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Fevereiro 2008 - Inatel

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N.º 190 | <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> | Mensal | 2,00 euros<br />

VIANA DO CASTELO<br />

A nova face do <strong>Inatel</strong><br />

PATRIMÓNIO MINA DO LOUSAL TERMAS CALDAS DA FELGUEIRA<br />

EFEMÉRIDE PADRE ANTÓNIO VIEIRA VIAGENS VALÊNCIA


NA CAPA<br />

Fotos: Humberto Lopes<br />

16<br />

VIANA DO CASTELO<br />

Localizada em pleno centro histórico<br />

da cidade, a renovada sede da<br />

Delegação do <strong>Inatel</strong> em Viana do<br />

Castelo deverá ainda constituir um<br />

“factor de dinamização da vida<br />

económica e social da zona”. Um<br />

bom pretexto para uma “viagem”<br />

pela bela capital do Alto Minho.<br />

4<br />

EDITORIAL<br />

8<br />

CARTAS E COLUNA<br />

DO PROVEDOR<br />

9<br />

NOTÍCIAS<br />

14<br />

CONCURSO<br />

DE FOTOGRAFIA<br />

22<br />

OFÍCIOS<br />

Os canteiros do<br />

granito<br />

26<br />

PATRIMÓNIO<br />

Lousal: um mina para<br />

o Turismo<br />

30<br />

TERMAS EM<br />

PORTUGAL:<br />

CALDAS<br />

DA FELGUEIRA<br />

Envoltas por serra e<br />

por cursos de água,<br />

as Caldas da<br />

Felgueira têm sido<br />

uma das grandes<br />

apostas nacionais do<br />

termalismo nas<br />

últimas duas<br />

décadas.<br />

32<br />

PAIXÕES<br />

Chakall, sabores<br />

do Mundo<br />

36<br />

PERCURSOS<br />

TALASNAL:<br />

ALDEIA VIVA<br />

A estrada que<br />

serpenteia a serra da<br />

Lousã leva à<br />

descoberta de<br />

pequenas aldeias de<br />

xisto que pararam no<br />

tempo.<br />

40<br />

CENTENÁRIOS<br />

O PADRE<br />

ANTÓNIO<br />

VIEIRA E O<br />

BRASIL<br />

Por ocasião do 4º<br />

centenário do<br />

nascimento do Padre<br />

António Vieira,<br />

a evocação de uma<br />

das mais notáveis<br />

figuras da nossa<br />

História.<br />

44<br />

VIAGENS<br />

VALÊNCIA: LUZ<br />

DO LEVANTE<br />

Moderna na<br />

expressão<br />

arquitectónica de<br />

vanguarda, Valência<br />

conserva ao mesmo<br />

tempo um centro<br />

histórico carregado de<br />

sinais de um passado<br />

ligado aos tempos da<br />

Reconquista. E<br />

mantém, anualmente,<br />

em Março, as Fallas,<br />

Sumário<br />

uma das festas mais<br />

conhecidas e<br />

populares de<br />

Espanha…<br />

50<br />

A CASA NA ÁRVORE<br />

52<br />

PORTUGAL<br />

E A LUSOFONIA<br />

53<br />

O TEMPO<br />

E O MUNDO<br />

54<br />

VIAGENS<br />

NA HISTÓRIA<br />

55<br />

BOA VIDA<br />

74<br />

CLUBE TEMPO LIVRE<br />

79<br />

CHEFE SUGERE<br />

INATEL Palace:<br />

Arroz de Pato à Moda<br />

de Lafões<br />

81<br />

O TEMPO E AS<br />

PALAVRAS<br />

Maria Alice Vila<br />

Fabião<br />

82<br />

CRÓNICA<br />

Joaquim Letria<br />

Revista Mensal: e-mail: tl@inatel.pt - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni Vice-<br />

Presidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva:<br />

500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, Carlos Barbosa<br />

de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge Letria, Lurdes<br />

Féria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro Cronistas: Alice<br />

Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Duarte Ivo Cruz, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Pedro<br />

Cid.. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail tl@inatel.pt Publicidade: Tel. 210027187 Pré-impressão e<br />

impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade<br />

na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 173.738 exemplares


Editorial<br />

PDE – Plano de Desenvolvimento<br />

Estratégico (<strong>2008</strong> – 2013)<br />

No próximo dia 26, perfaço cinco<br />

anos de mandato na presidência<br />

do <strong>Inatel</strong>, cargo que como<br />

todos os anteriores, desempenho<br />

em espírito de missão e sem quaisquer<br />

aspirações, sejam de natureza social, financeira<br />

ou curricular. O inegável interesse<br />

público do projecto <strong>Inatel</strong>, assim como a<br />

diversidade da sua gestão, quase me fizeram<br />

esquecer o tempo decorrido. Proponho-me<br />

oferecer-me como presente de<br />

aniversário, assim como à Direcção a que tenho a honra<br />

de presidir, ao Ministério da Tutela e aos demais órgãos<br />

estatutários, o projecto do primeiro PDE – Plano de<br />

Desenvolvimento Estratégico da Fundação <strong>Inatel</strong>, relativo<br />

ao sexénio <strong>2008</strong>/2013.<br />

Penso que a Direcção terá aprovado o projecto do<br />

PDE – Plano Estratégico de Desenvolvimento<br />

(<strong>2008</strong>/2013) até ao final do corrente mês de <strong>Fevereiro</strong>,<br />

submetendo-o, subsequentemente, à apreciação de S.<br />

Exa. o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social e<br />

aos pareceres da Comissão de Fiscalização e do<br />

Conselho Geral.<br />

Em princípio, o PDE – Plano de Desenvolvimento<br />

Estratégico (<strong>2008</strong>/2013) constituirá o documento de<br />

princípios orientadores e prioridades de investimento da<br />

Fundação <strong>Inatel</strong> nos seus primeiros anos de existência.<br />

FUNDAÇÃO.<br />

Com a entrega, em Dezembro findo, a S. Exa. o Ministro<br />

do Trabalho e da Solidariedade Social do parecer da<br />

Direcção, relativo ao projecto de decreto-lei, que criará<br />

a Fundação, dá-se, em princípio, por concluída a<br />

audição do <strong>Inatel</strong> sobre o diploma que o externalizará<br />

4 TempoLivre Janeiro <strong>2008</strong><br />

JOSÉ ALARCÃO<br />

TRONI<br />

da Administração Central do Estado, ancorando-o,<br />

segundo modelo quase empresarial,<br />

na economia social.<br />

A publicação do diploma de criação da<br />

Fundação abrirá o terceiro capítulo de<br />

setenta e dois anos do binómio FNAT –<br />

<strong>Inatel</strong>.<br />

S. Exa. o Ministro do Trabalho e da Solidariedade<br />

Social promoveu, simultaneamente,<br />

a audição das Regiões Autónomas e<br />

das Confederações Sindicais, no âmbito de<br />

processo legislativo que se prevê rápido e consensual.<br />

Com o projecto de diploma em processo legislativo,<br />

a óbvia prioridade da Direcção, no primeiro trimestre,<br />

será a elaboração dos regulamentos essenciais ao<br />

sucesso da Fundação <strong>Inatel</strong> – Estrutura Orgânica,<br />

Regulamento e Quadro de Pessoal e Manual de<br />

Serviços e Benefícios – bem como a refundação do sistema<br />

de organização e informática, com a generalização<br />

do Sistema SAP à totalidade dos serviços centrais,<br />

regionais e locais, assim como e aos centros de férias,<br />

parques desportivos, parques de campismo e casas<br />

rurais.<br />

INATEL SOLIDÁRIO.<br />

O projecto <strong>Inatel</strong> é em si mesmo um projecto de solidariedade<br />

social. Basta pensar em setenta e dois anos<br />

anos de trabalho, ao serviço das classe média e trabalhadora,<br />

nas vertentes do Turismo para Todos, da<br />

Cultura para Todos e do Desporto para Todos, bem<br />

como numa década de Programas Seniores, os quais<br />

garantiram o direito a férias a mais de quinhentos mil<br />

concidadãos carenciados.<br />

No Natal, o <strong>Inatel</strong> apoia centenas de CCDs – Centros


de Cultura e Desporto, espalhados por todo o país,<br />

pensando na felicidade das crianças, nossos filhos e<br />

netos.<br />

No Natal de 2007, o <strong>Inatel</strong> apoiou, especialmente, as<br />

crianças carenciadas a cargo do Refúgio Aboim<br />

Ascensão ( Faro) – Fundação de Emergência Infantil, da<br />

Casa dos Pirilampos, da Santa Casa da Misericórdia de<br />

Albufeira, do Centro Social e Paroquial da Pena,<br />

(Lisboa), bem como as crianças doentes internadas na<br />

enfermaria pediátrica de Lisboa do IPO – Instituto<br />

Português de Oncologia.<br />

Este meritório esforço não me parece, ainda, suficiente.<br />

O <strong>Inatel</strong> deve regressar à tradição humanista de garantir<br />

férias, na praia e no campo, às nossas crianças, aproveitando<br />

as pausas do calendário escolar – sobretudo às crianças<br />

carenciadas ou violentadas – celebrando acordos<br />

com a Casa Pia, a Segurança Social, os Municípios, as<br />

Misericórdias e as IPSS, para podermos sentir a alegria de<br />

ver um sorriso no rosto de uma criança.<br />

No Natal passado, uma ONG de apoio aos sem abrigo<br />

lançou – não sei com que sucesso – uma campanha<br />

de recolha de cobertores, destinados a minorar o frio<br />

dos nossos concidadãos sem tecto.<br />

Ora, o <strong>Inatel</strong> é uma grande e muito credível plataforma<br />

logística e social, espalhada pelo país. Não<br />

falando nos CCDs – Centros de Cultura e Desporto –<br />

conta, pelo menos, com vinte e uma delegações e<br />

quinze centros de férias. Por que não prever, desde já,<br />

um Programa <strong>Inatel</strong> Solidário, com vista ao Natal de<br />

<strong>2008</strong>? Por exemplo, uma iniciativa, de âmbito nacional,<br />

de recolha de cobertores e roupas, destinadas<br />

aos nossos irmãos sem abrigo, de cuja distribuição se<br />

encarregariam as ONGs especializadas no apoio aos<br />

sem tecto?<br />

o <strong>Inatel</strong> acaba de adquirir, para<br />

o seu Arquivo Histórico, a valiosa<br />

fototeca do Dr. Mário Moreau,<br />

contendo centenas de fotografias<br />

sobre o Teatro e a Música no<br />

Trindade, ao longo do século XX<br />

E no início de cada ano, a Fundação <strong>Inatel</strong> elegeria a<br />

sua causa social prioritária no combate à pobreza, ao<br />

isolamento, à violência e à discriminação.<br />

TRINDADE – 140 ANOS.<br />

No âmbito das Comemorações dos 140 anos do Teatro<br />

da Trindade, cujo programa de eventos – projectos de<br />

investigação, conferências e exposições – se prolongará<br />

até 29 de Novembro próximo, o <strong>Inatel</strong> acaba de<br />

adquirir, para o seu Arquivo Histórico, a valiosa fototeca<br />

do Dr. Mário Moreau, contendo centenas de<br />

fotografias sobre o Teatro e a Música no Trindade, ao<br />

longo do século XX, a qual será exposta, no salão nobre<br />

do nosso espaço cultural, oitocentista, da Baixa Chiado,<br />

no calendário da programação de <strong>2008</strong>.<br />

CARTEIRA DE OBRAS<br />

Encontram-se concluídas as obras de grande reabilitação<br />

das piscinas de Angra do Heroísmo, que reabriram,<br />

aos associados e ao público, com grandes elogios<br />

do Governo Regional dos Açores, do Município de<br />

Angra e dos beneficiários, quanto à respectiva qualidade.<br />

Estão terminadas – aguardando inauguração ou<br />

reinauguração – as obras de recuperação da Delegação<br />

de Viana do Castelo – Casa Pedro Homem de Mello –<br />

edifício classificado no centro histórico da Sé, pondose<br />

termo a doze anos de instalação provisória, em<br />

espaço cedido pela Segurança Social, com óbvio<br />

reforço do prestígio e visibilidade do <strong>Inatel</strong> no distrito<br />

limiano. Encontra-se, igualmente, concluída a grande<br />

reabilitação da Delegação de Portalegre (Casa José<br />

Régio), também instalada em edifício classificado no<br />

centro histórico. Foram adjudicadas as obras de recuperação<br />

do interior do Edifício Infante Santo, destina-<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 5


Editorial<br />

>>> Editorial<br />

do a instalar a futura delegação de Lisboa (Casa Tomás<br />

Ribas), a Provedoria e a Auditoria. Está concluída e em<br />

funcionamento a agência de Castelo Branco, assim<br />

como em fase de conclusão as duas agências de Lisboa,<br />

situadas, respectivamente, no Parque de Jogos 1º de<br />

Maio e nas arcadas do Palácio da Independência, ao<br />

Rossio, sede de SHIP – Sociedade Histórica da<br />

Independência de Portugal, ambas servidas por<br />

estações de metropolitano e por diversas linhas de<br />

autocarro. Iniciou-se a segunda fase – interiores – das<br />

obras de grande reabilitação das Subdelegações de<br />

Ponta Delgada (antigo Hotel Terra Nostra) e da Horta<br />

(Solar dos Andrades), edifícios classificados nos centros<br />

históricos das duas cidades açoreanas. Finalmente,<br />

continua em curso a grande recuperação do<br />

Centro de Férias da Foz do Arelho e a constante melhoria<br />

da qualidade do Edifício Principal do Centro de<br />

Férias de Albufeira.<br />

BTL – BOLSA DE TURISMO DE LISBOA.<br />

Como nos anos anteriores, o <strong>Inatel</strong> representou o<br />

Turismo Social na vigésima edição da BTL – Bolsa de<br />

Turismo de Lisboa, que decorreu de 16 a 20 de Janeiro.<br />

Felicito o arquitecto que concebeu o stand, assim como<br />

a equipa que o organizou e nele esteve presente no<br />

decurso do mais importante evento do Turismo de<br />

Portugal, pois considero a representação do <strong>Inatel</strong> a<br />

mais visível e criativa dos últimos anos.<br />

Transcrevo, com agrado, a notícia da BTL News, de<br />

19 de Janeiro “<strong>Inatel</strong> com Stand Inovador – Para esta<br />

edição da BTL, o <strong>Inatel</strong> concebeu um stand de linhas<br />

modernas e inovadoras, apoiado nas novas tecnologias.<br />

É um dos stands mais originais da BTL, querendo<br />

com isso vincar que não está apenas vocacionado para<br />

6 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Felicito o arquitecto que concebeu<br />

o stand, assim como a equipa que o<br />

organizou (...) pois considero a<br />

representação do <strong>Inatel</strong> [na BTL]<br />

a mais visível e criativa<br />

dos últimos anos<br />

o turismo sénior, mas pretende também captar associados<br />

na idade activa e nas camadas mais jovens.<br />

A oferta turística do <strong>Inatel</strong> é muito vasta no país,<br />

incluindo as regiões autónomas, garantindo conforto,<br />

serviços de qualidade e boa localização das unidades:<br />

desde os destinos praia, campo, montanha, incluindo<br />

termas, casas rurais e parques de campismo.”<br />

REGICÍDIO – 100 ANOS<br />

No dia 1 de <strong>Fevereiro</strong> de 1908 – há, precisamente, um<br />

século – no Terreiro do Paço, o Rei D. Carlos e o<br />

Príncipe Real D. Luís Filipe tombaram sob os tiros de<br />

carabina dos regicidas Manuel Buiça, professor<br />

primário, e Alfredo Costa, caixeiro, imediatamente<br />

abatidos pela escolta militar no momento do Regicídio.<br />

As balas do Terreiro do Paço puseram, com mais de<br />

dois anos de antecedência, termo a uma Monarquia de<br />

quase oito séculos, já ferida de morte pelo ultimato<br />

britânico, de 11 de Janeiro de 1890, que desfez o sonho<br />

imperial do mapa cor de rosa, apenas duas semanas após<br />

a aclamação de D. Carlos, a 28 de Dezembro de 1899.<br />

Foi um reinado que começou mal, com o ultimato, e<br />

acabou pior, com o regicídio.<br />

Decorridos cem anos, resta-nos a memória de um Rei<br />

culto, diplomata, oceanógrafo e pintor, de uma Rainha<br />

francesa, sinceramente envolvida nas causas sociais da<br />

época - especialmente a luta contra a tuberculose, a<br />

mortífera peste branca – e de um Príncipe esperançoso<br />

que a morte levou na flor da idade.<br />

O Rei D. Carlos foi, indubitavelmente, a figura mais<br />

marcante na primeira década do século XX em<br />

Portugal.<br />

Que Deus dê o eterno descanso ao Rei assassinado e<br />

ao Príncipe que não reinou. ■


Animais nos<br />

Centros de Férias<br />

A correspondência para estas secções deve ser enviada para<br />

a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, 180 -<br />

1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt<br />

8 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Cartas<br />

Do associado Celestino Neves, de Alfena -<br />

Valongo, recebemos, no âmbito do exercício<br />

do direito ao contraditório, um texto de<br />

resposta à carta do associado José Meireles, do<br />

Porto, que defendia a interdição de animais<br />

nos centros de férias do <strong>Inatel</strong>.<br />

Após considerar, no preâmbulo do seu<br />

longo texto, uma "preciosidade plágio-provocatória"<br />

a carta de José Meireles ("O Pedido de<br />

Laura", TL nº 185) à sua carta ("O Pedido de<br />

Lara", Tl nº 184), o associado Celestino Neves<br />

sublinha que, "quando exercido de forma<br />

responsável, nenhum direito, nem sequer o<br />

direito dos animais, colide com os direitos de<br />

terceiros" e acrescenta que os cães que "têm<br />

donos responsáveis" não sujam os jardins e<br />

nem atacam nem põem em risco a saúde das<br />

crianças.<br />

Por decisão do Director da Revista, e no sentido<br />

de evitar o prolongamento de uma<br />

polémica, frequentemente excessiva nos argumentos<br />

invocados e que se arrasta há mais de<br />

um ano, a "TL" abster-se-á da publicação de<br />

novas cartas sobre esta questão.<br />

Sócios há 50 anos<br />

Completaram, este mês, 50 anos de ligação ao<br />

<strong>Inatel</strong>, os associados:<br />

Ivo Rosa Henriques, Samora Correia e Ismael<br />

Santos Cunha Chiote, Lisboa.<br />

[ Kalidás Barreto ]<br />

COLUNA DO PROVEDOR<br />

Estamos em <strong>Fevereiro</strong>, pelo que, como diria o senhor de La<br />

Palisse, o primeiro mês do Ano Novo já é passado. Não tarda<br />

a entrarmos na prática, numa nova fase da vida do INATEL.<br />

Como me vêm dizendo os associados é urgente que<br />

estatutária e regulamentarmente tudo fique claro para<br />

chefias, funcionários, associados e utentes em geral, sem<br />

reticências. O INATEL é evidente que corresponde a uma<br />

realidade sociológica, totalmente diferente da de qualquer<br />

instituto existente em Portugal.<br />

Para os que usam a linguagem do mercado e da concorrência,<br />

"INATEL" é, acima de tudo, uma marca de grande<br />

impacto comercial; porém, para os utilizadores mais antigos<br />

(e não só os mais velhos) INATEL é uma parte importante das<br />

suas memórias que trazem a recordação das suas primeiras<br />

férias com verdadeiro descanso (sem tarefas domésticas),<br />

onde os filhos tiveram praia pela primeira vez. Para os filhos<br />

são as lembranças das primeiras brincadeiras na areia, dos<br />

primeiros ralhetes por se molharem em sítios mais distantes<br />

da vigilância paterna; e outras lembranças mais vivas quando<br />

chegou a juventude, com os namoricos de férias.<br />

Acresce ainda as recentes memórias dos jovens do turismo<br />

sénior cujas experiências de convívio os fazem sentir, novamente,<br />

gente, como testemunhava uma utente que afirmava<br />

que "até as rugas se lhe haviam desaparecido do rosto".<br />

O INATEL é diferente, é família! O Trindade, onde pela<br />

primeira vez assistiram a um espectáculo de ópera ou o<br />

Estádio 1º de Maio, palco da primeira grande manifestação<br />

do 25 de Abril de 1974.<br />

Daqui todo o interesse e carinho como algo de seu se<br />

estivesse a transformar, embora acreditem que para melhor.<br />

É como se de um filho se tratasse quando atinge a maioridade;<br />

tal e qual!<br />

Os tecnocratas não entenderão esta linguagem usada por<br />

utópicos humanistas. Porém, a utopia é, afinal, uma visão de<br />

um futuro que é preciso começar a construir no presente,<br />

com a lição e aprendizagem do passado.<br />

Ou, como dizia, Óscar Wilde, " O progresso é a realização da<br />

utopia". Acreditamos nisso! ■<br />

Tel: 210027197 Fax: 210027179<br />

e-mail: provedor@inatel.pt


Notícias<br />

Albufeira pioneira em segurança alimentar<br />

● Num tempo em que as boas<br />

práticas em matéria de segurança<br />

alimentar são tema em foco no<br />

País, o <strong>Inatel</strong> pode orgulhar-se do<br />

processo iniciado, já em 2006, na<br />

sua rede hoteleira, com a<br />

implementação, no Centro de<br />

Férias de Albufeira do sistema<br />

HACCP (Hazard Analisys Critical<br />

Control Points) com o apoio técnico<br />

da Jonhson Diversey.<br />

O HACCP, elaborado em 1991 pela<br />

comissão Codex Alimentarius, visa<br />

criar condições para responder de<br />

forma adequada às actuais<br />

FIM DE ANO EM ALBUFEIRA - Como as imagens documentam,<br />

a passagem de ano em Albufeira foi bem animada<br />

e colorida, quer na cidade quer no <strong>Inatel</strong>.<br />

Trabalhadores e hóspedes do centro de férias juntaramse<br />

na saudação a um desejado e desejável feliz <strong>2008</strong>.<br />

exigências da qualidade alimentar,<br />

desde a fase de armazenamento<br />

dos alimentos ao consumo final e<br />

está, presentemente, a ser<br />

implementado em toda a rede<br />

hoteleira do <strong>Inatel</strong>.<br />

O funcionamento do sistema<br />

HACCP é demonstrado pela<br />

correcta utilização dos manuais de<br />

boas práticas e segurança alimentar<br />

e pela elaboração de mapas, os<br />

quais oferecem a total garantia de<br />

qualidade e segurança alimentar<br />

das múltiplas refeições que<br />

servimos.<br />

Recorde-se que a NASA (Nacional<br />

Aeronautics and Space<br />

Administration), pioneira nesta<br />

matéria, exigiu planos de controlo<br />

de segurança alimentar de acordo<br />

com as necessidades alimentares<br />

dos astronautas (em matéria de<br />

preparação ou conservação dos<br />

alimentos) nos voos Gemini e<br />

Apollo da década de 60, época em<br />

que também a ONU (Organização<br />

das Nações Unidades) cria o Codex<br />

Alimentarius para estudo e<br />

publicação de guias e normas de<br />

segurança alimentar.<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 9


Notícias<br />

INATEL na BTL<br />

● Centenas de profissionais do<br />

sector do turismo e público em<br />

geral acorreram ao stand do <strong>Inatel</strong><br />

na Bolsa de Turismo de Lisboa, que<br />

decorreu na FIL, em Lisboa, entre<br />

16 a 20 de Janeiro último.<br />

Considerado, pelas suas linhas<br />

modernas e inovadoras, um dos<br />

stands mais originais da BTL, o<br />

espaço <strong>Inatel</strong> proporcionou aos<br />

numerosos visitantes informação<br />

detalhada sobre os seus programas<br />

de férias e lazer e acolheu as<br />

inscrições de centenas de novos<br />

associados, que beneficiaram da<br />

isenção de jóia.<br />

Acção Social de Macau<br />

● No âmbito do protocolo com a<br />

CNAF – Confederação Nacional<br />

das Associações de Família, firmado<br />

em Janeiro de 2006, o <strong>Inatel</strong><br />

acolheu nas instalações de Oeiras o<br />

Presidente do IAS - Instituto de<br />

Acção Social da Região<br />

Administrativa Especial de Macau,<br />

Ip Ken Kin, e outros quadros<br />

superiores daquele organismo,<br />

num jantar convívio que reuniu, no<br />

passado dia 8 de Janeiro último,<br />

ainda responsáveis da CNAF e do<br />

Instituto da Droga e da<br />

Toxicodependência e<br />

representantes dos Municípios de<br />

Vila Franca, Oeiras, Vila Nova de<br />

Gaia, Fundão e Covilhã.<br />

10 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Janeiras em Viseu<br />

● Cerca de mil participantes e 38<br />

agrupamentos folclóricos da região<br />

de Viseu participaram no Encontro<br />

Geral de Janeiras de <strong>2008</strong>, que<br />

decorreu em Viseu, no passado dia<br />

20 de Janeiro.<br />

O tradicional cantar das Janeiras<br />

iniciou-se pelas 14 horas com visita<br />

a várias instituições de<br />

Solidariedade Social e organismos<br />

estatais locais e culminou com a<br />

actuação dos agrupamentos na<br />

Delegação do <strong>Inatel</strong>, onde houve<br />

lugar, ainda, para um lanche<br />

convívio com iguarias regionais e<br />

distribuição do livro “ Encontro de<br />

Janeiras Distrito de Viseu <strong>2008</strong>”<br />

alusivo ao tema que integra parte<br />

do reportório exibido pelo<br />

movimento associativo local.


