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o que nos ensina a jovem homossexual de freud sobre o que é ser ...

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82 OKBA NATAHI E OLIVER DOUVILLE<br />

cúmplices. Uma configuração como essa não <strong>é</strong> a <strong>que</strong> percebemos<br />

<strong>nos</strong> “padrões sexuais da hist<strong>é</strong>rica”, <strong>que</strong> dão à i<strong>de</strong>ntificação hist<strong>é</strong>rica<br />

um enquadre <strong>de</strong> suas manifestações, a partir do <strong>que</strong> Freud ([1900]<br />

1969) estabeleceu, <strong>de</strong>pois da análise do “sonho da bela açougueira”,<br />

<strong>que</strong> elas gravitam em torno da i<strong>de</strong>ntificação à outra mulher, na medida<br />

em <strong>que</strong> esta seja sua rival, o <strong>que</strong> <strong>é</strong> indispensável <strong>que</strong> ocorra. Ou,<br />

no caso <strong>de</strong>ssa <strong>jovem</strong>, nós reencontraremos uma versão feminina da<br />

organização sentimental <strong>que</strong> po<strong>de</strong>ria prefigurar a pressão masculina<br />

<strong>homossexual</strong> organizada em torno <strong>de</strong> um lí<strong>de</strong>r e dos semelhantes,<br />

um tipo <strong>de</strong> laço social <strong>que</strong>, um ano mais tar<strong>de</strong>, Freud ([1921] 1969)<br />

iria es<strong>que</strong>matizar.<br />

Presa da Outra, a <strong>jovem</strong> “negligencia sua própria reputação”;<br />

sacrifica seu pudor ao objeto <strong>de</strong> paixão. Devemos <strong>nos</strong> interrogar<br />

<strong>sobre</strong> sua <strong>de</strong>manda ao atualizar a posição <strong>de</strong> espera tão própria ao<br />

sujeito como ativida<strong>de</strong> egóica: ela procura a Dama, lhe envia flores,<br />

buscando tanto segui-la quanto precedê-la. Chegando a esse ponto,<br />

Freud ressalta uma contradição: opõe a fran<strong>que</strong>za excessiva das condutas<br />

amorosas aos subterfúgios e dissimulações pelos quais a <strong>jovem</strong><br />

tenta se reaproximar da Dama. Mas qual <strong>é</strong> a contradição se o <strong>que</strong><br />

essa <strong>jovem</strong> faz <strong>é</strong> se inscrever na dinâmica da mentira e da problemática<br />

correlativa, a confissão? A contradição <strong>que</strong> Freud <strong>de</strong>signa aqui<br />

tem pouco a ver com a divisão subjetiva inerente à posição feminina<br />

da <strong>jovem</strong>. Todo o arsenal <strong>de</strong> estratagemas <strong>de</strong> <strong>que</strong> lança mão para<br />

conseguir se encontrar com a amada <strong>de</strong>veria <strong>ser</strong> escamoteado e <strong>de</strong>fine<br />

uma dinâmica da conduta amorosa, mas não necessariamente<br />

um conflito psíquico: nada leva a crer <strong>que</strong> essas estrat<strong>é</strong>gias se passem<br />

<strong>de</strong> forma inconsciente.<br />

Acreditamos <strong>que</strong> po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar <strong>que</strong> o <strong>que</strong> <strong>de</strong>ve <strong>ser</strong> oferecido<br />

ao olhar do outro <strong>é</strong> a conjugação com o objeto. O movimento<br />

<strong>que</strong> prece<strong>de</strong> esse acasalamento <strong>de</strong>ve <strong>ser</strong> dissimulado e <strong>é</strong> aí <strong>que</strong> a <strong>jovem</strong><br />

dá, no seio da comunida<strong>de</strong> feminina, consistência à intriga. O<br />

<strong>de</strong>safio era para ela um passo necessário e freqüente, uma forma<br />

obrigatória <strong>de</strong> apresentar sua ligação amorosa. A repetição <strong>de</strong>sse ato<br />

representava o próprio <strong>que</strong>stionamento acerca <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> se-<br />

TEMPO PSICANALÍTICO, RIO DE JANEIRO, V.40.1, P.77-104, 2008

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