Artigo Completo - Universidade Anhembi Morumbi
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Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op,<br />
Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
Design and art during the 60’s and 80’s: Pop, Op, Psychedelic, Anti-Design and<br />
Radical Design.<br />
Figueiredo, Laura Villas Boas; <strong>Universidade</strong> <strong>Anhembi</strong> <strong>Morumbi</strong>.<br />
sailor_laura@hotmail.com<br />
Faria, José Neto de; Ms.; <strong>Universidade</strong> <strong>Anhembi</strong> <strong>Morumbi</strong>.<br />
josenetodesigner@yahoo.com.br<br />
Meirelles, Junia C. J. Parreira; Ms.; <strong>Universidade</strong> <strong>Anhembi</strong> <strong>Morumbi</strong>.<br />
josenetodesigner@yahoo.com.br<br />
Navalon, Eloize; Ms.; <strong>Universidade</strong> <strong>Anhembi</strong> <strong>Morumbi</strong>.<br />
navalon@uol.com.br<br />
Resumo<br />
“Design e arte durante os anos 60 e 80” propõe uma análise e uma reflexão sobre a produção<br />
de arte e design durante os anos 60 a 80, destacando a arte pop, o op, o psicodélico, o design<br />
radical e o anti-design. O objetivo principal é compreender a evolução e as relações entre arte<br />
e design. O estudo teórico, qualitativo, dedutivo analisa o design, a arte e suas influências na<br />
sociedade contemporânea pela comparação de princípios e formas estéticas que perduravam<br />
até o momento presente. Destaca e contrapõe os grupos de anti-design e radical design<br />
Alchimia, Archizoom, Gruppo Strum e Super Studio.<br />
Palavras Chave: Pop-art; Op-art; Psicodelismo; Anti-Design e Design radical.<br />
Abstract<br />
"Design and art during the 60s and 80s" offers an analysis and a reflection about art<br />
production and design during the 60s and 80s, highlighting the pop art, op, psychedelic and<br />
radical design and anti-design. The main goal is to understand the evolution and the relations<br />
between art and design. The theoretical, qualitative, deductive design study analyzes the art<br />
and its influences on contemporary society through the comparison of the principles and<br />
aesthetic forms that lasted until now. Highlights and opposes the groups of anti-design and<br />
radical design Alchimia, Archizoom, Gruppo Strum and Super Studio.<br />
Keywords: Pop Art; Op Art; Psychedelic; Ant-Design and Design radical.
Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op, Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
Introdução.<br />
“Design e arte durante os anos 60 e 80” apresenta um panorama da arte e do design<br />
durante os anos de 60 a 80. Expõe uma análise e uma reflexão sobre a modernidade e a pósmodernidade<br />
e procura exemplificar como a arte e o design acabaram renovando-se, mudando<br />
de valores. Destaca a importância dos movimentos artísticos, Pop, Op e Psicodelismo, e dos<br />
novos movimento do design, Design Radical e Anti-Design.<br />
Este artigo foi dividido em três partes: confere o modernismo e o pós-modernismo;<br />
analisa os movimentos artísticos que surgiram na década de 60, se aprofundando no Pop, no<br />
Op e no Psicodelismo; e reflexão e análise sobre o Anti-Design e o Radical Design, em que<br />
compara os grupos de design mais influentes na época e suas obras.<br />
Metodologia.<br />
O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa teórica, qualitativa, dedutiva e<br />
indutiva que estuda a modernidade e a pós-modernidade para entender os movimentos<br />
artísticos e de design dos anos 60 a 80. A pesquisa foi dividida em cinco momentos:<br />
levantamento do referencial teórico; pesquisa e levantamento de dados relevantes;<br />
organização, classificação e análise dos dados; análise dos resultados da pesquisa; e reflexão e<br />
descrição dos resultados da pesquisa.<br />
Modernidade / Pós-Modernidade.<br />
Pode ser considerado equívoco tratar o modernismo e o pós-modernismo como sendo<br />
movimentos opostos em todos os sentidos. Tal visão exclui toda a diversidade cultural<br />
