DIALOGISMO E PARÓDIA EM FÁBULAS DE ESÔFAGO
DIALOGISMO E PARÓDIA EM FÁBULAS DE ESÔFAGO
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c) Em o Pensamento do dia, resgata-se satiricamente o contexto brasileiro (Juiz<br />
Nicolalau), em que as autoridades abusam do poder e fazem disso uma rotina,<br />
provavelmente pela impunidade persistente no país.<br />
Nesse aspecto, Fábulas de Esôfago estabelece um desvio total da forma, mas faz<br />
uma estilização da função moral da história, pois se utiliza desse gênero para criticar os<br />
desmandos, por meio do duplo sentido, do jogo das palavras, e revelar o sarcasmo<br />
diante de um comportamento considerado anti-ético, imoral e ilegal daqueles que<br />
figuram no poder.<br />
5. CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS<br />
Transpondo-se para a análise o texto Fábulas de Esôfago em cotejo com seus<br />
diversos intertextos, confirma-se que há nele intertextualidade de sentido restrito a qual<br />
se faz perceber por meio do conteúdo e da forma, ocorrendo de maneira implícita e<br />
cabendo ao interlocutor recuperá-la, por meio das marcas lingüísticas (BRAGA, 2000;<br />
KOCH, 1997; LURIA,1991), para construir o sentido do texto. Nele percebe-se a<br />
intertextualidade das diferenças, a paródia, em que o texto derivado incorporou o<br />
intertexto atribuído a um enunciador genérico, para ridicularizá-lo, mostrando seu valor<br />
de subversão (KOCH, 1997; MAINGUENEAU, 1993).<br />
Dessa forma, pode-se afirmar, usando a noção de desvio proposta por<br />
Sant’Anna, que a crônica apresenta-se, em sua generalidade, como um desvio total, uma<br />
deformação dos textos originais, ao subverter sua estrutura e seu sentido, na maior parte<br />
de sua construção. Comprova-se isso pela observância dos recursos argumentativos<br />
constitutivos do sentido, imbricados na micro e na macroestrutura do texto fabulístico,<br />
os quais foram apresentados na análise.<br />
Ao longo de todo o texto, mas, em especial, nas observações finais,<br />
correspondendo, de forma global, à moral da história, sustenta-se a idéia de que há<br />
vozes dissonantes que são usadas para mostrar a linguagem também como um<br />
mecanismo de controle do outro (FAVERO, 2003), tendo-se o ensinamento de que é<br />
possível revelar explicitamente como se pode mentir, enganar, mascarar a realidade.<br />
Nesse sentido, a paródia é uma forma de linguagem que coaduna com a intenção<br />
da moral presente na estrutura fabulística, uma vez que aquela tem uma função<br />
complementar que é a catártica (SANT’ANNA, 1985), pois funciona como contraponto<br />
aos momentos de tensão, quando, por meio do humor, por exemplo, propicia o riso.<br />
Dessa acepção surge a relação entre paródia e representação no sentido psicanalítico,<br />
sendo esta considerada como a emergência de algo que ficou no inconsciência e que, se<br />
resgatado, traz informações até então ocultas, possibilitando uma nova e diferente<br />
maneira de ler o convencional, um processo de liberação do discurso, uma tomada de<br />
consciência crítica.<br />
Assim, a análise realizada valida ser traço precípuo o caráter polifônico<br />
polifônico, ao subverter a ordem estabelecida, incorporando intertextos para depois<br />
rechaçá-los, (re)criando um modelo próprio, em que as palavras do outro são revestidas<br />
do novo, tornando-se bivocais. Em suma, Fábulas de Esôfago constrói-se do<br />
encadeamento de idéias e de vozes as quais se opõem entre si, caracterizando a<br />
linguagem como dialógica, dissonante e polissêmica, tal qual afirma Bakhtin.<br />
REFERÊNCIAS<br />
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