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a grande crise econômica do século xxi ea defasage - Faap

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FUNDA« O ARMANDO ALVARES PENTEADO<br />

FACULDADE DE ECONOMIA<br />

A CRISE DE 2008: A GRANDE CRISE ECON‘MICA DO S…CULO XXI E A<br />

DEFASAGEM DA REGULA« O FINANCEIRA NORTE-AMERICANA<br />

CAMILA MARIA ANDERSEN<br />

Monografia de Conclus„o <strong>do</strong> Curso apresentada ‡<br />

Faculdade de Economia para obtenÁ„o <strong>do</strong> tÌtulo de<br />

graduaÁ„o em RelaÁıes Internacionais, sob a<br />

orientaÁ„o <strong>do</strong> Prof. Tharcisio Bierrenbach de<br />

Souza Santos.<br />

S„o Paulo, 2011


ANDERSEN, Camila Maria. A CRISE DE 2008: A GRANDE CRISE ECON‘MICA DO<br />

S…CULO XXI E A DEFASAGEM DA REGULA« O FINANCEIRA NORTE AMERICANA.<br />

S„o Paulo, FAAP, 2011, 42 p.<br />

(Monografia Apresentada ao Curso de GraduaÁ„o em RelaÁıes Internacionais da Faculdade de<br />

Economia da FundaÁ„o Arman<strong>do</strong> ¡lvares Pent<strong>ea</strong><strong>do</strong>)<br />

Palavras-Chave: Crise Financeira de 2008 ñ Crash de 1929 - Sistema RegulatÛrio ñ Defasagem<br />

regulatÛria ñ InstituiÁıes Financeiras ñ Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.


DEDICAT”RIA<br />

Dedico este trabalho ‡ minha m„e, que sempre ofereceu amor e carinho<br />

incondicionais, sen<strong>do</strong> a pessoa que sempre esteve, e sempre estar·, ao meu la<strong>do</strong><br />

em to<strong>do</strong>s os momentos. ìYou are the apples of my eyesî.


AGRADECIMENTOS<br />

AgradeÁo primeiramente ‡ minha famÌlia. Ao meu pai, Michael Christian Andersen, ‡<br />

minha m„e, Maria JosÈ Rodrigues de Carvalho, e ‡ minha irm„, DÈbora Maria Andersen, por<br />

to<strong>do</strong> o apoio, ensinamentos, compreens„o e incentivo ofereci<strong>do</strong>s durante todas as fases da minha<br />

vida. Sem vocÍs, nada seria possÌvel.<br />

Ao meu queri<strong>do</strong> avÙ, JosÈ Rodrigues de Carvalho, pelo <strong>grande</strong> exemplo de forÁa e<br />

honestidade. ¿s minhas avÛs, Marina M. M. R. Carvalho, por to<strong>do</strong> o amor, cuida<strong>do</strong> e oraÁıes, e<br />

Vibeke Andersen, pelo exemplo de luta, forÁa de vontade e fortaleza. ¿ minha ìsegunda m„eî,<br />

Miriam Corazza Ronchetti, pelo amor incondional e amizade a mim dedica<strong>do</strong>s.<br />

A to<strong>do</strong>s os professores que, durante esta longa jornada, compartilharam seus<br />

conhecimentos, exemplos de vida e paciÍncia. Mas principalmente ao meu queri<strong>do</strong> Professor<br />

TharcÌsio Bierrenbach de Souza Santos que, com dedicaÁ„o e muita paciÍncia, guiou e<br />

possibilitou a r<strong>ea</strong>lizaÁ„o desta Monografia em RelaÁıes Internacionais. Meus sinceros<br />

agradecimentos pela orientaÁ„o prestada e auxÌlio na construÁ„o <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Aos meus queri<strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Ita˙ Private Bank International, que generosamente<br />

compartilharam seus conhecimentos e me ofereceram verdadeiras aulas pr·ticas de como<br />

trabalhar e de como vencer na vida, o meu carinho especial e o meu muito obrigada ao Leonel<br />

BÛg<strong>ea</strong>, Edison Consolin Junior, e Tatiana Catalan Gov<strong>ea</strong>, a menina <strong>do</strong>s gr·ficos e planilhas.<br />

¿s pessoas mais importantes durante os anos de faculdade, os meu <strong>grande</strong>s amigos<br />

Carolina Andrade, Helen Cordeiro, Renan Trinca, Marilisa Favalli e Marina Demarchi, o meu<br />

carinhoso agradecimento por todas as manh„s, tardes, noites e atÈ madrugadas de estu<strong>do</strong>s, por<br />

deixarem que eu os ajudassem e por me ajudarem sempre, pelas risadas, pelos cafÈs, almoÁos e<br />

festas, por ouvirem os meus dramas e por me apoiarem em to<strong>do</strong>s esses anos.<br />

Aos meus eternos amigos ìbotucu<strong>do</strong>sî, que sempre ocupar„o um pedaÁo especial no meu<br />

coraÁ„o. Ana Carolina Mendes, Ana Helena DíAarc·dia, Daniel GiacÛia, Frederico Marcondes,<br />

Johan Filipe Nunes, Liliane Pimenta e Tiago Pinheiro, muito obrigada por to<strong>do</strong>s os momentos de<br />

alegria e descontraÁ„o, e tambÈm por sempre ouvirem as minhas desculpas esfarrapadas para n„o<br />

querer sair de casa.


Ao queri<strong>do</strong> Henrique Viana, que esteve ao meu la<strong>do</strong> em momentos muito felizes. Muito<br />

obrigada por toda a divers„o, canÁıes, viagens, risadas e companheirismo.<br />

Ao meu namora<strong>do</strong>, Nabil Mourad Filho, um agradecimento carinhoso por estar ao meu<br />

la<strong>do</strong> neste momento t„o tenso e por me icentivar sempre a dar o meu melhor em tu<strong>do</strong> que faÁo.<br />

Obrigada tambÈm pela frase ìFailure is not an opitionî, ela esteve presente em cada palavra<br />

escrita nessa monografia.<br />

… impossÌvel agradecer a todas as pessoas que merecem um ìmuito obrigadaî, mas este<br />

trabalho È o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu crescimento como pessoa e estudante, portanto, agradeÁo a to<strong>do</strong>s<br />

aqueles que fizeram parte da minha vida e construÁ„o pessoal.


RESUMO<br />

Este trabalho tem como objetivo analisar o papel <strong>do</strong> sistema regulatÛrio financeiro norte<br />

americano na <strong>crise</strong> sofrida por toda a economia a partir de 2008. Para avaliar a efic·cia <strong>do</strong><br />

sistema regulatÛrio atual foi preciso voltar ao passa<strong>do</strong> e entender como ocorreram as outras <strong>crise</strong>s<br />

financeiras, principalmente o Crash da Bolsa de Nova York, em 1929.<br />

As mudanÁas regulatÛrias propostas e aplicadas na dÈcada de 1930, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

com o objetivo de prevenir futuras <strong>crise</strong>s foram gradativamente aban<strong>do</strong>nadas ao longo <strong>do</strong>s anos,<br />

o que deu margem para o aparecimento de novas ondas especulativas.<br />

O estu<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> permitiu observar que a regulaÁ„o financeira defasada, e a<br />

leniÍncia das agÍncias regula<strong>do</strong>ras levaram o merca<strong>do</strong> financeiro a se comportar de maneira<br />

inconsequente, o que, a longo prazo, levou toda a economia a uma <strong>crise</strong> nunca antes vivida.


