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N.º 190 | <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> | Mensal | 2,00 euros<br />
VIANA DO CASTELO<br />
A nova face do <strong>Inatel</strong><br />
PATRIMÓNIO MINA DO LOUSAL TERMAS CALDAS DA FELGUEIRA<br />
EFEMÉRIDE PADRE ANTÓNIO VIEIRA VIAGENS VALÊNCIA
NA CAPA<br />
Fotos: Humberto Lopes<br />
16<br />
VIANA DO CASTELO<br />
Localizada em pleno centro histórico<br />
da cidade, a renovada sede da<br />
Delegação do <strong>Inatel</strong> em Viana do<br />
Castelo deverá ainda constituir um<br />
“factor de dinamização da vida<br />
económica e social da zona”. Um<br />
bom pretexto para uma “viagem”<br />
pela bela capital do Alto Minho.<br />
4<br />
EDITORIAL<br />
8<br />
CARTAS E COLUNA<br />
DO PROVEDOR<br />
9<br />
NOTÍCIAS<br />
14<br />
CONCURSO<br />
DE FOTOGRAFIA<br />
22<br />
OFÍCIOS<br />
Os canteiros do<br />
granito<br />
26<br />
PATRIMÓNIO<br />
Lousal: um mina para<br />
o Turismo<br />
30<br />
TERMAS EM<br />
PORTUGAL:<br />
CALDAS<br />
DA FELGUEIRA<br />
Envoltas por serra e<br />
por cursos de água,<br />
as Caldas da<br />
Felgueira têm sido<br />
uma das grandes<br />
apostas nacionais do<br />
termalismo nas<br />
últimas duas<br />
décadas.<br />
32<br />
PAIXÕES<br />
Chakall, sabores<br />
do Mundo<br />
36<br />
PERCURSOS<br />
TALASNAL:<br />
ALDEIA VIVA<br />
A estrada que<br />
serpenteia a serra da<br />
Lousã leva à<br />
descoberta de<br />
pequenas aldeias de<br />
xisto que pararam no<br />
tempo.<br />
40<br />
CENTENÁRIOS<br />
O PADRE<br />
ANTÓNIO<br />
VIEIRA E O<br />
BRASIL<br />
Por ocasião do 4º<br />
centenário do<br />
nascimento do Padre<br />
António Vieira,<br />
a evocação de uma<br />
das mais notáveis<br />
figuras da nossa<br />
História.<br />
44<br />
VIAGENS<br />
VALÊNCIA: LUZ<br />
DO LEVANTE<br />
Moderna na<br />
expressão<br />
arquitectónica de<br />
vanguarda, Valência<br />
conserva ao mesmo<br />
tempo um centro<br />
histórico carregado de<br />
sinais de um passado<br />
ligado aos tempos da<br />
Reconquista. E<br />
mantém, anualmente,<br />
em Março, as Fallas,<br />
Sumário<br />
uma das festas mais<br />
conhecidas e<br />
populares de<br />
Espanha…<br />
50<br />
A CASA NA ÁRVORE<br />
52<br />
PORTUGAL<br />
E A LUSOFONIA<br />
53<br />
O TEMPO<br />
E O MUNDO<br />
54<br />
VIAGENS<br />
NA HISTÓRIA<br />
55<br />
BOA VIDA<br />
74<br />
CLUBE TEMPO LIVRE<br />
79<br />
CHEFE SUGERE<br />
INATEL Palace:<br />
Arroz de Pato à Moda<br />
de Lafões<br />
81<br />
O TEMPO E AS<br />
PALAVRAS<br />
Maria Alice Vila<br />
Fabião<br />
82<br />
CRÓNICA<br />
Joaquim Letria<br />
Revista Mensal: e-mail: tl@inatel.pt - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni Vice-<br />
Presidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva:<br />
500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, Carlos Barbosa<br />
de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge Letria, Lurdes<br />
Féria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro Cronistas: Alice<br />
Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Duarte Ivo Cruz, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Pedro<br />
Cid.. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail tl@inatel.pt Publicidade: Tel. 210027187 Pré-impressão e<br />
impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade<br />
na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 173.738 exemplares
Editorial<br />
PDE – Plano de Desenvolvimento<br />
Estratégico (<strong>2008</strong> – 2013)<br />
No próximo dia 26, perfaço cinco<br />
anos de mandato na presidência<br />
do <strong>Inatel</strong>, cargo que como<br />
todos os anteriores, desempenho<br />
em espírito de missão e sem quaisquer<br />
aspirações, sejam de natureza social, financeira<br />
ou curricular. O inegável interesse<br />
público do projecto <strong>Inatel</strong>, assim como a<br />
diversidade da sua gestão, quase me fizeram<br />
esquecer o tempo decorrido. Proponho-me<br />
oferecer-me como presente de<br />
aniversário, assim como à Direcção a que tenho a honra<br />
de presidir, ao Ministério da Tutela e aos demais órgãos<br />
estatutários, o projecto do primeiro PDE – Plano de<br />
Desenvolvimento Estratégico da Fundação <strong>Inatel</strong>, relativo<br />
ao sexénio <strong>2008</strong>/2013.<br />
Penso que a Direcção terá aprovado o projecto do<br />
PDE – Plano Estratégico de Desenvolvimento<br />
(<strong>2008</strong>/2013) até ao final do corrente mês de <strong>Fevereiro</strong>,<br />
submetendo-o, subsequentemente, à apreciação de S.<br />
Exa. o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social e<br />
aos pareceres da Comissão de Fiscalização e do<br />
Conselho Geral.<br />
Em princípio, o PDE – Plano de Desenvolvimento<br />
Estratégico (<strong>2008</strong>/2013) constituirá o documento de<br />
princípios orientadores e prioridades de investimento da<br />
Fundação <strong>Inatel</strong> nos seus primeiros anos de existência.<br />
FUNDAÇÃO.<br />
Com a entrega, em Dezembro findo, a S. Exa. o Ministro<br />
do Trabalho e da Solidariedade Social do parecer da<br />
Direcção, relativo ao projecto de decreto-lei, que criará<br />
a Fundação, dá-se, em princípio, por concluída a<br />
audição do <strong>Inatel</strong> sobre o diploma que o externalizará<br />
4 TempoLivre Janeiro <strong>2008</strong><br />
JOSÉ ALARCÃO<br />
TRONI<br />
da Administração Central do Estado, ancorando-o,<br />
segundo modelo quase empresarial,<br />
na economia social.<br />
A publicação do diploma de criação da<br />
Fundação abrirá o terceiro capítulo de<br />
setenta e dois anos do binómio FNAT –<br />
<strong>Inatel</strong>.<br />
S. Exa. o Ministro do Trabalho e da Solidariedade<br />
Social promoveu, simultaneamente,<br />
a audição das Regiões Autónomas e<br />
das Confederações Sindicais, no âmbito de<br />
processo legislativo que se prevê rápido e consensual.<br />
Com o projecto de diploma em processo legislativo,<br />
a óbvia prioridade da Direcção, no primeiro trimestre,<br />
será a elaboração dos regulamentos essenciais ao<br />
sucesso da Fundação <strong>Inatel</strong> – Estrutura Orgânica,<br />
Regulamento e Quadro de Pessoal e Manual de<br />
Serviços e Benefícios – bem como a refundação do sistema<br />
de organização e informática, com a generalização<br />
do Sistema SAP à totalidade dos serviços centrais,<br />
regionais e locais, assim como e aos centros de férias,<br />
parques desportivos, parques de campismo e casas<br />
rurais.<br />
INATEL SOLIDÁRIO.<br />
O projecto <strong>Inatel</strong> é em si mesmo um projecto de solidariedade<br />
social. Basta pensar em setenta e dois anos<br />
anos de trabalho, ao serviço das classe média e trabalhadora,<br />
nas vertentes do Turismo para Todos, da<br />
Cultura para Todos e do Desporto para Todos, bem<br />
como numa década de Programas Seniores, os quais<br />
garantiram o direito a férias a mais de quinhentos mil<br />
concidadãos carenciados.<br />
No Natal, o <strong>Inatel</strong> apoia centenas de CCDs – Centros
de Cultura e Desporto, espalhados por todo o país,<br />
pensando na felicidade das crianças, nossos filhos e<br />
netos.<br />
No Natal de 2007, o <strong>Inatel</strong> apoiou, especialmente, as<br />
crianças carenciadas a cargo do Refúgio Aboim<br />
Ascensão ( Faro) – Fundação de Emergência Infantil, da<br />
Casa dos Pirilampos, da Santa Casa da Misericórdia de<br />
Albufeira, do Centro Social e Paroquial da Pena,<br />
(Lisboa), bem como as crianças doentes internadas na<br />
enfermaria pediátrica de Lisboa do IPO – Instituto<br />
Português de Oncologia.<br />
Este meritório esforço não me parece, ainda, suficiente.<br />
O <strong>Inatel</strong> deve regressar à tradição humanista de garantir<br />
férias, na praia e no campo, às nossas crianças, aproveitando<br />
as pausas do calendário escolar – sobretudo às crianças<br />
carenciadas ou violentadas – celebrando acordos<br />
com a Casa Pia, a Segurança Social, os Municípios, as<br />
Misericórdias e as IPSS, para podermos sentir a alegria de<br />
ver um sorriso no rosto de uma criança.<br />
No Natal passado, uma ONG de apoio aos sem abrigo<br />
lançou – não sei com que sucesso – uma campanha<br />
de recolha de cobertores, destinados a minorar o frio<br />
dos nossos concidadãos sem tecto.<br />
Ora, o <strong>Inatel</strong> é uma grande e muito credível plataforma<br />
logística e social, espalhada pelo país. Não<br />
falando nos CCDs – Centros de Cultura e Desporto –<br />
conta, pelo menos, com vinte e uma delegações e<br />
quinze centros de férias. Por que não prever, desde já,<br />
um Programa <strong>Inatel</strong> Solidário, com vista ao Natal de<br />
<strong>2008</strong>? Por exemplo, uma iniciativa, de âmbito nacional,<br />
de recolha de cobertores e roupas, destinadas<br />
aos nossos irmãos sem abrigo, de cuja distribuição se<br />
encarregariam as ONGs especializadas no apoio aos<br />
sem tecto?<br />
o <strong>Inatel</strong> acaba de adquirir, para<br />
o seu Arquivo Histórico, a valiosa<br />
fototeca do Dr. Mário Moreau,<br />
contendo centenas de fotografias<br />
sobre o Teatro e a Música no<br />
Trindade, ao longo do século XX<br />
E no início de cada ano, a Fundação <strong>Inatel</strong> elegeria a<br />
sua causa social prioritária no combate à pobreza, ao<br />
isolamento, à violência e à discriminação.<br />
TRINDADE – 140 ANOS.<br />
No âmbito das Comemorações dos 140 anos do Teatro<br />
da Trindade, cujo programa de eventos – projectos de<br />
investigação, conferências e exposições – se prolongará<br />
até 29 de Novembro próximo, o <strong>Inatel</strong> acaba de<br />
adquirir, para o seu Arquivo Histórico, a valiosa fototeca<br />
do Dr. Mário Moreau, contendo centenas de<br />
fotografias sobre o Teatro e a Música no Trindade, ao<br />
longo do século XX, a qual será exposta, no salão nobre<br />
do nosso espaço cultural, oitocentista, da Baixa Chiado,<br />
no calendário da programação de <strong>2008</strong>.<br />
CARTEIRA DE OBRAS<br />
Encontram-se concluídas as obras de grande reabilitação<br />
das piscinas de Angra do Heroísmo, que reabriram,<br />
aos associados e ao público, com grandes elogios<br />
do Governo Regional dos Açores, do Município de<br />
Angra e dos beneficiários, quanto à respectiva qualidade.<br />
Estão terminadas – aguardando inauguração ou<br />
reinauguração – as obras de recuperação da Delegação<br />
de Viana do Castelo – Casa Pedro Homem de Mello –<br />
edifício classificado no centro histórico da Sé, pondose<br />
termo a doze anos de instalação provisória, em<br />
espaço cedido pela Segurança Social, com óbvio<br />
reforço do prestígio e visibilidade do <strong>Inatel</strong> no distrito<br />
limiano. Encontra-se, igualmente, concluída a grande<br />
reabilitação da Delegação de Portalegre (Casa José<br />
Régio), também instalada em edifício classificado no<br />
centro histórico. Foram adjudicadas as obras de recuperação<br />
do interior do Edifício Infante Santo, destina-<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 5
Editorial<br />
>>> Editorial<br />
do a instalar a futura delegação de Lisboa (Casa Tomás<br />
Ribas), a Provedoria e a Auditoria. Está concluída e em<br />
funcionamento a agência de Castelo Branco, assim<br />
como em fase de conclusão as duas agências de Lisboa,<br />
situadas, respectivamente, no Parque de Jogos 1º de<br />
Maio e nas arcadas do Palácio da Independência, ao<br />
Rossio, sede de SHIP – Sociedade Histórica da<br />
Independência de Portugal, ambas servidas por<br />
estações de metropolitano e por diversas linhas de<br />
autocarro. Iniciou-se a segunda fase – interiores – das<br />
obras de grande reabilitação das Subdelegações de<br />
Ponta Delgada (antigo Hotel Terra Nostra) e da Horta<br />
(Solar dos Andrades), edifícios classificados nos centros<br />
históricos das duas cidades açoreanas. Finalmente,<br />
continua em curso a grande recuperação do<br />
Centro de Férias da Foz do Arelho e a constante melhoria<br />
da qualidade do Edifício Principal do Centro de<br />
Férias de Albufeira.<br />
BTL – BOLSA DE TURISMO DE LISBOA.<br />
Como nos anos anteriores, o <strong>Inatel</strong> representou o<br />
Turismo Social na vigésima edição da BTL – Bolsa de<br />
Turismo de Lisboa, que decorreu de 16 a 20 de Janeiro.<br />
Felicito o arquitecto que concebeu o stand, assim como<br />
a equipa que o organizou e nele esteve presente no<br />
decurso do mais importante evento do Turismo de<br />
Portugal, pois considero a representação do <strong>Inatel</strong> a<br />
mais visível e criativa dos últimos anos.<br />
Transcrevo, com agrado, a notícia da BTL News, de<br />
19 de Janeiro “<strong>Inatel</strong> com Stand Inovador – Para esta<br />
edição da BTL, o <strong>Inatel</strong> concebeu um stand de linhas<br />
modernas e inovadoras, apoiado nas novas tecnologias.<br />
É um dos stands mais originais da BTL, querendo<br />
com isso vincar que não está apenas vocacionado para<br />
6 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Felicito o arquitecto que concebeu<br />
o stand, assim como a equipa que o<br />
organizou (...) pois considero a<br />
representação do <strong>Inatel</strong> [na BTL]<br />
a mais visível e criativa<br />
dos últimos anos<br />
o turismo sénior, mas pretende também captar associados<br />
na idade activa e nas camadas mais jovens.<br />
A oferta turística do <strong>Inatel</strong> é muito vasta no país,<br />
incluindo as regiões autónomas, garantindo conforto,<br />
serviços de qualidade e boa localização das unidades:<br />
desde os destinos praia, campo, montanha, incluindo<br />
termas, casas rurais e parques de campismo.”<br />
REGICÍDIO – 100 ANOS<br />
No dia 1 de <strong>Fevereiro</strong> de 1908 – há, precisamente, um<br />
século – no Terreiro do Paço, o Rei D. Carlos e o<br />
Príncipe Real D. Luís Filipe tombaram sob os tiros de<br />
carabina dos regicidas Manuel Buiça, professor<br />
primário, e Alfredo Costa, caixeiro, imediatamente<br />
abatidos pela escolta militar no momento do Regicídio.<br />
As balas do Terreiro do Paço puseram, com mais de<br />
dois anos de antecedência, termo a uma Monarquia de<br />
quase oito séculos, já ferida de morte pelo ultimato<br />
britânico, de 11 de Janeiro de 1890, que desfez o sonho<br />
imperial do mapa cor de rosa, apenas duas semanas após<br />
a aclamação de D. Carlos, a 28 de Dezembro de 1899.<br />
Foi um reinado que começou mal, com o ultimato, e<br />
acabou pior, com o regicídio.<br />
Decorridos cem anos, resta-nos a memória de um Rei<br />
culto, diplomata, oceanógrafo e pintor, de uma Rainha<br />
francesa, sinceramente envolvida nas causas sociais da<br />
época - especialmente a luta contra a tuberculose, a<br />
mortífera peste branca – e de um Príncipe esperançoso<br />
que a morte levou na flor da idade.<br />
O Rei D. Carlos foi, indubitavelmente, a figura mais<br />
marcante na primeira década do século XX em<br />
Portugal.<br />
Que Deus dê o eterno descanso ao Rei assassinado e<br />
ao Príncipe que não reinou. ■
Animais nos<br />
Centros de Férias<br />
A correspondência para estas secções deve ser enviada para<br />
a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, 180 -<br />
1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt<br />
8 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Cartas<br />
Do associado Celestino Neves, de Alfena -<br />
Valongo, recebemos, no âmbito do exercício<br />
do direito ao contraditório, um texto de<br />
resposta à carta do associado José Meireles, do<br />
Porto, que defendia a interdição de animais<br />
nos centros de férias do <strong>Inatel</strong>.<br />
Após considerar, no preâmbulo do seu<br />
longo texto, uma "preciosidade plágio-provocatória"<br />
a carta de José Meireles ("O Pedido de<br />
Laura", TL nº 185) à sua carta ("O Pedido de<br />
Lara", Tl nº 184), o associado Celestino Neves<br />
sublinha que, "quando exercido de forma<br />
responsável, nenhum direito, nem sequer o<br />
direito dos animais, colide com os direitos de<br />
terceiros" e acrescenta que os cães que "têm<br />
donos responsáveis" não sujam os jardins e<br />
nem atacam nem põem em risco a saúde das<br />
crianças.<br />
Por decisão do Director da Revista, e no sentido<br />
de evitar o prolongamento de uma<br />
polémica, frequentemente excessiva nos argumentos<br />
invocados e que se arrasta há mais de<br />
um ano, a "TL" abster-se-á da publicação de<br />
novas cartas sobre esta questão.<br />
Sócios há 50 anos<br />
Completaram, este mês, 50 anos de ligação ao<br />
<strong>Inatel</strong>, os associados:<br />
Ivo Rosa Henriques, Samora Correia e Ismael<br />
Santos Cunha Chiote, Lisboa.<br />
[ Kalidás Barreto ]<br />
COLUNA DO PROVEDOR<br />
Estamos em <strong>Fevereiro</strong>, pelo que, como diria o senhor de La<br />
Palisse, o primeiro mês do Ano Novo já é passado. Não tarda<br />
a entrarmos na prática, numa nova fase da vida do INATEL.<br />
Como me vêm dizendo os associados é urgente que<br />
estatutária e regulamentarmente tudo fique claro para<br />
chefias, funcionários, associados e utentes em geral, sem<br />
reticências. O INATEL é evidente que corresponde a uma<br />
realidade sociológica, totalmente diferente da de qualquer<br />
instituto existente em Portugal.<br />
Para os que usam a linguagem do mercado e da concorrência,<br />
"INATEL" é, acima de tudo, uma marca de grande<br />
impacto comercial; porém, para os utilizadores mais antigos<br />
(e não só os mais velhos) INATEL é uma parte importante das<br />
suas memórias que trazem a recordação das suas primeiras<br />
férias com verdadeiro descanso (sem tarefas domésticas),<br />
onde os filhos tiveram praia pela primeira vez. Para os filhos<br />
são as lembranças das primeiras brincadeiras na areia, dos<br />
primeiros ralhetes por se molharem em sítios mais distantes<br />
da vigilância paterna; e outras lembranças mais vivas quando<br />
chegou a juventude, com os namoricos de férias.<br />
Acresce ainda as recentes memórias dos jovens do turismo<br />
sénior cujas experiências de convívio os fazem sentir, novamente,<br />
gente, como testemunhava uma utente que afirmava<br />
que "até as rugas se lhe haviam desaparecido do rosto".<br />
O INATEL é diferente, é família! O Trindade, onde pela<br />
primeira vez assistiram a um espectáculo de ópera ou o<br />
Estádio 1º de Maio, palco da primeira grande manifestação<br />
do 25 de Abril de 1974.<br />
Daqui todo o interesse e carinho como algo de seu se<br />
estivesse a transformar, embora acreditem que para melhor.<br />
É como se de um filho se tratasse quando atinge a maioridade;<br />
tal e qual!<br />
Os tecnocratas não entenderão esta linguagem usada por<br />
utópicos humanistas. Porém, a utopia é, afinal, uma visão de<br />
um futuro que é preciso começar a construir no presente,<br />
com a lição e aprendizagem do passado.<br />
Ou, como dizia, Óscar Wilde, " O progresso é a realização da<br />
utopia". Acreditamos nisso! ■<br />
Tel: 210027197 Fax: 210027179<br />
e-mail: provedor@inatel.pt
Notícias<br />
Albufeira pioneira em segurança alimentar<br />
● Num tempo em que as boas<br />
práticas em matéria de segurança<br />
alimentar são tema em foco no<br />
País, o <strong>Inatel</strong> pode orgulhar-se do<br />
processo iniciado, já em 2006, na<br />
sua rede hoteleira, com a<br />
implementação, no Centro de<br />
Férias de Albufeira do sistema<br />
HACCP (Hazard Analisys Critical<br />
Control Points) com o apoio técnico<br />
da Jonhson Diversey.<br />
O HACCP, elaborado em 1991 pela<br />
comissão Codex Alimentarius, visa<br />
criar condições para responder de<br />
forma adequada às actuais<br />
FIM DE ANO EM ALBUFEIRA - Como as imagens documentam,<br />
a passagem de ano em Albufeira foi bem animada<br />
e colorida, quer na cidade quer no <strong>Inatel</strong>.<br />
Trabalhadores e hóspedes do centro de férias juntaramse<br />
na saudação a um desejado e desejável feliz <strong>2008</strong>.<br />
exigências da qualidade alimentar,<br />
desde a fase de armazenamento<br />
dos alimentos ao consumo final e<br />
está, presentemente, a ser<br />
implementado em toda a rede<br />
hoteleira do <strong>Inatel</strong>.<br />
O funcionamento do sistema<br />
HACCP é demonstrado pela<br />
correcta utilização dos manuais de<br />
boas práticas e segurança alimentar<br />
e pela elaboração de mapas, os<br />
quais oferecem a total garantia de<br />
qualidade e segurança alimentar<br />
das múltiplas refeições que<br />
servimos.<br />
Recorde-se que a NASA (Nacional<br />
Aeronautics and Space<br />
Administration), pioneira nesta<br />
matéria, exigiu planos de controlo<br />
de segurança alimentar de acordo<br />
com as necessidades alimentares<br />
dos astronautas (em matéria de<br />
preparação ou conservação dos<br />
alimentos) nos voos Gemini e<br />
Apollo da década de 60, época em<br />
que também a ONU (Organização<br />
das Nações Unidades) cria o Codex<br />
Alimentarius para estudo e<br />
publicação de guias e normas de<br />
segurança alimentar.<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 9
Notícias<br />
INATEL na BTL<br />
● Centenas de profissionais do<br />
sector do turismo e público em<br />
geral acorreram ao stand do <strong>Inatel</strong><br />
na Bolsa de Turismo de Lisboa, que<br />
decorreu na FIL, em Lisboa, entre<br />
16 a 20 de Janeiro último.<br />
Considerado, pelas suas linhas<br />
modernas e inovadoras, um dos<br />
stands mais originais da BTL, o<br />
espaço <strong>Inatel</strong> proporcionou aos<br />
numerosos visitantes informação<br />
detalhada sobre os seus programas<br />
de férias e lazer e acolheu as<br />
inscrições de centenas de novos<br />
associados, que beneficiaram da<br />
isenção de jóia.<br />
Acção Social de Macau<br />
● No âmbito do protocolo com a<br />
CNAF – Confederação Nacional<br />
das Associações de Família, firmado<br />
em Janeiro de 2006, o <strong>Inatel</strong><br />
acolheu nas instalações de Oeiras o<br />
Presidente do IAS - Instituto de<br />
Acção Social da Região<br />
Administrativa Especial de Macau,<br />
Ip Ken Kin, e outros quadros<br />
superiores daquele organismo,<br />
num jantar convívio que reuniu, no<br />
passado dia 8 de Janeiro último,<br />
ainda responsáveis da CNAF e do<br />
Instituto da Droga e da<br />
Toxicodependência e<br />
representantes dos Municípios de<br />
Vila Franca, Oeiras, Vila Nova de<br />
Gaia, Fundão e Covilhã.<br />
10 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Janeiras em Viseu<br />
● Cerca de mil participantes e 38<br />
agrupamentos folclóricos da região<br />
de Viseu participaram no Encontro<br />
Geral de Janeiras de <strong>2008</strong>, que<br />
decorreu em Viseu, no passado dia<br />
20 de Janeiro.<br />
O tradicional cantar das Janeiras<br />
iniciou-se pelas 14 horas com visita<br />
a várias instituições de<br />
Solidariedade Social e organismos<br />
estatais locais e culminou com a<br />
actuação dos agrupamentos na<br />
Delegação do <strong>Inatel</strong>, onde houve<br />
lugar, ainda, para um lanche<br />
convívio com iguarias regionais e<br />
distribuição do livro “ Encontro de<br />
Janeiras Distrito de Viseu <strong>2008</strong>”<br />
alusivo ao tema que integra parte<br />
do reportório exibido pelo<br />
movimento associativo local.
