DIALOGISMO E PARÓDIA EM FÁBULAS DE ESÔFAGO
DIALOGISMO E PARÓDIA EM FÁBULAS DE ESÔFAGO
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nele a argumentação) e a das diferenças (o texto incorpora o intertexto para<br />
ridicularizá-lo, mostrar sua improcedência ou, pelo menos, colocá-lo em questão).<br />
Neste último tipo, têm-se a paródia, a ironia, a estratégia argumentativa da concessão ou<br />
concordância parcial.<br />
Segundo Fávero (2003), falar em paródia é falar em Bakhtin, uma vez que está<br />
inserida em sua concepção de carnavalização, da qual provêm os gêneros cômico-sériocríticos,<br />
embora tenha sido por meio de Tynianov que essa noção ganhou corpo algum<br />
tempo antes. Em seu sentido etimológico, paródia significa canto paralelo ( para = ao<br />
lado de; ode = canto), incorporando a idéia de uma canção proferida ao lado de outra,<br />
como uma espécie de contracanto. Entretanto, pode ser tomada também no sentido de<br />
imitação caricata, burlesca.<br />
Para Bakhtin, a paródia é um elemento inseparável da sátira menipéia e de todos<br />
os gêneros carnavalizados. Ele a coloca ao lado da estilização e do skaz, por<br />
apresentarem traços em comum:<br />
...permitem reconhecer explicitamente uma semelhança com aquilo que negam, a<br />
palavra tem duplo sentido, voltando-se para o discurso de um outro e para o objeto do<br />
discurso como palavra. Todos esses fenômenos são bivocais e bilíngües. (FAVERO,<br />
2003:53)<br />
Entretanto, na paródia há a luta entre duas vozes, não sendo possível a sua fusão<br />
presentes na estilização e no skaz. Ela torna-se uma escrita transgressora, pois desloca o<br />
texto primeiro, articulando-se sobre ele, reestruturando-o ao mesmo tempo que o nega.<br />
Para Josef (1980), o diálogo e a ambivalência é que permitem essa transgressão. Eles<br />
correspondem ao eixo horizontal (sujeito da escritura – destinatário) e ao eixo vertical<br />
(texto-contexto) que se cruzam, originando a intertextualidade e proporcionando a dupla<br />
leitura.<br />
Sant’Anna (1985) apresenta a paródia a partir, dentre outras, da noção de desvio.<br />
Ele propõe - partindo da comparação entre paráfrase, estilização e paródia - considerarse<br />
que os jogos estabelecidos nas relações intra e extratextuais são desvios maiores ou<br />
menores em relação ao original. Assim, a paráfrase surge como um desvio mínimo, a<br />
estilização como um desvio tolerável, e a paródia como um desvio total. Segundo ele, a<br />
paródia deforma o texto original subvertendo sua estrutura e sentido; a paráfrase<br />
conforma, reafirmando os ingredientes do texto primeiro e conformando seu sentido; e<br />
a estilização reforma desbotando a forma, sem profundas modificações, porém, na<br />
estrutura.<br />
Esse autor ressalta que a separação espacial desses elementos não impossibilita<br />
que eles coexistam no interior de um mesmo texto. Existem aqueles que possuem esses<br />
(e outros) atributos, ocorrendo um deslizamento de efeitos de uma parte para outra do<br />
discurso. Assim, dependendo da relação intertextual (ou intratextual), podemos<br />
conceber a estilização como um caminho entre a paráfrase e a paródia<br />
(SANT’ANNA,1985:42). Essa concepção, para ele, rompe com um raciocínio dualista,<br />
correlacionando o conceito de estilização, como o de paráfrase e o de paródia.<br />
4. LEITURA POLIFÔNICA <strong>EM</strong> <strong>FÁBULAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>ESÔFAGO</strong><br />
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