ABSTRACT<br />

The following res<strong>ea</strong>rch has its main focus the analysis of the regulatory system during the<br />

economy crisis in 2008. It was needed to go back in time to evaluate the efficiency of the<br />

regulatory system to understand other economy crashes, such as the New York 1929 crash.<br />

The proposed changes that were applied in the 1930 decade in US, with the main purpose<br />

of preventing future crashes, were gradually left behind along the y<strong>ea</strong>rs, which gave room for<br />

new happenings.<br />

The work <strong>do</strong>ne was able to keep an eye on the lagged financial regulation and the<br />

kindness of the regulatory agencies were a misl<strong>ea</strong>der to the financial market, which in the long<br />

term prospective took the economy to the biggest crash ever happened in US.


Lista de Siglas<br />

Resumo<br />

INTRODU« O<br />

SUM¡RIO<br />

1 CRISES FINANCEIRAS E REGULA« O 3<br />

1.1 Crash de 1929 4<br />

1.2 A Crise <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> Imobili·rio da dÈcada de 2000 5<br />

1.3 O desenrolar da Crise Financeira de 2008 7<br />

2 EST¡GIO DA REGULA« O DAS INSTITUI«’ES<br />

FINANCEIRAS NOS EUA<br />

2.1 RegulaÁ„o PrÈ-1929 16<br />

2.2 RegulaÁ„o PÛs-1929 17<br />

2.3 RegulaÁ„o prevista nos Acor<strong>do</strong>s da BasilÈia 22<br />

2.4 RegulaÁ„o PrÈ-Crise 24<br />

3 OS PR”XIMOS PASSOS RUMO ¿ REGULA« O ADEQUADA<br />

PARA OS EUA<br />

3.1 As aÁıes tomadas em face da Crise 29<br />

3.2 BasilÈia III 31<br />

3.3 O que ainda precisa ser feito 33<br />

CONSIDERA«’ES FINAIS<br />

REFER NCIAS BIBLIOGR¡FICAS 40<br />

1<br />

16<br />

29<br />

38


AIG ñ American International Group<br />

BIS ñ Bank of international Settlements<br />

EUA ñ Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da AmÈrica<br />

FDIC ñ Federal Deposit Insurance Corporation<br />

Fed ñ Federal Reserve<br />

G-10 ñ Grupo <strong>do</strong>s dez<br />

GE ñ General Eletrics<br />

GSEs ñ Government Sponsored Enterprises<br />

NRA ñ National Recovery Administration<br />

SEC ñ Securities and Exchange Comission<br />

TARP ñ Troubled Asset Relief Program<br />

LISTA DE SIGLAS


INTRODU« O<br />

O Sistema Financeiro Mundial passou por uma <strong>crise</strong> que marcou a histÛria por ter<br />

toma<strong>do</strong> proporÁıes nunca vividas. No ano de 2007, o crescimento excessivo de uma bolha<br />

imobili·ria comeÁou a prejudicar a economia norte americana. Em 2008, o temor da recess„o<br />

tornou-se r<strong>ea</strong>lidade e assolou toda a economia <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. A <strong>crise</strong> financeira foi<br />

agravada pela falÍncia histÛrica <strong>do</strong> <strong>grande</strong> banco de investimento Lehman Brothers. Os<br />

reflexos da recess„o sofrida pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s se espalharam por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />

O colapso habitacional e a alavancagem excessiva foram perigosos agravantes da <strong>crise</strong><br />

que enfraqueceu a economia norte americana. Tanto a quest„o da alavancagem, quanto outras<br />

inovaÁıes da engenharia financeira poderiam ser evitadas se os regula<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sistema<br />

financeiro estivessem atentos ‡s mudanÁas.<br />

Esta monografia tem como escopo o desenvolvimento, ou retocesso, da regulaÁ„o<br />

financeira norte americana atrela<strong>do</strong> ‡s inovaÁıes financeiras que levaram toda a economia<br />

mundial a uma <strong>crise</strong>. … importante estudar o papel da ineficiÍncia das agÍncias regula<strong>do</strong>ras,<br />

para previnir futuras <strong>crise</strong>s.<br />

No decorrer da <strong>crise</strong> financeira surgiu a hipÛtese de que seria possÌvel previnÌ-la se o<br />

sistema de regulaÁ„o financeira n„o estivesse t„o defasa<strong>do</strong> e desestrutura<strong>do</strong>. Neste cen·rio,<br />

apareceu a idÈia de segregaÁ„o, ou seja, os bancos deveriam ser separa<strong>do</strong>s entre bancos<br />

comerciais e de investimento, alÈm das outras classes de intituiÁıes, como previsto pela Lei<br />

Glass-St<strong>ea</strong>gal, porÈm existem d˙vidas sobre a sua r<strong>ea</strong>l efic·cia.<br />

O primeiro capÌtulo desta monografia tem como objetivo compreender a histÛria das<br />

<strong>crise</strong>s financeiras, assim como o papel da regulaÁ„o financeira. AtravÈs de um estu<strong>do</strong><br />

profun<strong>do</strong> sobre as <strong>crise</strong>s, principalmente as de 1929 e de 2008, observa-se que os<br />

instrumentos regulatÛrios cria<strong>do</strong>s, na dÈcada de 1930, foram aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s gradualmente e<br />

arbitrariamente ao longo <strong>do</strong>s anos. Ainda, o capÌtulo objetiva delin<strong>ea</strong>r to<strong>do</strong>s as interaÁıes que<br />

levam as economias ‡s <strong>crise</strong>s, n„o somente a relaÁ„o das <strong>crise</strong>s com a regulaÁ„o.<br />

O segun<strong>do</strong> capÌtulo deste trabalho compreende o tema especÌfico da regulaÁ„o<br />

financeira norte americana em uma perspectiva histÛrica, como ela se formou, desde a criaÁ„o<br />

<strong>do</strong> Sistema <strong>do</strong> Federal Reserve, em 1913, atÈ as propostas de reforma feitas pelo Governo<br />

Obama, passan<strong>do</strong> pelos Acor<strong>do</strong>s de BasilÈia. Este capÌtulo tambÈm analisa os motivos que<br />

1


levaram os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s a aban<strong>do</strong>narem diversas leis de regulaÁ„o em prol de uma<br />

economia de Merca<strong>do</strong> Livre. Desta forma, o objetivo central deste capÌtulo È mostrar como a<br />

regulamentaÁ„o das atividades financeiras e a presenÁa das agÍncia regula<strong>do</strong>ras influenciam<br />

diretamente na evoluÁ„o <strong>do</strong> sistema financeiro e suas instituiÁıes.<br />

Por fim, o terceiro capÌtulo deste estu<strong>do</strong> se destina ‡s alternativas existentes para o<br />

futuro da regulaÁ„o <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Observa-se que a possÌvel saÌda<br />

para manter a sa˙de da arquitetura financeira internacional seja buscar o alinhamento <strong>do</strong>s<br />

sistemas regulatÛrios das naÁıes. Nesta etapa È extremamente relavante discutir o futuro <strong>do</strong>s<br />

Acor<strong>do</strong>s de BasilÈia e a a<strong>do</strong>Á„o das soluÁıes propostas por um n˙mero significativo de paÌses.<br />

Este capÌtulo tambÈm trata da import‚ncia de designar a tarefa de regulaÁ„o para os Bancos<br />

Centrais e n„o transferÌ-la para agÍncias autonomas.<br />

Esta monografia permitiu observar que a regulamentaÁ„o das atividades financeiras<br />

tem extrema import‚ncia quan<strong>do</strong> se trata da prevenÁ„o de futuras <strong>crise</strong>s, como as vividas pelo<br />

sistema financeiro internacional em 1929 e 2008. Outra quest„o importante È a da<br />

consolidaÁ„o de polÌticas de regulaÁ„o, sen<strong>do</strong> que as normas de regulaÁ„o n„o deveriam ser<br />

atreladas ‡ segregaÁ„o das instituiÁıes.<br />

2


1. CRISES FINANCEIRAS E REGULA« O<br />

Entre 2007 e 2008, o Sistema Financeiro Mundial mergulhou em uma <strong>crise</strong> nunca<br />

antes vivida em sua histÛria, mesmo se comparada ‡ <strong>crise</strong> de 1929 ñ ìcrack da bolsaî nos<br />