Promoções<br />
para Campistas<br />
Os campistas interessados<br />
em utilizar os Parque de<br />
Campismo do Cabedelo,<br />
Caparica e S. Pedro de Moel,<br />
poderão, a partir de agora,<br />
usufruir dos seguintes<br />
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época baixa e média.<br />
Possibilidade de efectuar<br />
pagamento faseado por 3<br />
prestações;<br />
PACK 6 MESES<br />
Permanência de 01 Abril a 30<br />
Setembro: Desconto 10% na<br />
diária e 20% no<br />
estacionamento (1 viatura) na<br />
época alta; estacionamento<br />
grátis (1 viatura) nos meses<br />
de época baixa e média.<br />
Possibilidade de efectuar<br />
pagamento em duas<br />
prestações.<br />
Mais se informa que a<br />
atribuição em <strong>2008</strong> de<br />
alvéolos no Parque de<br />
Campismo da Caparica<br />
vigorará até Janeiro de 2011,<br />
permitindo assim que todo o<br />
equipamento - caravanas,<br />
atrelados e outros - possa<br />
permanecer no mesmo local<br />
sem transtornos para os seus<br />
proprietários.<br />
Concerto de Ano Novo<br />
● Sob o lema “Reviver a Ópera no<br />
Trindade”, o tradicional Concerto<br />
de Ano Novo, com a L’ Orchestra,<br />
sob direcção do Maestro João Paulo<br />
Santos, atraiu à bela e secular sala<br />
do Chiado, no passado dia 4 de<br />
Janeiro, um numeroso público.<br />
O original espectáculo, integrado<br />
no âmbito das comemorações dos<br />
140 anos do Teatro da Trindade,<br />
registou, ainda, a participação dos<br />
cantores líricos Ana Ester Neves,<br />
Carlos Guilherme, Elvira Ferreira,<br />
João Merino, João de Oliveira, José<br />
Corvelo, José Manuel Araújo,<br />
Larissa Savchenko, Maria Luisa<br />
Freitas, Maria João Alves, Sara<br />
Braga Simões e Sónia Alcobaça, que<br />
interpretaram trechos de óperas de<br />
Mozart, Rossini, Verdi, Bizet,<br />
Puccini, Rossini, Donizetti,<br />
Mascagni e Alfredo Keil.<br />
Dezenas de atletas participaram, no passado dia 21 de Janeiro, no distrital de<br />
Lisboa de Corta-Mato do <strong>Inatel</strong>. A prova, destinada a atletas de várias categorias<br />
etárias, teve lugar nos aprazíveis terrenos do Jamor.<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 11
Notícias<br />
Nacionais de Damas e Xadrez<br />
● Disputaram-se no Centro de<br />
Férias do INATEL da Foz do<br />
Arelho, os Campeonatos Nacionais<br />
de Damas - Individual e de Xadrez<br />
- Equipas. As duas provas<br />
envolveram cerca de 50<br />
participantes.<br />
A A.R.C. de Vale de Cambra<br />
(Aveiro), dominou a prova de<br />
Xadrez, destronando a equipa<br />
campeã, Fajã de Baixo (Açores) que<br />
viria a obter a 2.ª posição.<br />
Completou o pódio a Casa do Povo<br />
de Bombarral.<br />
Nélio Saltão na Galeria do Casino<br />
● O pintor Nélio Saltão, uma das<br />
mais sérias revelações da pintura<br />
portuguesa dos tempos mais<br />
recentes, abriu a programação da<br />
Galeria de Arte do Casino Estoril<br />
em <strong>2008</strong>, com uma exposição<br />
patente até 11 do corrente mês.<br />
Nascido em 1949, em Amieiro,<br />
Montemor-o-Velho, Nélio realizou<br />
a primeira exposição individual em<br />
1992 em Cascais e até ao presente<br />
já participou em 36 colectivas e<br />
apresentou-se em seis individuais,<br />
uma das quais em 2002, que<br />
Mostra de Teatro de Almada<br />
● Promover e apoiar a diversidade<br />
da produção teatral dos grupos do<br />
concelho é objectivo de mais uma<br />
Mostra de Teatro de Almada, de 8 a<br />
24 de <strong>Fevereiro</strong>, uma iniciativa da<br />
autarquia e das companhias e<br />
grupos teatrais almadenses.<br />
Tendo-se distinguido nas edições<br />
anteriores pela variedade<br />
apresentada, tanto em termos de<br />
12 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Nas Damas venceu o açoriano Paulo<br />
Sousa após acesso despique com<br />
José Pereira que obteve o 2.º lugar,<br />
ficando o 3.º posto para Carlos<br />
Faria. Participaram 22 damistas.<br />
Encerraram-se os Campeonatos,<br />
com um almoço convívio que<br />
contou com a presença do<br />
Delegado do INATEL de Leiria,<br />
Reinaldo Gomes, do Presidente da<br />
Junta de Freguesia de Foz do<br />
Arelho, Fernando Horta, e do<br />
Mestre Joaquim Durão,<br />
Coordenador Nacional do INATEL.<br />
intitulou “10 Anos Depois”, na<br />
Galeria do Casino.<br />
grupos apresentados e actividades<br />
desenvolvidas, a 12ª edição afirma o<br />
desenvolvimento do projecto através<br />
da riqueza dos trabalhos<br />
apresentados e acções paralelas, bem<br />
como através do envolvimento dos<br />
vários espaços formais e alternativos.<br />
Serão apresentados 19 trabalhos, 10<br />
dos quais estreias absolutas<br />
preparadas para a Mostra.<br />
Regicídio no MNI<br />
● No Museu Nacional da Imprensa<br />
está patente, até final de Maio<br />
próximo, a exposição documental<br />
“As Manchetes do Regicídio” que<br />
assinala o centenário do assassinato<br />
do Rei D. Carlos e do seu filho D.<br />
Luís Filipe, ocorridos no dia 1 de<br />
<strong>Fevereiro</strong> de 1908.<br />
A exposição, composta por dezenas<br />
de publicações, apresenta o relato,<br />
sob várias perspectivas, daquele<br />
acontecimento histórico que<br />
marcou a História de Portugal.<br />
As primeiras páginas de jornais da<br />
época como “A Lucta”, “A Nação”,<br />
“O Futuro”, “A Voz Publica”,<br />
“Vanguarda”, “Diário Ilustrado”,<br />
“Diário Popular”, “O Commercio<br />
do Porto”, “O Século” e “O Mundo”<br />
mostram as manchetes do regicídio<br />
e das suas consequências sociais e<br />
políticas. Os diários Diário de<br />
Noticias, Jornal de Notícias, O<br />
Primeiro de Janeiro e Aurora do<br />
Lima também integram a mostra,<br />
com as primeiras páginas dos dias<br />
seguintes ao duplo assassinato.<br />
Especial destaque merece a revista<br />
“Ilustração Portuguesa”,<br />
suplemento do jornal “O Século”<br />
na qual podem ver-se imagens dos<br />
corpos estendidos no chão,<br />
acompanhadas pelo relato dos<br />
acontecimentos.
Protocolo INATEL/Clube Millennium<br />
● O acesso dos beneficiários do<br />
Clube Millennium /BCP às<br />
instalações desportivas, cursos<br />
de formação, espaços culturais<br />
(Teatro da Trindade) e<br />
programas de férias e turismo<br />
social do <strong>Inatel</strong>, em condições<br />
semelhantes às dos sócios do<br />
Instituto, é um dos pontos<br />
salientes do Protocolo assinado,<br />
em Janeiro último, pelos<br />
presidentes das duas entidades.<br />
Bandas no Museu da Música<br />
● O Museu da Música, situado na<br />
Estação do Metropolitano do Alto<br />
dos Moinhos (Lisboa) tem patente,<br />
até 8 de Março, uma ampla<br />
exposição sobre as bandas<br />
filarmónicas no nosso País.<br />
Concebida e produzida pela<br />
Realizasom para o Museu da<br />
Música a mostra pretende<br />
proporcionar ao público em geral, e<br />
aos jovens em particular, um maior<br />
O acordo, rubricado por José<br />
Alarcão Troni e José Sousa<br />
Miranda, prevê, por outro lado,<br />
a colaboração do Clube<br />
Millennium BCP em actividades<br />
do INATEL, através da actuação<br />
dos diversos Grupos do Clube –<br />
teatro, canto, música, etnografia,<br />
etc. - , de acordo com a<br />
calendarização de ambas as<br />
instituições.<br />
A anteceder a assinatura do<br />
e melhor conhecimento dos várias<br />
sonoridades que poderemos<br />
encontrar numa Banda<br />
Filarmónica.<br />
Reconhecer o som de cada um dos<br />
protocolo, os dois responsáveis<br />
acentuaram a importância da<br />
cooperação bilateral, com José<br />
Sousa Miranda a destacar o<br />
impacto das áreas da cultura e<br />
do desporto aventura entre os<br />
membros do Clube Millennium,<br />
e Alarcão Troni a sublinhar o<br />
significado da integração no<br />
universo <strong>Inatel</strong> de um CCD<br />
(Centro de Cultura e Desporto)<br />
com mais de 30 mil associados.<br />
instrumentos, a forma como se<br />
complementam e a sua importância<br />
no conjunto sonoro da banda<br />
filarmónica e contextualizar este<br />
importante fenómeno cultural<br />
através da análise da distribuição<br />
geográfica das bandas pelo País, a<br />
sua evolução ao longo dos tempos<br />
e a sua importância na festa<br />
popular, são alguns dos pontos<br />
essenciais da exposição.<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 13
[ 1 ]<br />
[ 1 ] Ana Fialho,<br />
Torres Vedras<br />
Sócio n.º 122630<br />
[ 2 ] Miguel Teotónio,<br />
Beja<br />
Sócio n.º 454082<br />
[ 3 ] Reinaldo Viegas,<br />
Lagos<br />
Sócio n.º 370482<br />
Menções Honrosas<br />
[ a ] Sérgio Guerra,<br />
S. João do Estoril<br />
Sócio n.º 204212<br />
[ b ] Luís Gaspar,<br />
Lisboa<br />
Sócio n.º 265869<br />
[ c ] Veber Pereira,<br />
Angra do Heroísmo<br />
Sócio n.º 113269<br />
[ a ] [ b ] [ c ]
[3]<br />
[2]<br />
REGULAMENTO<br />
1. Concurso Nacional de Fotografia da<br />
revista Tempo Livre. Periodicidade<br />
mensal. Podem participar todos os<br />
sócios do <strong>Inatel</strong>, excluindo os seus funcionários<br />
e os elementos da redacção e<br />
colaboradores da revista Tempo Livre.<br />
2. Enviar as fotos para: Revista Tempo<br />
Livre - Concurso de Fotografia, Calçada<br />
de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.<br />
3. A data limite para a recepção dos trabalhos<br />
é o dia 10 de cada mês.<br />
4. O tema é livre e cada concorrente<br />
pode enviar, mensalmente, um máximo<br />
de 3 fotografias de formato mínimo de<br />
10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em<br />
papel, cor ou preto e branco, sem qualquer<br />
suporte.<br />
5. Não são aceites diapositivos e as<br />
fotos concorrentes não serão devolvidas.<br />
6. O concurso é limitado aos sócios do<br />
<strong>Inatel</strong>. Todas as fotos devem ser assinaladas<br />
no verso com o nome do autor,<br />
direcção, telefone e número de associado<br />
do <strong>Inatel</strong>.<br />
7. A Tempo Livre publicará, em cada<br />
mês, as seis melhores fotos (três premiadas<br />
e três menções honrosas), seleccionadas<br />
entre as enviadas no prazo<br />
previsto.<br />
8. Não serão seleccionadas, no mesmo<br />
ano, as fotos de um concorrente premiado<br />
nesse ano<br />
9. Prémios: cada uma das três fotos<br />
seleccionadas terá como prémio um fim<br />
de semana (duas noites) para duas pessoas<br />
num dos Centros de Férias do<br />
<strong>Inatel</strong>, durante a época baixa, em<br />
regime APA (alojamento e pequeno<br />
almoço). O premiado(a) deve contactar<br />
a redacção da «TL»<br />
10. Grande Prémio Anual: uma viagem<br />
a escolher na Brochura <strong>Inatel</strong> Turismo<br />
Social até ao montante de 1750 Euros. A<br />
este prémio, a publicar na revista<br />
Tempo Livre de Setembro de <strong>2008</strong>, concorrem<br />
todas as fotos premiadas e publicadas<br />
nos meses em que decorre o<br />
concurso.<br />
11. O júri será composto por dois<br />
responsáveis da revista Tempo Livre e<br />
por um fotógrafo de reconhecido<br />
prestígio.
Viana do
Castelo<br />
TERRA NOSSA<br />
Uma<br />
moderna<br />
cidade<br />
antiga<br />
Reina sobre o Lima,<br />
às portas do mar por<br />
onde se foram<br />
aventureiros e<br />
povoadores. Terra<br />
generosa em folgança<br />
e de precioso acervo<br />
monumental, Viana<br />
do Castelo é ainda<br />
ponto de partida para<br />
um conjunto de<br />
atractivos percursos<br />
pedestres,<br />
complemento de uma<br />
visita ao bem<br />
conservado centro<br />
histórico.<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 17
Praça da República. Em baixo, a nova Biblioteca Municipal e vista da Beira-rio<br />
18 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
HÁ MUITO que uma certa ideia de<br />
Viana do Castelo como cidade mais<br />
ou menos arrumada no canto de<br />
um país periférico perdeu consistência.<br />
O desenvolvimento de<br />
vias de comunicação rápidas coloca<br />
a cidade minhota bastante acessível,<br />
mesmo ao viajante que vem de<br />
longe. É possível fazer actualmente<br />
todo o percurso desde Vila Real de<br />
Santo António sempre por autoestrada,<br />
como também com (quase)<br />
a mesma comodidade ali podem<br />
chegar visitantes de Madrid, Paris<br />
ou Bruxelas. E não apenas por via<br />
terrestre. Dois aeroportos internacionais<br />
estão a pouco mais de meia<br />
hora de distância, o de Vigo e o do<br />
Porto.<br />
Dito isto, convém acrescentar que<br />
não é apenas pela via do desenvolvimento<br />
das comunicações terrestres<br />
ou aéreas que Viana do Castelo<br />
merece ser colocada nas rotas<br />
dos viajantes. A modernização da<br />
cidade, a par da conservação do<br />
centro histórico, o património monumental<br />
e cultural, a hospitalidade<br />
das suas gentes, as tradições festivas<br />
e gastronómicas, entre outras,<br />
fazem de Viana do Castelo um dos<br />
destinos mais amáveis do território<br />
nacional.<br />
Instalada entre o centro histórico<br />
e o rio Lima, a recém-inaugurada<br />
Biblioteca Municipal, desenhada<br />
por Siza Vieira, é um exemplo notável<br />
de um feliz entendimento entre<br />
o moderno e o antigo na requalificação<br />
das cidades.<br />
Os mais recentes folhetos turísticos<br />
procuram promover a urbe com<br />
uma velha e mais ou menos batida<br />
frase. Marketing, evidentemente,<br />
mas quem não será sensível à ponta<br />
de verdade que pelo slogan perpassa,<br />
quem não se deixará envolver<br />
pela rejuvenescida beleza que nos<br />
entra pelos olhos dentro logo ao
A nova face do INATEL em Viana do Castelo<br />
O edifício da Rua de São Pedro, que<br />
acolheu toda a actividade<br />
administrativa do INATEL na<br />
cidade de Viana do Castelo durante<br />
três décadas, até Dezembro de<br />
1993, foi objecto de profunda<br />
remodelação e volta a abrir este<br />
mês as suas portas aos associados.<br />
As obras duraram cerca de um ano<br />
e decorreram entre Dezembro de<br />
2005 e Dezembro de 2006.<br />
A delegação do INATEL em Viana<br />
do Castelo foi criada em 1964,<br />
quando a antiga FNAT se instalou<br />
no edifício do nº 8 da Rua de São<br />
Pedro, em pleno centro histórico. O<br />
abandono destas instalações,<br />
quase trinta anos depois, em 1993,<br />
deveu-se à degradação do edifício e<br />
à consequente necessidade de uma<br />
intervenção de fundo.<br />
Na sequência da recente<br />
remodelação, o edifício passou a<br />
reunir todas as condições<br />
necessárias para acolher não<br />
apenas os serviços administrativos<br />
do INATEL, como também outras<br />
actividades promovidas pela<br />
delegação local. Assim, a “nova”<br />
sede da delegação do INATEL em<br />
Viana do Castelo deverá contar com<br />
um auditório, salas polivalentes<br />
para exposições temporárias e para<br />
acolhimento das escolas de Lazer<br />
(cursos), assim como para<br />
actividades dos centros de cultura e<br />
desporto.<br />
Está também em projecto a<br />
instalação de um núcleo<br />
museológico onde se dará a ver um<br />
acervo numismático e de cerâmica<br />
descoberto durante as escavações<br />
realizadas por ocasião das obras – o<br />
edifício fica a meia dúzia de metros<br />
do local por onde passava a<br />
muralha fernandina. A concretizarse,<br />
esse núcleo museológico deverá<br />
fazer de um circuito cultural no<br />
centro histórico, em cooperação<br />
com a Câmara Municipal de Viana<br />
do Castelo.<br />
O Engº António Pereira,<br />
responsável pela delegação, realça<br />
o “espírito de sacrifício dos<br />
funcionários do INATEL no trabalho<br />
desempenhado nas antigas<br />
instalações” e considera que esta<br />
remodelação marca uma nova<br />
etapa da vida da delegação de<br />
Viana de Castelo, visitada<br />
diariamente por mais de uma<br />
centena de associados, que a partir<br />
de agora “passam a ter melhores<br />
condições de atendimento”. A sua<br />
localização em pleno centro<br />
histórico, acrescenta, deverá<br />
também constituir um “factor de<br />
dinamização da vida económica e<br />
social da zona”.<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 19
TERRA NOSSA<br />
Praça da República<br />
com o antigo Paço<br />
do Concelho.<br />
Em baixo, Casa<br />
da Misericórdia e<br />
pormenor da Capela<br />
de Malheiros.<br />
Na página da direita,<br />
Sé Catedral<br />
GUIA<br />
Como ir<br />
A partir do sul e do litoral, o<br />
percurso mais fácil é o que<br />
segue a A1 e a A28, que<br />
liga o Porto à fronteira galega.<br />
Viana dista do Porto<br />
cerca de 70 km e pouco<br />
mais de 370 de Lisboa.<br />
Onde dormir<br />
Na cidade há várias opções,<br />
de qualidade variada e para<br />
diferentes bolsas. O site da<br />
Região de Turismo do Alto<br />
20 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Minho tem informação completa<br />
sobre a oferta e os<br />
respectivos contactos para<br />
reservas. Uma alternativa<br />
disponível para uma estadia<br />
no Minho, não muito<br />
distante de Viana e de outros<br />
centros urbanos da<br />
região, é o centro de férias<br />
do INATEL em Cerveira.<br />
Fica a pouco mais de 20<br />
minutos (cerca de 30 km de<br />
Viana, pela nova A28), e os<br />
contactos são os seguintes:<br />
telef. 251795359, fax<br />
251795050, e-mail<br />
cf.vncerveira@inatel.pt.<br />
Onde comer<br />
Tanto em Viana como nos<br />
arredores há opções muito<br />
recomendáveis. Na cidade,<br />
uma ronda por casas típicas<br />
e despretensiosas,<br />
onde a gastronomia minhota<br />
está bem representada,<br />
não pode ignorar dois<br />
endereços de referência: O<br />
chegar e que, portanto, actualiza a<br />
velha expressão “amor à primeira<br />
vista”?<br />
CENÁRIOS DE NATUREZA<br />
Das folganças de que Viana do<br />
Castelo é farta, e da famosa Senhora<br />
da Agonia, já muito se fala e<br />
escreve, e repetidamente. Por isso,<br />
apenas se deixa aqui as datas da<br />
próxima edição da mais famosa<br />
festa minhota: 20 a 24 de Agosto.<br />
Daremos prioridade, portanto, nos<br />
parágrafos que se seguem a outros<br />
patrimónios.<br />
Natureza e urbanismo com história.<br />
Estas duas componentes estão<br />
fortemente presentes na oferta<br />
turística de Viana do Castelo, e<br />
mesmo na sua identidade, e são<br />
dois dos elementos mais apelativos<br />
da cidade, com os quais se procura<br />
seduzir os forasteiros. Comecemos<br />
pela primeira, bem sintetizada na<br />
promoção da cidade: entre o mar, o<br />
rio e a montanha.<br />
O cenário natural em que Viana se<br />
insere, com a foz do Lima no horizonte,<br />
o abraço próximo do monte de<br />
Santa Luzia, o litoral do Cabedelo a<br />
Manel (Rua de Viana, 118)<br />
e a Taberna do Valentim<br />
(Rua Monsenhor Daniel<br />
Machado, 180).<br />
Informações úteis<br />
Posto de turismo: Rua do<br />
Hospital Velho, telef.<br />
258822620<br />
Informação na internet:<br />
www.cm-viana-castelo.pt<br />
(Câmara Municipal);<br />
www.rtam.pt (Região de<br />
Turismo do Alto Minho).
dois passos: a enumeração é um começo<br />
e um prenúncio. Temos ainda a<br />
Serra de Arga ou a da Peneda, ou a do<br />
Gerês, embora nestas duas últimas<br />
serranias estejamos a colocar a fasquia<br />
a uma distância mais larga; esses são,<br />
todavia, é bom reconhecer, destinos<br />
sempre à mão de passear e dos de<br />
maior valia na área do ecoturismo<br />
nacional. Mais perto temos, efectivamente,<br />
com que entretecer andanças e<br />
mergulhos na natureza. Actualizemos<br />
a informação, que a há e que faz parte<br />
dos mais recentes artifícios de sedução<br />
do concelho. Foram inauguradas há<br />
bem pouco tempo algumas rotas que<br />
proporcionam uma intimidade dos<br />
caminhantes com os espaços naturais<br />
deste recanto do Alto Minho. São sete<br />
os percursos pedestres sugeridos por<br />
este roteiro, cuja informação detalhada<br />
é possível obter no posto de turismo<br />
de Viana: Trilhos dos Moinhos de<br />
Água de Montaria, na Serra de Arga,<br />
Trilho do Monte de Santa Luzia, Trilho<br />
dos Canos de Água, Trilho dos Moinhos<br />
de Vento de Montedor, Trilho do<br />
Chão, Trilho do Monte Galeão e Trilho<br />
da Ribeira de Santo Simão.<br />
PERCURSOS URBANOS<br />
No que toca aos percursos urbanos,<br />
o centro histórico de Viana do<br />
Castelo é um dos mais agradáveis e<br />
bem conservados do norte português.<br />
É um espaço habitado e<br />
vivo, com algumas esplanadas<br />
estratégicas, como as que nos esperam<br />
na prazenteira Praça da República.<br />
Aí mesmo damos também<br />
com dois dos incontornáveis edifícios<br />
históricos da cidade, o dos antigos<br />
Paços do Concelho, com o seu<br />
recorte medieval e inconfundíveis<br />
arcos góticos, e o da renascentista<br />
Casa da Misericórdia, e respectiva<br />
igreja, que conserva um incomparável<br />
acervo de azulejaria. O<br />
Chafariz (mais ou menos) central é<br />
também de Quinhentos, desses<br />
tempos que viram partir do cais de<br />
Viana aventureiros e povoadores<br />
como Gonçalo Velho, rumo às ilhas<br />
atlânticas, Fernão Martins, explorador<br />
da costa africana, e João Álvares<br />
Fagundes, que terá ido fundar<br />
uma colónia vianense à Terra Nova.<br />
No outro extremo do largo temos<br />
uma mostra de um dos mais celebrados<br />
quinhões do património<br />
cultural local: o Museu do Traje. Da<br />
Praça da República irradiam várias<br />
artérias, a explorar em passos perdidos<br />
pelo emaranhado do centro<br />
histórico, até se descobrir a gótica<br />
(e eclética, por mor dos posteriores<br />
acrescentos) sé. O escriba gosta<br />
particularmente da que dá pelo<br />
nome de Gago Coutinho, ruela em<br />
arco, com sedutora perspectiva dos<br />
antigos Paços do Concelho e da<br />
Casa da Misericórdia. No lado<br />
oposto e no final do arco brilha a<br />
Capela de Malheiros, jóia representativa<br />
que ressalta à primeira vista<br />
o que é: um exemplar do melhor<br />
barroco que em Portugal o viajante<br />
pode encontrar. ■<br />
Humberto Lopes [texto e fotos]<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 21
OFÍCIOS<br />
OS canteiros do Granito<br />
Uma estadia de férias em Entre-os-Rios é a ocasião para descobrir<br />
um ofício em plena pujança. O Vale do Douro é uma das zonas<br />
donde enormes pedreiras extraem granito em quantidades<br />
industriais, para a construção civil e até para a exportação, que<br />
daqui saem de navio até ao porto de Leixões.<br />
HÁ A EXTRACÇÃO e depois o fabrico<br />
de peças para a construção –<br />
umbrais, peitoris, soleiras, lareiras,<br />
colunas, varandas, pavimentos, degraus,<br />
etc. As variedades de granito<br />
são: o azul ou de Pedras Salgadas, o<br />
amarelo-real, o rosa de Porrinho<br />
(Galiza), o preto-impala e o negro<br />
de Angola. Pedra extremamente<br />
dura, só o esgotar de outras pedras,<br />
22 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
nomeadamente os calcários e os<br />
mármores, bem como o desenvolvimento<br />
de maquinas de corte<br />
próprias, veio viabilizar a sua larga<br />
utilização para alem dos blocos usados<br />
tradicionalmente na construção<br />
de casas rústicas do Douro e Minho,<br />
nas ultimas duas décadas.<br />
Esta actividade – extracção e<br />
transformação – é particularmente<br />
intensas em Alpendurada (concelho<br />
de Marco de Canavezes), Oldrões e<br />
Rans (concelho de Penafiel).<br />
António Ferreira, 45 anos, natural<br />
de Penafiel, desde os seus 12 anos<br />
que trabalha nesta arte, depois de<br />
concluída a 4ªclasse. “Não há escola<br />
de canteiro e o que eu gostava era<br />
de escultura, mas foi com o meu<br />
irmão mais velho que aprendi a<br />
profissão. Aos 21 anos marchei para<br />
a Suiça onde trabalhei durante 10<br />
anos como canteiro de granito e de<br />
pedra de areia mas tive que voltar<br />
pois as filhas já estavam na idade de<br />
ir para escola.” Agora mora e trabalha<br />
em S.Paio da Portela numa das<br />
inúmeras firmas de manufactura, a<br />
Granitos das Neves.<br />
As ferramentas essenciais são o<br />
macete, o cinzel e o ponteiro, estes<br />
dois últimos manuais ou pneumáticos.<br />
Depois de serrada a peça na<br />
freza com a espessura pretendida,<br />
seguem-se os cortes segundo medidas<br />
pretendidas, com disco de diamante,<br />
o lixar com esmeril ou lixa,<br />
manual mente ou com rebarbadora,<br />
a seco ou com água. O acabamento<br />
pode ser polimento grosso ou fino,<br />
amaciado (sem brilho) ou bojardado<br />
(a pedra picada).<br />
O seu sonho era fazer trabalho de
arte “Já fiz a igreja daqui da minha<br />
terra em miniatura, em granito,<br />
tenho-a em casa. Levei um mês a<br />
fazer nas minhas horas vagas.<br />
Também já fiz um moito (ave) em<br />
xisto. Gostava era de fazer brasões,<br />
imagens de santos, esculturas, mas<br />
isso não aparece tanto. De resto não<br />
há competição, nem segredos entre<br />
colegas do mesmo oficio”. As qualidades<br />
requeridas são firmeza de<br />
mão, rigor milimétrico nas medidas,<br />
boa vista. Os acidentes de trabalho<br />
são pequenos cortes e entalões nos<br />
dedos. “Mais arriscado é o trabalho<br />
nas pedreiras mas todo o cuidado é<br />
pouco”, acrescenta nos seus 33 anos<br />
de trabalho. “E ensinaria de bom<br />
grado este ofício a filhos se os tivesse!”,<br />
conclui num sorriso encimado<br />
por farto bigode preto e olhos atentos<br />
ao trabalho bem feito.<br />
Já o sr. Augusto Silva Sousa, 46<br />
anos, 4ª classe, natural e residente<br />
na Várzea do Douro, concelho do<br />
Marco de Canavezes, começou aos<br />
20 anos nesta profissão mas sempre<br />
nas peças decorativas, com alguma<br />
arte – leões, dragões, águias,<br />
cabeças de cavalo, rãs, figuras femininas,<br />
brasões e letras em altos ou<br />
baixos-relevos. Aprendeu sozinho<br />
praticando em casa fazendo cinzeiros,<br />
fazendo a partir dum modelo,<br />
dum desenho ou duma foto<br />
qualquer trabalho. “Desenho melhor<br />
com a ferramenta na pedra do<br />
que com o lápis no papel, mas<br />
gostava de tirar um curso de canteiro,<br />
ou de desenho pois era uma<br />
grande ajuda. Havia um curso de<br />
escultura em Belas Artes no Porto<br />
mas para canteiro não conheço. E<br />
se houvesse alguém com vontade<br />
de aprender também lhe ensinava,<br />
mas nesta profissão não há gente<br />
nova somos todos de 25, 30 anos<br />
para cima, pois é um trabalho com<br />
pedra que não atrai os jovens”.<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 23
OFÍCIOS<br />
Começou num estaleiro do irmão<br />
e é sozinho que pensa nos trabalhos<br />
e resolve os problemas. Quanto a<br />
qualidades: “É preciso paciência,<br />
calma, ter gosto e não se enervar,<br />
para a obra ir nascendo. Pensar,<br />
olhar para a pedra, imaginar como<br />
ela vai ficar, como ela há-de sair”.<br />
Acrescenta o sr. Augusto que só trabalha<br />
em granito amarelo ou cinza,<br />
e não gosta de trabalhar o mármore<br />
e muito menos de polir o granito.<br />
Em mãos, tem um trabalho grande:<br />
um leão de 1,30 m de alto por<br />
1,30 m de comprido e 75 cm de frente,<br />
que lhe levou um mês e meio a<br />
fazer, e se fosse polido seriam mais 3<br />
ou 4 dias. Primeiro é o talhe – ir escolher<br />
e cortar a pedra necessária. Usa<br />
o macete, o cinzel pouco, o martelo,<br />
o palheto e a bojarda com ou sem<br />
24 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
pneumático e a rebarbadora. A lavra<br />
feita com o cinzel abre os sulcos da<br />
juba do leão. Para acabamentos, o<br />
bojardado, a lixa ou o esmeril. O<br />
leão, de diversas dimensões, é o que<br />
mais se vende. Trabalha por conta<br />
própria perto da Alpendurada e os<br />
clientes são particulares, autarquias,<br />
igrejas e até já enviou trabalhos para<br />
Espanha, mas é evidente que a este<br />
canteiro de arte, que não vai a<br />
exposições nem a feiras, falta divulgação,<br />
que mais obras lhe encomendariam,<br />
tal a sua perfeição. Por seu<br />
lado com a crise, as encomendas<br />
estão fracas pelo que há que deitar<br />
mão a outros trabalhos mais correntes.<br />
Como jazigos, campas.<br />
Já tem a sua obra-prima: um conjunto<br />
de imagens para o Santuário<br />
de Mirandela – os doze apóstolos e<br />
mais cinco figuras entre os quais Nª<br />
Srª de Fátima e os pastorinhos. “Fiquei<br />
satisfeito e os meus clientes, a<br />
comissão fabriqueira, também e fui<br />
lá a Mirandela ver a obra, receberam-me<br />
muito bem. Não costumo<br />
assinar as minhas obras, pode ser<br />
que um dia passe a fazê-lo”. Sonha<br />
em fazer uma sereia.<br />
Tanto um como outro não conhecem<br />
nenhuma associação ou confraria<br />
de canteiros nem festa do seu<br />
ofício ou qual o santo padroeiro,<br />
mas acham uma boa ideia um<br />
encontro entre mestres do mesmo<br />
ofício. E bem seria uma exposição<br />
ou concurso anual de obras destes<br />
artífices anónimos: com tanto criativo<br />
e tanta criação, todos ganhariam<br />
e o ofício valorizar-se-ia. ■<br />
Guilherme Pereira [texto e fotos]
PATRIMÓNIO<br />
Mina do Lousal (Grândola)<br />
Uma Mina para o Turismo<br />
A dimensão da antiga Central Eléctrica, com um pé direito<br />
impressionante, um centro de comando gigantesco e uma<br />
multiplicidade de maquinaria impossível de abarcar com um único<br />
olhar, é apenas a evocação de um tempo de sacrifícios.<br />
O BRILHO das máquinas e o asseio<br />
do chão e das paredes embelezam<br />
um espaço que há menos de duas<br />
décadas era conhecido como “a<br />
frigideira” entre os mineiros do<br />
Lousal, uma mina de pirites no concelho<br />
de Grândola que chegou a<br />
empregar mais de três mil pessoas.<br />
Manuel João, mineiro durante 14<br />
anos no Lousal, é uma enciclopédia<br />
viva sobre a antiga mina. De rosto<br />
vincado pela passagem dos anos e<br />
queimado da exposição ao sol alentejano,<br />
este mineiro de 55 anos de<br />
idade revive com um entusiasmo<br />
surpreendente a sua experiência<br />
profissional com os turistas. E a<br />
enorme sala da antiga Central<br />
Eléctrica, hoje transformada em<br />
museu, serve de palco ideal a esse<br />
exercício de memória: “Aqui, nem<br />
as mulheres da limpeza vinham. A<br />
gente é que fazia tudo. Ninguém<br />
sabia qual era a cor do chão. Era só<br />
óleo. Chamávamos a isto a<br />
frigideira”.<br />
À medida que a visita prossegue<br />
e os turistas contemplam a maquinaria,<br />
o antigo mineiro vai desfiando<br />
o fio da memória: “Às vezes perguntávamos<br />
a nós próprios: onde é<br />
que a malta vai? E a resposta vinha<br />
em conjunto: ‘Vamos ao Tarrafal!’”.<br />
26 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
GUIA<br />
Como ir:<br />
A partir de Lisboa, apanhar a A2<br />
em direcção ao Algarve, sair em<br />
Grândola e tomar a direcção de<br />
Azinheira dos Barros, através da<br />
E.N. 259 e 261. A seguir a Azinheira<br />
dos Barros, uma placa indica Mina<br />
do Lousal para a direita: a aldeia<br />
mineira fica a 10 Km da E.N. 261.<br />
Onde comer<br />
Em pleno complexo turístico da<br />
Mina do Lousal, o Restaurante<br />
Armazém Central serve gastronomia<br />
típica alentejana.<br />
Onde ficar<br />
O complexo mineiro oferece estada<br />
na Albergaria de Santa Bárbara dos<br />
Mineiros. Contacto: 269 508 630<br />
albergariastabarbara@gmail<br />
Frigideira e Tarrafal eram designações<br />
diferentes para o mesmo<br />
objecto: a Central Eléctrica, coração<br />
do funcionamento da Mina de<br />
pirites do Lousal, minério cujo destino<br />
era a produção de ácido sulfúrico,<br />
onde as temperaturas atingiam<br />
valores insuportáveis.<br />
O sofrimento causado pelo calor<br />
não acontecia apenas à superfície.<br />
No interior da mina, as temperaturas<br />
também podiam tornar-se<br />
insuportáveis. E Manuel João não<br />
esquece essa experiência: “um dia,<br />
fui, mais um colega, dentro da mina<br />
arranjar uma máquina que tinha<br />
avariado, a uma profundidade de<br />
470 metros. Ficamos dentro da<br />
mina 38 horas, com uma temperatura<br />
de 50º ou 60º e água até à cintura.<br />
Foi o máximo que fiz, e eu sou<br />
uma criança ao pé desses homens<br />
que foram toda a vida mineiros”.<br />
A exploração mineira do Lousal<br />
terminou em 1988, depois de uma<br />
intensa actividade iniciada em<br />
1900. Um relógio afixado numa<br />
parede da Central Eléctrica regista<br />
desde então o fim dos trabalhos:<br />
15h30, “hora do fecho da mina, com<br />
o turno da manhã”, recorda<br />
Manuel João. A voz ainda denuncia<br />
a emoção desse momento: “o fecho
da mina foi um choque traumático<br />
muito grande para a gente”. Residiam,<br />
na altura, no Lousal cerca de<br />
700 pessoas.<br />
RENASCER<br />
Quase duas décadas após o termo<br />
inesperado da exploração do minério,<br />
a aldeia mineira do Lousal<br />
renasce para o turismo com um dinamismo<br />
surpreendente. Com o<br />
apoio financeiro da Fundação Fré-<br />
déric Velge, da Sapec e da Câmara<br />
de Grândola, o Programa de Revitalização<br />
e Desenvolvimento Integrado<br />
do Lousal, iniciado em 1996 e<br />
direccionado para a criação de<br />
infra-estruturas turísticas, atrai cada<br />
vez mais turistas ao antigo complexo<br />
mineiro. A primeira de requalificação<br />
das antigas instalações está<br />
concluída: a antiga Central Eléctrica<br />
foi transformada em museu, o antigo<br />
mercado foi readaptado em cen-<br />
tro de artesanato, o antigo Armazém<br />
Central é hoje um restaurante<br />
de gastronomia alentejana, a antiga<br />
residência do administrador da<br />
mina, mantendo o estilo original do<br />
edifício, foi recuperada como unidade<br />
hoteleira, e a instalação de um<br />
auditório permite visionar um filme<br />
sobre a exploração mineira e a vida<br />
da aldeia nos anos 50.<br />
A visita à Mina do Lousal é um<br />
momento inesquecível: uma pe-<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 27
PATRIMÓNIO<br />
Lavrador descobre minério em 1882<br />
A Mina do Lousal foi<br />
descoberta em Agosto de<br />
1882 por António Manuel,<br />
um agricultor da região de<br />
Azinheira dos Barros.<br />
Depois de passar por<br />
vários concessionários,<br />
entre os quais a Société<br />
quena viagem de 10 quilómetros,<br />
entre o início da estrada de Azinheira<br />
dos Barros, que ondula em<br />
ziguezague pelos campos abandonados,<br />
e o complexo mineiro, é o<br />
suficiente para constatar como a<br />
desertificação humana marca já<br />
uma região tão próxima do litoral<br />
como é o concelho de Grândola. As<br />
antigas instalações da mina propriamente<br />
dita, apesar da sua degradação,<br />
impressionam ainda hoje: o<br />
imponente malacate, que levava os<br />
mineiros a uma profundeza de 500<br />
metros e trazia o minério para a<br />
superfície, os gigantescos barracões<br />
28 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Sncnyme Belge des Mines<br />
d’Aljustrel em 1934, é a<br />
partir de 1936 que a<br />
exploração adquire maior<br />
intensidade após a<br />
concessão ser atribuída à<br />
sociedade belga Mines et<br />
Industries.<br />
Com a crescente procura<br />
do ácido sulfúrico, a Mina<br />
do Lousal ganha cada vez<br />
maior importância, até<br />
porque a Sapec, empresa<br />
química detida pela Mines<br />
et Industries laborava em<br />
Setúbal desde 1928, era<br />
circundantes, a locomotiva e os<br />
montes enormes dos restos do<br />
minério são sinais visíveis das dificuldades<br />
quotidianas do trabalho<br />
nas minas.<br />
A dificuldade da exploração<br />
mineira é também visível no museu<br />
da Central Eléctrica: a recriação do<br />
antigo escritório da mina, com<br />
peças originais dos antigos gabinetes<br />
e exposição de um valioso<br />
conjunto de ferramentas e de máquinas<br />
de enorme dimensão construídas<br />
no final do século XIX e no<br />
início do século XX mostram como<br />
se processava o dia-a-dia dos administradores<br />
e dos mineiros no<br />
Lousal.<br />
Em exposição está também, até 31<br />
de Agosto, a exposição “Modelos de<br />
Minas do Século XIX – Engenhos<br />
de Exploração Mineira”, uma<br />
colecção única no mundo de 53<br />
maquetas de minas e equipamentos<br />
de exploração mineira no século<br />
XIX. Quase todos assinados pela<br />
Real Academia de Minas de Freiberg,<br />
na Alemanha, que no século<br />
XIX era o expoente máximo do<br />
saber ao nível de engenharia de<br />
minas, estes modelos, usados no<br />
curso de Engenharia de Minas no<br />
Instituto Superior Técnico (IST),<br />
foram encontrados num avançado<br />
estado de degradação nas caves do<br />
IST, em Lisboa, estas maquetas<br />
foram restauradas pelos promo-<br />
um dos consumidores<br />
internos das pirites do<br />
Lousal, em conjunto com a<br />
Cuf. Quando encerrou, em<br />
1988, a Mina do Lousal<br />
era uma das mais<br />
explorações mineiras mais<br />
modernas do país.<br />
tores da recuperação do complexo<br />
mineiro do Lousal.<br />
A maior ambição dos promotores<br />
da recuperação deste complexo<br />
mineiro está agora direccionada<br />
para a concretização do projecto de<br />
descida real à mina. Com um orçamento<br />
de 10 milhões de euros, em<br />
parte fundos comunitários, este<br />
projecto estará concluído em 2010 e<br />
permitirá levar os turistas de elevador<br />
até às profundezas da mina.<br />
Para já, até ao final deste ano, deverá<br />
estar concluído o Museu da<br />
Ciência Viva, que permitirá uma<br />
visita virtual ao interior da mina. E<br />
deste modo os cerca de 700 residentes<br />
da aldeia mineira recuperam<br />
a esperança num futuro melhor. ■<br />
António Sérgio Azenha [texto e fotos]
TERMAS EM PORTUGAL [10]<br />
Caldas da Felgueira<br />
Um termalismo de bem-estar<br />
Envoltas por serra e por cursos de água, as Caldas da Felgueira têm<br />
sido uma das grandes apostas nacionais do termalismo nas últimas<br />
duas décadas, graças à modernização do seu balneário e das condições<br />
de alojamento. Neste período, estas termas contribuíram muito para<br />
uma nova imagem do termalismo português e para a entrada de<br />
novos e mais jovens aquistas.<br />
AS MEMÓRIAS Paroquiais de<br />
1758, apesar de não fazerem referência<br />
à povoação, já dão conta da<br />
existência de uma «nascente quente<br />
e sulfúrica no limite do lugar de<br />
Vale de Madeiros». Depois, foi no<br />
início do século XIX que doentes<br />
que sofriam de males de pele<br />
começaram a frequentar o local.<br />
Surgiram as primeiras casas. Em<br />
1867, a Exposição Universal de Paris<br />
reconheceu o valor destas águas,<br />
mas, apenas em 1882, foi constituída<br />
a Companhia das Águas Medicinais<br />
da Felgueira, seguida da<br />
criação da Nova Companhia do<br />
Grande Hotel Club das Caldas da<br />
Felgueira, em 1886, que levaram<br />
respectivamente à edificação do<br />
balneário e do hotel.<br />
Com o desenvolvimento das suas<br />
termas, a povoação deixou de ser<br />
um aglomerado de «velhos pardieiros<br />
espalhados a esmo», na vertente<br />
das montanhas da margem<br />
direita do rio Mondego. Em meados<br />
da década de 1890, foi concluída a<br />
avenida entre o balneário e o hotel,<br />
financiada pelas duas Companhias,<br />
e construída a ponte sobre o rio,<br />
30 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
possibilitando a ligação com Oliveira<br />
do Hospital, Seia e Gouveia,<br />
com mais fáceis percursos pedestres<br />
pela margem esquerda do rio.<br />
Nos primeiros anos do século<br />
seguinte, a estância consolida-se e<br />
começa a conhecer habituais frequentadores<br />
que a promovem pelo<br />
país, trazendo novos visitantes.<br />
Sabemos dos passeios à Fonte Fria,<br />
pequena edificação em estilo neoárabe,<br />
com planta quadrada e platibanda<br />
de merlões escalonados, contemporânea<br />
da construção do balneário<br />
termal.<br />
Com a mudança de gestão nos<br />
anos 60, a Felgueira assiste a um<br />
período reformador, apesar do terrível<br />
incêndio que devastou todo o<br />
interior do elegante Grande Hotel.<br />
Reconstruído este e ampliado o balneário,<br />
o verdadeiro salto na qualidade<br />
concretizar-se-ia a partir do<br />
final da década de 1980. Tratou-se<br />
de uma fase de grande renovação<br />
nos edifícios e equipamentos, intensificada<br />
a partir de 1995, quando<br />
tiveram início as obras mais profundas,<br />
que permitiram a ampliação<br />
das instalações balneares pela integração<br />
de um edifício contíguo ao<br />
balneário, que servira na década de<br />
30 como anexo de quartos do<br />
Grande Hotel. Em 1997, iniciou-se o<br />
funcionamento pleno das novas<br />
instalações.
Desde a sua origem que balneário<br />
e Grande Hotel se olham um ao<br />
outro, a menos de 100 metros, tendo<br />
por meio a estrada municipal que os<br />
divide também nas freguesias, pertencentes<br />
ao concelho de Nelas.<br />
Estas termas estão vocacionadas<br />
para o tratamento de doenças do<br />
foro respiratório, músculo-esquelético<br />
e dermatológico. Mas também se<br />
atenta neste local ao termalismo<br />
reabilitador de sequelas ortopédicas,<br />
traumáticas e neurológicas e ao termalismo<br />
preventivo, porque não é<br />
preciso estar doente para se «ir a termas».<br />
Para além do mais, uma estada<br />
na Felgueira, numa das suas<br />
unidades hoteleiras ou noutras das<br />
povoações próximas, permite a<br />
descoberta das regiões demarcadas<br />
do vinho do Dão e do queijo da<br />
Serra da Estrela, do azeite que é fabricado<br />
num moderno, funcional e<br />
ecológico lagar recentemente construído,<br />
das rotas das aldeias históricas,<br />
dos automóveis antigos do<br />
Museu do Caramulo e da pintura de<br />
Grão Vasco. Bem perto da Felgueira,<br />
é de apreciar e comprar o artesanato<br />
de Canas de Senhorim, feito de<br />
bonecas de pano ou de palha, telas<br />
serapilheira, madeira pirogravada,<br />
quadros em trapo e flores secas,<br />
arranjos florais, barros e trabalhos<br />
em seda.<br />
As Caldas da Felgueira têm sido<br />
um exemplo de importante e acolhedor<br />
destino turístico, com uma oferta<br />
diversificada, sobretudo dirigida a<br />
uma procura não massificada,<br />
naquilo que podem ser as estâncias<br />
termais portuguesas, de uma forma<br />
complementar à terapia das águas –<br />
pólos de animação cultural e de<br />
práticas desportivas (ténis, golfe,<br />
pesca, passeios temáticos, natação,<br />
caminhadas, cicloturismo) –, onde o<br />
termalismo de bem-estar manifesta<br />
um lugar cada vez mais significativo.<br />
É uma dinâmica que permite a<br />
modernização das infra-estruturas e<br />
a aposta na qualificação dos recursos<br />
humanos e dos serviços prestados,<br />
tendo em conta os desafios necessários<br />
para o desenvolvimento<br />
das regiões de interior. ■<br />
Jorge Mangorrinha<br />
Helena Gonçalves Pinto<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 31
32 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Chakall<br />
Sabores do mundo<br />
Argentino e viajante pelos vários continentes<br />
acabou de publicar “Cozinha Divina”, um livro<br />
cheio de cor e de vivências.
DE TURBANTE, prepara um delicioso<br />
ceviche de salmão numa<br />
esplanada das Caldas da Rainha.<br />
Acedeu, assim, ao convite da<br />
livraria 107 que costuma promover<br />
encontros com os autores. Um<br />
público atento, assiste ao desempenho<br />
culinário deste argentino.<br />
Na hora da degustação, todos aprovam<br />
a divina iguaria. Vamos por<br />
partes. Chakall, antes de se render<br />
aos encantos dos fogões, foi jornalista<br />
durante sete anos. “Tenho o<br />
curso, mas nunca fui buscar o<br />
diploma”, diz. Nas veias corre-lhe<br />
sangue galego, basco, francês, italiano,<br />
alemão e índio, o que dá uma<br />
mistura explosiva a nível físico.<br />
Talvez devido a essa salgalhada de<br />
culturas, pende-lhe o pé para o<br />
nomadismo. Antes de aterrar na<br />
Europa percorreu a América Latina<br />
de mota. ”Fiz onze mil quilómetros”,<br />
recorda.<br />
Os seus olhos esverdeados brilham<br />
quando recupera as memórias<br />
dos sete países africanos que visitou.<br />
“Apaixonei-me por África. Convivi<br />
com gente interessantíssima,<br />
não ligo à geografia, só me interessam<br />
as pessoas”. Sentiu uma felicidade<br />
intensa que palavra alguma<br />
do mundo ajudaria a descrever.<br />
Jamais esquecerá o lombo de gazela,<br />
temperado com azeite, limão,<br />
mel e cominhos, que preparou no<br />
deserto do Sudão. “Fiz uma fogueira<br />
e assei-o lentamente, à luz<br />
da lua cheia. Nunca uma refeição<br />
me soube tão bem”. Já não apreciou<br />
tanto as minhocas secas e os bifes<br />
de hipopótamo que comeu na<br />
Zâmbia.<br />
Do pólo Norte ao cabo das Agulhas<br />
foi descobrindo os segredos da<br />
cozinha, a que não atribui qualquer<br />
mistério. Acha a comida portuguesa<br />
“fantástica”, até já inventou algumas<br />
receitas de bacalhau, superan-<br />
PAIXÕES<br />
do-se no apuro dos sabores. Sente<br />
prazer em cozinhar, gosta do prazer<br />
de dar prazer. Pertence a uma família<br />
de restauradores, desde há<br />
quatro gerações. O quinto de uma<br />
prole de seis irmãos, nasceu em<br />
1972 em Tibre, Buenos Aires. Cresceu<br />
num ambiente dominado pelas<br />
massas e as carnes de vaca suculentas.<br />
Ainda criança, aprendeu a técnica<br />
dos folhados e dos recheios.<br />
Amigo de cirandar, conta como se<br />
perdeu nos campos. Já noite cerrada,<br />
chegou a casa à hora de jantar. A<br />
partir dessa aventura, ganhou o<br />
nome de Chakall.<br />
Como se define? “Venho da classe<br />
média, quando havia classe média<br />
na Argentina. Cresci no horror das<br />
ditaduras militares em que eram<br />
atiradas pessoas dos aviões. Não<br />
sou de esquerda nem de direita.<br />
Não acredito nas utopias de mudar<br />
o mundo. Respeito os outros, as diferenças<br />
religiosas e sou contra a<br />
violência. Penso que vivo com coerência<br />
e autenticidade”, sublinha.<br />
Desconfia da classe política que<br />
“parece apostada em frustrar as<br />
pessoas”. Mas vota, nem que seja<br />
em branco. É corajoso. Não teme o<br />
fracasso nem a morte. “O medo impede<br />
que avancemos. Há que perder<br />
o medo do ridículo, o medo<br />
cristão do pecado, o medo de relativizar<br />
as coisas. Encaro a morte<br />
com inconsciência, venho de uma<br />
família de loucos. O meu irmão<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 33
PAIXÕES<br />
mais velho foi torturado pelos militares,<br />
foi um modelo famoso no<br />
Brasil, percorreu a Amazónia a pé,<br />
viveu com os índios e inventou um<br />
monta-cargas”.<br />
Embora seja um tanto caótico,<br />
raramente lhe saem mal os cozinhados.<br />
“Sei emendar os erros.<br />
Tudo depende da concentração, se<br />
estamos a fazer arroz não o podemos<br />
largar. Um minuto pode ser<br />
fatal”, explica. Em 1997, o instinto<br />
trouxe-o até Portugal, “um país que<br />
não está no topo nem na base da<br />
pirâmide”. Está no meio, o que para<br />
ele se afigurava simpático. “Desembarquei<br />
no aeroporto com 70 quilos<br />
de bagagem, tomei um táxi e dirigime<br />
a casa de uma amiga portuguesa<br />
que, segundo os vizinhos do prédio,<br />
estava em Goa. Toquei à campainha<br />
do quarto andar e apareceram<br />
três tipos, um deles era o<br />
34 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
António Borges que me ofereceu<br />
alojamento. Deixei lá as coisas e<br />
parti de comboio para Barcelona<br />
onde tinha uma entrevista marcada<br />
com o Bono”. Em grande estilo<br />
encerrou o capítulo do jornalismo.<br />
“Para sempre”, garante.<br />
Não lhe chamem chefe, chamemlhe<br />
cozinheiro. Em Lisboa, após<br />
uma digressão por África, trabalhou<br />
na cozinha do Bicaense. “Apesar da<br />
minha inexperiência, havia filas de<br />
espera a partir das seis da tarde”.<br />
Recusou um convite para o comando<br />
da cozinha do Bica do Sapato.<br />
Mais tarde, foi sócio do restaurante<br />
Afrodite que abandonou quando<br />
estava em alta. Após quatro anos a<br />
remar contra as burocracias, desistiu<br />
de abrir um restaurante de cozinha<br />
árabe no Campo das Cebolas.<br />
“Em Goa demora 25 dias e na Alemanha<br />
um pouco mais”, afirma.<br />
Actualmente dedica-se ao serviço<br />
de catering e às aulas de culinária.<br />
“Alérgico” à cozinha dos hotéis, acalenta<br />
a ideia de montar uma escola<br />
de gastronomia ecológica no Oeste<br />
com o patrocínio das autarquias<br />
locais, a par da empresa portuguesa<br />
“Cozinha Divina”, um projecto a<br />
funcionar em Berlim.<br />
Vive numa quinta perto da Lourinhã<br />
com a mulher, uma alemã de<br />
Hamburgo, e as duas filhas. Conheceram-se<br />
num espectáculo do grupo<br />
Fura del Baus em 11 de Setembro de<br />
2001. Em casa é ele que cozinha.<br />
Pergunta o que querem comer, vai ao<br />
frigorífico e improvisa com esmero<br />
um prato onde o sabor se associa à<br />
estética. Não compra nada nos supermercados,<br />
gosta de comidas honestas,<br />
sem as complicações dos franceses<br />
que tornaram a cozinha numa<br />
moda. Por incrível que pareça, adora<br />
a comida notoriamente portuguesa<br />
do restaurante Poleiro.<br />
Chakall sai com frequência nas<br />
colunas sociais das revistas cor-derosa,<br />
o que contrasta com a sua imagem<br />
de homem desprendido. Do<br />
sedutor aventureiro. “Não tenho<br />
nada a ver com esse universo. Claro<br />
que uso a sedução, às vezes intencionalmente”.<br />
Um homem bonito, a<br />
falar de cozinha afrodisíaca, causa<br />
sensação entre as mulheres. “É<br />
como perguntar se o tango é sensual.<br />
No restaurante Bicaense fazia<br />
um bolo de chocolate com ingredientes<br />
afrodisíacos que tinha imenso<br />
sucesso. Os empregados de mesa<br />
entregavam-me bilhetinhos das<br />
comensais a convidarem-me para<br />
sair com elas, depois do jantar”. E<br />
então? “Nunca fui um libertino”.<br />
Mais umas dicas. Não dispensa a<br />
hortelã fresca nem a música de<br />
Beethoven. Só esqueci de perguntar<br />
se sabia dançar o tango. ■<br />
Lourdes Féria
PERCURSOS<br />
Talasnal: aldeia viva<br />