ideológica e gera uma visão caricata da arte e do design destas épocas.<br />
(...) A falsa unidade que se tenta montar para esconder a heterogeneidade e a<br />
pluralidade cultural existente no sistema, movida pela aparência da imagem como<br />
instrumento de unificação e mediação social, produtora do espetáculo como<br />
representação de toda a sociedade (DEBORD apud FARIA, 2008, p.18).<br />
O pós-modernismo contrariava o modernismo em sua ideologia, buscava um novo<br />
meio de produzir design, desprendido dos valores eruditos e dos valores intrínsecos dos<br />
materiais, mais apegado aos valores emocionais e às expressões populares, muitas vezes,<br />
pode-se dizer, na procura de emoções baratas. Segundo Michael Tambini (2004, p.24), o<br />
modernismo era visto como elitista, ininteligível e sem apelo, por outro lado, os pósmodernos<br />
tinham como objetivo popularizar o erudito e tornar o intelectual acessível.<br />
Buscava-se a revalorização do humano e da cultura por meio da estética e de seus processos<br />
de produção. Depois da crise do petróleo, na década de 90, com a consciência de que o<br />
planeta estava sendo afetado pelas atividades humanas, começou-se a repensar as relações do<br />
homem com a cultura e com o meio ambiente.<br />
A promoção da propensa diminuição das ideias de solidez, fixação e pureza, típicas<br />
da máquina e do início do modernismo, passam a dar lugar às ideias de fluidez,<br />
flexibilidade e hibridização, características da circulação da informação (FARIA,<br />
2008, p.22).<br />
O design não pode ser gerado do nada, ele se apóia no passado como base de criação<br />
para o futuro, do contrário, sem essa base, ele seria sempre o mesmo, não evoluiria.<br />
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op, Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
Generalizar um movimento de design por sua estética é ignorá-lo como um objeto cultural<br />
repleto de significado, ignora a diversidade cultural de uma sociedade na qual coexistem os<br />
mais diversos tipos de culturas.<br />
O design passou a expressar a diferença entre gerações e a mudança do pensamento da<br />
sociedade; a geração pós-guerra caracteriza essa liberdade social no design e a expressa no<br />
pós-modernismo, conforme figura 01.<br />
Assim começou a rejeição ao modernismo, considerado incapaz de atender a<br />
demanda desse ávido exército de novos consumidores desejosos de mudança e<br />
variedade em vez de permanência e uniformidade (TAMBINI, 2004, p.22).<br />
Figura 01 - Modernismo: cadeira 'Wassily' de 1925; bule 'Marianne Brandt' de 1924; e chaleira 'Christian Dell'<br />
de 1922 (BAUHAUS, 2010); e Pós-modernismo: cadeira pop de Allen Jones de 1969 (TORRENT, R.; MARÍN,<br />
J. M., 2007); sofá ‘Torneraj’ de Giorgio Ceretti, Pietro Derossi e Ricardo Rosso de 1968; e cadeira ‘Sacco’ de<br />
Pietro Gatti, Cesare Paolini e Franco Teodoro de 1968 (AMBASZ, 1972).<br />
É certo que a tecnologia evoluiu, e com esta evolução mudou-se o processo de fazer<br />
design conforme a ideologia e a cultura da sociedade. No modernismo, merece destaque no<br />
design a supervalorização da tecnologia e da funcionalidade em relação à estética, na qual,<br />
por muito tempo, foram cultuadas as formas simples e racionais. Contudo, mesmo na pósmodernidade,<br />
essa cultura de valorizar a tecnologia permaneceu, a tecnologia continuou a ser<br />
estimulada, novos processos tecnológicos deram margem a novos processos de design, a<br />
diferença foi a inversão dos focos, no qual o racionalismo e o funcionalismo tecnológico<br />
deixaram de ser a prioridade em benefício dos valores culturais estéticos, representados em<br />
formas lúdicas, descontraídas e divertidas. O funcionalismo não foi aniquilado, mas seu<br />
processo racional no design deu lugar à experimentação de novas formas, conceitos e<br />
processos de produção. Surgiram objetos com valores práticos e funcionais insatisfatórios,<br />
como o sofá “Torneraj”, mas também surgiram outros com novos valores como a cadeira<br />
“Sacco”.<br />
