Suena el Río. Estudo etnográfico da música ... - Musa - UFSC
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murga ou o candombe-canção, o recitado é <strong>el</strong>emento comum. “Recitado” ou “glosa” é o<br />
termo com que os “nativos” – tanto artistas como o público – se referem a uma secção do<br />
fluxo de discurso sonoro que se distingue do resto <strong>da</strong>s peças. Durante o recitado, uma voz<br />
se destaca dramaticamente de entre os instrumentos para enfatizar uma mensagem verbal,<br />
<strong>da</strong> mesma forma que em outros momentos os arranjos instrumentais concentram a função<br />
comunicativa no dueto letra-<strong>música</strong> que caracteriza a canção. Um contributo importante <strong>da</strong><br />
pesquisa em t<strong>el</strong>a pode resultar <strong>da</strong> interpretação dos recitados como expressão que perpassa<br />
os limites entre os gêneros constituintes do universo <strong>da</strong> canção rioplatense (milonga, tango,<br />
candombe e murga). Interessa in<strong>da</strong>gar acerca desta recorrência dos recitados, que, embora<br />
apareçam na canção popular de muitos países latino-americanos, podem ser reconhecidos<br />
na região do Rio <strong>da</strong> Prata por meio <strong>da</strong>s narrativas dos músicos sobre como chegaram a<br />
fazer a <strong>música</strong> que fazem atualmente. Uma espécie de fio que, formando uma rede, une as<br />
formas de canção contemporânea com a ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>qu<strong>el</strong>es payadores que, desde o século<br />
XIX, mantiveram em contato os habitantes <strong>da</strong> região. Os cantores de tango se apropriaram<br />
desse modo de discurso verbomusical e através d<strong>el</strong>es o recitado passou a integrar a<br />
paisagem sonora <strong>da</strong> canção rioplatense.<br />
O lunfardo no sistema sonoro rioplatense<br />
A canção popular urbana no Rio <strong>da</strong> Prata tem sido uma fonte inesgotáv<strong>el</strong> de<br />
re<strong>el</strong>aborações do léxico <strong>da</strong> fala coloquial <strong>da</strong> região. Desde o surgimento e a popularização<br />
do tango e do lunfardo até a recente disseminação de gêneros como o rock, a cumbia e os<br />
“neolunfardos” (CONDE, 2004), assim como dos “tangueces e lunfardismos”<br />
(GOBELLO & OLIVERI, 2001, 2003) que os acompanham, canção e fala popular se têm<br />
nutrido reciprocamente de sua poética. O lunfardo é um modo de falar vigente na Argentina<br />
(especialmente em Buenos Aires) e no Uruguai, diferente do espanhol geralmente utilizado<br />
em situações formais e distinto do prescrito p<strong>el</strong>a Real Academia Española. O lunfardo já<br />
foi caracterizado como a fala dos d<strong>el</strong>inqüentes, já que o termo lunfa, de onde se origina<br />
lunfardo, significa “ladrão”. Na atuali<strong>da</strong>de, to<strong>da</strong>via, o lunfardo se expressa na fala e na<br />
criação poética, oral ou escrita, de pessoas comuns, independente de profissão ou classe<br />
social. OSCAR CONDE (2004: 13) definiu o lunfardo como<br />
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