A estrada que serpenteia a serra da Lousã leva à descoberta<br />
de pequenas aldeias de xisto que pararam no tempo. Por ali já<br />
poucos são os que teimam em ficar. No Talasnal parece mesmo<br />
não haver ninguém, mas ao fim-de-semana transforma-se e<br />
ganha a alegria de outros tempos.<br />
A CORTINA que esvoaça ao vento,<br />
saída da larga porta de madeira do<br />
curral por baixo da casa de habitação,<br />
é o único sinal de que a aldeia<br />
não está só.<br />
O silêncio apenas é quebrado<br />
pelos próprios passos que caminham<br />
sobre passeios de xisto, cuidadosamente<br />
acompanhados por<br />
um gato preto que teima em fazer<br />
amizade. É sexta-feira e o sol já está<br />
a desaparecer por detrás das montanhas<br />
que circundam a aldeia.<br />
Ao longe ainda se avistam os terrenos<br />
de cultivo em socalcos, votados<br />
ao abandono, e um ou outro<br />
palheiro que ainda se mantém de<br />
pé, lutando contra a ruína. Já não<br />
há gado a pastar pelas encostas e as<br />
silvas tomam conta das pequenas<br />
fazendas, enleando-se em armadilhas<br />
intransponíveis.<br />
Os vários tons de xisto pincelam<br />
as casas, muitas recuperadas com a<br />
ajuda de fundos comunitários mantendo<br />
sempre a traça original. O<br />
longo e penoso trabalho que no<br />
passado colocou pedra sobre pedra<br />
deixou de conseguir enganar o tempo<br />
e várias casas vão-se desmoronando<br />
lentamente.<br />
Durante a semana não se vê<br />
ninguém, mas aos fins-de-semana a<br />
aldeia enche-se novamente de vida,<br />
bem diferente da que em tempos<br />
36 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
conheceu. Forasteiros dos quatro<br />
cantos do país, e até de além-fronteiras,<br />
descobrem o acidentado caminho<br />
de curvas e contra-curvas da<br />
estrada em terra batida que parte<br />
das imediações da cidade da Lousã<br />
e passa por várias povoações de<br />
xisto, praticamente desertas.<br />
Há anos que se luta por uma estrada<br />
de alcatrão, mas os ambientalistas<br />
opõem-se e até os visitantes reclamam<br />
porque acreditam que assim<br />
chegará o «turismo de massas»,<br />
conta Amélia Dias, uma das proprietárias<br />
do restaurante Ti’Lena.<br />
É o único restaurante que existe<br />
na aldeia, funciona por marcação e<br />
apenas aos fins-de-semana. Este<br />
espaço nasceu depois do filho de<br />
Amélia Dias ter descoberto o Talasnal<br />
num acampamento de escuteiros.<br />
Apaixonou-se de tal forma<br />
pela povoação que acabaria por convencer<br />
a família a visitar a aldeia.<br />
Cativada, Amélia juntou-se com a<br />
irmã Lizete Dias numa sociedade<br />
que funciona com muita dedicação.<br />
Durante a semana, Amélia vive e<br />
trabalha em Coimbra, mas à sextafeira<br />
ruma com a irmã Lizete, de<br />
Leiria, para a Serra da Lousã.<br />
«As compras são feitas durante a<br />
semana, como se fosse para a minha<br />
própria casa», conta Amélia animada.<br />
«Não há quem queira trazer as
coisas para aqui, temos que transportar<br />
tudo sozinhos», resume,<br />
salientando que a excepção é feita<br />
pelo fornecedor que traz a carne de<br />
cabra, criada nos arredores.<br />
A chanfana é uma das especialidades<br />
da casa que está decorada de<br />
forma rústica. Nas paredes, de xisto<br />
à vista, figuram vários objectos das<br />
lides agrícolas e uma lareira ladeada<br />
por bancos em pedra convida a<br />
horas esquecidas de conversa.<br />
Todos parecem conhecer-se há<br />
muito. Turistas trocam longas palavras<br />
entre eles e as proprietárias<br />
juntam-se à tertúlia. Fala-se de<br />
tudo, mas os segredos das receitas<br />
ficam bem guardados.<br />
OLHAR DE OUTROS TEMPOS<br />
Ti’Lena é mais do que um restaurante,<br />
aliás não foi baptizado com<br />
este nome por acaso. É uma homenagem<br />
à mais velha dos quatro<br />
habitantes permanentes do Talasnal.<br />
Tem mais de 80 anos e nos<br />
olhos de azul profundo lêem-se<br />
tempos de duro trabalho no campo.<br />
De lenço na cabeça, sentada à<br />
porta da loja de artesanato da filha,<br />
que também aos fins-de-semana<br />
abre portas, conta histórias que a<br />
memória não apaga. Lembra os<br />
tempos passados na cidade da<br />
Lousã, enquanto a filha estudava, e<br />
o choque que foi regressar à aldeia.<br />
«Todos os dias chorava, mas acabei<br />
por me habituar. Agora já não me<br />
importo», conta.<br />
Os “invasores” de fim-de-semana<br />
não a incomodam. Também a eles<br />
se habituou. São caras novas que<br />
por vezes se repetem, pessoas de<br />
passagem que ficam tempos esque-<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 37
PERCURSOS<br />
cidos à conversa. É como se todos se<br />
conhecessem, como se naquele<br />
momento todos vivessem na mesma<br />
aldeia.<br />
Com o som da água que corre<br />
sem parar como fundo, ti’Lena lembra<br />
com saudade o tempo em que<br />
se apanhava a azeitona e quando os<br />
dois lagares estavam a funcionar.<br />
Produziam-se muitos litros de<br />
azeite na aldeia, de qualidade «até o<br />
cheiro era outro, notava-se que era<br />
bom». Depois dos lagares fecharem<br />
ainda se fez azeite durante algum<br />
tempo num lagar de uma povoação<br />
vizinha, mas uma vez «misturaram<br />
qualquer coisa e nem para as lamparinas<br />
da igreja servia. Cheirava<br />
mal. Parecia que tinha óleo de carro<br />
misturado. Foi tudo para o lixo».<br />
Apesar de terem insistido, ti’Lena<br />
nunca fez queixa do sucedido, mas<br />
o lagar acabou por fechar.<br />
No Talasnal ainda se mantêm as<br />
38 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
videiras seculares. Ti’Lena está sentada<br />
por baixo de uma que já ali<br />
estava quando nasceu. «Tem mais<br />
de 200 anos», assegura. As uvas são<br />
morangueiras e tão doces que<br />
apetece comer muitas. São de todos<br />
e podem-se provar sem receio.<br />
Nesta pequena aldeia ainda se<br />
pode beber um licor ou aguardente<br />
de bolota, castanha, medronho ou<br />
mel, preparado como antigamente.<br />
São sabores que se mantêm e se<br />
encontram tanto na loja de artesanato,<br />
onde se compram os talasni-<br />
cos (bolos típicos), como no restaurante<br />
ou no Curral. O bar que funciona<br />
numa das casas recuperadas,<br />
onde os bancos são troncos de<br />
madeira e as mesas grandes lajes de<br />
lousa. Nas paredes de pedra estão<br />
expostos utensílios de outros tempos:<br />
cadimas – espécie de serrote<br />
usado por duas pessoas que serviam<br />
para cortar tábuas; um ou outro<br />
mangual – instrumento que servia<br />
para bater o milho nas debulhas;<br />
várias turqueses, entre outros. Nos<br />
barrotes do tecto, vários papéis pendurados<br />
com dedicatórias são testemunhos<br />
de quem por aqui passou.<br />
É possível pernoitar na maior das<br />
sete aldeias serranas da Lousã. Mas,<br />
à excepção da Casa de Abrigo, todas<br />
as habitações para alugar pertencem<br />
a particulares e podem ser<br />
reservadas por telefone. ■<br />
Maria Leonor Vicente [texto]<br />
Vítor Castilho [fotos]
CENTENÁRIOS<br />
O Padre<br />
AntónioVieira<br />
e o Brasil<br />
António Vieira nasceu em Lisboa a 6 de <strong>Fevereiro</strong> de 1608<br />
e foi baptizado na Sé, vizinha de sua casa.<br />
O PAI ,<br />
de origem modesta<br />
e filho<br />
de uma mulata, casou com uma<br />
filha de um cristão-velho influente,<br />
que obteve para o genro o cargo de<br />
escrivão dos agravos da Relação da<br />
Bahia, motivo pelo qual o jovem<br />
António foi viver para o Brasil em<br />
1614, tendo sido matriculado no<br />
Colégio dos Jesuítas de Salvador.<br />
Em 1623, tendo então 15 anos de<br />
idade, ingressou na Companhia<br />
como noviço e em 1634 foi ordenado<br />
sacerdote. Em 1633, antes ainda<br />
de ordenado presbítero, já António<br />
Vieira pregara algumas vezes nas<br />
igrejas baianas, destacando-se<br />
nesse ano o Sermão Décimo<br />
Quarto, sobre as condições dos<br />
escravos.<br />
Cedo se revelou Vieira um orador<br />
eloquente e erudito. De forma enérgica,<br />
proferiu na Bahia sermões<br />
sobre a situação dos escravos e<br />
sobre a guerra com a Holanda, pois<br />
40 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
os holandeses, vindos de Pernambuco,<br />
onde estavam desde 1630,<br />
voltaram em 1638 a tentar tomar<br />
Salvador, que já tinham ocupado de<br />
1624 a 1626. O Sermão pelo bom<br />
sucesso das armas de Portugal contra<br />
as de Holanda, proferido na<br />
Bahia em 1640, foi considerado pelo<br />
historiador setecentista francês G.-<br />
Th. Raynal o discurso mais veemente<br />
e genial jamais ouvido em<br />
púlpito cristão.<br />
Continuou o jovem sacerdote a<br />
trabalhar entre os negros e os<br />
índios, para os quais era o Paiaçu,<br />
ou seja, em tupi, o Pai Grande, promovendo,<br />
entre outros trabalhos, as<br />
escolas de ensino elementar nas<br />
aldeias, quando em 1641 foi integrado<br />
na delegação que foi a Lisboa<br />
felicitar o Rei D. João IV pela sua<br />
ascensão ao trono.<br />
O novo monarca depressa se<br />
apercebeu dos méritos de Vieira e<br />
passou a contá-lo como seu conse-<br />
lheiro, a quem considerava o maior<br />
homem do mundo. Foi Vieira,<br />
segundo Oliveira Martins, o João<br />
das Regras de D. João IV. Já então os<br />
lisboetas se haviam habituado a<br />
encher a Igreja de São Roque, atraídos<br />
pela fama dos seus sermões nos<br />
quais, além de cuidar das coisas de<br />
Deus, cuidava também das coisas<br />
da Pátria, exortando os fiéis a cumprirem<br />
as suas obrigações perante o<br />
Estado e a cuidarem do bem comum<br />
porque, adveria ele, sabei<br />
cristãos, sabei príncipes, sabei ministros,<br />
que se vos há-de pedir estreita<br />
conta do que fizestes.<br />
O Padre António Vieira viveu no<br />
Brasil durante mais de cinquenta<br />
anos, intervalados por quatro estadas<br />
mais ou menos prolongadas<br />
em Portugal e em outros países<br />
europeus, e morreu na Bahia a 18<br />
de Julho de 1697, aos 89 anos de<br />
idade. Mesmo quando ausente, o<br />
Brasil e as suas gentes estiveram
sempre presentes nas suas preocupações<br />
e na sua acção, religiosa,<br />
política ou diplomática. Sobre isto<br />
nos ocuparemos, deixando de lado<br />
tantos outros aspectos relevantes<br />
da sua notável, vasta e multifacetada<br />
biografia.<br />
A primeira vez que Vieira se<br />
referiu aos problemas do Brasil foi<br />
na Carta Anua de 1626, em que em<br />
nome da Companhia de Jesus relata<br />
os mais recentes acontecimentos,<br />
sobretudo a tomada da Bahia pelos<br />
holandeses, e se manifesta contra a<br />
escravização dos indígenas do<br />
Norte, cujos costumes e tradições<br />
relata.<br />
Crítico dos abusos do poder exercido<br />
no Brasil pelos reinóis, Vieira<br />
declara em 1641 na Bahia perante o<br />
Vice-Rei: Perde-se o Brasil, Senhor,<br />
porque alguns ministros de Sua<br />
Majestade não vêm cá buscar nosso<br />
bem, vêm buscar nossos bens…<br />
Com idêntica argumentação, vinte<br />
e um anos mais tarde, no Maranhão,<br />
apontou Vieira a causa da<br />
decadência moral daqueles domínios:<br />
a desonestidade, as injustiças,<br />
a tirania, os desmandos e o<br />
abuso do poder constituído.<br />
EM<br />
1643, na Proposta a El-<br />
Rei D. João IV, Vieira<br />
manifesta-se favorável aos cristãosnovos<br />
e apresenta um plano de<br />
recuperação económica do País,<br />
que conta com a inclusão dos financeiros<br />
hebraicos. Esta proposta suscita<br />
a oposição firme do Santo<br />
Ofício e da Santa Sé mas merece o<br />
apoio do Rei. A sua ideia irá ser<br />
finalmente acolhida na criação, por<br />
diligências de Vieira, da Companhia<br />
Geral do Comércio do<br />
Brasil, em 1649, que admitia a participação<br />
de capitais judeus para o<br />
desenvolvimento da economia<br />
brasileira.<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 41
CENTENÁRIOS<br />
Perante a ocupação holandesa do<br />
Nordeste brasileiro, à Coroa punhase<br />
o problema de não renunciar ao<br />
seu domínio, ainda que para tal<br />
fosse necessário pagar um preço<br />
elevado. E nessas negociações teve<br />
Vieira participação muito activa.<br />
Acusada de não se opor com a energia<br />
e os meios necessários à presença<br />
holandesa no Brasil, à Coroa<br />
portuguesa não convinha hostilizar<br />
demasiado os flamengos, tendo em<br />
conta a sua ocupação de Angola e a<br />
necessidade de Portugal ter aliados<br />
na Europa contra os Espanhóis.<br />
Mas foram os próprios brasileiros os<br />
autores da solução militar que poria<br />
termo ao domínio flamengo, com as<br />
vitórias decisivas nas batalhas de<br />
Guararapes (1648 e 1649). Por coincidência,<br />
foi também pela força das<br />
armas que, no mesmo ano de 1649,<br />
Portugal recuperou aquele território<br />
africano, tão importante<br />
42 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
O 2.º centenário da morte<br />
de António Vieira foi<br />
assinalado com uma lápide<br />
no adro da Sé de Lisboa.<br />
A inscrição é da autoria<br />
do 2.º Visconde de Castilho.<br />
NA FREGUEZIA DA SÉ DE LISBOA<br />
AOS 6 DE FEVEREIRO DE 1608<br />
DE CHRISTOVAM VIEIRA RAVASCO E D. MARIA DE AZEVEDO<br />
NASCEU O GRANDE<br />
PADRE ANTÓNIO VIEIRA<br />
DA COMPANHIA DE JESUS<br />
POLITICO, MISSIONARIO, CLASSICO, MORALISTA, ORADOR,<br />
DEFENSOR DOS FRACOS E DOS OPPRIMIDOS,<br />
SEMPRE PATRIOTA<br />
E ESPELHO DE VIRTUDES CHRISTÃS,<br />
ORNAMENTO E GLÓRIA DA NOSSA TERRA PORTUGUEZA.<br />
ESTA MEMORIA SE MANDOU AQUI POR<br />
AOS 18 DE JULHO DE 1897<br />
2º CENTENARIO DO FALLECIMENTO DO P. ANTONIO VIEIRA<br />
NA CIDADE DA BAHIA<br />
para o progresso do Brasil porque,<br />
como observou o Padre António<br />
Vieira, todo o debate agora é sobre<br />
Angola e é matéria em que não hãode<br />
ceder, porque sem negros não há<br />
Pernambuco e sem Angola não há<br />
negros. Há que referir que Vieira,<br />
de acordo com o pensamento da<br />
época, não era contra a escravatura<br />
negra. Era, sim, ardente defensor<br />
perante os colonos da dignidade<br />
dos escravos, também filhos de<br />
Deus, e do bom tratamento que<br />
lhes deveria ser dado.<br />
EM<br />
1653 o Padre António<br />
Vieira regressa ao Brasil,<br />
como fundador efectivo da Missão<br />
do Maranhão e Pará, com um<br />
decreto da libertação dos índios, e<br />
profere o primeiro grande sermão<br />
contra a escravização dos indígenas,<br />
o Sermão das Tentações. Em<br />
1654, embarca de novo para Lisboa,<br />
para obter mais diplomas favoráveis<br />
aos índios, regressando ao<br />
Maranhão no ano seguinte, levando<br />
consigo a Lei de 1655, ao abrigo<br />
das quais ele próprio obteve a<br />
redução pacífica dos índios Nheengaíbas,<br />
realizada nas selvas do Pará<br />
em 1659, cerimónia que Vieira<br />
descreve em carta a El-Rei, contando<br />
que, acabado o juramento, os<br />
índios foram abraçar todos os presentes,<br />
e era coisa da muito para<br />
dar graças a Deus ver os extremos<br />
de alegria e verdadeira amizade<br />
com que se davam e recebiam estes<br />
abraços, e as coisas que a seu modo<br />
diziam entre eles.<br />
Ocupa-se também o Padre em<br />
redigir o Regulamento das Aldeias,<br />
no governo das quais a Companhia<br />
de Jesus tinha um papel proeminente,<br />
em prejuízo do poder civil.<br />
Por isso, quando em 1661 a Câmara<br />
do Pará manifestou a necessidade
de empreender entradas no sertão<br />
para fazer escravos, retorquiu<br />
Vieira que as dificuldades da terra<br />
não provinham só da falta de<br />
escravos, o que bastou para ser<br />
expulso do Maranhão pelos colonos<br />
e mandado para Portugal, onde no<br />
ano seguinte, no Sermão da<br />
Epifania, pregado na Capela Real,<br />
de forma veemente defende os missionários<br />
e ataca os colonos. Sobre<br />
esta prédica, escreveu Camilo<br />
Castelo Branco: Vieira comoveu até<br />
às lágrimas e fez que a santa liberdade<br />
volvesse à América a estalar as<br />
gargalhadas do Índio e a cicatrizarlhe<br />
as vergastadas do tagante.<br />
Em 1681 regressa Vieira ao Brasil,<br />
como superior da vice-província do<br />
Maranhão e Grão Pará, cargo que já<br />
havia exercido entre 1653 e 1656, e<br />
retoma o seu ritmo de vida, incessantemente<br />
visitando as missões e<br />
as aldeias sob a sua jurisdição. Em<br />
1688 é nomeado Visitador Geral dos<br />
Jesuítas no Brasil, cargo a que resigna<br />
em 1691. Naquele mesmo ano<br />
de 1688 intervém na questão dos<br />
negros fugitivos do quilombo dos<br />
Palmares e defende de novo a liberdade<br />
dos índios, nomeadamente<br />
contra a pretensão dos paulistas de<br />
os utilizar na mineração do ouro,<br />
então descoberto.<br />
ALÉM<br />
de escritor, pregador,missionário,<br />
conselheiro político, diplomata,<br />
defensor dos direitos dos<br />
índios, dos negros e dos judeus, facetas<br />
em que sobressaíram o seu<br />
génio literário (Fernando Pessoa<br />
chamou-lhe Imperador da língua<br />
portuguesa), a sua vastíssima cultura,<br />
as suas notáveis qualidades<br />
intelectuais e uma rara determinação<br />
e coragem na luta pelos seus<br />
ideais, o Padre António Vieira cul-<br />
tivou ainda a faceta de visionário,<br />
auspiciando para o seu País o papel<br />
redentor reservado pelas profecias<br />
ao Quinto Império. Como bem<br />
escreveu Aníbal Pinto de Castro,<br />
nas cortes da Europa como nos<br />
sertões do Brasil, foi Vieira verdadeiramente,<br />
pelo pensamento,<br />
pela acção e pela palavra, o homem<br />
que viveu o seu tempo sob a carga<br />
dos problemas e, por conseguinte,<br />
dos dramas que afligiam esse<br />
tempo. E fê-lo fundindo num todo<br />
indissolúvel duas sociedades, ao<br />
mesmo tempo tão ligadas e tão<br />
diferentes, como eram a sociedade<br />
do Reino e as que a prolongavam<br />
na outra margem do Atlântico. Mas<br />
foi também, com uma paixão não<br />
menos veemente, um apóstolo do<br />
Reino de Cristo que visionou para a<br />
Humanidade, sob a égide de Portugal.<br />
■<br />
Mário Quartin Graça<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 43
VIAGENS<br />
VALÊNCIA<br />
Valência é uma cidade mediterrânica pela luz, pelo clima e pelomodo<br />
de viver e sentir das suas gentes. Moderna na expressão arquitectónica<br />
de vanguarda, conserva ao mesmo tempo um centro histórico carregado<br />
de sinais de um passado ligado aos tempos da Reconquista.<br />
Luz do Levante<br />
A CAPITAL da Comunidade Valenciana<br />
tem sido notícia nos últimos<br />
anos pela renovação urbana que ao<br />
longo do rio Túria dotou a cidade<br />
de notáveis exemplares de arquitectura<br />
vanguardista, como a Cidade<br />
das Ciências e das Artes, uma estrutura<br />
polivalente que tem objectivos<br />
lúdico-culturais e integra um<br />
Museu das Ciências, um Planetário,<br />
um Palácio das Artes e um Museu<br />
Oceanográfico. Uma das imagens<br />
mais recentes acrescentadas à paisagem<br />
urbana dessa zona da cidade<br />
é precisamente o Palácio de Artes<br />
Rainha Sofia, assinado pelo arquitecto<br />
espanhol Santiago Calatrava.<br />
Mas de Valência há também que<br />
lembrar alguma história, dessa com<br />
maiúscula, para que se faça um<br />
44 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
pouco de luz sobre a sua identidade.<br />
O animado passado de<br />
Valência pede, por exemplo, uma<br />
visita ao Museu do Ayuntamiento<br />
para observar de perto a espada de<br />
D. Jaime I, pousada junto do<br />
estandarte içado na Torre Isab-El-<br />
Shaddar pelos mouros em sinal de<br />
rendição às hostes cristãs, no ano<br />
de 1238. Muita da memória de<br />
Valência passa exactamente pelos<br />
tempos turbulentos da Reconquista.<br />
A cidade foi arrebatada ao<br />
domínio muçulmano por El Cid,<br />
voltando a cair de novo nas mãos<br />
dos Almorávidas, antes de regressar<br />
à posse dos cristãos.<br />
Da Valência árabe muito pouco<br />
ficou, destruídas que foram as<br />
mesquitas para sobre elas implantar<br />
templos cristãos. As muralhas<br />
árabes tiveram o mesmo destino e<br />
apenas noutros lugares da Comunidade<br />
encontramos vestígios significativos<br />
de fortificações: as de<br />
Morella, que El Cid também conquistou<br />
para a coroa castelhana, e<br />
as de Xátiva, terra natal de Ribera.<br />
O Almudín, que se sabe ter sido<br />
armazém de cereais, pode ser um<br />
resquício do antigo Alcázar de<br />
Valência, mas esta é, de momento,<br />
apenas uma hipótese adiantada por<br />
historiadores e arqueólogos.<br />
CALEIDOSCÓPIO MONUMENTAL<br />
Em Valência os passos do viajante<br />
perdem-se também com prazer<br />
pelo centro histórico, um espaço de<br />
mil rostos que reflectem o percurso
VIAGENS<br />
histórico de uma cidade mediterrânica.<br />
É uma zona caracterizada<br />
por um verdadeiro caleidoscópio<br />
de estilos arquitectónicos, desde as<br />
medievas torres da Porta de<br />
Serranos até ao edifício modernista<br />
do Banco de Valência, com bela<br />
azulejaria da região na fachada.<br />
A Catedral de Santa Maria, de<br />
raiz medieval, é um edifício compósito,<br />
tal como outros templos da<br />
cristandade. Ergueu-se primeiro<br />
sobre uma mesquita que, ao tempo<br />
da conquista de Valência aos<br />
muçulmanos, El Cid decidiu consagrar<br />
a São Pedro ou à Virgem<br />
Maria, não se sabe bem. O templo<br />
acabou por incorporar elementos<br />
46 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
arquitectónicos românicos, góticos,<br />
renascentistas e barrocos. A grande<br />
nave central filia-se no gótico cisterciense,<br />
como gótica é também a<br />
torre-campanário, ex-libris da Valência<br />
antiga e ícone de postais.<br />
Belas são também as três portas do<br />
templo: a gótica Puerta de los<br />
Apóstoles, a Puerta de la Almoina,<br />
românico-bizantina, e a Puerta de<br />
los Hierros, de perfil barroco.<br />
Vale a pena circular também, com<br />
tempo, pela curiosíssima Praça Redonda,<br />
uma praça fechada que<br />
desde manhã cedo se anima com<br />
um mercado de livros usados e pássaros.<br />
E finalmente, a concluir este<br />
breve périplo pelo centro histórico,<br />
não se pode perder pelo menos<br />
uma passagem sob o arco da réplica<br />
valenciana da Ponte dos Suspiros.<br />
"LO QUE EXISTE EN VALENCIA<br />
ES EL AIRE"<br />
Em expressão estereotipada, fogo e<br />
pólvora estão no sangue dos valencianos.<br />
As tradições festivas são<br />
desse facto um eloquente testemunho,<br />
sublinhado ainda por uma<br />
expressão que registei precisamente<br />
por aquelas bandas: " Quando nasce<br />
uma criança valenciana, fazem-lhe<br />
uma transfusão e metem-lhe 5% de<br />
pólvora nas veias". E a dita substância<br />
far-se-á companhia de toda uma<br />
vida, uma vez que petardos e
AS FALLAS<br />
Fogo e pólvora<br />
É uma da festas mais conhecidas e<br />
populares de Espanha, o que não é<br />
dizer pouco a propósito do<br />
calendário festivo de um país que<br />
acumula, precisamente, um<br />
"excesso" de festas que se afirmam,<br />
por sua vez, por uma certa<br />
"excessividade". As Fallas é uma<br />
das que mais gente atrai, e todos<br />
os anos, em Março, Valência é o<br />
destino de milhares de turistas em<br />
busca da vertigem de uma<br />
celebração que mergulha as suas<br />
raízes em ritos ancestrais.<br />
O registo mais próximo assinala o<br />
ano de 1889 como o de início da<br />
tradição. A coisa pode ter tido<br />
origem na queima pública de<br />
madeira velha, numa grande<br />
fogueira em honra de S. José,<br />
patrono dos carpinteiros. A relação<br />
com as fogueiras pagãs do solstício<br />
de verão, associadas pelo<br />
cristianismo ao culto dos santos, é<br />
também evocada para explicar a<br />
génese das Fallas.<br />
Actualmente, as fogueiras<br />
consomem muitas dezenas de<br />
enormes estruturas, as "fallas",<br />
rodeadas por figuras modeladas em<br />
cartão, os "ninots". O conjunto<br />
caricatura de forma satírica<br />
personagens e acontecimentos<br />
públicos. Algumas das "fallas"<br />
chegam a ter quase vinte metros de<br />
altura e podem pesar mais de oito<br />
toneladas. Há em Valência dezenas<br />
de oficinas de produção de "fallas" e<br />
conta-se em cerca de três centenas<br />
os artistas consagrados à sua<br />
idealização e execução.<br />
A "nit del foc" (noite do fogo)<br />
constitui o clímax da semana<br />
"fallera". À meia-noite do dia 19 de<br />
Março tem início a grande imolação<br />
das peças, entre explosões dos<br />
petardos e música das bandas. A<br />
última "falla" a arder é a que se<br />
ergue na praça do município. É aí<br />
que se assiste ao culminar desse<br />
delírio pirotécnico, uma<br />
espectacular apoteose de fogo e<br />
pólvora.■<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 47
VIAGENS<br />
foguetes são ali os primeiros convidados<br />
de qualquer celebração. Não<br />
há noivos que não partam para a<br />
lua-de-mel a cheirar a pólvora: nenhum<br />
enlace valenciano tem validade<br />
sem o rebentamento nesse dia<br />
de uma vigorosa "mascletá".<br />