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op, Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
Pop / Op / Psicodelismo.<br />
Mesmo a relação fundamental entre forma e função já não é automaticamente aceita.<br />
O pós-moderno se rebelou com o seu uso de citações históricas, campo e pompa,<br />
individualidade e colorido contra as incolores formas racionais de um modernismo<br />
dogmático (HAUFFE, 1998, p.149 – Livre Tradução).<br />
O pós-modernismo foi marcado por uma revolução nos campos da arte e do design,<br />
pelo surgimento de novos estilos artísticos, tais como o Pop, o Psicodelismo e o Op.<br />
O Pop representava a volta da arte figurativa contra o expressionismo abstrato, era<br />
irreverente, colorido e divertido, tinha como ideologia o fim do elitismo, do erudito e a<br />
reflexão sobre o impacto da popularização das tecnologias de produção em massa.<br />
O pop art se esquivou da seriedade da arte abstrata e converteu em motivo artístico<br />
tudo o que a sociedade de consumo produzia de forma massiva. Precursor em mais<br />
de um aspecto da pós-modernidade, o pop introduziu a banalidade na arte<br />
(TORRENT; MARÍN, 2007, p.339 - Livre Tradução).<br />
A arte Pop transformou o comercial e o cotidiano em arte, por isso não tardou a atingir<br />
as massas e tornar-se popular, de fato, proporcionou ao design novas formas de expressão e<br />
foi utilizado com grande sucesso no meio publicitário. Foi uma vanguarda popular de êxito, e<br />
conseqüentemente, alcançou os objetivos de sua ideologia, os quais procuravam dar fim ao<br />
elitismo, redefinindo o vulgar e o refinado, causando mudanças não só no campo da arte e do<br />
design, mas também na mentalidade da sociedade da época.<br />
Segundo Torrent e Marín (2007), o pop possuía duas faces, oscilava entre ironia e<br />
celebração da sociedade de consumo e variava de acordo com o autor e sua obra, conforme<br />
figura 02. O Pop tem como maiores representantes o cineasta e artista Andy Warhol, o artista<br />
Roy Lichtenstein e o artista Robert Rauschenberg.<br />
Figura 02 - Obra 'Wicked Witch' de Andy Warhol (WOOSTER PROJECTS, 2010); luminárias ‘Passiflora’do<br />
Superstudio de 1968 (AMBASZ, 1972); e cadeira ‘Blow’ de De pas, D’Urbino, Lomazzi e Scolari de 1967<br />
(TORRENT, R.; MARÍN, J. M., 2007).<br />
A vanguarda psicodélica também era jovem e segundo Torrent e Marín (2007, p.347)<br />
foi inspirada no lúdico e no onírico de uma geração fortemente influenciada pelas drogas,<br />
expressava-se no design por meio de cores vibrantes e curvas exageradas. O surreal e o<br />
exagero são as maiores características deste movimento.<br />
Enquanto os modernistas olhavam apenas para o futuro em busca de inspiração, o<br />
psicodelismo olhava para todos os lugares, muitas vezes através das névoas das<br />
drogas alucinógenas. Seus artistas buscavam inspiração no início do século,<br />
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Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op, Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
incorporando aspectos da art noveau e da secessão de Viena em seu trabalho;<br />
olhavam para o oriente e regrediam até o Egito antigo em busca de referências;<br />
olhavam também para seu próprio mundo, criando uma linguagem visual inspirada<br />
na droga que visava a um público seletivo (TAMBINI, 2004, p.22 e 23).<br />
O exagero no experimentalismo das formas e das cores no design gráfico muitas vezes<br />
resultava em produtos finais ilegíveis e confusos, as mesmas características eram observadas<br />
no estilo Anti-Design. Dois grandes representantes do psicodelismo no design gráfico foram<br />
os artistas Wes Wilson e Milton Glaser.<br />
Figura 03 - Cartaz de Milton Glaser, show de Bob Dylan (WILSON. W, 2010); cadeira ‘Ribbon’ de Pierre<br />
Paulin de 1966 (TORRENT, R. ; MARÍN, J. M., 2007); e interior do ‘Visiona II’ por Verner Panton de 1970<br />
(ONLINE MUSEUM, 2010).<br />
Os designers rejeitavam o “design universal” do modernismo, e revisitavam todas as<br />
