Autores: Ludmila Giardini Noronha; Ana Cristina Salles Dias ...

“Eu morava 12 léguas de distância de Nonuque. Lá eu aprendi a fazer
farinha de mandioca. Você vai à plantação, colhe as mandiocas graúdas, arranca a
casca, rala e põe na prensa para secar a água. Depois é só colocar no coxo e
esfarinhar bem, deixa algum tempo e leva no forno bem quente e vai mexendo para
torrar. Quando estiver bem sequinha esta pronta.” (A. S)
Como podemos verificar a recordação é tão presente que se transforma no desejo em
transmitir a arte a quem o escuta. No entanto como afirma Bosi:
“A função social do velho é lembrar e aconselhar. Mas a sociedade capitalista
impede a lembrança, usar o braço servil do velho e recusar os seus conselhos, o
desarma, mobilizando mecanismos pelos quais oprime a velhice, destrói os apoios
da memória e substitui a lembrança pela história oficial celebrativa.” (BOSI, 2001,
p. 18)
Constata-se que o idoso é impedido de lembrar e de ensinar, uma vez que as memórias
não existem para si, mas somente para o outro e este outro é um opressor. Assim sendo a
relação trabalho e vida é evidente nas memórias dos idosos. O trabalho em diferentes
contextos permeia toda a existência destes sujeitos tendo diversas significações, como já
foram abordadas.
Além da ideologia do sistema de produção que torna os sujeitos alienados, outros
discursos e práticas constituem a formação dos mesmos. O idoso na sociedade contemporânea
traz consigo histórias e memórias de caráter submisso, misturando noções presentes com a
matéria vivida do passado. Tais suposições assumem o caráter religioso e também de
submissão. Constatamos que os sujeitos pesquisados evidenciam idéias que se fundamentam
numa concepção de vínculo religioso como podemos analisar:
“Hoje me acho em obrigação de mostrar ao mundo que o Senhor é o caminho para
a salvação da humanidade”.(J.C.M)
Com este relato torna-se possível averiguar na visão althusseriana que:
“A estrutura de toda ideologia, a enterpelar os indivíduos enquanto sujeitos em
nome de um sujeito único e absoluto é especular, isto é, funciona como um espelho,
e duplamente especular: este desdobramento especular é constitutivo da ideologia e
assegura o seu funcionamento”(ALTHUSSER, 2003, p. 102).
Com esta premissa é possível reconhecer que o discurso deste sujeito traz consigo
subjetividade e submissão ao poder maior, capaz de amenizar suas dores e resolver problemas
de cunho social, sendo que o mesmo sujeito submetido a esse poder deve ser também
multiplicador do discurso ideológico.
“Como Deus queria fazer obras nas nossas vidas o tempo foi se passando, certo dia
Deus nos provou com uma prova maligna. Então eu fiz um propósito com Deus se
ele viesse ao nosso encontro e nos libertasse no próximo batismo que Deus nos
preparasse eu iria obedecer. Nessa hora Deus veio ao nosso encontro e nos
libertou.” (J.B)