05.06.2013 Views

Suena el Río. Estudo etnográfico da música ... - Musa - UFSC

Suena el Río. Estudo etnográfico da música ... - Musa - UFSC

Suena el Río. Estudo etnográfico da música ... - Musa - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL<br />

PROJETO DE TESE DE DOUTORADO<br />

<strong>Suena</strong> <strong>el</strong> <strong>Río</strong>.<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>etnográfico</strong> <strong>da</strong> <strong>música</strong> rioplatense em Buenos Aires.<br />

María Eugenia Domínguez<br />

Prof. Orientador Rafa<strong>el</strong> José de Menezes Bastos.<br />

Fevereiro de 2006


Sumário<br />

Apresentação 2<br />

Introdução 2<br />

Apresentação do tema de pesquisa e aberturas temáticas 6<br />

Os recitado no sistema sonoro rioplatense 16<br />

O lunfardo no sistema sonoro rioplatense 17<br />

Objetivo geral <strong>da</strong> pesquisa 19<br />

Objetivos específicos <strong>da</strong> pesquisa 19<br />

Hipóteses de trabalho 20<br />

Metodologia 20<br />

Cronograma 22<br />

Bibliografia 23<br />

1


Apresentação<br />

Este projeto de pesquisa se desdobra em quatro partes. Na introdução serão descritas<br />

as aproximações anteriores à reali<strong>da</strong>de estu<strong>da</strong><strong>da</strong>. A segun<strong>da</strong> parte apresentará o tema geral<br />

<strong>da</strong> pesquisa, comentando-se as contribuições de alguns autores para a formação de um<br />

campo de estudos sobre a cultura popular na região do Rio <strong>da</strong> Prata. A partir dos registros<br />

de pesquisadores que estu<strong>da</strong>ram a <strong>música</strong> popular na região, serão <strong>el</strong>abora<strong>da</strong>s aberturas<br />

temáticas e indica<strong>da</strong>s as contribuições desenvolvi<strong>da</strong>s no trabalho em t<strong>el</strong>a, para em segui<strong>da</strong><br />

detalharem-se seus objetivos e as hipóteses-guias de reflexão. A terceira parte conterá a<br />

descrição <strong>da</strong> metodologia p<strong>el</strong>a qual se pretende alcançar tais objetivos. Por fim, um<br />

cronograma registrará as ativi<strong>da</strong>des necessárias para a <strong>el</strong>aboração <strong>da</strong> tese e a bibliografia de<br />

apoio.<br />

Introdução<br />

A proposta é de uma pesquisa sobre a <strong>música</strong> rioplatense, categoria-rótulo que<br />

inclui expressões produzi<strong>da</strong>s no Uruguai e na Argentina – e especialmente em Montevidéu<br />

e em Buenos Aires – e que combina <strong>el</strong>ementos sonoros e recursos cênicos de gêneros tão<br />

distintos como tango, milonga, murga e candombe. Entre os “nativos” ou na comuni<strong>da</strong>de<br />

de ouvintes que criam, escutam e assistem às atuações, que escrevem ou falam à imprensa,<br />

a expressão canção rioplatense é sinônima de <strong>música</strong> rioplatense. As obras e performances<br />

neste universo aproximam expressões “autóctonas”, como os gêneros mencionados acima,<br />

de outras como o rock, o jazz, a <strong>música</strong> popular brasileira, ou a varie<strong>da</strong>de de expressões que<br />

localmente se rotulam como <strong>música</strong> tropical. O estudo descreverá as práticas de artistas<br />

populares em ativi<strong>da</strong>de na ci<strong>da</strong>de de Buenos Aires e que desenvolvem expressões varia<strong>da</strong>s,<br />

to<strong>da</strong>s inclusas nesta categoria que engloba diferentes gêneros, buscando instituir<br />

coletivamente seu próprio espaço no campo <strong>da</strong> <strong>música</strong> popular local. 1<br />

1 Um dos conceitos centrais <strong>da</strong> sociologia <strong>da</strong> cultura de Pierre BOURDIEU é o do campo int<strong>el</strong>ectual (1972).<br />

O mesmo autor retoma a noção para particularizar os âmbitos <strong>da</strong> produção cultural como campo artístico ou<br />

campo literário, propondo uma perspectiva analítica para o estudo <strong>da</strong>s obras e agentes <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de cultural. O<br />

conceito de campo permite pensar os condicionamentos sociais que intervêm no universo <strong>da</strong> produção<br />

cultural. A constituição de um campo pode ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong> desde uma perspectiva histórica, mas segundo<br />

Bourdieu o campo também pode ser estu<strong>da</strong>do, num <strong>da</strong>do momento, como um sistema de r<strong>el</strong>ações entre<br />

2


Durante o trabalho de campo sobre o qual se articulou a pesquisa realiza<strong>da</strong> no<br />

mestrado em Antropologia Social 2 , estab<strong>el</strong>eceu-se contato com vários artistas uruguaios<br />

residentes em Buenos Aires e que desenvolviam expressões artísticas como candombe e<br />

murga uruguaia, ou que atuavam em grupos musicais dedicados à canção popular,<br />

geralmente combinando candombe, murga, milonga, e em algns casos tango. Alguns<br />

integravam a organização “Músicos Independientes Rioplatenses”, a qual reúne artistas que<br />

gerenciam <strong>el</strong>es próprios sua produção musical. Nos dois últimos ciclos organizados p<strong>el</strong>a<br />

cooperativa, mais de quarenta grupos e solistas partilharam palco e público em inúmeras<br />

categorias: candombe, milonga, tango, murga, canciones rioplatenses, jazz rioplatense,<br />

candombe urbano, rock rioplatense, tangos rioplatenses e ritmos rioplatenses. Muitos<br />

outros grupos artísticos portenhos cultivam expressões com denominações similares sem<br />

participar <strong>da</strong> menciona<strong>da</strong> organização. As distintas ativi<strong>da</strong>des que conformam o circuito<br />

rioplatense são divulga<strong>da</strong>s basicamente por duas mídias: a) a Agen<strong>da</strong> Murguera, distribuí<strong>da</strong><br />

semanalmente via correio <strong>el</strong>etrônico e programa<strong>da</strong> p<strong>el</strong>o murguero Diego Robacio, e b) a<br />

coluna Rioplatenses, Vienen Sonando do Diário Popular, publica<strong>da</strong> semanalmente p<strong>el</strong>o<br />

jornalista Pablo Vázquez. A primeira funciona como um portal de serviços e de anúncios<br />

sobre apresentações e lançamento de discos, enquanto a segun<strong>da</strong>, além de anunciar<br />

atuações e lançamentos, inclui comentários acerca de espetáculos, crítica musical e<br />

informações sobre artistas do meio. Destarte, tanto a Agen<strong>da</strong> quanto a coluna contribuem<br />

para consoli<strong>da</strong>r o circuito <strong>da</strong> <strong>música</strong> rioplatense. 3<br />

Nas conversas e entrevistas com esses uruguaios residentes em Buenos Aires, ou<br />

bem com argentinos que desenvolvem os gêneros mencionados – e especialmente nos<br />

r<strong>el</strong>atos sobre suas práticas artísticas –, articula-se um fio narrativo em que “<strong>el</strong> Rio de la<br />

Plata” é visto como uma região com uma história e muitas características socioculturais<br />

posições distintas <strong>da</strong>s obras, instituições e agentes. Os campos podem ser entendidos como lutas p<strong>el</strong>a<br />

legitimi<strong>da</strong>de cultural que enfrentam os agentes que se encontram em distintas posições – como a de<br />

“estab<strong>el</strong>ecidos” e de “recém-chegados”. O poder que <strong>el</strong>es têm para definir o que é legítimo e o que é ilegítimo<br />

depende do seu capital simbólico, do reconhecimento de que gozam alguns dos agentes que fazem parte<br />

dessas lutas. (BOURDIEU, 1987, 1989)<br />

2 O estudo examinava a articulação entre práticas artístico-culturais, subjetivi<strong>da</strong>de e política em movimentos<br />

afro-descedentes de diferente adscrição nacional na capital portenha. A dissertação defendi<strong>da</strong> no PPGAS-<br />

<strong>UFSC</strong> em fevereiro de 2004, se titula “O ‘afro’ entre os trabalhadores culturais em Buenos Aires. Reflexões<br />

sobre as diferenças”.<br />

3 A noção de circuito “une estab<strong>el</strong>ecimentos, espaços e equipamentos caracterizados p<strong>el</strong>o exercício de<br />

determina<strong>da</strong> prática ou oferta de determinado serviço, porém não contíguos na paisagem urbana, sendo<br />

reconhecidos em sua totali<strong>da</strong>de apenas p<strong>el</strong>os usuários…” (MAGNANI, 1996: 45).<br />

3


comuns. Daí por que investir no estudo <strong>da</strong>s práticas de artistas populares uruguaios e<br />

argentinos, que contribuem para consoli<strong>da</strong>r essa região cultural no imaginário local, mesmo<br />

que a área seja corta<strong>da</strong> por uma fronteira internacional.<br />

O trabalho de campo para a pesquisa realiza<strong>da</strong> exigiu uma familiari<strong>da</strong>de com as<br />

disputas que se desdobram no universo sonoro 4 do candombe de Buenos Aires e que<br />

permitem entrever fricções entre os que reivindicam a origem uruguaia do candombe, os<br />

que defendem a origem e a existência do “candombe argentino” (que é diferente do<br />

candombe praticado em Montevidéu) e os que entendem ser o gênero “rioplatense”,<br />

ressaltando a importância de retomar o antigo diálogo entre artistas <strong>da</strong>s duas margens do<br />

rio. 5 Algumas entrevistas e conversas com murgueros e leituras sobre murga evidenciaram<br />

a existência de disputas em torno de criterios de autentici<strong>da</strong>de, ou respeito dos diálogos e<br />

trocas entre os estilos portenho e uruguaio. Em todos estes contextos artísticos (candombe,<br />

murga e canção rioplatense em geral) são freqüentes, portanto, as discussões a respeito <strong>da</strong><br />

autentici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s expressões regionais – uruguaia, argentina e rioplatense.<br />

De agosto a dezembro de 2005, foi realiza<strong>da</strong> uma etapa de “pré-campo” em que<br />

foram recolhi<strong>da</strong>s narrativas de músicos dos diversos gêneros, as quais evidenciam a<br />

construção de uma memória <strong>da</strong> <strong>música</strong> rioplatense 6 . Conhecer artistas que se dedicam à<br />

<strong>música</strong> rioplatense, à murga e ao candombe, permitiu distinguir os diversos pontos de vista<br />

acerca <strong>da</strong> história dos gêneros e de suas variantes uruguaias e argentinas. A partir <strong>da</strong>í foram<br />

identificados alguns critérios que fun<strong>da</strong>mentam as opções ético-estéticas desses mesmos<br />

artistas e que são explicitados em suas próprias atuações e performances no bojo <strong>da</strong> <strong>música</strong><br />

rioplatense contemporânea. Começou-se a <strong>el</strong>aborar um arquivo audiovisual de recitados<br />

realizados nas performances dos distintos gêneros ou em conversas informais. O material<br />

sonoro recolhido– CDs contendo composições dos próprios artistas ou “canções<br />

tradicionais” – será oportunamente analisado, de acordo com os objetivos <strong>da</strong> pesquisa.<br />

4<br />

Utilizo a noção de universo sonoro para referir ao conjunto de discursos verbo-musicais associados a um<br />

gênero artístico. Na definição lavra<strong>da</strong> por BLACKING (1995) pode se pensar num universo sonoro ao referir<br />

aos discursos e práticas de um grupo de pessoas que partilham de uma linguagem musical comum, junto com<br />

certas idéias sobre a <strong>música</strong> seus usos e significados.<br />

5<br />

A observação se apóia, em boa medi<strong>da</strong>, na noção de ‘fricção de musicali<strong>da</strong>des’, desenvolvi<strong>da</strong> por PIEDADE<br />

(2003).<br />

6<br />

Sem adentrar a discussão teórica sobre o conceito, importa referir que “memória”, aqui, respeita às<br />

representações coletivas que contêm em si uma dimensão histórica e são geralmente aciona<strong>da</strong>s para instituir<br />

limites entre os grupos (SANTOS, 2003). Nesta acepção, o termo permite articular um sentido coletivo de<br />

representação dos eventos passados, que constituem uma tradição consciente e operativa na vi<strong>da</strong> social.<br />