Entre as festas mais agitadas, como<br />
são todas as da Comunidade Valenciana,<br />
as Fallas serão talvez as mais<br />
conhecidas (ver caixa). Mas há outros<br />
momentos igualmente significativos<br />
da folia valenciana que inundam de<br />
pólvora os dias festivos, como as festas<br />
de Moros y Cristianos, encenações<br />
das velhas lutas entre cristãos<br />
e sarracenos na época da Reconquista.<br />
A mais impressionante de todas<br />
tem lugar alguns quilómetros a<br />
sul de Valência, em Alcoy. Todos os<br />
anos, em Abril, milhares de figurantes<br />
representando ambos os exér-<br />
48 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
citos, cristão e muçulmano, saltam<br />
para a rua, envolvendo-se em "batalhas<br />
urbanas" com arcabuzes e muita<br />
pólvora seca.<br />
A cidade mediterrânica raramente<br />
perde a sua proverbial claridade,<br />
e um passeio até ao litoral, à emblemática<br />
praia de Malvarosa, reforça<br />
a imersão nessa luz tão mag-<br />
VIAGENS INATEL<br />
Com partidas de Santarém, Lisboa,<br />
Setúbal e Évora, o <strong>Inatel</strong> tem programada,<br />
entre 16 e 21 de Março<br />
próximo, por altura das Fallas, uma<br />
viagem a Valência. Preço: 550 euros<br />
por pessoa em quarto duplo.<br />
Informações e reservas nos balcões<br />
de venda da sede e delegações do<br />
Instituto.<br />
nificamente pintada pelos pintores<br />
valencianos. Azorín, que viveu<br />
algum tempo em Valência (e publicou<br />
as suas impressões dessa experiência<br />
num volume memorialístico<br />
intitulado Valencia y Madrid) assinalou<br />
justamente que "Valencia es<br />
la tierra de los pintores. Y de los<br />
pintores desposados con la luz".<br />
Azorín conheceu na intimidade<br />
essa luz que ilumina tantos quadros<br />
de Sorolla (visitáveis nos acervos<br />
museológicos da cidade), e foi certamente<br />
nessa luminosidade tão<br />
serena quanto sensual que terá<br />
pensado quando escreveu que "no<br />
la color, sino el aire es lo qua ha pintado<br />
Sorolla". E porquê? Ele mesmo<br />
esclarece. Por uma razão tão elementar<br />
como a de que "lo que existe<br />
en Valencia es el aire". ■<br />
Humberto Lopes [texto e fotos]
A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES<br />
A adamantina algarvia<br />
Há uns 20 anos, ninguém queria saber da alfarrobeira (Ceratonia Siliqua L.). Hoje, há ladrões<br />
de alfarroba. Na década de 80, muitos agricultores algarvios cortaram as árvores centenárias,<br />
substituindo-as por pomares de laranja. Hoje, o reconhecimento do valor ecológico e<br />
económico desta espécie mediterrânica, pertencente à família das Leguminosae, já levou à<br />
destruição de alguns laranjais.<br />
Apesar de, actualmente, a alfarrobeira ser considerada<br />
uma “árvore do futuro” – devido à<br />
capacidade em absorver as emissões de CO2,<br />
produzir bioetanol (combustível passível de<br />
ser misturado com os derivados do petróleo) e sobreviver<br />
a uma baixa precipitação (cerca de 200 mililitros),<br />
só para resumir algumas das suas muitas virtudes – há,<br />
ainda, quem venda ou destrua espécimes centenários.<br />
Conforme noticiou o jornal PÚBLICO, de 7 de<br />
Dezembro 2007, algumas alfarrobeiras, salvas da Via<br />
Infante de Sagres, foram vendidas para empreendimentos<br />
de luxo no Algarve mas também para Espanha,<br />
Dubai, China e Austrália, encontrando-se o negócio da<br />
50 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
exportação numa fase de crescimento. A mesma notícia<br />
informava que “uma alfarrobeira de quatro metros de<br />
altura e mais de cem anos” pode ser vendida pela módica<br />
quantia de “2500 euros”.<br />
Se considerarmos prioritária a rentabilidade de uma<br />
alfarrobeira é sabido que algumas das mais antigas – como<br />
a que visitamos na Quinta da Parra, em Olhão, possivelmente<br />
milenar, embora a Direcção Geral dos Recursos<br />
Florestais lhe tenha atribuído 600 anos – são capazes de<br />
produzir mais alfarroba do que todo um pomar.<br />
José Martins Dias, proprietário da terra onde se<br />
encontra a majestosa alfarrobeira olhanense, uma das<br />
maiores do País (são precisas nove pessoas para a
abraçar, tem 15 metros de perímetro e chega a produzir<br />
cerca de 250 m2 de sombra), preservou esta árvore não<br />
por pensar na sua produtividade, embora num ano<br />
tenha ensacado 550 quilos de alfarroba, quando o peso<br />
médio por árvore é de 65 quilos.<br />
Quando há uns anos, os técnicos da Inspecção Geral<br />
da Agricultura e Pescas exigiam o abate das alfarrobeiras<br />
antigas, na sequência de pretender plantar um pomar de<br />
laranjas, verificou que cientificamente nada o justificava<br />
e decidiu mantê-las. Por isso, no seu laranjal os jovens<br />
citrinos coabitam com as alfarrobeiras centenárias.<br />
Por seu turno, José Viegas Bota, descendente de uma<br />
família ligada à indústria da transformação e comercialização<br />
de frutos secos algarvios, lembra com tristeza o<br />
facto de aos 37 anos ter cortado uma alfarrobeira, que<br />
pela sua descrição, deveria ser tão grandiosa quanto a<br />
da Quinta da Parra. “Estas árvores são como pessoas,<br />
até hoje lamento tê-la cortada para fazer o pomar”, confessa<br />
o comerciante octogenário, que cedeu algumas<br />
das suas antigas máquinas de pesar e triturar alfarroba<br />
ao actual Pólo Museológico dos Frutos Secos, gerido<br />
pela Câmara Municipal de Loulé.<br />
Segundo Manuel Caetano, presidente da AIDA,<br />
Associação Interprofissional para o<br />
Desenvolvimento da Produção e Valorização<br />
da Alfarroba, também com sede louletana,<br />
“há uma alfarrobeira em Tenência, perto de<br />
Castro Marim, que num ano produziu uma<br />
tonelada de alfarroba”.<br />
Não obstante, a beleza e vitalidade das<br />
muitas alfarrobeiras algarvias, introduzidas na<br />
Península Ibérica pelos árabes (a origem da<br />
palavra é al kharoubah) e que os animais<br />
semearam involuntariamente através dos seus<br />
excrementos, até aos anos 40, conforme nos explicou<br />
Manuel Caetano, o futuro da alfarrobeira passa pelo<br />
chamado “pomar industrial”, ou seja o plantio intensivo<br />
e em fileiras de árvores destinadas a alimentar vários<br />
tipos de comércio, bem como a introdução de espécimes<br />
clonados que garantam a obtenção do fruto de melhor<br />
qualidade e origem geneticamente identificável. Este<br />
apuramento da “raça” e intensificação do plantio não<br />
poderá pôr em causa a biodiversidade? Manuel Caetano,<br />
também presidente da Danisco Portugal, sucursal<br />
farense de uma multinacional com sede na Dinamarca,<br />
que transforma a alfarroba em vários produtos alimentícios,<br />
assegura que a biodiversidade está garantida pela<br />
reserva de 65 mil hectares de pomar misto/sequeiro e 13<br />
mil hectares de matorral e que é pela “cultura in vitro”<br />
(“propagação meristemática”) que se preservam as espé-<br />
Fotografia: Susana Neves<br />
cies: “Mulata, Galhosa, Canela, AIDA, Gasparinha e<br />
Costeloa.”<br />
“Com a possibilidade de virem a ser plantados mais 8<br />
mil hectares de alfarrobeira industrial, segundo indicação<br />
do Quadro Comunitário de Apoio (2007-13)”, e<br />
sendo crescente a valorização da alfarroba, sobretudo<br />
da semente, que representa 10% do fruto, e cuja goma<br />
tem igualmente aplicabilidade nas indústrias farmacêutica<br />
e cosmética, há sempre o risco de condenar a alfarrobeira<br />
a uma vida de trabalhos forçados, cujo impacto<br />
negativo não deixaria de se fazer sentir.<br />
Quando em tempos remotos se usavam as<br />
sementes da alfarroba como unidade de peso<br />
do diamante, chamando-se por isso quilates,<br />
não se pensaria na alfarrobeira como um verdadeiro<br />
tesouro natural, de natureza<br />
adamantina, ou seja resistente, capaz de<br />
guardar a sombra e a luz, e observar do alto<br />
da sua copa de folhas perenes a urgência e o<br />
ruído próprios aos seres demasiado efémeros.<br />
É que se o nome científico se diz apenas de<br />
uma maneira, Ceratonia vem do grego Keras que quer<br />
dizer corno, e siliqua é um termo latim que alude à dureza<br />
da vagem, nunca é demais recordar que alfarrobeiras há<br />
muitas e cada povo as conhece à sua maneira, vejamos<br />
alguns exemplos: garrofero (Espanha), carrubo (Itália)<br />
charaoupi (Grécia), St. John`s bread (Inglaterra), Charnup<br />
(Turquia), chiao-tou-shu (China), gelenggang (Malásia) e<br />
chum het tai (Tailândia).<br />
Antevendo o seu futuro no Algarve, José Martins<br />
Dias diz: “Quando for mais velho e precisar de andar<br />
de carrinho de rodas desejo que me tragam até esta<br />
alfarrobeira, quero passar o dia todo debaixo dela, a<br />
beber uma laranjada”. Assim seja! E que não nos faltem<br />
os doces e o licor de alfarrobeira, para degustar com<br />
moderação, como aconselham aqueles que conhecem a<br />
sua grandeza. ■<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 51
PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID<br />
Motivos de orgulho<br />
Ver a democracia política consolidada em todos os países de língua portuguesa constitui<br />
um motivo de orgulho no mundo lusófono. Praticamente desapareceram as tensões político<br />
militares que eram uma constante há uns anos atrás, em África e em Timor Leste.<br />
Oestado de desenvolvimento também oferece<br />
bons augúrios. Angola regista um crescimento<br />
enorme, ao mesmo tempo que se<br />
desenvolvem esforços para a reconstrução e<br />
qualificação das pessoas, uma tarefa que exige uma<br />
grande coesão nacional e o desenvolvimento das parcerias<br />
adequadas com parceiros internacional, onde, aliás,<br />
Portugal tem desempenhado um papel relevante. As<br />
eleições legislativas acabam de ser marcadas para 2009, o<br />
que permitirá novas legitimidades políticas.<br />
Moçambique é por esta altura fustigado pelas cheias<br />
do Vale do Zambeze, mas tem sido mais fácil socorrer as<br />
populações afectadas, com a situação política estabilizada.<br />
Moçambique é também uma economia florescente<br />
e, por exemplo, as suas zonas turísticas estão muito<br />
desenvolvidas com oferta de qualidade, desde o<br />
Maputo ao Rovuma. O parlamento moçambicano é um<br />
órgão político com larga representação de mulheres e o<br />
espelho de uma democracia sem retrocessos.<br />
Em Cabo Verde – que é um dos países mais respeitados<br />
de África – foi o primeiro onde funcionou eficaz-<br />
52 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
mente o principio da alternância democrática. A gestão<br />
rigorosa dos meios disponíveis tem permitido ao país<br />
um crescimento sustentado.<br />
S. Tomé de Timor Leste têm algumas similitudes<br />
apesar da distância geográfica. Depois de algumas<br />
instabilidades político-militares, as crises<br />
parecem superadas e o petróleo vai contribuir<br />
de forma decisiva para melhorar a vida dos seus<br />
cidadãos, seja construção de infra estruturas adequadas,<br />
na educação e na cultura.<br />
A Guiné Bissau é o mais frágil dos países de expressão<br />
portuguesa, em termos de organização e consolidação<br />
da democracia. Contudo está a ser feito um esforço,<br />
conjugado com a comunidade internacional, que tem<br />
feito importantes doações em função do importante<br />
compromisso democrático dos principais dirigentes do<br />
país.<br />
O quadro descrito é muito sumário, mas percebe-se<br />
bem como é motivo de orgulho para todos a consolidação<br />
democrática do mundo lusófono! ■
O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ<br />
Três (ou quatro crises)<br />
Tem óbvio interesse experimentar esta espécie de exercício: as três crises que varreram o<br />
mundo, nos primeiros dias de <strong>2008</strong>, perduram um mês depois?<br />
Agravaram-se? Atenuaram-se? Extinguiram-se?<br />
Quanto a esta última alternativa, nada menos<br />
expectável, infelizmente: pelo contrário,<br />
mesmo que deixem as primeiras páginas e<br />
os prime-times, certamente que se manterão<br />
no substrato larvar das situações e das<br />
causas profundas respectivas.<br />
E cancelamento do Lisboa-Dackar, com as dúvidas que<br />
deixou no ar, constitui um dos mais visíveis sintomas<br />
dessa crise geral. É a crise mais globalizada, digamos<br />
assim. O mais dramático a nível político foi o assassinato<br />
de Benazir Bhutto no seu regresso ao Paquistão. Mas<br />
recorde-se que no próprio momento de desembarque da<br />
Senhora Bhutto, pouco mais de dois meses antes (18 de<br />
Outubro – 27 de Dezembro) perderam a vida centenas de<br />
apoiantes. E dir-se-ia que a crise mais rotineira foi a contestação<br />
ao acto eleitoral do Quénia: mas para<br />
lá das centenas de mortes em confrontos de<br />
rua, a circunstância política e geográfica da<br />
situação ocorrer num dos (até aqui!) mais<br />
estáveis países de África – a crise, nessas perspectiva,<br />
ganha foros de inesperada gravidade.<br />
Não significa isto que a vida humana e a<br />
instabilidade política tenha um valor relativo:<br />
mas no ponto de vista político, a morte de<br />
Benazir Bhutto ganha um significado que se<br />
tem de levar em conta, pelo que revela de<br />
extremismo e pelo que acarreta de efeitos<br />
destabilizadores, num país que não encontra<br />
rumo. Poderá essa instabilidade estender-se à<br />
região, na base das solidariedades profunda<br />
e das comunidades ideológicas e religiosas<br />
supranacionais? Não seria a primeira vez,<br />
como bem sabemos, que o Norte da Índia,<br />
país em tanto aspectos exemplar na execução<br />
de uma democracia em pleno desenvolvimento<br />
económico, passa por crises semelhantes, a nível local.<br />
Só que o assassinato de Benazir indicia e alimenta uma<br />
gravíssima crise global.<br />
Uma eleição contestada nas ruas pela oposição, que<br />
alega fraudes é comum. Ocorrer em África até poderá<br />
ser assinalável, num continente onde, até há pouco, não<br />
era costumeiro em eleições…Infelizmente, a tragédia<br />
das centenas de mortos também não é novidade. Mas é<br />
novidade esta fraude ser reconhecida e denunciada<br />
pelos observadores internacionais credenciados e<br />
credíveis, sem qualquer efeito prático até hoje à data de<br />
elaboração deste artigo. E que toda esta situação ocorra<br />
no Quénia, também é relativa e lamentável novidade.<br />
Efinalmente: o cancelamento do rally Lisboa-<br />
Dackar, para além do incalculável prejuízo<br />
económico, tem um efeito multiplicador complexo<br />
e profundo no que respeita ao reconhecimento<br />
da impotência face ao terrorismo internacional.<br />
Isso é muito grave: mas mais seria o atentado que certamente<br />
os serviços secretos, ao que se diz da França, alertaram<br />
em tempo.<br />
E essa crise reflecte ainda a instabilidade da Mauritânia,<br />
onde em menos de uma semana, e exactamente<br />
na semana que antecedeu o cancelamento, dois atentados<br />
vitimaram turistas e forças do exército. E aparentemente<br />
com a mesma causa e a mesma matriz, tudo o<br />
indica, do terrorismo na Argélia.<br />
Vamos ver como estão as coisas, e as crises, quando o<br />
artigo for publicado!... ■<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 53
VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR<br />
O centenário do sangue<br />
A viagem que hoje vos proponho nada tem de alegre mas vem muito a propósito,<br />
neste início de <strong>2008</strong>. Leva-nos a, exactamente, cem anos atrás, ou seja, a 1908.<br />
A 1 de <strong>Fevereiro</strong> desse ano: o dia do regicídio.<br />
É, ainda hoje, uma data<br />
«política». Mas esclareço<br />
desde já que, nesta<br />
breve crónica, não<br />
contam, de todo, as minhas<br />
ideias políticas. Estou a escrever<br />
para leitores portugueses, sejam<br />
eles republicanos, monárquicos<br />
ou indiferentes, porque o tema<br />
é, acima de tudo, nacional e<br />
porque a data se inscreve na<br />
cronologia histórica portuguesa,<br />
independentemente das nossas<br />
sensibilidades ideológicas. Como<br />
tal, ela não deve ser ignorada;<br />
como tal, é saudável que<br />
façamos sobre ela uma reflexão<br />
tão objectiva quanto possível.<br />
Por causa desse imperativo de<br />
objectividade, abstenho-me de<br />
citar aqui qualquer passagem de<br />
um documento precioso, do<br />
maior interesse psicológico e<br />
histórico: as notas íntimas escritas pelo rei D. Manuel II,<br />
que são o seu testemunho sobre a morte do rei seu pai e<br />
do príncipe herdeiro, seu irmão. Como sabemos, ele<br />
estava ao lado deste e em frente daquele, na mesma carruagem,<br />
quando ocorreu o atentado.<br />
Repito, o documento tem o maior interesse; mas,<br />
como é natural, expressa uma experiência subjectiva; é<br />
um texto comovente — mesmo porque D. Manuel<br />
escrevia bem — e, portanto, não convém para uma tentativa<br />
de análise desapaixonada. Quem o quiser ler,<br />
encontra-o facilmente na Internet.<br />
Quanto a mim, aqui e agora, estabeleço duas referências:<br />
uma, o ambiente da época; outra, os ideais políticofilosóficos<br />
dessa mesma época. E parto dessas duas<br />
referências para tentar classificar o que ocorreu há cem<br />
anos no Terreiro do Paço.<br />
O ambiente era de crise — crise, sobretudo, psicológica<br />
e moral. Não, talvez, cobrindo o país inteiro, mas,<br />
54 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
pelo menos, as elites e a camada<br />
político-administrativa. A ditadura<br />
de João Franco — temporária<br />
como declaradamente era, fórmula<br />
já usada antes no nosso liberalismo<br />
— não lograra «pôr a<br />
casa em ordem», talvez porque,<br />
afinal, era despida de ideologia;<br />
não procurava uma evolução<br />
para o sistema, mas apenas apagar<br />
fogos. A evolução, essa, seria<br />
tentada por D. Manuel II, porém<br />
não lhe deram tempo.<br />
Quanto aos ideais políticofilosóficos:<br />
havia poucos que não<br />
fossem revolucionários. Não tenho<br />
espaço para fazer aqui uma<br />
relação completa e descritiva;<br />
mas julgo que podemos considerar,<br />
«grosso modo», que os<br />
meios de onde finalmente saiu o<br />
regicídio pregavam, essencialmente,<br />
a liberdade, a fraternidade,<br />
a tolerância, o respeito pela lei. Essas são, aliás,<br />
noções maçónicas e havia muito de maçónico no campo<br />
republicano.<br />
Ora, desses altos ideais, o que saiu? Saiu um<br />
duplo assassínio, que só por acaso não foi<br />
triplo nem quádruplo. Porque a maçonaria<br />
da época se deixara contaminar pelo<br />
Grande Oriente de França e esquecera os seus verdadeiros<br />
ideais; porque os republicanos da época<br />
(ressalvadas muito honrosas excepções) meteram entre<br />
parêntesis os seus princípios humanitários; porque ganhou<br />
o instinto, o ódio e a marginalidade.<br />
Não está, pois, em causa a bondade ou a não-bondade<br />
dos ideais republicanos, enquanto ideais. Mas está em<br />
causa a qualificação do regicídio, como acto.<br />
E esse acto foi — expresso apenas a minha opinião,<br />
claro — um crime particularmente repugnante.■
BOAVIDA<br />
CONSUMO<br />
A ASAE tem sido tema<br />
dominante nos media,<br />
com notícias nem<br />
sempre abonatórias<br />
para um organismo de<br />
defesa dos<br />
consumidores.<br />
Pág. 56<br />
MÚSICAS<br />
A música brasileira em<br />
foco: Falamos de<br />
“América Brasil”, de<br />
Seu Jorge, e “O Melhor<br />
de Simone – Começar<br />
de Novo”.<br />
Pág. 62<br />
CINECLUBE<br />
O melhor e o pior na<br />
obra do genial<br />
actor/realizador Charles<br />
Chaplin nesta nova<br />
rubrica da TL dedicada<br />
ao cinema.<br />
Pág. 67<br />
INFORMÁTICA<br />
No Ano Internacional<br />
do Planeta Terra,<br />
dedicado ao Ambiente,<br />
a Informática pode<br />
ajudar na informação<br />
aos jovens.<br />
Pág. 70<br />
LIVRO ABERTO<br />
Destaque para<br />
“História do Riso”, de<br />
G. Minois, e “Fernão<br />
Lopes-Crónicas”,<br />
antologia organizada<br />
por A. Borges Coelho<br />
com ilustrações de<br />
Rogério Ribeiro.<br />
Pág. 58<br />
NO PALCO<br />
Atenção às peças em<br />
cena nos palcos do<br />
Teatro Nacional,<br />
Comuna, Teatro da<br />
Trindade e Maria<br />
Matos.<br />
Pág. 64<br />
À MESA<br />
O arroz é um<br />
extraordinário e barato<br />
alimento, capaz de<br />
proporcionar energia<br />
de elevada qualidade,<br />
fácil digestão, diversas<br />
vitaminas e minerais.<br />
Pág. 68<br />
AO VOLANTE<br />
O Qasqhai justitifica<br />
plenamente as razões<br />
para a existência de<br />
grande lista de espera<br />
na filial ibérica da<br />
Nissan...<br />
Pág. 71<br />
ARTES<br />
Exposições a reter em<br />
<strong>Fevereiro</strong>: Helena Vieira<br />
da Silva, na Fundação<br />
Arpad Szenes-Vieira da<br />
Silva, e Ray Smith e<br />
Graça Morais, no Porto.<br />
Pág. 60<br />
CINEMA EM CASA<br />
Das excelentes e, cada<br />
vez mais, numerosas<br />
novidades em DVD,<br />
seleccionamos, em<br />
<strong>Fevereiro</strong>, quatro filmes<br />
dignos da atenção de<br />
todos os cinéfilos<br />
Pág. 66<br />
SAÚDE<br />
Sabia que as crianças<br />
hiperactivas e com<br />
défice de atenção<br />
podem dar lugar a<br />
adultos com as<br />
mesmas<br />
características?<br />
Pág. 69<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 55
BOAVIDA<br />
Consumo<br />
Carlos Barbosa de Oliveira<br />
Assistimos, com maior ou<br />
menor relutância, a uma<br />
fúria legífera com epicentro<br />
em Bruxelas, assente<br />
num desvelo proibicionista que nos<br />
torna cada vez menos independentes<br />
nas opções de consumo.<br />
Esta sanha proibicionista que nos<br />
tirou da mesa os “jaquinzinhos” e<br />
os galheteiros, elevou os fumadores<br />
à condição de seres humanos de<br />
segunda, cujo convívio não é recomendável,<br />
e ameaça (para já só em<br />
Inglaterra...) privar fumadores e<br />
obesos do acesso ao Serviço Nacional<br />
de Saúde, tende a transformar<br />
os consumidores em soldadinhos<br />
de chumbo obedientes aos ditames<br />
de quem governa o mundo ou de<br />
quem o ameaça (A suspensão do<br />
Lisboa/ Dakar é apenas um exemplo<br />
recente...).<br />
Há algo de contraditório, quando<br />
se legisla de modo a coarctar a<br />
escolha dos consumidores. A contradição<br />
explica-se, porém, pela<br />
incapacidade de a União Europeia<br />
legislar contra os interesses de poderosos<br />
grupos económicos (caso<br />
contrário as cadeias de fastfood<br />
apontadas como responsáveis pelo<br />
aumento da obesidade das gerações<br />
mais jovens já teriam sido<br />
obrigadas a fechar e a União Europeia<br />
teria deixado de subsidiar a<br />
cultura do tabaco). Resta, por isso,<br />
A ASAE e a defesa<br />
dos consumidores<br />
Inúmeros boatos foram postos a circular, nos últimos tempos, em relação à actividade da ASAE. Alguns<br />
órgãos de comunicação social ajudaram a sua propagação, contribuindo para descredibilizar um<br />
organismo cuja actuação devia ser saudada pelos consumidores.<br />
56 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
impor limites ao consumo de certos<br />
produtos, estabelecendo sanções<br />
aos prevaricadores, e criar um acervo<br />
de normas securitárias que estabeleçam<br />
um crivo apertado em torno<br />
dos fornecedores de bens e<br />
serviços.<br />
Mais do que uma perspectiva<br />
securitária, a defesa do consumidor<br />
devia ter, hoje em dia, uma forte<br />
componente de consciencialização<br />
cívica e social (lembro a propósito<br />
que no último Congresso das associações<br />
de consumidores realizado<br />
em Outubro em Sidney, as preocupações<br />
dominantes foram a<br />
Responsabilidade Social das Empresas,<br />
o consumo sustentável e o<br />
endividamento...) que tem permanecido<br />
em segundo plano quando<br />
se trata de legislar em defesa dos<br />
consumidores.<br />
Dentro desta nova tendência, as<br />
questões de segurança alimentar<br />
assumiram no final do século passado<br />
um papel preponderante na<br />
política de defesa dos consumidores,<br />
muito por força dos problemas<br />
surgidos com a doença das<br />
vacas loucas, os OGM, as dioxinas,<br />
o uso de antibióticos na alimentação<br />
do gado, ou a gripe das aves.<br />
É neste contexto que surgem na<br />
Europa as Agências de Segurança<br />
Alimentar.<br />
Portugal seguiu a tendência europeia<br />
com a criação da ASAE, uma<br />
entidade reclamada pelos mais<br />
variados quadrantes, que criticaram<br />
(e bem...) a morosidade da sua<br />
criação. Não deixa de ser por isso<br />
curiosa, a saga contra a ASAE a que<br />
a comunicação social tem dado<br />
guarida. Quase se pode dizer que<br />
colunista que não tenha criticado a<br />
actuação da ASAE, não é digno<br />
desse nome. A situação não é só caricata...<br />
é também injusta. A ASAE<br />
tem desempenhado um papel de<br />
grande relevância, contribuindo<br />
para uma melhor e mais saudável<br />
concorrência, perseguindo os mixordeiros<br />
e os agentes da contrafacção<br />
e dando mais credibilidade<br />
a quem age de acordo com os<br />
ditames da legislação em vigor.
