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o que nos ensina a jovem homossexual de freud sobre o que é ser ...

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90 OKBA NATAHI E OLIVER DOUVILLE<br />

apresenta um caráter bissexual, o <strong>que</strong> Freud consi<strong>de</strong>ra um fenômeno<br />

não raro nas escolhas <strong>de</strong> objeto dos homossexuais. A reação do<br />

pai <strong>é</strong> o <strong>que</strong> fixará a posição <strong>homossexual</strong> da <strong>jovem</strong>: o <strong>de</strong>safio. A<br />

“<strong>homossexual</strong>ida<strong>de</strong>” <strong>ser</strong>ia o <strong>que</strong> agruparia e equilibraria todos os<br />

complexos familiares da <strong>jovem</strong>. Neste ponto, Freud dá ao <strong>de</strong>spudor<br />

da <strong>jovem</strong> uma razão <strong>que</strong> não <strong>é</strong> a do culto amoroso pela Dama.<br />

A interpretação <strong>que</strong> ele propõe da posição <strong>homossexual</strong> seguirá<br />

dois circuitos: a paixão pela mulher e o <strong>de</strong>safio ao pai. Se comprovadas,<br />

essas hipóteses levarão a uma conduta bem mais ampla do<br />

<strong>que</strong> consi<strong>de</strong>rar a <strong>homossexual</strong>ida<strong>de</strong> somente como uma histerização<br />

na busca da feminilida<strong>de</strong> ou como satisfação <strong>de</strong> uma perversão. Por<br />

um lado, a <strong>jovem</strong> não sacrifica completamente seu eu ao falo, não se<br />

entrega por completo como objeto à Dama, pois continua a interrogar<br />

o falo paterno. Essa dinâmica <strong>é</strong> muito mais adolescente do <strong>que</strong><br />

neurótica. Freud subestima talvez o potencial <strong>de</strong> interrogação e <strong>de</strong><br />

busca <strong>que</strong> está em jogo nesse amor. É aqui <strong>que</strong> o advento <strong>de</strong> uma<br />

posição subjetiva transparece numa encenação <strong>que</strong>, colocada sob<br />

outro enfo<strong>que</strong>, aponta duas <strong>que</strong>stões essenciais para a instalação do<br />

fantasma: “o <strong>que</strong> <strong>é</strong> um pai?” e “o <strong>que</strong> <strong>que</strong>r uma mulher?”.<br />

O <strong>de</strong>safio ao pai se resume ao exercício da lei <strong>de</strong> Talião (Freud,<br />

[1920] 1969): <strong>de</strong>cepção por <strong>de</strong>cepção, engano por engano. O engano<br />

<strong>é</strong> o <strong>que</strong> <strong>de</strong>fine as coor<strong>de</strong>nadas do caso e a dinâmica da transferência.<br />

Po<strong>de</strong>mos resumir os pontos centrais da interpretação <strong>de</strong> Freud:<br />

<strong>de</strong>cepção e <strong>que</strong>da (nie<strong>de</strong>rkommen). Decepcionada, a <strong>jovem</strong> cai <strong>de</strong><br />

muito alto. Mas por <strong>que</strong> se <strong>de</strong>cepcionara? Freud respon<strong>de</strong>: foi o<br />

<strong>de</strong>sejo frustrado do pai <strong>de</strong> ter um filho do sexo masculino quando<br />

ela nascera <strong>que</strong> afastou <strong>de</strong>la o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter um filho, o amor pelo<br />

homem e o papel feminino (Freud, [1920] 1969). Assim, só restaria<br />

a ela i<strong>de</strong>ntificar-se com um homem.<br />

Como compreen<strong>de</strong>r a tentativa <strong>de</strong> suicídio? Freud não a reduzirá<br />

a um simples ato <strong>de</strong> chamada ao outro, ele faz disso um autêntico<br />

acting out, constatando a <strong>que</strong> ponto suas conseqüências foram<br />

favoráveis ao projeto amoroso da <strong>jovem</strong>. Propõe dois eixos <strong>de</strong> interpretação<br />

do ato <strong>que</strong> ele nomeia “cumprimento <strong>de</strong> punição e realiza-<br />

TEMPO PSICANALÍTICO, RIO DE JANEIRO, V.40.1, P.77-104, 2008

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