Promoções<br />

para Campistas<br />

Os campistas interessados<br />

em utilizar os Parque de<br />

Campismo do Cabedelo,<br />

Caparica e S. Pedro de Moel,<br />

poderão, a partir de agora,<br />

usufruir dos seguintes<br />

pacotes promocionais:<br />

PACK 11 MESES<br />

Permanência de 15 de<br />

Janeiro a 15 de Dezembro:<br />

Desconto 20% na diária e no<br />

estacionamento (1 viatura)<br />

na época alta;<br />

estacionamento grátis<br />

(1viatura) nos meses de<br />

época baixa e média.<br />

Possibilidade de efectuar<br />

pagamento faseado por 3<br />

prestações;<br />

PACK 6 MESES<br />

Permanência de 01 Abril a 30<br />

Setembro: Desconto 10% na<br />

diária e 20% no<br />

estacionamento (1 viatura) na<br />

época alta; estacionamento<br />

grátis (1 viatura) nos meses<br />

de época baixa e média.<br />

Possibilidade de efectuar<br />

pagamento em duas<br />

prestações.<br />

Mais se informa que a<br />

atribuição em <strong>2008</strong> de<br />

alvéolos no Parque de<br />

Campismo da Caparica<br />

vigorará até Janeiro de 2011,<br />

permitindo assim que todo o<br />

equipamento - caravanas,<br />

atrelados e outros - possa<br />

permanecer no mesmo local<br />

sem transtornos para os seus<br />

proprietários.<br />

Concerto de Ano Novo<br />

● Sob o lema “Reviver a Ópera no<br />

Trindade”, o tradicional Concerto<br />

de Ano Novo, com a L’ Orchestra,<br />

sob direcção do Maestro João Paulo<br />

Santos, atraiu à bela e secular sala<br />

do Chiado, no passado dia 4 de<br />

Janeiro, um numeroso público.<br />

O original espectáculo, integrado<br />

no âmbito das comemorações dos<br />

140 anos do Teatro da Trindade,<br />

registou, ainda, a participação dos<br />

cantores líricos Ana Ester Neves,<br />

Carlos Guilherme, Elvira Ferreira,<br />

João Merino, João de Oliveira, José<br />

Corvelo, José Manuel Araújo,<br />

Larissa Savchenko, Maria Luisa<br />

Freitas, Maria João Alves, Sara<br />

Braga Simões e Sónia Alcobaça, que<br />

interpretaram trechos de óperas de<br />

Mozart, Rossini, Verdi, Bizet,<br />

Puccini, Rossini, Donizetti,<br />

Mascagni e Alfredo Keil.<br />

Dezenas de atletas participaram, no passado dia 21 de Janeiro, no distrital de<br />

Lisboa de Corta-Mato do <strong>Inatel</strong>. A prova, destinada a atletas de várias categorias<br />

etárias, teve lugar nos aprazíveis terrenos do Jamor.<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 11


Notícias<br />

Nacionais de Damas e Xadrez<br />

● Disputaram-se no Centro de<br />

Férias do INATEL da Foz do<br />

Arelho, os Campeonatos Nacionais<br />

de Damas - Individual e de Xadrez<br />

- Equipas. As duas provas<br />

envolveram cerca de 50<br />

participantes.<br />

A A.R.C. de Vale de Cambra<br />

(Aveiro), dominou a prova de<br />

Xadrez, destronando a equipa<br />

campeã, Fajã de Baixo (Açores) que<br />

viria a obter a 2.ª posição.<br />

Completou o pódio a Casa do Povo<br />

de Bombarral.<br />

Nélio Saltão na Galeria do Casino<br />

● O pintor Nélio Saltão, uma das<br />

mais sérias revelações da pintura<br />

portuguesa dos tempos mais<br />

recentes, abriu a programação da<br />

Galeria de Arte do Casino Estoril<br />

em <strong>2008</strong>, com uma exposição<br />

patente até 11 do corrente mês.<br />

Nascido em 1949, em Amieiro,<br />

Montemor-o-Velho, Nélio realizou<br />

a primeira exposição individual em<br />

1992 em Cascais e até ao presente<br />

já participou em 36 colectivas e<br />

apresentou-se em seis individuais,<br />

uma das quais em 2002, que<br />

Mostra de Teatro de Almada<br />

● Promover e apoiar a diversidade<br />

da produção teatral dos grupos do<br />

concelho é objectivo de mais uma<br />

Mostra de Teatro de Almada, de 8 a<br />

24 de <strong>Fevereiro</strong>, uma iniciativa da<br />

autarquia e das companhias e<br />

grupos teatrais almadenses.<br />

Tendo-se distinguido nas edições<br />

anteriores pela variedade<br />

apresentada, tanto em termos de<br />

12 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Nas Damas venceu o açoriano Paulo<br />

Sousa após acesso despique com<br />

José Pereira que obteve o 2.º lugar,<br />

ficando o 3.º posto para Carlos<br />

Faria. Participaram 22 damistas.<br />

Encerraram-se os Campeonatos,<br />

com um almoço convívio que<br />

contou com a presença do<br />

Delegado do INATEL de Leiria,<br />

Reinaldo Gomes, do Presidente da<br />

Junta de Freguesia de Foz do<br />

Arelho, Fernando Horta, e do<br />

Mestre Joaquim Durão,<br />

Coordenador Nacional do INATEL.<br />

intitulou “10 Anos Depois”, na<br />

Galeria do Casino.<br />

grupos apresentados e actividades<br />

desenvolvidas, a 12ª edição afirma o<br />

desenvolvimento do projecto através<br />

da riqueza dos trabalhos<br />

apresentados e acções paralelas, bem<br />

como através do envolvimento dos<br />

vários espaços formais e alternativos.<br />

Serão apresentados 19 trabalhos, 10<br />

dos quais estreias absolutas<br />

preparadas para a Mostra.<br />

Regicídio no MNI<br />

● No Museu Nacional da Imprensa<br />

está patente, até final de Maio<br />

próximo, a exposição documental<br />

“As Manchetes do Regicídio” que<br />

assinala o centenário do assassinato<br />

do Rei D. Carlos e do seu filho D.<br />

Luís Filipe, ocorridos no dia 1 de<br />

<strong>Fevereiro</strong> de 1908.<br />

A exposição, composta por dezenas<br />

de publicações, apresenta o relato,<br />

sob várias perspectivas, daquele<br />

acontecimento histórico que<br />

marcou a História de Portugal.<br />

As primeiras páginas de jornais da<br />

época como “A Lucta”, “A Nação”,<br />

“O Futuro”, “A Voz Publica”,<br />

“Vanguarda”, “Diário Ilustrado”,<br />

“Diário Popular”, “O Commercio<br />

do Porto”, “O Século” e “O Mundo”<br />

mostram as manchetes do regicídio<br />

e das suas consequências sociais e<br />

políticas. Os diários Diário de<br />

Noticias, Jornal de Notícias, O<br />

Primeiro de Janeiro e Aurora do<br />

Lima também integram a mostra,<br />

com as primeiras páginas dos dias<br />

seguintes ao duplo assassinato.<br />

Especial destaque merece a revista<br />

“Ilustração Portuguesa”,<br />

suplemento do jornal “O Século”<br />

na qual podem ver-se imagens dos<br />

corpos estendidos no chão,<br />

acompanhadas pelo relato dos<br />

acontecimentos.


Protocolo INATEL/Clube Millennium<br />

● O acesso dos beneficiários do<br />

Clube Millennium /BCP às<br />

instalações desportivas, cursos<br />

de formação, espaços culturais<br />

(Teatro da Trindade) e<br />

programas de férias e turismo<br />

social do <strong>Inatel</strong>, em condições<br />

semelhantes às dos sócios do<br />

Instituto, é um dos pontos<br />

salientes do Protocolo assinado,<br />

em Janeiro último, pelos<br />

presidentes das duas entidades.<br />

Bandas no Museu da Música<br />

● O Museu da Música, situado na<br />

Estação do Metropolitano do Alto<br />

dos Moinhos (Lisboa) tem patente,<br />

até 8 de Março, uma ampla<br />

exposição sobre as bandas<br />

filarmónicas no nosso País.<br />

Concebida e produzida pela<br />

Realizasom para o Museu da<br />

Música a mostra pretende<br />

proporcionar ao público em geral, e<br />

aos jovens em particular, um maior<br />

O acordo, rubricado por José<br />

Alarcão Troni e José Sousa<br />

Miranda, prevê, por outro lado,<br />

a colaboração do Clube<br />

Millennium BCP em actividades<br />

do INATEL, através da actuação<br />

dos diversos Grupos do Clube –<br />

teatro, canto, música, etnografia,<br />

etc. - , de acordo com a<br />

calendarização de ambas as<br />

instituições.<br />

A anteceder a assinatura do<br />

e melhor conhecimento dos várias<br />

sonoridades que poderemos<br />

encontrar numa Banda<br />

Filarmónica.<br />

Reconhecer o som de cada um dos<br />

protocolo, os dois responsáveis<br />

acentuaram a importância da<br />

cooperação bilateral, com José<br />

Sousa Miranda a destacar o<br />

impacto das áreas da cultura e<br />

do desporto aventura entre os<br />

membros do Clube Millennium,<br />

e Alarcão Troni a sublinhar o<br />

significado da integração no<br />

universo <strong>Inatel</strong> de um CCD<br />

(Centro de Cultura e Desporto)<br />

com mais de 30 mil associados.<br />

instrumentos, a forma como se<br />

complementam e a sua importância<br />

no conjunto sonoro da banda<br />

filarmónica e contextualizar este<br />

importante fenómeno cultural<br />

através da análise da distribuição<br />

geográfica das bandas pelo País, a<br />

sua evolução ao longo dos tempos<br />

e a sua importância na festa<br />

popular, são alguns dos pontos<br />

essenciais da exposição.<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 13


[ 1 ]<br />

[ 1 ] Ana Fialho,<br />

Torres Vedras<br />

Sócio n.º 122630<br />

[ 2 ] Miguel Teotónio,<br />

Beja<br />

Sócio n.º 454082<br />

[ 3 ] Reinaldo Viegas,<br />

Lagos<br />

Sócio n.º 370482<br />

Menções Honrosas<br />

[ a ] Sérgio Guerra,<br />

S. João do Estoril<br />

Sócio n.º 204212<br />

[ b ] Luís Gaspar,<br />

Lisboa<br />

Sócio n.º 265869<br />

[ c ] Veber Pereira,<br />

Angra do Heroísmo<br />

Sócio n.º 113269<br />

[ a ] [ b ] [ c ]


[3]<br />

[2]<br />

REGULAMENTO<br />

1. Concurso Nacional de Fotografia da<br />

revista Tempo Livre. Periodicidade<br />

mensal. Podem participar todos os<br />

sócios do <strong>Inatel</strong>, excluindo os seus funcionários<br />

e os elementos da redacção e<br />

colaboradores da revista Tempo Livre.<br />

2. Enviar as fotos para: Revista Tempo<br />

Livre - Concurso de Fotografia, Calçada<br />

de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.<br />

3. A data limite para a recepção dos trabalhos<br />

é o dia 10 de cada mês.<br />

4. O tema é livre e cada concorrente<br />

pode enviar, mensalmente, um máximo<br />

de 3 fotografias de formato mínimo de<br />

10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em<br />

papel, cor ou preto e branco, sem qualquer<br />

suporte.<br />

5. Não são aceites diapositivos e as<br />

fotos concorrentes não serão devolvidas.<br />

6. O concurso é limitado aos sócios do<br />

<strong>Inatel</strong>. Todas as fotos devem ser assinaladas<br />

no verso com o nome do autor,<br />

direcção, telefone e número de associado<br />

do <strong>Inatel</strong>.<br />

7. A Tempo Livre publicará, em cada<br />

mês, as seis melhores fotos (três premiadas<br />

e três menções honrosas), seleccionadas<br />

entre as enviadas no prazo<br />

previsto.<br />

8. Não serão seleccionadas, no mesmo<br />

ano, as fotos de um concorrente premiado<br />

nesse ano<br />

9. Prémios: cada uma das três fotos<br />

seleccionadas terá como prémio um fim<br />

de semana (duas noites) para duas pessoas<br />

num dos Centros de Férias do<br />

<strong>Inatel</strong>, durante a época baixa, em<br />

regime APA (alojamento e pequeno<br />

almoço). O premiado(a) deve contactar<br />

a redacção da «TL»<br />

10. Grande Prémio Anual: uma viagem<br />

a escolher na Brochura <strong>Inatel</strong> Turismo<br />

Social até ao montante de 1750 Euros. A<br />

este prémio, a publicar na revista<br />

Tempo Livre de Setembro de <strong>2008</strong>, concorrem<br />

todas as fotos premiadas e publicadas<br />

nos meses em que decorre o<br />

concurso.<br />

11. O júri será composto por dois<br />

responsáveis da revista Tempo Livre e<br />

por um fotógrafo de reconhecido<br />

prestígio.


Viana do


Castelo<br />

TERRA NOSSA<br />

Uma<br />

moderna<br />

cidade<br />

antiga<br />

Reina sobre o Lima,<br />

às portas do mar por<br />

onde se foram<br />

aventureiros e<br />

povoadores. Terra<br />

generosa em folgança<br />

e de precioso acervo<br />

monumental, Viana<br />

do Castelo é ainda<br />

ponto de partida para<br />

um conjunto de<br />

atractivos percursos<br />

pedestres,<br />

complemento de uma<br />

visita ao bem<br />

conservado centro<br />

histórico.<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 17


Praça da República. Em baixo, a nova Biblioteca Municipal e vista da Beira-rio<br />

18 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

HÁ MUITO que uma certa ideia de<br />

Viana do Castelo como cidade mais<br />

ou menos arrumada no canto de<br />

um país periférico perdeu consistência.<br />

O desenvolvimento de<br />

vias de comunicação rápidas coloca<br />

a cidade minhota bastante acessível,<br />

mesmo ao viajante que vem de<br />

longe. É possível fazer actualmente<br />

todo o percurso desde Vila Real de<br />

Santo António sempre por autoestrada,<br />

como também com (quase)<br />

a mesma comodidade ali podem<br />

chegar visitantes de Madrid, Paris<br />

ou Bruxelas. E não apenas por via<br />

terrestre. Dois aeroportos internacionais<br />

estão a pouco mais de meia<br />

hora de distância, o de Vigo e o do<br />

Porto.<br />

Dito isto, convém acrescentar que<br />

não é apenas pela via do desenvolvimento<br />

das comunicações terrestres<br />

ou aéreas que Viana do Castelo<br />

merece ser colocada nas rotas<br />

dos viajantes. A modernização da<br />

cidade, a par da conservação do<br />

centro histórico, o património monumental<br />

e cultural, a hospitalidade<br />

das suas gentes, as tradições festivas<br />

e gastronómicas, entre outras,<br />

fazem de Viana do Castelo um dos<br />

destinos mais amáveis do território<br />

nacional.<br />

Instalada entre o centro histórico<br />

e o rio Lima, a recém-inaugurada<br />

Biblioteca Municipal, desenhada<br />

por Siza Vieira, é um exemplo notável<br />

de um feliz entendimento entre<br />

o moderno e o antigo na requalificação<br />

das cidades.<br />

Os mais recentes folhetos turísticos<br />

procuram promover a urbe com<br />

uma velha e mais ou menos batida<br />

frase. Marketing, evidentemente,<br />

mas quem não será sensível à ponta<br />

de verdade que pelo slogan perpassa,<br />

quem não se deixará envolver<br />

pela rejuvenescida beleza que nos<br />

entra pelos olhos dentro logo ao


A nova face do INATEL em Viana do Castelo<br />

O edifício da Rua de São Pedro, que<br />

acolheu toda a actividade<br />

administrativa do INATEL na<br />

cidade de Viana do Castelo durante<br />

três décadas, até Dezembro de<br />

1993, foi objecto de profunda<br />

remodelação e volta a abrir este<br />

mês as suas portas aos associados.<br />

As obras duraram cerca de um ano<br />

e decorreram entre Dezembro de<br />

2005 e Dezembro de 2006.<br />

A delegação do INATEL em Viana<br />

do Castelo foi criada em 1964,<br />

quando a antiga FNAT se instalou<br />

no edifício do nº 8 da Rua de São<br />

Pedro, em pleno centro histórico. O<br />

abandono destas instalações,<br />

quase trinta anos depois, em 1993,<br />

deveu-se à degradação do edifício e<br />

à consequente necessidade de uma<br />

intervenção de fundo.<br />

Na sequência da recente<br />

remodelação, o edifício passou a<br />

reunir todas as condições<br />

necessárias para acolher não<br />

apenas os serviços administrativos<br />

do INATEL, como também outras<br />

actividades promovidas pela<br />

delegação local. Assim, a “nova”<br />

sede da delegação do INATEL em<br />

Viana do Castelo deverá contar com<br />

um auditório, salas polivalentes<br />

para exposições temporárias e para<br />

acolhimento das escolas de Lazer<br />

(cursos), assim como para<br />

actividades dos centros de cultura e<br />

desporto.<br />

Está também em projecto a<br />

instalação de um núcleo<br />

museológico onde se dará a ver um<br />

acervo numismático e de cerâmica<br />

descoberto durante as escavações<br />

realizadas por ocasião das obras – o<br />

edifício fica a meia dúzia de metros<br />

do local por onde passava a<br />

muralha fernandina. A concretizarse,<br />

esse núcleo museológico deverá<br />

fazer de um circuito cultural no<br />

centro histórico, em cooperação<br />

com a Câmara Municipal de Viana<br />

do Castelo.<br />

O Engº António Pereira,<br />

responsável pela delegação, realça<br />

o “espírito de sacrifício dos<br />

funcionários do INATEL no trabalho<br />

desempenhado nas antigas<br />

instalações” e considera que esta<br />

remodelação marca uma nova<br />

etapa da vida da delegação de<br />

Viana de Castelo, visitada<br />

diariamente por mais de uma<br />

centena de associados, que a partir<br />

de agora “passam a ter melhores<br />

condições de atendimento”. A sua<br />

localização em pleno centro<br />

histórico, acrescenta, deverá<br />

também constituir um “factor de<br />

dinamização da vida económica e<br />

social da zona”.<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 19


TERRA NOSSA<br />

Praça da República<br />

com o antigo Paço<br />

do Concelho.<br />

Em baixo, Casa<br />

da Misericórdia e<br />

pormenor da Capela<br />

de Malheiros.<br />

Na página da direita,<br />

Sé Catedral<br />

GUIA<br />

Como ir<br />

A partir do sul e do litoral, o<br />

percurso mais fácil é o que<br />

segue a A1 e a A28, que<br />

liga o Porto à fronteira galega.<br />

Viana dista do Porto<br />

cerca de 70 km e pouco<br />

mais de 370 de Lisboa.<br />

Onde dormir<br />

Na cidade há várias opções,<br />

de qualidade variada e para<br />

diferentes bolsas. O site da<br />

Região de Turismo do Alto<br />

20 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Minho tem informação completa<br />

sobre a oferta e os<br />

respectivos contactos para<br />

reservas. Uma alternativa<br />

disponível para uma estadia<br />

no Minho, não muito<br />

distante de Viana e de outros<br />

centros urbanos da<br />

região, é o centro de férias<br />

do INATEL em Cerveira.<br />

Fica a pouco mais de 20<br />

minutos (cerca de 30 km de<br />

Viana, pela nova A28), e os<br />

contactos são os seguintes:<br />

telef. 251795359, fax<br />

251795050, e-mail<br />

cf.vncerveira@inatel.pt.<br />

Onde comer<br />

Tanto em Viana como nos<br />

arredores há opções muito<br />

recomendáveis. Na cidade,<br />

uma ronda por casas típicas<br />

e despretensiosas,<br />

onde a gastronomia minhota<br />

está bem representada,<br />

não pode ignorar dois<br />

endereços de referência: O<br />

chegar e que, portanto, actualiza a<br />

velha expressão “amor à primeira<br />

vista”?<br />

CENÁRIOS DE NATUREZA<br />

Das folganças de que Viana do<br />

Castelo é farta, e da famosa Senhora<br />

da Agonia, já muito se fala e<br />

escreve, e repetidamente. Por isso,<br />

apenas se deixa aqui as datas da<br />

próxima edição da mais famosa<br />

festa minhota: 20 a 24 de Agosto.<br />

Daremos prioridade, portanto, nos<br />

parágrafos que se seguem a outros<br />

patrimónios.<br />

Natureza e urbanismo com história.<br />

Estas duas componentes estão<br />

fortemente presentes na oferta<br />

turística de Viana do Castelo, e<br />

mesmo na sua identidade, e são<br />

dois dos elementos mais apelativos<br />

da cidade, com os quais se procura<br />

seduzir os forasteiros. Comecemos<br />

pela primeira, bem sintetizada na<br />

promoção da cidade: entre o mar, o<br />

rio e a montanha.<br />

O cenário natural em que Viana se<br />

insere, com a foz do Lima no horizonte,<br />

o abraço próximo do monte de<br />

Santa Luzia, o litoral do Cabedelo a<br />

Manel (Rua de Viana, 118)<br />

e a Taberna do Valentim<br />

(Rua Monsenhor Daniel<br />

Machado, 180).<br />

Informações úteis<br />

Posto de turismo: Rua do<br />

Hospital Velho, telef.<br />

258822620<br />

Informação na internet:<br />

www.cm-viana-castelo.pt<br />

(Câmara Municipal);<br />

www.rtam.pt (Região de<br />

Turismo do Alto Minho).


dois passos: a enumeração é um começo<br />

e um prenúncio. Temos ainda a<br />

Serra de Arga ou a da Peneda, ou a do<br />

Gerês, embora nestas duas últimas<br />

serranias estejamos a colocar a fasquia<br />

a uma distância mais larga; esses são,<br />

todavia, é bom reconhecer, destinos<br />

sempre à mão de passear e dos de<br />

maior valia na área do ecoturismo<br />

nacional. Mais perto temos, efectivamente,<br />

com que entretecer andanças e<br />

mergulhos na natureza. Actualizemos<br />

a informação, que a há e que faz parte<br />

dos mais recentes artifícios de sedução<br />

do concelho. Foram inauguradas há<br />

bem pouco tempo algumas rotas que<br />

proporcionam uma intimidade dos<br />

caminhantes com os espaços naturais<br />

deste recanto do Alto Minho. São sete<br />

os percursos pedestres sugeridos por<br />

este roteiro, cuja informação detalhada<br />

é possível obter no posto de turismo<br />

de Viana: Trilhos dos Moinhos de<br />

Água de Montaria, na Serra de Arga,<br />

Trilho do Monte de Santa Luzia, Trilho<br />

dos Canos de Água, Trilho dos Moinhos<br />

de Vento de Montedor, Trilho do<br />

Chão, Trilho do Monte Galeão e Trilho<br />

da Ribeira de Santo Simão.<br />

PERCURSOS URBANOS<br />

No que toca aos percursos urbanos,<br />

o centro histórico de Viana do<br />

Castelo é um dos mais agradáveis e<br />

bem conservados do norte português.<br />

É um espaço habitado e<br />

vivo, com algumas esplanadas<br />

estratégicas, como as que nos esperam<br />

na prazenteira Praça da República.<br />

Aí mesmo damos também<br />

com dois dos incontornáveis edifícios<br />

históricos da cidade, o dos antigos<br />

Paços do Concelho, com o seu<br />

recorte medieval e inconfundíveis<br />

arcos góticos, e o da renascentista<br />

Casa da Misericórdia, e respectiva<br />

igreja, que conserva um incomparável<br />

acervo de azulejaria. O<br />

Chafariz (mais ou menos) central é<br />

também de Quinhentos, desses<br />

tempos que viram partir do cais de<br />

Viana aventureiros e povoadores<br />

como Gonçalo Velho, rumo às ilhas<br />

atlânticas, Fernão Martins, explorador<br />

da costa africana, e João Álvares<br />

Fagundes, que terá ido fundar<br />

uma colónia vianense à Terra Nova.<br />

No outro extremo do largo temos<br />

uma mostra de um dos mais celebrados<br />

quinhões do património<br />

cultural local: o Museu do Traje. Da<br />

Praça da República irradiam várias<br />

artérias, a explorar em passos perdidos<br />

pelo emaranhado do centro<br />

histórico, até se descobrir a gótica<br />

(e eclética, por mor dos posteriores<br />

acrescentos) sé. O escriba gosta<br />

particularmente da que dá pelo<br />

nome de Gago Coutinho, ruela em<br />

arco, com sedutora perspectiva dos<br />

antigos Paços do Concelho e da<br />

Casa da Misericórdia. No lado<br />

oposto e no final do arco brilha a<br />

Capela de Malheiros, jóia representativa<br />

que ressalta à primeira vista<br />

o que é: um exemplar do melhor<br />

barroco que em Portugal o viajante<br />

pode encontrar. ■<br />

Humberto Lopes [texto e fotos]<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 21


OFÍCIOS<br />

OS canteiros do Granito<br />

Uma estadia de férias em Entre-os-Rios é a ocasião para descobrir<br />

um ofício em plena pujança. O Vale do Douro é uma das zonas<br />

donde enormes pedreiras extraem granito em quantidades<br />

industriais, para a construção civil e até para a exportação, que<br />

daqui saem de navio até ao porto de Leixões.<br />

HÁ A EXTRACÇÃO e depois o fabrico<br />

de peças para a construção –<br />

umbrais, peitoris, soleiras, lareiras,<br />

colunas, varandas, pavimentos, degraus,<br />

etc. As variedades de granito<br />

são: o azul ou de Pedras Salgadas, o<br />

amarelo-real, o rosa de Porrinho<br />

(Galiza), o preto-impala e o negro<br />

de Angola. Pedra extremamente<br />

dura, só o esgotar de outras pedras,<br />

22 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

nomeadamente os calcários e os<br />

mármores, bem como o desenvolvimento<br />

de maquinas de corte<br />

próprias, veio viabilizar a sua larga<br />

utilização para alem dos blocos usados<br />

tradicionalmente na construção<br />

de casas rústicas do Douro e Minho,<br />

nas ultimas duas décadas.<br />

Esta actividade – extracção e<br />

transformação – é particularmente<br />

intensas em Alpendurada (concelho<br />

de Marco de Canavezes), Oldrões e<br />

Rans (concelho de Penafiel).<br />

António Ferreira, 45 anos, natural<br />

de Penafiel, desde os seus 12 anos<br />

que trabalha nesta arte, depois de<br />

concluída a 4ªclasse. “Não há escola<br />

de canteiro e o que eu gostava era<br />

de escultura, mas foi com o meu<br />

irmão mais velho que aprendi a<br />

profissão. Aos 21 anos marchei para<br />

a Suiça onde trabalhei durante 10<br />

anos como canteiro de granito e de<br />

pedra de areia mas tive que voltar<br />

pois as filhas já estavam na idade de<br />

ir para escola.” Agora mora e trabalha<br />

em S.Paio da Portela numa das<br />

inúmeras firmas de manufactura, a<br />

Granitos das Neves.<br />

As ferramentas essenciais são o<br />

macete, o cinzel e o ponteiro, estes<br />

dois últimos manuais ou pneumáticos.<br />

Depois de serrada a peça na<br />

freza com a espessura pretendida,<br />

seguem-se os cortes segundo medidas<br />

pretendidas, com disco de diamante,<br />

o lixar com esmeril ou lixa,<br />

manual mente ou com rebarbadora,<br />

a seco ou com água. O acabamento<br />

pode ser polimento grosso ou fino,<br />

amaciado (sem brilho) ou bojardado<br />

(a pedra picada).<br />

O seu sonho era fazer trabalho de


arte “Já fiz a igreja daqui da minha<br />

terra em miniatura, em granito,<br />

tenho-a em casa. Levei um mês a<br />

fazer nas minhas horas vagas.<br />

Também já fiz um moito (ave) em<br />

xisto. Gostava era de fazer brasões,<br />

imagens de santos, esculturas, mas<br />

isso não aparece tanto. De resto não<br />

há competição, nem segredos entre<br />

colegas do mesmo oficio”. As qualidades<br />

requeridas são firmeza de<br />

mão, rigor milimétrico nas medidas,<br />

boa vista. Os acidentes de trabalho<br />

são pequenos cortes e entalões nos<br />

dedos. “Mais arriscado é o trabalho<br />

nas pedreiras mas todo o cuidado é<br />

pouco”, acrescenta nos seus 33 anos<br />

de trabalho. “E ensinaria de bom<br />

grado este ofício a filhos se os tivesse!”,<br />

conclui num sorriso encimado<br />

por farto bigode preto e olhos atentos<br />

ao trabalho bem feito.<br />

Já o sr. Augusto Silva Sousa, 46<br />

anos, 4ª classe, natural e residente<br />

na Várzea do Douro, concelho do<br />

Marco de Canavezes, começou aos<br />

20 anos nesta profissão mas sempre<br />

nas peças decorativas, com alguma<br />

arte – leões, dragões, águias,<br />

cabeças de cavalo, rãs, figuras femininas,<br />

brasões e letras em altos ou<br />

baixos-relevos. Aprendeu sozinho<br />

praticando em casa fazendo cinzeiros,<br />

fazendo a partir dum modelo,<br />

dum desenho ou duma foto<br />

qualquer trabalho. “Desenho melhor<br />

com a ferramenta na pedra do<br />

que com o lápis no papel, mas<br />

gostava de tirar um curso de canteiro,<br />

ou de desenho pois era uma<br />

grande ajuda. Havia um curso de<br />

escultura em Belas Artes no Porto<br />

mas para canteiro não conheço. E<br />

se houvesse alguém com vontade<br />

de aprender também lhe ensinava,<br />

mas nesta profissão não há gente<br />

nova somos todos de 25, 30 anos<br />

para cima, pois é um trabalho com<br />

pedra que não atrai os jovens”.<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 23


