançamento de duas novas obras no<br />
final de 2010, Araquém Alcântara voltou a<br />
destacar seu premiado e reluzente trabalho.<br />
Referência quando o assunto é fotografia, seus<br />
40 anos de carreira revelaram fotos que registram,<br />
como nunca antes visto, a fauna, a flora e o povo brasileiro.<br />
Precursor da fotografia de natureza no País, é<br />
considerado um dos mais importantes fotógrafos da<br />
atualidade. Seu olhar e a luz de suas obras explicam<br />
o porquê. Araquém é uma daquelas pessoas que realmente<br />
enxergam o objeto observado, capturando a<br />
essência do que é retratado.<br />
O primeiro ensaio feito pelo paulista Araquém foi<br />
sobre urubus. Desde então, seu engajamento social<br />
e ambiental permeiam os autorais retratos. Com vasto<br />
domínio técnico e cuidado extremo com os menores<br />
detalhes, Alcântara capta por meio de lentes<br />
cenas exuberantes e carregadas de denúncias, enquadrando<br />
tanto o deslumbre quanto a destruição.<br />
Nos 42 livros publicados e quase 60 exposições individuais,<br />
o que se vê é uma compilação de emoções. A<br />
expressão de suas fotos fez com que fosse o primeiro<br />
fotógrafo brasileiro a produzir uma edição de colecionadores<br />
para a National Geografic, que resultou<br />
no trabalho Bichos do Brasil.<br />
TERRABRASIL<br />
O maior destaque de sua produção é, sem dúvidas,<br />
o livro TerraBrasil, lançado originalmente em 1998<br />
e com 11 edições. O maior best-seller da área de fotografia<br />
do Brasil já ultrapassou a marca dos 82 mil<br />
exemplares e foi relançado, totalmente renovado,<br />
em dezembro de 2010 com cerca de 50% de novas<br />
imagens. A obra foi o primeiro registro visual de to-<br />
dos os parques nacionais brasileiros, fruto de uma<br />
viagem de 300 mil quilômetros que resultaram em<br />
mais de 30 mil imagens produzidas. A edição deste<br />
vasto acervo levou três anos para o lançamento do<br />
primeiro exemplar.<br />
Se a imagem de capa, com sua onça-pintada olhando<br />
calmamente em direção da câmera, já é suficiente<br />
para intrigar o leitor, a impressionante foto do mítico<br />
boto-cor-de-rosa da Amazônia ou o esplendor de um<br />
pássaro pronto para alçar vôo torna o livro em referência<br />
não só para fotógrafos, mas também para viajantes<br />
e ambientalistas. A nova edição apresenta, além<br />
dos parques nacionais brasileiros, os ecossistemas do<br />
País.<br />
A viagem que consumiu 11 anos, sendo seis meses<br />
ininterruptos na Amazônia, continua sendo um feito<br />
ousado, mesmo hoje, tanto tempo depois. Por explorar<br />
lugares nunca antes aventurados, Alcântara se viu em<br />
situações inesperadas e até perigosas. Foi sequestrado<br />
por índios caiapós menkragnotire no rio Curuá (PA) interessados<br />
em entender o que fazia ali o homem urbano<br />
e seu maquinário. O problema foi resolvido com o pagamento<br />
de um resgate de R$ 800 e 150 litros de gasolina.<br />
“Os índios estavam em pé de guerra porque tinham perdido<br />
sua grande fonte de sustento fácil: a comissão de<br />
dez por cento dada pelos garimpeiros de rio e de terra e<br />
pelos madeireiros de mogno. Eram índios bandidos, que<br />
não plantam, não caçam e não pescam mais. Estávamos<br />
atravessando o rio, próximo a suas terras, justamente<br />
alguns dias depois de uma blitz da Polícia Federal, Ibama<br />
e FUNAI. E isso, infelizmente, só acontece uma vez<br />
em cinco anos”, relatou certa vez em uma entrevista. As<br />
andanças permitiram que Araquém acompanhasse a degradação<br />
ambiental de muitas partes do País.<br />
MARÇO 2011 | 113