4


Nas entrevistas semidireciona<strong>da</strong>s do “pré-campo”, os músicos r<strong>el</strong>ataram como<br />

chegaram a tocar o que tocam hoje, em nív<strong>el</strong> de gênero e de repertório. Suas narrativas<br />

podem ser pensa<strong>da</strong>s como uma memória verbomusical que inclui um sem-número de<br />

encontros e de expressões próprias <strong>da</strong> tradição de uma ou de outra margem do rio, de um ou<br />

de outro país. Vários LPs e CDs de referência reuniram em estúdio músicos argentinos e<br />

uruguaios. O fortalecimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s ao universo <strong>da</strong> murga e do candombe,<br />

em Buenos Aires, a partir do início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, teve como protagonistas muitos<br />

uruguaios residentes na capital argentina. 7 Os encontros e trocas de experiências permitem<br />

entender por que se partilham certos modos de fazer, ao mesmo tempo em que se cultivam<br />

estilos de gênero próprios de ca<strong>da</strong> nação.<br />

Os diversos segmentos que integram o campo <strong>da</strong> <strong>música</strong> popular local assumem<br />

posições diferencia<strong>da</strong>s, que não deixam de r<strong>el</strong>acionar-se ao mercado discográfico. Assim,<br />

incluir na categoria rioplatense expressões que não encontram espaço na organização<br />

comercial dos segmentos <strong>da</strong> <strong>música</strong> popular – quer como tango, quer como candombe, quer<br />

como murga – é uma forma de forjar uma categoria que os reúne nas lojas de discos. O<br />

acesso à tecnologia de gravação de CDs está ao alcance de um amplo contingente de<br />

músicos responsáveis <strong>el</strong>es próprios p<strong>el</strong>a produção e distribuição de seus discos. Em alguns<br />

casos, o trabalho é produzido de forma independente e a distribuição é terceiriza<strong>da</strong> para<br />

ampliar as possibili<strong>da</strong>des de ven<strong>da</strong> sem a per<strong>da</strong> dos direitos sobre os “masters” <strong>da</strong>s<br />

gravações ou a artes <strong>da</strong>s capas.<br />

Detalhe importante: nas lojas de discos de Buenos Aires não existe um espaço<br />

específico para “murga” ou “candombe”. Quem quiser encontrar esses gêneros deve buscá-<br />

los entre os CDs com a indicação “Uruguay” ou “World Music”. Gravações de murga<br />

porteña e murga uruguaya, por exemplo, estão juntas na seção “Uruguay” (ain<strong>da</strong> que, para<br />

muitos “nativos”, a murga uruguaya e a murga porteña não apenas se diferenciam no<br />

estilo, mas se constituem mesmo em gêneros diversos). 8 Também se pode achar, nessa<br />

7 Conforme o Censo Nacional de Población de 1991 (INDEC-Instituto Nacional de Estadísticas y Censos) os<br />

estrangeiros que residem na Área Metropolitana de Buenos Aires, são o 9% do total <strong>da</strong> sua população. Entre<br />

<strong>el</strong>es, o 43 % vem de países limítrofes, isto é, um 4 % <strong>da</strong> população <strong>da</strong> área. Em Capital Federal – Ci<strong>da</strong>de de<br />

Buenos Aires- a maior proporção de estrangeiros é constituí<strong>da</strong> por uruguaios (40 %). Os paraguaios<br />

representam o 25 % e os bolivianos o 15%. No Gran Buenos Aires, a maioria <strong>da</strong>s pessoas estrangeiras são<br />

oriun<strong>da</strong>s do Paraguai (49%), e em segundo lugar do Uruguai (22%).<br />

8 A prática de gravação de expressões de murga portenha é um movimento bastante recente e é parte do<br />

processo que pretendo pesquisar. A discografia de murga portenha disponív<strong>el</strong> no momento, não supera a<br />

5


mesma secção, gravações de canción popular uruguaya, de candombe de comparsa,<br />

candombe canción, candombe rock, milongones e todo um leque de expressões que<br />

conforma a const<strong>el</strong>ação rioplatense. Entretanto, a produção uruguaia de tangos, por mais<br />

que realiza<strong>da</strong> por agrupações murgueras <strong>da</strong> margem oriental do rio 9 , se encontra no enorme<br />

segmento de “Tango”.<br />

Embora em termos gerais os gêneros <strong>da</strong> moderna <strong>música</strong> popular admitam serem<br />

caracterizados como pertencentes a uma nação – e excluam, p<strong>el</strong>o menos em alguma<br />

medi<strong>da</strong>, as associações com imaginários estrangeiros –, na região do Rio <strong>da</strong> Prata alguns<br />

desses gêneros populares superam fronteiras nacionais e recebem o adjetivo rioplatense<br />

como alusão à regionali<strong>da</strong>de. O que se busca, neste trabalho, é centrar o foco neste sistema<br />

sonoro além-fronteiras e pensar o caráter sócio-histórico de tal limite, bem como os<br />

sentidos que <strong>el</strong>e assume nas diferentes propostas artísticas. A <strong>música</strong> rioplatense é uma<br />

categoria nativa que admite pensar a <strong>música</strong> popular como linguagem d<strong>el</strong>imitadora de um<br />

determinado universo sociocultural (MENEZES BASTOS, 1996:157) e as fricções que<br />

tensionam todo processo de <strong>el</strong>aboração de categorias sociais.<br />

Apresentação do tema de pesquisa e <strong>da</strong>s aberturas temáticas<br />

Existem trabalhos acadêmicos sobre <strong>música</strong> popular, produzidos desde diferentes<br />

óticas disciplinares, que consideram a sonori<strong>da</strong>de rioplatense como um fenômeno regional<br />

que ultrapassa a fronteira política. Tais pesquisas enquadram a <strong>música</strong> rioplatense como<br />

uma categoria de estudo que supera as limitações <strong>da</strong> folclorística tradicional, a qual investia<br />

sobretudo na direção de caracterizar o folclore até os limites dos territórios nacionais e de<br />

demarcar o acervo próprio <strong>da</strong> nação como diferente do dos países vizinhos (BLACHE,<br />

2002). Nesta antiga linha folclorística há obras como Las <strong>da</strong>nzas populares argentinas<br />

(1952), de Carlos Vega, ou El folclore musical uruguayo (1944-1963), de Lauro<br />

dezena de Cds, todos de produção independente. No Uruguay as gravações de murga também são um<br />

fenómeno recente: <strong>da</strong>ta de 1998 o a primeira gravação de repertorio de murga no carnaval montevideano, o<br />

CD doble “Carnaval d<strong>el</strong> Futuro” (FORNARO, 1998.)<br />

9 Estou referindo, pontualmente, ao CD de Los Mareados, que interpreta tangos como Uno, Mi Buenos Aires<br />

querido, Bandoneón Arrabalero, Chorra e Por una cabeza, em clave de murga montevidenana. (Los<br />

Mareados, “Por una cabeza”, Barca discos, 2005, CD SLC641)<br />

6


Ayestarán. 10 Vega descreve as <strong>da</strong>nças populares argentinas reconhecendo-lhes influências<br />

ultramarinas e continentais, mas, nessa obra em particular, sua preocupação é descrever o<br />

fenômeno no território argentino. Ayestarán, por sua vez, divide o folclore musical<br />

uruguaio em quatro “ciclos folclóricos” que convivem na extensão do território nacional: o<br />

rioplatense, o norteño ou riograndense, o europeu e o africano. 11 No ciclo rioplatense, o<br />

autor refere as <strong>da</strong>nças e canções rurais, n<strong>el</strong>as incluindo a milonga. Como demonstrado<br />

adiante, esta servirá de base para o desenvolvimento de uma boa parte do cancioneiro<br />

popular urbano durante o século XX, tanto em Buenos Aires quanto em Montevidéu, e é<br />

freqüente nos repertórios de muitos músicos contemporâneos que se dedicam à <strong>música</strong><br />

rioplatense na capital argentina. Ayestarán, por mais que buscasse sistematizar o folclore<br />

nacional uruguaio, é explícito a respeito <strong>da</strong>s limitações de tal abor<strong>da</strong>gem 12 , reivindicando a<br />

partilha de um acervo musical e <strong>da</strong>ncístico no Rio <strong>da</strong> Prata, desde antes <strong>da</strong> independência<br />

política <strong>da</strong> Argentina e do Uruguai. 13 Na descrição do autor, a milonga é o gênero<br />

paradigmático do ciclo rioplatense, podendo se considerar uma espécie musical defini<strong>da</strong><br />

10 Sobre as r<strong>el</strong>ações entre as vi<strong>da</strong>s e as obras desses dois autores –considerados fun<strong>da</strong>dores dos estudos<br />

sistemáticos sobre a <strong>música</strong> popular rioplatense- ver AHARONIÁN, 2000. (cap. 12) É importante mencionar<br />

que Carlos Vega foi precursor na perspectiva ‘panamericana’ de estudos musicais, como também na definição<br />

<strong>da</strong> <strong>música</strong> popular como uma área de estudos tão importante para a compreensão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social quanto a<br />

<strong>música</strong> acadêmica ou folclórica.<br />

11 Nas palavras do autor se detalham os gêneros enquadráveis em ca<strong>da</strong> ciclo: “Sobre <strong>el</strong> Uruguay se proyectan<br />

cuatro grandes ciclos folclóricos que, sin descartarse unos a otros, conviven en la extensión de su territorio: 1)<br />

un ciclo de <strong>da</strong>nzas y canciones rurales rioplatenses que forman una uni<strong>da</strong>d folclórica con las provincias<br />

argentinas de Buenos Aires y Entre Rios, donde se <strong>da</strong> <strong>el</strong> Estilo, la Cifra, la Milonga, la Vi<strong>da</strong>lita, <strong>el</strong> Pericón,<br />

etc.; 2) un ciclo norteño que participa, juntamente con <strong>el</strong> estado brasileño de Rio Grande do Sul, de algunas<br />

<strong>da</strong>nzas y canciones d<strong>el</strong> llamado Fan<strong>da</strong>ngo Riograndense: la Chimarrita, <strong>el</strong> Carangueijo, la Tirana, etc (....); 3)<br />

<strong>el</strong> cancionero europeo antiguo (…); 4) las <strong>da</strong>nzas dramáticas de los esclavos africanos que derivaron hacia <strong>el</strong><br />

Candombe en <strong>el</strong> Siglo XIX, cuya supervivencia que<strong>da</strong> hoy en las Comparsas de Carnaval y en la riquísima<br />

Llama<strong>da</strong> o batería de tamboriles que recorren las calles de Montevideo durante los meses d<strong>el</strong><br />

verano.”(AYESTARÁN, 1967: 8)<br />

12 “…<strong>el</strong> mapa folclórico no coincide con <strong>el</strong> límite político; en primer término porque su origen es anterior a la<br />

Revolución de Mayo de 1810. Los grandes cancioneros cabalgan por encima de la geografía. Y los grandes<br />

cancioneros son las reales uni<strong>da</strong>des musicológicas más que las razas, las naciones o los simples ámbitos<br />

geográficos. Por lo menos son las uni<strong>da</strong>des sonoras, y de sonido se trata cuando uno se refiere al folclore<br />

musical. Todos los países de América comparten con sus vecinos sus especies populares. El folklore se ríe de<br />

la geografía.”(AYESTARÁN, 1967: 22)<br />

13 Pode ser bom lembrar que os atuais territórios <strong>da</strong> Argentina e do Uruguai, assim como o sul <strong>da</strong> Bolívia, e<br />

Paraguai, fizeram parte de uma uni<strong>da</strong>de político administrativa no Virreinato d<strong>el</strong> Rio de la Plata, criado em<br />

1776 (até então Buenos Aires era um porto periférico do Virreinato d<strong>el</strong> Peru). O território do que hoje é a<br />

República Oriental d<strong>el</strong> Uruguay era disputado entre espanhóis e portugueses, e fica em mãos espanholas em<br />

1726 com a fun<strong>da</strong>ção de Montevidéu. Argentina se independiza de Espanha em 1810, e os esforços<br />

separatistas –em oposição à hegemonia de Buenos Aires- em algumas regiões, conduziram ao surgimento de<br />

outras três nações: Paraguai em 1814, Bolivia em 1825 e Uruguai em 1828. (cf. LUNA, 1982; JOCHIMS<br />

REICHEL & GUTFREIND, 1996)<br />

7


em 1870 – depois de 20 anos de gestação – e que desempenha três funções: a) acompanha a<br />

incipiente <strong>da</strong>nça de casal que pertence à subclasse de “abraza<strong>da</strong>”, na qual os <strong>da</strong>nçarinos “se<br />

toman prietamente” e que difere <strong>da</strong> enlaça<strong>da</strong>, em que o casal se toma “sin estrecharse”; b)<br />

assume a forma de “paya<strong>da</strong> de contrapunto”; e c) é a canção “criolla” que pode ser<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> a estrofes de quatro, seis, oito ou dez versos. Conforme Ayestarán, como forma<br />

musical a milonga migra <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de para o campo, alargando desse modo sua morfologia<br />

para sobreviver até a atuali<strong>da</strong>de numa permanente renovação.<br />