OFÍCIOS<br />

Começou num estaleiro do irmão<br />

e é sozinho que pensa nos trabalhos<br />

e resolve os problemas. Quanto a<br />

qualidades: “É preciso paciência,<br />

calma, ter gosto e não se enervar,<br />

para a obra ir nascendo. Pensar,<br />

olhar para a pedra, imaginar como<br />

ela vai ficar, como ela há-de sair”.<br />

Acrescenta o sr. Augusto que só trabalha<br />

em granito amarelo ou cinza,<br />

e não gosta de trabalhar o mármore<br />

e muito menos de polir o granito.<br />

Em mãos, tem um trabalho grande:<br />

um leão de 1,30 m de alto por<br />

1,30 m de comprido e 75 cm de frente,<br />

que lhe levou um mês e meio a<br />

fazer, e se fosse polido seriam mais 3<br />

ou 4 dias. Primeiro é o talhe – ir escolher<br />

e cortar a pedra necessária. Usa<br />

o macete, o cinzel pouco, o martelo,<br />

o palheto e a bojarda com ou sem<br />

24 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

pneumático e a rebarbadora. A lavra<br />

feita com o cinzel abre os sulcos da<br />

juba do leão. Para acabamentos, o<br />

bojardado, a lixa ou o esmeril. O<br />

leão, de diversas dimensões, é o que<br />

mais se vende. Trabalha por conta<br />

própria perto da Alpendurada e os<br />

clientes são particulares, autarquias,<br />

igrejas e até já enviou trabalhos para<br />

Espanha, mas é evidente que a este<br />

canteiro de arte, que não vai a<br />

exposições nem a feiras, falta divulgação,<br />

que mais obras lhe encomendariam,<br />

tal a sua perfeição. Por seu<br />

lado com a crise, as encomendas<br />

estão fracas pelo que há que deitar<br />

mão a outros trabalhos mais correntes.<br />

Como jazigos, campas.<br />

Já tem a sua obra-prima: um conjunto<br />

de imagens para o Santuário<br />

de Mirandela – os doze apóstolos e<br />

mais cinco figuras entre os quais Nª<br />

Srª de Fátima e os pastorinhos. “Fiquei<br />

satisfeito e os meus clientes, a<br />

comissão fabriqueira, também e fui<br />

lá a Mirandela ver a obra, receberam-me<br />

muito bem. Não costumo<br />

assinar as minhas obras, pode ser<br />

que um dia passe a fazê-lo”. Sonha<br />

em fazer uma sereia.<br />

Tanto um como outro não conhecem<br />

nenhuma associação ou confraria<br />

de canteiros nem festa do seu<br />

ofício ou qual o santo padroeiro,<br />

mas acham uma boa ideia um<br />

encontro entre mestres do mesmo<br />

ofício. E bem seria uma exposição<br />

ou concurso anual de obras destes<br />

artífices anónimos: com tanto criativo<br />

e tanta criação, todos ganhariam<br />

e o ofício valorizar-se-ia. ■<br />

Guilherme Pereira [texto e fotos]


PATRIMÓNIO<br />

Mina do Lousal (Grândola)<br />

Uma Mina para o Turismo<br />

A dimensão da antiga Central Eléctrica, com um pé direito<br />

impressionante, um centro de comando gigantesco e uma<br />

multiplicidade de maquinaria impossível de abarcar com um único<br />

olhar, é apenas a evocação de um tempo de sacrifícios.<br />

O BRILHO das máquinas e o asseio<br />

do chão e das paredes embelezam<br />

um espaço que há menos de duas<br />

décadas era conhecido como “a<br />

frigideira” entre os mineiros do<br />

Lousal, uma mina de pirites no concelho<br />

de Grândola que chegou a<br />

empregar mais de três mil pessoas.<br />

Manuel João, mineiro durante 14<br />

anos no Lousal, é uma enciclopédia<br />

viva sobre a antiga mina. De rosto<br />

vincado pela passagem dos anos e<br />

queimado da exposição ao sol alentejano,<br />

este mineiro de 55 anos de<br />

idade revive com um entusiasmo<br />

surpreendente a sua experiência<br />

profissional com os turistas. E a<br />

enorme sala da antiga Central<br />

Eléctrica, hoje transformada em<br />

museu, serve de palco ideal a esse<br />

exercício de memória: “Aqui, nem<br />

as mulheres da limpeza vinham. A<br />

gente é que fazia tudo. Ninguém<br />

sabia qual era a cor do chão. Era só<br />

óleo. Chamávamos a isto a<br />

frigideira”.<br />

À medida que a visita prossegue<br />

e os turistas contemplam a maquinaria,<br />

o antigo mineiro vai desfiando<br />

o fio da memória: “Às vezes perguntávamos<br />

a nós próprios: onde é<br />

que a malta vai? E a resposta vinha<br />

em conjunto: ‘Vamos ao Tarrafal!’”.<br />

26 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

GUIA<br />

Como ir:<br />

A partir de Lisboa, apanhar a A2<br />

em direcção ao Algarve, sair em<br />

Grândola e tomar a direcção de<br />

Azinheira dos Barros, através da<br />

E.N. 259 e 261. A seguir a Azinheira<br />

dos Barros, uma placa indica Mina<br />

do Lousal para a direita: a aldeia<br />

mineira fica a 10 Km da E.N. 261.<br />

Onde comer<br />

Em pleno complexo turístico da<br />

Mina do Lousal, o Restaurante<br />

Armazém Central serve gastronomia<br />

típica alentejana.<br />

Onde ficar<br />

O complexo mineiro oferece estada<br />

na Albergaria de Santa Bárbara dos<br />

Mineiros. Contacto: 269 508 630<br />

albergariastabarbara@gmail<br />

Frigideira e Tarrafal eram designações<br />

diferentes para o mesmo<br />

objecto: a Central Eléctrica, coração<br />

do funcionamento da Mina de<br />

pirites do Lousal, minério cujo destino<br />

era a produção de ácido sulfúrico,<br />

onde as temperaturas atingiam<br />

valores insuportáveis.<br />

O sofrimento causado pelo calor<br />

não acontecia apenas à superfície.<br />

No interior da mina, as temperaturas<br />

também podiam tornar-se<br />

insuportáveis. E Manuel João não<br />

esquece essa experiência: “um dia,<br />

fui, mais um colega, dentro da mina<br />

arranjar uma máquina que tinha<br />

avariado, a uma profundidade de<br />

470 metros. Ficamos dentro da<br />

mina 38 horas, com uma temperatura<br />

de 50º ou 60º e água até à cintura.<br />

Foi o máximo que fiz, e eu sou<br />

uma criança ao pé desses homens<br />

que foram toda a vida mineiros”.<br />

A exploração mineira do Lousal<br />

terminou em 1988, depois de uma<br />

intensa actividade iniciada em<br />

1900. Um relógio afixado numa<br />

parede da Central Eléctrica regista<br />

desde então o fim dos trabalhos:<br />

15h30, “hora do fecho da mina, com<br />

o turno da manhã”, recorda<br />

Manuel João. A voz ainda denuncia<br />

a emoção desse momento: “o fecho


da mina foi um choque traumático<br />

muito grande para a gente”. Residiam,<br />

na altura, no Lousal cerca de<br />

700 pessoas.<br />

RENASCER<br />

Quase duas décadas após o termo<br />

inesperado da exploração do minério,<br />

a aldeia mineira do Lousal<br />

renasce para o turismo com um dinamismo<br />

surpreendente. Com o<br />

apoio financeiro da Fundação Fré-<br />

déric Velge, da Sapec e da Câmara<br />

de Grândola, o Programa de Revitalização<br />

e Desenvolvimento Integrado<br />

do Lousal, iniciado em 1996 e<br />

direccionado para a criação de<br />

infra-estruturas turísticas, atrai cada<br />

vez mais turistas ao antigo complexo<br />

mineiro. A primeira de requalificação<br />

das antigas instalações está<br />

concluída: a antiga Central Eléctrica<br />

foi transformada em museu, o antigo<br />

mercado foi readaptado em cen-<br />

tro de artesanato, o antigo Armazém<br />

Central é hoje um restaurante<br />

de gastronomia alentejana, a antiga<br />

residência do administrador da<br />

mina, mantendo o estilo original do<br />

edifício, foi recuperada como unidade<br />

hoteleira, e a instalação de um<br />

auditório permite visionar um filme<br />

sobre a exploração mineira e a vida<br />

da aldeia nos anos 50.<br />

A visita à Mina do Lousal é um<br />

momento inesquecível: uma pe-<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 27


PATRIMÓNIO<br />

Lavrador descobre minério em 1882<br />

A Mina do Lousal foi<br />

descoberta em Agosto de<br />

1882 por António Manuel,<br />

um agricultor da região de<br />

Azinheira dos Barros.<br />

Depois de passar por<br />

vários concessionários,<br />

entre os quais a Société<br />

quena viagem de 10 quilómetros,<br />

entre o início da estrada de Azinheira<br />

dos Barros, que ondula em<br />

ziguezague pelos campos abandonados,<br />

e o complexo mineiro, é o<br />

suficiente para constatar como a<br />

desertificação humana marca já<br />

uma região tão próxima do litoral<br />

como é o concelho de Grândola. As<br />

antigas instalações da mina propriamente<br />

dita, apesar da sua degradação,<br />

impressionam ainda hoje: o<br />

imponente malacate, que levava os<br />

mineiros a uma profundeza de 500<br />

metros e trazia o minério para a<br />

superfície, os gigantescos barracões<br />

28 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Sncnyme Belge des Mines<br />

d’Aljustrel em 1934, é a<br />

partir de 1936 que a<br />

exploração adquire maior<br />

intensidade após a<br />

concessão ser atribuída à<br />

sociedade belga Mines et<br />

Industries.<br />

Com a crescente procura<br />

do ácido sulfúrico, a Mina<br />

do Lousal ganha cada vez<br />

maior importância, até<br />

porque a Sapec, empresa<br />

química detida pela Mines<br />

et Industries laborava em<br />

Setúbal desde 1928, era<br />

circundantes, a locomotiva e os<br />

montes enormes dos restos do<br />

minério são sinais visíveis das dificuldades<br />

quotidianas do trabalho<br />

nas minas.<br />

A dificuldade da exploração<br />

mineira é também visível no museu<br />

da Central Eléctrica: a recriação do<br />

antigo escritório da mina, com<br />

peças originais dos antigos gabinetes<br />

e exposição de um valioso<br />

conjunto de ferramentas e de máquinas<br />

de enorme dimensão construídas<br />

no final do século XIX e no<br />

início do século XX mostram como<br />

se processava o dia-a-dia dos administradores<br />

e dos mineiros no<br />

Lousal.<br />

Em exposição está também, até 31<br />

de Agosto, a exposição “Modelos de<br />

Minas do Século XIX – Engenhos<br />

de Exploração Mineira”, uma<br />

colecção única no mundo de 53<br />

maquetas de minas e equipamentos<br />

de exploração mineira no século<br />

XIX. Quase todos assinados pela<br />

Real Academia de Minas de Freiberg,<br />

na Alemanha, que no século<br />

XIX era o expoente máximo do<br />

saber ao nível de engenharia de<br />

minas, estes modelos, usados no<br />

curso de Engenharia de Minas no<br />

Instituto Superior Técnico (IST),<br />

foram encontrados num avançado<br />

estado de degradação nas caves do<br />

IST, em Lisboa, estas maquetas<br />

foram restauradas pelos promo-<br />

um dos consumidores<br />

internos das pirites do<br />

Lousal, em conjunto com a<br />

Cuf. Quando encerrou, em<br />

1988, a Mina do Lousal<br />

era uma das mais<br />

explorações mineiras mais<br />

modernas do país.<br />

tores da recuperação do complexo<br />

mineiro do Lousal.<br />

A maior ambição dos promotores<br />

da recuperação deste complexo<br />

mineiro está agora direccionada<br />

para a concretização do projecto de<br />

descida real à mina. Com um orçamento<br />

de 10 milhões de euros, em<br />

parte fundos comunitários, este<br />

projecto estará concluído em 2010 e<br />

permitirá levar os turistas de elevador<br />

até às profundezas da mina.<br />

Para já, até ao final deste ano, deverá<br />

estar concluído o Museu da<br />

Ciência Viva, que permitirá uma<br />

visita virtual ao interior da mina. E<br />

deste modo os cerca de 700 residentes<br />

da aldeia mineira recuperam<br />

a esperança num futuro melhor. ■<br />

António Sérgio Azenha [texto e fotos]


TERMAS EM PORTUGAL [10]<br />

Caldas da Felgueira<br />

Um termalismo de bem-estar<br />

Envoltas por serra e por cursos de água, as Caldas da Felgueira têm<br />

sido uma das grandes apostas nacionais do termalismo nas últimas<br />

duas décadas, graças à modernização do seu balneário e das condições<br />

de alojamento. Neste período, estas termas contribuíram muito para<br />

uma nova imagem do termalismo português e para a entrada de<br />

novos e mais jovens aquistas.<br />

AS MEMÓRIAS Paroquiais de<br />

1758, apesar de não fazerem referência<br />

à povoação, já dão conta da<br />

existência de uma «nascente quente<br />

e sulfúrica no limite do lugar de<br />

Vale de Madeiros». Depois, foi no<br />

início do século XIX que doentes<br />

que sofriam de males de pele<br />

começaram a frequentar o local.<br />

Surgiram as primeiras casas. Em<br />

1867, a Exposição Universal de Paris<br />

reconheceu o valor destas águas,<br />

mas, apenas em 1882, foi constituída<br />

a Companhia das Águas Medicinais<br />

da Felgueira, seguida da<br />

criação da Nova Companhia do<br />

Grande Hotel Club das Caldas da<br />

Felgueira, em 1886, que levaram<br />

respectivamente à edificação do<br />

balneário e do hotel.<br />

Com o desenvolvimento das suas<br />

termas, a povoação deixou de ser<br />

um aglomerado de «velhos pardieiros<br />

espalhados a esmo», na vertente<br />

das montanhas da margem<br />

direita do rio Mondego. Em meados<br />

da década de 1890, foi concluída a<br />

avenida entre o balneário e o hotel,<br />

financiada pelas duas Companhias,<br />

e construída a ponte sobre o rio,<br />

30 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

possibilitando a ligação com Oliveira<br />

do Hospital, Seia e Gouveia,<br />

com mais fáceis percursos pedestres<br />

pela margem esquerda do rio.<br />

Nos primeiros anos do século<br />

seguinte, a estância consolida-se e<br />

começa a conhecer habituais frequentadores<br />

que a promovem pelo<br />

país, trazendo novos visitantes.<br />

Sabemos dos passeios à Fonte Fria,<br />

pequena edificação em estilo neoárabe,<br />

com planta quadrada e platibanda<br />

de merlões escalonados, contemporânea<br />

da construção do balneário<br />

termal.<br />

Com a mudança de gestão nos<br />

anos 60, a Felgueira assiste a um<br />

período reformador, apesar do terrível<br />

incêndio que devastou todo o<br />

interior do elegante Grande Hotel.<br />

Reconstruído este e ampliado o balneário,<br />

o verdadeiro salto na qualidade<br />

concretizar-se-ia a partir do<br />

final da década de 1980. Tratou-se<br />

de uma fase de grande renovação<br />

nos edifícios e equipamentos, intensificada<br />

a partir de 1995, quando<br />

tiveram início as obras mais profundas,<br />

que permitiram a ampliação<br />

das instalações balneares pela integração<br />

de um edifício contíguo ao<br />

balneário, que servira na década de<br />

30 como anexo de quartos do<br />

Grande Hotel. Em 1997, iniciou-se o<br />

funcionamento pleno das novas<br />

instalações.


Desde a sua origem que balneário<br />

e Grande Hotel se olham um ao<br />

outro, a menos de 100 metros, tendo<br />

por meio a estrada municipal que os<br />

divide também nas freguesias, pertencentes<br />

ao concelho de Nelas.<br />

Estas termas estão vocacionadas<br />

para o tratamento de doenças do<br />

foro respiratório, músculo-esquelético<br />

e dermatológico. Mas também se<br />

atenta neste local ao termalismo<br />

reabilitador de sequelas ortopédicas,<br />

traumáticas e neurológicas e ao termalismo<br />

preventivo, porque não é<br />

preciso estar doente para se «ir a termas».<br />

Para além do mais, uma estada<br />

na Felgueira, numa das suas<br />

unidades hoteleiras ou noutras das<br />

povoações próximas, permite a<br />

descoberta das regiões demarcadas<br />

do vinho do Dão e do queijo da<br />

Serra da Estrela, do azeite que é fabricado<br />

num moderno, funcional e<br />

ecológico lagar recentemente construído,<br />

das rotas das aldeias históricas,<br />

dos automóveis antigos do<br />

Museu do Caramulo e da pintura de<br />

Grão Vasco. Bem perto da Felgueira,<br />

é de apreciar e comprar o artesanato<br />

de Canas de Senhorim, feito de<br />

bonecas de pano ou de palha, telas<br />

serapilheira, madeira pirogravada,<br />

quadros em trapo e flores secas,<br />

arranjos florais, barros e trabalhos<br />

em seda.<br />

As Caldas da Felgueira têm sido<br />

um exemplo de importante e acolhedor<br />

destino turístico, com uma oferta<br />

diversificada, sobretudo dirigida a<br />

uma procura não massificada,<br />

naquilo que podem ser as estâncias<br />

termais portuguesas, de uma forma<br />

complementar à terapia das águas –<br />

pólos de animação cultural e de<br />

práticas desportivas (ténis, golfe,<br />

pesca, passeios temáticos, natação,<br />

caminhadas, cicloturismo) –, onde o<br />

termalismo de bem-estar manifesta<br />

um lugar cada vez mais significativo.<br />

É uma dinâmica que permite a<br />

modernização das infra-estruturas e<br />

a aposta na qualificação dos recursos<br />

humanos e dos serviços prestados,<br />

tendo em conta os desafios necessários<br />

para o desenvolvimento<br />

das regiões de interior. ■<br />

Jorge Mangorrinha<br />

Helena Gonçalves Pinto<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 31


32 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Chakall<br />

Sabores do mundo<br />

Argentino e viajante pelos vários continentes<br />

acabou de publicar “Cozinha Divina”, um livro<br />

cheio de cor e de vivências.


DE TURBANTE, prepara um delicioso<br />

ceviche de salmão numa<br />

esplanada das Caldas da Rainha.<br />

Acedeu, assim, ao convite da<br />

livraria 107 que costuma promover<br />

encontros com os autores. Um<br />

público atento, assiste ao desempenho<br />

culinário deste argentino.<br />

Na hora da degustação, todos aprovam<br />

a divina iguaria. Vamos por<br />

partes. Chakall, antes de se render<br />

aos encantos dos fogões, foi jornalista<br />

durante sete anos. “Tenho o<br />

curso, mas nunca fui buscar o<br />

diploma”, diz. Nas veias corre-lhe<br />

sangue galego, basco, francês, italiano,<br />

alemão e índio, o que dá uma<br />

mistura explosiva a nível físico.<br />

Talvez devido a essa salgalhada de<br />

culturas, pende-lhe o pé para o<br />

nomadismo. Antes de aterrar na<br />

Europa percorreu a América Latina<br />

de mota. ”Fiz onze mil quilómetros”,<br />

recorda.<br />

Os seus olhos esverdeados brilham<br />

quando recupera as memórias<br />

dos sete países africanos que visitou.<br />

“Apaixonei-me por África. Convivi<br />

com gente interessantíssima,<br />

não ligo à geografia, só me interessam<br />

as pessoas”. Sentiu uma felicidade<br />

intensa que palavra alguma<br />

do mundo ajudaria a descrever.<br />

Jamais esquecerá o lombo de gazela,<br />

temperado com azeite, limão,<br />

mel e cominhos, que preparou no<br />

deserto do Sudão. “Fiz uma fogueira<br />

e assei-o lentamente, à luz<br />

da lua cheia. Nunca uma refeição<br />

me soube tão bem”. Já não apreciou<br />

tanto as minhocas secas e os bifes<br />

de hipopótamo que comeu na<br />

Zâmbia.<br />

Do pólo Norte ao cabo das Agulhas<br />

foi descobrindo os segredos da<br />

cozinha, a que não atribui qualquer<br />

mistério. Acha a comida portuguesa<br />

“fantástica”, até já inventou algumas<br />

receitas de bacalhau, superan-<br />

PAIXÕES<br />

do-se no apuro dos sabores. Sente<br />

prazer em cozinhar, gosta do prazer<br />

de dar prazer. Pertence a uma família<br />

de restauradores, desde há<br />

quatro gerações. O quinto de uma<br />

prole de seis irmãos, nasceu em<br />

1972 em Tibre, Buenos Aires. Cresceu<br />

num ambiente dominado pelas<br />

massas e as carnes de vaca suculentas.<br />

Ainda criança, aprendeu a técnica<br />

dos folhados e dos recheios.<br />

Amigo de cirandar, conta como se<br />

perdeu nos campos. Já noite cerrada,<br />

chegou a casa à hora de jantar. A<br />

partir dessa aventura, ganhou o<br />

nome de Chakall.<br />

Como se define? “Venho da classe<br />

média, quando havia classe média<br />

na Argentina. Cresci no horror das<br />

ditaduras militares em que eram<br />

atiradas pessoas dos aviões. Não<br />

sou de esquerda nem de direita.<br />

Não acredito nas utopias de mudar<br />

o mundo. Respeito os outros, as diferenças<br />

religiosas e sou contra a<br />

violência. Penso que vivo com coerência<br />

e autenticidade”, sublinha.<br />

Desconfia da classe política que<br />

“parece apostada em frustrar as<br />

pessoas”. Mas vota, nem que seja<br />

em branco. É corajoso. Não teme o<br />

fracasso nem a morte. “O medo impede<br />

que avancemos. Há que perder<br />

o medo do ridículo, o medo<br />

cristão do pecado, o medo de relativizar<br />

as coisas. Encaro a morte<br />

com inconsciência, venho de uma<br />

família de loucos. O meu irmão<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 33


PAIXÕES<br />

mais velho foi torturado pelos militares,<br />

foi um modelo famoso no<br />

Brasil, percorreu a Amazónia a pé,<br />

viveu com os índios e inventou um<br />

monta-cargas”.<br />

Embora seja um tanto caótico,<br />

raramente lhe saem mal os cozinhados.<br />

“Sei emendar os erros.<br />

Tudo depende da concentração, se<br />

estamos a fazer arroz não o podemos<br />

largar. Um minuto pode ser<br />

fatal”, explica. Em 1997, o instinto<br />

trouxe-o até Portugal, “um país que<br />

não está no topo nem na base da<br />

pirâmide”. Está no meio, o que para<br />

ele se afigurava simpático. “Desembarquei<br />

no aeroporto com 70 quilos<br />

de bagagem, tomei um táxi e dirigime<br />

a casa de uma amiga portuguesa<br />

que, segundo os vizinhos do prédio,<br />

estava em Goa. Toquei à campainha<br />

do quarto andar e apareceram<br />

três tipos, um deles era o<br />

34 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

António Borges que me ofereceu<br />

alojamento. Deixei lá as coisas e<br />

parti de comboio para Barcelona<br />

onde tinha uma entrevista marcada<br />

com o Bono”. Em grande estilo<br />

encerrou o capítulo do jornalismo.<br />

“Para sempre”, garante.<br />

Não lhe chamem chefe, chamemlhe<br />

cozinheiro. Em Lisboa, após<br />

uma digressão por África, trabalhou<br />

na cozinha do Bicaense. “Apesar da<br />

minha inexperiência, havia filas de<br />

espera a partir das seis da tarde”.<br />

Recusou um convite para o comando<br />

da cozinha do Bica do Sapato.<br />

Mais tarde, foi sócio do restaurante<br />

Afrodite que abandonou quando<br />

estava em alta. Após quatro anos a<br />

remar contra as burocracias, desistiu<br />

de abrir um restaurante de cozinha<br />

árabe no Campo das Cebolas.<br />

“Em Goa demora 25 dias e na Alemanha<br />

um pouco mais”, afirma.<br />

Actualmente dedica-se ao serviço<br />

de catering e às aulas de culinária.<br />

“Alérgico” à cozinha dos hotéis, acalenta<br />

a ideia de montar uma escola<br />

de gastronomia ecológica no Oeste<br />

com o patrocínio das autarquias<br />

locais, a par da empresa portuguesa<br />

“Cozinha Divina”, um projecto a<br />

funcionar em Berlim.<br />

Vive numa quinta perto da Lourinhã<br />

com a mulher, uma alemã de<br />

Hamburgo, e as duas filhas. Conheceram-se<br />

num espectáculo do grupo<br />

Fura del Baus em 11 de Setembro de<br />

2001. Em casa é ele que cozinha.<br />

Pergunta o que querem comer, vai ao<br />

frigorífico e improvisa com esmero<br />

um prato onde o sabor se associa à<br />

estética. Não compra nada nos supermercados,<br />

gosta de comidas honestas,<br />

sem as complicações dos franceses<br />

que tornaram a cozinha numa<br />

moda. Por incrível que pareça, adora<br />

a comida notoriamente portuguesa<br />

do restaurante Poleiro.<br />

Chakall sai com frequência nas<br />

colunas sociais das revistas cor-derosa,<br />

o que contrasta com a sua imagem<br />

de homem desprendido. Do<br />

sedutor aventureiro. “Não tenho<br />

nada a ver com esse universo. Claro<br />

que uso a sedução, às vezes intencionalmente”.<br />

Um homem bonito, a<br />

falar de cozinha afrodisíaca, causa<br />

sensação entre as mulheres. “É<br />

como perguntar se o tango é sensual.<br />

No restaurante Bicaense fazia<br />

um bolo de chocolate com ingredientes<br />

afrodisíacos que tinha imenso<br />

sucesso. Os empregados de mesa<br />

entregavam-me bilhetinhos das<br />

comensais a convidarem-me para<br />

sair com elas, depois do jantar”. E<br />

então? “Nunca fui um libertino”.<br />

Mais umas dicas. Não dispensa a<br />

hortelã fresca nem a música de<br />

Beethoven. Só esqueci de perguntar<br />

se sabia dançar o tango. ■<br />

Lourdes Féria


PERCURSOS<br />

Talasnal: aldeia viva<br />

A estrada que serpenteia a serra da Lousã leva à descoberta<br />

de pequenas aldeias de xisto que pararam no tempo. Por ali já<br />

poucos são os que teimam em ficar. No Talasnal parece mesmo<br />

não haver ninguém, mas ao fim-de-semana transforma-se e<br />

ganha a alegria de outros tempos.<br />

A CORTINA que esvoaça ao vento,<br />

saída da larga porta de madeira do<br />

curral por baixo da casa de habitação,<br />

é o único sinal de que a aldeia<br />

não está só.<br />

O silêncio apenas é quebrado<br />

pelos próprios passos que caminham<br />

sobre passeios de xisto, cuidadosamente<br />

acompanhados por<br />

um gato preto que teima em fazer<br />

amizade. É sexta-feira e o sol já está<br />

a desaparecer por detrás das montanhas<br />

que circundam a aldeia.<br />

Ao longe ainda se avistam os terrenos<br />

de cultivo em socalcos, votados<br />

ao abandono, e um ou outro<br />

palheiro que ainda se mantém de<br />

pé, lutando contra a ruína. Já não<br />

há gado a pastar pelas encostas e as<br />

silvas tomam conta das pequenas<br />

fazendas, enleando-se em armadilhas<br />

intransponíveis.<br />

Os vários tons de xisto pincelam<br />

as casas, muitas recuperadas com a<br />

ajuda de fundos comunitários mantendo<br />

sempre a traça original. O<br />

longo e penoso trabalho que no<br />

passado colocou pedra sobre pedra<br />

deixou de conseguir enganar o tempo<br />

e várias casas vão-se desmoronando<br />

lentamente.<br />

Durante a semana não se vê<br />

ninguém, mas aos fins-de-semana a<br />

aldeia enche-se novamente de vida,<br />

bem diferente da que em tempos<br />

36 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

conheceu. Forasteiros dos quatro<br />

cantos do país, e até de além-fronteiras,<br />

descobrem o acidentado caminho<br />

de curvas e contra-curvas da<br />

estrada em terra batida que parte<br />

das imediações da cidade da Lousã<br />

e passa por várias povoações de<br />

xisto, praticamente desertas.<br />

Há anos que se luta por uma estrada<br />

de alcatrão, mas os ambientalistas<br />

opõem-se e até os visitantes reclamam<br />

porque acreditam que assim<br />

chegará o «turismo de massas»,<br />

conta Amélia Dias, uma das proprietárias<br />

do restaurante Ti’Lena.<br />

É o único restaurante que existe<br />

na aldeia, funciona por marcação e<br />

apenas aos fins-de-semana. Este<br />

espaço nasceu depois do filho de<br />

Amélia Dias ter descoberto o Talasnal<br />

num acampamento de escuteiros.<br />

Apaixonou-se de tal forma<br />

pela povoação que acabaria por convencer<br />

a família a visitar a aldeia.<br />

Cativada, Amélia juntou-se com a<br />

irmã Lizete Dias numa sociedade<br />

que funciona com muita dedicação.<br />

Durante a semana, Amélia vive e<br />

trabalha em Coimbra, mas à sextafeira<br />

ruma com a irmã Lizete, de<br />

Leiria, para a Serra da Lousã.<br />

«As compras são feitas durante a<br />

semana, como se fosse para a minha<br />

própria casa», conta Amélia animada.<br />

«Não há quem queira trazer as


coisas para aqui, temos que transportar<br />

tudo sozinhos», resume,<br />

salientando que a excepção é feita<br />

pelo fornecedor que traz a carne de<br />

cabra, criada nos arredores.<br />

A chanfana é uma das especialidades<br />

da casa que está decorada de<br />

forma rústica. Nas paredes, de xisto<br />

à vista, figuram vários objectos das<br />

lides agrícolas e uma lareira ladeada<br />

por bancos em pedra convida a<br />

horas esquecidas de conversa.<br />

Todos parecem conhecer-se há<br />

muito. Turistas trocam longas palavras<br />

entre eles e as proprietárias<br />

juntam-se à tertúlia. Fala-se de<br />

tudo, mas os segredos das receitas<br />

ficam bem guardados.<br />

OLHAR DE OUTROS TEMPOS<br />

Ti’Lena é mais do que um restaurante,<br />

aliás não foi baptizado com<br />

este nome por acaso. É uma homenagem<br />

à mais velha dos quatro<br />

habitantes permanentes do Talasnal.<br />

Tem mais de 80 anos e nos<br />

olhos de azul profundo lêem-se<br />

tempos de duro trabalho no campo.<br />

De lenço na cabeça, sentada à<br />

porta da loja de artesanato da filha,<br />

que também aos fins-de-semana<br />

abre portas, conta histórias que a<br />

memória não apaga. Lembra os<br />

tempos passados na cidade da<br />

Lousã, enquanto a filha estudava, e<br />

o choque que foi regressar à aldeia.<br />

«Todos os dias chorava, mas acabei<br />

por me habituar. Agora já não me<br />

importo», conta.<br />

Os “invasores” de fim-de-semana<br />

não a incomodam. Também a eles<br />

se habituou. São caras novas que<br />

por vezes se repetem, pessoas de<br />

passagem que ficam tempos esque-<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 37


