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A MORENINHA Joaquim Manuel de Macedo - Fundação Biblioteca ...

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- Como é isto!... então a quem ama?<br />

- A sua sombra, como Narciso?...<br />

- A boneca que se vê na vidraça do Desmarais?...<br />

- Ao cupido <strong>de</strong> Praxiteles, como Aquídias <strong>de</strong> Ro<strong>de</strong>s?<br />

- Alguma estátua da Aca<strong>de</strong>mia das Belas-Artes?...<br />

- Nada disso.<br />

- Então a quem?<br />

- A todas as senhoras, resumidas num só ente i<strong>de</strong>al. À custa dos belos olhos <strong>de</strong> uma, das lindas<br />

ma<strong>de</strong>ixas <strong>de</strong> outra, do colo <strong>de</strong> alabastro <strong>de</strong>sta, do talhe elegante daquela, eu formei o meu belo i<strong>de</strong>al, a<br />

quem tributo o amor mais constante. Reúno o que <strong>de</strong> melhor está repartido e faço mais ainda: aperfeiçôo<br />

a minha obra todos os dias. Por exemplo, retirando-me <strong>de</strong>sta ilha, eu creio que vestirei o meu belo i<strong>de</strong>al<br />

<strong>de</strong> novas formas!<br />

- Viva o cumprimento!...<br />

- Foi assim, minhas senhoras, que eu me pu<strong>de</strong> tornar constante e, graças a meu proveitoso<br />

sistema, posso amar a todas as senhoras a um tempo sem ser infiel a nenhuma. Disse.<br />

- Muito bem!... muito bem!...<br />

- Augusto <strong>de</strong>sempenhou-se.<br />

O champagne estourava naquele momento. Leopoldo tomou a palavra pela or<strong>de</strong>m.<br />

- Eu vou, exclamou, propor um belo meio <strong>de</strong> terminar esta discussão, convidando a todos os<br />

senhores para um brin<strong>de</strong>, no qual Augusto, por castigo <strong>de</strong> sua inconstância, nos não po<strong>de</strong>rá acompanhar.<br />

Não é novo que mancebos bebam, no meio dos prazeres <strong>de</strong> um festim, um copo <strong>de</strong> vinho <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

pronunciar o nome daquela que é dama <strong>de</strong> seus pensamentos: aqui não estamos só mancebos e, pois,<br />

não faremos tanto; pronunciaremos, contudo, a inicial do primeiro nome.<br />

- Sim! sim! disse Filipe, Augusto não beberá conosco...<br />

- Não, maninho, acudiu a interessante Moreninha, ele há <strong>de</strong> beber também.<br />

- Ah, minha senhora! no beber um copo <strong>de</strong> champagne não está a dúvida; a dificulda<strong>de</strong> toda é<br />

po<strong>de</strong>r, entre tantos nomes, escolher o mais amado. Aco<strong>de</strong>-me tal número dos que têm tocado o superlativo<br />

do amor...<br />

- M... disse Leopoldo, esvaziando seu copo.<br />

- C... pronunciou Filipe, olhando para D. Clementina.<br />

- J... balbuciou Fabrício, exasperado com um acesso <strong>de</strong> tosse que atacara Augusto.<br />

Os outros mancebos pronunciaram suas letras; só o inconstante faltava.<br />

- Eis! ânimo, Sr. Augusto, disse D. Carolina.<br />

- Mas que letra, minha senhora?... se eles me <strong>de</strong>ssem licença, eu faria o enorme sacrifício <strong>de</strong><br />

reduzir as que me lembram ao diminuto número <strong>de</strong> vinte e três.<br />

- Nada! nada! nesta saú<strong>de</strong> não entra o número plural.<br />

- Pois bem, Sr. Augusto, continuou a menina, uma coleção não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser singular; beba o seu<br />

copo <strong>de</strong> champagne ao alfabeto inteiro!<br />

- Sim, minha senhora, ao alfabeto inteiro!<br />

Meia hora <strong>de</strong>pois levantaram-se da mesa. Leopoldo aproximou-se <strong>de</strong> Augusto.<br />

- Então que dizes, Augusto?...<br />

- Que passaremos a mais agradável noite.<br />

- E quem ganhará a aposta?<br />

- Eu.<br />

- De quais <strong>de</strong>stas meninas estás mais apaixonado,...<br />

- Estou na minha regra, mas hoje tenho-me apaixonado só <strong>de</strong> três, principalmente.<br />

- E o que pensas da irmã <strong>de</strong> Filipe?

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