Já a Antologia d<strong>el</strong> Tango Rioplatense, publica<strong>da</strong> p<strong>el</strong>o Instituto Nacional de<br />

Musicologia Carlos Vega (Novati, 1980) <strong>da</strong> Argentina, abor<strong>da</strong> a história deste gênero<br />

musical partindo <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong>de do seu caráter regional, mais do que do nacional:<br />

En distintas ocasiones se ha hecho mención d<strong>el</strong> Tango Argentino, y justo<br />

es reconocer que tanto por la importancia que tuvo en Buenos Aires en<br />

cuanto centro de irradiación, como por <strong>el</strong> número de autores, ejecutantes<br />

y bailarines argentinos o radicados en la Argentina que alcanzaron<br />

renombre internacional, es justificado <strong>el</strong> aditamento. En otras<br />

oportuni<strong>da</strong>des la procedencia estaba sobreentendi<strong>da</strong>, porque desde fines<br />

de la primera déca<strong>da</strong> d<strong>el</strong> siglo [XX] la voz Tango fue, principalmente en<br />

Europa, sinónimo de lo argentino. Sin embargo <strong>el</strong> análisis d<strong>el</strong> proceso de<br />

gestación y evolución demuestra que ambas márgenes d<strong>el</strong> Plata<br />

protagonizaron –matices más o menos- sucesos paral<strong>el</strong>os, por este motivo<br />

se ha <strong>el</strong>egido la denominación Rioplatense, que ubica con precisión <strong>el</strong><br />

ámbito en <strong>el</strong> cual se desarrollaron los acontecimientos principales que<br />

conciernen al tango. (Novati, 1980, Parte II, “Advertencia Pr<strong>el</strong>iminar”)<br />

Recentemente, a pesquisadora argentina Ercilia MORENO CHÁ (1999) descreve a<br />

<strong>música</strong> do Cone Sul (Chile, Argentina e Uruguai) através de dois eixos: o andino, que<br />

atravessa a Cordilheira dos Andes, unindo o Chile e a região central <strong>da</strong> Argentina, e o eixo<br />

que atravessa o Rio <strong>da</strong> Prata e liga Montevidéu e Buenos Aires. Carlos VEGA (1986:34) já<br />

diferenciara duas grandes linhas de influência em nív<strong>el</strong> continental – a Pacífica e a<br />

Atlântica, ou a ocidental e a oriental, respectivamente. Na linha Atlântica, partindo <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong>de do México e passando por Havana, Rio de Janeiro e Buenos Aires, é possív<strong>el</strong><br />

identificar uma corrente de diálogo e influências. Moreno Chá retoma esta divisão e situa o<br />

Rio <strong>da</strong> Prata na linha Atlântica destas influências recíprocas. Na proposta <strong>da</strong> autora, o eixo<br />

rioplatense, que une Buenos Aires e Montevidéu, se fun<strong>da</strong>menta também na milonga, uma<br />

forma musical sem<strong>el</strong>hante nos dois países e parte de um substrato que, desde o período<br />

colonial, se estende na costa atlântica <strong>da</strong> América do Sul e o Caribe. Desde o final do<br />

8


século XVIII e até 1850 proliferaram nesta área <strong>da</strong>nças de ressonância continental – como o<br />

Lundu, que se disseminou desde o Rio de Janeiro, e a Danza, conheci<strong>da</strong> mais tarde como<br />

Habanera, que se espraiava desde Cuba. 14<br />

No fim do século XIX existiam vários tipos de milonga que subsistem até hoje em<br />

diferentes graus de prevalência e áreas de dispersão. Uma é especificamente instrumental,<br />

enquanto outra mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de milonga é canta<strong>da</strong>, seja com letra composta (com um<br />

cantor), seja na base do improviso (com dois cantores). Estes três tipos de milonga têm<br />

acompanhamento de guitarra e se definem como uma tradição rural, ain<strong>da</strong> conforme<br />

MORENO CHÁ (1999). Uma quarta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de milonga é a que acompanha uma<br />

<strong>da</strong>nça de casais: surgi<strong>da</strong> nos subúrbios dos principais portos do Rio <strong>da</strong> Prata (Buenos Aires<br />

e Montevidéu), tem vitali<strong>da</strong>de nas zonas urbanas do Uruguai e <strong>da</strong> Argentina e pode ser<br />

associa<strong>da</strong> ao repertório e aos instrumentos do tango. Em outras palavras, muitas <strong>da</strong>s<br />

formações musicais que se dedicam ao tango incluem milongas desse tipo em seu<br />

repertório.<br />

A milonga baila<strong>da</strong> se popularizou em 1890, em bordéis e casas noturnas suburbanas,<br />

onde se mesclou com gêneros europeus como a mazurka e a polka, além <strong>da</strong> habanera<br />

cubana. Estas <strong>da</strong>nças de casal tinham lugar em salões, com características coreográficas (os<br />

“cortes” e as “quebra<strong>da</strong>s”) que mais tarde caracterizariam a milonga e o tango. Entre 1890<br />

e 1910, a milonga baila<strong>da</strong>, a habanera e o tango coexistiram nesses espaços, sem limites<br />

precisos. Teatros e zarzu<strong>el</strong>as (operetas canta<strong>da</strong>s em espanhol) também foram palco para a<br />

milonga baila<strong>da</strong> (SELLES, 2004; SALAS, 2004, PUJOL, 1999). 15<br />

O tango passou a ser considerado um gênero independente por volta de 1900 e<br />

emergiu como produto novo, embora partilhasse com a milonga uma varie<strong>da</strong>de de<br />

<strong>el</strong>ementos ligados a ritmo, estrutura e m<strong>el</strong>odia. Mo<strong>da</strong> em Paris na primeira déca<strong>da</strong> do<br />

século XX, o tango foi a primeira <strong>da</strong>nça ocidental em que casais se abraçavam e se<br />

apertavam – e segue disseminando-se internacionalmente até o presente, como descrito por<br />

SAVIGLIANO (1995) e PELINSKI (2000).<br />

14 Para uma perspectiva brasileira do mesmo fenômeno ver MENEZES BASTOS, 2005.<br />

15 Outro tipo de milonga vigente atualmente é a milonga pampeana, que localmente é considera<strong>da</strong> rural e<br />

‘folclórica’ (exponentes de renome são Atahualpa Yupanqui, <strong>da</strong> Argentina, ou Alfredo Zitarrosa, do Uruguai).<br />

A milonga <strong>da</strong> paya<strong>da</strong> de contrapunto, du<strong>el</strong>o poético, não tem muita vigência como pratica espontânea, sendo<br />

realiza<strong>da</strong> maioritariamente por profissionais. (MORENO CHÁ, 1997, 2000)<br />

9


Simbolicamente, pode-se afirmar que a milonga ocupou lugar privilegiado como<br />

discurso sobre a identi<strong>da</strong>de nacional quando Uruguai e Argentina consoli<strong>da</strong>ram no<br />

imaginário popular a idéia de serem nações modernas frente aos demais países. 16 Até hoje<br />

as práticas musicais são traços que diferenciam uruguaios de argentinos (já que a milonga<br />

pode adotar formas que os nativos distinguem como próprias de ca<strong>da</strong> país) ou diferenciam a<br />

ambos frente ao resto do mundo. Este tópico é importante na pesquisa proposta, que<br />

acompanha a MENEZES BASTOS (1996:158) em sua reflexão sobre a <strong>música</strong> popular,<br />

especialmente quando o autor ressalta a sua importância como matéria de estudo p<strong>el</strong>o fato<br />

de ter se organizado em gêneros, ao mesmo tempo em que se tornou um dos discursos<br />

privilegiados acerca <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des nacionais. No grande concerto internacional em que a<br />

América Latina insere-se como produtora/exportadora de bens culturais que terão<br />

ressonância mundial e influenciarão as tradições do V<strong>el</strong>ho Mundo – especialmente no final<br />

do século XIX –, a <strong>música</strong> popular atuou como um articulador simbólico. Ci<strong>da</strong>des como<br />

Rio de Janeiro e Buenos Aires, na costa atlântica do Continente, produziram boa parte dos<br />

discursos verbomusicais que passaram a representar os respectivos conjuntos nacionais,<br />

especialmente no exterior.<br />

Retomando a breve resenha sobre os estudos (folclórico/antropológicos 17 ) acerca <strong>da</strong><br />

<strong>música</strong> rioplatense, sublinhe-se – ain<strong>da</strong> de acordo com MORENO CHÁ (1999) – que a<br />

milonga logrou subsistir em meios urbanos como o de Montevidéu ou de Buenos Aires<br />

através <strong>da</strong> populari<strong>da</strong>de do tango. Embora muitas vezes sob o disfarce desse gênero, a<br />

milonga engendrou também repertórios contemporâneos de canção popular tanto no<br />

Uruguai quanto na Argentina. Em Buenos Aires, durante os últimos vinte anos, foi<br />

significativa a produção de milongas em forma de canções que não perderam os aires de<br />

16 “This process of increasing nationalism in Argentina and Uruguay [1880-1910] has a bearing on the<br />

symbolic value of gaucho music at that time, as represented in the Pampeana area. Here is why we previously<br />

said that the milonga had had a privileged position, due to this process. Of the entire gaucho repertoire, the<br />

milonga runs a special course, as it is the preferred form of the singers of improvised verse (payadores) who,<br />

though born as a rural phenomenon in both countries, were increasingly approaching the new forms of public<br />

performance emerging in the cities at the beginning of the twentieth century. It is this fact that assured the<br />

survival of the milonga.” (Moreno Chá, 1999: 272)<br />

17 Este estudo procura desenvolver uma perspectiva antropológica tal como é projeta<strong>da</strong> nos centros de pósgraduação<br />

brasileiros. Retomo algumas <strong>el</strong>aborações produzi<strong>da</strong>s desde a antiga folclorística argentina porque<br />

são antecedentes centrais no estudo <strong>da</strong> temática sob discussão. Até a déca<strong>da</strong> de 1980, quando na Argentina<br />

começa a se falar de “antropologia social”, a antropologia tinha se desenvolvido academicamente em três<br />

ramos: arqueologia, etnologia e folclore, entrando nesta última divisão os estudos que, como no caso do<br />

“folclorista” Carlos Vega (1944-1966), já tinham como objeto de pesquisa a <strong>música</strong> popular ou mesomusic.<br />

10


tango, mas que incorporaram igualmente aires de murga e de candombe. 18 As iniciativas<br />

que se apropriam desses gêneros são divulga<strong>da</strong>s nos meios de comunicação como canción<br />

ou <strong>música</strong> rioplatense. Estas expressões contemporâneas, que atualizam enunciados<br />

considerados tradicionais, podem ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s como um discurso emergente. 19 Tal é o<br />

objeto <strong>da</strong> pesquisa proposta. Investir no estudo desta forma <strong>da</strong> canção popular é essencial<br />

porque <strong>el</strong>a retoma antigos padrões sonoros <strong>da</strong> região do Rio <strong>da</strong> Prata, inscrevendo as<br />

realizações contemporâneas num discurso “tradicional” e contribuindo para a discussão que<br />

se desenvolve na antropologia sobre os gêneros musicais. 20<br />

Desde 1990, na capital portenha, artistas populares vêm incorporando em suas<br />

canções, de forma crescente, <strong>el</strong>ementos expressivos <strong>da</strong> murga portenha e <strong>da</strong> murga<br />

uruguaia, que até a pouco se restringiam à esfera do carnaval. 21 Paral<strong>el</strong>amente, registra-se<br />

uma apropriação crecente <strong>da</strong> sonori<strong>da</strong>de candombera afro-uruguaia em obras difundi<strong>da</strong>s<br />

como canção popular urbana ou rock em Buenos Aires. É importante destacar que esta<br />

atualização de gêneros considerados “tradicionais” ocorre, em alguns casos, por meio <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de musical de artistas ligados ao universo do rock local, sendo entendi<strong>da</strong> como um<br />

18 O sustantivo aire ou aires se utiliza no espanhol rioplatense em expressões como “tiene um aire de” ou<br />

“con aires de”, para indicar similitude, mas não mesme<strong>da</strong>de. Utilizo o termo retomando-o <strong>da</strong>s falas nativas<br />

em que os músicos descreviam as suas realizações. Como exemplo posso mencionar o CD do grupo Flor de<br />