PERCURSOS<br />

cidos à conversa. É como se todos se<br />

conhecessem, como se naquele<br />

momento todos vivessem na mesma<br />

aldeia.<br />

Com o som da água que corre<br />

sem parar como fundo, ti’Lena lembra<br />

com saudade o tempo em que<br />

se apanhava a azeitona e quando os<br />

dois lagares estavam a funcionar.<br />

Produziam-se muitos litros de<br />

azeite na aldeia, de qualidade «até o<br />

cheiro era outro, notava-se que era<br />

bom». Depois dos lagares fecharem<br />

ainda se fez azeite durante algum<br />

tempo num lagar de uma povoação<br />

vizinha, mas uma vez «misturaram<br />

qualquer coisa e nem para as lamparinas<br />

da igreja servia. Cheirava<br />

mal. Parecia que tinha óleo de carro<br />

misturado. Foi tudo para o lixo».<br />

Apesar de terem insistido, ti’Lena<br />

nunca fez queixa do sucedido, mas<br />

o lagar acabou por fechar.<br />

No Talasnal ainda se mantêm as<br />

38 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

videiras seculares. Ti’Lena está sentada<br />

por baixo de uma que já ali<br />

estava quando nasceu. «Tem mais<br />

de 200 anos», assegura. As uvas são<br />

morangueiras e tão doces que<br />

apetece comer muitas. São de todos<br />

e podem-se provar sem receio.<br />

Nesta pequena aldeia ainda se<br />

pode beber um licor ou aguardente<br />

de bolota, castanha, medronho ou<br />

mel, preparado como antigamente.<br />

São sabores que se mantêm e se<br />

encontram tanto na loja de artesanato,<br />

onde se compram os talasni-<br />

cos (bolos típicos), como no restaurante<br />

ou no Curral. O bar que funciona<br />

numa das casas recuperadas,<br />

onde os bancos são troncos de<br />

madeira e as mesas grandes lajes de<br />

lousa. Nas paredes de pedra estão<br />

expostos utensílios de outros tempos:<br />

cadimas – espécie de serrote<br />

usado por duas pessoas que serviam<br />

para cortar tábuas; um ou outro<br />

mangual – instrumento que servia<br />

para bater o milho nas debulhas;<br />

várias turqueses, entre outros. Nos<br />

barrotes do tecto, vários papéis pendurados<br />

com dedicatórias são testemunhos<br />

de quem por aqui passou.<br />

É possível pernoitar na maior das<br />

sete aldeias serranas da Lousã. Mas,<br />

à excepção da Casa de Abrigo, todas<br />

as habitações para alugar pertencem<br />

a particulares e podem ser<br />

reservadas por telefone. ■<br />

Maria Leonor Vicente [texto]<br />

Vítor Castilho [fotos]


CENTENÁRIOS<br />

O Padre<br />

AntónioVieira<br />

e o Brasil<br />

António Vieira nasceu em Lisboa a 6 de <strong>Fevereiro</strong> de 1608<br />

e foi baptizado na Sé, vizinha de sua casa.<br />

O PAI ,<br />

de origem modesta<br />

e filho<br />

de uma mulata, casou com uma<br />

filha de um cristão-velho influente,<br />

que obteve para o genro o cargo de<br />

escrivão dos agravos da Relação da<br />

Bahia, motivo pelo qual o jovem<br />

António foi viver para o Brasil em<br />

1614, tendo sido matriculado no<br />

Colégio dos Jesuítas de Salvador.<br />

Em 1623, tendo então 15 anos de<br />

idade, ingressou na Companhia<br />

como noviço e em 1634 foi ordenado<br />

sacerdote. Em 1633, antes ainda<br />

de ordenado presbítero, já António<br />

Vieira pregara algumas vezes nas<br />

igrejas baianas, destacando-se<br />

nesse ano o Sermão Décimo<br />

Quarto, sobre as condições dos<br />

escravos.<br />

Cedo se revelou Vieira um orador<br />

eloquente e erudito. De forma enérgica,<br />

proferiu na Bahia sermões<br />

sobre a situação dos escravos e<br />

sobre a guerra com a Holanda, pois<br />

40 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

os holandeses, vindos de Pernambuco,<br />

onde estavam desde 1630,<br />

voltaram em 1638 a tentar tomar<br />

Salvador, que já tinham ocupado de<br />

1624 a 1626. O Sermão pelo bom<br />

sucesso das armas de Portugal contra<br />

as de Holanda, proferido na<br />

Bahia em 1640, foi considerado pelo<br />

historiador setecentista francês G.-<br />

Th. Raynal o discurso mais veemente<br />

e genial jamais ouvido em<br />

púlpito cristão.<br />

Continuou o jovem sacerdote a<br />

trabalhar entre os negros e os<br />

índios, para os quais era o Paiaçu,<br />

ou seja, em tupi, o Pai Grande, promovendo,<br />

entre outros trabalhos, as<br />

escolas de ensino elementar nas<br />

aldeias, quando em 1641 foi integrado<br />

na delegação que foi a Lisboa<br />

felicitar o Rei D. João IV pela sua<br />

ascensão ao trono.<br />

O novo monarca depressa se<br />

apercebeu dos méritos de Vieira e<br />

passou a contá-lo como seu conse-<br />

lheiro, a quem considerava o maior<br />

homem do mundo. Foi Vieira,<br />

segundo Oliveira Martins, o João<br />

das Regras de D. João IV. Já então os<br />

lisboetas se haviam habituado a<br />

encher a Igreja de São Roque, atraídos<br />

pela fama dos seus sermões nos<br />

quais, além de cuidar das coisas de<br />

Deus, cuidava também das coisas<br />

da Pátria, exortando os fiéis a cumprirem<br />

as suas obrigações perante o<br />

Estado e a cuidarem do bem comum<br />

porque, adveria ele, sabei<br />

cristãos, sabei príncipes, sabei ministros,<br />

que se vos há-de pedir estreita<br />

conta do que fizestes.<br />

O Padre António Vieira viveu no<br />

Brasil durante mais de cinquenta<br />

anos, intervalados por quatro estadas<br />

mais ou menos prolongadas<br />

em Portugal e em outros países<br />

europeus, e morreu na Bahia a 18<br />

de Julho de 1697, aos 89 anos de<br />

idade. Mesmo quando ausente, o<br />

Brasil e as suas gentes estiveram


sempre presentes nas suas preocupações<br />

e na sua acção, religiosa,<br />

política ou diplomática. Sobre isto<br />

nos ocuparemos, deixando de lado<br />

tantos outros aspectos relevantes<br />

da sua notável, vasta e multifacetada<br />

biografia.<br />

A primeira vez que Vieira se<br />

referiu aos problemas do Brasil foi<br />

na Carta Anua de 1626, em que em<br />

nome da Companhia de Jesus relata<br />

os mais recentes acontecimentos,<br />

sobretudo a tomada da Bahia pelos<br />

holandeses, e se manifesta contra a<br />

escravização dos indígenas do<br />

Norte, cujos costumes e tradições<br />

relata.<br />

Crítico dos abusos do poder exercido<br />

no Brasil pelos reinóis, Vieira<br />

declara em 1641 na Bahia perante o<br />

Vice-Rei: Perde-se o Brasil, Senhor,<br />

porque alguns ministros de Sua<br />

Majestade não vêm cá buscar nosso<br />

bem, vêm buscar nossos bens…<br />

Com idêntica argumentação, vinte<br />

e um anos mais tarde, no Maranhão,<br />

apontou Vieira a causa da<br />

decadência moral daqueles domínios:<br />

a desonestidade, as injustiças,<br />

a tirania, os desmandos e o<br />

abuso do poder constituído.<br />

EM<br />

1643, na Proposta a El-<br />

Rei D. João IV, Vieira<br />

manifesta-se favorável aos cristãosnovos<br />

e apresenta um plano de<br />

recuperação económica do País,<br />

que conta com a inclusão dos financeiros<br />

hebraicos. Esta proposta suscita<br />

a oposição firme do Santo<br />

Ofício e da Santa Sé mas merece o<br />

apoio do Rei. A sua ideia irá ser<br />

finalmente acolhida na criação, por<br />

diligências de Vieira, da Companhia<br />

Geral do Comércio do<br />

Brasil, em 1649, que admitia a participação<br />

de capitais judeus para o<br />

desenvolvimento da economia<br />

brasileira.<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 41


CENTENÁRIOS<br />

Perante a ocupação holandesa do<br />

Nordeste brasileiro, à Coroa punhase<br />

o problema de não renunciar ao<br />

seu domínio, ainda que para tal<br />

fosse necessário pagar um preço<br />

elevado. E nessas negociações teve<br />

Vieira participação muito activa.<br />

Acusada de não se opor com a energia<br />

e os meios necessários à presença<br />

holandesa no Brasil, à Coroa<br />

portuguesa não convinha hostilizar<br />

demasiado os flamengos, tendo em<br />

conta a sua ocupação de Angola e a<br />

necessidade de Portugal ter aliados<br />

na Europa contra os Espanhóis.<br />

Mas foram os próprios brasileiros os<br />

autores da solução militar que poria<br />

termo ao domínio flamengo, com as<br />

vitórias decisivas nas batalhas de<br />

Guararapes (1648 e 1649). Por coincidência,<br />

foi também pela força das<br />

armas que, no mesmo ano de 1649,<br />

Portugal recuperou aquele território<br />

africano, tão importante<br />

42 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

O 2.º centenário da morte<br />

de António Vieira foi<br />

assinalado com uma lápide<br />

no adro da Sé de Lisboa.<br />

A inscrição é da autoria<br />

do 2.º Visconde de Castilho.<br />

NA FREGUEZIA DA SÉ DE LISBOA<br />

AOS 6 DE FEVEREIRO DE 1608<br />

DE CHRISTOVAM VIEIRA RAVASCO E D. MARIA DE AZEVEDO<br />

NASCEU O GRANDE<br />

PADRE ANTÓNIO VIEIRA<br />

DA COMPANHIA DE JESUS<br />

POLITICO, MISSIONARIO, CLASSICO, MORALISTA, ORADOR,<br />

DEFENSOR DOS FRACOS E DOS OPPRIMIDOS,<br />

SEMPRE PATRIOTA<br />

E ESPELHO DE VIRTUDES CHRISTÃS,<br />

ORNAMENTO E GLÓRIA DA NOSSA TERRA PORTUGUEZA.<br />

ESTA MEMORIA SE MANDOU AQUI POR<br />

AOS 18 DE JULHO DE 1897<br />

2º CENTENARIO DO FALLECIMENTO DO P. ANTONIO VIEIRA<br />

NA CIDADE DA BAHIA<br />

para o progresso do Brasil porque,<br />

como observou o Padre António<br />

Vieira, todo o debate agora é sobre<br />

Angola e é matéria em que não hãode<br />

ceder, porque sem negros não há<br />

Pernambuco e sem Angola não há<br />

negros. Há que referir que Vieira,<br />

de acordo com o pensamento da<br />

época, não era contra a escravatura<br />

negra. Era, sim, ardente defensor<br />

perante os colonos da dignidade<br />

dos escravos, também filhos de<br />

Deus, e do bom tratamento que<br />

lhes deveria ser dado.<br />

EM<br />

1653 o Padre António<br />

Vieira regressa ao Brasil,<br />

como fundador efectivo da Missão<br />

do Maranhão e Pará, com um<br />

decreto da libertação dos índios, e<br />

profere o primeiro grande sermão<br />

contra a escravização dos indígenas,<br />

o Sermão das Tentações. Em<br />

1654, embarca de novo para Lisboa,<br />

para obter mais diplomas favoráveis<br />

aos índios, regressando ao<br />

Maranhão no ano seguinte, levando<br />

consigo a Lei de 1655, ao abrigo<br />

das quais ele próprio obteve a<br />

redução pacífica dos índios Nheengaíbas,<br />

realizada nas selvas do Pará<br />

em 1659, cerimónia que Vieira<br />

descreve em carta a El-Rei, contando<br />

que, acabado o juramento, os<br />

índios foram abraçar todos os presentes,<br />

e era coisa da muito para<br />

dar graças a Deus ver os extremos<br />

de alegria e verdadeira amizade<br />

com que se davam e recebiam estes<br />

abraços, e as coisas que a seu modo<br />

diziam entre eles.<br />

Ocupa-se também o Padre em<br />

redigir o Regulamento das Aldeias,<br />

no governo das quais a Companhia<br />

de Jesus tinha um papel proeminente,<br />

em prejuízo do poder civil.<br />

Por isso, quando em 1661 a Câmara<br />

do Pará manifestou a necessidade


de empreender entradas no sertão<br />

para fazer escravos, retorquiu<br />

Vieira que as dificuldades da terra<br />

não provinham só da falta de<br />

escravos, o que bastou para ser<br />

expulso do Maranhão pelos colonos<br />

e mandado para Portugal, onde no<br />

ano seguinte, no Sermão da<br />

Epifania, pregado na Capela Real,<br />

de forma veemente defende os missionários<br />

e ataca os colonos. Sobre<br />

esta prédica, escreveu Camilo<br />

Castelo Branco: Vieira comoveu até<br />

às lágrimas e fez que a santa liberdade<br />

volvesse à América a estalar as<br />

gargalhadas do Índio e a cicatrizarlhe<br />

as vergastadas do tagante.<br />

Em 1681 regressa Vieira ao Brasil,<br />

como superior da vice-província do<br />

Maranhão e Grão Pará, cargo que já<br />

havia exercido entre 1653 e 1656, e<br />

retoma o seu ritmo de vida, incessantemente<br />

visitando as missões e<br />

as aldeias sob a sua jurisdição. Em<br />

1688 é nomeado Visitador Geral dos<br />

Jesuítas no Brasil, cargo a que resigna<br />

em 1691. Naquele mesmo ano<br />

de 1688 intervém na questão dos<br />

negros fugitivos do quilombo dos<br />

Palmares e defende de novo a liberdade<br />

dos índios, nomeadamente<br />

contra a pretensão dos paulistas de<br />

os utilizar na mineração do ouro,<br />

então descoberto.<br />

ALÉM<br />

de escritor, pregador,missionário,<br />

conselheiro político, diplomata,<br />

defensor dos direitos dos<br />

índios, dos negros e dos judeus, facetas<br />

em que sobressaíram o seu<br />

génio literário (Fernando Pessoa<br />

chamou-lhe Imperador da língua<br />

portuguesa), a sua vastíssima cultura,<br />

as suas notáveis qualidades<br />

intelectuais e uma rara determinação<br />

e coragem na luta pelos seus<br />

ideais, o Padre António Vieira cul-<br />

tivou ainda a faceta de visionário,<br />

auspiciando para o seu País o papel<br />

redentor reservado pelas profecias<br />

ao Quinto Império. Como bem<br />

escreveu Aníbal Pinto de Castro,<br />

nas cortes da Europa como nos<br />

sertões do Brasil, foi Vieira verdadeiramente,<br />

pelo pensamento,<br />

pela acção e pela palavra, o homem<br />

que viveu o seu tempo sob a carga<br />

dos problemas e, por conseguinte,<br />

dos dramas que afligiam esse<br />

tempo. E fê-lo fundindo num todo<br />

indissolúvel duas sociedades, ao<br />

mesmo tempo tão ligadas e tão<br />

diferentes, como eram a sociedade<br />

do Reino e as que a prolongavam<br />

na outra margem do Atlântico. Mas<br />

foi também, com uma paixão não<br />

menos veemente, um apóstolo do<br />

Reino de Cristo que visionou para a<br />

Humanidade, sob a égide de Portugal.<br />

■<br />

Mário Quartin Graça<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 43


VIAGENS<br />

VALÊNCIA<br />

Valência é uma cidade mediterrânica pela luz, pelo clima e pelomodo<br />

de viver e sentir das suas gentes. Moderna na expressão arquitectónica<br />

de vanguarda, conserva ao mesmo tempo um centro histórico carregado<br />

de sinais de um passado ligado aos tempos da Reconquista.<br />

Luz do Levante<br />

A CAPITAL da Comunidade Valenciana<br />

tem sido notícia nos últimos<br />

anos pela renovação urbana que ao<br />

longo do rio Túria dotou a cidade<br />

de notáveis exemplares de arquitectura<br />

vanguardista, como a Cidade<br />

das Ciências e das Artes, uma estrutura<br />

polivalente que tem objectivos<br />

lúdico-culturais e integra um<br />

Museu das Ciências, um Planetário,<br />

um Palácio das Artes e um Museu<br />

Oceanográfico. Uma das imagens<br />

mais recentes acrescentadas à paisagem<br />

urbana dessa zona da cidade<br />

é precisamente o Palácio de Artes<br />

Rainha Sofia, assinado pelo arquitecto<br />

espanhol Santiago Calatrava.<br />

Mas de Valência há também que<br />

lembrar alguma história, dessa com<br />

maiúscula, para que se faça um<br />

44 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

pouco de luz sobre a sua identidade.<br />

O animado passado de<br />

Valência pede, por exemplo, uma<br />

visita ao Museu do Ayuntamiento<br />

para observar de perto a espada de<br />

D. Jaime I, pousada junto do<br />

estandarte içado na Torre Isab-El-<br />

Shaddar pelos mouros em sinal de<br />

rendição às hostes cristãs, no ano<br />

de 1238. Muita da memória de<br />

Valência passa exactamente pelos<br />

tempos turbulentos da Reconquista.<br />

A cidade foi arrebatada ao<br />

domínio muçulmano por El Cid,<br />

voltando a cair de novo nas mãos<br />

dos Almorávidas, antes de regressar<br />

à posse dos cristãos.<br />

Da Valência árabe muito pouco<br />

ficou, destruídas que foram as<br />

mesquitas para sobre elas implantar<br />

templos cristãos. As muralhas<br />

árabes tiveram o mesmo destino e<br />

apenas noutros lugares da Comunidade<br />

encontramos vestígios significativos<br />

de fortificações: as de<br />

Morella, que El Cid também conquistou<br />

para a coroa castelhana, e<br />

as de Xátiva, terra natal de Ribera.<br />

O Almudín, que se sabe ter sido<br />

armazém de cereais, pode ser um<br />

resquício do antigo Alcázar de<br />

Valência, mas esta é, de momento,<br />

apenas uma hipótese adiantada por<br />

historiadores e arqueólogos.<br />

CALEIDOSCÓPIO MONUMENTAL<br />

Em Valência os passos do viajante<br />

perdem-se também com prazer<br />

pelo centro histórico, um espaço de<br />

mil rostos que reflectem o percurso


VIAGENS<br />

histórico de uma cidade mediterrânica.<br />

É uma zona caracterizada<br />

por um verdadeiro caleidoscópio<br />

de estilos arquitectónicos, desde as<br />

medievas torres da Porta de<br />

Serranos até ao edifício modernista<br />

do Banco de Valência, com bela<br />

azulejaria da região na fachada.<br />

A Catedral de Santa Maria, de<br />

raiz medieval, é um edifício compósito,<br />

tal como outros templos da<br />

cristandade. Ergueu-se primeiro<br />

sobre uma mesquita que, ao tempo<br />

da conquista de Valência aos<br />

muçulmanos, El Cid decidiu consagrar<br />

a São Pedro ou à Virgem<br />

Maria, não se sabe bem. O templo<br />

acabou por incorporar elementos<br />

46 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

arquitectónicos românicos, góticos,<br />

renascentistas e barrocos. A grande<br />

nave central filia-se no gótico cisterciense,<br />

como gótica é também a<br />

torre-campanário, ex-libris da Valência<br />

antiga e ícone de postais.<br />

Belas são também as três portas do<br />

templo: a gótica Puerta de los<br />

Apóstoles, a Puerta de la Almoina,<br />

românico-bizantina, e a Puerta de<br />

los Hierros, de perfil barroco.<br />

Vale a pena circular também, com<br />

tempo, pela curiosíssima Praça Redonda,<br />

uma praça fechada que<br />

desde manhã cedo se anima com<br />

um mercado de livros usados e pássaros.<br />

E finalmente, a concluir este<br />

breve périplo pelo centro histórico,<br />

não se pode perder pelo menos<br />

uma passagem sob o arco da réplica<br />

valenciana da Ponte dos Suspiros.<br />

"LO QUE EXISTE EN VALENCIA<br />

ES EL AIRE"<br />

Em expressão estereotipada, fogo e<br />

pólvora estão no sangue dos valencianos.<br />

As tradições festivas são<br />

desse facto um eloquente testemunho,<br />

sublinhado ainda por uma<br />

expressão que registei precisamente<br />

por aquelas bandas: " Quando nasce<br />

uma criança valenciana, fazem-lhe<br />

uma transfusão e metem-lhe 5% de<br />

pólvora nas veias". E a dita substância<br />

far-se-á companhia de toda uma<br />

vida, uma vez que petardos e


AS FALLAS<br />

Fogo e pólvora<br />

É uma da festas mais conhecidas e<br />

populares de Espanha, o que não é<br />

dizer pouco a propósito do<br />

calendário festivo de um país que<br />

acumula, precisamente, um<br />

"excesso" de festas que se afirmam,<br />

por sua vez, por uma certa<br />

"excessividade". As Fallas é uma<br />

das que mais gente atrai, e todos<br />

os anos, em Março, Valência é o<br />

destino de milhares de turistas em<br />

busca da vertigem de uma<br />

celebração que mergulha as suas<br />

raízes em ritos ancestrais.<br />

O registo mais próximo assinala o<br />

ano de 1889 como o de início da<br />

tradição. A coisa pode ter tido<br />

origem na queima pública de<br />

madeira velha, numa grande<br />

fogueira em honra de S. José,<br />

patrono dos carpinteiros. A relação<br />

com as fogueiras pagãs do solstício<br />

de verão, associadas pelo<br />

cristianismo ao culto dos santos, é<br />

também evocada para explicar a<br />

génese das Fallas.<br />

Actualmente, as fogueiras<br />

consomem muitas dezenas de<br />

enormes estruturas, as "fallas",<br />

rodeadas por figuras modeladas em<br />

cartão, os "ninots". O conjunto<br />

caricatura de forma satírica<br />

personagens e acontecimentos<br />

públicos. Algumas das "fallas"<br />

chegam a ter quase vinte metros de<br />

altura e podem pesar mais de oito<br />

toneladas. Há em Valência dezenas<br />

de oficinas de produção de "fallas" e<br />

conta-se em cerca de três centenas<br />

os artistas consagrados à sua<br />

idealização e execução.<br />

A "nit del foc" (noite do fogo)<br />

constitui o clímax da semana<br />

"fallera". À meia-noite do dia 19 de<br />

Março tem início a grande imolação<br />

das peças, entre explosões dos<br />

petardos e música das bandas. A<br />

última "falla" a arder é a que se<br />

ergue na praça do município. É aí<br />

que se assiste ao culminar desse<br />

delírio pirotécnico, uma<br />

espectacular apoteose de fogo e<br />

pólvora.■<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 47


VIAGENS<br />

foguetes são ali os primeiros convidados<br />

de qualquer celebração. Não<br />

há noivos que não partam para a<br />

lua-de-mel a cheirar a pólvora: nenhum<br />

enlace valenciano tem validade<br />

sem o rebentamento nesse dia<br />

de uma vigorosa "mascletá".<br />

Entre as festas mais agitadas, como<br />

são todas as da Comunidade Valenciana,<br />

as Fallas serão talvez as mais<br />

conhecidas (ver caixa). Mas há outros<br />

momentos igualmente significativos<br />

da folia valenciana que inundam de<br />

pólvora os dias festivos, como as festas<br />

de Moros y Cristianos, encenações<br />

das velhas lutas entre cristãos<br />

e sarracenos na época da Reconquista.<br />

A mais impressionante de todas<br />

tem lugar alguns quilómetros a<br />

sul de Valência, em Alcoy. Todos os<br />

anos, em Abril, milhares de figurantes<br />

representando ambos os exér-<br />

48 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

citos, cristão e muçulmano, saltam<br />

para a rua, envolvendo-se em "batalhas<br />

urbanas" com arcabuzes e muita<br />

pólvora seca.<br />

A cidade mediterrânica raramente<br />

perde a sua proverbial claridade,<br />

e um passeio até ao litoral, à emblemática<br />

praia de Malvarosa, reforça<br />

a imersão nessa luz tão mag-<br />

VIAGENS INATEL<br />

Com partidas de Santarém, Lisboa,<br />

Setúbal e Évora, o <strong>Inatel</strong> tem programada,<br />

entre 16 e 21 de Março<br />

próximo, por altura das Fallas, uma<br />

viagem a Valência. Preço: 550 euros<br />

por pessoa em quarto duplo.<br />

Informações e reservas nos balcões<br />

de venda da sede e delegações do<br />

Instituto.<br />

nificamente pintada pelos pintores<br />

valencianos. Azorín, que viveu<br />

algum tempo em Valência (e publicou<br />

as suas impressões dessa experiência<br />

num volume memorialístico<br />

intitulado Valencia y Madrid) assinalou<br />

justamente que "Valencia es<br />

la tierra de los pintores. Y de los<br />

pintores desposados con la luz".<br />

Azorín conheceu na intimidade<br />

essa luz que ilumina tantos quadros<br />

de Sorolla (visitáveis nos acervos<br />

museológicos da cidade), e foi certamente<br />

nessa luminosidade tão<br />

serena quanto sensual que terá<br />

pensado quando escreveu que "no<br />

la color, sino el aire es lo qua ha pintado<br />

Sorolla". E porquê? Ele mesmo<br />

esclarece. Por uma razão tão elementar<br />

como a de que "lo que existe<br />

en Valencia es el aire". ■<br />

Humberto Lopes [texto e fotos]


