A MORENINHA Joaquim Manuel de Macedo - Fundação Biblioteca ...
A MORENINHA Joaquim Manuel de Macedo - Fundação Biblioteca ...
A MORENINHA Joaquim Manuel de Macedo - Fundação Biblioteca ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
juntos; <strong>de</strong>pois, nas crianças, isto não merece reparo, nossa dor se mitigou, para cuidarmos em brincar<br />
outra vez.<br />
De repente, a menina olhou para mim e disse:<br />
- E quando minha mãe perguntar pela esmeralda?...<br />
Eu cui<strong>de</strong>i que lhe respondia, e fiz-lhe igual pergunta:<br />
- E quando meu pai perguntar pelo meu camafeu?<br />
Ficamos olhando um para o outro; passados alguns instantes, minha linda mulher, que me parecera<br />
estar pensando, disse sorrindo-se:<br />
- Eu vou pregar uma mentira.<br />
- E qual?...<br />
- Eu direi à minha mãe que perdi a minha esmeralda na praia.<br />
- E eu respon<strong>de</strong>rei a meu pai que perdi o meu camafeu nas pedras.<br />
- Eles mandarão procurar, sem dúvida...<br />
- E não o achando, esquecer-se-ão disso.<br />
- E os breves?...<br />
- Nós os guardaremos?...<br />
- O velho disse que sim.<br />
- Para que será isto?...<br />
- Diz que é para nos casarmos quando formos gran<strong>de</strong>s.<br />
- Pois então nós os guardaremos.<br />
- Oh! eu o prometo.<br />
- Eu o juro.<br />
- Neste momento soou ave-maria.<br />
- Tão tar<strong>de</strong>! exclamou a menina... minha mãe ralhará comigo!<br />
E, dizendo isto, correu, esquecendo-se até <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedir-se <strong>de</strong> mim. Esse fatal <strong>de</strong>scuido acabava<br />
<strong>de</strong> entristecer-me, quando ela, já <strong>de</strong> longe, voltou-se para on<strong>de</strong> eu estava e, mostrando-me o breve<br />
branco, gritou:<br />
- Eu o guardarei!<br />
Pela minha parte entendi <strong>de</strong>ver dar-lhe igual resposta, e, pois, mostrei-lhe o meu breve ver<strong>de</strong> e<br />
gritei-lhe também:<br />
• Eu o guardarei!...<br />
Aqui parou Augusto para respirar, tão cansado estava com a longa narração; porém, ergueu-se<br />
logo, ouvindo ruído à entrada da gruta.<br />
- Alguém nos escuta! disse ele.<br />
- Foi talvez uma ilusão! respon<strong>de</strong>u a digna hóspeda.<br />
- Não, minha senhora; eu ouvi distintamente a bulha que faz uma pessoa que corre, tornou<br />
Augusto, dirigindo-se à entrada da gruta e observando em <strong>de</strong>rredor <strong>de</strong>la.<br />
- Então?... perguntou a Sra. D. Ana.<br />
- Enganei-me, na verda<strong>de</strong>.<br />
- Mas vê alguma pessoa?...<br />
- Apenas lá vejo sua bela neta, a Sra. D. Carolina, pensativa e recostada à efígie da Esperança.<br />
8<br />
Augusto Prosseguindo