Enchastre, com titulo Reina de Cartón, que rotula as canções incluí<strong>da</strong>s na obra como Nuevos Aires<br />

Rioplatenses, para expressar que não se trata de realizações fiéis nos gêneros escolhidos – milonga, murga e<br />

candombe.<br />

19 Na reflexão sobre a <strong>música</strong> rioplatense utilizo conceitos <strong>el</strong>aborados por distintos autores que enfatizam a<br />

importância de ouvir a <strong>música</strong> popular como texto social, isto é como um conjunto de valorações éticoestéticas<br />

que promovem a formação de, e diferenciação entre, grupos sociais. (Frith, 1989; Shepherd, 1991)<br />

20 MENEZES BASTOS (1999) <strong>el</strong>abora uma cartografia <strong>da</strong>s <strong>música</strong>s populares latino-americanas, ressaltando<br />

o fato de que, no contexto moderno dos estados-nações, a <strong>música</strong> popular é um discurso estratégico para a<br />

construção de identi<strong>da</strong>des nacionais, as quais somente podem ser interpreta<strong>da</strong>s levando em consideração o<br />

nív<strong>el</strong> internacional <strong>da</strong>s suas r<strong>el</strong>ações. Tais r<strong>el</strong>ações implicam, entre outras coisas, em influências e distinções<br />

recíprocas, que passaram a articular a organização <strong>da</strong>s sonori<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s <strong>da</strong>nças locais em gêneros<br />

(1996:159). Seguindo a proposta de MENEZES BASTOS (1996), os gêneros musicais podem ser apreendidos<br />

nos termos em que Bakhtin propõe pensar os gêneros do discurso, isto é, como conjuntos de enunciados que<br />

se mostram estáveis em três níveis: de conteúdo temático, de estilo e de formas de composição. Tal como<br />

aponta Bakhtin, os enunciados não acontecem no vazio, mas integram uma cadeia ininterrupta de perguntas e<br />

respostas, têm caráter dialógico e são polifônicos enquanto incorporam em si mesmos uma multiplici<strong>da</strong>de de<br />

<strong>el</strong>ementos que são parte de outros enunciados. Portanto, por definição, os gêneros musicais não possuem<br />

fronteiras rígi<strong>da</strong>s e seus limites sempre estão sujeitos a disputas p<strong>el</strong>o sentido atribuído aos enunciados e aos<br />

gêneros. Os gêneros musicais podem ser pensados como repositórios semânticos que, na sua permanente<br />

redefinição, constituem grupos sociais ao mesmo tempo em que são por <strong>el</strong>es desenvolvidos.<br />

21 Sobre a carnavalização e a adoção de <strong>el</strong>ementos dos universos murguero e candombero no âmbito do rock,<br />

ver, por exemplo, CITRO 2000 –analisando a proposta do grupo Bersuit Vergarabat- ou BENEDETTI 2005,<br />

para o caso de La Renga. Sobre as mu<strong>da</strong>nças no universo do rock argentino na déca<strong>da</strong> de 1990, e suas<br />

aproximações a outros gêneros populares ver VILA, 1999; GARCIA & MARTINEZ, 2001; SEMÁN, VILA<br />

& BENEDETTI, 2004.<br />

11


encontro entre o rock e as tradições locais <strong>da</strong> murga e do candombe. 22 O contato entre esses<br />

diferentes gêneros, no entanto, não é novi<strong>da</strong>de: <strong>el</strong>es nunca foram enti<strong>da</strong>des fecha<strong>da</strong>s e<br />

sempre encontraram espaço de diálogo nas práticas musicais de artistas cujos enunciados<br />

sonoros não se enquadram nos cânones definidores de um ou outro gênero. Daí que a<br />

<strong>música</strong> rioplatense seja um sistema sonoro organizado em gêneros que rev<strong>el</strong>am uma<br />

estabili<strong>da</strong>de dinâmica e entre os quais sempre existiu uma continui<strong>da</strong>de explora<strong>da</strong> de<br />

distintas maneiras em diferentes momentos históricos.<br />

Ao repassar alguns momentos dessa história de diálogos e trocas, nota-se que, no<br />

final do século XIX, muitos cronistas utilizavam, de forma intercambiáv<strong>el</strong>, os termos<br />

candombe e tango ao referirem-se aos bailes de negros (Novati, 1980, Parte I). As<br />

comparsas de carnaval <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong> do século XIX e <strong>da</strong>s primeiras déca<strong>da</strong>s do século<br />

XX foram o espaço através do qual o candombe entrou na moderni<strong>da</strong>de (AYESTARÁN,<br />

1967, 1990; OLIVERA CHIRIMINI & VARESE, 2000). As Comparsas de Negros y<br />

Lubolos e as Socie<strong>da</strong>des Filarmónicas, fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s por negros “criollos” para atuar no<br />

carnaval, no fim do século XIX (ROSSI, 1968:330), aproximaram a sonori<strong>da</strong>de do<br />

candombe de formações instrumentais e arranjos musicais para orquestas que incluiam<br />

tangos, milongas, maxixes e fados nos seus repertorios. Segundo AYESTARÁN (2000:12),<br />

no final do século XIX as Comparsas de Negros y Lubolos cantavam “Habaneras, Marchas,<br />

Polcas, Tangos, Tangos Españoles (provenientes de la zarzu<strong>el</strong>a), Pasodobles etc.; a<br />

princípios de Siglo [XX] se incorporaron Tangos Rioplatenses y, a partir de 1940,<br />

‘Candombes’ – la espécie de <strong>música</strong> crea<strong>da</strong> por Pintín Cast<strong>el</strong>lanos”. 23 Na introdução <strong>da</strong> sua<br />

obra Entre Cortes y Quebra<strong>da</strong>s, de 1948, o próprio Pintín Cast<strong>el</strong>lanos refere à sonori<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> canção rioplatense nestes termos:<br />

22 O fenômeno não é exclusivo <strong>da</strong> região mas registra se, com variantes segundo os casos, em to<strong>da</strong> a América<br />

Latina. (cf. PACCINI HERNANDEZ, FERNANDEZ L’HOESTE & ZOLOV, 2004)<br />

23 De acordo com o uruguaio Lauro Ayestarán o criador <strong>da</strong> milonga candombe foi o uruguaio Pintín<br />

Cast<strong>el</strong>lanos: “Es importante destacar que a más de 50 años de desaparecido <strong>el</strong> candombe [o autor tinha<br />

descrito como candombes as <strong>da</strong>nzas dramáticas dos africanos e seus descendentes, c<strong>el</strong>ebra<strong>da</strong>s nas Salas de<br />

Nación, lembrando ceremonias de coroação dos reis Congo –deixando fora <strong>da</strong> definição expressões<br />

posteriores como as Comparsas de Negros y Lubolos e as Llama<strong>da</strong>s] <strong>el</strong> compositor de musica popular Pintín<br />

Cast<strong>el</strong>lanos, desempolva este nombre (...) y lo aplica a uma espécie crea<strong>da</strong> por él en la déca<strong>da</strong> de 1930-1940<br />

que consiste em amalgamar <strong>el</strong> ritmo de los tamboriles actuales y una suerte de Milonga de <strong>da</strong>nzar. Esta f<strong>el</strong>iz<br />

creación de ‘meso<strong>música</strong>’ fue registra<strong>da</strong> por primera vez en la Asociación de Derechos de Autor d<strong>el</strong> Uruguay<br />

( AGADU) en <strong>el</strong> año 1940.” (1990: 11) Já, para o pesquisador argentino Roberto S<strong>el</strong>les (2004: 57-58), como<br />

para muitos argentinos, os criadores <strong>da</strong> milonga candombe foram os argentinos Sebastián Piana e Homero<br />

Manzi.<br />

12


...esa inmensa montaña histórica que, algún día se ha de narrar con las<br />

ver<strong>da</strong>deras fuerzas que merece la <strong>música</strong> d<strong>el</strong> pueblo, alma m<strong>el</strong>ódica de<br />

la multitud, inquietudes y vibraciones de dos naciones<br />

hermanas...Uruguay! y Argentina! ... satisfacción que experimento de<br />

igual manera cuando interpreto en <strong>el</strong> piano las viejas milongas o tangos<br />

milongones que fueron y seguirán siendo la base d<strong>el</strong> cancionero popular<br />

d<strong>el</strong> <strong>Río</strong> de la Plata. (1948: 6)<br />

No Uruguai, desde a déca<strong>da</strong> de 1930, existe um movimento na canção popular que<br />

acompanhou as milongas com tamboriles de candombe afro-uruguaio, passando a ser<br />

emblemático <strong>da</strong> população afro-uruguaia e uruguaia em geral (AYESTARÁN, 1990). 24<br />

Em Buenos Aires, algumas orquestras de tango dos anos 1940 e 1950 também<br />

aproximaram suas milongas e tangos <strong>da</strong> sonori<strong>da</strong>de candombera 25 – com alguns músicos<br />

propondo, já então, que entre ambas as expressões existia um parentesco anterior à<br />

consoli<strong>da</strong>ção do tango como gênero moderno, tal como enfatizam artistas<br />

contemporâneos. 26 Entretanto, foi apenas na segun<strong>da</strong> metade dos anos 1960 que o<br />

candombe se incorporou de modo definitivo na <strong>música</strong> popular uruguaia, junto com outros<br />

gêneros, especialmente através dos compositores e intérpretes do movimento de canción de<br />

protesta e do emergente candombe-rock. 27<br />

Nas déca<strong>da</strong>s de 1960 e 1970 – ou seja, depois <strong>da</strong> difusão <strong>da</strong> sonori<strong>da</strong>de dos Beatles<br />

em nív<strong>el</strong> internacional – se desenvolveu no Uruguai uma linha experimental de candombe-<br />

24 DAEPCU refere ao candombe-canção como “<strong>el</strong> otro candombe, candombe-pieza musical y ritmo bailable<br />

de este último medio siglo, asumido con orgullo –como cosa propia- por to<strong>da</strong> la socie<strong>da</strong>d nacional.”(2002:<br />

147)<br />

25 As Milongas Negras, de Homero Manzi, são paradigmáticas desta linha de composição e interpretação. (cf.<br />

VILA, 2000: 87 e nota 44.) Ver também PRIORE & AMUCHÁSTEGUI (2003).<br />

26 A partir de 1913 artistas célebres como Roberto Firpo ou Francisco Canaro –emblemas <strong>da</strong> Guardia Vieja-<br />

começaram a escrever as suas series de “Tango-milonga”. Assim passou a se nomear os tangos “para bailar”,<br />

que já se tocavam vinte anos atrás. Segundo Novati (1980) “La nove<strong>da</strong>d estaba en <strong>el</strong> rótulo, pues tangos d<strong>el</strong><br />

mismo estilo existían desde los comienzos de la especie, y en destacar <strong>el</strong> aspecto rítmico de las obras.” A<br />

marca característica <strong>da</strong>s interpretações de tangos antigos p<strong>el</strong>os músicos que se dedicam à canção rioplatense<br />

contemporânea é a inclusão na orquestra de uma seção rítmica importante, que conta com instrumentos que<br />

estão fora dos cânones do gênero tango. (Por exemplo bombo com platillo de murga porteña, tambores chico,<br />

repique e piano, de candombe afro-uruguaio e cajón.)<br />

27 De modo esquemático pode-se resumir o percurso do candombe na sonori<strong>da</strong>de rioplatense seguindo a<br />

periodização de Abril Trigo –que retoma a Ayestarán (1967): “There are at least four stages in the historical<br />

evolution of candombe, each registering the progressive loss of original r<strong>el</strong>igious sources, until the emergence<br />

of candombe- rock. These are (1) the mythical and ritual <strong>da</strong>nces brought by afro-uruguaian slaves; (2) the<br />

choreographic pantomime of the coronation of the Congo king, performed during the Christmas season; (3)<br />

candombe’s assimilation by the end of the nineteenth century into the modern urban carnival; and (4)<br />

candombe’s territorialization of national popular culture, which includes the emergence of candomberock.”(2004:<br />

122)<br />

13


eat que não chegou a abandonar expressões locais como a milonga, mas as atualizou. Los<br />

Shakers – grupo composto por músicos uruguaios que ganhou notorie<strong>da</strong>de em 1964 –<br />

foram uma <strong>da</strong>s primeiras ban<strong>da</strong>s ao estilo beatle (cantavam em inglês) a liderar a cena pop<br />

portenha, na déca<strong>da</strong> de 1960. Vale ressaltar que no último álbum do grupo, “La<br />

conferencia secreta d<strong>el</strong> Toto’s bar”, as canções já se apropriavam de <strong>el</strong>ementos<br />

identificados com a bossa nova e o jazz, além de incluir gêneros associados às tradições<br />

populares locais: tango, candombe e murga. 28 Mateo, um dos cantores mais conhecidos do<br />