A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES<br />

A adamantina algarvia<br />

Há uns 20 anos, ninguém queria saber da alfarrobeira (Ceratonia Siliqua L.). Hoje, há ladrões<br />

de alfarroba. Na década de 80, muitos agricultores algarvios cortaram as árvores centenárias,<br />

substituindo-as por pomares de laranja. Hoje, o reconhecimento do valor ecológico e<br />

económico desta espécie mediterrânica, pertencente à família das Leguminosae, já levou à<br />

destruição de alguns laranjais.<br />

Apesar de, actualmente, a alfarrobeira ser considerada<br />

uma “árvore do futuro” – devido à<br />

capacidade em absorver as emissões de CO2,<br />

produzir bioetanol (combustível passível de<br />

ser misturado com os derivados do petróleo) e sobreviver<br />

a uma baixa precipitação (cerca de 200 mililitros),<br />

só para resumir algumas das suas muitas virtudes – há,<br />

ainda, quem venda ou destrua espécimes centenários.<br />

Conforme noticiou o jornal PÚBLICO, de 7 de<br />

Dezembro 2007, algumas alfarrobeiras, salvas da Via<br />

Infante de Sagres, foram vendidas para empreendimentos<br />

de luxo no Algarve mas também para Espanha,<br />

Dubai, China e Austrália, encontrando-se o negócio da<br />

50 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

exportação numa fase de crescimento. A mesma notícia<br />

informava que “uma alfarrobeira de quatro metros de<br />

altura e mais de cem anos” pode ser vendida pela módica<br />

quantia de “2500 euros”.<br />

Se considerarmos prioritária a rentabilidade de uma<br />

alfarrobeira é sabido que algumas das mais antigas – como<br />

a que visitamos na Quinta da Parra, em Olhão, possivelmente<br />

milenar, embora a Direcção Geral dos Recursos<br />

Florestais lhe tenha atribuído 600 anos – são capazes de<br />

produzir mais alfarroba do que todo um pomar.<br />

José Martins Dias, proprietário da terra onde se<br />

encontra a majestosa alfarrobeira olhanense, uma das<br />

maiores do País (são precisas nove pessoas para a


abraçar, tem 15 metros de perímetro e chega a produzir<br />

cerca de 250 m2 de sombra), preservou esta árvore não<br />

por pensar na sua produtividade, embora num ano<br />

tenha ensacado 550 quilos de alfarroba, quando o peso<br />

médio por árvore é de 65 quilos.<br />

Quando há uns anos, os técnicos da Inspecção Geral<br />

da Agricultura e Pescas exigiam o abate das alfarrobeiras<br />

antigas, na sequência de pretender plantar um pomar de<br />

laranjas, verificou que cientificamente nada o justificava<br />

e decidiu mantê-las. Por isso, no seu laranjal os jovens<br />

citrinos coabitam com as alfarrobeiras centenárias.<br />

Por seu turno, José Viegas Bota, descendente de uma<br />

família ligada à indústria da transformação e comercialização<br />

de frutos secos algarvios, lembra com tristeza o<br />

facto de aos 37 anos ter cortado uma alfarrobeira, que<br />

pela sua descrição, deveria ser tão grandiosa quanto a<br />

da Quinta da Parra. “Estas árvores são como pessoas,<br />

até hoje lamento tê-la cortada para fazer o pomar”, confessa<br />

o comerciante octogenário, que cedeu algumas<br />

das suas antigas máquinas de pesar e triturar alfarroba<br />

ao actual Pólo Museológico dos Frutos Secos, gerido<br />

pela Câmara Municipal de Loulé.<br />

Segundo Manuel Caetano, presidente da AIDA,<br />

Associação Interprofissional para o<br />

Desenvolvimento da Produção e Valorização<br />

da Alfarroba, também com sede louletana,<br />

“há uma alfarrobeira em Tenência, perto de<br />

Castro Marim, que num ano produziu uma<br />

tonelada de alfarroba”.<br />

Não obstante, a beleza e vitalidade das<br />

muitas alfarrobeiras algarvias, introduzidas na<br />

Península Ibérica pelos árabes (a origem da<br />

palavra é al kharoubah) e que os animais<br />

semearam involuntariamente através dos seus<br />

excrementos, até aos anos 40, conforme nos explicou<br />

Manuel Caetano, o futuro da alfarrobeira passa pelo<br />

chamado “pomar industrial”, ou seja o plantio intensivo<br />

e em fileiras de árvores destinadas a alimentar vários<br />

tipos de comércio, bem como a introdução de espécimes<br />

clonados que garantam a obtenção do fruto de melhor<br />

qualidade e origem geneticamente identificável. Este<br />

apuramento da “raça” e intensificação do plantio não<br />

poderá pôr em causa a biodiversidade? Manuel Caetano,<br />

também presidente da Danisco Portugal, sucursal<br />

farense de uma multinacional com sede na Dinamarca,<br />

que transforma a alfarroba em vários produtos alimentícios,<br />

assegura que a biodiversidade está garantida pela<br />

reserva de 65 mil hectares de pomar misto/sequeiro e 13<br />

mil hectares de matorral e que é pela “cultura in vitro”<br />

(“propagação meristemática”) que se preservam as espé-<br />

Fotografia: Susana Neves<br />

cies: “Mulata, Galhosa, Canela, AIDA, Gasparinha e<br />

Costeloa.”<br />

“Com a possibilidade de virem a ser plantados mais 8<br />

mil hectares de alfarrobeira industrial, segundo indicação<br />

do Quadro Comunitário de Apoio (2007-13)”, e<br />

sendo crescente a valorização da alfarroba, sobretudo<br />

da semente, que representa 10% do fruto, e cuja goma<br />

tem igualmente aplicabilidade nas indústrias farmacêutica<br />

e cosmética, há sempre o risco de condenar a alfarrobeira<br />

a uma vida de trabalhos forçados, cujo impacto<br />

negativo não deixaria de se fazer sentir.<br />

Quando em tempos remotos se usavam as<br />

sementes da alfarroba como unidade de peso<br />

do diamante, chamando-se por isso quilates,<br />

não se pensaria na alfarrobeira como um verdadeiro<br />

tesouro natural, de natureza<br />

adamantina, ou seja resistente, capaz de<br />

guardar a sombra e a luz, e observar do alto<br />

da sua copa de folhas perenes a urgência e o<br />

ruído próprios aos seres demasiado efémeros.<br />

É que se o nome científico se diz apenas de<br />

uma maneira, Ceratonia vem do grego Keras que quer<br />

dizer corno, e siliqua é um termo latim que alude à dureza<br />

da vagem, nunca é demais recordar que alfarrobeiras há<br />

muitas e cada povo as conhece à sua maneira, vejamos<br />

alguns exemplos: garrofero (Espanha), carrubo (Itália)<br />

charaoupi (Grécia), St. John`s bread (Inglaterra), Charnup<br />

(Turquia), chiao-tou-shu (China), gelenggang (Malásia) e<br />

chum het tai (Tailândia).<br />

Antevendo o seu futuro no Algarve, José Martins<br />

Dias diz: “Quando for mais velho e precisar de andar<br />

de carrinho de rodas desejo que me tragam até esta<br />

alfarrobeira, quero passar o dia todo debaixo dela, a<br />

beber uma laranjada”. Assim seja! E que não nos faltem<br />

os doces e o licor de alfarrobeira, para degustar com<br />

moderação, como aconselham aqueles que conhecem a<br />

sua grandeza. ■<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 51


PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID<br />

Motivos de orgulho<br />

Ver a democracia política consolidada em todos os países de língua portuguesa constitui<br />

um motivo de orgulho no mundo lusófono. Praticamente desapareceram as tensões político<br />

militares que eram uma constante há uns anos atrás, em África e em Timor Leste.<br />

Oestado de desenvolvimento também oferece<br />

bons augúrios. Angola regista um crescimento<br />

enorme, ao mesmo tempo que se<br />

desenvolvem esforços para a reconstrução e<br />

qualificação das pessoas, uma tarefa que exige uma<br />

grande coesão nacional e o desenvolvimento das parcerias<br />

adequadas com parceiros internacional, onde, aliás,<br />

Portugal tem desempenhado um papel relevante. As<br />

eleições legislativas acabam de ser marcadas para 2009, o<br />

que permitirá novas legitimidades políticas.<br />

Moçambique é por esta altura fustigado pelas cheias<br />

do Vale do Zambeze, mas tem sido mais fácil socorrer as<br />

populações afectadas, com a situação política estabilizada.<br />

Moçambique é também uma economia florescente<br />

e, por exemplo, as suas zonas turísticas estão muito<br />

desenvolvidas com oferta de qualidade, desde o<br />

Maputo ao Rovuma. O parlamento moçambicano é um<br />

órgão político com larga representação de mulheres e o<br />

espelho de uma democracia sem retrocessos.<br />

Em Cabo Verde – que é um dos países mais respeitados<br />

de África – foi o primeiro onde funcionou eficaz-<br />

52 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

mente o principio da alternância democrática. A gestão<br />

rigorosa dos meios disponíveis tem permitido ao país<br />

um crescimento sustentado.<br />

S. Tomé de Timor Leste têm algumas similitudes<br />

apesar da distância geográfica. Depois de algumas<br />

instabilidades político-militares, as crises<br />

parecem superadas e o petróleo vai contribuir<br />

de forma decisiva para melhorar a vida dos seus<br />

cidadãos, seja construção de infra estruturas adequadas,<br />

na educação e na cultura.<br />

A Guiné Bissau é o mais frágil dos países de expressão<br />

portuguesa, em termos de organização e consolidação<br />

da democracia. Contudo está a ser feito um esforço,<br />

conjugado com a comunidade internacional, que tem<br />

feito importantes doações em função do importante<br />

compromisso democrático dos principais dirigentes do<br />

país.<br />

O quadro descrito é muito sumário, mas percebe-se<br />

bem como é motivo de orgulho para todos a consolidação<br />

democrática do mundo lusófono! ■


O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ<br />

Três (ou quatro crises)<br />

Tem óbvio interesse experimentar esta espécie de exercício: as três crises que varreram o<br />

mundo, nos primeiros dias de <strong>2008</strong>, perduram um mês depois?<br />

Agravaram-se? Atenuaram-se? Extinguiram-se?<br />

Quanto a esta última alternativa, nada menos<br />

expectável, infelizmente: pelo contrário,<br />

mesmo que deixem as primeiras páginas e<br />

os prime-times, certamente que se manterão<br />

no substrato larvar das situações e das<br />

causas profundas respectivas.<br />

E cancelamento do Lisboa-Dackar, com as dúvidas que<br />

deixou no ar, constitui um dos mais visíveis sintomas<br />

dessa crise geral. É a crise mais globalizada, digamos<br />

assim. O mais dramático a nível político foi o assassinato<br />

de Benazir Bhutto no seu regresso ao Paquistão. Mas<br />

recorde-se que no próprio momento de desembarque da<br />

Senhora Bhutto, pouco mais de dois meses antes (18 de<br />

Outubro – 27 de Dezembro) perderam a vida centenas de<br />

apoiantes. E dir-se-ia que a crise mais rotineira foi a contestação<br />

ao acto eleitoral do Quénia: mas para<br />

lá das centenas de mortes em confrontos de<br />

rua, a circunstância política e geográfica da<br />

situação ocorrer num dos (até aqui!) mais<br />

estáveis países de África – a crise, nessas perspectiva,<br />

ganha foros de inesperada gravidade.<br />

Não significa isto que a vida humana e a<br />

instabilidade política tenha um valor relativo:<br />

mas no ponto de vista político, a morte de<br />

Benazir Bhutto ganha um significado que se<br />

tem de levar em conta, pelo que revela de<br />

extremismo e pelo que acarreta de efeitos<br />

destabilizadores, num país que não encontra<br />

rumo. Poderá essa instabilidade estender-se à<br />

região, na base das solidariedades profunda<br />

e das comunidades ideológicas e religiosas<br />

supranacionais? Não seria a primeira vez,<br />

como bem sabemos, que o Norte da Índia,<br />

país em tanto aspectos exemplar na execução<br />

de uma democracia em pleno desenvolvimento<br />

económico, passa por crises semelhantes, a nível local.<br />

Só que o assassinato de Benazir indicia e alimenta uma<br />

gravíssima crise global.<br />

Uma eleição contestada nas ruas pela oposição, que<br />

alega fraudes é comum. Ocorrer em África até poderá<br />

ser assinalável, num continente onde, até há pouco, não<br />

era costumeiro em eleições…Infelizmente, a tragédia<br />

das centenas de mortos também não é novidade. Mas é<br />

novidade esta fraude ser reconhecida e denunciada<br />

pelos observadores internacionais credenciados e<br />

credíveis, sem qualquer efeito prático até hoje à data de<br />

elaboração deste artigo. E que toda esta situação ocorra<br />

no Quénia, também é relativa e lamentável novidade.<br />

Efinalmente: o cancelamento do rally Lisboa-<br />

Dackar, para além do incalculável prejuízo<br />

económico, tem um efeito multiplicador complexo<br />

e profundo no que respeita ao reconhecimento<br />

da impotência face ao terrorismo internacional.<br />

Isso é muito grave: mas mais seria o atentado que certamente<br />

os serviços secretos, ao que se diz da França, alertaram<br />

em tempo.<br />

E essa crise reflecte ainda a instabilidade da Mauritânia,<br />

onde em menos de uma semana, e exactamente<br />

na semana que antecedeu o cancelamento, dois atentados<br />

vitimaram turistas e forças do exército. E aparentemente<br />

com a mesma causa e a mesma matriz, tudo o<br />

indica, do terrorismo na Argélia.<br />

Vamos ver como estão as coisas, e as crises, quando o<br />

artigo for publicado!... ■<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 53


VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR<br />

O centenário do sangue<br />

A viagem que hoje vos proponho nada tem de alegre mas vem muito a propósito,<br />

neste início de <strong>2008</strong>. Leva-nos a, exactamente, cem anos atrás, ou seja, a 1908.<br />

A 1 de <strong>Fevereiro</strong> desse ano: o dia do regicídio.<br />

É, ainda hoje, uma data<br />

«política». Mas esclareço<br />

desde já que, nesta<br />

breve crónica, não<br />

contam, de todo, as minhas<br />

ideias políticas. Estou a escrever<br />

para leitores portugueses, sejam<br />

eles republicanos, monárquicos<br />

ou indiferentes, porque o tema<br />

é, acima de tudo, nacional e<br />

porque a data se inscreve na<br />

cronologia histórica portuguesa,<br />

independentemente das nossas<br />

sensibilidades ideológicas. Como<br />

tal, ela não deve ser ignorada;<br />

como tal, é saudável que<br />

façamos sobre ela uma reflexão<br />

tão objectiva quanto possível.<br />

Por causa desse imperativo de<br />

objectividade, abstenho-me de<br />

citar aqui qualquer passagem de<br />

um documento precioso, do<br />

maior interesse psicológico e<br />

histórico: as notas íntimas escritas pelo rei D. Manuel II,<br />

que são o seu testemunho sobre a morte do rei seu pai e<br />

do príncipe herdeiro, seu irmão. Como sabemos, ele<br />

estava ao lado deste e em frente daquele, na mesma carruagem,<br />

quando ocorreu o atentado.<br />

Repito, o documento tem o maior interesse; mas,<br />

como é natural, expressa uma experiência subjectiva; é<br />

um texto comovente — mesmo porque D. Manuel<br />

escrevia bem — e, portanto, não convém para uma tentativa<br />

de análise desapaixonada. Quem o quiser ler,<br />

encontra-o facilmente na Internet.<br />

Quanto a mim, aqui e agora, estabeleço duas referências:<br />

uma, o ambiente da época; outra, os ideais políticofilosóficos<br />

dessa mesma época. E parto dessas duas<br />

referências para tentar classificar o que ocorreu há cem<br />

anos no Terreiro do Paço.<br />

O ambiente era de crise — crise, sobretudo, psicológica<br />

e moral. Não, talvez, cobrindo o país inteiro, mas,<br />

54 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

pelo menos, as elites e a camada<br />

político-administrativa. A ditadura<br />

de João Franco — temporária<br />

como declaradamente era, fórmula<br />

já usada antes no nosso liberalismo<br />

— não lograra «pôr a<br />

casa em ordem», talvez porque,<br />

afinal, era despida de ideologia;<br />

não procurava uma evolução<br />

para o sistema, mas apenas apagar<br />

fogos. A evolução, essa, seria<br />

tentada por D. Manuel II, porém<br />

não lhe deram tempo.<br />

Quanto aos ideais políticofilosóficos:<br />

havia poucos que não<br />

fossem revolucionários. Não tenho<br />

espaço para fazer aqui uma<br />

relação completa e descritiva;<br />

mas julgo que podemos considerar,<br />

«grosso modo», que os<br />

meios de onde finalmente saiu o<br />

regicídio pregavam, essencialmente,<br />

a liberdade, a fraternidade,<br />

a tolerância, o respeito pela lei. Essas são, aliás,<br />

noções maçónicas e havia muito de maçónico no campo<br />

republicano.<br />

Ora, desses altos ideais, o que saiu? Saiu um<br />

duplo assassínio, que só por acaso não foi<br />

triplo nem quádruplo. Porque a maçonaria<br />

da época se deixara contaminar pelo<br />

Grande Oriente de França e esquecera os seus verdadeiros<br />

ideais; porque os republicanos da época<br />

(ressalvadas muito honrosas excepções) meteram entre<br />

parêntesis os seus princípios humanitários; porque ganhou<br />

o instinto, o ódio e a marginalidade.<br />

Não está, pois, em causa a bondade ou a não-bondade<br />

dos ideais republicanos, enquanto ideais. Mas está em<br />

causa a qualificação do regicídio, como acto.<br />

E esse acto foi — expresso apenas a minha opinião,<br />

claro — um crime particularmente repugnante.■


BOAVIDA<br />

CONSUMO<br />

A ASAE tem sido tema<br />

dominante nos media,<br />

com notícias nem<br />

sempre abonatórias<br />

para um organismo de<br />

defesa dos<br />

consumidores.<br />

Pág. 56<br />

MÚSICAS<br />

A música brasileira em<br />

foco: Falamos de<br />

“América Brasil”, de<br />

Seu Jorge, e “O Melhor<br />

de Simone – Começar<br />

de Novo”.<br />

Pág. 62<br />

CINECLUBE<br />

O melhor e o pior na<br />

obra do genial<br />

actor/realizador Charles<br />

Chaplin nesta nova<br />

rubrica da TL dedicada<br />

ao cinema.<br />

Pág. 67<br />

INFORMÁTICA<br />

No Ano Internacional<br />

do Planeta Terra,<br />

dedicado ao Ambiente,<br />

a Informática pode<br />

ajudar na informação<br />

aos jovens.<br />

Pág. 70<br />

LIVRO ABERTO<br />

Destaque para<br />

“História do Riso”, de<br />

G. Minois, e “Fernão<br />

Lopes-Crónicas”,<br />

antologia organizada<br />

por A. Borges Coelho<br />

com ilustrações de<br />

Rogério Ribeiro.<br />

Pág. 58<br />

NO PALCO<br />

Atenção às peças em<br />

cena nos palcos do<br />

Teatro Nacional,<br />

Comuna, Teatro da<br />

Trindade e Maria<br />

Matos.<br />

Pág. 64<br />

À MESA<br />

O arroz é um<br />

extraordinário e barato<br />

alimento, capaz de<br />

proporcionar energia<br />

de elevada qualidade,<br />

fácil digestão, diversas<br />

vitaminas e minerais.<br />

Pág. 68<br />

AO VOLANTE<br />

O Qasqhai justitifica<br />

plenamente as razões<br />

para a existência de<br />

grande lista de espera<br />

na filial ibérica da<br />

Nissan...<br />

Pág. 71<br />

ARTES<br />

Exposições a reter em<br />

<strong>Fevereiro</strong>: Helena Vieira<br />

da Silva, na Fundação<br />

Arpad Szenes-Vieira da<br />

Silva, e Ray Smith e<br />

Graça Morais, no Porto.<br />

Pág. 60<br />

CINEMA EM CASA<br />

Das excelentes e, cada<br />

vez mais, numerosas<br />

novidades em DVD,<br />

seleccionamos, em<br />

<strong>Fevereiro</strong>, quatro filmes<br />

dignos da atenção de<br />

todos os cinéfilos<br />

Pág. 66<br />

SAÚDE<br />

Sabia que as crianças<br />

hiperactivas e com<br />

défice de atenção<br />

podem dar lugar a<br />

adultos com as<br />

mesmas<br />

características?<br />

Pág. 69<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 55


BOAVIDA<br />

Consumo<br />

Carlos Barbosa de Oliveira<br />

Assistimos, com maior ou<br />

menor relutância, a uma<br />

fúria legífera com epicentro<br />

em Bruxelas, assente<br />

num desvelo proibicionista que nos<br />

torna cada vez menos independentes<br />

nas opções de consumo.<br />

Esta sanha proibicionista que nos<br />

tirou da mesa os “jaquinzinhos” e<br />

os galheteiros, elevou os fumadores<br />

à condição de seres humanos de<br />

segunda, cujo convívio não é recomendável,<br />

e ameaça (para já só em<br />

Inglaterra...) privar fumadores e<br />

obesos do acesso ao Serviço Nacional<br />

de Saúde, tende a transformar<br />

os consumidores em soldadinhos<br />

de chumbo obedientes aos ditames<br />

de quem governa o mundo ou de<br />

quem o ameaça (A suspensão do<br />

Lisboa/ Dakar é apenas um exemplo<br />

recente...).<br />

Há algo de contraditório, quando<br />

se legisla de modo a coarctar a<br />

escolha dos consumidores. A contradição<br />

explica-se, porém, pela<br />

incapacidade de a União Europeia<br />

legislar contra os interesses de poderosos<br />

grupos económicos (caso<br />

contrário as cadeias de fastfood<br />

apontadas como responsáveis pelo<br />

aumento da obesidade das gerações<br />

mais jovens já teriam sido<br />

obrigadas a fechar e a União Europeia<br />

teria deixado de subsidiar a<br />

cultura do tabaco). Resta, por isso,<br />

A ASAE e a defesa<br />

dos consumidores<br />

Inúmeros boatos foram postos a circular, nos últimos tempos, em relação à actividade da ASAE. Alguns<br />

órgãos de comunicação social ajudaram a sua propagação, contribuindo para descredibilizar um<br />

organismo cuja actuação devia ser saudada pelos consumidores.<br />

56 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

impor limites ao consumo de certos<br />

produtos, estabelecendo sanções<br />

aos prevaricadores, e criar um acervo<br />

de normas securitárias que estabeleçam<br />

um crivo apertado em torno<br />

dos fornecedores de bens e<br />

serviços.<br />

Mais do que uma perspectiva<br />

securitária, a defesa do consumidor<br />

devia ter, hoje em dia, uma forte<br />

componente de consciencialização<br />

cívica e social (lembro a propósito<br />

que no último Congresso das associações<br />

de consumidores realizado<br />

em Outubro em Sidney, as preocupações<br />

dominantes foram a<br />

Responsabilidade Social das Empresas,<br />

o consumo sustentável e o<br />

endividamento...) que tem permanecido<br />

em segundo plano quando<br />

se trata de legislar em defesa dos<br />

consumidores.<br />

Dentro desta nova tendência, as<br />

questões de segurança alimentar<br />

assumiram no final do século passado<br />

um papel preponderante na<br />

política de defesa dos consumidores,<br />

muito por força dos problemas<br />

surgidos com a doença das<br />

vacas loucas, os OGM, as dioxinas,<br />

o uso de antibióticos na alimentação<br />

do gado, ou a gripe das aves.<br />

É neste contexto que surgem na<br />

Europa as Agências de Segurança<br />

Alimentar.<br />

Portugal seguiu a tendência europeia<br />

com a criação da ASAE, uma<br />

entidade reclamada pelos mais<br />

variados quadrantes, que criticaram<br />

(e bem...) a morosidade da sua<br />

criação. Não deixa de ser por isso<br />

curiosa, a saga contra a ASAE a que<br />

a comunicação social tem dado<br />

guarida. Quase se pode dizer que<br />

colunista que não tenha criticado a<br />

actuação da ASAE, não é digno<br />

desse nome. A situação não é só caricata...<br />

é também injusta. A ASAE<br />

tem desempenhado um papel de<br />

grande relevância, contribuindo<br />

para uma melhor e mais saudável<br />

concorrência, perseguindo os mixordeiros<br />

e os agentes da contrafacção<br />

e dando mais credibilidade<br />

a quem age de acordo com os<br />

ditames da legislação em vigor.


Em minha opinião, é um organismo<br />

público exemplar que se limita<br />

a fazer cumprir legislação<br />

maioritariamente emanada de Bruxelas<br />

que Portugal, por imposição<br />

das Directivas comunitárias, está<br />

obrigado a transpor para a legislação<br />

nacional.<br />

No entanto, tem corrido por aí<br />

um elevado número de boatos que<br />

visam denegrir aquele organismo e<br />

“obrigaram” o Secretário de Estado<br />

para a Defesa do Consumidor a<br />

emitir um comunicado onde são<br />

clarificadas algumas questões. Aqui<br />

ficam apenas alguns exemplos que<br />

respiguei, por se referirem a algumas<br />

das situações mais “badaladas”<br />

nos últimos meses:<br />

BOLAS DE BERLIM – A ASAE apenas<br />

fiscaliza o processo de fabrico e não<br />

a sua comercialização na praia.<br />

CAFÉ EM COPOS DE PLÁSTICO – Podem<br />

os apreciadores da bica em<br />

chávena estar descansados, porque<br />

não existe nenhum diploma nacional<br />

ou comunitário que impeça a<br />

utilização de chávenas.<br />

COLHERES DE PAU – Não existe qualquer<br />

proibição de utilizar colheres<br />

de pau, apenas se exige que estejam<br />

em bom estado de conservação.<br />

CASTANHAS ASSADAS – A ASAE<br />

nunca efectuou qualquer acção<br />

junto dos vendedores de castanhas,<br />

nem aplicou qualquer coima pelo<br />

facto de as castanhas estarem<br />

embrulhadas em papel de listas<br />

telefónicas ou de jornal.<br />

BRINDES NO BOLO-REI – Não estão<br />

proibidos. Apenas é exigido que se<br />

distinga claramente do alimento<br />

pela sua cor, tamanho e consistência,<br />

para evitar que se repitam casos<br />

de asfixia (nomeadamente com crianças)<br />

provocados pela ingestão.<br />

Infelizmente, não vi a comunicação<br />

social e os colunistas darem igual<br />

ênfase a este comunicado. Optaram<br />

antes por explorar até à exaustão o<br />

facto de o Presidente da ASAE ter<br />

sido apanhado com a cigarrilha na<br />

boca na noite de Ano Novo. Sinais<br />

dos tempos... Eu, que até conheci<br />

um Presidente do Conselho de<br />

Prevenção do Tabagismo que era<br />

fumador e aproveitava os intervalos<br />

das reuniões para acender um cigarrito,<br />

nunca me persignei perante<br />

tamanho desvario... ■


BOAVIDA<br />

Livro aberto<br />

José Jorge Letria<br />

De Fernão Lopes<br />

à política à portuguesa<br />

É, sem dúvida, um dos mais belos livros dados à estampa em finais de <strong>2008</strong>. Refiro-me ao álbum<br />