EUA. Apelidada por Wessel (2009) de ìO Grande P‚nicoî, os reflexos desta <strong>crise</strong> foram<br />

senti<strong>do</strong>s ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, principalmente pelas <strong>grande</strong>s potÍncias econÙmicas, e as<br />

estatÌsticas mais pessimistas revelaram que esses paÌses comeÁaram a se recuperar somente no<br />

ano de 2010. A <strong>crise</strong> enfraqueceu o sistema atravÈs de alavancagem excessiva e <strong>do</strong> colapso<br />

habitacional - os choques seguintes foram fortes demais para que o sistema conseguisse<br />

resistir (PAULSON, 2010; WESSEL, 2009).<br />

Minsk (apud Wray, 2009) detalha as <strong>crise</strong>s na economia global que, ao longo <strong>do</strong>s<br />

anos, foram se intensifican<strong>do</strong> e levaram ‡ atual <strong>crise</strong> vivida no sistema financeiro:<br />

<strong>crise</strong> <strong>do</strong>s Fun<strong>do</strong>s de Investimento Imobili·rio no inÌcio <strong>do</strong>s anos 1970; dÌvida<br />

<strong>do</strong>s paÌses latinos em desenvolvimento, no inÌcio de 1980, <strong>crise</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de<br />

imÛveis comerciais, <strong>crise</strong> das junk bonds e a <strong>crise</strong> das caixas econÙmicas ... nos EUA,<br />

na dÈcada de 1980; crash das bolsas em 1987 e novamente em 2000 ... o colapso<br />

japonÍs desde o inÌcio <strong>do</strong>s anos 1980; a falÍncia da gigante LTCM, a <strong>crise</strong> da<br />

moratÛria da R˙ssia e as <strong>crise</strong>s da dÌvida na ¡sia no final <strong>do</strong>s anos 1990 ... AtÈ a <strong>crise</strong><br />

atual. (Wray, 2009: 15)<br />

As duas maiores <strong>crise</strong>s desencad<strong>ea</strong>das por falhas no Sistema Financeiro norte-<br />

americano, tÍm em comum uma sÈrie de falhas na regulaÁ„o de suas instituiÁıes banc·rias.<br />

Entre 1921 e 1928, a economia <strong>do</strong>s EUA dava sinais nÌti<strong>do</strong>s de crescimento e gerava<br />

otimismo, o taylorismo ganhava forÁa, os americanos ficavam cada vez mais ricos e a renda<br />

estava crescen<strong>do</strong> em relaÁ„o aos preÁos. Estes fatores levaram ao aumento <strong>do</strong> consumo ñ<br />

principalmente de bens supÈrfluos ñ o que superaqueceu o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, houve uma <strong>grande</strong> oscilaÁ„o no preÁo das aÁıes no perÌo<strong>do</strong> de 1920 a 1929, e empresas<br />

como US Steel, AT&T, General Eletric e Boeing viram os preÁos de suas aÁıes caÌrem<br />

vertiginosamente (PARKER; 2009).<br />

3


1.1 Crash de 1929<br />

Em 1929, a Bolsa de Nova York sofreu uma <strong>grande</strong> quebra, a <strong>crise</strong> gerada acarretou<br />

mudanÁas econÙmicas, polÌticas e sociais profundas. Entre 1921 e 1928, a economia norte<br />

americana passou por momentos de crescimento, e a sociedade estava otimista com relaÁ„o ao<br />

futuro <strong>do</strong> paÌs, as pessoas estavam fican<strong>do</strong> cada vez mais ricas, apesar da <strong>grande</strong> desigualdade<br />

presente, e os preÁos estavam cain<strong>do</strong> com relaÁ„o ‡ renda. Isto È o indicativo de um merca<strong>do</strong><br />

superaqueci<strong>do</strong>, com um excedente muito eleva<strong>do</strong> de produÁ„o (PARKER, 2009).<br />

Os preÁos das aÁıes tambÈm mostraram altas no perÌo<strong>do</strong> de 1920 a 1929, Parker<br />

(2009) apresenta da<strong>do</strong>s apontan<strong>do</strong> que a empresa General Eletric (GE), uma das maiores<br />

empresas norte americanas, teve o valor de suas aÁıes triplica<strong>do</strong> em 18 meses, alcanÁan<strong>do</strong> o<br />

exarceba<strong>do</strong> valor de USD396 por aÁ„o.<br />

Parker (2009) ressalta que, antes <strong>do</strong> crash de 1929, surgiram diversas formas de<br />

especular na Bolsa de Valores, e a forma mais popular na Època era ìSociedade de<br />

Investimentosî, as quais possuÌam estruturas piramidais e escapavam <strong>do</strong> escopo da regulaÁ„o.<br />

A enorme quantidade de especula<strong>do</strong>res em Wall Street, segun<strong>do</strong> Keynes (apud PARKER,<br />

2009: 56), levou a um aumento na taxa de juros sem precedentes, o que refletiu-se ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> e colocou em xeque o padr„o-ouro.<br />

AtraÌ<strong>do</strong> pelas altas taxas de juros disponÌveis em Nova York, o ouro estava<br />

sen<strong>do</strong> despeja<strong>do</strong> para fora da Inglaterra em tamanha quantidade que sir Montagu<br />

Norman [chefe <strong>do</strong> Banco da Inglaterra] receou que a Inglaterra pudesse ser obrigada a<br />

aban<strong>do</strong>n·-lo ñ fato que ele considerava uma calamidade, no que, sem d˙vida, n„o era<br />

o ˙nico. (PARKER, 2009: 56)<br />

Na tentativa de conter os devasta<strong>do</strong>res efeitos da <strong>crise</strong>, os paÌses executaram e<br />

defenderam polÌticas protecisonistas internamente, apesar de condenarem essa mesma pr·tica<br />

quan<strong>do</strong> r<strong>ea</strong>lizada pelos outros participantes <strong>do</strong> comÈrcio internacional. O Projeto de Lei<br />

Smoot-Hawley nos Esta<strong>do</strong> Uni<strong>do</strong>s era a maior representaÁ„o deste fenÙmeno, as alÌquotas<br />

sobre importaÁıes tribut·veis foi aumentada a nÌveis nunca aplica<strong>do</strong>s e como consequÍncia<br />

estrangulou a atividade internacional mais importante e que poderia auxiliar na saÌda da <strong>crise</strong>,<br />

o comÈrcio. Da<strong>do</strong>s apontam que o volume de comÈrcio mundial, entre 1929 e 1934,<br />

4


despencou em <strong>do</strong>is terÁos; para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s n„o foi diferente, as suas exportaÁıes para<br />

a Alemanha diminuÌram 70% em termos de volume (Idem Ibidem).<br />

A diminuiÁ„o <strong>do</strong> comÈrcio, <strong>do</strong>mÈstico e internacional, teve como Ûbvia consequÍncia<br />

a queda na produÁ„o de bens, este fato agravou a <strong>crise</strong> no setor produtivo da economia.<br />

Segun<strong>do</strong> Parker (2009), a produÁ„o na Europa, entre 1930 e 1933, caiu em 15%, e a produÁ„o<br />

mundial foi reduzida em um terÁo.<br />

O setor banc·rio norte-americano <strong>do</strong>s anos 1920 era, na vis„o de Parker (2009), um<br />

sistema defensivo e bastante desorganiza<strong>do</strong>, que fora cria<strong>do</strong> de forma gradual e poderia ser<br />

compara<strong>do</strong> ao setor banc·rio europeu de 400 anos antes. AlÈm disso, o autor nota que as<br />

agÍncias controla<strong>do</strong>ras da regulaÁ„o n„o perceberam que a gest„o <strong>do</strong>s grupos financeiros era<br />

incompetente e manipulava o dinheiro da populaÁ„o. ìEles haviam usa<strong>do</strong> o dinheiro a eles<br />

confia<strong>do</strong> em especulaÁıes e emprÈstimos imprudentes.î (Idem Ibidem: 354).<br />