Uruguai, incluiu em seus discos de 1972 e de 1984, composições que adotam <strong>el</strong>ementos do<br />

rock, <strong>da</strong> milonga, do tango e do candombe afro-uruguaio (PINTO, 1997). El Kinto<br />

Conjunto, que reunia os uruguaios Eduardo Mateo e a Rubén Ra<strong>da</strong>, foi também<br />

emblemático na combinação de sonori<strong>da</strong>des locais com formas musicais forâneas que<br />

chegaram ao Rio <strong>da</strong> Prata na déca<strong>da</strong> de 1960. Rubén Ra<strong>da</strong> formou mais tarde o grupo<br />

Tótem, considerado o pioneiro do candombe-rock. O candombe, expressão musical ti<strong>da</strong> por<br />

alguns autores como decadente ou em vias de desaparecer – sendo enquadra<strong>da</strong> na categoria<br />

de cultura residual, nos termos de Raymond Williams –, foi resgatado e salvo, segundo os<br />

mesmos especialistas, quando se incorporou ao rock: “After candombe-rock, the local and<br />

the national cultural scenes were transformed forever; the residual was transcultured<br />

through international forms, and new ways of fe<strong>el</strong>ing, experiencing, and making culture<br />

emerged.”(Trigo, 2004: 124) Atualmente o candombe não se expressa tão-somente através<br />

<strong>da</strong> canção, mas nas comparsas de tambores que ensaiam, tocam nas ruas, desfilam e<br />

participam de concursos durante o carnaval. É um fenômeno massivo em Montevidéu 29 e<br />

ocorre também em Buenos Aires. 30<br />

28<br />

Depois de dissolver Los Shakers, os irmãos Hugo e Osvaldo Fattorusso radicam-se nos Estados Unidos. Lá<br />

formam OPA, iniciativa na qual combinavam jazz e candombe. Quando regressam ao Uruguai na déca<strong>da</strong> de<br />

1980 com o retorno <strong>da</strong> democracia, os irmãos Fattorusso foram protagonistas chave na cena <strong>da</strong> canção<br />

popular, tanto em Montevidéu quanto em Buenos Aires.<br />

29<br />

Ver, por exemplo, ALFARO, 1991; AYESTARÁN, 1967, 1990; DAEPCU, 2002; OLIVERA CHIRIMINI<br />

& VARESE, 2000; FERREIRA, 1997.<br />

30<br />

Conforme pesquisei em 2004, em Buenos Aires, o candombe afro-uruguaio se ativou a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de<br />

1980 graças à ativi<strong>da</strong>de de afrouruguaios residentes em Buenos Aires que formaram comparsas/escola. A<br />

partir do trabalho difusor realizado entre 1997 e 1999 p<strong>el</strong>a comparsa Kalakan-Gué, dirigi<strong>da</strong> p<strong>el</strong>o uruguaio<br />

Ang<strong>el</strong> Acosta, surgiram na ci<strong>da</strong>de seis novas comparsas de candombe forma<strong>da</strong>s majoritariamente por jovens<br />

argentinos. Como constatei em campo, em 2006 estão em atvi<strong>da</strong>de seis comparsas na ci<strong>da</strong>de de Buenos Aires,<br />

cuatro em La Plata e duas em Morón. Nestas tres locali<strong>da</strong>des as comparsas diferem entre si em quanto a<br />

tamanho (entre 20 e 60 integrantes aproxima<strong>da</strong>mente) e modos de tocar. As comparsas que vi desfilar e<br />

ensaiar em 2005 e 2006 são a do Movimiento Afrocultural Bonga -coordena<strong>da</strong> por Javier Bonga Martinez-,<br />

KanKalaKan –organiza<strong>da</strong> por Sergio Morán-, Atalakimbamba –organiza<strong>da</strong> por Cesar Castro-, Kimbara –<br />

14


O ano de 1973 marcou o início do último período ditatorial no Uruguai, que se<br />

estenderia até 1985. Se na Argentina a canção popular expressou a oposição à ditadura<br />

(1976-1983), fun<strong>da</strong>mentalmente através do que ficou conhecido localmente como Rock<br />

Nacional, no Uruguai tal pap<strong>el</strong> foi desempenhado p<strong>el</strong>o Canto Popular. O movimento se<br />

caracterizou por discursos verbomusicais que combinaram letras contrárias ao regime<br />

autoritário e à posição periférica e dependente <strong>da</strong> América Latina em r<strong>el</strong>ação ao capitalismo<br />

mundial, adotando expressões sonoras locais como a murga e o candombe na forma de<br />

canção.<br />

Canto popular evolved into an aesthetically heterogeneous, eclectic<br />

movement and an experimental compendium of genres, were diverse<br />

variations of vernacular jazz and rock, rural folklore, tango, candombe<br />

and murga, as w<strong>el</strong>l as atonal music, had a place, always under the aegis<br />

of politically r<strong>el</strong>evant lyrics. (Trigo, 2001:125)<br />

O Canto Popular, em alguma medi<strong>da</strong>, alargou as possibili<strong>da</strong>des de expressão do leit<br />

motiv <strong>da</strong> murga nas suas versões uruguaia e argentina (isto é, a crítica sociopolítica), que<br />

até o final dos anos 1980 restringia suas atuações ao período de carnaval (MARTÍN, 1997,<br />

1997ª, FORNARO, 1998). Foi na déca<strong>da</strong> de 1980 que algumas murgas uruguaias se<br />

profissionalizaram, gravando, vendendo discos e atuando em teatros distintos do tablado do<br />

carnaval durante o ano inteiro (TRIGO, 2004). Na Argentina o movimento tem início na<br />

déca<strong>da</strong> de 1990, devido em parte à organização de talleres de murga em âmbitos<br />

institucionais distintos do bairro, espaço no qual tradicionalmente se transmitia o saber<br />

murguero (ALONSO, 2004; CANALE, 2004, 2005; MOREL, 2003, 2004, 2005; VAINER,<br />

2005). O movimento implica, também, a incorporação de instrumentos <strong>el</strong>etrônicos como a<br />

guitarra e o baixo <strong>el</strong>étrico, tipicamente associados ao rock, de acordeón ou bandoneón<br />

(instrumentos presentes nas antigas Agrupaciones Humorísticas mas não considerados<br />

proprios do gênero murga p<strong>el</strong>os tradiconalistas, que tocam somente bombo con platillo e<br />

silbato, além de cantar), redoblante, zurdo e em alguns casos cencerro na percusão. O<br />

curioso é que alguns aspetos deste afastamento <strong>da</strong>s murgas portenhas <strong>da</strong>quilo que se<br />

dirigi<strong>da</strong> por Guido B<strong>el</strong>fiore-, Kumba Bantu –organiza<strong>da</strong> por Cocoa- e Lonjas de San T<strong>el</strong>mo, dirigi<strong>da</strong> por<br />

Claudio ‘Artigas’ Martiarena. Em La Plata: as comparsas La Cuer<strong>da</strong>, Tambores Tintos, Lonjas 932 e La<br />

Minga. Em Morón: Ualofinna, organiza<strong>da</strong> por Leonardo ‘P<strong>el</strong>ado’ Puchetta y Pam<strong>el</strong>a Utón, e a do Taller<br />

Municipal de Candombe, Chaguoro, dirigi<strong>da</strong> por Facundo Ferreira, Héctor Correa y Cecilia Benavídez .<br />

15


considerava serem seus parâmetros tradicionais 31 é descrito por murgueros locais como<br />

sendo uma “uruguayización” – clara alusão ao fato de verem incorporados modos de fazer<br />

típicos <strong>da</strong> murga uruguaia, como arranjos de vozes, inclusão de redoblante, performances<br />

mais teatraliza<strong>da</strong>s, a forma <strong>da</strong>s pinturas faciais etc. Uma hipótese é de que tal movimento<br />

decorra, em alguma medi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> influência <strong>da</strong>s murgas uruguaias que atuam o ano inteiro e<br />

que encontram em Buenos Aires um mercado e um importantíssimo circuito de atuação. A<br />

proposta é a de descobrir, pesquisando entre os artistas portenhos, em que medi<strong>da</strong> suas<br />

práticas musicais se modificaram a partir <strong>da</strong> presença crescente de uruguaios com os quais<br />

já trabalharam em gravações ou espetáculos – seja dos que migraram para Buenos Aires nas<br />

déca<strong>da</strong>s de 1970 e 1980, seja dos que visitam freqüentemente a capital argentina para<br />

desenvolver seu trabalho artístico.<br />

Os recitados no sistema sonoro rioplatense<br />

Na interpretação de MORENO CHÁ (1999), foi através <strong>da</strong> paya<strong>da</strong> que a milonga<br />

contribuiu para manter vivo, na região do Rio <strong>da</strong> Prata, o canto baseado na improvisação<br />

poética e disseminado por to<strong>da</strong> a América Latina. No trabalho de campo, foram freqüentes<br />

os recitados, ora como segmentos <strong>da</strong>s canções contemporâneas, ora como parte <strong>da</strong>s<br />

atuações, ora na fala dos artistas, como parte de seu discurso, nas ocasiões em que falaram<br />

de suas experiências e de sua arte. Paya<strong>da</strong> e recitado não são sinônimos: na região do Rio<br />

<strong>da</strong> Prata, a paya<strong>da</strong> envolve dois cantores acompanhados de guitarra e que, alterna<strong>da</strong>mente,<br />

improvisam versos na forma de um du<strong>el</strong>o poético. 32 Já os recitados contemporâneos nem<br />

sempre são improvisações, mas retomam o estilo payadoril na entonação, que não é de fala<br />

nem de canto, mas uma forma intermediária entre ambas. Em gêneros como o tango, a<br />

31 Para uma descrição <strong>da</strong> murga portenha tradicional como gênero artístico, conforme a definição de Bakhtin –<br />

isto é, com estabili<strong>da</strong>de de forma, estilo e temáticas-, ver CANALE, 2005.<br />

32 Não estou incluindo as práticas musicais dos payadores no meu estudo por mais que seja um gênero<br />

constituído em base ao permanente diálogo de uruguaios e argentinos e que seja, sem duvi<strong>da</strong>, reconhecido<br />

como rioplatense. Como documenta Moreno Chá (1997, 2000), desde finais do Século XIX e com a<br />

proliferação de circos criollos nas zonas suburbanas de Buenos Aires –espaço que contava entre seus números<br />

a atuação de cantores- a ativi<strong>da</strong>de dos payadores profissionais se desenvolve de modo crescente em espaços<br />

urbanos. No obstante, ate a atuali<strong>da</strong>de os payadores projetam uma imagem de si mesmos que os associa à<br />

vi<strong>da</strong> rural. Meu estudo se concentrará em práticas musicais concebi<strong>da</strong>s como canção urbana –ou <strong>música</strong><br />

ciu<strong>da</strong><strong>da</strong>na- e não folclórica ; os palcos do circuito em que se desenvolvem as atuações, por mais que admitam<br />

expressões de distintos gêneros, não são palco para payadores.<br />

16


murga ou o candombe-canção, o recitado é <strong>el</strong>emento comum. “Recitado” ou “glosa” é o<br />

termo com que os “nativos” – tanto artistas como o público – se referem a uma secção do<br />

fluxo de discurso sonoro que se distingue do resto <strong>da</strong>s peças. Durante o recitado, uma voz<br />

se destaca dramaticamente de entre os instrumentos para enfatizar uma mensagem verbal,<br />

<strong>da</strong> mesma forma que em outros momentos os arranjos instrumentais concentram a função<br />

comunicativa no dueto letra-<strong>música</strong> que caracteriza a canção. Um contributo importante <strong>da</strong><br />

pesquisa em t<strong>el</strong>a pode resultar <strong>da</strong> interpretação dos recitados como expressão que perpassa<br />

os limites entre os gêneros constituintes do universo <strong>da</strong> canção rioplatense (milonga, tango,<br />

candombe e murga). Interessa in<strong>da</strong>gar acerca desta recorrência dos recitados, que, embora<br />

apareçam na canção popular de muitos países latino-americanos, podem ser reconhecidos<br />

na região do Rio <strong>da</strong> Prata por meio <strong>da</strong>s narrativas dos músicos sobre como chegaram a<br />

fazer a <strong>música</strong> que fazem atualmente. Uma espécie de fio que, formando uma rede, une as<br />

formas de canção contemporânea com a ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>qu<strong>el</strong>es payadores que, desde o século<br />