“Fernão Lopes-Crónicas”, organizado pelo prestigiado historiador e escritor António Borges Coelho, com<br />

magníficas ilustrações do pintor Rogério Ribeiro.<br />

Esta edição de luxo da<br />

Campo das Letras é uma<br />

homenagem a um dos<br />

maiores cronistas da História<br />

de Portugal, que também foi<br />

um talentoso escritor, antecipando,<br />

em boa parte, o que viria a ser a<br />

visão e a linguagem jornalística<br />

séculos mais tarde. A não perder.<br />

Da mesma editora é o livro “O<br />

Porvir da Nostalgia-uma Vida de<br />

Stefan Zweig”, de Jean-Jacques<br />

Lafaye, exemplar abordagem biográfica<br />

do percurso criador e do fim<br />

trágico de um dos maiores escritores<br />

do século XX. Zweig, que<br />

passou por Lisboa, a caminho do<br />

exílio no Brasil, em fuga da barbárie<br />

nazi, acabou por se suicidar em<br />

Niterói quando a Segunda Guerra<br />

estava prestes a eclodir. O escritor,<br />

nascido numa família judia, teve,<br />

desde meados dos anos trinta a<br />

percepção do que poderia acontecer<br />

à Europa e ao mundo se Hitler e<br />

os nazis levassem o seu projecto de<br />

genocídio por diante. E não se<br />

enganou. Este livro tem prefácio de<br />

Mário Soares para a edição portuguesa<br />

e foi distinguido com o<br />

Prémio Cazes-Brasserie Lipp.<br />

Também da Campo das Letras,<br />

destaque para “Vidro do Mesmo<br />

Vidro”, colectânea de ensaios de<br />

Rosa Maria Martelo sobre “tensões<br />

e deslocamentos na poesia portuguesa<br />

depois de 1961”. Realce<br />

58 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

ainda, com a mesma chancela, para<br />

“O Terceiro Anjo”, ensaio de Nuno<br />

Higino sobre obras de José Rodrigues,<br />

escultor e pintor de referência<br />

na arte portuguesa das últimas<br />

décadas.<br />

COM A CHANCELA da Teorema, estão<br />

no mercado dois ensaios de<br />

grande qualidade e oportunidade:<br />

“História do Riso”, de Georges Minois,<br />

que traça a evolução histórica<br />

do riso enquanto manifestação<br />

humana e sinal da inteligência e<br />

capacidade relacional do Homem,<br />

“História do Médio Oriente”, de<br />

Massimo Campanini, obra fundamental<br />

para a compreensão dos<br />

conflitos e tensões que marcam a<br />

vida no Médio Oriente na época<br />

contemporânea, com reduzidas<br />

perspectivas de solução no actual<br />

contexto internacional. Dois livros a<br />

não perder na primeira colheita do<br />

ano.<br />

TENDO como base a obra e a figura<br />

única do Padre António Vieira, Inês<br />

Pedrosa lançou, pela Dom Quixote,<br />

“A Eternidade e o Desejo”, obra que<br />

confirma o seu talento como narradora.<br />

Da mesma editora são os<br />

títulos de ficção estrangeira “Uma<br />

Questão de Beleza”, de Zadie Smith<br />

e “Next”, de Michael Crichton.<br />

Ainda em matéria de ficção narrativa,<br />

para todos os gostos, registase<br />

a saída dos seguintes títulos:<br />

“Estado Crítico”, de Robin Cook, “A


Rádio da Cidade Perdida”, de Daniel<br />

Alarcón, “O Evangelho Perdido”,<br />

de Tucker Malarkey, e “Nuvens<br />

Entre Estrelas”, de Victoria<br />

Clayton, todos com a chancela de<br />

Publicações Europa-América, que<br />

também editou, na área da literatura<br />

de viagens,”Lisboa-Dakar”, de<br />

Joaquim Mestre. De Charley Boorman,<br />

“A Esposa de Assuão”, de Rula<br />

Jebreal e “O Cerco” de Helen Dunmore,<br />

sobre a resistência da cidade<br />

de Leninegrado à ofensiva nazi,<br />

ambos da Campo das Letras, e “Em<br />

Silêncio, Amor”, de Luís Soares, e “A<br />

Imperfeição do Amor”, ambos da<br />

Oficina do Livro. Destaque ainda<br />

para a reedição de “Sedução”, de<br />

José Marmelo e Silva, da Campo das<br />

Letras.<br />

Da Campo das Letras é o excelente<br />

ensaio de Miguel Real “A Morte de<br />

Portugal”, que fornece oportunas<br />

pistas para uma reflexão sobre os<br />

grandes ciclos da História portuguesa<br />

e sobre as figuras que mais profundamente<br />

a marcaram, com destaque<br />

para personalidades como o<br />

Marquês de Pombal. Da mesma editora<br />

é o livro póstumo do crítico de<br />

televisão e escritor Mário Castrim<br />

intitulado “Do Livro dos Salmos”,<br />

com ilustrações de Rogério Ribeiro.<br />

Para os mais novos, proporcionando-lhes<br />

a indispensável informação<br />

cultural abrangente e eclética é o volume<br />

do “Meu Primeiro Larousse”<br />

dedicado ao ao planeta Terra.<br />

A Ambar lançou, entretanto, o<br />

segundo volume de “Entre/Vistas”,<br />

de Maria João Seixas, que reúne as<br />

brilhantes conversas com destacadas<br />

figuras da vida cultural, social<br />

e científica portuguesa nas páginas<br />

do “Público”.<br />

De Manuel Luís Goucha, gastrónomo<br />

de talento e grande comunicador,<br />

acaba de sair, na Oficina do<br />

Livro, “Os Doces de Manel”, uma<br />

edição vistosa e saborosa que se vê e<br />

lê em qualquer época do ano.<br />

“Política à Portuguesa”(Oficina do<br />

Livro) é o título do mais recente<br />

livro de José António Saraiva, director<br />

de “O Sol” e professor da cadeira<br />

de Política Portuguesa na Universidade<br />

Católica. Esta obra corresponde,<br />

justamente, ao essencial da<br />

matéria dada nessa disciplina,<br />

sendo valorizada por uma extensa<br />

cronologia correspondente aos dois<br />

últimos séculos da vida política portuguesa.<br />

Um livro escrito por quem,<br />

como jornalista, acompanhou de<br />

perto e por dentro o essencial da<br />

nossa vida política, a partidária, a<br />

institucional e não só.<br />

Destaque ainda para os dois volumes<br />

da obra “Teatro Reunido” (Imprensa<br />

Nacional-Casa da Moeda),<br />

da poetisa, dramaturga e grande<br />

investigadora pessoana Teresa Rita<br />

Lopes. Nesta obra está todo o teatro<br />

de uma das grandes figuras do<br />

teatro português contemporâneo,<br />

com uma forte marca do discurso<br />

poético e de um profundo conhecimento<br />

do universo feminino. ■<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 59


Rodrigues Vaz<br />

BOAVIDA<br />

Artes<br />

Vieira da Silva homenageada<br />

em Paris e Lisboa<br />

Depois de ter feito sucesso no Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris, chegou finalmente à<br />

Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, onde pode ser vista até ao próximo dia 17, a<br />

exposição “Vieira da Silva”, que integra as obras das colecções destas duas fundações, fechando assim<br />

um círculo de homenagens que foi prestado à nossa artista plástica mais internacional.<br />

Partindo das estruturas<br />

espaciais fechadas dos<br />

primeiros anos – dos tabuleiros<br />

de xadrez e dos<br />

arlequins, do tema da guerra e da<br />

sua angústia representada nas figuras<br />

aprisionadas nas quadrículas<br />

– até às pesquisas mais maduras do<br />

espaço, a exposição dá-nos oportunidade<br />

para adivinhar um percurso<br />

que parte do desenho para a pintura,<br />

desta para a gravura e novamente<br />

para o desenho, num diálogo<br />

permanente entre técnicas e entre<br />

Vieira e a sua própria criação.<br />

RAY SMITH E GRAÇA MORAIS<br />

NO PORTO<br />

Por outro lado, no Porto, pode ser<br />

vista até 27 do corrente, na Galeria<br />

Fernando Santos, uma exposição de<br />

pintura de Ray Smith, reconhecido ao<br />

mesmo tempo como artista plástico<br />

latino-americano e norte-americano,<br />

devido às suas origens familiares.<br />

Filho de mãe mexicana e pai<br />

norte-americano, nasceu junto à<br />

fronteira mexicana do Texas, continuando<br />

a dividir a sua actividade<br />

entre a dualidade desta herança,<br />

centrando a sua obra em “reciclar<br />

aquilo que ao redor da sua cultura<br />

trans-fronteiriça o circunda”.<br />

As suas pinturas, imagens poéticas,<br />

incorporam tendências surrealistas<br />

e anímicas que derivam da sua<br />

60 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Vieira da Silva<br />

ascendência latina e do sue conhecimento<br />

profundo da história da arte<br />

moderna. Nos seus quadros, os<br />

animais e criaturas híbridas são entidades<br />

da figura humana.<br />

Igualmente no Porto e até ao dia<br />

23, a Galeria 111 apresenta uma exposição<br />

de pintura e desenho de<br />

Graça Morais, uma das nossas actuais<br />

criadoras mais arreigadas ao<br />

telurismo do nosso mundo rural,<br />

que assume com presunção e autenticidade.<br />

Senhora de um traço marcado por<br />

pinceladas que redescobrem a cor a<br />

cada instante, com cambiantes de


uma grande claridade e singeleza,<br />

Graça Morais apresenta uma série<br />

de obras que têm tanto de autobiográfico<br />

como de narrações da sua<br />

Trás-os-Montes natal.<br />

Paisagens ou rostos, especialmente,<br />

desfrutam de uma mesma<br />

categoria de estilo que parecem<br />

surgidos de uma espécie de acumulação<br />

e estratos em cuja patine<br />

quedam fixadas as essências mais<br />

sublimes, as insinuações mais emocionantes<br />

e o edifício da pintura<br />

sólido nos matizes como atmosfera<br />

oferecida aos objectos.<br />

DUAS EXPOSIÇÕES<br />

DE JOSÉ COELHO<br />

Entretanto, José Coelho, um dos<br />

artistas de referência em Portugal<br />

no campo da escultura em ferro,<br />

em que é também um dos mais prolíficos,<br />

mostra ao mesmo tempo, até<br />

17 do corrente, as suas últimas<br />

À esquerda,<br />

obra de<br />

Graça<br />

Morais.<br />

À dirita,<br />

uma<br />

composição<br />

de Ray<br />

Smith.<br />

Em baixo,<br />

escultura de<br />

José Coelho<br />

obras no Arquivo Municipal de Vila<br />

Real de Santo António e no Instituto<br />

Franco-Português, Lisboa.<br />

Ali, uma série de esculturas em<br />

ferro, subordinada ao título “Memento<br />

Mor Memor”, que os serviços<br />

culturais da Câmara Municipal<br />

apresentam simplesmente<br />

como tal, não referindo sequer o<br />

nome do autor, e aqui uma série de<br />

gravuras sob o título “Ninfas do<br />

Tejo, Meninas de Paris”.<br />

Nascido em Árgea, freguesia de<br />

Olaia, concelho de Torres Novas,<br />

José Coelho reside actualmente em<br />

Riachos, no mesmo concelho. Tem<br />

participado em inúmeros simpósios<br />

e encontros de escultura. É autor,<br />

entre outras obras de espaço público,<br />

do Monumento de Homenagem<br />

ao Povo de Pintainhos, Torres<br />

Novas, e do Monumento de Evocação<br />

ao Povo de Arripiado, Chamusca.<br />

Foram-lhe atribuídos os<br />

prémios de primeiro prémio exaequo<br />

escultura Semana da Pedra,<br />

Alcanena 1989; primeiro prémio de<br />

escultura Fórum Santarém 1995 e<br />

menção honrosa prémio Edinfor<br />

1997. Esteve presente com obras de<br />

escultura nos pavilhões da Nicarágua<br />

e Costa Rica na EXPO ‘98. ■<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 61


BOAVIDA<br />

Músicas<br />

Seu Jorge e Simone<br />

O presente e o futuro<br />

da Música Popular<br />

Brasileira<br />

A música brasileira ocupa, este mês, a totalidade deste espaço da “TL”, habitualmente<br />

dedicado à edição discográfica. Em causa estão “América Brasil”, de Seu Jorge<br />

e “O Melhor de Simone – Começar de Novo”.<br />

62 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Vítor Ribeiro<br />

Seu Jorge, 37 anos, cantor,<br />

músico e compositor, começou<br />

a ser conhecido<br />

do grande público, depois<br />

do seu contributo, como actor,<br />

no filme “Cidade de Deus”, obra de<br />

denúncia dessa vergonhosa realidade<br />

social do século XXI chamada<br />

“favela”.<br />

Seu Jorge Mário da Silva, que<br />

nasceu de uma família paupérrima,<br />

no Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense,<br />

sabe do que fala quando,<br />

no CD “América Brasil”, descreve o<br />

dia-a-dia do ex-assalariado brasileiro<br />

empurrado para a marginalidade<br />

do biscate, ou do “quadro intermédio”<br />

licenciado, que a globalização<br />

vai remetendo para uma<br />

frustrante proletarização, alargando<br />

assim as fronteiras de uma miséria<br />

envergonhada.<br />

Em temas como “Trabalhador”,<br />

“A Burguesinha” ou “A Mina do<br />

Condomínio”, Seu Jorge, sem alar-<br />

de nem demagogia, obriga-nos tomar<br />

consciência da enorme contradição<br />

social em que se transformaram<br />

o Brasil e a América Latina<br />

em geral. Estamos a falar de uma<br />

das mais ricas regiões do Globo,<br />

com importantíssimos recursos naturais,<br />

cujas populações vivem, na<br />

esmagadora maioria, em inenarrável<br />

estado de pobreza.<br />

O CD de Seu Jorge, só por si, não<br />

mudará tão lamentável estado de<br />

coisas. “América Brasil” é, no entanto,<br />

um oportuno e singular exercício<br />

de cidadania de um autor nascido<br />

e criado num país que, entre<br />

muitas outras coisas, se distingue<br />

pela simpatia, generosidade e paciência<br />

do seu povo. “América Brasil”<br />

dá que pensar. Pensemos.<br />

SIMONE ESPLÊNDIDA E MÁGICA<br />

Simone é “A voz” da Música Popular<br />

Brasileira. Também por isso,<br />

não se deve perder o duplo-CD “O<br />

Melhor de Simone – Começar de<br />

Novo”. Vinte e oito excelentes in-


terpretações de outras tantas canções<br />

de autores “clássicos” da MPB.<br />

Num ciclo de “crise”, em que<br />

autores e cantores se vêem forçados<br />

a manter “originais na gaveta”,<br />

as editoras discográficas dedicamse<br />

à publicação de colectâneas,<br />

mais ou menos interessantes, consoante<br />

os casos.<br />

Deste duplo-CD destacamos<br />

inesquecíveis interpretações de<br />

“clássicos” de Chico Buarque de<br />

Holanda como “Gota d`Água”, “O<br />

Que Será”, “Pedaço de Mim”, de<br />

Pablo Milanês/Chico Buarque,<br />

“Iolanda”, de Ivan Lins, “Começar<br />

de Novo” e “Amor”, de Milton<br />

Nascimento, “Cigarra”e “Amor e<br />

Paixão”, de Vinícius de Moraes,<br />

“Onde Anda Você”… Na brochura<br />

que integra este duplo-CD, José<br />

Nuno Martins, radialista, realizador<br />

de TV, admirador e estudioso<br />

da MPB, “apresenta” 16 das cantigas<br />

interpretadas por Simone.<br />

Em jeito de introdução, diz José<br />

Nuno: “Tive gosto em escutar e estudar,<br />

novamente, cada uma das 28<br />

músicas desta compilação. Afinal,<br />

elas narram o currículo de uma<br />

cantora de excessos e minudências,<br />

de encontros e afastamentos que,<br />

assim ouvidos, até parece que passaram<br />

muitos deles, a fazer parte<br />

da minha vida. E, quem sabe,<br />

talvez da sua… Esplêndida Simone,<br />

mágica Simone. E tão contraditória”.<br />


BOAVIDA<br />

No Palco<br />

Criança ensina adultos<br />

“Óscar e a Senhora Cor de Rosa”, em cena no Teatro Nacional D. Maria II até 9 de Março, fala-nos do<br />

mistério da Vida descoberto por uma criança, num luminoso e comovente monólogo escrito por Eric<br />

Emmanuel- Schmitt.<br />

Maria Mesquita<br />

Lídia Franco propôs a ideia<br />

de se fazer a encenação<br />

deste monólogo a Marcia<br />

Haufrecht, que já a tinha<br />

acompanhado noutras viagens<br />

teatrais (Frozen e Vidas Publicadas).<br />

A resposta é a representação de<br />

uma história muito humana sobre<br />

um menino, Óscar, doente terminal<br />

de leucemia, que, junto a uma voluntária<br />

de apoio a crianças na<br />

mesma condição, vai vivendo a<br />

vida ao passo de gigante. A Senhora<br />

Cor-de-Rosa, assim denominada<br />

por ser a cor das batas que<br />

estas voluntárias utilizam nas alas<br />

de Pediatria dos hospitais franceses,<br />

resolve por sua vez propor um jogo<br />

a Óscar. Por cada dia que passa, ele<br />

64 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

vive 10 anos, e ele, como retribuição,<br />

aproveita esses 10 anos ao<br />

máximo. Para Óscar, cada dia/10<br />

anos, é vivido em desafio à morte,<br />

olhando de forma divertida para o<br />

mundo dos adultos (ao qual na<br />

realidade ele nunca chegará), para<br />

o mundo das outras crianças que<br />

também o rodeiam, para a Vida que<br />

em breve se irá esgotar. Lídia<br />

Franco afirma que esta é a peça<br />

mais bonita que leu nos últimos<br />

tempos (e que é um hino à felicidade,<br />

uma vez que é uma criança a<br />

ensinar aos adultos a forma de se<br />

viver cada momento, de forma a<br />

não nos lamentarmos por não termos<br />

tido tempo ou oportunidade<br />

de fazer o que queríamos ter feito.<br />

O monólogo, já representado em<br />

dezenas de países por grandes<br />

Lídia Franco<br />

actrizes, surge das cartas que Óscar<br />

escrevia a Deus todos os dias.<br />

Cartas narradas pela Sr.ª Cor-de-<br />

Rosa, cartas de um menino que<br />

viveu mais do que muitos adultos.<br />

A AFILHADA DE SANTO ANTÓNIO<br />

Um musical dedicado a Santo António,<br />

escrito por António Torrado<br />

ao estilo dos antigos autos, em cena<br />

no Teatro da Comuna, até meados<br />

de Março.<br />

Com encenação de João Mota, também<br />

ele devoto a Santo António, este<br />

musical é uma homenagem de forma<br />

muito criativa e divertida a um dos<br />

Santos que “mais trabalho tem” ao<br />

longo de todo o ano, nas “especialidades”<br />

amorosas e afins. Quando os<br />

pedidos são mais do que quem os<br />

pede, quando há tanto para fazer e<br />

tanto para dar, e quando se tem a<br />

imensa responsabilidade de andar<br />

com o Menino ao colo, nem Santo<br />

António aguenta tanta pressão!<br />

Assim lhe aparece em súplica<br />

uma devota afilhada que por acaso<br />

se chama Antónia. O Santo Padroeiro<br />

fica com o coração derretido ao<br />

ver a pobrezinha órfã pedir-lhe<br />

auxílio para a sua vida, mas, como<br />

não gosta de dar tudo de uma só<br />

vez, e acha que a felicidade total<br />

tem de ser ganha aos pouquinhos,<br />

acabamos por ver as aventuras e<br />

desventuras que Antónia passa até<br />

conseguir a Paz que procura. Para<br />

terminar em beleza, a jovem Antónia<br />

termina, qual Cinderela, nos<br />

braços de um amado, que é, quase<br />

por magia (ou fé? Ou milagre do<br />

Santo?), príncipe…


BLULU – HISTÓRIAS<br />

DA INVENÇÃO DO MUNDO<br />

Até 2 de Março na Sala Estúdio do<br />

Teatro da Trindade, interroga-se a<br />

presença da arte numa sociedade<br />

cada vez mais afastada do imaginário<br />

e cada vez mais conectada<br />

com a realidade do dia-a-dia.<br />

Amadeus e Bartolomeus são dois<br />

actores cómicos. Dizem-se antigos,<br />

antigos como o próprio teatro e consequentemente,<br />

tão antigos como a<br />

Vida e a Terra. Ao fim de 400 anos,<br />

chegam a um lugar onde irão fazer o<br />

mesmo que de todos os outros dias,<br />

representar. Escolhem a peça<br />

Invenção do Mundo, inspirada no<br />

“Grande Teatro del Mundo” de<br />

Calderon de La Barca; colocam as<br />

máscaras, preparam os instrumentos,<br />

escolhem as suas roupas e<br />

embarcam na arte da representação<br />

da comédia clássica onde Deus, criador<br />

de todas as coisas da Terra,<br />

reparte os papéis para que cada pessoa<br />

no mundo se represente; não é a<br />

vida uma passagem de uma peça de<br />

teatro? Tudo parece correr bem até<br />

que, Bartolomeus, começa a pensar,<br />

FICHAS TÉCNICAS<br />

“ÓSCAR E A SENHORA<br />

COR DE ROSA”<br />

Encenação: Márcia Haufrecht;<br />

Cenários/Figurinos: Sónia Neves;<br />

Voz/Locução: Maria João Serrão;<br />

Intérprete: Lídia Franco.<br />

A AFILHADA DE SANTO ANTÓNIO<br />

Encenação: João Mota; Criação: Comuna<br />

Teatro; Texto: António Torrado; Música<br />

Original: Maestro António de Sousa;<br />

Músicos: Hugo Franco e Miguel Sermão;<br />

Figurinos: Carlos Paulo; Adereços e<br />

Objectos Cénicos: Renato Godinho;<br />

Técnicos: Alfredo Platas, Mario Correia e<br />

Renato Godinho; Interpretação: Santo<br />

“Cândido ou o optimismo”<br />

em tom crítico, se valerá a pena continuar<br />

a insistir nesta forma de arte<br />

que é contar as histórias para rir.<br />

Será que vale a pena continuar a<br />

passar fome e apertos na vida, quando<br />

já não se sabe para que servem os<br />

cómicos, as palavras e os sonhos,<br />

principalmente quando as pessoas<br />

parecem já não ligar à arte, aquilo<br />

que a arte representa. Ambos os<br />

actores iniciam então uma luta para<br />

António: Jorge Andrade; Antónia (Afilhada):<br />

Judite Dias; Rainha: Tânia Alves; Rei:<br />

Alexandre Lopes; Príncipe: Marco Paiva<br />

BULULÚ - ESTÓRIAS DA INVENÇÃO<br />

DO MUNDO<br />

Texto e encenação: Moncho Rodriguez;<br />

Cenografia e desenho de luz: Moncho<br />

Rodriguez; Figurinos: Cristina Cunha e<br />

Moncho Rodriguez ; Adereços: Cristina<br />

Cunha e Pedro Giestas; Máscaras:<br />

Moncho Rodriguez, Acácia Azevedo e<br />

Cristina Cunha; Fotografia: Pitães; Vídeo:<br />

Pitães e Bruno Laborinho; Interpretação:<br />

Cristina Cunha e Pedro Giestas; Produção:<br />

Teatro Invisível<br />

desvendar qual a necessidade dos<br />

lugares imaginários da mente, numa<br />

sociedade cada vez mais triste,<br />

menos poética e tão mais preocupada<br />

com o consumismo desenfreado<br />

para fugirem ao que realmente<br />

importa.<br />

“CÂNDIDO OU O OPTIMISMO”<br />

Até 24 de <strong>Fevereiro</strong>, o Teatro Maria<br />

Matos apresenta “Cândido ou o<br />

Optimismo”, a partir da obra de<br />

Voltaire, com encenação de Cristina<br />

Carvalhal.<br />

Uma fábula sobre as aventuras de<br />

Cândido, um rapaz de raciocínio<br />

recto e espírito límpido, subitamente<br />

mergulhado na vida adulta.<br />

Este é o início de uma longa viagem<br />

à volta do mundo que o levará a<br />

experimentar a guerra, a ser supliciado<br />

pela inquisição, a atravessar a<br />

América a pé, a conhecer o El<br />

Dorado, a ficar milionário e a<br />

retornar à pobreza. E contudo, optimista<br />

por educação, Cândido,<br />

procurará a todo o custo continuar<br />

a acreditar que este é o melhor dos<br />

mundos possíveis.<br />

“CÂNDIDO OU O OPTIMISMO”<br />

Encenação: Cristina Carvalhal;<br />

Dramaturgia: Ana Vaz, Cristina Carvalhal e<br />

Cucha Carvalheiro; Cenário: Ana Vaz;<br />

Figurinos: Ana Vaz e Maria Gonzaga;<br />

Música: Sérgio Delgado; Desenho de Luz:<br />

Daniel Worm; Movimento: Tiago Porteiro;<br />

Apoio Vocal: Rui Baeta; Interpretação:<br />

Catarina Requeijo, Cucha Carvalheiro,<br />

Gonçalo Waddington, José Airosa, Miguel<br />

Fragata, Sérgio Praia e Vítor de Andrade,<br />

Produção executiva: Mafalda Gouveia<br />

Co-produção: Causas Comuns e Teatro<br />

Maria Matos |M/12<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 65


BOAVIDA<br />

Cinema em casa<br />

Sérgio Alves<br />

Das excelentes e, cada vez mais, numerosas<br />

novidades em DVD, seleccionamos, em<br />

<strong>Fevereiro</strong>, quatro filmes dignos da atenção<br />

de todos os cinéfilos. Um drama actual em<br />

“Um Coração Poderoso”; a comédia romântica “2 Dias<br />

UM CORAÇÃO<br />

PODEROSO<br />

Mariane Pearl, grávida de<br />

seis meses, enfrenta uma<br />

corrida contra<br />

o tempo<br />

para salvar o<br />

marido,<br />

Daniel Pearl,<br />

repórter do<br />

Jornal Wall Street, raptado<br />

pela Al.Qaeda no<br />

Paquistão. Mariane procurar<br />

abstrair-se de um<br />

mundo governado pela<br />

amargura e pelo rancor<br />

desde o 9/11 de Nova<br />

Iorque, expressando, da<br />

forma mais pura, o amor e<br />

felicidade partilhados com<br />

Daniel. Realizado por<br />

Michael Winterbottom e<br />

produzido por Brad Pitt,<br />

Andrew Eaton e Dede<br />

Gardner, “Um Coração<br />

Poderoso” é um potencial<br />

candidato aos Óscares.<br />

TÍTULO ORIGINAL: A Mighty<br />

Heart<br />

REALIZAÇÃO: Michael<br />

Winterbottom; COM:, Angelina<br />

Jolie, Dan Futterman, Archie<br />

Panjabi; EUA, 108m, cor, 2007;<br />

EDIÇÃO: Lusomundo.<br />

66 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Qualidade e diversidade<br />

HISTÓRIAS<br />

DO CINEMA<br />

Boa parte da crítica considera<br />

tratar-se de um trabalho<br />

único e genial, “a<br />

grande obra de arte do<br />

século XX”. Usando filmes<br />

antigos e os seus próprios<br />

filmes, pintura, fotografia,<br />

bandas-sonoras, música<br />

jazz, clássica ou pop,<br />

intertítulos, subtítulos, voz<br />

off, Godard cria um autoretrato<br />

desenhado pelos<br />

filmes dos outros, através<br />

das histórias<br />

que o<br />

Cinema<br />

conta. Neste<br />

“ensaio”<br />

sobre o<br />

Cinema, feito com os meios<br />

do Cinema, a sua História e<br />

a sua interpretação da<br />

História, a sua elegia e a<br />

sua crítica. Godard projecta-se<br />

para o futuro para, a<br />

partir da sobreposição de<br />

imagens e da polifonia de<br />

sons, perguntar “o que é o<br />

cinema?”.<br />

TÍTULO ORIGINAL: Histoires du<br />

Cinema;<br />

REALIZAÇÃO: Jean Luc Godard;<br />

França, 268m, cor, 1988/1998;<br />

EDIÇÃO: Midas<br />

em Paris”; uma notável e obrigatória reflexão sobre o<br />

cinema de Jean-Luc Godard (“Histórias do Cinema”), e,<br />

finalmente, “Regras para ser feliz”, sobre conflitos<br />

intergeracionais, “vividos e superados” por três grandes<br />

actrizes.<br />

REGRAS PARA<br />

SER FELIZ<br />

Quando Lily já não consegue<br />

lidar com a rebelião<br />

da filha adolescente,<br />

Rachel, leva-a para o único<br />

lugar onde jurou nunca<br />

mais voltar … a casa de sua<br />

mãe Geórgia,<br />

em Idaho.<br />

Juntas,<br />

preparam-se<br />

para um<br />

Verão recheado<br />

de revelações familiares.<br />

As três mulheres vão compreender<br />

que os laços que<br />

as unem não poderão ser<br />

quebrados<br />

Três gerações de notáveis<br />

actrizes– Jane Fonda,<br />

Filicity Huffman e Lindsay<br />

Lohan - num filme, assinado<br />

por Garry Marshall, que<br />

explora a importância da<br />

compreensão, da liberdade<br />

e do perdão<br />

TÍTULO ORIGINAL: Georgia<br />

Rule;<br />

REALIZAÇÃO: Garry Marshall;<br />

COM: Jane Fonda,Felicity<br />

Huffman, Lindsay Lohan; EUA,<br />

113m, cor, 2007;<br />

EDIÇÃO: Lusomundo.<br />

2 DIAS<br />

EM PARIS<br />

Marion é uma fotógrafa<br />

francesa. Jack é um desenhador<br />

de interiores americano.<br />

Vivem juntos em<br />

Nova Iorque, mas a relação<br />

já teve melhores dias. Após<br />

umas férias falhadas em<br />

Veneza decidem passar<br />

dois dias em Paris antes do<br />

regresso a casa. Mas em<br />

Paris nem tudo corre bem:<br />

os pais de Marion são<br />

muito intrometidos, os exnamorados<br />

de<br />

Marion vão<br />

aparecendo<br />

… Escrito,<br />

produzido e<br />

realizado por<br />

Julie Delpy, “2 Dias em<br />

Paris” é uma divertida e<br />

romântica comédia sobre as<br />

aventuras/desventuras de<br />

um jovem casal de vida<br />

difícil na cidade dos mil e<br />

um amores.<br />

TÍTULO ORIGINAL: 2 Days in<br />

Paris<br />

REALIZAÇÃO: Julie Delpy;<br />

COM: Julie delpy, Adam<br />

Goldberg, Daniel Bruhl; EUA,<br />

96m, cor, 2007 ;<br />

EDIÇÃO: LNK.