formas de fazer design, explorando e experimentando ao extremo, a funcionalidade e<br />
praticidade não eram mais visadas, a forma era superexplorada para maximizar todas as<br />
sensações que o objeto pudesse transmitir, conforme figura 03.<br />
Figura 04 - Interior do restaurante 'Astoria' por Verner Panton de 1960 (VERNER PANTON DESIGN, 2010);<br />
vestido ‘Hood’ da designer Vuokko Eskolin-Nurmesniemi de 1960 (TORRENT, R. ; MARÍN, J. M., 2007); obra<br />
da artista Op Bridget Riley 'Movements in Squares' de 1961 (OP-ART, 2010).<br />
Segundo Torrent e Marín (2007, p.345) a vanguarda Op procura proporcionar<br />
sensações visuais, ópticas, a partir de linhas pretas e brancas, mas também a partir de cores<br />
que se curvam e se interligam, seu objetivo é brincar com a visão humana, por meio do efeito<br />
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op, Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
de causar a sensação de movimento e profundidade em uma superfície 2D, muitas vezes,<br />
usando padrões de repetição de formas, conforme figura 04.<br />
O Op por muitas vezes é abstrato, procura brincar mais com o uso das formas e das<br />
linhas do que das cores, por isso frequentemente se expressa em imagens em preto e branco<br />
ou monocromáticas. Um dos maiores representantes desta vanguarda é a pintora britânica<br />
Bridget Riley e o artista Victor Vasarely.<br />
Anti-Design / Design Radical.<br />
O movimento de Design Radical e de Anti-Design se consolidaram como revolta ao<br />
modernismo, essas vanguardas podem ser vistas como as primeiras vanguardas pós-modernas,<br />
mesmo não sendo voltados ou acessíveis para a população, esses movimentos marcam a<br />
transição do modernismo para a pós-modernidade. O Anti-Design e o Design Radical devido<br />
à forte carga ideológica, mesmo que carregassem aspectos distintos, quando se aproximaram e<br />
se fundiram, deram origem a uma das principais correntes ideológicas da pós-modernidade.<br />
Se o modernismo foi caracterizado por noções de permanência, o anti-design<br />
abraçou a efemeridade do Pop (mostrado na Bienal Vennice de 1964), o<br />
consumismo e a linguagem dos meios de comunicação de massa; onde a paleta<br />
modernista era geralmente silenciada com uma predominância de negros, brancos e<br />
cinzas, o Anti-Design explorou o rico potencial da cor. Onde o modernismo<br />
admirava a integridade das propriedades dos materiais na sua forma pura, o Anti-<br />
Design abraçou o ornamento e a decoração (WOODHAM, 2004, p.163 – Livre<br />
Tradução).<br />
O Pop, além de influenciar a sociedade de uma época, influencia diretamente as<br />
vanguardas de Anti-Design e Design Radical. Na década de 60, a relação do designer com a<br />
grande indústria é desvinculada, o meio artesanal de se fazer design é revistado, mais do que<br />
uma característica prática e funcional, novamente é conferida ao design uma carga simbólica,<br />
valores simbólicos expressos nas vanguardas pós-modernistas.<br />
Assim surgiu o chamado Design Radical e Anti-Design ou design que recebeu<br />
influências inegáveis do pop-art dos anos sessenta e alguns elementos de culturas<br />
primitivas. Os objetos se expressam como símbolos visuais e os designers<br />
desenvolvem o seu trabalho sem a mediação da grande indústria. Voltando os olhos<br />
novamente para o estilo e a concepção artesanal (SALINAS, 2001, p.204 – Livre<br />
Tradução).<br />
O Anti-Design não visava à funcionalidade nem ao apelo comercial, pelo contrário,<br />
era contra esses dois componentes fundamentais num projeto de design usual, promovia a<br />
estética pelo uso de formas e texturas diferenciados, as quais em combinação com a ausência<br />
de aspectos funcionais, praticidade, racionalidade, universalidade e estandardização, eram<br />
consideradas na época como projetos incoerentes e absurdos.<br />
Como expresso por Jonathan Woodham (2004, p.361), o Anti-Design em vez de<br />
abraçar o estilo como um meio de aumentar as vendas, buscou aproveitar o potencial social e<br />
