Autores: Ludmila Giardini Noronha; Ana Cristina Salles Dias ...
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Este é um exemplo, no entanto muitos outros foram relatados e com estes percebemos<br />
que a exclusão escolar resulta na incapacidade de relações consigo (insegurança, baixa autoestima)<br />
e com o meio (expectativa do outro). Para estes sujeitos retornarem às instituições<br />
escolares é um desafio a ser vencido, visto que a vulnerabilidade deste processo ainda é<br />
evidente, como no relato a seguir:<br />
“Um dia quando eu estava fazendo a lição do be-a-bá eu errei. A professora viu e<br />
zangou comigo. Me pegou e me deu uma reguada de madeira na cabeça tão forte<br />
que até quebrou . Eu não gostava de ir na escola.” ( A. R. )<br />
É importante salientar que neste contexto histórico prevalecia à punição física nos<br />
ambientes escolares, já na sociedade contemporânea ela assume outro caráter, porém, com<br />
uma forma sutil em que o poder encontra o nível dos indivíduos, atingindo seus corpos, se<br />
inserindo em seus gestos, em suas atitudes, seus discursos, seu aprendizado, sua vida<br />
cotidiana. É um poder microscópico.<br />
Outro aspecto que analisamos diz respeito ao trabalho que perpassa todas as fases da<br />
vida dos sujeitos da pesquisa. Muitos foram submetidos ao trabalho infantil subtraída à<br />
consciência de infância. O trabalho traz consigo suposições de existência, não apresentando a<br />
dualidade existente entre trabalho versus infância. O trabalho constituía a própria infância,<br />
portanto, mesmo fazendo parte dessa árdua realidade existe uma necessidade infantil do<br />
lúdico. Nas entrelinhas dos discursos é confirmado estes pressupostos. Como podemos<br />
observar:<br />
“Eu gostava muito de brincar com o carrinho de sabugo de milho, mas não era<br />
sempre que eu brincava porque tinha que ajudar o meu pai na lavoura.” (J.B.).<br />
Como podemos analisar o brincar neste contexto de trabalho muitas vezes acarretava<br />
uma infância desprovida de ludicidade. Os brinquedos eram feitos de materiais provenientes<br />
do ambiente de trabalho. É comum como neste relato, a construção de carrinhos feitos de<br />
milho, bonecas de pano, brinquedos feitos de legumes. Mesmo assim a imaginação encontra<br />
meios para manifestar.<br />
Fazendo um paralelo com a atualidade, constatamos que o rememorar a infância,<br />
destacando os brinquedos de que os idosos dispunham, revela-se uma história vinculada a<br />
condição de pobreza e sofrimento. Neste sentido, é importante criticidade diante da<br />
supervalorização de manifestações da cultura popular. Estas podem trazer de forma subjetiva<br />
suposições ideológicas que reafirmam a desigualdade social. Para estes idosos, o fato de<br />
brincar com carrinhos de sabugo de milho não correspondia aos seus verdadeiros desejos,<br />
visto que muitas vezes a diferença de classe estava acentuada no próprio brinquedo.<br />
Nos relatos analisados observa-se que embora estes sujeitos não compreendessem os<br />
mecanismos do sistema desigual, eles vivenciavam a concretude desta realidade.<br />
Nesse mesmo enfoque, o trabalho era visto como uma necessidade de sobrevivência.<br />
Como pode ser verificado: