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Texto Completo - Projeto HAM - História e Análise Midiática

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28 - Conluio e cadeias: Considerações sobre a direção pecebista na conjuntura do Estado Novo. 1936-1940<br />

a direção pecebista o Komintern entendeu que havia<br />

sinais de que nem tudo ia bem. Enquanto o PCB<br />

aprofundava a política de aproximação com o<br />

governo Vargas, através do que entendia ser o seu<br />

setor democrático, e enquanto também defendia a<br />

neutralidade diante da guerra, abandonando<br />

momentaneamente sua política antifascista, um<br />

abismo ideológico entre o Estado Novo e o<br />

movimento comunista brasileiro novamente se abriu<br />

quando a guerra foi declarada na Europa e o país<br />

viveu sob uma nova onda de repressão, o que levou<br />

toda a direção banguzista para a cadeia.<br />

As prisões daquele período significaram um<br />

duro golpe para o PCB, já que a direção que caiu era<br />

formada, principalmente, por militantes<br />

experimentados na luta política e que tinham vivido a<br />

tentativa insurrecional frustrada. Ademais, tratavamse<br />

justamente de dirigentes e que vinham fazendo o<br />

balanço dos “erros” de 1935 e preparando o Partido<br />

para o novo momento da União Nacional. Muitos<br />

destes dirigentes, inclusive, haviam participado das<br />

discussões do VII Congresso do Komintern, como<br />

“Bangu”, “Martins”, “Abóbora” e “André”, a<br />

despeito de não terem sido delegados.<br />

Sobre o episódio das prisões do PC<br />

brasileiro em 1940, Jorge Dimitrov, principal<br />

dirigente do CEIC, determinou uma rápida apuração<br />

da situação existente no país e do estado em que se<br />

encontrava o PCB, anotando diretivas que<br />

demonstravam seu descontentamento com a situação<br />

e a atuação dos pecebistas. Segundo Dimitrov, que<br />

ordenava a Guliaev, chefe da seção de quadros do<br />

Komintern, uma averiguação rigorosa e<br />

pormenorizada dos acontecimentos no Brasil, o<br />

fundamental seria “determinar o que da informação<br />

da polícia [descrita no início deste trabalho] teve<br />

lugar na realidade ou é capaz de ser verdade”. Para o<br />

secretário-geral da IC, seria imprescindível<br />

identificar entre os prisioneiros aqueles “que<br />

supostamente fizeram declarações na polícia”, ao<br />

que concluía: “É preciso, no futuro, ter em conta este<br />

enorme fracasso e desmoronamento da direção do<br />

14<br />

PC do Brasil” .<br />

A recomendação de Dimitrov anotada de<br />

próprio punho no relatório feito por Fernando de<br />

Lacerda à IC, dava conta da preocupação com os<br />

“elementos infiltrados” no PC brasileiro, mas<br />

determinava, também, uma visão que se consagraria<br />

no balanço dos pecebistas nos anos posteriores, qual<br />

seja, a idéia de que a direção comunista formada em<br />

1936 tinha fracassado. Após a decisão do dirigente do<br />

14 “Relatório sobre os materiais recebidos em 26 de maio de 1940 da mãe de<br />

Prestes”, Op. cit.<br />

Komintern, todos os membros do PCB que foram<br />

presos em 1940 foram avaliados em sua biografia<br />

para que se pudessem identificar os “provocadores”.<br />

Desta maneira, é pela análise desta rica<br />

documentação, ainda inédita no Brasil, que se poderá<br />

conhecer um pouco mais da direção banguzista e<br />

reparar alguns erros de “esquecimento” da história do<br />

movimento comunista brasileiro ou aquilo que seria<br />

uma espécie de “elo perdido” entre os conhecidos<br />

fatos ocorridos em 1935 e um dos momentos mais<br />

estudados da história do Partido Comunista, a sua<br />

legalidade em 1945.<br />

De acordo com as informações da polícia<br />

política brasileira, as prisões tinham ocorrido na<br />

véspera das comemorações do 1º de Maio, quando os<br />

órgãos de segurança encontraram uma grande<br />

quantidade de “folhas volantes funestas” assinadas<br />

pelo Comitê Regional do PCB do Rio de Janeiro. Tais<br />

folhas teriam sido confeccionadas numa tipografia<br />

clandestina que funcionava na cidade de São Mateus,<br />

estado do Rio, onde teriam sido impressas como<br />

volantes para serem distribuídos na região da Rua 7 de<br />

Setembro, Avenida Rio Branco e nos arredores da<br />

cidade. No material apreendido, apelava-se ao povo<br />

para que promovesse “demonstrações de força e à<br />

revolta contra o regime existente no Brasil”. Além<br />

disso, a polícia sublinhava que os “Extremistas<br />

queriam realizar uma reorganização eficaz das suas<br />

fileiras e da sua atividade, utilizando a situação<br />

criada pela guerra européia”, ao que os agentes da<br />

repressão assinalavam: “que as prisões são a<br />

continuação das detenções anteriores devido ao<br />

processo do PC do Brasil em 1936 e à preparação de<br />

um novo processo contra o PC do Brasil, depois da<br />

prisão da direção do partido em março e abril de<br />

1940”.<br />

Segundo os relatórios da Polícia<br />

interceptados pelo CEIC, os detidos teriam sido<br />

distribuídos em três grupos: o primeiro grupo,<br />

constituído por 13 pessoas, que segundo as<br />

informações, eram todas comunistas. O segundo<br />

grupo, constituído por 15 pessoas seria formado por<br />

simpatizantes da “atividade funesta” e participantes<br />

no “movimento funesto”. Já o terceiro grupo,<br />

constituído por 21 pessoas, tinha-se em conta de que<br />

não se tratavam de comunistas, “mas prestaram apoio<br />

financeiro ao partido comunista”. Este último grupo<br />

foi todo ele libertado da prisão “porque provaram que<br />

a ajuda financeira foi concedida para os membros<br />

das famílias dos presos que têm uma existência<br />

16 “Ao secretário-geral do CEIC”. Documentação da Internacional<br />

Comunista sobre o Partido Comunista Brasileiro, pasta 22, sem catalogação.<br />

AHS/ICS/UL.

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