XIX, mantiveram em contato os habitantes <strong>da</strong> região. Os cantores de tango se apropriaram<br />

desse modo de discurso verbomusical e através d<strong>el</strong>es o recitado passou a integrar a<br />

paisagem sonora <strong>da</strong> canção rioplatense.<br />

O lunfardo no sistema sonoro rioplatense<br />

A canção popular urbana no Rio <strong>da</strong> Prata tem sido uma fonte inesgotáv<strong>el</strong> de<br />

re<strong>el</strong>aborações do léxico <strong>da</strong> fala coloquial <strong>da</strong> região. Desde o surgimento e a popularização<br />

do tango e do lunfardo até a recente disseminação de gêneros como o rock, a cumbia e os<br />

“neolunfardos” (CONDE, 2004), assim como dos “tangueces e lunfardismos”<br />

(GOBELLO & OLIVERI, 2001, 2003) que os acompanham, canção e fala popular se têm<br />

nutrido reciprocamente de sua poética. O lunfardo é um modo de falar vigente na Argentina<br />

(especialmente em Buenos Aires) e no Uruguai, diferente do espanhol geralmente utilizado<br />

em situações formais e distinto do prescrito p<strong>el</strong>a Real Academia Española. O lunfardo já<br />

foi caracterizado como a fala dos d<strong>el</strong>inqüentes, já que o termo lunfa, de onde se origina<br />

lunfardo, significa “ladrão”. Na atuali<strong>da</strong>de, to<strong>da</strong>via, o lunfardo se expressa na fala e na<br />

criação poética, oral ou escrita, de pessoas comuns, independente de profissão ou classe<br />

social. OSCAR CONDE (2004: 13) definiu o lunfardo como<br />

17


la expresión d<strong>el</strong> habla coloquial rioplatense, es decir que se trata de un<br />

conjunto de vocablos y expresiones no considerados en <strong>el</strong> terreno<br />

académico, i. e., no registrados en los diccionarios d<strong>el</strong> español corriente,<br />

que desde ya no constituye de por sí una lengua o idioma, pues su flexión<br />

y su sintaxis se corresponden con las d<strong>el</strong> español.<br />

O lunfardo é considerado um vocabulário regional, “es <strong>el</strong> habla popular de la región<br />

comprendi<strong>da</strong> entre Buenos Aires, Montevideo y Rosario”, isto é, o espaço imaginado como<br />

a região do Rio <strong>da</strong> Prata, excluindo modismos de outras provincias argentinas. José<br />

GOBELLO (1989: 15-16) oferece outra definição, que enfatiza as influências exógenas na<br />

formação deste vocabulário rioplatense:<br />

…repertorio léxico que ha pasado al habla coloquial de Buenos<br />

Aires y otras ciu<strong>da</strong>des argentinas y uruguayas, forma con vocablo<br />

dialectales o jergales llevados por la inmigración, de los que unos<br />

fueron difundidos por <strong>el</strong> teatro, <strong>el</strong> tango y la literatura popular, en<br />

tanto que otros permanecieron en los hogares de los inmigrantes, y<br />

a los que deben agregarse voces aborígenes y portuguesas que se<br />

encontraban ya en <strong>el</strong> habla coloquial de Buenos Aires y su<br />

campaña, algunos términos argóticos llevados por <strong>el</strong> proxenetismo<br />

francés; los d<strong>el</strong> español popular y d<strong>el</strong> caló llevados por <strong>el</strong> género<br />

chico español, y los de creación local.<br />

Nesta definição, o lunfardo aparece basicamente como um repertório de termos imigrados,<br />

distinguindo-se de outras falas populares do mundo e cria<strong>da</strong>s às margens <strong>da</strong> língua geral<br />

mas compostas por termos pertencentes à mesma língua: a gíria brasileira, o gergo italiano,<br />

o argot francês, o cant britânico, o slang norte-americano, o rotw<strong>el</strong>sch alemão e o caló<br />

espanhol. Como aponta Conde, ao se enfatizar o influxo de termos estrangeiros corre-se o<br />

risco de considerar o lunfardo como um fenômeno do passado, “cong<strong>el</strong>ado” após a grande<br />

imigração ultramarina de 1880 a 1920. Desse ponto de vista, as expressões surgi<strong>da</strong>s<br />

posteriormente seriam pseudo-lunfardismos e menos autênticas, portanto, que as antigas.<br />

Tal separação entre o “lunfardo” e o “neo-lunfardo”, como observa CONDE (2004:14), é<br />

arbitrária e não permite dimensionar, em sua justa medi<strong>da</strong>, o modo contemporâneo como<br />

Buenos Aires e Montevidéu criam vocabulários que se distinguem <strong>da</strong> fala geral. Podem ser<br />

reconhecidos como “lunfardismos” termos utilizados de modo geral e que não aparecem no<br />

Diccionario de la Real Academia Española (DRAE) ou aparecem precedidos de<br />

observações como “Argent. y Ur.” (Argentina e Uruguai) ou “R. de la Plata” (Rio <strong>da</strong><br />

Prata). É comum as novas gerações mergulharem no lunfardo mais antigo e popularizarem<br />

18


termos em desuso, como também que se difun<strong>da</strong>m amplamente novos termos. Assim,<br />

através dos meios de expressão <strong>da</strong> poética popular – como o rock, a cumbia, a murga, e<br />

outros gêneros de canção – muitas palavras antigas se revitalizam. É importante considerar<br />

este aspecto <strong>da</strong> produção musical nas canções populares, já que os termos s<strong>el</strong>ecionados para<br />

construir o par <strong>música</strong>-letra r<strong>el</strong>acionam-se com formas de entender o mundo, preferências<br />

estéticas e valores a <strong>el</strong>as associados. “Las formas de nombrar son formas de entender <strong>el</strong><br />

entorno, de conocer, de pensar. Las categorías lingüísticas son categorías d<strong>el</strong> pensamiento y<br />

un vocabulario es sin du<strong>da</strong> un rasgo identitario determinante.” (CONDE 2004: 48) A<br />

“cultura do rock” e a estética “villera” podem ser concebidos como novos “provedores” na<br />

renovação do lunfardo (GOBELLO & OLIVIERI, 2001, 2003). Se, como geralmente<br />

aceito, o lunfardo se infiltrou no modo de falar rioplatense através do tango, pode-se pensar<br />

sua renovação através <strong>da</strong> contribuição de outros gêneros de canção popular. Para CONDE<br />

(2004:48), “las hablas populares surgen con la premisa de jugar con las palabras. Lo lúdico<br />

y lo transgesor están en la esencia d<strong>el</strong> lunfardo. Incluso cuando una palabra lunfar<strong>da</strong> se<br />

institucionaliza su<strong>el</strong>e ser transgredi<strong>da</strong>”. O lunfardo é um vocabulário que contribui para a<br />

criação e expressão de um “ethos” e de uma visão de mundo, ao mesmo tempo em que<br />

exprime o caráter performativo <strong>da</strong> linguagem, ao separar os que o entendem e têm a<br />

competência necessária para incluí-lo em suas poéticas, <strong>da</strong>qu<strong>el</strong>es que não o fazem.<br />

Portanto, outra abertura <strong>da</strong> pesquisa proposta seria a de examinar os temas <strong>da</strong>s canções e a<br />

poética <strong>el</strong>abora<strong>da</strong> para construir tais temas. Identificando o lunfardo nas letras do<br />

cancioneiro rioplatense contemporâneo, se contribuirá para fazer conhecer as formas<br />

renova<strong>da</strong>s de utilização desse léxico, que é muitas vezes considerado como pertencente ao<br />

passado.<br />

Objetivo geral <strong>da</strong> pesquisa<br />

Realizar um estudo <strong>etnográfico</strong> <strong>da</strong>s práticas de artistas que, na ci<strong>da</strong>de de Buenos<br />

Aires, desenvolvem o que localmente se conhece como <strong>música</strong> rioplatense. O que significa<br />

dizer que compõem, interpretam e apropriam-se de gêneros como a milonga, o tango, a<br />

murga e o candombe – todos parte do acervo musical produzido desde o final do século<br />

XIX e início do século XX na ci<strong>da</strong>de de Buenos Aires e na região do Rio <strong>da</strong> Prata.<br />

19


Objetivos específicos <strong>da</strong> pesquisa<br />

São objetivos específicos desta pesquisa:<br />

• conhecer os sentidos atribuídos a certas formações instrumentais, a determinados<br />

arranjos sonoros e aos repertórios escolhidos, em r<strong>el</strong>ação à história <strong>da</strong> <strong>música</strong> popular local;<br />

Buenos Aires;<br />

• investigar a influência de artistas uruguaios na cena <strong>da</strong> canção rioplatense de<br />

• descrever a constituição de um sistema de veiculação <strong>da</strong> <strong>música</strong> rioplatense<br />

(gravadoras, editoras, rádios e revistas) e mapear a formação de um circuito de atuações;<br />

• in<strong>da</strong>gar nas características dos recitados como estilo de enunciado verbomusical<br />

que perpassa as fronteiras entre os gêneros sob estudo, como também as temáticas<br />

reproduzi<strong>da</strong>s em canções e recitados, e a poética utiliza<strong>da</strong> para fazê-lo.<br />

Hipóteses de trabalho<br />

Uma <strong>da</strong>s hipóteses-guias desta proposta de pesquisa é a de que gêneros como a<br />

milonga, o tango, o candombe e a murga, em suas expressões rioplatenses, podem ser<br />

pensados como constitutivos de um sistema sonoro dentro do qual os limites entre as<br />

formas musicais que o instituem se redefinem em distintos momentos históricos. O diálogo<br />

entre modos de fazer típicos de gêneros constitutivos do sistema sonoro rioplatense,<br />

entretanto, são um fenômeno antigo e paral<strong>el</strong>o – isto é, não-contraditório – ao processo de<br />

definição de gêneros artísticos distintos. A ter razão MENEZES BASTOS (1999) quando<br />

afirma que os gêneros <strong>da</strong> <strong>música</strong> popular têm limites móveis por definição, algumas<br />

expressões contemporâneas que reúnem modos de fazer de gêneros distintos podem ser<br />

considera<strong>da</strong>s parte dessa história de transformações. Portanto, as iniciativas artísticas que,<br />

d<strong>el</strong>ibera<strong>da</strong>mente ou não, se apropriam de formas expressivas próprias de diferentes gêneros,<br />

não necessariamente implicam deformação de formas autênticas. Tal sistema sonoro pode<br />

ser pensado como um sistema de transformações em permanente movimento.<br />

Metodologia<br />

20


Numa primeira etapa de trabalho de campo, desenvolvi<strong>da</strong> nos meses de agosto a<br />

dezembro de 2005, foi realiza<strong>da</strong> uma aproximação em r<strong>el</strong>ação ao universo descrito acima,<br />

em que se começou a mapear o circuito portenho de espaços em que os artistas aqui<br />

referidos ensaiam e atuam (teatros, bares, centros culturais, peñas, praças etc.). Tal circuito<br />

é, em alguma medi<strong>da</strong>, objeto de dois meios de comunicação: a Agen<strong>da</strong> Murguera,<br />

distribuí<strong>da</strong> semanalmente via correio <strong>el</strong>etrônico e programa<strong>da</strong> p<strong>el</strong>o murguero Diego<br />

Robacio, e a coluna Rioplatenses, Vienen Sonando, do Diário Popular, também semanal e<br />

redigi<strong>da</strong> p<strong>el</strong>o jornalista Pablo Vázquez.<br />

Foi realiza<strong>da</strong> uma série de entrevistas exploratórias semidireciona<strong>da</strong>s com músicos<br />

integrantes <strong>da</strong> Organización de Músicos Independientes Rioplatenses e/ou cujos trabalhos<br />

são divulgados na Agen<strong>da</strong>, no Diário Popular e em outros espaços como canção ou <strong>música</strong><br />

rioplatense. O objetivo <strong>da</strong>s entrevistas foi o de permitir que os artistas r<strong>el</strong>atassem como<br />

chegaram a tocar o que tocam hoje. Suas narrativas compuseram uma história que inclui<br />

tanto o nív<strong>el</strong> pessoal quanto o coletivo e onde fatos e personagens se entrecruzam<br />

constantemente. Através dessas falas foi possív<strong>el</strong> articular algumas formulações sobre os<br />

sentidos <strong>da</strong> expressão <strong>música</strong> rioplatense, as disputas que atravessam seu universo e a<br />

história dos gêneros e de suas r<strong>el</strong>ações.<br />

No trabalho de campo a ser desenvolvido em 2006 na ci<strong>da</strong>de de Buenos Aires, junto<br />