1.2 A Crise <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> Imobili·rio da dÈcada de 2008<br />

O epicentro da <strong>crise</strong> de 2008 deu-se no merca<strong>do</strong> imobili·rio norte americano, de mo<strong>do</strong><br />

que a chamada <strong>crise</strong> <strong>do</strong> subprime desencadeou uma sÈrie de quebras, geran<strong>do</strong> uma <strong>crise</strong><br />

sistÍmica. Carvalho (2008) disserta sobre o merca<strong>do</strong> hipotec·rio de subprime. Para o autor È<br />

preciso entender primeiramente como funcionava o merca<strong>do</strong> de financiamento imobili·rio nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, em que as hipotecas residenciais tinham contratos de longa duraÁ„o para o<br />

financiamento de compra de imÛveis residenciais, e o imÛvel era da<strong>do</strong> como garantia <strong>do</strong><br />

emprÈstimo. Desta forma, o compra<strong>do</strong>r n„o era o propriet·rio <strong>do</strong> imÛvel atÈ que quitasse a<br />

˙ltima parcela. Assim, se n„o pagasse o financiamento por completo, o financia<strong>do</strong>r poderia<br />

retomar o imÛvel e revendÍ-lo para recuperar seu prejuÌzo.<br />

Fernan<strong>do</strong> Carvalho (2008) frisa que para as instituiÁıes financia<strong>do</strong>ras n„o era<br />

interessante recuperar esses imÛveis, mas em ˙ltima inst‚ncia, era a forma de resgatar ao<br />

menos parte <strong>do</strong> emprÈstimo feito. Para minimizar os riscos de emprestar a alguÈm que n„o<br />

poderia devolver o dinheiro no futuro, costumeiramente eram feitas an·lises detalhadas na<br />

ficha de crÈdito <strong>do</strong> candidato ao financiamento, engloban<strong>do</strong> questıes sobre sua renda, seu<br />

5


crÈdito na praÁa e suas perspectivas profissionais. Assim, os toma<strong>do</strong>res que n„o possuÌssem<br />

condiÁıes seguras para receber o emprÈstimo, n„o receberiam o valor.<br />

Os emprÈstimos imobili·rios denomina<strong>do</strong>s subprime eram linhas de crÈdito<br />

concedidas para pessoas que ofereciam risco ‡s instituiÁıes financia<strong>do</strong>ras, j· que muitas vezes<br />

n„o possuÌam renda, ou garantias, ou ainda deviam emprÈstimos anteriores, ou seja, n„o eram<br />

toma<strong>do</strong>res confi·veis. O porÈm desses emprÈstimos era que a inadimplÍncia <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

prime 1 , segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s da Bloomberg (apud PAULSON, 2010), situava-se, em 2007, em<br />

torno de 2,6%, enquanto a inadimplÍncia <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> subprime, no mesmo ano, estava em<br />

13,4%. Todavia, para os financia<strong>do</strong>res, essas transaÁıes eram lucrativas, j· que os juros<br />

cobra<strong>do</strong>s eram muito mais eleva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que os que correspondiam a operaÁıes contratadas no<br />

merca<strong>do</strong> denomina<strong>do</strong> prime.<br />

Os perigos para a economia americana haviam si<strong>do</strong> obscureci<strong>do</strong>s pela<br />

bonanÁa habitacional sem precedentes, fomentada, em parte pelas baixas taxas de<br />

juros que nos ajudaram a sair da queda na atividade econÙmica que se seguiu ao<br />

estouro da bolha de tecnologia de fins da dÈcada de 1990 e ao impacto <strong>do</strong>s ataques <strong>do</strong><br />

11 de setembro. A bolha habitacional foi inflada pelo <strong>grande</strong> aumento <strong>do</strong>s<br />

emprÈstimos a toma<strong>do</strong>res menos confi·veis, ou subprime, que elevaram a proporÁ„o<br />

de detentores da casa prÛpria a nÌveis sem precedentes. Na Època em que assumi como<br />

secret·rio <strong>do</strong> tesouro, em julho de 2006, nada menos que 69% das famÌlias americanas<br />

residiam em casa prÛpria, em comparaÁ„o com 64% em 1994. Os emprÈstimos<br />

subprime dispararam de 5% <strong>do</strong> total das hipotecas, em 1994, para aproximadamente<br />

20%, em julho de 2006. (PAULSON, 2010:57)<br />

Essa bonanÁa de crÈdito imobili·rio transformou-se em bolha: pessoas com muito<br />

pouco ou nenhum dinheiro passaram a comprar suas casas e n„o terem como pagar, enquanto<br />

os preÁos das moradias disparavam. Henry Paulson (2010) retrata a situaÁ„o afirman<strong>do</strong> que<br />

casas em excesso foram compradas com pouco ou nenhum capital, muitos emprÈstimos foram<br />

pleit<strong>ea</strong><strong>do</strong>s e concedi<strong>do</strong>s negligentemente e muitas vezes com fraude. Como j· era espera<strong>do</strong>, o<br />

nÌvel de inadimplÍncia nos emprÈstimos subprime disparou, em conseq¸Íncia, iniciou-se uma<br />

onda de execuÁıes de hipotecas, o que gerou prejuÌzos exorbitantes para os mutuantes<br />

subprime.<br />

Cabe destacar, no entanto, conforme descreveram a <strong>crise</strong>, Mihm e Roubini (2010)<br />

consideram que o merca<strong>do</strong> subprime n„o foi o causa<strong>do</strong>r ˙nico da <strong>crise</strong> financeira, pois<br />

1 Merca<strong>do</strong> Prime de hipotecas È aquele onde os toma<strong>do</strong>res de emprÈstimos possuem um bom histÛrico de crÈdito<br />

e possuem capital para oferecer como entrada, este merca<strong>do</strong> tambÈm È chama<strong>do</strong> de merca<strong>do</strong> tradicional de<br />

crÈdito e possui taxas mais baixas em relaÁ„o a outros tipos de hipotecas, como as subprime e as n<strong>ea</strong>r-prime.<br />

(FRANKEL, 2006)<br />

6


sozinho, n„o teria como levar o merca<strong>do</strong> a recess„o, pois, para os autores, os problemas eram<br />

mais varia<strong>do</strong>s e dispersos.<br />

1.3 O desenrolar da Crise Financeira de 2008<br />

A bolha se expandia pelo merca<strong>do</strong> imobili·rio, mas n„o se limitava a ele, tornan<strong>do</strong>-<br />

se uma bolha de crÈdito difusa, com bancos de investimento e comerciais financian<strong>do</strong> valores<br />

exorbitantes de compras alavancadas de diversas empresas, com condiÁıes de emprÈstimos<br />

cada vez mais frouxas. Paulson (2010) relata que atÈ mesmo os lÌderes <strong>do</strong>s maiores bancos<br />

norte-americanos estavam preocupa<strong>do</strong>s com a intensa assunÁ„o de riscos nos merca<strong>do</strong>s e com<br />

a eros„o <strong>do</strong>s padrıes de subscriÁ„o [underwriting] mas tambÈm explicavam a inevit·vel<br />

concess„o destes emprÈstimos guia<strong>do</strong>s pela imensa concorrÍncia (PAULSON, 2010).<br />

