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Autores: Ludmila Giardini Noronha; Ana Cristina Salles Dias ...

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A partir deste relato observa-se uma realidade existente em muitos asilos. Quando os<br />

idosos chegam nesses espaços suas histórias conjugais são desconsideradas, passando a viver<br />

enclausurados cada um no seu grupo que é imposto. A relação marido e mulher são<br />

irrelevantes, pois essas organizações desvalorizam as histórias de vida destes sujeitos.<br />

A situação econômica é determinante e perpassa toda a vivência dos indivíduos da<br />

classe popular, como pode ser verificado no relato:<br />

“Resolvemos morar aqui porque o que ganho não é muito, então nós damos R$150<br />

por mês e não temos água, luz e IPTU para pagar e tantas outras contas”. ( M.M)<br />

“O aluguel é muito caro e eu só recebo um salário da minha aposentadoria não dá<br />

para manter uma casa, por isso eu vivo aqui no asilo.” (J.F)<br />

Diante desses relatos fica evidente que muitos idosos optam por residirem em asilos<br />

por questões financeiras. No entanto, isto não deveria ser um determinante para a estruturação<br />

destes espaços visto que as condições das instalações muitas vezes são precárias.<br />

Nos relatos percebe-se que os idosos sentem muita falta das atividades<br />

exercidas anteriormente não perdendo o seu valor ao longo do tempo. Com isso ocasiona<br />

frustrações frente às imposições sofridas nestes espaços. Os idosos demonstram anseios em<br />

viver com o mínimo de autonomia que lhes restam, eles são submetidos às regras e<br />

procedimentos que os tornam submissos, dependentes, sem direito a expressão, enfim<br />

disciplinados.<br />

“Eu estou aqui há pouco tempo, não gosto de morar aqui no asilo porque o portão<br />

fecha às 18 horas. Eu gosto de sair sem ter hora para voltar, sem ter que dar<br />

satisfações. Às vezes fico irritado com as pessoas que moram aqui porque eles<br />

acham que sabem tudo” (J.L)<br />

Segundo Focault (1977), para que o poder disciplinar seja exercido em todos os seus<br />

efeitos basta que aqueles que estão a ele submetidos saibam que são vigiados. A<br />

potencialidade da vigilância é por si suficiente para que o poder disciplinar se exerça<br />

justamente porque com ele uma sujeição real nasce de uma relação fictícia. Esse caráter<br />

ficcional decorre do fato de que, ao saberem-se sujeitos a um único olhar a tudo pode ver<br />

permanentemente, os indivíduos disciplinam-se a si mesmos, e o fazem à permanência desse<br />

olhar onipresente. Na medida em que a visibilidade constante dos indivíduos e a invisibilidade<br />

permanente do poder disciplinar fazem com que os indivíduos se adestrem, se ajustem e se<br />

corrijam inicialmente por lema próprio. Pode-se afirmar que a vigilância substitui a violência<br />

e a força. Outro aspecto que foi observado é a solidão que acompanha estes idosos. Muitos<br />

são completamente abandonados por seus familiares, amigos, acabam nestes espaços sem<br />

expectativas e esperando apenas a morte.<br />

“Sinto muito sozinha, meus filhos me deixaram aqui. Eles esqueceram de vir me<br />

buscar, eu queria muito viver com eles. Aqui todo mundo sofre, a gente vai<br />

morrendo a cada dia. Não pode fazer nada, tem que deitar a tarde e só levantar no<br />

outro dia. A gente não sabe o que acontece na vida mais, quando perde as forças os<br />

outros é que mandam na gente.” (M.A)

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