26.06.2013 Views

o que nos ensina a jovem homossexual de freud sobre o que é ser ...

o que nos ensina a jovem homossexual de freud sobre o que é ser ...

o que nos ensina a jovem homossexual de freud sobre o que é ser ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

88 OKBA NATAHI E OLIVER DOUVILLE<br />

Para Freud, ela se engaja na resolução do complexo edipiano; ficará<br />

dominada por um “forte <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>ser</strong> mãe e <strong>de</strong> ter um filho”<br />

(Freud, [1920] 1969: 167). Se <strong>nos</strong> precipitarmos, concordando<br />

com Freud, po<strong>de</strong>mos não perceber o tempo lógico. Por <strong>que</strong> o fato<br />

<strong>de</strong> uma adolescente se ocupar <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong>termina <strong>que</strong> tenha<br />

o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>ser</strong> mãe? Num es<strong>que</strong>ma elementar, “cuidar <strong>de</strong> uma<br />

criança” <strong>de</strong>ve <strong>ser</strong> consi<strong>de</strong>rado uma mensagem en<strong>de</strong>reçada ao outro,<br />

<strong>ser</strong> vista cuidando <strong>de</strong> crianças pe<strong>que</strong>nas <strong>é</strong> uma forma <strong>de</strong> encenar<br />

os atributos femini<strong>nos</strong>, apropriando-se <strong>de</strong>les. Assim sendo, não<br />

se trata <strong>de</strong> <strong>que</strong>rer <strong>ser</strong> mãe, mas <strong>de</strong> encontrar no olhar do Outro<br />

uma resposta <strong>sobre</strong> o mist<strong>é</strong>rio da feminilida<strong>de</strong>. É difícil dizer <strong>que</strong><br />

somente o <strong>de</strong>sejo unívoco <strong>de</strong> <strong>ser</strong> mãe oriente, sem reflexivida<strong>de</strong>, a<br />

<strong>que</strong>stão da i<strong>de</strong>ntificação inconsciente <strong>de</strong>sse sujeito. É mais verossímil<br />

supor <strong>que</strong> essa <strong>jovem</strong> <strong>de</strong>va reencontrar o sentimento maternal<br />

imerso no campo dial<strong>é</strong>tico das i<strong>de</strong>ntificações. Um elemento biográfico<br />

corrobora essa id<strong>é</strong>ia.<br />

Quando o menino ultrapassou os 3 a<strong>nos</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, a <strong>jovem</strong> se<br />

<strong>de</strong>sinteressou bruscamente <strong>de</strong>le, o <strong>que</strong> tamb<strong>é</strong>m era contemporâneo<br />

ao aumento <strong>de</strong> peso da mãe. Ressaltamos <strong>que</strong> sua orientação em<br />

direção à Dama <strong>é</strong> diretamente ligada ao nascimento do último <strong>de</strong><br />

seus irmãos. Que acontecimentos e impasses foram <strong>de</strong>terminantes,<br />

<strong>que</strong> falta foi preenchida nesse reencontro encenado entre mãe e filha<br />

para <strong>que</strong> a <strong>jovem</strong> orientasse seus investimentos amorosos em direção<br />

às mulheres realizadas, como a mãe? Somente três a<strong>nos</strong> após o nascimento<br />

do último irmão surgiria a paixão escandalosa. Três a<strong>nos</strong> fora<br />

o tempo <strong>de</strong> latência para a instalação do fantasma. Neste caso, a<br />

periodicida<strong>de</strong> <strong>é</strong> impressionante: seu irmão menor acabara <strong>de</strong> atingir<br />

a ida<strong>de</strong> do menino do qual ela cuidava. Três a<strong>nos</strong>, segundo Freud, <strong>é</strong><br />

tamb<strong>é</strong>m a ida<strong>de</strong> em <strong>que</strong> a criança se <strong>de</strong>para com a diferença entre os<br />

sexos. Po<strong>de</strong>ríamos compreen<strong>de</strong>r <strong>que</strong> a própria <strong>jovem</strong> era a criança<br />

da qual cuidava e <strong>que</strong>, no momento em <strong>que</strong> a diferença sexual emerge<br />

ao <strong>de</strong>parar-se com uma criança <strong>de</strong> três a<strong>nos</strong>, se vê confrontada<br />

com o <strong>que</strong> experimentara na puberda<strong>de</strong>, saindo em busca <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> mãe, at<strong>é</strong> vir a se fixar numa mulher <strong>homossexual</strong>.<br />

TEMPO PSICANALÍTICO, RIO DE JANEIRO, V.40.1, P.77-104, 2008

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!