Com os bancos confiantes na economia norte-americana, as hipotecas subprime<br />

dispararam. Quan<strong>do</strong> o merca<strong>do</strong> comeÁou a dar sinais de quebra e a compra de tÌtulos de<br />

hipotecas de toma<strong>do</strong>res insolventes retraiu-se, as instituiÁıes financeiras passaram a disfarÁ·-<br />

las atravÈs de um processo complexo conheci<strong>do</strong> como securitizaÁ„o. Carvalho (2008) versa<br />

sobre este processo de maneira relativamente f·cil de ser entendida:<br />

Toma-se um certo n˙mero de contratos de hipotecas, que prometem pagar<br />

uma determinada taxa de juros, para usar como base, ou lastro, de um tÌtulo financeiro<br />

(cuja remuneraÁ„o È bas<strong>ea</strong>da nos juros pagos pelo toma<strong>do</strong>r da hipoteca). Esse tÌtulo È,<br />

ent„o, vendi<strong>do</strong> para fun<strong>do</strong>s de investimento, famÌlias ricas, empresas com dinheiro<br />

para aplicar, bancos etc. Uma das vantagens desse processo È que o compra<strong>do</strong>r desse<br />

papel em geral n„o tem muita noÁ„o <strong>do</strong> risco que est· compran<strong>do</strong>, porque ele n„o vÍ<br />

as hipotecas que lhe servem de lastro. (CARVALHO, 2008: 19).<br />

Este processo de securitizaÁ„o possuÌa prÛs e contras: a <strong>grande</strong> vantagem para as<br />

instituiÁıes era a distribuiÁ„o <strong>do</strong>s riscos ñ que n„o ficava exclusivamente concentra<strong>do</strong> nas<br />

instituiÁıes banc·rias ñ porÈm isso aumentou a opacidade <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>. Esta pr·tica foi<br />

amplamente difundida na dÈcada de 1980, e aplicada para outros tipos de ativos, como<br />

recebÌveis de cart„o de crÈdito e financiamento de automÛveis (PAULSON, 2010).<br />

7


Quan<strong>do</strong> os emprÈstimos imobili·rios comeÁaram a n„o ser honra<strong>do</strong>s, os possui<strong>do</strong>res<br />

desses papÈis perceberam que a cada dia tinham menos compra<strong>do</strong>res e os investi<strong>do</strong>res<br />

concluÌram que estes papÈis tinham um valor muito menor no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> que esperavam.<br />

AlÈm da inadimplÍncia, a baixa no preÁo <strong>do</strong>s imÛveis assolava a economia <strong>do</strong>s EUA<br />

(CARVALHO, 2008).<br />

O simples declÌnio <strong>do</strong> preÁo das moradias j· seria um problema em si.<br />

Poderia atÈ ter causa<strong>do</strong> a recess„o ñ embora n„o t„o profunda e dura<strong>do</strong>ura quanto a<br />

que virÌamos a experimentar PorÈm, o que n„o percebemos na Època e depois<br />

compreendemos muito bem foi como as mudanÁas na elaboraÁ„o e venda das<br />

hipotecas, combinadas com as reformulaÁıes <strong>do</strong> sistema financeiro, haviam amplia<strong>do</strong><br />

em muito os danos para as instituiÁıes financeiras banc·rias e n„o banc·ria,<br />

am<strong>ea</strong>Áan<strong>do</strong> gravemente essas empresas, o sistema inteiro e, em ˙ltima inst‚ncia, to<strong>do</strong><br />

o paÌs. (PAULSON, 2010: 59).<br />

A corrida para vender estes ìtÌtulos podresî foi intensa e expandiu-se para outros<br />

papÈis <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais. Desta forma, sem a exata dimens„o <strong>do</strong> tamanho da quebra, o<br />

impulso <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res foi vender rapidamente seus papÈis, antes que os mesmo perdessem<br />

mais capital. Henry Paulson (2010) destaca que todas as instituiÁıes financeiras estavam<br />

extremamente interligadas, de mo<strong>do</strong> que as prÛximas instituiÁıes a serem atingidas foram os<br />

bancos de investimentos, comeÁan<strong>do</strong> pelo B<strong>ea</strong>r St<strong>ea</strong>rns e o Lehman Brothers.<br />

Uma possÌvel falÍncia <strong>do</strong> B<strong>ea</strong>r St<strong>ea</strong>rns afetaria muito alÈm de seus acionistas e<br />

debenturistas. Este banco estava entrem<strong>ea</strong><strong>do</strong> de diversas outras instituiÁıes financeiras, como<br />

bancos, corretoras, segura<strong>do</strong>ras, fun<strong>do</strong>s de pens„o de Esta<strong>do</strong>, fun<strong>do</strong>s hedge, fun<strong>do</strong>s m˙tuos,<br />

etc. Desta forma, se o B<strong>ea</strong>r quebrasse, todas iriam buscar seus direitos de emprÈstimos e<br />

garantias, isso geraria uma queda geral nos preÁos <strong>do</strong>s ativos (PAULSON, 2010).<br />

Para atender as exigÍncias de pagamento, primeiro o B<strong>ea</strong>r e depois outros<br />

participantes seriam forÁa<strong>do</strong>s a vender o que tivessem em m„os, em qualquer merca<strong>do</strong><br />

ñ derruban<strong>do</strong> os preÁos, geran<strong>do</strong> prejuÌzos e desencad<strong>ea</strong>n<strong>do</strong> mais chamadas de<br />

margem e execuÁıes de garantias. (Idem Ibidem:89).<br />

A decis„o <strong>do</strong> governo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s foi de socorrer as instituiÁıes que estavam<br />

falin<strong>do</strong>, para evitar uma quebra ainda maior e a ampliaÁ„o <strong>do</strong> risco sistÍmico. A Fannie Mae e<br />

a Freddie Mac ñ que n„o possuÌam agÍncias regula<strong>do</strong>ras muito atentas ñ e o B<strong>ea</strong>r St<strong>ea</strong>rns<br />

8


foram socorri<strong>do</strong>s atravÈs de mecanismos <strong>do</strong> Fed 2 e <strong>do</strong> Tesouro <strong>do</strong>s EUA, fato que dividiu as<br />

opiniıes <strong>do</strong>s economistas norte-americanos. Em sua descriÁ„o da <strong>crise</strong>, Henry Paulson (2010)<br />

explicita que existiam duas visıes divergentes sobre o socorro ‡s instituiÁıes privadas: alguns<br />

consideravam a aÁ„o ìbrilhante e ousadaî, enquanto outros a interpretavam como ìinfame,<br />

inequÌvoco de risco moralî.<br />

O B<strong>ea</strong>r St<strong>ea</strong>rns, apesar de ser um banco de investimento, foi socorri<strong>do</strong> atravÈs <strong>do</strong> Fed.<br />

O seu colapso ressaltou diversas falhas regulatÛrias <strong>do</strong> sistema financeiro norte-americano,<br />

assertivamente apontadas pelo ent„o secret·rio <strong>do</strong> Tesouro:<br />

Ao longo <strong>do</strong>s anos, os bancos comerciais, os bancos de investimentos, as<br />

instituiÁıes de poupanÁa e emprÈstimo e as empresas segura<strong>do</strong>ras, para citar apenas<br />

algumas das muitas espÈcies de instituiÁıes financeiras ativas em nossos merca<strong>do</strong>s,<br />

passaram a atuar nas ·r<strong>ea</strong>s de negÛcios das outras. Os produtos que desenvolviam e<br />

vendiam se tornaram infinitamente mais complexos e as <strong>grande</strong>s instituiÁıes<br />

financeiras passaram a entrelaÁar-sede maneira indestrinÁ·vel, enl<strong>ea</strong>das por<br />

complexos esquemas de crÈditos. (PAULSON, 2010: 112)<br />

PorÈm, uma importantÌssima instituiÁ„o financeira norte-americana n„o foi socorrida<br />

pelo governo: o banco Lehman Brothers. Bresser-Pereira (2009) classifica esta atitude como<br />

um erro grave cometi<strong>do</strong> pelo Tesouro norte-americano, uma vez que, na vis„o <strong>do</strong> autor e da<br />

maioria <strong>do</strong>s estudiosos das <strong>crise</strong>s, instituiÁıes <strong>grande</strong>s n„o podem ir ‡ falÍncia pois isso gera<br />

uma enorme probabilidade de <strong>crise</strong> sistÍmica.<br />

Setembro de 2008 foi um mÍs de largo agravamento da <strong>crise</strong>, segun<strong>do</strong> Henry Paulson<br />

