Habilitações escolares e percursos de pobreza nos bairros ...
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Em segundo lugar, Adam Smith já tinha proposto uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>pobreza</strong> que<br />
abrangia a insatisfação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carácter cultural, instituindo-se, assim, como<br />
precursor do conceito <strong>de</strong> <strong>pobreza</strong> relativa:<br />
Por necessários entendo não só as mercadorias que são<br />
indispensavelmente necessárias ao apoio da vida, mas também tudo<br />
aquilo que os costumes do País acham que é in<strong>de</strong>cente pessoas credíveis<br />
não terem, mesmo as mais inferiores. (...) os costumes tomaram os<br />
sapatos <strong>de</strong> pele uma necessida<strong>de</strong> da vida em Inglaterra. O mais autêntico<br />
pobre <strong>de</strong> qualquer dos sexos ficaria envergonhado por aparecer em<br />
público sem eles32.<br />
Assim, o conceito <strong>de</strong> <strong>pobreza</strong> relativa não é totalmente novo e diversos autores<br />
salientam este facto. Todavia, «a noção (...) terá, possivelmente, reaparecido como<br />
exigência metodológica a medida que crescia a percepção da <strong>pobreza</strong> <strong>nos</strong> países<br />
industrializado^»^^.<br />
Mas se o conceito <strong>de</strong> <strong>pobreza</strong> relativa <strong>de</strong> Townsend não é inteiramente inovador,<br />
ele traz um novo contributo, tal como foi exposto <strong>de</strong> início e, por este motivo, distingue-<br />
se dos <strong>de</strong>senvolvimentos teóricos do conceito <strong>de</strong> <strong>pobreza</strong> absoluta. 0s novos<br />
<strong>de</strong>senvolvimentos do conceito <strong>de</strong> <strong>pobreza</strong> absoluta limitam-se a referir a privação das<br />
necessida<strong>de</strong>s culturais, presumindo, no entanto, que é possível <strong>de</strong>finir, objectivamente,<br />
um padrão <strong>de</strong> vida mínimo. Nesse sentido encontramos, por exemplo, Marcel Laloire:<br />
A noção <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s mínimas não se limita, porém, apenas [as]<br />
necessida<strong>de</strong>s físicas: compreen<strong>de</strong>, igualmente, as necessida<strong>de</strong>s sociais<br />
associadas geralmente aos costumes <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>. Estas (. . .)<br />
surgem ligadas a noção <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> humana (...)Toma-se indispensável<br />
uma <strong>de</strong>finição prática <strong>de</strong> <strong>pobreza</strong>. (...). Através da comparação dos<br />
rendimentos reais com um rendimento correspon<strong>de</strong>nte ao limiar <strong>de</strong><br />
<strong>pobreza</strong>, (...) será possível <strong>de</strong>terminar os caso em que a <strong>pobreza</strong> é mais<br />
frequente34.<br />
Trata-se, aqui, <strong>de</strong> um conceito <strong>de</strong> <strong>pobreza</strong> absoluta, pois ela é <strong>de</strong>finida por um<br />
padrão, o do rendimento, sem referência a outros recursos insubstituíveis por este. O<br />
padrão <strong>de</strong> referência do conceito <strong>de</strong> <strong>pobreza</strong> relativa não é o rendimento mas, pelo<br />
32<br />
Smith, Adam, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, lii6, in Sen (1999),<br />
$rnartya, p. 36.<br />
Costa (1984), Alfredo Bruto da, p. 280 e 281: «Não me refiro apenas aos chamados "novos pobres" que a<br />
crise económica da segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 70 veio criar. O optimismo com que, <strong>nos</strong> princípios dos<br />
a<strong>nos</strong> 50, se previa que as economias em crescimento e a expansão das políticas sociais resolveriam (...) o<br />
problema da <strong>pobreza</strong>, estava comprometido no final da mesma década, mormente por efeito da mudança <strong>de</strong><br />
perspectiva na abordagem do problema».