cultural do design, usando-o como ferramenta chave para uma nova revolução ideológica e<br />
cultural.<br />
A principal diferença do Anti-Design tem sido a mais forte vontade política para o<br />
ataque as estruturas ideológicas das tendências predominantes. Dos grupos italianos<br />
de Design Radical, o Gruppo Strum tinha nos seus princípios bases filosóficas do<br />
Anti-Design abrindo caminho para o surgimento do pós-modernismo no início dos<br />
anos 80 (KUNSTBUS, 2008 – Livre Tradução).<br />
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op, Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
O campo do Anti-Design e Design Radical pode ser marcado por grupos como o<br />
Superstudio, Gruppo Strum, Alchimia, Archizoom Associati, Memphis. O Gruppo Strum,<br />
originado da Itália, destaca-se no campo do Anti-Design, composto por Geoge Ceretti,<br />
Derossi Pietro, Gianmarco Charles, Riccardo Rosso e Vogliazzo Maurizio, com seu<br />
memorável projeto do sofá Pratone, o qual ilustra perfeitamente o movimento Anti-Design.<br />
Seja como for, há um facto que parece inegável: a sua notoriedade deve-se<br />
principalmente a uma tendência que, sob siglas e nomes diversos – Archizoom,<br />
Superstudio, Alchimia, Memphis etc. – foi seguida, a partir da segunda metade dos<br />
anos sessenta, numa acção (sic) provocatória (e dessacralizadora), em relação ao<br />
gosto dominante no mercado dos objectos (sic) decorativos (MALDONADO, 1991,<br />
p.81).<br />
Figura 05 - Anti-Design: ‘II Monumento Continuo’ projeto do SuperStudio de 1969 (COMPRESS<br />
VERLAGSGESMBM & CO KG, 2010); Design radical: ‘Poltrona di Proust’ por Studio Alchimia em 1978<br />
(DESIGN-ITALIA SRL, 2009); Anti-Design: 'Pratone' pelo Gruppo Strum de 1971 (KUNSTBUS, 2008); e<br />
Design radical: 'No-Stop-City' projeto do grupo Archizoom de 1969 (ZENTRUM FÜR KUNST UND<br />
MEDIENTECHNOLOGIE KARLSRUHE, 2000).<br />
A ideologia política é a principal diferença entre os semelhantes movimentos, que<br />
tiveram origem na Itália. Tanto o Anti-Design quanto o Design Radical propunham uma<br />
revolução estética e sociocultural, mas, além destes fatores, o Design radical questionava a<br />
razão em se manter os antigos aspectos funcionais modernistas. Enquanto o Anti-design não<br />
visava ao mercado consumidor em seus projetos, mas ao estudo das possibilidades formais, o<br />
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Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op, Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
Design Radical visava diretamente à sociedade e propunha maneiras radicais, até mesmo<br />
utópicas, para organização social e evolução cultural, conforme figura 05. Estes fragmentos<br />
ideológicos se uniram posteriormente na vanguarda pós-modernista do grupo Memphis.<br />
Grupo de<br />
design<br />
Objeto de<br />
estudo<br />
Princípios<br />
e valores<br />
Modernismo<br />
Busca uma maneira<br />
prática e racional de<br />
se fazer design, não<br />
se preocupando com<br />
expressividade da<br />
forma e<br />
personalidade do<br />
objeto.<br />
Conceito Racional, visa à<br />
praticidade do<br />
objeto.<br />
Interação e<br />
conforto<br />
Função,<br />
forma e<br />
textura<br />
A interação é<br />
limitada à<br />
praticidade do<br />
design, no qual a<br />
ergonomia a<br />
economia e o<br />
conforto são<br />
cultuados.<br />
Tornar prático o<br />
cotidiano do usuário<br />
pelo meio mais<br />
racional, levando em<br />
conta a facilidade na<br />
limpeza, no<br />
transporte e na<br />
fabricação, valores<br />
que conferem uma<br />
característica<br />
minimalista ao<br />
produto final.<br />
No design também, a consciência política aumentou no gosto do consumidor e as<br />
ideologias dos designers se fundiram em uma contracultura que se pôs contra o<br />
consumo de massa e designers que funcionavam como fantoches industriais<br />
(HAUFE, 1998, p.129 – Livre tradução).<br />
Tabela 01 - Interpretação do autor, análise comparativa do modernismo, pós-modernismo, anti-design e design<br />