(2010) o socorro para as securitiza<strong>do</strong>ras Fannie Mae e Freddie Mac foi aprova<strong>do</strong>, no dia 15 de<br />

setembro, o Lehman Brothers quebrou, principalmente por falta de liquidez e capital, e entrou<br />

com um pedi<strong>do</strong> de recuperaÁ„o judicial. O Merrill Lynch foi compra<strong>do</strong> pelo Bank of<br />

America, em seguida, e nesse mesmo dia, o merca<strong>do</strong> de aÁıes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> caiu, fazen<strong>do</strong><br />

com que os Bancos Centrais tivessem que injetar capital na economia e as aÁıes <strong>do</strong>s bancos<br />

norte-americanos sofressem quedas substanciais.<br />

Para David Wessel (2009), discutiu-se muito sobre a import‚ncia <strong>do</strong> crÈdito para a<br />

economia, porÈm a quest„o da liquidez ñ que È t„o importante quanto ñ foi deixada de la<strong>do</strong>.<br />

Apesar de muitos bancos comerciais estarem capitaliza<strong>do</strong>s, as taxas de emprÈstimos<br />

2 Federal Reserve, ou Sistema <strong>do</strong> Federal Reserve, È o Sistema de Banco Central <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Cria<strong>do</strong> em<br />

1913, tem como principal funÁ„o conduzir a polÌtica monet·ria da naÁ„o, regular e supervisionar o sistema<br />

banc·rio e garantir a estabilidade financeira norte americana. (FEDERAL RESERVE WEBSITE,<br />

www.federalreserve.gov, 2011)<br />

9


interbanc·rios cresciam, ilustran<strong>do</strong> uma sÈria <strong>crise</strong> de liquidez. O merca<strong>do</strong>, para Paulson<br />

(2010), precisava de mais liquidez. Para conter o problema da venda de ativos <strong>do</strong>s <strong>grande</strong>s<br />

bancos a preÁos de liquidaÁ„o, ent„o surgiram propostas de planos para que o governo<br />

auxiliasse nessa tarefa.<br />

reduzir a taxa pela qual o Fed emprestava diretamente aos bancos em meio<br />

ponto percentual e deixar que os bancos fizessem emprÈstimos de 30 dias em vez de<br />

um dia para o outro... A idÈia era lubrificar a economia [dar liquidez], e n„o injetar<br />

mais combustÌvel [crÈdito]. (WESSEL, 2009: 118).<br />

A <strong>crise</strong> de confianÁa tomou conta <strong>do</strong> cen·rio financeiro internacional e era pautada,<br />

segun<strong>do</strong> Luiz Carlos Bresser-Pereira (2009), na procura <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res por liquidez e<br />

liquidaÁ„o de seus crÈditos, que estavam aplica<strong>do</strong>s em uma cadeia de hipotecas imobili·rias<br />

bas<strong>ea</strong>da em deve<strong>do</strong>res insolventes. A descrenÁa no pagamento destes deve<strong>do</strong>res levou a esta<br />

corrida por liquidez, que, em conseq¸Íncia, levou diversas empresas financeiras a falirem,<br />

mesmo aquelas que eram solventes. A <strong>crise</strong> de confianÁa foi agravada pela descrenÁa na<br />

economia norte-americana como um to<strong>do</strong>, que estava enfraquecida pela falta de regulaÁ„o das<br />

instituiÁıes financeiras e polÌticas irrespons·veis.<br />

… unanimidade entre os autores que tratam da <strong>crise</strong> financeira de 2008, que a falta de<br />

regulamentaÁ„o adequada contribuiu para a geraÁ„o e agravamento da <strong>crise</strong>. Henrique<br />

Meirelles (in PAULSON, 2010) retrata a expans„o de crÈdito e a falta de regulamentaÁ„o<br />

como problemas centrais da <strong>crise</strong>. David Wessel (2010) defende que as restriÁıes <strong>do</strong> sistema<br />

n„o foram suficientes para conter os ìexcessos e gan‚nciaî das empresas financeiras ou<br />

mudar a otimista cegueira <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res. Mihm e Roubini (2010) defendem que os<br />

envolvi<strong>do</strong>s na <strong>crise</strong> n„o deram atenÁ„o aos alertas que soavam, pois acreditavam que os<br />

merca<strong>do</strong>s se autorregulavam e portanto eram confi·veis, sÛli<strong>do</strong>s e est·veis. Paulson (2010)<br />

divide a mesma opini„o <strong>do</strong>s outros autores, e versa sobre a contribuiÁ„o da regulaÁ„o<br />

defasada como elemento crucial para a quebra <strong>do</strong> sistema financeiro, lembran<strong>do</strong> ainda que,-<br />

as agÍncias regula<strong>do</strong>ras e as normas de regulaÁ„o n„o acompanharam as mudanÁas <strong>do</strong>s<br />

merca<strong>do</strong>s. As regras de retenÁ„o de capital poderiam ter si<strong>do</strong> freios na lucratividade <strong>do</strong>s<br />

bancos, assim as <strong>grande</strong>s instituiÁıes banc·rias passaram a controlar empresas externas aos<br />

bancos principais.<br />

10


A estrutura regulatÛria, organizada em torno de linhas de negÛcios<br />

tradicionais, n„o conseguiu acompanhar a evoluÁ„o <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s. Em conseq¸Íncia,<br />

n„o obstante as mudanÁas radicais no sistema financeiro, o paÌs continuou com a<br />

mesma colcha de retalhos regulatÛria, entrem<strong>ea</strong>n<strong>do</strong> jurisdiÁıes estaduais e federais, de<br />

75 anos atr·s. Talvez as normas vigentes tenham si<strong>do</strong> boas para o mun<strong>do</strong> da Grande<br />

Depress„o, mas redundaram em competiÁ„o contraproducente entre agÍncias<br />

regula<strong>do</strong>ras, com duplicidades perdul·rias em algumas ·r<strong>ea</strong>s e com lacunas profundas<br />

e amplas em outros ‚mbitos. (PAULSON, 2010: 112).<br />

Durante as diversas <strong>crise</strong>s vividas pelas economias capitalistas nota-se que as bolhas<br />

de ativos est„o atreladas a uma oferta exagerada de crÈdito, que normalmente È conseq¸Íncia<br />

da negligÍncia de autoridades governamentais em supervisionar e regulamentar o sistema<br />

financeiro, ou da frouxid„o <strong>do</strong> banco central com relaÁ„o ‡ polÌtica fiscal. PorÈm, os<br />

problemas senti<strong>do</strong>s nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s n„o eram exclusivamente seus. PaÌses como Reino<br />

Uni<strong>do</strong>, Isl‚ndia, LetÙnia, Dubai e Nova Zel‚ndia tambÈm passavam por situaÁıes de<br />

regulaÁ„o e supervis„o lenientes, e de oferta abundante e acessÌvel de dinheiro e crÈdito<br />