Rever Charlot, ou o imigrante<br />

Miguel Freiats da Costa<br />

Durante a maior parte<br />

da vida dos cinéfilos<br />

da minha geração –<br />

os filmes estreavamse<br />

e passada essa primeira apresentação<br />

ao público nas salas de<br />

cinema – morriam quase todos<br />

para sempre, salvo alguma breve<br />

ressurreição nas salas de “reprise”<br />

ou nas muito raras “reposições”<br />

ou nas cinematecas e, claro,<br />

nos cineclubes. Quando não desapareciam<br />

mesmo os originais, dificilmente<br />

se viam outra vez como no<br />

primeiro dia: as cópias iam estando<br />

cada vez mais maltratadas (na “reposição”<br />

anunciava-se às vezes “cópia<br />

nova”). A memória - que um historiador<br />

francês diz que é o contrário<br />

da história – era quase o único<br />

recurso de quem contava a história<br />

do cinema através dos seus filmes, e<br />

nem sempre, ou quase nunca, à medida<br />

que o tempo passava, era sequer<br />

a própria memória: era “a vida<br />

dos outros”.<br />

Já não é assim. A fome de “conteúdos”<br />

das dezenas de canais de<br />

televisão e outros meios de distribuição<br />

a domicílio do cinema, principalmente<br />

os digitais, gerou uma<br />

abundante oferta de tudo quanto há<br />

e houve em matéria de produção<br />

cinematográfica – e tem ajudado a<br />

procura e restauro de muito material<br />

dado por perdido ou estragado.<br />

Assim, a RTP 2 deu-nos recentemente<br />

a oportunidade de ver ou<br />

rever, em excelentes condições, muitos<br />

dos filmes de longa-metragem<br />

de Charles Chaplin, desde o notável<br />

Ver filmes era, até há muito menos tempo do que parece, quase nunca<br />

ter a oportunidade de os rever.<br />

“Opinião pública” (A<br />

Woman of Paris, 1923)<br />

a “O Barba Azul”, o famoso<br />

Monsieur Verdoux,<br />

1946, em que<br />

“Charlot” já não aparece,<br />

para não mais<br />

voltar. Passou também<br />

uma série de programas<br />

sobre os filmes de Chaplin, com<br />

muitos “extras” fascinantes e cineastas<br />

convidados para falar de cada<br />

filme.<br />

A grande criação de Chaplin que o<br />

tornou um ídolo universal foi, no<br />

primeiro quartel do século passado,<br />

“Charlie”, o little tramp, a que sempre<br />

chamámos, sem traduzir do<br />

francês, “Charlot”; éramos “franceses”,<br />

nesse tempo (comme c’est loin,<br />

tout ça). Nesta retrospectiva pudemos<br />

verificar como o Chaplin mais<br />

consciente e organizado dos filmes<br />

mais tardios não é muito interessante:<br />

Tempos Modernos (1936), já é<br />

muito forçado - e revisto agora perde<br />

muito do lustre da recordação; O<br />

Grande Ditador, de 1941 (a famosa<br />

sátira de Hitler e do nacional-socialismo)<br />

é menos do que menor. Em<br />

A grande<br />

criação<br />

de Chaplin<br />

que o tornou<br />

um ídolo<br />

universal foi<br />

“Charlie”, o<br />

‘little tramp’<br />

BOAVIDA<br />

Cineclube<br />

definitivo, é o “Charlot” pobre,<br />

mau e vingativo das curtas metragens<br />

dos primórdios que ainda<br />

nos faz pensar e rir: nunca lhe<br />

assentou bem a versão diluída<br />

dos sentimentos cristãos a que se<br />

costuma chamar “humanismo”.<br />

De resto, há sempre, até Modern<br />

Times pelo menos, momentos em<br />

que brilha a graciosidade acrobática<br />

de Chaplin e o seu génio<br />

cómico e cinematográfico.<br />

Ocorre-me agora que<br />

um dos meus preferidos<br />

e mais lembrados entre<br />

os filmes curtos de “Char-<br />

lot” é o magistral “O Imigrante”<br />

(1917). Chaplin,<br />

que nasceu em Londres<br />

em 1889, fez ele próprio a<br />

experiência da imigração<br />

nos Estados Unidos – e<br />

do “sonho americano” que a certa<br />

altura deixou de apreciar: em 1919, o<br />

pobre cómico inglês chegado cinco<br />

anos antes era já um magnate do cinema.<br />

A imigração para os Estados<br />

Unidos sempre foi uma questão de<br />

primeira ordem naquele “país de imigrantes”<br />

– rodeada de grande discussão<br />

e obscurecida por muitos<br />

mitos. É um dos temas centrais da<br />

corrente campanha presidencial nos<br />

Estados Unidos – e será cada vez mais<br />

um importante tema de debate na<br />

Europa. O cinema, já avisámos, leva a<br />

tudo.<br />

No Google, o nome de Charles<br />

Chaplin concita mais de um milhão<br />

de referências. Praticamente toda a<br />

sua obra – e mais do que isso - está<br />

neste momento disponível em<br />

DVD. ■<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 67


Pedro Soares<br />

BOAVIDA<br />

À mesa<br />

Arroz – alimento quase…<br />

quase perfeito<br />

O arroz é um extraordinário alimento, versátil, capaz de proporcionar energia de elevada qualidade, fácil<br />

digestão, diversas vitaminas e minerais, boa conservação e baixo preço. Razões mais do que<br />

suficientes para o conhecermos melhor e não o considerarmos um mero acompanhamento quando<br />

afinal, ele é, ou devia ser, a estrela principal de muitas das nossas refeições.<br />

Comecemos pelo principal.<br />

Apesar de o arroz ter<br />

origem no sueste asiático,<br />

os Portugueses são dos<br />

maiores “consumidores” de arroz<br />

da Europa (disponibilidade Kg/per<br />

capita/ano) sendo a região norte e<br />

centro a principal consumidora.<br />

Somos não só grandes consumidores<br />

de arroz, como somos,<br />

provavelmente, o país europeu que<br />

melhor trata o arroz do ponto de<br />

vista culinário. Tanto em qualidade<br />

como em diversidade.<br />

Não creio existir na Europa um<br />

país que tenha, ao mesmo tempo,<br />

uma das suas principais sopas à base<br />

de arroz (a canja), uma das suas<br />

mais emblemáticas sobremesas à<br />

base de arroz (o arroz doce) e<br />

dezenas de pratos onde o arroz é rei.<br />

Poderíamos enumerar por exemplo<br />

e de passagem, o Arroz de Lampreia<br />

de Monção, o Arroz de Sarrabulho<br />

de Ponte de Lima, o Arroz de<br />

Cabidela, o Arroz de Cabrito do<br />

Douro Litoral, o Arroz de Pato de<br />

Lafões, o Arroz de Ossos de Suã de<br />

Oliveira de Azeméis, o Arroz de<br />

Bucho do Ribatejo e o Arroz de<br />

Lingueirão da Praia de Faro. E para<br />

não falarmos de outros pratos<br />

emblemáticos do nosso património<br />

cultural, como as tripas à moda do<br />

Porto ou o cozido à Portuguesa,<br />

onde o arroz tem lugar marcado.<br />

68 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Esta presença constante do arroz<br />

à nossa mesa tem a ver com a extraordinária<br />

capacidade desta planta<br />

(a mais comum é a Orysa sativa L.)<br />

de fornecer energia de muito fácil<br />

digestão e aproveitamento pelo<br />

nosso organismo, para além de<br />

diversas vitaminas. Acresce ainda<br />

que o arroz é praticamente isento<br />

de gordura libertando glicose de<br />

uma forma lenta, permitindo um<br />

abastecimento energético aos<br />

órgãos vitais, como o cérebro, de<br />

uma forma constante e eficaz. O<br />

arroz comum não polido, possui<br />

ainda vitaminas no germe e escutelo,<br />

para além de abundantes minerais<br />

na aleurona. As partes externas<br />

do grão possuem também<br />

lenhinas, celulose e hemicelulose,<br />

substâncias essenciais ao bom funcionamento<br />

digestivo, que faziam<br />

deste alimento, a base da alimentação<br />

oriental. Actualmente, o polimento<br />

do arroz, para que este fique<br />

mais branco e de mais fácil cozedura,<br />

retira-lhe uma grande parte do<br />

seu valor vitamínico, mineral e conteúdo<br />

em fibra. Assim, deveremos<br />

preferir o arroz menos polido (também<br />

mais barato), mais escuro ou<br />

paraboiled, processo tecnológico<br />

que preserva parte das qualidades<br />

nutricionais do arroz.<br />

Por outro lado, o arroz pelas suas<br />

qualidades higroscópicas (absorve<br />

os sucos da cozedura) permite reter<br />

minerais que de outra forma se<br />

perderiam. O Arroz de Cabidela e o<br />

Arroz Malandro são exemplos desta<br />

arte antiga de aproveitar ao máximo<br />

os nutrimentos presentes nos sucos<br />

das cozeduras das carnes e hortícolas,<br />

coisa que, por exemplo, a batata<br />

ou o feijão não fazem.<br />

Contudo, o arroz está debaixo da<br />

pressão dos consumidores que cada<br />

vez mais o disputam e da competição<br />

do petróleo. A utilização dos<br />

cereais para a produção de bio-combustíveis,<br />

o aumento brutal dos custos<br />

de transporte e a procura crescente,<br />

levou a índia a proibir recentemente<br />

a quase totalidade das suas<br />

exportações. Desde 2004, houve um<br />

aumento de preços na UE entre 60%<br />

e 100%. De produto básico, o arroz<br />

tende a transformar-se num produto<br />

mais inacessível. Uma oportunidade<br />

para o arroz português das<br />

zonas de produção orizícola do<br />

Mondego, Tejo e Sado e uma<br />

chamada de atenção para os<br />

amantes deste nobre produto e para<br />

a sua protecção. ■


Ser “despistado”<br />

pode ser doença...<br />

Todos nós conhecemos pessoas muito distraídas, sempre ausentes,<br />

como se vivessem noutro planeta: são os<br />

“despistados”…Geralmente estas pessoas são aceites com<br />

benevolência, mas quando é demais pode ser doença e causar<br />

grande embaraço e sofrimento ao próprio.<br />

M.Augusta Drago<br />

Amaior parte das pessoas já<br />

ouviram falar em crianças<br />

hiperactivas e com défice<br />

de atenção. Ignoram, porém,<br />

que estas crianças podem dar<br />

lugar a adultos com as mesmas características.<br />

Mas é mais frequente<br />

encontrar adultos só com défice de<br />

atenção e sem hiperactividade.<br />

A grande maioria destas pessoas<br />

e os que as rodeiam admitem que,<br />

para o bem e para o mal, essa é a<br />

sua natureza, uma maneira diferente<br />

de estar na vida e raramente<br />

procuram ajuda.<br />

As pessoas de que estamos a falar<br />

são aquelas que frequentemente<br />

não conseguem estar atentas durante<br />

muito tempo; frequentemente<br />

erram as tarefas que exigem<br />

esforço de concentração; também<br />

frequentemente parecem não ouvir<br />

quando falamos com elas; saltitam<br />

com frequência de umas tarefas<br />

para outras… Estes sintomas são<br />

persistentes e contínuos, nunca<br />

regredindo de forma espontânea.<br />

Alertam o próprio e os familiares<br />

para a necessidade de procurar<br />

ajuda.<br />

A maioria dos especialistas reconhece<br />

que esta doença se apresenta<br />

segundo três padrões: o indivíduo<br />

desatento, o hiperactivo-impulsivo<br />

e o padrão misto. O adulto com esta<br />

patologia é normalmente portador<br />

dum mau-humor excessivo e frequente.<br />

O comportamento destes<br />

doentes é um factor de grande<br />

instabilidade na vida familiar.<br />

As primeiras perturbações surgem,<br />

em geral, antes dos sete anos e<br />

manifestam-se em pelo menos dois<br />

ou mais ambientes (ex.: na escola e<br />

no emprego) e em casa.<br />

As pessoas com défice de atenção<br />

evitam tarefas monótonas e situações<br />

em que tenham de estar atentos<br />

durante algum tempo, porque<br />

se distraem com qualquer estímulo<br />

irrelevante e exterior à tarefa. Não<br />

conseguem controlar voluntariamente<br />

a atenção, geram frequentemente<br />

situações de constrangimento<br />

social e embaraço nos ambientes<br />

de trabalho. Têm relações crispadas<br />

com os colegas que se queixam de<br />

que “não ouve nada do que se lhe<br />

BOAVIDA<br />

Saúde<br />

diz”. Saltitam de emprego para<br />

emprego. Estas pessoas podem estar<br />

muito motivadas e iniciarem projectos<br />

com grande qualidade, mas são<br />

incapazes de arrancar com eles para<br />

a frente, porque logo a seguir a sua<br />

atenção se dispersa por outras iniciativas<br />

que lhe surgem no momento.<br />

Muitos dos doentes com défice<br />

de atenção são também hiperactivos<br />

e impulsivos. Não conseguem<br />

aguardar a sua vez numa fila e frequentemente<br />

fazem tentativas desastradas<br />

de passar à frente. Esta<br />

impulsividade manifesta-se principalmente<br />

ao volante. Têm uma<br />

condução perigosa que é reconhecida<br />

pelos próprios. Conforme vem<br />

descrito na literatura médica, “a<br />

impulsividade aliada ao défice de<br />

atenção faz destes doentes um perigo<br />

público potencial nas estradas”<br />

As pessoas que sofrem desta<br />

doença vivem com o sentimento de<br />

frustração por não conseguirem<br />

manter um emprego ou realizar as<br />

tarefas que se propõem até ao fim.<br />

Um número significativo sofre de<br />

perturbações de humor/ansiedade<br />

e de consumo excessivo de álcool e<br />

outras substâncias.<br />

É urgente que o défice de atenção<br />

no adulto seja identificado o mais<br />

precocemente possível, porque tem<br />

tratamento e com ele podemos<br />

poupar muito sofrimento aos doentes<br />

e às suas famílias. ■<br />

medicofamilia@clix.pt<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 69


BOAVIDA<br />

Tempo informático<br />

Gil Montalverne<br />

Talvez não tenha sido por<br />

acaso que a Enciclopedia<br />

anual da Microsoft, na sua<br />

versão <strong>2008</strong>, tenha em<br />

destaque na embalagem do DVD a<br />

fotografia de uma Iguana algo<br />

assustada. Este animal, registado<br />

como protegido no seu habitat, nas<br />

grandes florestas da América<br />

Central, constantemente destruídas<br />

pela acção do homem e agora também<br />

pelas alterações climatéricas<br />

que o homem tem provocado, é<br />

bem o símbolo daquilo que é<br />

necessário defender. A biodiversidade<br />

é a garantia da nossa<br />

sobrevivência. Todos os seres<br />

vivos são necessários. E o<br />

Planeta Terra está em perigo.<br />

Mas ele não nos pertence. Temos<br />

a obrigação de o preservar para<br />

as gerações vindouras. Talvez<br />

também por isso o “Student with<br />

Encarta Reference Library <strong>2008</strong>”,<br />

um DVD que abrange o que de<br />

mais importante é necessário<br />

conhecer nas diversas áreas das<br />

Ciências da Terra, das Artes, da<br />

Tecnologia mas também da<br />

Matemática, da Física e da Química,<br />

com dezenas de milhares<br />

de artigos, igualmente de imagens<br />

e ilustrações, vídeos, mapas,<br />

insiste este ano numa ligação<br />

estreita com os jovens estu-<br />

70 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

A única opção<br />

A opção a tomar neste Ano Internacional do Planeta Terra, tal<br />

como foi proclamado pela ONU para <strong>2008</strong>, é de facto cuidar<br />

dele e defender o Ambiente. O que será de mais importante<br />

neste momento do que preparar os jovens para conhecer os<br />

problemas e construir um futuro melhor? A Informática ajuda.<br />

dantes que ali encontram muita<br />

matéria para complementar os seus<br />

estudos. Ali podem aprender o<br />

essencial para se aperceberem da<br />

importância do conhecimento, de<br />

modo a responder ao apelo do Ano<br />

Internacional. As ciências da Terra<br />

podem ajudar esta geração a<br />

enfrentar os desafios de modo a ser<br />

conseguido um mundo mais seguro<br />

e próspero. Esta versão da Encarta<br />

merece o nosso destaque. E também<br />

não é por acaso que a Microsoft<br />

Portugal e o Ministério do Ambiente<br />

assinaram em Janeiro um protocolo<br />

que institui a colaboração entre as<br />

duas entidades para a promoção do<br />

Ambiente, através da Tecnologia,<br />

junto das comunidades académicas.<br />

Segundo afirmou o Ministro do<br />

Ambiente, na assinatura deste protocolo<br />

com a Agência Portuguesa<br />

do Ambiente “a Tecnologia pode<br />

ajudar-nos a proteger o Ambiente e<br />

a criar novos projectos que o melhorem”.<br />

E a Microsoft foi de facto<br />

mais longe. A já habitual competição<br />

que incentiva os estudantes<br />

do ensino secundário e superior<br />

IMAGINE CUP, em cerca de uma<br />

centena de países, onde jovens<br />

portugueses foram distinguidos<br />

em 2007, tem este ano como<br />

tema “imagina um mundo onde<br />

a tecnologia possibilita o desenvolvimento<br />

de um ambiente sustentável”.<br />

Trata-se de um desafio<br />

para que os estudantes tomem<br />

“a única opção” – utilizar a<br />

Tecnologia para melhorar a Vida<br />

no Planeta Terra. E a Encarta<br />

<strong>2008</strong> com os seus conteúdos,<br />

dicionários bilingues, links para<br />

websites fiáveis, ferramentas<br />

matemáticas e vários recursos<br />

interactivos é de facto uma escolha<br />

a considerar para os que<br />

desejem, para além de aprender<br />

a proteger o Planeta Terra, embarcar<br />

na maravilhosa aventura<br />

do conhecimento. ■<br />

ajuda@gil.com.pt


Qashqai: um carro simpático<br />

Carlos Blanco<br />

O Qasqhai justitifica plenamente as razões para a existência de grande lista de espera<br />

na filial ibérica da Nissan...<br />

Trata-se de fenómeno de<br />

vendas baseado na rentabilização<br />

de características<br />

bastante valorizadas. Tais<br />

como: SUV, conceito automóvel em<br />

voga, a preço extremamente competitivo<br />

por opção do fabricante<br />

nipónico em versão sem tração integral<br />

– uma minoria utiliza estes<br />

veículos em TT – e motor Diesel<br />

económico mas competente, sob carroçaria<br />

de dimensões urbanas, compacta<br />

cujo interior tem espaço, conforto<br />

e funcionalidade.<br />

Além de ser bom automóvel bem<br />

direccionado ao cliente - alvo, o<br />

Nissan Qashqai assenta o seu êxito<br />

comercial noutro ponto fundamental<br />

para a escolha de automóvel: o<br />

preço desde 23.000 euros. Num segmento<br />

inflacionado pelos custos elevados<br />

da tecnologia dedicada à<br />

aptidão para todo-o-terreno, a Nissan<br />

suprime alguns dos mais caros,<br />

com modelo que simplesmente é<br />

um SUV sem pretensões de TT e<br />

além disso dispõe de motor turbodiesel<br />

de baixa cilindrada (1.5), outro<br />

relevante trunfo de economia.<br />

O Nissan Qashqai está disponível<br />

em versões de duas (4x2) ou quatro<br />

(4x4) rodas motrizes, nestas últimas<br />

apenas com motor turbodiesel 2.0<br />

dCi de 150 cv.<br />

Mesmo equipado com tracção<br />

integral, o mini-SUV da marca japonesa<br />

não tem pretensões a ser um<br />

todo-o-terreno, mas está, naturalmente,<br />

mais apto a aventurar-se<br />

além de estradões em mau estado. ■<br />

BOAVIDA<br />

Ao Volante<br />

Motor Diesel económico,<br />

carroçaria de dimensões<br />

urbanas, compacta, cujo<br />

interior tem espaço,<br />

conforto e funcionalidade<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 71


1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

13<br />

CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15<br />

SOLUÇÕES<br />

l-GIOTTO; PETRARCA. 2-ROTA; REATO; RIAM. 3-IDA; MARIA;<br />

IDOSA. 4-TO; RODAS; ARES; R. 5-0; PENAS; OMAR; AR. 6-MONIS;<br />

ITAS; OPA. 7-CORDA; ADIR; ALO. 8-ATIRO; ETER; ALA. 9-A; ADIAS;<br />

ELOS; OC. lO-NA; OASIS; AMOR; L. 11-TRI; SINAL; ACENA. 12-<br />

ROAM: CACEM; ALOR. 13-OSSUDO; AUTORIZA.<br />

Xadrez > por Joaquim Durão<br />

Remate singelo num torneio belga<br />

de1976, executado por Luc Winants – o<br />

melhor jogador do País na actualidade<br />

– em partida contra Van Geeven.<br />

AS PRETAS JOGAM E GANHAM<br />

FULMINANTEMENTE …<br />

Esta será, talvez, a partida mais famosa<br />

de todos os tempos. Um pequeno<br />

tratado de táctica, lógica e dos princípios<br />

que presidem às leis da abertura. A<br />

elegância da execução satisfaz a mais<br />

severa exigência, pois todos, um dia,<br />

gostaríamos de jogar uma partida<br />

assim.<br />

Curioso também é que a partida foi<br />

jogada num camarote da Ópera de<br />

Paris, num intervalo do “Barbeiro de<br />

Sevilha”, em 1858. Um jovem norteamericano<br />

visitava a Europa, precedido<br />

de extraordinária fama, que começara<br />

aos 12 anos. Os seus anfitriões, amadores<br />

do jogo, foram os adversários.<br />

Paul Morphy (Nova Orleães, 22.06.1837<br />

– 10.07.1884) – Duque de Brunswick e<br />

Conde de Isouard. Defesa Phillidor.<br />

72 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

1.e4 e5 2.Cf3 d6 3.d4 Bg4 4. dxe5 Bxf3<br />

(se 4…. Dxe5 5. Dxd8+Rxd8 6. Cxe5) 5.<br />

Dxf3 dxe5 6. Bc4 Cf6? 7. Db3 (Já com<br />

importantes ameaças sobre “f7” e “b7”.<br />

A resposta preta é a melhor, prevendo<br />

8.Dxb7 Db4+ obrigado a trocar as<br />

damas – do mal o menos. Mas Morphy<br />

prefere seguir com o desenvolvimento<br />

Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas<br />

Horizontais:<br />

l-Pintor f1orentino, amigo intimo de Dante (1266-1337); Poeta<br />

italiano, autor de “Epistolae” (1304-1370. 1-Rumo; Restabelece;<br />

Gracejavam. 3-Jornada; Nome pessoal feminino; Anciã. 4-<br />

Porca; Circulas; Parecenças. 5-Castigos; Sucessor de Abu Becre<br />

e segundo califa de 634 a 644; Ambiente. 6-Dinheiros; Pedras;<br />

Bebedeira. 7-Cabo; Somar; Para barlavento. 8-Arremesso;<br />

Atmosfera; Renque. 9-Aprazas; Argolas; “sim”, no dialecto<br />

provençal. 10 -”Sódio” (s.q.); Alívio; Afeição. 11-Pref. de “Três”;<br />

Marca; Gesticula. 12-Ratem; Busquem; Impulso. 13-Anguloso;<br />

Permite.<br />

Verticais:<br />

l-Brado; Caverna. 2-Iodina; Rale; Círculos. 3-Upa!; Acesso;<br />

Caminhavas. 4-Basta!; Substituído; Macho. 5-Repreenderias. 6-<br />

Ermidas; Relativo a “oásis”. 7-Estavas; Sorte. 8-Autores;<br />

Caminhai; Tira. 9-Letra grega; Inflamação dos ouvidos; Laró.<br />

10-”Tântalo” (s.q.); Lívida. “Meitenério” (s.q.). 11-Agastamentos;<br />

Capital europeia. 12-Abrasar; Bater. 13-Correntes de<br />

água; Remoinho; Recapitulei. 14-Casa; Febo; Cabeça. 15-<br />

Prende; Explana.<br />

de figuras) 8. Cc3 c6 (Defende “b7”) 9.<br />

Bg5 b5? (Pretendendo afastar as peças<br />

ofensivas, mas…) 10. Cxb5!! 11.Bxb5+<br />

Cbd7 12.0-0 Td8 (Defesa única) 13.<br />

Txd7 Txd7 14. Td1 De6 (Neste<br />

momento a partida já se pode ganhar<br />

de várias formas, como por exemplo,<br />

15. Dxe6+ fxe6 16. Bxf6 gxf6 17. Txd7<br />

etc. Mas Morphy vê o mate elegante,<br />

mesmo a tempo de ver a segunda parte<br />

da ópera) 15. Bxd7 Cxd7 16. Db8+!!<br />

Cxb8 17. Td8++.<br />

Princípios básicos da abertura<br />

cumpridos: domínio do centro, não<br />

perder tempos no desenvolvimento<br />

(jogar as figuras para as posições certas<br />

em um só lance), torres para as colunas<br />

abertas; consequência – a vantagem<br />

posicional vai permitir o sacrifício de<br />

material com vistas a um ataque<br />

imparável ou recuperação do material<br />

com “juros”.<br />

SOLUÇÕES<br />

Solução: 1…. Txd1+ 2. Txd1 De2 mate.


Este cupão só é válido na compra<br />

de 1 livro constante da nossa secção<br />

“ Novos livros ”, onde está incluído<br />

o preço de venda ao público<br />

(PVP) e respectiva Editora<br />

Clube<br />

TempoLivre<br />

Este cupão só é válido na compra<br />

de 1 livro constante da nossa secção<br />

“ Novos livros ”, onde está incluído<br />

o preço de venda ao público<br />

(PVP) e respectiva Editora<br />

Clube<br />

TempoLivre<br />

NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de <strong>2008</strong><br />

DESCONTO<br />

2,74<br />

Euros<br />

VALIDADE<br />

31de Dezembro/<strong>2008</strong><br />

DESCONTO<br />

2,74<br />

Euros<br />

VALIDADE<br />

31de Dezembro/<strong>2008</strong><br />

Este cupão só é válido na compra<br />

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Clube<br />

Clube<br />

TempoLivre<br />

Este cupão só é válido na compra<br />

de 1 livro constante da nossa secção<br />

“ Novos livros ”, onde está incluído<br />

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(PVP) e respectiva Editora<br />

CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE<br />

TempoLivre<br />

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31de Dezembro/<strong>2008</strong><br />

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VALIDADE<br />

31de Dezembro/<strong>2008</strong><br />

Remeter para<br />

Clube Tempo Livre –<br />

LIVROS, Calçada de<br />

Sant’Ana nº 180 –<br />

1169-062 Lisboa, o<br />

seguinte:<br />

● Pedido, referenciando<br />

a editora e o título<br />

da obra pretendida;<br />

● Cheque ou Vale dos<br />

Correios, correspondente<br />

ao valor (PVP)<br />

do livro, deduzindo<br />

2,74 euros de desconto<br />

do cupão.<br />

● Portes dos Correios<br />

referente ao envio da<br />

encomenda, com<br />

excepção do<br />

estrangeiro, serão<br />

suportados pelo Clube<br />

Tempo Livre. Em caso<br />

de devolução da<br />

encomenda, os custos<br />

de reenvio deverão ser<br />

suportados pelo<br />

associado.


CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS<br />

CAMPO DAS LETRAS<br />

MESTRES OURIVES DE<br />

GUIMARÃES - SÉCULOS<br />

XVIII E XIX<br />

Manuela de Alcântara<br />

Santos<br />

ISBN: 978-989-625-203-8<br />

296 pg. | 49.35 (PVP)<br />

Um estudo que traça o<br />

percurso dos mestres<br />

ourives vimaranenses dos<br />

séculos XVIII e XIX, e dá a<br />

conhecer as peças que<br />

produziam.<br />

Guimarães é terra de<br />

pergaminhos e de homens<br />

que acreditam na<br />

importância de preservar e<br />

divulgar o que lhes foi<br />

legado pelas gerações<br />

anteriores, mas, no entanto,<br />

a arte dos ourives, apesar<br />

da sua vetusta importância<br />

e da existência de alguns<br />

estudos parcelares<br />

permanecia quase<br />

desconhecida.<br />

SOL NASCENTE – DA<br />

CULTURA REPUBLICANA<br />

E ANARQUISTA<br />

AO NEO-REALISMO<br />

Luís Crespo de Andrade<br />

ISBN: 978-989-625-219-9<br />

208 pg. | 13, 65 (PVP)<br />

Criado e dirigido por<br />

estudantes universitários<br />

portuenses que se<br />

opunham à ordem política<br />

vigente e se sentiam unidos<br />

pela esperança num mundo<br />

novo, “Sol Nascente”<br />

começou por ser uma<br />

revista de orientação<br />

explicitamente ecléctica.<br />

Reuniu, então, artigos de<br />

intelectuais consagrados -<br />

com destaque para Abel<br />

Salazar - e colaborações de<br />

autores jovens, sempre com<br />

grande variedade de<br />

opinião e de sensibilidade.<br />

Quando, mais tarde, a<br />

redacção foi entregue a<br />

universitários<br />

conimbricences, o<br />

quinzenário perdeu o tom<br />

diversificado e converteu-se<br />

em órgão teórico e<br />

doutrinário marxista e<br />

leninista.<br />

MORTE DE PORTUGAL<br />

Miguel Real<br />

ISBN: 978-989-625-224-3<br />

128 pg. | 10 (PVP)<br />

Na linha de Eduardo<br />

Lourenço, este pequeno<br />

ensaio diligencia desenhar<br />

os quatro complexos<br />

culturais por que Portugal<br />

se foi concebendo ao longo<br />

de 800 anos de História: ora<br />

um país gerado contra as<br />

mais difíceis circunstâncias;<br />

ora um país que se vê como<br />

nação superior; ora um país<br />

que se lastima e se<br />

penitencia, considerando-se<br />

nação inferio; ora um país<br />

mesquinho, venenoso e<br />

bárbaro, no qual cada<br />

corrente política e<br />

intelectual tem sobrevivido<br />

da canibalização das<br />

correntes adversárias,<br />

negando-as e humilhandoas.<br />

EDITORIAL PRESENÇA<br />

CARTAS DE UMA MÃE<br />

Catherine Dunne<br />

ISBN: 978-972-23-3876-9<br />

221 pg. | 15 (PVP)<br />

Um romance que aborda<br />

um intenso conflito familiar<br />

dominado pelos inevitáveis<br />

jogos de poder que tantas<br />

vezes condicionam as<br />

relações afectivas mais<br />

profundas. Alice e Beth,<br />

mãe e filha, protagonizam<br />

uma ligação ensombrada<br />

pelo silêncio ruidoso e<br />

agreste que há muito se<br />

instalou entre elas e que<br />

ambas desejam,<br />

intimamente, quebrar. Cabe<br />

a Alice, condenada por uma<br />

série de acidentes<br />

vasculares cerebrais e<br />

ciente de poder perder a<br />

qualquer momento a<br />

lucidez, dar o primeiro<br />

passo.


CIDADE INQUIETA<br />

Brian Freeman<br />

ISBN: 978-972-23-3885-1<br />

404 pg. | 20 (PVP)<br />

Em Las Vegas, cidade onde<br />

o glamour e o vício brilham<br />

no máximo esplendor,<br />

ocorrem dois crimes sem<br />

aparente motivação e sem<br />

relação evidente entre si.<br />

Os detecives Strider e<br />

Amanda estão a investigar<br />

o assassínio à queimaroupa<br />

de um herdeiro de<br />

uma grande fortuna. Serena<br />

Dial, mulher de Strider, está<br />

por seu lado ocupada com o<br />

caso chocante de um<br />

rapazinho mortalmente<br />

atropelado por um condutor<br />

que fugiu. Outros crimes<br />

ocorrem, mas como<br />

denunciar alguém intocável<br />

sem pôr em risco a própria<br />

segurança?<br />

A SAGA DOS OTORI - O<br />

VOO DA GARÇA<br />

Lian Hearn<br />

ISBN: 978-972-23-3873-8<br />

479 pg. | 22 (PVP)<br />

De regresso ao seu<br />

imaginário envolvente,<br />

reencontramos Takeo e<br />

Kaede, que governam os<br />

Três Países há já dezasseis<br />

anos. Sob os seus<br />

desígnios, os territórios<br />

prosperam; contudo, nas<br />

sombras, os inimigos<br />

conspiram, determinados a<br />

derrubá-los. Repleto de<br />

intriga, magia, romance e<br />

acção, este é o novo livro de<br />

uma série que já foi<br />

aclamada como um clássico<br />

moderno.<br />

GRADIVA<br />

CRÓNICAS DOS ÁTOMOS E<br />

DAS GALÁXIAS<br />

Hubert Reeves<br />

204 pg. | 17,50 (PVP)<br />

As mais recentes<br />

descobertas nos campos da<br />

astrofísica e da cosmologia<br />

apresentadas por um<br />

respeitado cientista e<br />

admirável comunicador.<br />

Aliando o rigor e a clareza a<br />

uma singular sensibilidade<br />

poética, o autor conduz o<br />

leitor à compreensão de<br />

temas tão complexos como<br />

o Big Bang, a curvatura do<br />

universo, a matéria e a<br />

energia «escuras», os<br />

universos paralelos ou os<br />

buracos negros. As<br />

brilhantes crónicas<br />

radiofónicas de Reeves<br />

reunidas num livro irá<br />

deliciar e inspirar os seus<br />

inúmeros admiradores.<br />

WANYA – ESCALA EM<br />

ORONGO<br />

Nelson Dias (desenho) e<br />

Augusto Mota (texto)<br />

68 pg. | 15 (PVP)<br />

Numa pequeníssima<br />

tiragem comemorativa, este<br />

álbum marcante na<br />

moderna banda desenhada<br />

portuguesa publicado nos<br />

anos 70 e merecedor das<br />

melhores referências da<br />

crítica especializada, é<br />

agora reeditado. «O retrato<br />

metafórico de um país a<br />

preto-e-branco, sob o manto<br />

diáfano da fantasia. Wanya<br />

é a primeira banda<br />

desenhada adulta da idade<br />

adulta da banda desenhada<br />

portuguesa», tal como<br />

refere Rui Zink na nota<br />

introdutória que integra o<br />

livro.


CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO<br />

BRAGA<br />

Cultura<br />

CINEMA: Filme “Um<br />

Casamento Quase Perfeito”<br />

às 21h - dia 15 no Centro<br />

Recreativo e Cult. de<br />

Moreira de Cónegos; dia 16<br />

no Centro Recreativo e Cult.<br />

de Campelos; dia 22 no<br />

CCD da Assoc. Recreativa e<br />

Cult. de Valdozende, dia 23<br />

no Casa do Povo de Apúlia.<br />

ESPECTÁCULOS: dia 2 às<br />

15h - espectáculo de palhaços<br />

na Casado Povo de<br />

Milhazes (Barcelos); dia 5<br />

às 15h – Gr. Musical do<br />

Centro Acad. de Braga –<br />

CABçudos na Associação<br />

Cult. e Recreativa de<br />

Parada de Bouro em Vieira<br />

do Minho.<br />

TEATRO: dia 9 às 15h – “As<br />

Desventuras do Sr.<br />

Vampirius” pelo Gr. de<br />

Teatro Infantil de Braga no<br />

Auditório da Delegação do<br />

Instituto Português da<br />

Juventude, em Braga.<br />

Cursos: Danças de Salão e<br />

Latino – Americanas,<br />

Iniciação Musical e Piano,<br />

Artes Decorativas,<br />

Reciclagem Artística,<br />

Teatro, Bordados Regionais<br />

e Viola Clássica.<br />

Desporto<br />

CANOAGEM: dia 16 – actividade<br />

no Rio Cavado em Braga<br />

FUTEBOL: Sábados e<br />

Domingos – Jornadas do<br />

C.D. Futebol<br />

ATLETISMO: dia 17 –<br />

Campeonato Distrital<br />

Rampa, em Braga<br />

DAMAS: dia 13 – Torneios de<br />

Inverno em Braga<br />

TÉNIS DE MESA: dia 2 –<br />

Torneios de Inverno em<br />

Guimarães<br />

VOLEIBOL: dia 22 Torneios<br />

Primavera em Braga.<br />

XADREZ: dia 6 – Torneios de<br />

Carnaval em Braga<br />

76 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

COIMBRA<br />

Desporto<br />

ATLETISMO: dia 16 – 4º<br />

Torneio Lançamento/Cluve<br />

no Estádio Cidade de<br />

Coimbra.<br />

FUTEBOL: dias 10, 17 e 24 –<br />

Jornadas do Campeonato<br />

Distrital<br />

VOLEIBOL: dias 8, 15 e 22 –<br />

Jornadas do Campeonato<br />

Distrital<br />

COVILHÃ<br />

Cultura<br />

ACÇÃO DE FORMAÇÃO: dias<br />

9 e 16 às 9h – Acção de<br />

Formação: Cultura Popular –<br />

Etnografia e Folclore, no<br />

Pólo Ciências Sociais e<br />

Humanas da UBI (Univ. da<br />

Beira Interior), na Covilhã,<br />

mais informações contacte<br />

a Delegação.<br />

Desporto<br />

PEDESTRIANISMO: dia 24 -<br />

“Neve e Frio” – Marcha<br />

Passeio na Serra da Estrela<br />

TÉNIS DE MESA: dia 2 -<br />

Campeonato Nacional<br />

Veteranos; dia 9 - 10º<br />

Torneio Aberto CCD “As<br />

Palmeiras” em Castelo<br />

Branco.<br />

XADREZ: dias 9 e 10 -<br />

Campeonato Nacional (individual)<br />

DAMAS: dia 9 e 10 -<br />

Campeonato Nacional<br />

(equipas)<br />

GUARDA<br />

<br />

Roteiro <strong>Inatel</strong> de actividades culturais e desportivas<br />

Cultura<br />

PLANOS DE APOIO: dias 10 -<br />

Planos Nacionais de Apoio:<br />

Cerimónia de Entrega, no<br />

Teatro Municipal da Guarda.<br />

Desporto<br />

Btt: dia 24 às 9h - Passeio “<br />

Rota da Estrela” em<br />

Videmonte.<br />

DAMAS: dia 16 às 14h -<br />

Torneio em Nespereira.<br />

PEDESTRIANISMO: dia 10 –<br />

Passeio pedestre no<br />

Concelho da Guarda; dia 24<br />

-Pedestrianismo no<br />

Concelho de Celorico da<br />

Beira.<br />

MONTANHISMO: de 1 a 5 -<br />

Nevestrela <strong>2008</strong> (Actividade<br />

de acampamento, pedestrianismo<br />

e escalada em<br />

rocha), no Covão da<br />

Ametade, Serra da Estrela.<br />

TÉNIS DE MESA: dia 23 às<br />

14h - Torneio “Os Beirões”<br />

em Maçaínhas<br />

TIRO AO ALVO: dia 16 às<br />

14h30 - Torneio “ Cidade de<br />

Pinhel” em Pinhel; dia 23 às<br />

14h30-Torneio “Os Beirões<br />

de Maçaínhas” em<br />

Maçaínhas.<br />

LEIRIA<br />

Cultura<br />

CARNAVAL: dias 3 às 15 h -<br />

Dia do Palhaço,<br />

Espectáculo Infantil “Os<br />

Kellys” no Teatro Miguel<br />

Franco, em Leiria; dia 4 às<br />

22h - Dia do Folião,<br />

Concurso de Máscaras<br />

Irreverência <strong>2008</strong>”; dia a 5<br />

às 15h - Espectáculo<br />

Infantil “O Carnaval da Sr.ª<br />

Marquesa” (formas animadas)<br />

no Teatro Miguel<br />

Franco, em Leiria.<br />

Desporto<br />

FUTSAL: dias 16 e 23 às 15h<br />

– Campeonato Distrital -<br />

Série A no Pavilhão do CCD<br />

Gr. Desp. e Recr. de<br />

Parceiros, em Leiria e Série<br />

B no Pavilhão Gim. Rainha<br />

D. Leonor, em Caldas da<br />

Rainha.<br />

PEDESTRIANISMO: dia 3 às<br />

9h – Passeio Pedestre em<br />

Santiago de Litém / Pombal<br />

TÉNIS DE MESA: dia 16 às<br />

9h30 – Campeonatos<br />

Nacionais (Individuais) no<br />

Pavilhão Rainha D. Leonor,<br />

Caldas da Rainha.<br />

TIRO: dia 17 às 15h –<br />

Torneio no CCD U.P. Vale<br />

Covo em Bombarral.<br />

LISBOA<br />

Teatro da Trindade<br />

SALA PRINCIPAL: a partir do<br />

dia 21 às 21h30 e dom. às<br />

16h - O Dia das Mentiras<br />

SALA ESTÚDIO: A partir do<br />

dia 16 às 22h e Dom. 17h -<br />

Bululú<br />

TEATRO-BAR: Até ao dia 23<br />

às 23h - Made In Brazil<br />

PORTO<br />

Cultura<br />

EXPOSIÇÃO: até ao dia 29 -<br />

Pintura de Belmira<br />

Guimarães intitulada<br />

“Renascer”, na Galeria da<br />

Delegação<br />

VISITA: dia 23 - Passeio<br />

c/História a Montemor-o-<br />

Velho.<br />

CINEMA: Exibição de filme<br />

nos seguintes locais: dia 2<br />

na Casa do Povo de<br />

Longra; dia 8 na Banda<br />

Musical de Melres; dia 9<br />

no Rancho Folc. Citania de<br />

Sanfins; dia 12 no Círculo<br />

Católico do Porto; dia 15<br />

no Rancho Folc. de<br />

Marítimas e Angeiras; dia<br />

16 no Rancho Folc. Sta.<br />

Marinha de Crestuma; dia<br />

20 no Orfeão da Madalena;<br />

dia 22 no Rancho Folc. de<br />

Baião; dia 23 no Rancho<br />

Folc. de Sta. Cruz do<br />

Douro; dia 28 no Rancho<br />

Típico S. Mamede de<br />

Infesta.


Desporto<br />

CICLOTURISMO: até ao dia<br />

25 – Inscrições para o<br />

Passeio “Cidade da Lixa”<br />

que se realiza a 2 de Março.<br />

CAMPEONATOS: até ao dia<br />

25 – Inscrições para o<br />

Campeonato Distrital de<br />

Basquetebol, Ténis de<br />

Mesa, Voleibol e Futsal<br />

.<br />

VIANA DO CASTELO<br />

Cultura<br />

TEATRO: dia 9 e 10 às 21h30<br />

- Revista à Portuguesa<br />

“Zipanço” pelo Gr. de<br />

Teatro SIR Carreço, em<br />

Carreço; dia 9 às 21h30 -<br />

Em Casa do Mestre Pathelin<br />

pelo Gr. de Teatro Chafé no<br />

Centro de Instrução e<br />

Recreio Vilarmourense.<br />

Desporto<br />

ATLETISMO: dia 17 às 10h30<br />

- Campeonato Distrital<br />

Estrada em Vila de Punhe.<br />

Tiro: dia 16 às 14h30 -<br />

Torneio Aberto no CCD da<br />

Casa do Povo de Fontão<br />

FUTEBOL: dias 3, 10, 17 e 24<br />

- Jornadas do Campeonato<br />

Distrital de Futebol 11<br />

FUTSAL: dias 2, 9 e 23 -<br />

Jornadas do Campeonato<br />

Distrital.<br />

VISEU<br />

Cultura<br />

ENTRUDO: dia 3 às 15h - O<br />

Entrudo de Lazarim: Desfile<br />

de Máscaras e Caretos, em<br />

Lamego,<br />

Desfile da Dança Grande ou<br />

Dança dos Cus em Cabanas<br />

de Viriato e Desfile de carros<br />

Alegóricos em Negrelos;<br />

dia 5 às 17h - Leitura do<br />

testamento e rebentamento<br />

do Compadre e da Comadre<br />

em Lazarim e às 21h30 -<br />

Leitura de testamento em<br />

Viseu e queima do Entrudo<br />

em Repeses.<br />

CANTO: dia 8 - Início de<br />

Ciclo do Canto do Amentar<br />

das Almas em Abraveses,<br />

Alcofra, Pindelo dos<br />

Milagres, Queira, Travassós<br />

de Orgens, Lordosa e S.<br />

João do Monte.<br />

Desporto<br />

BTT: dia 24 às 9h - Passeio<br />

em Nelas.<br />

FUTEBOL: dia 3, 10, 17 e 24<br />

às 15h - Jornadas do<br />

Campeonato Distrital


O CHEFE SUGERE<br />

MANUEL SILVA| INATEL PALACE<br />

Arroz de Pato à Moda de Lafões<br />

Este é um prato bastante completo, diferente do<br />

arroz de pato preparado de forma mais<br />

convencional. O que o torna interessante é o facto de<br />

serem incluídos produtos hortícolas em porções<br />

generosas, e também o facto de serem usados outros<br />

tipos de carne para além do pato.<br />

Podemos ainda melhorar este prato, do ponto de<br />

vista nutricional, se tivermos o cuidado especial em<br />

retirar todas as gorduras visíveis do pato, e retirar<br />

também a gordura coagulada à superfície da água de<br />

cozedura. Assim, é possível obter um prato mais<br />

equilibrado, com uma menor quantidade de gordura<br />

total.<br />

INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS:<br />

200g de pato, 250g de vitela, 120g de presunto, 100g<br />

de chouriça (para enfeitar e para o recheio), 240g de<br />

arroz, 800g de couve lombarda (cortada em Juliana<br />

grossa), 180g de cenoura (em Camponesa)<br />

PREPARA-SE ASSIM:<br />

Cozem-se as carnes de véspera, desfiam-se e<br />

guardam-se cobertas no frigorífico até serem<br />

confeccionadas.<br />

A água de cozer as carnes é coada e também<br />

guardada no frigorífico, pois irá servir para cozer,<br />

separadamente, os hortícolas e o arroz. No dia<br />

seguinte deve ser retirada a gordura concentrada à<br />

superfície da água, antes da confecção.<br />

No próprio dia, e já depois de cozinhados, dispõemse<br />

em camadas, num tabuleiro, os diversos<br />

ingredientes, dispostos em camadas, da seguinte<br />

forma: uma camada de arroz, uma camada de<br />

carnes, uma camada de hortícolas (couve e cenoura<br />

cozidas), seguindo-se novamente uma camada de<br />

arroz. O tabuleiro assim disposto vai ao forno a<br />

corar. Depois de retirado do forno, enfeita-se com<br />

chouriço cozido.<br />

COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA:<br />

• 41,1 g de proteínas; • 12,0 g de gordura; • 62,9 g<br />

de hidratos de carbono; • 8,1 g de fibra; • 508,8 kcal<br />

INFORMAÇÕES E RESERVAS:<br />

INATEL PALACE<br />

Termas S. Pedro do Sul, 3660-692 Várzea SPS<br />

Tels: 232 720200 (geral) 232 720201 (reservas) - Fax:<br />

232 720240<br />

Email: cf.spsul@inatel.pt<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 79


O TEMPO E AS PALAVRAS | MARIA ALICE VILA FABIÃO<br />

Breve crónica de uma ausência<br />

Hei-de caminhar de novo. / Hei-de levantar as ruínas da minha casa / e as ruínas do meu coração. / Hei-de vestir-me de asas e<br />

de sóis / de presenças amadas. […] Eu, persignada pelo vento, / desafiando conjuros… / Hei-de cingir de novo o meu<br />

relâmpago. Amparo Osório, “Ressurreição”, in: Antología Primera. Trad: MAVF<br />

Sai furtivamente do renque de cedros centenares<br />

que delimitam o terréu onde passa os seus dias<br />

e avança rápido na minha direcção. Imóvel,<br />

observo-o da distância, cada vez mais curta, que<br />

nos separa: rústico, atarracado, membros espessos e sólidos<br />

– “eumétrico”, diriam os especialistas, já que, excluído<br />

o pescoço, o perfil do seu corpo maciço desenha um<br />

quadrado perfeito. Tudo na sua atitude revela jovialidade<br />

e autoconfiança.<br />

De súbito, pela primeira vez no nosso relacionamento,<br />

estamos frente-a-frente, sem um muro a separar-nos.<br />

Nos seus imensos olhos castanhos, que um recente corte<br />

da melena deixa visíveis em toda a sua beleza, detecto o<br />

reflexo de um risinho alucinado: sem dúvida a alegria<br />

das barreiras ilicitamente vencidas, da liberdade<br />

ilicitamente conquistada – o prazer da prevaricação.<br />

Como Juan Gimenez ao seu burrico de ternura, sintome<br />

tentada a dizer-lhe: “Qué reguapo estás, Platero!”<br />

Contenho-me, porém: Platero é um humilde burro, um<br />

Equus asinus; ele, a quem alguém baptizou de Black não<br />

obstante a sua pelagem castanha, é um “pónei”, que se<br />

pretende descendente dos Equus Ferus Ferus de<br />

Przsenwalski, de uma linhagem de pequenos cavalos<br />

selvagens cuja origem remonta à última era pós-glacial.<br />

Respeitadora da sua sensibilidade equina, calo-me.<br />

Black aproveita o meu silêncio cortês para me mordiscar<br />

a manga do casaco, em busca, certamente, do cubo de<br />

açúcar que julga ser seu por direito consuetudinário.<br />

Com um breve gesto de enfado, afasto-me… e fico,<br />

finalmente, a saber o que sentem os acrobatas que,<br />

desafiando as leis da gravidade, são projectados no<br />

vazio, sem poderem contar com uma rede salvadora no<br />

extremo do movimento: NADA, absolutamente NADA,<br />

que é demasiado breve o acontecer para sentirmos o que<br />

quer que seja.<br />

Catapultada pela poderosa cabeçada de um frustrado<br />

Black, o meu voo termina a alguns metros de distância,<br />

num solo endurecido pela sequia. A aterragem ruidosa<br />

não deixa margem para dúvidas: fractura.<br />

Ruídos, ruídos de vozes, silêncio súbito das aves nas<br />

árvores – “eu amo as árvores principalmente as que dão<br />

pássaros”*.<br />

Percorre-me as veias a memória dos rostos angustiados<br />

e das constantes queixas de quem não tem alternativa<br />

para serviços de urgência cujo funcionamento semeia a<br />

inquietude nos corações ansiosos.<br />

Eu tenho alternativa. Onde, porém, a palavra que<br />

procuro, a palavra que mostre um caminho para além da<br />

encruzilhada – lugar de risco e de rumo, de<br />

discernimento e de escolha, dizem?<br />

Ela chega directamente do Hospital: “Venha! Aqui, os<br />

doentes são mais bem tratados do que a Rainha de<br />

Inglaterra!”<br />

A<br />

pós uma cirurgia e três semanas no Serviço<br />

de Ortopedia da Unidade Hospitalar da<br />

cidade**, ainda não sei como seria ali tratada<br />

a Rainha de Inglaterra.<br />

Talvez Sua Majestade britânica exigisse um pouco mais<br />

de espaço individual na sala amigavelmente partilhada<br />

sem reclamações por três sinistradas portuguesas, para<br />

que o corpo de magnificas enfermeiras, enfermeiros e<br />

auxiliares pudesse desempenhar com menos sacrifício<br />

físico as suas funções da maneira exemplar como ali<br />

desempenham.<br />

O tempo é longo, na imobilidade. E mais longo ainda<br />

o tempo-noite, quando as campainhas soam como<br />

insistentes pedidos de socorro para além da porta que dá<br />

para o desconhecido. Talvez Sua Majestade Britânica<br />

considerasse demasiado injusto o facto de o<br />

atendimento de tantos pedidos de socorro nocturnos ser<br />

feito por uma única ou um único auxiliar à beira da<br />

exaustão e solicitasse delicadamente à administração<br />

hospitalar o aumento do seu número.<br />

Em último lugar, mas não menos importante, talvez<br />

Sua Majestade Britânica apreciasse devidamente, como<br />

esta plebeia cidadã nacional, o momento da chegada dos<br />

novos turnos de enfermeiras/os, com o seu sorriso aberto<br />

e, nas sacas a tiracolo, as teses em preparação ou o<br />

material de investigação que, para bem de todos nós,<br />

fará deles profissionais especializados – a caminho de<br />

um novo Serviço Nacional de Saúde. Afinal,<br />

comprovadamente, Senhores Leitores, Eles fazem a<br />

diferença. Para todos eles, a minha admiração e o meu<br />

“muito obrigada”! ■<br />

* Ruy Belo ** Póvoa de Varzim.<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 81


82 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

CRÓNICA |JOAQUIM LETRIA<br />

As escravas do esqueleto<br />

Confesso que raramente resisto ao<br />

Fashion TV, canal suave que acumula<br />

horas sem fim de desfiles de<br />

moda. Os olhos agarram-se-me às<br />

ossadas que se desconjuntam para lá e para<br />

cá, na “passerelle”, a mão perde a vontade<br />

até deixar tombar o controle remoto e esvaise-me<br />

a fúria do “zapping” que me agitava<br />

até àquele momento. Fico a olhar, simplesmente,<br />

sem vontade de coisa alguma.<br />

A magreza que se desdobra naquele canal<br />

esta magreza excessiva, inventada,<br />

cultivada, é uma afronta a Rubens,<br />

através duma mulher que nunca<br />

existiu, que adulada mas não amada,<br />

que vestem mas não desnudam,<br />

utilizam mas pouco respeitam<br />

temático, ora para cá, ora para lá, fascina-me,<br />

assusta-me e acaba por me prender, osso a<br />

osso, peça a peça, gesto a gesto, amarrado à<br />

fria indiferença profissional dos modelos que<br />

desfilam. Olha os fémures desta, repara no<br />

esterno daquela, suporte de costelas descarnadas,<br />

vê como esta quase troca os pés e os<br />

joelhos se tocam e os sapatos caiem, enormes.<br />

Que lindos, os olhos roxos desta pernilonga,<br />

tão bonita que ela poderá ser no momento<br />

em que se transforme em mulher de carne e<br />

osso.<br />

Há quem defenda que estas raparigas<br />

esgalgadas, secas e frias, de olhos hostis e sorriso<br />

desdenhoso, cara de poucos amigos, representam<br />

um conceito de beleza. Há anos,<br />

produzi um programa de televisão que<br />

englobava uma elegante passagem de modelos<br />

de um costureiro de extrema qualidade.<br />

Ele fazia desfilar as suas criações nos seus<br />

manequins. Horas antes de gravarmos,<br />

chegou um alegre grupo de meninas muito<br />

jovens, quase colegiais, simpáticas e alegres.<br />

Não as reconheci, depois de maquilhadas e<br />

vestidas, a ensaiarem o desfile como se não<br />

existisse mais nada para além dos tecidos diáfanos<br />

que envergavam.<br />

É essa a sua grande arma, a capacidade de<br />

desaparecerem no espaço e de só reincarnarem<br />

no seu mundo profissional, contínuo<br />

escaparate, montra eterna que atrai milhares<br />

de jovens que sonham pertencer a este universo<br />

associado ao dinheiro, à fama, à popularidade<br />

e ao amor.<br />

São estas mulheres que dão vida, valorizam,<br />

emprestam alma às criações que envergam<br />

e que muitas vezes são desenhadas<br />

para os seus corpos, para a sua altura, para as<br />

suas pernas, para o seu andar. Nada disto um<br />

cabide pode criar. Logo, esta magreza excessiva,<br />

inventada, cultivada, é uma afronta a<br />

Rubens, através duma mulher que nunca<br />

existiu, que adulada mas não amada, que<br />

vestem mas não desnudam, utilizam mas<br />

pouco respeitam.<br />

Oefémero é bom quando não nega<br />

o futuro. Muitos destes modelos<br />

recuperam o seu perfil quando<br />

os anos fazem abandonar a<br />

profissão. Mas há quem fique prisioneira da<br />

sua magreza, escrava do seu esqueleto, como<br />

milhares de outras jovens aterradas diante<br />

dum espelho ou desgostosas sobre uma balança<br />

que lhes revela um grama a mais.<br />

Irónico como nas sociedades mais desenvolvidas<br />

e ricas se pode morrer de fome e<br />

representar a imagem deste mal, vivendo no<br />

luxo e ganhando fortunas. Criaram um ser<br />

que pouco pode ter a ver com a mulher e que<br />

a pode arrastar para a beira dum precipício<br />

de onde vai querer renascer e viver uma<br />

nova vida, quando chegar esse momento. ■<br />

jletria@yahoo.com

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