à comuni<strong>da</strong>de de músicos e ouvintes ligados à <strong>música</strong> rioplatense, pretende-se investir na<br />

recapitulação dessas narrativas, de modo a descrever uma memória acerca dessa <strong>música</strong>, tal<br />

como é formula<strong>da</strong> por artistas contemporâneos. Nesse sentido, os discursos coletados e<br />

examinados serão proferidos por sujeitos concretos e em contextos específicos – o que<br />

obrigará a uma descrição sobre quem são esses sujeitos e com quem <strong>el</strong>es dialogam,<br />

concor<strong>da</strong>ndo ou discor<strong>da</strong>ndo, no campo mais amplo <strong>da</strong> <strong>música</strong> popular local. Um campo<br />

em que esses artistas disputam espaço e tentam legitimá-lo diante de discursos<br />

hegemônicos sobre o contexto musical nacional e/ou popular.<br />

A formação de um arquivo com tais narrativas de trajetórias pessoais e grupais será<br />

acompanha<strong>da</strong> de outras tarefas no campo. Ao assistir a diferentes espetáculos, se buscará<br />

conhecer os recursos cênicos e sonoros com o propósito de <strong>el</strong>aborar descrições sistemáticas<br />

<strong>da</strong>s performances, especialmente no tocante às formações instrumentais, aos sentidos<br />

21


associados a suas sonori<strong>da</strong>des e aos repertórios escolhidos. Também será constituído um<br />

arquivo com o material gravado, já que a maioria destes artistas conta com uma ou várias<br />

obras edita<strong>da</strong>s em CDs ou LPs. O material jornalístico publicado no período do trabalho de<br />

campo ou acessív<strong>el</strong> em hemerotecas também será consultado para aju<strong>da</strong>r na composição<br />

dos diversos sentidos com que é enunciado este universo musical. Da mesma forma se<br />

acompanhará os artistas – <strong>el</strong>es mesmos, muitas vezes, parte do público – em espetáculos,<br />

ensaios e eventos diversos.<br />

Cronograma<br />

2005<br />

Pré-Campo e<br />

Levantamento<br />

Bibliográfico<br />

2006<br />

Organização do material<br />

e <strong>el</strong>aboração do projeto<br />

definitivo<br />

Defesa do Projeto<br />

Trabalho de Campo em<br />

Buenos Aires<br />

Organização e Análise<br />

do material de campo<br />

2007<br />

Re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Tese<br />

2008<br />

Jan<br />

Jan<br />

Jan<br />

Jan<br />

Fev<br />

Fev<br />

Fev<br />

Fev<br />

Mar<br />

Mar<br />

Mar<br />

Mar<br />

Avr<br />

Avr<br />

Avr<br />

Avr<br />

Mai<br />

Mai<br />

Mai<br />

Mai<br />

Jun<br />

Jun<br />

Jun<br />

Jun<br />

Jul<br />

Jul<br />

Jul<br />

Jul<br />

Ago<br />

Ago<br />

Ago<br />

Ago<br />

Set<br />

Set<br />

Set<br />

Set<br />

Out<br />

Out<br />

Out<br />

Out<br />

Nov<br />

Nov<br />

Nov<br />

Nov<br />

Dez<br />

Dez<br />

Dez<br />

Dez<br />

22


Revisão do Texto<br />

Defesa <strong>da</strong> Tese<br />

Bibliografia<br />

AHARONIÁN, Coriún. 2000. Conversaciones sobre <strong>música</strong>, cultura e identi<strong>da</strong>d.<br />

Montevideo: Tacuabé.<br />

ALFARO, Milita. 1987. Jaime Roos: El sonido de la calle. Montevideo: Trilce.<br />

______________. 1991. Carnaval. Una historia social de Montevideo desde la perspectiva<br />

de la fiesta. Segun<strong>da</strong> Parte: Carnaval y Modernización. Impulso y freno d<strong>el</strong><br />

disciplinamiento (1873-1904). Montevideo: Trilce.<br />

ALONSO, Tamara. 2004. “Políticas culturales locales, re<strong>el</strong>aboración de tradiciones y<br />

diálogo entre géneros populares”. Trabajo presentado en <strong>el</strong> Simposio Políticas Culturales y<br />

Gestión de la identi<strong>da</strong>d y la memoria. VII Congreso Argentino de Antropología Social Villa<br />

Giardino, Córdoba, 25 al 28 de mayo de 2004. [Atas em CD Rom]<br />

ALTAMIRANO, Carlos. 2002. “Campo int<strong>el</strong>ectual”. IN: ALTAMIRANO, Carlos, (dir.).<br />

2002. Términos críticos de sociologia de la cultura. Buenos Aires: Paidós.<br />

ARETZ, Isab<strong>el</strong>. 1977. “Música y Danza. (America Latina Continental, excepto Brasil)”<br />

em Moreno Fraginals, Manu<strong>el</strong> (r<strong>el</strong>). Africa en América Latina. Mexico: UNESCO- Siglo<br />

XXI Eds.<br />

ASSUNÇÃO, Fernando O. 1984. El tango y sus circunstancias. 1880-1920. Buenos Aires:<br />

El Ateneo.<br />

AYESTARÁN, Lauro. 1967. El folklore musical uruguayo. Montevideo: Arca.<br />

______________, Flor de María Rodríguez de AYESTARÁN & Alejandro AYESTARÁN<br />

1990. El Tamboril y la Comparsa. Montevideo: Arca.<br />

23


BENEDETTI, Cecilia. 2005. “El rock nacional en los 90. El caso de La Renga.”em<br />

MARTÍN, Alicia (comp.) Folclore en las grandes ciu<strong>da</strong>des. Arte popular, identi<strong>da</strong>d y<br />

cultura. Buenos Aires: Libros d<strong>el</strong> Zorzal.<br />

BETANCUR, Arturo, BORUCKI, Alex & Ana, FREGA (comps.). 2005. Estudios sobre la<br />

cultura afro-rioplatense. Historia y presente. Montevideo: Departamento de Publicaciones.<br />

Facultad de Humani<strong>da</strong>des y Ciencias de la educación.<br />

BLACHE, Marta. 2002. “Folklore y nacionalismo en la Argentina: su vinculación de origen<br />

y su desvinculación actual.” IN GUBER, Rosana & Sergio VISACOVSKY (comps.)<br />

Historia y Estilos de trabajo de campo en Argentina. Buenos Aires: Antropofagia.<br />

BLACKING, John. 1995. Music, Culture and Experience: s<strong>el</strong>ected papers of John<br />

Blacking. Edited by Reginald Byron. Chicago: University of Chicago Press.<br />

BOURDIEU, Pierre. 1972. “Campo int<strong>el</strong>ectual y proyecto creador.” IN: POUILLON, Jean<br />

y otros. 1972. Problemas d<strong>el</strong> estructuralismo. Mexico: Siglo XXI.<br />

______________. 1987. Cosas Dichas. Barc<strong>el</strong>ona: Gedisa.<br />

______________. 1989. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.<br />

CANALE, Analía. 2004. “Políticas culturales y murgas porteñas. In<strong>da</strong>gando sobre sus<br />

r<strong>el</strong>aciones”. Trabajo presentado en <strong>el</strong> Simposio Políticas Culturales y Gestión de la<br />

identi<strong>da</strong>d y la memoria. VII Congreso Argentino de Antropología Social Villa Giardino,<br />

Córdoba, 25 al 28 de mayo de 2004. [Atas em CD Rom]<br />

______________. 2005. “La murga porteña como género artístico.” em MARTÍN, Alicia<br />

(comp.) Folclore en las grandes ciu<strong>da</strong>des. Arte popular, identi<strong>da</strong>d y cultura. Buenos Aires:<br />

Libros d<strong>el</strong> Zorzal.<br />

CARNEIRO DA CUNHA, Manu<strong>el</strong>a. 1987. Antropologia do Brasil. Mito. História.<br />

Etnici<strong>da</strong>de. São Paulo: Brasiliense.<br />

CASTELLANOS, Pintín. 1948. Entre cortes y quebra<strong>da</strong>s. Candombes, milongas y tangos<br />

en su historia y comentario. Montevideo.<br />

CITRO, Silvia. 2000. “Estéticas d<strong>el</strong> rock en Buenos Aires. Carnvalización, futbol y<br />

antimenemismo.” Em LUCAS, M.E. & R.J. de MENEZES BASTOS (Orgs.) 2000.<br />

Pesquisas recentes em <strong>Estudo</strong>s musicais no Mercosul. Porto Alegre: Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

de Rio Grande do Sul.<br />

CONDE, Oscar. 2004. Diccionario etimológico d<strong>el</strong> lunfardo. Buenos Aires: Taurus.<br />

______________. 2003. Poéticas d<strong>el</strong> Tango (Comp). Buenos Aires: Marc<strong>el</strong>o Hector<br />

Oliveri Editor.<br />

24


DAECPU (Directores Asociados de Espectáculos Carnavaleros y Populares d<strong>el</strong> Uruguay).<br />

2002. 50 años de DAECPU. Montevideo: El Hacha.<br />

DE MARSILIO, Horacio. 1969. El lenguaje de los uruguayos. Montevideo: Nuestra Tierra.<br />

DOMÍNGUEZ M. E. 2004. “O Afro entre os imigrantes em Buenos Aires. Reflexões sobre<br />

as diferenças.” Dissertação de Mestrado. PPGAS-<strong>UFSC</strong>.<br />

DONAS Ernesto & Denise MILSTEIN. 2002. “Producción artística, mediación y cambio<br />

social: reflexiones sobre la canción popular montevideana (1962-1999)”. Atas do IV<br />

Congresso Latinoamericano <strong>da</strong> Associação Internacional para o estudo <strong>da</strong> <strong>música</strong> popular.<br />

(México 2002). Consultado em www.hist.puc.cl/historia/iaspmla em 15 de outubro de<br />

2005.<br />

______________.2003. Cantando la ciu<strong>da</strong>d. Lenguajes, imaginarios y mediaciones en la<br />

canción popular montevideana (1962-1999). Montevideo: Nor<strong>da</strong>n-Comuni<strong>da</strong>d.<br />

DURÁN, Domingo. 2005. “La influencia de Astor Piazzolla en los intérpretes y<br />

compositores uruguayos”. Tanguedia. Revista cultural de tango. Ano II, Num. 2, 2005, pp.<br />

9-13.<br />

FERREIRA, Luis. 1997. Los tambores d<strong>el</strong> candombe. Montevideo: Colihue-Sepé.<br />

FORNARO, Marita. 1998. “‘Los cantos inmigrantes se mezclaron’. La murga uruguaya,<br />

encuentro de orígenes y lenguajes.” Antropología. Revista de pensamiento antropológico y<br />

estudios <strong>etnográfico</strong>s. Marzo 1999, num.15-16, pp. 139-170.<br />

FRITH, Simon. 1989. “Towards an aesthetic of popular music” em LEPPERT, Richard ,Mc<br />

CLARY, Susan (Eds) 1989 Music and Society: the politics of composition, performance<br />

and reception. Cambridge:Cambridge University Press.<br />

GARCÍA, M.A. & MARTÍNEZ, C. 2001. “Acerca de los límites d<strong>el</strong> rock argentino”.<br />

Revista Argentina de Musicología. Num. 2-2001, pp. 65-78.<br />

GOBELLO, José. 1989. El lunfardo. Buenos Aires: Academia porteña d<strong>el</strong> lunfardo.<br />

GOBELLO José & Marc<strong>el</strong>o H. OLIVERI. 2001. Tangueces y lunfardismos d<strong>el</strong> rock<br />

argentino. Buenos Aires: Corregidor.<br />

______________. 2003. Tangueces y lunfardismos de la cumbia villera. Buenos Aires:<br />

Corregidor.<br />

GUARNIERI, Juan Carlos. 1978. El lenguaje rioplatense. Montevideo: Ediciones de la<br />

Ban<strong>da</strong> Oriental.<br />

JOCHIN REICHEL H<strong>el</strong>oisa & Le<strong>da</strong> GUTFREIND. 1996. As raízes históricas do<br />

Mercosul: a região platina colonial. São Leopoldo: Unisinos.<br />

25


LEWIS Marvin A. 1983. Afro-hispanic poetry, 1940-1980. From Slavery to Negritud in<br />

South American Verse. Columbia: University of Missoury Press.<br />

______________. 1996. Afro-Argentine Discourse. Another dimension of the black<br />

diaspora. Columbia: University of Missoury Press.<br />

LOPEZ, Laura. 2002. Candombe y Negritud en Buenos Aires. Una aproximación a través<br />

d<strong>el</strong> Folclore. Tesis de Licenciatura en Ciencias Antropológicas. Departamento de<br />