(MIHM e ROUBINI, 2010).<br />

Dois dias apÛs os acontecimentos <strong>do</strong> dia 15 de setembro de 2008, a AIG, maior<br />

segura<strong>do</strong>ra norte-americana, comeÁou a dar sinais de dificuldades financeiras e o governo<br />

socorreu a instituiÁ„o com USD 85 bilhıes; O merca<strong>do</strong> r<strong>ea</strong>giu mal a essa ajuda<br />

governamental e desabou pela segunda vez na mesma semana. Esses acontecimentos<br />

aumentaram consideravelmente a probabilidade de problemas causa<strong>do</strong>s pelo risco sistÍmico.<br />

Atrelada ‡ bancarrota da AIG, estava a falta de regulaÁ„o, segun<strong>do</strong> Paulson (2010), a AIG era<br />

uma instituiÁ„o n„o regulada que abrangia diversas empresas segura<strong>do</strong>ras ferrenhamente<br />

reguladas, a regulaÁ„o aplicada a essas empresas n„o alcanÁava a AIG, que as controlava.<br />

David Wessel (2010) ressalta as conseq¸Íncias da falta de regulaÁ„o sobre a AIG<br />

atravÈs da transcriÁ„o das preocupaÁıes de Timothy Geithner ñ presidente <strong>do</strong> Federal Reserve<br />

de Nova York ñ sobre o fun<strong>do</strong> de hedge 3 que a AIG criou sem que nenhum Ûrg„o regula<strong>do</strong>r<br />

notasse, e sobre quais seriam a abrangÍncia e alcance deste fun<strong>do</strong>.<br />

O governo norte-americano anunciou o TARP ñ Troubled Assets Relief Program, no<br />

dia 18 de setembro, um plano de socorro <strong>do</strong> sistema financeiro visan<strong>do</strong> evitar este risco. No<br />

dia seguinte, o presidente Bush e as autoridades econÙmicas norte-americanas anunciaram um<br />

3 Os fun<strong>do</strong>s de hedge s„o instrumentos financeiros direciona<strong>do</strong>s para os chama<strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res qualifica<strong>do</strong>s, e<br />

n„o para pequenos investi<strong>do</strong>res; desta forma s„o isentos de leis que protegem os investi<strong>do</strong>res comuns. A<br />

estrutura <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s de hedge È formada por companhias que investem e gerenciam o capital de terceiros, a<br />

vantagem È que eles podem exercer operaÁıes n„o permitidas em outros tipos de investimentos e fun<strong>do</strong>s, a<br />

principal delas È a alavancagem. (EBOLI, 2010)<br />

11


plano de resgate que compreendia a compra <strong>do</strong>s crÈditos podres <strong>do</strong>s bancos. Assim, em 19 de<br />

setembro, as bolsas mundiais tiveram uma enorme recuperaÁ„o (PAULSON, 2010; WESSEL,<br />

2010).<br />

O pacote de salvamento anuncia<strong>do</strong> em 19 de setembro, que teria o valor de USD 700<br />

bilhıes tramitava no Congresso norte-americano e, segun<strong>do</strong> Paulson (2010), os republicanos<br />

estavam relutantes em aprovar a medida. Enquanto a discuss„o sobre o pacote de salvamento<br />

continuava, bancos como o Washington Mutual e Washovia eram negocia<strong>do</strong>s e compra<strong>do</strong>s<br />

por outros <strong>grande</strong>s bancos, JPMorgan e Citibank respectivamente (PAULSON, 2010).<br />

Em 29 de setembro de 2008, o Congresso rejeitou o pacote de salvamento e, em<br />

conseq¸Íncia, a bolsa de Nova York sofreu a maior queda em toda a histÛria. Diante desta<br />

queda abrupta, portanto, o Congresso <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, em 1 o de outubro, aprovou o<br />

pacote.<br />

No fim das contas, evidentemente, o TARP foi derrota<strong>do</strong> por votaÁ„o de 228<br />

a 205... Senti um buraco no estÙmago quan<strong>do</strong> voltei ao Tesouro e olhei para o<br />

terminal da Bloomberg, atr·s de minha mesa. As aÁıes j· haviam inicia<strong>do</strong> o preg„o<br />

em declÌnio acentua<strong>do</strong> e entraram em queda livre quan<strong>do</strong> a votaÁ„o no Congresso<br />

evoluÌa para a rejeiÁ„o <strong>do</strong> TARP. O Dow acabou registran<strong>do</strong> naquele dia sua maior<br />

baixa de to<strong>do</strong>s os tempos, quase 778 pontos, ou 7%, enquanto o S&P 500 sofreu<br />

queda de 8,8%, em seu pior dia desde o crash de outubro de 1987. (Idem Ibidem: 286-<br />

287).<br />

Para a recuperaÁ„o da economia americana a partir de ent„o foram necess·rios<br />

investimentos maciÁos <strong>do</strong> governo americano. Luiz Filgueiras (2008) acentua que mesmo<br />

com os pacotes de ajuda, aprova<strong>do</strong>s pelo Congresso <strong>do</strong>s EUA, a <strong>crise</strong> espalhar-se-ia para a<br />

esfera produtiva, assim como para os demais paÌses <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Os bancos e instituiÁıes<br />

financeiras passaram a reduzir emprÈstimos e, como conseq¸Íncia, diversas empresas<br />

perderam suas fontes de capital de giro ten<strong>do</strong> reduÁ„o na produÁ„o, e os consumi<strong>do</strong>res<br />

pararam de comprar bens dur·veis por falta de crÈdito. Esse quadro significou um esfriamento<br />

na economia r<strong>ea</strong>l com desaceleraÁ„o <strong>do</strong> crescimento econÙmico, aumento <strong>do</strong> desemprego e<br />

risco de grave recess„o (CARVALHO, 2008; FILGUEIRAS, 2008).<br />

Enquanto os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s passavam por todas essas <strong>crise</strong>s econÙmicas e polÌticas,<br />

na Europa os bancos enfrentavam pÈssimos momentos. Como relata<strong>do</strong> por Paulson (2010), o<br />

Banco Fortis precisou <strong>do</strong> salvamento de Benelux, e a Inglaterra nacionalizou o Bradford &<br />

Bingley, o que, no inÌcio de outubro, culminou com uma proposta da Uni„o EuropÈia de aÁıes<br />

mais duras contra os bancos. Alguns paÌses ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> comeÁaram a garantir os<br />

12


depÛsitos <strong>do</strong>s bancos, ou seja, garantir que os depositantes receberiam o capital aplica<strong>do</strong> nos<br />

bancos de volta no momento em que precisassem, o que em muitos casos como o da Isl‚ndia<br />

fez com que o preÁo da moeda desabasse. Na Alemanha, Dinamarca, Portugal e Espanha esta<br />

medida j· havia si<strong>do</strong> tomada antes <strong>do</strong> dia 6 de outubro. Em 07 de outubro de 2008, a Uni„o<br />

EuropÈia definiu regras de socorro, e a partir deste dia os paÌses comeÁaram a aplicar medidas<br />

de salvamento para suas economias.<br />

As perdas das economias, em decorrÍncia <strong>do</strong>s acontecimentos da <strong>crise</strong> no sistema<br />

financeiro, tomaram proporÁıes catastrÛficas e os efeitos foram senti<strong>do</strong>s ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

A queda da liquidez <strong>do</strong>s sistemas financeiros norte-americano e europeu foi estron<strong>do</strong>sa: os<br />

bancos centrais tiveram que socorrer as instituiÁıes financeiras. Visan<strong>do</strong> aumentar a liquidez,<br />

a taxa de juros <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s teve uma reduÁ„o abrupta e o dÛlar americano sofreu uma<br />