Em minha opinião, é um organismo<br />
público exemplar que se limita<br />
a fazer cumprir legislação<br />
maioritariamente emanada de Bruxelas<br />
que Portugal, por imposição<br />
das Directivas comunitárias, está<br />
obrigado a transpor para a legislação<br />
nacional.<br />
No entanto, tem corrido por aí<br />
um elevado número de boatos que<br />
visam denegrir aquele organismo e<br />
“obrigaram” o Secretário de Estado<br />
para a Defesa do Consumidor a<br />
emitir um comunicado onde são<br />
clarificadas algumas questões. Aqui<br />
ficam apenas alguns exemplos que<br />
respiguei, por se referirem a algumas<br />
das situações mais “badaladas”<br />
nos últimos meses:<br />
BOLAS DE BERLIM – A ASAE apenas<br />
fiscaliza o processo de fabrico e não<br />
a sua comercialização na praia.<br />
CAFÉ EM COPOS DE PLÁSTICO – Podem<br />
os apreciadores da bica em<br />
chávena estar descansados, porque<br />
não existe nenhum diploma nacional<br />
ou comunitário que impeça a<br />
utilização de chávenas.<br />
COLHERES DE PAU – Não existe qualquer<br />
proibição de utilizar colheres<br />
de pau, apenas se exige que estejam<br />
em bom estado de conservação.<br />
CASTANHAS ASSADAS – A ASAE<br />
nunca efectuou qualquer acção<br />
junto dos vendedores de castanhas,<br />
nem aplicou qualquer coima pelo<br />
facto de as castanhas estarem<br />
embrulhadas em papel de listas<br />
telefónicas ou de jornal.<br />
BRINDES NO BOLO-REI – Não estão<br />
proibidos. Apenas é exigido que se<br />
distinga claramente do alimento<br />
pela sua cor, tamanho e consistência,<br />
para evitar que se repitam casos<br />
de asfixia (nomeadamente com crianças)<br />
provocados pela ingestão.<br />
Infelizmente, não vi a comunicação<br />
social e os colunistas darem igual<br />
ênfase a este comunicado. Optaram<br />
antes por explorar até à exaustão o<br />
facto de o Presidente da ASAE ter<br />
sido apanhado com a cigarrilha na<br />
boca na noite de Ano Novo. Sinais<br />
dos tempos... Eu, que até conheci<br />
um Presidente do Conselho de<br />
Prevenção do Tabagismo que era<br />
fumador e aproveitava os intervalos<br />
das reuniões para acender um cigarrito,<br />
nunca me persignei perante<br />
tamanho desvario... ■
BOAVIDA<br />
Livro aberto<br />
José Jorge Letria<br />
De Fernão Lopes<br />
à política à portuguesa<br />
É, sem dúvida, um dos mais belos livros dados à estampa em finais de <strong>2008</strong>. Refiro-me ao álbum<br />
“Fernão Lopes-Crónicas”, organizado pelo prestigiado historiador e escritor António Borges Coelho, com<br />
magníficas ilustrações do pintor Rogério Ribeiro.<br />
Esta edição de luxo da<br />
Campo das Letras é uma<br />
homenagem a um dos<br />
maiores cronistas da História<br />
de Portugal, que também foi<br />
um talentoso escritor, antecipando,<br />
em boa parte, o que viria a ser a<br />
visão e a linguagem jornalística<br />
séculos mais tarde. A não perder.<br />
Da mesma editora é o livro “O<br />
Porvir da Nostalgia-uma Vida de<br />
Stefan Zweig”, de Jean-Jacques<br />
Lafaye, exemplar abordagem biográfica<br />
do percurso criador e do fim<br />
trágico de um dos maiores escritores<br />
do século XX. Zweig, que<br />
passou por Lisboa, a caminho do<br />
exílio no Brasil, em fuga da barbárie<br />
nazi, acabou por se suicidar em<br />
Niterói quando a Segunda Guerra<br />
estava prestes a eclodir. O escritor,<br />
nascido numa família judia, teve,<br />
desde meados dos anos trinta a<br />
percepção do que poderia acontecer<br />
à Europa e ao mundo se Hitler e<br />
os nazis levassem o seu projecto de<br />
genocídio por diante. E não se<br />
enganou. Este livro tem prefácio de<br />
Mário Soares para a edição portuguesa<br />
e foi distinguido com o<br />
Prémio Cazes-Brasserie Lipp.<br />
Também da Campo das Letras,<br />
destaque para “Vidro do Mesmo<br />
Vidro”, colectânea de ensaios de<br />
Rosa Maria Martelo sobre “tensões<br />
e deslocamentos na poesia portuguesa<br />
depois de 1961”. Realce<br />
58 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
ainda, com a mesma chancela, para<br />
“O Terceiro Anjo”, ensaio de Nuno<br />
Higino sobre obras de José Rodrigues,<br />
escultor e pintor de referência<br />
na arte portuguesa das últimas<br />
décadas.<br />
COM A CHANCELA da Teorema, estão<br />
no mercado dois ensaios de<br />
grande qualidade e oportunidade:<br />
“História do Riso”, de Georges Minois,<br />
que traça a evolução histórica<br />
do riso enquanto manifestação<br />
humana e sinal da inteligência e<br />
capacidade relacional do Homem,<br />
“História do Médio Oriente”, de<br />
Massimo Campanini, obra fundamental<br />
para a compreensão dos<br />
conflitos e tensões que marcam a<br />
vida no Médio Oriente na época<br />
contemporânea, com reduzidas<br />
perspectivas de solução no actual<br />
contexto internacional. Dois livros a<br />
não perder na primeira colheita do<br />
ano.<br />
TENDO como base a obra e a figura<br />
única do Padre António Vieira, Inês<br />
Pedrosa lançou, pela Dom Quixote,<br />
“A Eternidade e o Desejo”, obra que<br />
confirma o seu talento como narradora.<br />
Da mesma editora são os<br />
títulos de ficção estrangeira “Uma<br />
Questão de Beleza”, de Zadie Smith<br />
e “Next”, de Michael Crichton.<br />
Ainda em matéria de ficção narrativa,<br />
para todos os gostos, registase<br />
a saída dos seguintes títulos:<br />
“Estado Crítico”, de Robin Cook, “A
Rádio da Cidade Perdida”, de Daniel<br />
Alarcón, “O Evangelho Perdido”,<br />
de Tucker Malarkey, e “Nuvens<br />
Entre Estrelas”, de Victoria<br />
Clayton, todos com a chancela de<br />
Publicações Europa-América, que<br />
também editou, na área da literatura<br />
de viagens,”Lisboa-Dakar”, de<br />
Joaquim Mestre. De Charley Boorman,<br />
“A Esposa de Assuão”, de Rula<br />
Jebreal e “O Cerco” de Helen Dunmore,<br />
sobre a resistência da cidade<br />
de Leninegrado à ofensiva nazi,<br />
ambos da Campo das Letras, e “Em<br />
Silêncio, Amor”, de Luís Soares, e “A<br />
Imperfeição do Amor”, ambos da<br />
Oficina do Livro. Destaque ainda<br />
para a reedição de “Sedução”, de<br />
José Marmelo e Silva, da Campo das<br />
Letras.<br />
Da Campo das Letras é o excelente<br />
ensaio de Miguel Real “A Morte de<br />
Portugal”, que fornece oportunas<br />
pistas para uma reflexão sobre os<br />
grandes ciclos da História portuguesa<br />
e sobre as figuras que mais profundamente<br />
a marcaram, com destaque<br />
para personalidades como o<br />
Marquês de Pombal. Da mesma editora<br />
é o livro póstumo do crítico de<br />
televisão e escritor Mário Castrim<br />
intitulado “Do Livro dos Salmos”,<br />
com ilustrações de Rogério Ribeiro.<br />
Para os mais novos, proporcionando-lhes<br />
a indispensável informação<br />
cultural abrangente e eclética é o volume<br />
do “Meu Primeiro Larousse”<br />
dedicado ao ao planeta Terra.<br />
A Ambar lançou, entretanto, o<br />
segundo volume de “Entre/Vistas”,<br />
de Maria João Seixas, que reúne as<br />
brilhantes conversas com destacadas<br />
figuras da vida cultural, social<br />
e científica portuguesa nas páginas<br />
do “Público”.<br />
De Manuel Luís Goucha, gastrónomo<br />
de talento e grande comunicador,<br />
acaba de sair, na Oficina do<br />
Livro, “Os Doces de Manel”, uma<br />
edição vistosa e saborosa que se vê e<br />
lê em qualquer época do ano.<br />
“Política à Portuguesa”(Oficina do<br />
Livro) é o título do mais recente<br />
livro de José António Saraiva, director<br />
de “O Sol” e professor da cadeira<br />
de Política Portuguesa na Universidade<br />
Católica. Esta obra corresponde,<br />
justamente, ao essencial da<br />
matéria dada nessa disciplina,<br />
sendo valorizada por uma extensa<br />
cronologia correspondente aos dois<br />
últimos séculos da vida política portuguesa.<br />
Um livro escrito por quem,<br />
como jornalista, acompanhou de<br />
perto e por dentro o essencial da<br />
nossa vida política, a partidária, a<br />
institucional e não só.<br />
Destaque ainda para os dois volumes<br />
da obra “Teatro Reunido” (Imprensa<br />
Nacional-Casa da Moeda),<br />
da poetisa, dramaturga e grande<br />
investigadora pessoana Teresa Rita<br />
Lopes. Nesta obra está todo o teatro<br />
de uma das grandes figuras do<br />
teatro português contemporâneo,<br />
com uma forte marca do discurso<br />
poético e de um profundo conhecimento<br />
do universo feminino. ■<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 59
Rodrigues Vaz<br />
BOAVIDA<br />
Artes<br />
Vieira da Silva homenageada<br />
em Paris e Lisboa<br />
Depois de ter feito sucesso no Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris, chegou finalmente à<br />
Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, onde pode ser vista até ao próximo dia 17, a<br />
exposição “Vieira da Silva”, que integra as obras das colecções destas duas fundações, fechando assim<br />
um círculo de homenagens que foi prestado à nossa artista plástica mais internacional.<br />
Partindo das estruturas<br />
espaciais fechadas dos<br />
primeiros anos – dos tabuleiros<br />
de xadrez e dos<br />
arlequins, do tema da guerra e da<br />
sua angústia representada nas figuras<br />
aprisionadas nas quadrículas<br />
– até às pesquisas mais maduras do<br />
espaço, a exposição dá-nos oportunidade<br />
para adivinhar um percurso<br />
que parte do desenho para a pintura,<br />
desta para a gravura e novamente<br />
para o desenho, num diálogo<br />
permanente entre técnicas e entre<br />
Vieira e a sua própria criação.<br />
RAY SMITH E GRAÇA MORAIS<br />
NO PORTO<br />
Por outro lado, no Porto, pode ser<br />
vista até 27 do corrente, na Galeria<br />
Fernando Santos, uma exposição de<br />
pintura de Ray Smith, reconhecido ao<br />
mesmo tempo como artista plástico<br />
latino-americano e norte-americano,<br />
devido às suas origens familiares.<br />
Filho de mãe mexicana e pai<br />
norte-americano, nasceu junto à<br />
fronteira mexicana do Texas, continuando<br />
a dividir a sua actividade<br />
entre a dualidade desta herança,<br />
centrando a sua obra em “reciclar<br />
aquilo que ao redor da sua cultura<br />
trans-fronteiriça o circunda”.<br />
As suas pinturas, imagens poéticas,<br />
incorporam tendências surrealistas<br />
e anímicas que derivam da sua<br />
60 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Vieira da Silva<br />
ascendência latina e do sue conhecimento<br />
profundo da história da arte<br />
moderna. Nos seus quadros, os<br />
animais e criaturas híbridas são entidades<br />
da figura humana.<br />
Igualmente no Porto e até ao dia<br />
23, a Galeria 111 apresenta uma exposição<br />
de pintura e desenho de<br />
Graça Morais, uma das nossas actuais<br />
criadoras mais arreigadas ao<br />
telurismo do nosso mundo rural,<br />
que assume com presunção e autenticidade.<br />
Senhora de um traço marcado por<br />
pinceladas que redescobrem a cor a<br />
cada instante, com cambiantes de
uma grande claridade e singeleza,<br />
Graça Morais apresenta uma série<br />
de obras que têm tanto de autobiográfico<br />
como de narrações da sua<br />
Trás-os-Montes natal.<br />
Paisagens ou rostos, especialmente,<br />
desfrutam de uma mesma<br />
categoria de estilo que parecem<br />
surgidos de uma espécie de acumulação<br />
e estratos em cuja patine<br />
quedam fixadas as essências mais<br />
sublimes, as insinuações mais emocionantes<br />
e o edifício da pintura<br />
sólido nos matizes como atmosfera<br />
oferecida aos objectos.<br />
DUAS EXPOSIÇÕES<br />
DE JOSÉ COELHO<br />
Entretanto, José Coelho, um dos<br />
artistas de referência em Portugal<br />
no campo da escultura em ferro,<br />
em que é também um dos mais prolíficos,<br />
mostra ao mesmo tempo, até<br />
17 do corrente, as suas últimas<br />
À esquerda,<br />
obra de<br />
Graça<br />
Morais.<br />
À dirita,<br />
uma<br />
composição<br />
de Ray<br />
Smith.<br />
Em baixo,<br />
escultura de<br />
José Coelho<br />
obras no Arquivo Municipal de Vila<br />
Real de Santo António e no Instituto<br />
Franco-Português, Lisboa.<br />
Ali, uma série de esculturas em<br />
ferro, subordinada ao título “Memento<br />
Mor Memor”, que os serviços<br />
culturais da Câmara Municipal<br />
apresentam simplesmente<br />
como tal, não referindo sequer o<br />
nome do autor, e aqui uma série de<br />
gravuras sob o título “Ninfas do<br />
Tejo, Meninas de Paris”.<br />
Nascido em Árgea, freguesia de<br />
Olaia, concelho de Torres Novas,<br />
José Coelho reside actualmente em<br />
Riachos, no mesmo concelho. Tem<br />
participado em inúmeros simpósios<br />
e encontros de escultura. É autor,<br />
entre outras obras de espaço público,<br />
do Monumento de Homenagem<br />
ao Povo de Pintainhos, Torres<br />
Novas, e do Monumento de Evocação<br />
ao Povo de Arripiado, Chamusca.<br />
Foram-lhe atribuídos os<br />
prémios de primeiro prémio exaequo<br />
escultura Semana da Pedra,<br />
Alcanena 1989; primeiro prémio de<br />
escultura Fórum Santarém 1995 e<br />
menção honrosa prémio Edinfor<br />
1997. Esteve presente com obras de<br />
escultura nos pavilhões da Nicarágua<br />
e Costa Rica na EXPO ‘98. ■<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 61
BOAVIDA<br />
Músicas<br />
Seu Jorge e Simone<br />
O presente e o futuro<br />
da Música Popular<br />
Brasileira<br />
A música brasileira ocupa, este mês, a totalidade deste espaço da “TL”, habitualmente<br />
dedicado à edição discográfica. Em causa estão “América Brasil”, de Seu Jorge<br />
e “O Melhor de Simone – Começar de Novo”.<br />
62 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Vítor Ribeiro<br />
Seu Jorge, 37 anos, cantor,<br />
músico e compositor, começou<br />
a ser conhecido<br />
do grande público, depois<br />
do seu contributo, como actor,<br />
no filme “Cidade de Deus”, obra de<br />
denúncia dessa vergonhosa realidade<br />
social do século XXI chamada<br />
“favela”.<br />
Seu Jorge Mário da Silva, que<br />
nasceu de uma família paupérrima,<br />
no Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense,<br />
sabe do que fala quando,<br />
no CD “América Brasil”, descreve o<br />
dia-a-dia do ex-assalariado brasileiro<br />
empurrado para a marginalidade<br />
do biscate, ou do “quadro intermédio”<br />
licenciado, que a globalização<br />
vai remetendo para uma<br />
frustrante proletarização, alargando<br />
assim as fronteiras de uma miséria<br />
envergonhada.<br />
Em temas como “Trabalhador”,<br />
“A Burguesinha” ou “A Mina do<br />
Condomínio”, Seu Jorge, sem alar-<br />
de nem demagogia, obriga-nos tomar<br />
consciência da enorme contradição<br />
social em que se transformaram<br />
o Brasil e a América Latina<br />
em geral. Estamos a falar de uma<br />
das mais ricas regiões do Globo,<br />
com importantíssimos recursos naturais,<br />
cujas populações vivem, na<br />
esmagadora maioria, em inenarrável<br />
estado de pobreza.<br />
O CD de Seu Jorge, só por si, não<br />
mudará tão lamentável estado de<br />
coisas. “América Brasil” é, no entanto,<br />
um oportuno e singular exercício<br />
de cidadania de um autor nascido<br />
e criado num país que, entre<br />
muitas outras coisas, se distingue<br />
pela simpatia, generosidade e paciência<br />
do seu povo. “América Brasil”<br />
dá que pensar. Pensemos.<br />
SIMONE ESPLÊNDIDA E MÁGICA<br />
Simone é “A voz” da Música Popular<br />
Brasileira. Também por isso,<br />
não se deve perder o duplo-CD “O<br />
Melhor de Simone – Começar de<br />
Novo”. Vinte e oito excelentes in-
terpretações de outras tantas canções<br />
de autores “clássicos” da MPB.<br />
Num ciclo de “crise”, em que<br />
autores e cantores se vêem forçados<br />
a manter “originais na gaveta”,<br />
as editoras discográficas dedicamse<br />
à publicação de colectâneas,<br />
mais ou menos interessantes, consoante<br />
os casos.<br />
Deste duplo-CD destacamos<br />
inesquecíveis interpretações de<br />
“clássicos” de Chico Buarque de<br />
Holanda como “Gota d`Água”, “O<br />
Que Será”, “Pedaço de Mim”, de<br />
Pablo Milanês/Chico Buarque,<br />
“Iolanda”, de Ivan Lins, “Começar<br />
de Novo” e “Amor”, de Milton<br />
Nascimento, “Cigarra”e “Amor e<br />
Paixão”, de Vinícius de Moraes,<br />
“Onde Anda Você”… Na brochura<br />
que integra este duplo-CD, José<br />
Nuno Martins, radialista, realizador<br />
de TV, admirador e estudioso<br />
da MPB, “apresenta” 16 das cantigas<br />
interpretadas por Simone.<br />
Em jeito de introdução, diz José<br />
Nuno: “Tive gosto em escutar e estudar,<br />
novamente, cada uma das 28<br />
músicas desta compilação. Afinal,<br />
elas narram o currículo de uma<br />
cantora de excessos e minudências,<br />
de encontros e afastamentos que,<br />
assim ouvidos, até parece que passaram<br />
muitos deles, a fazer parte<br />
da minha vida. E, quem sabe,<br />
talvez da sua… Esplêndida Simone,<br />
mágica Simone. E tão contraditória”.<br />
■
BOAVIDA<br />
No Palco<br />
Criança ensina adultos<br />
“Óscar e a Senhora Cor de Rosa”, em cena no Teatro Nacional D. Maria II até 9 de Março, fala-nos do<br />
mistério da Vida descoberto por uma criança, num luminoso e comovente monólogo escrito por Eric<br />
Emmanuel- Schmitt.<br />
Maria Mesquita<br />
Lídia Franco propôs a ideia<br />
de se fazer a encenação<br />
deste monólogo a Marcia<br />
Haufrecht, que já a tinha<br />
acompanhado noutras viagens<br />
teatrais (Frozen e Vidas Publicadas).<br />
A resposta é a representação de<br />
uma história muito humana sobre<br />
um menino, Óscar, doente terminal<br />
de leucemia, que, junto a uma voluntária<br />
de apoio a crianças na<br />
mesma condição, vai vivendo a<br />
vida ao passo de gigante. A Senhora<br />
Cor-de-Rosa, assim denominada<br />
por ser a cor das batas que<br />
estas voluntárias utilizam nas alas<br />
de Pediatria dos hospitais franceses,<br />
resolve por sua vez propor um jogo<br />
a Óscar. Por cada dia que passa, ele<br />
64 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
vive 10 anos, e ele, como retribuição,<br />
aproveita esses 10 anos ao<br />
máximo. Para Óscar, cada dia/10<br />
anos, é vivido em desafio à morte,<br />
olhando de forma divertida para o<br />
mundo dos adultos (ao qual na<br />
realidade ele nunca chegará), para<br />
o mundo das outras crianças que<br />
também o rodeiam, para a Vida que<br />
em breve se irá esgotar. Lídia<br />
Franco afirma que esta é a peça<br />
mais bonita que leu nos últimos<br />
tempos (e que é um hino à felicidade,<br />
uma vez que é uma criança a<br />
ensinar aos adultos a forma de se<br />
viver cada momento, de forma a<br />
não nos lamentarmos por não termos<br />
tido tempo ou oportunidade<br />
de fazer o que queríamos ter feito.<br />
O monólogo, já representado em<br />
dezenas de países por grandes<br />
Lídia Franco<br />
actrizes, surge das cartas que Óscar<br />
escrevia a Deus todos os dias.<br />
Cartas narradas pela Sr.ª Cor-de-<br />
Rosa, cartas de um menino que<br />
viveu mais do que muitos adultos.<br />
A AFILHADA DE SANTO ANTÓNIO<br />
Um musical dedicado a Santo António,<br />
escrito por António Torrado<br />
ao estilo dos antigos autos, em cena<br />
no Teatro da Comuna, até meados<br />
de Março.<br />
Com encenação de João Mota, também<br />
ele devoto a Santo António, este<br />
musical é uma homenagem de forma<br />
muito criativa e divertida a um dos<br />
Santos que “mais trabalho tem” ao<br />
longo de todo o ano, nas “especialidades”<br />
amorosas e afins. Quando os<br />
pedidos são mais do que quem os<br />
pede, quando há tanto para fazer e<br />
tanto para dar, e quando se tem a<br />
imensa responsabilidade de andar<br />
com o Menino ao colo, nem Santo<br />
António aguenta tanta pressão!<br />
Assim lhe aparece em súplica<br />
uma devota afilhada que por acaso<br />
se chama Antónia. O Santo Padroeiro<br />
fica com o coração derretido ao<br />
ver a pobrezinha órfã pedir-lhe<br />
auxílio para a sua vida, mas, como<br />
não gosta de dar tudo de uma só<br />
vez, e acha que a felicidade total<br />
tem de ser ganha aos pouquinhos,<br />
acabamos por ver as aventuras e<br />
desventuras que Antónia passa até<br />
conseguir a Paz que procura. Para<br />
terminar em beleza, a jovem Antónia<br />
termina, qual Cinderela, nos<br />
braços de um amado, que é, quase<br />
por magia (ou fé? Ou milagre do<br />
Santo?), príncipe…
BLULU – HISTÓRIAS<br />
DA INVENÇÃO DO MUNDO<br />
Até 2 de Março na Sala Estúdio do<br />
Teatro da Trindade, interroga-se a<br />
presença da arte numa sociedade<br />
cada vez mais afastada do imaginário<br />
e cada vez mais conectada<br />
com a realidade do dia-a-dia.<br />
Amadeus e Bartolomeus são dois<br />
actores cómicos. Dizem-se antigos,<br />
antigos como o próprio teatro e consequentemente,<br />
tão antigos como a<br />
Vida e a Terra. Ao fim de 400 anos,<br />
chegam a um lugar onde irão fazer o<br />
mesmo que de todos os outros dias,<br />
representar. Escolhem a peça<br />
Invenção do Mundo, inspirada no<br />
“Grande Teatro del Mundo” de<br />
Calderon de La Barca; colocam as<br />
máscaras, preparam os instrumentos,<br />
escolhem as suas roupas e<br />
embarcam na arte da representação<br />
da comédia clássica onde Deus, criador<br />
de todas as coisas da Terra,<br />
reparte os papéis para que cada pessoa<br />
no mundo se represente; não é a<br />
vida uma passagem de uma peça de<br />
teatro? Tudo parece correr bem até<br />
que, Bartolomeus, começa a pensar,<br />
FICHAS TÉCNICAS<br />
“ÓSCAR E A SENHORA<br />
COR DE ROSA”<br />
Encenação: Márcia Haufrecht;<br />
Cenários/Figurinos: Sónia Neves;<br />
Voz/Locução: Maria João Serrão;<br />
Intérprete: Lídia Franco.<br />
A AFILHADA DE SANTO ANTÓNIO<br />
Encenação: João Mota; Criação: Comuna<br />
Teatro; Texto: António Torrado; Música<br />
Original: Maestro António de Sousa;<br />
Músicos: Hugo Franco e Miguel Sermão;<br />
Figurinos: Carlos Paulo; Adereços e<br />
Objectos Cénicos: Renato Godinho;<br />
Técnicos: Alfredo Platas, Mario Correia e<br />
Renato Godinho; Interpretação: Santo<br />
“Cândido ou o optimismo”<br />
em tom crítico, se valerá a pena continuar<br />
a insistir nesta forma de arte<br />
que é contar as histórias para rir.<br />
Será que vale a pena continuar a<br />
passar fome e apertos na vida, quando<br />
já não se sabe para que servem os<br />
cómicos, as palavras e os sonhos,<br />
principalmente quando as pessoas<br />
parecem já não ligar à arte, aquilo<br />
que a arte representa. Ambos os<br />
actores iniciam então uma luta para<br />
António: Jorge Andrade; Antónia (Afilhada):<br />
Judite Dias; Rainha: Tânia Alves; Rei:<br />
Alexandre Lopes; Príncipe: Marco Paiva<br />
BULULÚ - ESTÓRIAS DA INVENÇÃO<br />
DO MUNDO<br />
Texto e encenação: Moncho Rodriguez;<br />
Cenografia e desenho de luz: Moncho<br />
Rodriguez; Figurinos: Cristina Cunha e<br />
Moncho Rodriguez ; Adereços: Cristina<br />
Cunha e Pedro Giestas; Máscaras:<br />
Moncho Rodriguez, Acácia Azevedo e<br />
Cristina Cunha; Fotografia: Pitães; Vídeo:<br />
Pitães e Bruno Laborinho; Interpretação:<br />
Cristina Cunha e Pedro Giestas; Produção:<br />
Teatro Invisível<br />
desvendar qual a necessidade dos<br />
lugares imaginários da mente, numa<br />
sociedade cada vez mais triste,<br />
menos poética e tão mais preocupada<br />
com o consumismo desenfreado<br />
para fugirem ao que realmente<br />
importa.<br />
“CÂNDIDO OU O OPTIMISMO”<br />
Até 24 de <strong>Fevereiro</strong>, o Teatro Maria<br />
Matos apresenta “Cândido ou o<br />
Optimismo”, a partir da obra de<br />
Voltaire, com encenação de Cristina<br />
Carvalhal.<br />
Uma fábula sobre as aventuras de<br />
Cândido, um rapaz de raciocínio<br />
recto e espírito límpido, subitamente<br />
mergulhado na vida adulta.<br />
Este é o início de uma longa viagem<br />
à volta do mundo que o levará a<br />
experimentar a guerra, a ser supliciado<br />
pela inquisição, a atravessar a<br />
América a pé, a conhecer o El<br />
Dorado, a ficar milionário e a<br />
retornar à pobreza. E contudo, optimista<br />
por educação, Cândido,<br />
procurará a todo o custo continuar<br />
a acreditar que este é o melhor dos<br />
mundos possíveis.<br />
“CÂNDIDO OU O OPTIMISMO”<br />
Encenação: Cristina Carvalhal;<br />
Dramaturgia: Ana Vaz, Cristina Carvalhal e<br />
Cucha Carvalheiro; Cenário: Ana Vaz;<br />
Figurinos: Ana Vaz e Maria Gonzaga;<br />
Música: Sérgio Delgado; Desenho de Luz:<br />
Daniel Worm; Movimento: Tiago Porteiro;<br />
Apoio Vocal: Rui Baeta; Interpretação:<br />
Catarina Requeijo, Cucha Carvalheiro,<br />
Gonçalo Waddington, José Airosa, Miguel<br />
Fragata, Sérgio Praia e Vítor de Andrade,<br />
Produção executiva: Mafalda Gouveia<br />
Co-produção: Causas Comuns e Teatro<br />
Maria Matos |M/12<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 65
BOAVIDA<br />
Cinema em casa<br />
Sérgio Alves<br />
Das excelentes e, cada vez mais, numerosas<br />
novidades em DVD, seleccionamos, em<br />
<strong>Fevereiro</strong>, quatro filmes dignos da atenção<br />
de todos os cinéfilos. Um drama actual em<br />
“Um Coração Poderoso”; a comédia romântica “2 Dias<br />
UM CORAÇÃO<br />
PODEROSO<br />
Mariane Pearl, grávida de<br />
seis meses, enfrenta uma<br />
corrida contra<br />
o tempo<br />
para salvar o<br />
marido,<br />
Daniel Pearl,<br />
repórter do<br />
Jornal Wall Street, raptado<br />
pela Al.Qaeda no<br />
Paquistão. Mariane procurar<br />
abstrair-se de um<br />
mundo governado pela<br />
amargura e pelo rancor<br />
desde o 9/11 de Nova<br />
Iorque, expressando, da<br />
forma mais pura, o amor e<br />
felicidade partilhados com<br />
Daniel. Realizado por<br />
Michael Winterbottom e<br />
produzido por Brad Pitt,<br />
Andrew Eaton e Dede<br />
Gardner, “Um Coração<br />
Poderoso” é um potencial<br />
candidato aos Óscares.<br />
TÍTULO ORIGINAL: A Mighty<br />
Heart<br />
REALIZAÇÃO: Michael<br />
Winterbottom; COM:, Angelina<br />
Jolie, Dan Futterman, Archie<br />
Panjabi; EUA, 108m, cor, 2007;<br />
EDIÇÃO: Lusomundo.<br />
66 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Qualidade e diversidade<br />
HISTÓRIAS<br />
DO CINEMA<br />
Boa parte da crítica considera<br />
tratar-se de um trabalho<br />
único e genial, “a<br />
grande obra de arte do<br />
século XX”. Usando filmes<br />
antigos e os seus próprios<br />
filmes, pintura, fotografia,<br />
bandas-sonoras, música<br />
jazz, clássica ou pop,<br />
intertítulos, subtítulos, voz<br />
off, Godard cria um autoretrato<br />
desenhado pelos<br />
filmes dos outros, através<br />
das histórias<br />
que o<br />
Cinema<br />
conta. Neste<br />
“ensaio”<br />
sobre o<br />
Cinema, feito com os meios<br />
do Cinema, a sua História e<br />
a sua interpretação da<br />
História, a sua elegia e a<br />
sua crítica. Godard projecta-se<br />
para o futuro para, a<br />
partir da sobreposição de<br />
imagens e da polifonia de<br />
sons, perguntar “o que é o<br />
cinema?”.<br />
TÍTULO ORIGINAL: Histoires du<br />
Cinema;<br />
REALIZAÇÃO: Jean Luc Godard;<br />
França, 268m, cor, 1988/1998;<br />
EDIÇÃO: Midas<br />
em Paris”; uma notável e obrigatória reflexão sobre o<br />
cinema de Jean-Luc Godard (“Histórias do Cinema”), e,<br />
finalmente, “Regras para ser feliz”, sobre conflitos<br />
intergeracionais, “vividos e superados” por três grandes<br />
actrizes.<br />
REGRAS PARA<br />
SER FELIZ<br />
Quando Lily já não consegue<br />
lidar com a rebelião<br />
da filha adolescente,<br />
Rachel, leva-a para o único<br />
lugar onde jurou nunca<br />
mais voltar … a casa de sua<br />
mãe Geórgia,<br />
em Idaho.<br />
Juntas,<br />
preparam-se<br />
para um<br />
Verão recheado<br />
de revelações familiares.<br />
As três mulheres vão compreender<br />
que os laços que<br />
as unem não poderão ser<br />
quebrados<br />
Três gerações de notáveis<br />
actrizes– Jane Fonda,<br />
Filicity Huffman e Lindsay<br />
Lohan - num filme, assinado<br />
por Garry Marshall, que<br />
explora a importância da<br />
compreensão, da liberdade<br />
e do perdão<br />
TÍTULO ORIGINAL: Georgia<br />
Rule;<br />
REALIZAÇÃO: Garry Marshall;<br />
COM: Jane Fonda,Felicity<br />
Huffman, Lindsay Lohan; EUA,<br />
113m, cor, 2007;<br />
EDIÇÃO: Lusomundo.<br />
2 DIAS<br />
EM PARIS<br />
Marion é uma fotógrafa<br />
francesa. Jack é um desenhador<br />
de interiores americano.<br />
Vivem juntos em<br />
Nova Iorque, mas a relação<br />
já teve melhores dias. Após<br />
umas férias falhadas em<br />
Veneza decidem passar<br />
dois dias em Paris antes do<br />
regresso a casa. Mas em<br />
Paris nem tudo corre bem:<br />
os pais de Marion são<br />
muito intrometidos, os exnamorados<br />
de<br />
Marion vão<br />
aparecendo<br />
… Escrito,<br />
produzido e<br />
realizado por<br />
Julie Delpy, “2 Dias em<br />
Paris” é uma divertida e<br />
romântica comédia sobre as<br />
aventuras/desventuras de<br />
um jovem casal de vida<br />
difícil na cidade dos mil e<br />
um amores.<br />
TÍTULO ORIGINAL: 2 Days in<br />
Paris<br />
REALIZAÇÃO: Julie Delpy;<br />
COM: Julie delpy, Adam<br />
Goldberg, Daniel Bruhl; EUA,<br />
96m, cor, 2007 ;<br />
EDIÇÃO: LNK.