radical.<br />
Como Woodham (2004, p.361) diz, o movimento de Design Radical nasce na década<br />
de sessenta na Itália, este movimento buscava inovar no uso da forma e de novos materiais e<br />
processos, mas não era contra a usabilidade, pelo contrário, se propunha a dar uma nova<br />
função para os objetos reescrevendo seus valores culturais a partir de sua composição. Os<br />
designers radicais tinham como objetivo atingir e reorganizar a sociedade de consumo de uma<br />
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design<br />
Pós-Modernismo<br />
Anti-Design Design Radical<br />
Gruppo Strum Superstudio Archizoom<br />
Associati<br />
Alchimia<br />
Pratone Monumento Continuo No-Stop-City Poltrona di Proust<br />
Busca uma nova<br />
maneira de se ver e<br />
experimentar design,<br />
utilizando novas<br />
formas e texturas.<br />
Trabalha em função da<br />
sociedade procurando<br />
aprimorar o seu olhar<br />
sobre o design,<br />
possibilitando novos<br />
meio de expressão por<br />
meio do design.<br />
Flexível, visa novas<br />
maneiras de se<br />
experimentar o design.<br />
Interação ilimitada,<br />
permite que o usuário<br />
sente-se e utilize como<br />
quiser a cadeira,<br />
devido a sua forma<br />
não tão prática e<br />
ergonômica, para o<br />
uso cotidiano ele pode<br />
ser considerado<br />
desconfortável.<br />
Servir de assento<br />
propondo uma nova<br />
visão sobre o sentar e<br />
como sentar, utiliza<br />
uma textura de<br />
plástico, lisa, a forma<br />
de grama do objeto<br />
confere a ele uma<br />
forma assimétrica e<br />
caricata.<br />
Busca uma nova<br />
maneira de se ver<br />
design, estando<br />
cercado por ele de<br />
forma contínua.<br />
Trabalha em função<br />
da sociedade<br />
procurando aprimorar<br />
o seu olhar sobre o<br />
design. Vale-se do<br />
exagero como forma<br />
de expressão.<br />
Absurdo no que seu<br />
projeto propõe.<br />
Restrita, devido à<br />
impossibilidade de se<br />
viver numa cidade<br />
cercada por um<br />
monumento, devido à<br />
prisão que o usuário<br />
estará confinado seu<br />
conforto pode ser<br />
considerado limitado.<br />
Isolar a cidade com<br />
um monumento<br />
arquitetônico<br />
propondo a ela uma<br />
nova maneira de<br />
enxergar o design e<br />
usufruir deste.<br />
Textura lisa e forma<br />
abstrata e exagerada.<br />
Busca uma nova<br />
maneira de<br />
organizar as<br />
cidades, propõe<br />
alterações urbanas<br />
radicais, as quais<br />
são vistas como<br />
exageros.<br />
Trabalha em<br />
função da<br />
sociedade e<br />
procura melhorála<br />
pela<br />
organização.<br />
Radical e utópico<br />
no que seu<br />
conceito<br />
proporciona.<br />
Ilimitada,<br />
possibilita ao<br />
usuário um livre<br />
acesso à cidade,<br />
devido ao amplo<br />
acesso que propõe<br />
ao usuário, o<br />
objeto pode ser<br />
considerado<br />
confortável.<br />
Propor um novo<br />
meio de<br />
organização<br />
urbana, um meio<br />
descentralizado de<br />
organização.<br />
Modo<br />
organizacional<br />
simétrico e<br />
minimalista.<br />
Busca produzir novas<br />
maneiras de se fazer<br />
design pela releitura e<br />
mescla de processos<br />
passados. Trabalha em<br />
função da sociedade<br />
possibilitando a ela<br />
novas maneiras de se<br />
expressar por meio do<br />
design, mas levando em<br />
conta a funcionalidade<br />
do objeto.<br />
Reformulação das<br />
antigas maneiras de se<br />
fazer design.<br />
Restrita, propõe que o<br />
usuário se sente na<br />
cadeira da maneira já<br />
tradicional e interaja<br />
com ela sempre da<br />
mesma forma, devido<br />
ao já familiarizado<br />
design e sua<br />
composição, o objeto<br />
pode ser considerado<br />
confortável.<br />
Servir de assento,<br />
possui texturas variadas<br />
como tecido e madeira,<br />
elementos que revisitam<br />
a maneira artesanal de<br />
se fazer design, o<br />
design de sua forma<br />
revisita formas clássicas<br />
de design.
Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op, Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
maneira satisfatória, sem discriminações sociais, para que isso acontecesse eram instigadas<br />
medidas radicais, os projetos desse movimento eram caracterizados pelo exagero e pelo<br />
irônico, valores que se opunham ao racionalismo modernista.<br />
Dos estúdios que investiam no design radical, pode se destacar o Archizoom Associati,<br />
composto por Andrea Branzi, Gilberto correta, Paul Deganello, Massimo Morozzi, e os<br />
designers Dario Bartolini e Lucia Bartolini. Grupo arquitetônico que buscava uma nova<br />
abordagem para o design urbano, com base em novas tecnologias, novos processos de se fazer<br />
design, buscavam o novo, o flexível e o versátil. Dentre os projetos realizados por este grupo,<br />
'No-Stop-City' é destacado por sua nova e exagerada proposta de organização urbana.<br />
'No-Stop-City' é uma crítica irônica à ideologia do modernismo arquitetônico,<br />
levada a seus limites mais absurdos: "A verdadeira revolução na arquitetura radical é<br />
a revolução do kitsch: consumo cultural de massa, pop art, uma linguagem industrial<br />
e comercial”. A ideia é radicalizar o componente industrial da arquitetura moderna<br />
ao extremo (BRANZI apud ZENTRUM FÜR KUNST UND<br />
MEDIENTECHNOLOGIE KARLSRUHE, 2000 – Livre Tradução).<br />
A análise comparativa representa uma breve descrição de valores e princípios do<br />
modernismo e do pós-modernismo, dos grupos das vanguardas do Anti-design e do Design<br />
radical, nela pode-se observar, no Anti-design, a presença de valores experimentais<br />
qualitativos, enquanto no Design Radical podem ser observados os valores funcionais revistos<br />
de forma não somente racional, conforme tabela 01. Nota-se que as duas vanguardas buscam<br />
se expressar de modo a questionar a racionalidade, às vezes levando aos extremos seus<br />
absurdos, sempre resgatando valores humanos e humanizando os próprios objetos, tornando<br />
evidentes os aspectos expressivos da geração pós-moderna.<br />
Considerações finais.<br />
A pesquisa sobre o design dos anos sessenta a oitenta propiciou observar as causas das<br />
mudanças do design e acompanhar sua evolução, além de permitir uma releitura de seus mais<br />
notáveis movimentos, produtos e grupos de design.<br />
Foi possível entender, por meio do design, mais sobre a personalidade e os valores da<br />
geração pós-guerra pelas vanguardas artísticas em que esta se expressava, pela relação da arte<br />
com o design foi possível observar as influências da arte nas vanguardas de Anti-design e<br />
design radical juntamente com os princípios que as regem, buscar melhorar e otimizar a vida<br />
da sociedade utilizando o novo e o experimental.<br />
Com este estudo foi possível compreender melhor a influência do design pós-moderno<br />
na sociedade contemporânea e observar seus impactos políticos, sociais e estéticos. Em<br />
contrapartida, o aprofundamento na compreensão da ação de escolas e grupos agentes de<br />
design específicos, não foi pleno, é possível compreender o impacto da vanguarda sobre a<br />
sociedade, mas não é possível medir qual foi a importância de determinado grupo para a<br />
sociedade, uma vez que apenas poucos grupos foram selecionados e analisados não se pode<br />
compreender satisfatoriamente os impactos causados por seus projetos.<br />
Como caminhos futuros para o desenvolvimento da pesquisa, deve-se aprofundar o<br />
estudo sobre os mais importantes grupos de design e suas influências, como eram assimilados<br />
pela sociedade. O contexto histórico da época tal como o seu regime político e sua economia<br />
também devem ser estudados, uma vez que a sociedade se reflete no design, um estudo mais<br />
aprofundado proporcionaria compreender um pouco melhor o design contemporâneo.<br />
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Design e arte durante os anos 60 e 80: Pop, Op, Psicodelismo, Anti-Design e Radical Design.<br />
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