Antropologia. Facultad de Filosofía y Letras. Universi<strong>da</strong>d de Buenos Aires.<br />

LUNA, Félix. 1982. Buenos Aires y <strong>el</strong> país.Buenos Aires: Editorial Su<strong>da</strong>mericana.<br />

MAGNANI, José Guilherme Cantor. 1996. “Quando o campo é a ci<strong>da</strong>de. Fazendo<br />

antropologia na metrópole”. IN: MAGNANI, José Guilherme Cantor, Lilian de Luca Torres<br />

(orgs.), 1996, Na Metrópole. Textos de Antropologia Urbana. São Paulo: Editora <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de São Paulo/ Fapesp.<br />

MARTÍN, Alicia. 1997. Fiesta en la calle. Carnaval, murgas e identi<strong>da</strong>d en <strong>el</strong> folclore de<br />

Buenos Aires. Buenos Aires: Colihue.<br />

______________. 1997a. Tiempo de mascara<strong>da</strong>. La fiesta d<strong>el</strong> carnaval en Buenos Aires.<br />

Buenos Aires: Instituto Nacional de Antropologia y Pensamiento Latinoamericano.<br />

MENEZES BASTOS Rafa<strong>el</strong> José de 1995. “Esboço de uma teoria <strong>da</strong> <strong>música</strong>: para além de<br />

uma antropologia sem <strong>música</strong> e de uma musicologia sem homem.” Anuário Antropológico.<br />

1993: 9-73.<br />

______________. 1996. “A origem do samba como invenção do Brasil (porque as canções<br />

têm <strong>música</strong>?)”, Revista Brasileira de Ciencias Sociais, 31: 156-177.<br />

______________.1999. “Músicas latinoamericanas hoje: musicali<strong>da</strong>des e novas fronteiras”,<br />

em Rodrigo TORRES, (ed.) Música Popular em America Latina, Actas d<strong>el</strong> II Congreso<br />

Latinoamericano de la Asociación Internacional para <strong>el</strong> Estudio de la Música Popular.<br />

Santiago de Chile: Fon<strong>da</strong>rt.<br />

______________. 2005. “Brazilian Popular Music. An Anthropological Introduction.” In<br />

SHEPHERD, John, et. alli. (Ed), International Encyclopedia of the Popular Music of the<br />

World. Vol. II. London: Mans<strong>el</strong>l Publishing Ltd.<br />

MIDDLETON, Richard. 1990. Studying Popular Music. Buckingham: Open University<br />

Press.<br />

MOORE, Henrietta. 2000. “Anthropological theory at the turn of the century”.<br />

Anthropological Theory To<strong>da</strong>y. Cambridge: Polity Press.<br />

26


MOREL, Hernán. 2003. “Fiestas de carnaval en la ciu<strong>da</strong>d de Buenos Aires.” EN: Comisión<br />

para la preservación d<strong>el</strong> patrimonio histórico cultura de la ciu<strong>da</strong>d de Buenos Aires. Nº 7 .<br />

Temas de Patrimonio, El espacio cultural de los mitos, ritos, leyen<strong>da</strong>s, c<strong>el</strong>ebraciones y<br />

devociones. Buenos Aires, 2003.<br />

______________.2004. “Murgas y patrimonio en <strong>el</strong> carnaval de Buenos Aires”. Trabajo<br />

presentado en <strong>el</strong> Simposio Políticas Culturales y Gestión de la identi<strong>da</strong>d y la memoria. VII<br />

Congreso Argentino de Antropología Social, Córdoba, 25 al 28 de mayo de 2004.<br />

______________.2005. “Identi<strong>da</strong>d, poder y tradición entre las murgas de la ciu<strong>da</strong>d de<br />

Buenos Aires.” em MARTÍN, Alicia (comp.) Folclore en las grandes ciu<strong>da</strong>des. Arte<br />

popular, identi<strong>da</strong>d y cultura. Buenos Aires: Libros d<strong>el</strong> Zorzal.<br />

MORENO CHÁ, Ercilia. 1997. “Por los caminos d<strong>el</strong> payador profesional actual”. Revista<br />

de Investigaciones Folclóricas. Buenos Aires. Vol 12: 103-111.<br />

______________. 1999. “Music in the southern Cone. Chile, Argentina and Uruguay.” em<br />

SCHECTER John M. (Ed) Music in Latin American Culture, Regional Traditions. New<br />

York: Schirmer Books.<br />

______________.2000. “La <strong>música</strong> d<strong>el</strong> payador de Argentina y Uruguay” EN: Actas d<strong>el</strong> VI<br />

Encuentro Festival Iberoamericano de la décima y <strong>el</strong> verso improvisado. Las palmas de<br />

Gran Canaria, España, 2000.<br />

NOVATI, Jorge (et. Al). 1980. Antologia d<strong>el</strong> Tango Rioplatense. Desde sus comienzos<br />

hasta 1920. Buenos Aires: Instituto nacional de musicologia Carlos Vega. [Edição impressa<br />

que acompanha os LP].<br />

OLIVERA CHIRIMINI Tomás & Juan Antonio VARESE. 2000. Los candombes de reyes.<br />

Las llama<strong>da</strong>s. Montevideo: El Galeón.<br />

PACINI HERNANDEZ Deborah, FERNANDEZ L’HOESTE Hector & ZOLOV Eric<br />

2004. “Mapping rock music across the Americas”, in Deborah Pacini Hernandez et. al.<br />

(Eds.) Rockin’ las Américas. The Global Politics of Rock in Latin/o América. Pittsburg:<br />

University of Pittsburg Press.<br />

PADILLA, Alfonso. 1999. “Espaciali<strong>da</strong>d y temporali<strong>da</strong>d de la <strong>música</strong>”. Musica e<br />

Investigación. Revista d<strong>el</strong> Instituto Nacional de Musicología Carlos Vega. Ano III, Num.5,<br />

1999, pp. 7-32.<br />

PALOMINO, Pablo. 2004. “Tango y Samba: sentimentali<strong>da</strong>d popular y experiencia de la<br />

moderni<strong>da</strong>d urbana en Buenos Aires y Rio de Janeiro (1910-1930).” Tese de Licenciatura<br />

em Historia, Universi<strong>da</strong>d de Buenos Aires, Facultad de Filosofía y Letras.<br />

PEREDA VALDÉS Ildefonso. 1937. El negro rioplatense y otros ensayos. Montevideo:<br />

Claudio Garcia & Cia. Editores.<br />

27


PELINSKI, Ramón. 2000. “El Tango Nómade” em PELINSKI R. (comp.) El tango<br />

nómade. Buenos Aires: Corregidor. [1995]<br />

PIEDADE, Acácio Tadeu de Camargo. 2003. “Brazilian Jazz and Friction of Musicalities”,<br />

in E. TAYLOR ATKINS (Ed), Jazz Planet, Jackson: University Press of Mississippi,<br />

pp.41-58.<br />

PINTO, Guilherme de Alencar. 1997. Razones Locas. El paso de Mateo por la <strong>música</strong><br />

uruguaya. Montevideo: Trilce.<br />

PRIORE, Oscar d<strong>el</strong> & Irene AMUCHÁSTEGUI. 2003. Cien tangos fun<strong>da</strong>mentales.<br />

Buenos Aires: Aguilar.<br />

PUCCIA, Horacio. 2000. Historia d<strong>el</strong> carnaval porteño. Buenos Aires: Academia porteña<br />

d<strong>el</strong> lunfardo.<br />

PUJOL, Sergio. 1999. Historia d<strong>el</strong> baile. De la milonga a la disco. Buenos Aires, Emecé.<br />

ROMANO, Eduardo. 1995. Voces e imágenes en la ciu<strong>da</strong>d. Aproximaciones a nuestra<br />

cultura popular urbana. Buenos Aires: Colihue.<br />

ROSSI Vicente & Isidoro DE MARÍA. 1968. Cantos y bailes negros. Enciclopedia<br />

uruguaya 9. Montevideo: Arca.<br />

SALAS, Horacio. 2004. El Tango. Buenos Aires: Emecé.<br />

SANDRONI, Carlos. 2001. Feitiço Decente. Transformações do samba no Rio de<br />

Janeiro(1917-1933). Rio de Janeiro: Ed. UFRJ.<br />

SANTOS, Miriam Sepúlve<strong>da</strong> dos. 2003. Memória Coletiva e Teoría Social. São Paulo:<br />

Annablume.<br />

SAVIGLIANO, Marta. 1995. Tango and the Political Economy of Passion. Boulder:<br />

Westview Press.<br />

SELLES, Roberto. 2004. Historia de la milonga. Buenos Aires: Marc<strong>el</strong>o Hector Olivieri<br />

Editor.<br />

SEMÁN P. VILA, P. & BENEDETTI, C. 2004. “Neoliberalism and Rock in the Popular<br />

Sectors of Contemporary Argentina”, in Deborah Pacini Hernandez et. al. (Eds.) Rockin’<br />

las Américas. The Global Politics of Rock in Latin/o América. Pittsburg: University of<br />

Pittsburg Press.<br />

SHEPHERD, John. 1991. Music as social text. Cambridge: Polity Press.<br />

28


______________. 2005. “Popular Music and Music Aesthetics”. Conferencia proferi<strong>da</strong> no<br />

VI Congreso Latinoamericano de la Asociación Internacional para <strong>el</strong> Estudio de la Música<br />

Popular. Buenos Aires: 27/08/2005<br />

SOLOMON, Thomas. 1994. “Coplas de todos los santos in Cochambamba: Language,<br />

music and performance in Bolivian Quechua Song Du<strong>el</strong>ing”. Journal of American<br />

Folklore, 107 (425): 378-414.<br />

TAGG, Philip. 1989. “Open Letter about ‘Black Music’, ‘Afro-American Music’ and<br />

‘European Music’”. Popular Music (Cambridge University Press) 8/3: pp. 285-298.<br />

[Consultado em Tagg, Philip. Homepage. http//:tagg.org (23/04/2005).]<br />

______________. 1999. “Introductory notes to the semiotics of music.” Consultado em<br />

www.mediamusicstudies.net/tagg em 10 de maio de 2005.<br />

______________. 2004. “What use is a museme?- the case of anguish.” Consultado em<br />

www.mediamusicstudies.net/tagg em 10 de maio de 2005.<br />

TRIGO, Abril. 2004. “The Politics and Anti-politics of Uruguayan Rock” in Deborah<br />

Pacini Hernandez et. al. (Eds.) Rockin’ las Américas. The Global Politics of Rock in Latin/o<br />

América. Pittsburg: University of Pittsburg Press.<br />

ULHÔA, Marta Tupinambá de. 2005. “Introdução”. Em ULHÔA, Martha & OCHOA, Ana<br />

María. (Orgs.). 2005. Música Popular na América Latina: pontos de escuta. Porto Alegre:<br />

Editora <strong>da</strong> UFRGS.<br />

URFÉ, Odilio. 1977. “La <strong>música</strong> y la <strong>da</strong>nza en Cuba”, IN Moreno Fraginals, Manu<strong>el</strong> (r<strong>el</strong>).<br />

Africa en América Latina. Mexico: UNESCO- Siglo XXI Eds.<br />

VALENTE, H<strong>el</strong>oísa de Araújo Duarte. 2003. As vozes <strong>da</strong> canção na mídia.São Paulo: Via<br />

Lettera/Fapesp.<br />

VAINER, Luciana. 2005. Mírala qué lin<strong>da</strong> viene. La murga porteña. Buenos Aires:<br />

Ediciones Pap<strong>el</strong> Picado.<br />

VEGA, Carlos. 1944. Panorama de la <strong>música</strong> popular argentina. Buenos Aires: Losa<strong>da</strong>.<br />

______________. 1966. “Mesomusic. An essay on the music of the masses”,<br />

Ethnomusicology, 10 (1):1-17, 1966.<br />

______________.1986. Las <strong>da</strong>nzas populares argentinas. Tomos I –II. Buenos Aires:<br />

Instituto de Musicología Carlos Vega. [1952]<br />

VILA, Pablo. 2000. “El tango y las identi<strong>da</strong>des étnicas en Argentina” em PELINSKI R.<br />

(comp.) El tango nómade. Buenos Aires: Corregidor.<br />

29


______________.1989. “Argentina’s rock nacional. The struggles for meaning” Latin<br />

American Music Review, num. 10, pp. 1-28.<br />

YABOR. s/d. Lo mejor de mí. Canciones, anécdotas y otras yerbas: historia de la murga y<br />

<strong>el</strong> candombe de las dos orillas d<strong>el</strong> Plata. Buenos Aires: Nuevos Tiempos.<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!