Rever Charlot, ou o imigrante<br />
Miguel Freiats da Costa<br />
Durante a maior parte<br />
da vida dos cinéfilos<br />
da minha geração –<br />
os filmes estreavamse<br />
e passada essa primeira apresentação<br />
ao público nas salas de<br />
cinema – morriam quase todos<br />
para sempre, salvo alguma breve<br />
ressurreição nas salas de “reprise”<br />
ou nas muito raras “reposições”<br />
ou nas cinematecas e, claro,<br />
nos cineclubes. Quando não desapareciam<br />
mesmo os originais, dificilmente<br />
se viam outra vez como no<br />
primeiro dia: as cópias iam estando<br />
cada vez mais maltratadas (na “reposição”<br />
anunciava-se às vezes “cópia<br />
nova”). A memória - que um historiador<br />
francês diz que é o contrário<br />
da história – era quase o único<br />
recurso de quem contava a história<br />
do cinema através dos seus filmes, e<br />
nem sempre, ou quase nunca, à medida<br />
que o tempo passava, era sequer<br />
a própria memória: era “a vida<br />
dos outros”.<br />
Já não é assim. A fome de “conteúdos”<br />
das dezenas de canais de<br />
televisão e outros meios de distribuição<br />
a domicílio do cinema, principalmente<br />
os digitais, gerou uma<br />
abundante oferta de tudo quanto há<br />
e houve em matéria de produção<br />
cinematográfica – e tem ajudado a<br />
procura e restauro de muito material<br />
dado por perdido ou estragado.<br />
Assim, a RTP 2 deu-nos recentemente<br />
a oportunidade de ver ou<br />
rever, em excelentes condições, muitos<br />
dos filmes de longa-metragem<br />
de Charles Chaplin, desde o notável<br />
Ver filmes era, até há muito menos tempo do que parece, quase nunca<br />
ter a oportunidade de os rever.<br />
“Opinião pública” (A<br />
Woman of Paris, 1923)<br />
a “O Barba Azul”, o famoso<br />
Monsieur Verdoux,<br />
1946, em que<br />
“Charlot” já não aparece,<br />
para não mais<br />
voltar. Passou também<br />
uma série de programas<br />
sobre os filmes de Chaplin, com<br />
muitos “extras” fascinantes e cineastas<br />
convidados para falar de cada<br />
filme.<br />
A grande criação de Chaplin que o<br />
tornou um ídolo universal foi, no<br />
primeiro quartel do século passado,<br />
“Charlie”, o little tramp, a que sempre<br />
chamámos, sem traduzir do<br />
francês, “Charlot”; éramos “franceses”,<br />
nesse tempo (comme c’est loin,<br />
tout ça). Nesta retrospectiva pudemos<br />
verificar como o Chaplin mais<br />
consciente e organizado dos filmes<br />
mais tardios não é muito interessante:<br />
Tempos Modernos (1936), já é<br />
muito forçado - e revisto agora perde<br />
muito do lustre da recordação; O<br />
Grande Ditador, de 1941 (a famosa<br />
sátira de Hitler e do nacional-socialismo)<br />
é menos do que menor. Em<br />
A grande<br />
criação<br />
de Chaplin<br />
que o tornou<br />
um ídolo<br />
universal foi<br />
“Charlie”, o<br />
‘little tramp’<br />
BOAVIDA<br />
Cineclube<br />
definitivo, é o “Charlot” pobre,<br />
mau e vingativo das curtas metragens<br />
dos primórdios que ainda<br />
nos faz pensar e rir: nunca lhe<br />
assentou bem a versão diluída<br />
dos sentimentos cristãos a que se<br />
costuma chamar “humanismo”.<br />
De resto, há sempre, até Modern<br />
Times pelo menos, momentos em<br />
que brilha a graciosidade acrobática<br />
de Chaplin e o seu génio<br />
cómico e cinematográfico.<br />
Ocorre-me agora que<br />
um dos meus preferidos<br />
e mais lembrados entre<br />
os filmes curtos de “Char-<br />
lot” é o magistral “O Imigrante”<br />
(1917). Chaplin,<br />
que nasceu em Londres<br />
em 1889, fez ele próprio a<br />
experiência da imigração<br />
nos Estados Unidos – e<br />
do “sonho americano” que a certa<br />
altura deixou de apreciar: em 1919, o<br />
pobre cómico inglês chegado cinco<br />
anos antes era já um magnate do cinema.<br />
A imigração para os Estados<br />
Unidos sempre foi uma questão de<br />
primeira ordem naquele “país de imigrantes”<br />
– rodeada de grande discussão<br />
e obscurecida por muitos<br />
mitos. É um dos temas centrais da<br />
corrente campanha presidencial nos<br />
Estados Unidos – e será cada vez mais<br />
um importante tema de debate na<br />
Europa. O cinema, já avisámos, leva a<br />
tudo.<br />
No Google, o nome de Charles<br />
Chaplin concita mais de um milhão<br />
de referências. Praticamente toda a<br />
sua obra – e mais do que isso - está<br />
neste momento disponível em<br />
DVD. ■<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 67
Pedro Soares<br />
BOAVIDA<br />
À mesa<br />
Arroz – alimento quase…<br />
quase perfeito<br />
O arroz é um extraordinário alimento, versátil, capaz de proporcionar energia de elevada qualidade, fácil<br />
digestão, diversas vitaminas e minerais, boa conservação e baixo preço. Razões mais do que<br />
suficientes para o conhecermos melhor e não o considerarmos um mero acompanhamento quando<br />
afinal, ele é, ou devia ser, a estrela principal de muitas das nossas refeições.<br />
Comecemos pelo principal.<br />
Apesar de o arroz ter<br />
origem no sueste asiático,<br />
os Portugueses são dos<br />
maiores “consumidores” de arroz<br />
da Europa (disponibilidade Kg/per<br />
capita/ano) sendo a região norte e<br />
centro a principal consumidora.<br />
Somos não só grandes consumidores<br />
de arroz, como somos,<br />
provavelmente, o país europeu que<br />
melhor trata o arroz do ponto de<br />
vista culinário. Tanto em qualidade<br />
como em diversidade.<br />
Não creio existir na Europa um<br />
país que tenha, ao mesmo tempo,<br />
uma das suas principais sopas à base<br />
de arroz (a canja), uma das suas<br />
mais emblemáticas sobremesas à<br />
base de arroz (o arroz doce) e<br />
dezenas de pratos onde o arroz é rei.<br />
Poderíamos enumerar por exemplo<br />
e de passagem, o Arroz de Lampreia<br />
de Monção, o Arroz de Sarrabulho<br />
de Ponte de Lima, o Arroz de<br />
Cabidela, o Arroz de Cabrito do<br />
Douro Litoral, o Arroz de Pato de<br />
Lafões, o Arroz de Ossos de Suã de<br />
Oliveira de Azeméis, o Arroz de<br />
Bucho do Ribatejo e o Arroz de<br />
Lingueirão da Praia de Faro. E para<br />
não falarmos de outros pratos<br />
emblemáticos do nosso património<br />
cultural, como as tripas à moda do<br />
Porto ou o cozido à Portuguesa,<br />
onde o arroz tem lugar marcado.<br />
68 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
Esta presença constante do arroz<br />
à nossa mesa tem a ver com a extraordinária<br />
capacidade desta planta<br />
(a mais comum é a Orysa sativa L.)<br />
de fornecer energia de muito fácil<br />
digestão e aproveitamento pelo<br />
nosso organismo, para além de<br />
diversas vitaminas. Acresce ainda<br />
que o arroz é praticamente isento<br />
de gordura libertando glicose de<br />
uma forma lenta, permitindo um<br />
abastecimento energético aos<br />
órgãos vitais, como o cérebro, de<br />
uma forma constante e eficaz. O<br />
arroz comum não polido, possui<br />
ainda vitaminas no germe e escutelo,<br />
para além de abundantes minerais<br />
na aleurona. As partes externas<br />
do grão possuem também<br />
lenhinas, celulose e hemicelulose,<br />
substâncias essenciais ao bom funcionamento<br />
digestivo, que faziam<br />
deste alimento, a base da alimentação<br />
oriental. Actualmente, o polimento<br />
do arroz, para que este fique<br />
mais branco e de mais fácil cozedura,<br />
retira-lhe uma grande parte do<br />
seu valor vitamínico, mineral e conteúdo<br />
em fibra. Assim, deveremos<br />
preferir o arroz menos polido (também<br />
mais barato), mais escuro ou<br />
paraboiled, processo tecnológico<br />
que preserva parte das qualidades<br />
nutricionais do arroz.<br />
Por outro lado, o arroz pelas suas<br />
qualidades higroscópicas (absorve<br />
os sucos da cozedura) permite reter<br />
minerais que de outra forma se<br />
perderiam. O Arroz de Cabidela e o<br />
Arroz Malandro são exemplos desta<br />
arte antiga de aproveitar ao máximo<br />
os nutrimentos presentes nos sucos<br />
das cozeduras das carnes e hortícolas,<br />
coisa que, por exemplo, a batata<br />
ou o feijão não fazem.<br />
Contudo, o arroz está debaixo da<br />
pressão dos consumidores que cada<br />
vez mais o disputam e da competição<br />
do petróleo. A utilização dos<br />
cereais para a produção de bio-combustíveis,<br />
o aumento brutal dos custos<br />
de transporte e a procura crescente,<br />
levou a índia a proibir recentemente<br />
a quase totalidade das suas<br />
exportações. Desde 2004, houve um<br />
aumento de preços na UE entre 60%<br />
e 100%. De produto básico, o arroz<br />
tende a transformar-se num produto<br />
mais inacessível. Uma oportunidade<br />
para o arroz português das<br />
zonas de produção orizícola do<br />
Mondego, Tejo e Sado e uma<br />
chamada de atenção para os<br />
amantes deste nobre produto e para<br />
a sua protecção. ■
Ser “despistado”<br />
pode ser doença...<br />
Todos nós conhecemos pessoas muito distraídas, sempre ausentes,<br />
como se vivessem noutro planeta: são os<br />
“despistados”…Geralmente estas pessoas são aceites com<br />
benevolência, mas quando é demais pode ser doença e causar<br />
grande embaraço e sofrimento ao próprio.<br />
M.Augusta Drago<br />
Amaior parte das pessoas já<br />
ouviram falar em crianças<br />
hiperactivas e com défice<br />
de atenção. Ignoram, porém,<br />
que estas crianças podem dar<br />
lugar a adultos com as mesmas características.<br />
Mas é mais frequente<br />
encontrar adultos só com défice de<br />
atenção e sem hiperactividade.<br />
A grande maioria destas pessoas<br />
e os que as rodeiam admitem que,<br />
para o bem e para o mal, essa é a<br />
sua natureza, uma maneira diferente<br />
de estar na vida e raramente<br />
procuram ajuda.<br />
As pessoas de que estamos a falar<br />
são aquelas que frequentemente<br />
não conseguem estar atentas durante<br />
muito tempo; frequentemente<br />
erram as tarefas que exigem<br />
esforço de concentração; também<br />
frequentemente parecem não ouvir<br />
quando falamos com elas; saltitam<br />
com frequência de umas tarefas<br />
para outras… Estes sintomas são<br />
persistentes e contínuos, nunca<br />
regredindo de forma espontânea.<br />
Alertam o próprio e os familiares<br />
para a necessidade de procurar<br />
ajuda.<br />
A maioria dos especialistas reconhece<br />
que esta doença se apresenta<br />
segundo três padrões: o indivíduo<br />
desatento, o hiperactivo-impulsivo<br />
e o padrão misto. O adulto com esta<br />
patologia é normalmente portador<br />
dum mau-humor excessivo e frequente.<br />
O comportamento destes<br />
doentes é um factor de grande<br />
instabilidade na vida familiar.<br />
As primeiras perturbações surgem,<br />
em geral, antes dos sete anos e<br />
manifestam-se em pelo menos dois<br />
ou mais ambientes (ex.: na escola e<br />
no emprego) e em casa.<br />
As pessoas com défice de atenção<br />
evitam tarefas monótonas e situações<br />
em que tenham de estar atentos<br />
durante algum tempo, porque<br />
se distraem com qualquer estímulo<br />
irrelevante e exterior à tarefa. Não<br />
conseguem controlar voluntariamente<br />
a atenção, geram frequentemente<br />
situações de constrangimento<br />
social e embaraço nos ambientes<br />
de trabalho. Têm relações crispadas<br />
com os colegas que se queixam de<br />
que “não ouve nada do que se lhe<br />
BOAVIDA<br />
Saúde<br />
diz”. Saltitam de emprego para<br />
emprego. Estas pessoas podem estar<br />
muito motivadas e iniciarem projectos<br />
com grande qualidade, mas são<br />
incapazes de arrancar com eles para<br />
a frente, porque logo a seguir a sua<br />
atenção se dispersa por outras iniciativas<br />
que lhe surgem no momento.<br />
Muitos dos doentes com défice<br />
de atenção são também hiperactivos<br />
e impulsivos. Não conseguem<br />
aguardar a sua vez numa fila e frequentemente<br />
fazem tentativas desastradas<br />
de passar à frente. Esta<br />
impulsividade manifesta-se principalmente<br />
ao volante. Têm uma<br />
condução perigosa que é reconhecida<br />
pelos próprios. Conforme vem<br />
descrito na literatura médica, “a<br />
impulsividade aliada ao défice de<br />
atenção faz destes doentes um perigo<br />
público potencial nas estradas”<br />
As pessoas que sofrem desta<br />
doença vivem com o sentimento de<br />
frustração por não conseguirem<br />
manter um emprego ou realizar as<br />
tarefas que se propõem até ao fim.<br />
Um número significativo sofre de<br />
perturbações de humor/ansiedade<br />
e de consumo excessivo de álcool e<br />
outras substâncias.<br />
É urgente que o défice de atenção<br />
no adulto seja identificado o mais<br />
precocemente possível, porque tem<br />
tratamento e com ele podemos<br />
poupar muito sofrimento aos doentes<br />
e às suas famílias. ■<br />
medicofamilia@clix.pt<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 69
BOAVIDA<br />
Tempo informático<br />
Gil Montalverne<br />
Talvez não tenha sido por<br />
acaso que a Enciclopedia<br />
anual da Microsoft, na sua<br />
versão <strong>2008</strong>, tenha em<br />
destaque na embalagem do DVD a<br />
fotografia de uma Iguana algo<br />
assustada. Este animal, registado<br />
como protegido no seu habitat, nas<br />
grandes florestas da América<br />
Central, constantemente destruídas<br />
pela acção do homem e agora também<br />
pelas alterações climatéricas<br />
que o homem tem provocado, é<br />
bem o símbolo daquilo que é<br />
necessário defender. A biodiversidade<br />
é a garantia da nossa<br />
sobrevivência. Todos os seres<br />
vivos são necessários. E o<br />
Planeta Terra está em perigo.<br />
Mas ele não nos pertence. Temos<br />
a obrigação de o preservar para<br />
as gerações vindouras. Talvez<br />
também por isso o “Student with<br />
Encarta Reference Library <strong>2008</strong>”,<br />
um DVD que abrange o que de<br />
mais importante é necessário<br />
conhecer nas diversas áreas das<br />
Ciências da Terra, das Artes, da<br />
Tecnologia mas também da<br />
Matemática, da Física e da Química,<br />
com dezenas de milhares<br />
de artigos, igualmente de imagens<br />
e ilustrações, vídeos, mapas,<br />
insiste este ano numa ligação<br />
estreita com os jovens estu-<br />
70 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
A única opção<br />
A opção a tomar neste Ano Internacional do Planeta Terra, tal<br />
como foi proclamado pela ONU para <strong>2008</strong>, é de facto cuidar<br />
dele e defender o Ambiente. O que será de mais importante<br />
neste momento do que preparar os jovens para conhecer os<br />
problemas e construir um futuro melhor? A Informática ajuda.<br />
dantes que ali encontram muita<br />
matéria para complementar os seus<br />
estudos. Ali podem aprender o<br />
essencial para se aperceberem da<br />
importância do conhecimento, de<br />
modo a responder ao apelo do Ano<br />
Internacional. As ciências da Terra<br />
podem ajudar esta geração a<br />
enfrentar os desafios de modo a ser<br />
conseguido um mundo mais seguro<br />
e próspero. Esta versão da Encarta<br />
merece o nosso destaque. E também<br />
não é por acaso que a Microsoft<br />
Portugal e o Ministério do Ambiente<br />
assinaram em Janeiro um protocolo<br />
que institui a colaboração entre as<br />
duas entidades para a promoção do<br />
Ambiente, através da Tecnologia,<br />
junto das comunidades académicas.<br />
Segundo afirmou o Ministro do<br />
Ambiente, na assinatura deste protocolo<br />
com a Agência Portuguesa<br />
do Ambiente “a Tecnologia pode<br />
ajudar-nos a proteger o Ambiente e<br />
a criar novos projectos que o melhorem”.<br />
E a Microsoft foi de facto<br />
mais longe. A já habitual competição<br />
que incentiva os estudantes<br />
do ensino secundário e superior<br />
IMAGINE CUP, em cerca de uma<br />
centena de países, onde jovens<br />
portugueses foram distinguidos<br />
em 2007, tem este ano como<br />
tema “imagina um mundo onde<br />
a tecnologia possibilita o desenvolvimento<br />
de um ambiente sustentável”.<br />
Trata-se de um desafio<br />
para que os estudantes tomem<br />
“a única opção” – utilizar a<br />
Tecnologia para melhorar a Vida<br />
no Planeta Terra. E a Encarta<br />
<strong>2008</strong> com os seus conteúdos,<br />
dicionários bilingues, links para<br />
websites fiáveis, ferramentas<br />
matemáticas e vários recursos<br />
interactivos é de facto uma escolha<br />
a considerar para os que<br />
desejem, para além de aprender<br />
a proteger o Planeta Terra, embarcar<br />
na maravilhosa aventura<br />
do conhecimento. ■<br />
ajuda@gil.com.pt
Qashqai: um carro simpático<br />
Carlos Blanco<br />
O Qasqhai justitifica plenamente as razões para a existência de grande lista de espera<br />
na filial ibérica da Nissan...<br />
Trata-se de fenómeno de<br />
vendas baseado na rentabilização<br />
de características<br />
bastante valorizadas. Tais<br />
como: SUV, conceito automóvel em<br />
voga, a preço extremamente competitivo<br />
por opção do fabricante<br />
nipónico em versão sem tração integral<br />
– uma minoria utiliza estes<br />
veículos em TT – e motor Diesel<br />
económico mas competente, sob carroçaria<br />
de dimensões urbanas, compacta<br />
cujo interior tem espaço, conforto<br />
e funcionalidade.<br />
Além de ser bom automóvel bem<br />
direccionado ao cliente - alvo, o<br />
Nissan Qashqai assenta o seu êxito<br />
comercial noutro ponto fundamental<br />
para a escolha de automóvel: o<br />
preço desde 23.000 euros. Num segmento<br />
inflacionado pelos custos elevados<br />
da tecnologia dedicada à<br />
aptidão para todo-o-terreno, a Nissan<br />
suprime alguns dos mais caros,<br />
com modelo que simplesmente é<br />
um SUV sem pretensões de TT e<br />
além disso dispõe de motor turbodiesel<br />
de baixa cilindrada (1.5), outro<br />
relevante trunfo de economia.<br />
O Nissan Qashqai está disponível<br />
em versões de duas (4x2) ou quatro<br />
(4x4) rodas motrizes, nestas últimas<br />
apenas com motor turbodiesel 2.0<br />
dCi de 150 cv.<br />
Mesmo equipado com tracção<br />
integral, o mini-SUV da marca japonesa<br />
não tem pretensões a ser um<br />
todo-o-terreno, mas está, naturalmente,<br />
mais apto a aventurar-se<br />
além de estradões em mau estado. ■<br />
BOAVIDA<br />
Ao Volante<br />
Motor Diesel económico,<br />
carroçaria de dimensões<br />
urbanas, compacta, cujo<br />
interior tem espaço,<br />
conforto e funcionalidade<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 71
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
7<br />
8<br />
9<br />
10<br />
11<br />
12<br />
13<br />
CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15<br />
SOLUÇÕES<br />
l-GIOTTO; PETRARCA. 2-ROTA; REATO; RIAM. 3-IDA; MARIA;<br />
IDOSA. 4-TO; RODAS; ARES; R. 5-0; PENAS; OMAR; AR. 6-MONIS;<br />
ITAS; OPA. 7-CORDA; ADIR; ALO. 8-ATIRO; ETER; ALA. 9-A; ADIAS;<br />
ELOS; OC. lO-NA; OASIS; AMOR; L. 11-TRI; SINAL; ACENA. 12-<br />
ROAM: CACEM; ALOR. 13-OSSUDO; AUTORIZA.<br />
Xadrez > por Joaquim Durão<br />
Remate singelo num torneio belga<br />
de1976, executado por Luc Winants – o<br />
melhor jogador do País na actualidade<br />
– em partida contra Van Geeven.<br />
AS PRETAS JOGAM E GANHAM<br />
FULMINANTEMENTE …<br />
Esta será, talvez, a partida mais famosa<br />
de todos os tempos. Um pequeno<br />
tratado de táctica, lógica e dos princípios<br />
que presidem às leis da abertura. A<br />
elegância da execução satisfaz a mais<br />
severa exigência, pois todos, um dia,<br />
gostaríamos de jogar uma partida<br />
assim.<br />
Curioso também é que a partida foi<br />
jogada num camarote da Ópera de<br />
Paris, num intervalo do “Barbeiro de<br />
Sevilha”, em 1858. Um jovem norteamericano<br />
visitava a Europa, precedido<br />
de extraordinária fama, que começara<br />
aos 12 anos. Os seus anfitriões, amadores<br />
do jogo, foram os adversários.<br />
Paul Morphy (Nova Orleães, 22.06.1837<br />
– 10.07.1884) – Duque de Brunswick e<br />
Conde de Isouard. Defesa Phillidor.<br />
72 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
1.e4 e5 2.Cf3 d6 3.d4 Bg4 4. dxe5 Bxf3<br />
(se 4…. Dxe5 5. Dxd8+Rxd8 6. Cxe5) 5.<br />
Dxf3 dxe5 6. Bc4 Cf6? 7. Db3 (Já com<br />
importantes ameaças sobre “f7” e “b7”.<br />
A resposta preta é a melhor, prevendo<br />
8.Dxb7 Db4+ obrigado a trocar as<br />
damas – do mal o menos. Mas Morphy<br />
prefere seguir com o desenvolvimento<br />
Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas<br />
Horizontais:<br />
l-Pintor f1orentino, amigo intimo de Dante (1266-1337); Poeta<br />
italiano, autor de “Epistolae” (1304-1370. 1-Rumo; Restabelece;<br />
Gracejavam. 3-Jornada; Nome pessoal feminino; Anciã. 4-<br />
Porca; Circulas; Parecenças. 5-Castigos; Sucessor de Abu Becre<br />
e segundo califa de 634 a 644; Ambiente. 6-Dinheiros; Pedras;<br />
Bebedeira. 7-Cabo; Somar; Para barlavento. 8-Arremesso;<br />
Atmosfera; Renque. 9-Aprazas; Argolas; “sim”, no dialecto<br />
provençal. 10 -”Sódio” (s.q.); Alívio; Afeição. 11-Pref. de “Três”;<br />
Marca; Gesticula. 12-Ratem; Busquem; Impulso. 13-Anguloso;<br />
Permite.<br />
Verticais:<br />
l-Brado; Caverna. 2-Iodina; Rale; Círculos. 3-Upa!; Acesso;<br />
Caminhavas. 4-Basta!; Substituído; Macho. 5-Repreenderias. 6-<br />
Ermidas; Relativo a “oásis”. 7-Estavas; Sorte. 8-Autores;<br />
Caminhai; Tira. 9-Letra grega; Inflamação dos ouvidos; Laró.<br />
10-”Tântalo” (s.q.); Lívida. “Meitenério” (s.q.). 11-Agastamentos;<br />
Capital europeia. 12-Abrasar; Bater. 13-Correntes de<br />
água; Remoinho; Recapitulei. 14-Casa; Febo; Cabeça. 15-<br />
Prende; Explana.<br />
de figuras) 8. Cc3 c6 (Defende “b7”) 9.<br />
Bg5 b5? (Pretendendo afastar as peças<br />
ofensivas, mas…) 10. Cxb5!! 11.Bxb5+<br />
Cbd7 12.0-0 Td8 (Defesa única) 13.<br />
Txd7 Txd7 14. Td1 De6 (Neste<br />
momento a partida já se pode ganhar<br />
de várias formas, como por exemplo,<br />
15. Dxe6+ fxe6 16. Bxf6 gxf6 17. Txd7<br />
etc. Mas Morphy vê o mate elegante,<br />
mesmo a tempo de ver a segunda parte<br />
da ópera) 15. Bxd7 Cxd7 16. Db8+!!<br />
Cxb8 17. Td8++.<br />
Princípios básicos da abertura<br />
cumpridos: domínio do centro, não<br />
perder tempos no desenvolvimento<br />
(jogar as figuras para as posições certas<br />
em um só lance), torres para as colunas<br />
abertas; consequência – a vantagem<br />
posicional vai permitir o sacrifício de<br />
material com vistas a um ataque<br />
imparável ou recuperação do material<br />
com “juros”.<br />
SOLUÇÕES<br />
Solução: 1…. Txd1+ 2. Txd1 De2 mate.
Este cupão só é válido na compra<br />
de 1 livro constante da nossa secção<br />
“ Novos livros ”, onde está incluído<br />
o preço de venda ao público<br />
(PVP) e respectiva Editora<br />
Clube<br />
TempoLivre<br />
Este cupão só é válido na compra<br />
de 1 livro constante da nossa secção<br />
“ Novos livros ”, onde está incluído<br />
o preço de venda ao público<br />
(PVP) e respectiva Editora<br />
Clube<br />
TempoLivre<br />
NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de <strong>2008</strong><br />
DESCONTO<br />
2,74<br />
Euros<br />
VALIDADE<br />
31de Dezembro/<strong>2008</strong><br />
DESCONTO<br />
2,74<br />
Euros<br />
VALIDADE<br />
31de Dezembro/<strong>2008</strong><br />
Este cupão só é válido na compra<br />
de 1 livro constante da nossa secção<br />
“ Novos livros ”, onde está incluído<br />
o preço de venda ao público<br />
(PVP) e respectiva Editora<br />
Clube<br />
Clube<br />
TempoLivre<br />
Este cupão só é válido na compra<br />
de 1 livro constante da nossa secção<br />
“ Novos livros ”, onde está incluído<br />
o preço de venda ao público<br />
(PVP) e respectiva Editora<br />
CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE<br />
TempoLivre<br />
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31de Dezembro/<strong>2008</strong><br />
DESCONTO<br />
2,74<br />
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VALIDADE<br />
31de Dezembro/<strong>2008</strong><br />
Remeter para<br />
Clube Tempo Livre –<br />
LIVROS, Calçada de<br />
Sant’Ana nº 180 –<br />
1169-062 Lisboa, o<br />
seguinte:<br />
● Pedido, referenciando<br />
a editora e o título<br />
da obra pretendida;<br />
● Cheque ou Vale dos<br />
Correios, correspondente<br />
ao valor (PVP)<br />
do livro, deduzindo<br />
2,74 euros de desconto<br />
do cupão.<br />
● Portes dos Correios<br />
referente ao envio da<br />
encomenda, com<br />
excepção do<br />
estrangeiro, serão<br />
suportados pelo Clube<br />
Tempo Livre. Em caso<br />
de devolução da<br />
encomenda, os custos<br />
de reenvio deverão ser<br />
suportados pelo<br />
associado.
CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS<br />
CAMPO DAS LETRAS<br />
MESTRES OURIVES DE<br />
GUIMARÃES - SÉCULOS<br />
XVIII E XIX<br />
Manuela de Alcântara<br />
Santos<br />
ISBN: 978-989-625-203-8<br />
296 pg. | 49.35 (PVP)<br />
Um estudo que traça o<br />
percurso dos mestres<br />
ourives vimaranenses dos<br />
séculos XVIII e XIX, e dá a<br />
conhecer as peças que<br />
produziam.<br />
Guimarães é terra de<br />
pergaminhos e de homens<br />
que acreditam na<br />
importância de preservar e<br />
divulgar o que lhes foi<br />
legado pelas gerações<br />
anteriores, mas, no entanto,<br />
a arte dos ourives, apesar<br />
da sua vetusta importância<br />
e da existência de alguns<br />
estudos parcelares<br />
permanecia quase<br />
desconhecida.<br />
SOL NASCENTE – DA<br />
CULTURA REPUBLICANA<br />
E ANARQUISTA<br />
AO NEO-REALISMO<br />
Luís Crespo de Andrade<br />
ISBN: 978-989-625-219-9<br />
208 pg. | 13, 65 (PVP)<br />
Criado e dirigido por<br />
estudantes universitários<br />
portuenses que se<br />
opunham à ordem política<br />
vigente e se sentiam unidos<br />
pela esperança num mundo<br />
novo, “Sol Nascente”<br />
começou por ser uma<br />
revista de orientação<br />
explicitamente ecléctica.<br />
Reuniu, então, artigos de<br />
intelectuais consagrados -<br />
com destaque para Abel<br />
Salazar - e colaborações de<br />
autores jovens, sempre com<br />
grande variedade de<br />
opinião e de sensibilidade.<br />
Quando, mais tarde, a<br />
redacção foi entregue a<br />
universitários<br />
conimbricences, o<br />
quinzenário perdeu o tom<br />
diversificado e converteu-se<br />
em órgão teórico e<br />
doutrinário marxista e<br />
leninista.<br />
MORTE DE PORTUGAL<br />
Miguel Real<br />
ISBN: 978-989-625-224-3<br />
128 pg. | 10 (PVP)<br />
Na linha de Eduardo<br />
Lourenço, este pequeno<br />
ensaio diligencia desenhar<br />
os quatro complexos<br />
culturais por que Portugal<br />
se foi concebendo ao longo<br />
de 800 anos de História: ora<br />
um país gerado contra as<br />
mais difíceis circunstâncias;<br />
ora um país que se vê como<br />
nação superior; ora um país<br />
que se lastima e se<br />
penitencia, considerando-se<br />
nação inferio; ora um país<br />
mesquinho, venenoso e<br />
bárbaro, no qual cada<br />
corrente política e<br />
intelectual tem sobrevivido<br />
da canibalização das<br />
correntes adversárias,<br />
negando-as e humilhandoas.<br />
EDITORIAL PRESENÇA<br />
CARTAS DE UMA MÃE<br />
Catherine Dunne<br />
ISBN: 978-972-23-3876-9<br />
221 pg. | 15 (PVP)<br />
Um romance que aborda<br />
um intenso conflito familiar<br />
dominado pelos inevitáveis<br />
jogos de poder que tantas<br />
vezes condicionam as<br />
relações afectivas mais<br />
profundas. Alice e Beth,<br />
mãe e filha, protagonizam<br />
uma ligação ensombrada<br />
pelo silêncio ruidoso e<br />
agreste que há muito se<br />
instalou entre elas e que<br />
ambas desejam,<br />
intimamente, quebrar. Cabe<br />
a Alice, condenada por uma<br />
série de acidentes<br />
vasculares cerebrais e<br />
ciente de poder perder a<br />
qualquer momento a<br />
lucidez, dar o primeiro<br />
passo.
CIDADE INQUIETA<br />
Brian Freeman<br />
ISBN: 978-972-23-3885-1<br />
404 pg. | 20 (PVP)<br />
Em Las Vegas, cidade onde<br />
o glamour e o vício brilham<br />
no máximo esplendor,<br />
ocorrem dois crimes sem<br />
aparente motivação e sem<br />
relação evidente entre si.<br />
Os detecives Strider e<br />
Amanda estão a investigar<br />
o assassínio à queimaroupa<br />
de um herdeiro de<br />
uma grande fortuna. Serena<br />
Dial, mulher de Strider, está<br />
por seu lado ocupada com o<br />
caso chocante de um<br />
rapazinho mortalmente<br />
atropelado por um condutor<br />
que fugiu. Outros crimes<br />
ocorrem, mas como<br />
denunciar alguém intocável<br />
sem pôr em risco a própria<br />
segurança?<br />
A SAGA DOS OTORI - O<br />
VOO DA GARÇA<br />
Lian Hearn<br />
ISBN: 978-972-23-3873-8<br />
479 pg. | 22 (PVP)<br />
De regresso ao seu<br />
imaginário envolvente,<br />
reencontramos Takeo e<br />
Kaede, que governam os<br />
Três Países há já dezasseis<br />
anos. Sob os seus<br />
desígnios, os territórios<br />
prosperam; contudo, nas<br />
sombras, os inimigos<br />
conspiram, determinados a<br />
derrubá-los. Repleto de<br />
intriga, magia, romance e<br />
acção, este é o novo livro de<br />
uma série que já foi<br />
aclamada como um clássico<br />
moderno.<br />
GRADIVA<br />
CRÓNICAS DOS ÁTOMOS E<br />
DAS GALÁXIAS<br />
Hubert Reeves<br />
204 pg. | 17,50 (PVP)<br />
As mais recentes<br />
descobertas nos campos da<br />
astrofísica e da cosmologia<br />
apresentadas por um<br />
respeitado cientista e<br />
admirável comunicador.<br />
Aliando o rigor e a clareza a<br />
uma singular sensibilidade<br />
poética, o autor conduz o<br />
leitor à compreensão de<br />
temas tão complexos como<br />
o Big Bang, a curvatura do<br />
universo, a matéria e a<br />
energia «escuras», os<br />
universos paralelos ou os<br />
buracos negros. As<br />
brilhantes crónicas<br />
radiofónicas de Reeves<br />
reunidas num livro irá<br />
deliciar e inspirar os seus<br />
inúmeros admiradores.<br />
WANYA – ESCALA EM<br />
ORONGO<br />
Nelson Dias (desenho) e<br />
Augusto Mota (texto)<br />
68 pg. | 15 (PVP)<br />
Numa pequeníssima<br />
tiragem comemorativa, este<br />
álbum marcante na<br />
moderna banda desenhada<br />
portuguesa publicado nos<br />
anos 70 e merecedor das<br />
melhores referências da<br />
crítica especializada, é<br />
agora reeditado. «O retrato<br />
metafórico de um país a<br />
preto-e-branco, sob o manto<br />
diáfano da fantasia. Wanya<br />
é a primeira banda<br />
desenhada adulta da idade<br />
adulta da banda desenhada<br />
portuguesa», tal como<br />
refere Rui Zink na nota<br />
introdutória que integra o<br />
livro.
CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO<br />
BRAGA<br />
Cultura<br />
CINEMA: Filme “Um<br />
Casamento Quase Perfeito”<br />
às 21h - dia 15 no Centro<br />
Recreativo e Cult. de<br />
Moreira de Cónegos; dia 16<br />
no Centro Recreativo e Cult.<br />
de Campelos; dia 22 no<br />
CCD da Assoc. Recreativa e<br />
Cult. de Valdozende, dia 23<br />
no Casa do Povo de Apúlia.<br />
ESPECTÁCULOS: dia 2 às<br />
15h - espectáculo de palhaços<br />
na Casado Povo de<br />
Milhazes (Barcelos); dia 5<br />
às 15h – Gr. Musical do<br />
Centro Acad. de Braga –<br />
CABçudos na Associação<br />
Cult. e Recreativa de<br />
Parada de Bouro em Vieira<br />
do Minho.<br />
TEATRO: dia 9 às 15h – “As<br />
Desventuras do Sr.<br />
Vampirius” pelo Gr. de<br />
Teatro Infantil de Braga no<br />
Auditório da Delegação do<br />
Instituto Português da<br />
Juventude, em Braga.<br />
Cursos: Danças de Salão e<br />
Latino – Americanas,<br />
Iniciação Musical e Piano,<br />
Artes Decorativas,<br />
Reciclagem Artística,<br />
Teatro, Bordados Regionais<br />
e Viola Clássica.<br />
Desporto<br />
CANOAGEM: dia 16 – actividade<br />
no Rio Cavado em Braga<br />
FUTEBOL: Sábados e<br />
Domingos – Jornadas do<br />
C.D. Futebol<br />
ATLETISMO: dia 17 –<br />
Campeonato Distrital<br />
Rampa, em Braga<br />
DAMAS: dia 13 – Torneios de<br />
Inverno em Braga<br />
TÉNIS DE MESA: dia 2 –<br />
Torneios de Inverno em<br />
Guimarães<br />
VOLEIBOL: dia 22 Torneios<br />
Primavera em Braga.<br />
XADREZ: dia 6 – Torneios de<br />
Carnaval em Braga<br />
76 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
COIMBRA<br />
Desporto<br />
ATLETISMO: dia 16 – 4º<br />
Torneio Lançamento/Cluve<br />
no Estádio Cidade de<br />
Coimbra.<br />
FUTEBOL: dias 10, 17 e 24 –<br />
Jornadas do Campeonato<br />
Distrital<br />
VOLEIBOL: dias 8, 15 e 22 –<br />
Jornadas do Campeonato<br />
Distrital<br />
COVILHÃ<br />
Cultura<br />
ACÇÃO DE FORMAÇÃO: dias<br />
9 e 16 às 9h – Acção de<br />
Formação: Cultura Popular –<br />
Etnografia e Folclore, no<br />
Pólo Ciências Sociais e<br />
Humanas da UBI (Univ. da<br />
Beira Interior), na Covilhã,<br />
mais informações contacte<br />
a Delegação.<br />
Desporto<br />
PEDESTRIANISMO: dia 24 -<br />
“Neve e Frio” – Marcha<br />
Passeio na Serra da Estrela<br />
TÉNIS DE MESA: dia 2 -<br />
Campeonato Nacional<br />
Veteranos; dia 9 - 10º<br />
Torneio Aberto CCD “As<br />
Palmeiras” em Castelo<br />
Branco.<br />
XADREZ: dias 9 e 10 -<br />
Campeonato Nacional (individual)<br />
DAMAS: dia 9 e 10 -<br />
Campeonato Nacional<br />
(equipas)<br />
GUARDA<br />
<br />
Roteiro <strong>Inatel</strong> de actividades culturais e desportivas<br />
Cultura<br />
PLANOS DE APOIO: dias 10 -<br />
Planos Nacionais de Apoio:<br />
Cerimónia de Entrega, no<br />
Teatro Municipal da Guarda.<br />
Desporto<br />
Btt: dia 24 às 9h - Passeio “<br />
Rota da Estrela” em<br />
Videmonte.<br />
DAMAS: dia 16 às 14h -<br />
Torneio em Nespereira.<br />
PEDESTRIANISMO: dia 10 –<br />
Passeio pedestre no<br />
Concelho da Guarda; dia 24<br />
-Pedestrianismo no<br />
Concelho de Celorico da<br />
Beira.<br />
MONTANHISMO: de 1 a 5 -<br />
Nevestrela <strong>2008</strong> (Actividade<br />
de acampamento, pedestrianismo<br />
e escalada em<br />
rocha), no Covão da<br />
Ametade, Serra da Estrela.<br />
TÉNIS DE MESA: dia 23 às<br />
14h - Torneio “Os Beirões”<br />
em Maçaínhas<br />
TIRO AO ALVO: dia 16 às<br />
14h30 - Torneio “ Cidade de<br />
Pinhel” em Pinhel; dia 23 às<br />
14h30-Torneio “Os Beirões<br />
de Maçaínhas” em<br />
Maçaínhas.<br />
LEIRIA<br />
Cultura<br />
CARNAVAL: dias 3 às 15 h -<br />
Dia do Palhaço,<br />
Espectáculo Infantil “Os<br />
Kellys” no Teatro Miguel<br />
Franco, em Leiria; dia 4 às<br />
22h - Dia do Folião,<br />
Concurso de Máscaras<br />
Irreverência <strong>2008</strong>”; dia a 5<br />
às 15h - Espectáculo<br />
Infantil “O Carnaval da Sr.ª<br />
Marquesa” (formas animadas)<br />
no Teatro Miguel<br />
Franco, em Leiria.<br />
Desporto<br />
FUTSAL: dias 16 e 23 às 15h<br />
– Campeonato Distrital -<br />
Série A no Pavilhão do CCD<br />
Gr. Desp. e Recr. de<br />
Parceiros, em Leiria e Série<br />
B no Pavilhão Gim. Rainha<br />
D. Leonor, em Caldas da<br />
Rainha.<br />
PEDESTRIANISMO: dia 3 às<br />
9h – Passeio Pedestre em<br />
Santiago de Litém / Pombal<br />
TÉNIS DE MESA: dia 16 às<br />
9h30 – Campeonatos<br />
Nacionais (Individuais) no<br />
Pavilhão Rainha D. Leonor,<br />
Caldas da Rainha.<br />
TIRO: dia 17 às 15h –<br />
Torneio no CCD U.P. Vale<br />
Covo em Bombarral.<br />
LISBOA<br />
Teatro da Trindade<br />
SALA PRINCIPAL: a partir do<br />
dia 21 às 21h30 e dom. às<br />
16h - O Dia das Mentiras<br />
SALA ESTÚDIO: A partir do<br />
dia 16 às 22h e Dom. 17h -<br />
Bululú<br />
TEATRO-BAR: Até ao dia 23<br />
às 23h - Made In Brazil<br />
PORTO<br />
Cultura<br />
EXPOSIÇÃO: até ao dia 29 -<br />
Pintura de Belmira<br />
Guimarães intitulada<br />
“Renascer”, na Galeria da<br />
Delegação<br />
VISITA: dia 23 - Passeio<br />
c/História a Montemor-o-<br />
Velho.<br />
CINEMA: Exibição de filme<br />
nos seguintes locais: dia 2<br />
na Casa do Povo de<br />
Longra; dia 8 na Banda<br />
Musical de Melres; dia 9<br />
no Rancho Folc. Citania de<br />
Sanfins; dia 12 no Círculo<br />
Católico do Porto; dia 15<br />
no Rancho Folc. de<br />
Marítimas e Angeiras; dia<br />
16 no Rancho Folc. Sta.<br />
Marinha de Crestuma; dia<br />
20 no Orfeão da Madalena;<br />
dia 22 no Rancho Folc. de<br />
Baião; dia 23 no Rancho<br />
Folc. de Sta. Cruz do<br />
Douro; dia 28 no Rancho<br />
Típico S. Mamede de<br />
Infesta.
Desporto<br />
CICLOTURISMO: até ao dia<br />
25 – Inscrições para o<br />
Passeio “Cidade da Lixa”<br />
que se realiza a 2 de Março.<br />
CAMPEONATOS: até ao dia<br />
25 – Inscrições para o<br />
Campeonato Distrital de<br />
Basquetebol, Ténis de<br />
Mesa, Voleibol e Futsal<br />
.<br />
VIANA DO CASTELO<br />
Cultura<br />
TEATRO: dia 9 e 10 às 21h30<br />
- Revista à Portuguesa<br />
“Zipanço” pelo Gr. de<br />
Teatro SIR Carreço, em<br />
Carreço; dia 9 às 21h30 -<br />
Em Casa do Mestre Pathelin<br />
pelo Gr. de Teatro Chafé no<br />
Centro de Instrução e<br />
Recreio Vilarmourense.<br />
Desporto<br />
ATLETISMO: dia 17 às 10h30<br />
- Campeonato Distrital<br />
Estrada em Vila de Punhe.<br />
Tiro: dia 16 às 14h30 -<br />
Torneio Aberto no CCD da<br />
Casa do Povo de Fontão<br />
FUTEBOL: dias 3, 10, 17 e 24<br />
- Jornadas do Campeonato<br />
Distrital de Futebol 11<br />
FUTSAL: dias 2, 9 e 23 -<br />
Jornadas do Campeonato<br />
Distrital.<br />
VISEU<br />
Cultura<br />
ENTRUDO: dia 3 às 15h - O<br />
Entrudo de Lazarim: Desfile<br />
de Máscaras e Caretos, em<br />
Lamego,<br />
Desfile da Dança Grande ou<br />
Dança dos Cus em Cabanas<br />
de Viriato e Desfile de carros<br />
Alegóricos em Negrelos;<br />
dia 5 às 17h - Leitura do<br />
testamento e rebentamento<br />
do Compadre e da Comadre<br />
em Lazarim e às 21h30 -<br />
Leitura de testamento em<br />
Viseu e queima do Entrudo<br />
em Repeses.<br />
CANTO: dia 8 - Início de<br />
Ciclo do Canto do Amentar<br />
das Almas em Abraveses,<br />
Alcofra, Pindelo dos<br />
Milagres, Queira, Travassós<br />
de Orgens, Lordosa e S.<br />
João do Monte.<br />
Desporto<br />
BTT: dia 24 às 9h - Passeio<br />
em Nelas.<br />
FUTEBOL: dia 3, 10, 17 e 24<br />
às 15h - Jornadas do<br />
Campeonato Distrital
O CHEFE SUGERE<br />
MANUEL SILVA| INATEL PALACE<br />
Arroz de Pato à Moda de Lafões<br />
Este é um prato bastante completo, diferente do<br />
arroz de pato preparado de forma mais<br />
convencional. O que o torna interessante é o facto de<br />
serem incluídos produtos hortícolas em porções<br />
generosas, e também o facto de serem usados outros<br />
tipos de carne para além do pato.<br />
Podemos ainda melhorar este prato, do ponto de<br />
vista nutricional, se tivermos o cuidado especial em<br />
retirar todas as gorduras visíveis do pato, e retirar<br />
também a gordura coagulada à superfície da água de<br />
cozedura. Assim, é possível obter um prato mais<br />
equilibrado, com uma menor quantidade de gordura<br />
total.<br />
INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS:<br />
200g de pato, 250g de vitela, 120g de presunto, 100g<br />
de chouriça (para enfeitar e para o recheio), 240g de<br />
arroz, 800g de couve lombarda (cortada em Juliana<br />
grossa), 180g de cenoura (em Camponesa)<br />
PREPARA-SE ASSIM:<br />
Cozem-se as carnes de véspera, desfiam-se e<br />
guardam-se cobertas no frigorífico até serem<br />
confeccionadas.<br />
A água de cozer as carnes é coada e também<br />
guardada no frigorífico, pois irá servir para cozer,<br />
separadamente, os hortícolas e o arroz. No dia<br />
seguinte deve ser retirada a gordura concentrada à<br />
superfície da água, antes da confecção.<br />
No próprio dia, e já depois de cozinhados, dispõemse<br />
em camadas, num tabuleiro, os diversos<br />
ingredientes, dispostos em camadas, da seguinte<br />
forma: uma camada de arroz, uma camada de<br />
carnes, uma camada de hortícolas (couve e cenoura<br />
cozidas), seguindo-se novamente uma camada de<br />
arroz. O tabuleiro assim disposto vai ao forno a<br />
corar. Depois de retirado do forno, enfeita-se com<br />
chouriço cozido.<br />
COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA:<br />
• 41,1 g de proteínas; • 12,0 g de gordura; • 62,9 g<br />
de hidratos de carbono; • 8,1 g de fibra; • 508,8 kcal<br />
INFORMAÇÕES E RESERVAS:<br />
INATEL PALACE<br />
Termas S. Pedro do Sul, 3660-692 Várzea SPS<br />
Tels: 232 720200 (geral) 232 720201 (reservas) - Fax:<br />
232 720240<br />
Email: cf.spsul@inatel.pt<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 79
O TEMPO E AS PALAVRAS | MARIA ALICE VILA FABIÃO<br />
Breve crónica de uma ausência<br />
Hei-de caminhar de novo. / Hei-de levantar as ruínas da minha casa / e as ruínas do meu coração. / Hei-de vestir-me de asas e<br />
de sóis / de presenças amadas. […] Eu, persignada pelo vento, / desafiando conjuros… / Hei-de cingir de novo o meu<br />
relâmpago. Amparo Osório, “Ressurreição”, in: Antología Primera. Trad: MAVF<br />
Sai furtivamente do renque de cedros centenares<br />
que delimitam o terréu onde passa os seus dias<br />
e avança rápido na minha direcção. Imóvel,<br />
observo-o da distância, cada vez mais curta, que<br />
nos separa: rústico, atarracado, membros espessos e sólidos<br />
– “eumétrico”, diriam os especialistas, já que, excluído<br />
o pescoço, o perfil do seu corpo maciço desenha um<br />
quadrado perfeito. Tudo na sua atitude revela jovialidade<br />
e autoconfiança.<br />
De súbito, pela primeira vez no nosso relacionamento,<br />
estamos frente-a-frente, sem um muro a separar-nos.<br />
Nos seus imensos olhos castanhos, que um recente corte<br />
da melena deixa visíveis em toda a sua beleza, detecto o<br />
reflexo de um risinho alucinado: sem dúvida a alegria<br />
das barreiras ilicitamente vencidas, da liberdade<br />
ilicitamente conquistada – o prazer da prevaricação.<br />
Como Juan Gimenez ao seu burrico de ternura, sintome<br />
tentada a dizer-lhe: “Qué reguapo estás, Platero!”<br />
Contenho-me, porém: Platero é um humilde burro, um<br />
Equus asinus; ele, a quem alguém baptizou de Black não<br />
obstante a sua pelagem castanha, é um “pónei”, que se<br />
pretende descendente dos Equus Ferus Ferus de<br />
Przsenwalski, de uma linhagem de pequenos cavalos<br />
selvagens cuja origem remonta à última era pós-glacial.<br />
Respeitadora da sua sensibilidade equina, calo-me.<br />
Black aproveita o meu silêncio cortês para me mordiscar<br />
a manga do casaco, em busca, certamente, do cubo de<br />
açúcar que julga ser seu por direito consuetudinário.<br />
Com um breve gesto de enfado, afasto-me… e fico,<br />
finalmente, a saber o que sentem os acrobatas que,<br />
desafiando as leis da gravidade, são projectados no<br />
vazio, sem poderem contar com uma rede salvadora no<br />
extremo do movimento: NADA, absolutamente NADA,<br />
que é demasiado breve o acontecer para sentirmos o que<br />
quer que seja.<br />
Catapultada pela poderosa cabeçada de um frustrado<br />
Black, o meu voo termina a alguns metros de distância,<br />
num solo endurecido pela sequia. A aterragem ruidosa<br />
não deixa margem para dúvidas: fractura.<br />
Ruídos, ruídos de vozes, silêncio súbito das aves nas<br />
árvores – “eu amo as árvores principalmente as que dão<br />
pássaros”*.<br />
Percorre-me as veias a memória dos rostos angustiados<br />
e das constantes queixas de quem não tem alternativa<br />
para serviços de urgência cujo funcionamento semeia a<br />
inquietude nos corações ansiosos.<br />
Eu tenho alternativa. Onde, porém, a palavra que<br />
procuro, a palavra que mostre um caminho para além da<br />
encruzilhada – lugar de risco e de rumo, de<br />
discernimento e de escolha, dizem?<br />
Ela chega directamente do Hospital: “Venha! Aqui, os<br />
doentes são mais bem tratados do que a Rainha de<br />
Inglaterra!”<br />
A<br />
pós uma cirurgia e três semanas no Serviço<br />
de Ortopedia da Unidade Hospitalar da<br />
cidade**, ainda não sei como seria ali tratada<br />
a Rainha de Inglaterra.<br />
Talvez Sua Majestade britânica exigisse um pouco mais<br />
de espaço individual na sala amigavelmente partilhada<br />
sem reclamações por três sinistradas portuguesas, para<br />
que o corpo de magnificas enfermeiras, enfermeiros e<br />
auxiliares pudesse desempenhar com menos sacrifício<br />
físico as suas funções da maneira exemplar como ali<br />
desempenham.<br />
O tempo é longo, na imobilidade. E mais longo ainda<br />
o tempo-noite, quando as campainhas soam como<br />
insistentes pedidos de socorro para além da porta que dá<br />
para o desconhecido. Talvez Sua Majestade Britânica<br />
considerasse demasiado injusto o facto de o<br />
atendimento de tantos pedidos de socorro nocturnos ser<br />
feito por uma única ou um único auxiliar à beira da<br />
exaustão e solicitasse delicadamente à administração<br />
hospitalar o aumento do seu número.<br />
Em último lugar, mas não menos importante, talvez<br />
Sua Majestade Britânica apreciasse devidamente, como<br />
esta plebeia cidadã nacional, o momento da chegada dos<br />
novos turnos de enfermeiras/os, com o seu sorriso aberto<br />
e, nas sacas a tiracolo, as teses em preparação ou o<br />
material de investigação que, para bem de todos nós,<br />
fará deles profissionais especializados – a caminho de<br />
um novo Serviço Nacional de Saúde. Afinal,<br />
comprovadamente, Senhores Leitores, Eles fazem a<br />
diferença. Para todos eles, a minha admiração e o meu<br />
“muito obrigada”! ■<br />
* Ruy Belo ** Póvoa de Varzim.<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 81
82 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
CRÓNICA |JOAQUIM LETRIA<br />
As escravas do esqueleto<br />
Confesso que raramente resisto ao<br />
Fashion TV, canal suave que acumula<br />
horas sem fim de desfiles de<br />
moda. Os olhos agarram-se-me às<br />
ossadas que se desconjuntam para lá e para<br />
cá, na “passerelle”, a mão perde a vontade<br />
até deixar tombar o controle remoto e esvaise-me<br />
a fúria do “zapping” que me agitava<br />
até àquele momento. Fico a olhar, simplesmente,<br />
sem vontade de coisa alguma.<br />
A magreza que se desdobra naquele canal<br />
esta magreza excessiva, inventada,<br />
cultivada, é uma afronta a Rubens,<br />
através duma mulher que nunca<br />
existiu, que adulada mas não amada,<br />
que vestem mas não desnudam,<br />
utilizam mas pouco respeitam<br />
temático, ora para cá, ora para lá, fascina-me,<br />
assusta-me e acaba por me prender, osso a<br />
osso, peça a peça, gesto a gesto, amarrado à<br />
fria indiferença profissional dos modelos que<br />
desfilam. Olha os fémures desta, repara no<br />
esterno daquela, suporte de costelas descarnadas,<br />
vê como esta quase troca os pés e os<br />
joelhos se tocam e os sapatos caiem, enormes.<br />
Que lindos, os olhos roxos desta pernilonga,<br />
tão bonita que ela poderá ser no momento<br />
em que se transforme em mulher de carne e<br />
osso.<br />
Há quem defenda que estas raparigas<br />
esgalgadas, secas e frias, de olhos hostis e sorriso<br />
desdenhoso, cara de poucos amigos, representam<br />
um conceito de beleza. Há anos,<br />
produzi um programa de televisão que<br />
englobava uma elegante passagem de modelos<br />
de um costureiro de extrema qualidade.<br />
Ele fazia desfilar as suas criações nos seus<br />
manequins. Horas antes de gravarmos,<br />
chegou um alegre grupo de meninas muito<br />
jovens, quase colegiais, simpáticas e alegres.<br />
Não as reconheci, depois de maquilhadas e<br />
vestidas, a ensaiarem o desfile como se não<br />
existisse mais nada para além dos tecidos diáfanos<br />
que envergavam.<br />
É essa a sua grande arma, a capacidade de<br />
desaparecerem no espaço e de só reincarnarem<br />
no seu mundo profissional, contínuo<br />
escaparate, montra eterna que atrai milhares<br />
de jovens que sonham pertencer a este universo<br />
associado ao dinheiro, à fama, à popularidade<br />
e ao amor.<br />
São estas mulheres que dão vida, valorizam,<br />
emprestam alma às criações que envergam<br />
e que muitas vezes são desenhadas<br />
para os seus corpos, para a sua altura, para as<br />
suas pernas, para o seu andar. Nada disto um<br />
cabide pode criar. Logo, esta magreza excessiva,<br />
inventada, cultivada, é uma afronta a<br />
Rubens, através duma mulher que nunca<br />
existiu, que adulada mas não amada, que<br />
vestem mas não desnudam, utilizam mas<br />
pouco respeitam.<br />
Oefémero é bom quando não nega<br />
o futuro. Muitos destes modelos<br />
recuperam o seu perfil quando<br />
os anos fazem abandonar a<br />
profissão. Mas há quem fique prisioneira da<br />
sua magreza, escrava do seu esqueleto, como<br />
milhares de outras jovens aterradas diante<br />
dum espelho ou desgostosas sobre uma balança<br />
que lhes revela um grama a mais.<br />
Irónico como nas sociedades mais desenvolvidas<br />
e ricas se pode morrer de fome e<br />
representar a imagem deste mal, vivendo no<br />
luxo e ganhando fortunas. Criaram um ser<br />
que pouco pode ter a ver com a mulher e que<br />
a pode arrastar para a beira dum precipício<br />
de onde vai querer renascer e viver uma<br />
nova vida, quando chegar esse momento. ■<br />
jletria@yahoo.com