<strong>grande</strong> desvalorizaÁ„o frente ao Euro. Os bancos norte-americanos e europeus, atÈ mesmo<br />

bancos <strong>grande</strong>s e sÛli<strong>do</strong>s como Merril Lynch, Citigroup e UBS viram os preÁos de suas aÁıes<br />

reduzi<strong>do</strong>s (PAULSON, 2010; WESSEL, 2010).<br />

Esta <strong>crise</strong> proporcionou, aos formula<strong>do</strong>res de polÌticas financeiras internacionais e aos<br />

estudiosos <strong>do</strong> assunto, sÈrias d˙vidas sobre a Arquitetura Financeira Internacional. A <strong>crise</strong><br />

financeira, que se tornou uma <strong>crise</strong> sistÍmica apÛs a quebra <strong>do</strong> banco Lehman Brothers,<br />

salientou as limitaÁıes da arquitetura internacional <strong>do</strong> sistema financeiro, principalmente com<br />

relaÁ„o aos sistemas de regulaÁ„o e supervis„o banc·ria e financeira, e a existÍncia de um<br />

perfil de instituiÁıes financeiras que assumiam <strong>grande</strong>s riscos (CINTRA et al., 2008).<br />

Cintra et al. (2008) defendem que uma <strong>crise</strong> que originou-se no sistema de crÈdito<br />

teria si<strong>do</strong> apenas uma <strong>crise</strong> de crÈdito cl·ssica se instituiÁıes financeiras e banc·ria n„o<br />

tivessem se envolvi<strong>do</strong> t„o a fun<strong>do</strong> na quest„o das hipotecas imobili·rias. O sistema de<br />

securitizaÁ„o supracita<strong>do</strong> gerou uma sÈrie de produtos lastr<strong>ea</strong><strong>do</strong>s em crÈdito imobili·rio que<br />

replicaram e potencializaram os prejuÌzos, distribuin<strong>do</strong>-os globalmente.<br />

A <strong>crise</strong> financeira internacional, originada em m<strong>ea</strong><strong>do</strong>s de 2007 no merca<strong>do</strong><br />

norte americano de hipotecas de alto risco (subprime), adquiriu proporÁıes tais que<br />

acabou por se transformar, apÛs a falÍncia <strong>do</strong> banco de investimentos Lehman<br />

Brothers, numa <strong>crise</strong> sistÍmica. O desenrolar da <strong>crise</strong> colocou em xeque a arquitetura<br />

financeira internacional. (Idem Ibidem: 23).<br />

Os <strong>do</strong>is <strong>grande</strong>s problemas da antiga arquitetura internacional <strong>do</strong> sistema financeiro<br />

eram a supervis„o e regulaÁ„o das instituiÁıes, e a forte interaÁ„o <strong>do</strong>s bancos universais com<br />

13


as demais instituiÁıes financeiras. Paulson (2010) ressalta diversas vezes que uma das<br />

<strong>grande</strong>s falhas que possibilitaram a <strong>crise</strong> foi a falta de regulaÁ„o, para Cintra et al. (2008) este<br />

tambÈm foi um fator chave <strong>do</strong> desencad<strong>ea</strong>mento <strong>do</strong>s acontecimentos.<br />

A <strong>grande</strong> interaÁ„o <strong>do</strong>s bancos universais com instituiÁıes financeiras deu-se pela<br />

busca <strong>do</strong>s bancos em aumentar a liquidez, suas operaÁıes eram alavancadas e <strong>grande</strong> parte<br />

<strong>do</strong>s riscos repassa<strong>do</strong>s para agÍncias financeiras. Estas instituiÁıes foram apelidadas de<br />

sha<strong>do</strong>w banking system e n„o estavam sujeitas as normas <strong>do</strong>s Acor<strong>do</strong>s da BasilÈia 4 , que nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s sÛ eram exigidas para bancos universais que possuÌam operaÁıes<br />

internacionais. (Idem Ibidem)<br />

o termo sha<strong>do</strong>w banking system inclui o leque de instituiÁıes envolvidas em<br />

emprÈstimos alavanca<strong>do</strong>s que n„o tinham, atÈ a eclos„o da <strong>crise</strong>, acesso aos seguros<br />

de depÛsitos e/ou as operaÁıes de redesconto <strong>do</strong>s bancos centrais. Neste leque<br />

enquadram-se os <strong>grande</strong>s bancos de investimentos independentes, os hedge funds, os<br />

fun<strong>do</strong>s de pens„o e as segura<strong>do</strong>ras. (Idem Ibidem: 24)<br />

Na busca por diversificar os riscos em seus portfÛlios, e atÈ mesmo tir·-los de seus<br />

balanÁos, visan<strong>do</strong> alavancar suas operaÁıes sem precisar reservar o nÌvel de capital sugeri<strong>do</strong><br />

pelos Acor<strong>do</strong>s da BasilÈia, o sistema banc·rio penetrava cada vez mais nas atividades <strong>do</strong><br />

global sha<strong>do</strong>w banking system (CINTRA & FAHRI; 2009).<br />

Os bancos comerciais e de investimento tÍm leis de regulamentaÁ„o diferenciadas, e o<br />

p‚nico gera<strong>do</strong> pela <strong>crise</strong> desencad<strong>ea</strong>da no sistema financeiro norte americano salientou esta<br />

diferenÁa. As instituiÁıes financeiras reguladas pelo Fed ñ ou seja, as instituiÁıes banc·rias<br />

comerciais ñ devem manter reservas e assim adquirem um colch„o de liquidez 5 , o merca<strong>do</strong><br />

banc·rio paralelo, como fun<strong>do</strong>s de hedge e de private equity 6 , bancos de investimento e<br />

negocia<strong>do</strong>res de emprÈstimos securitiza<strong>do</strong>s n„o possuem esta obrigaÁ„o (PAULSON, 2010;<br />

WESSEL, 2009).<br />

… relevante o fato <strong>do</strong>s casos mais agu<strong>do</strong>s de quebra financeira terem envolvi<strong>do</strong><br />

instituiÁıes financeiras que n„o tinham, pelas normas vigentes, direito aos seguros de<br />

operaÁıes de redesconto ñ aceitaÁ„o de tÌtulos com lastro em hipotecas ou outros crÈditos -<br />

4 Os Acor<strong>do</strong>s de BasilÈia s„o estabeleci<strong>do</strong>s pelo ComitÍ <strong>do</strong> BIS, e tÍm como objetivo principal elaborar normas<br />

eficientes de regulamentaÁ„o e supervis„o de bancos e outras instituiÁıes financeiras. Este tema ser·<br />

aprofunda<strong>do</strong> no capÌtulo 2. (MIHM e ROUBINI, 2010)<br />

5 Possuir um ìColch„o de liquidezî È o mesmo <strong>do</strong> que possuir capital de curto prazo suficiente para cubrir as<br />

obrigaÁıes de curto prazo e os imprevistos (PAULSON, 2010; WESSEL,2009)<br />

6 Private Equity È um tipo de investimento r<strong>ea</strong>liza<strong>do</strong> por instituiÁıes em empresas que ainda n„o est„o listadas<br />

nas bolsas de valores e o foco central È alavanc·-las. (LEVIN, 2010)<br />

14


das autoridades monet·rias. O crescimento deste merca<strong>do</strong> banc·rio paralelo foi ignora<strong>do</strong> pelas<br />

autoridades regula<strong>do</strong>ras, o que fragilizou o sistema financeiro (Cintra e Frahi, 2009; Mihm e<br />

Roubini, 2010).<br />

O Federal Reserve surgiu, apÛs o p‚nico financeiro de 1907, com a percepÁ„o de que<br />

os bancos exercem na economia um papel vital e singular, receben<strong>do</strong> depÛsitos e, assim,<br />

contrain<strong>do</strong> emprÈstimos de curto prazo para emprestarem dinheiro a longo prazo. Wessel<br />

(2009) explica que o merca<strong>do</strong> financeiro paralelo crescia vertiginosamente no inÌcio <strong>do</strong> sÈculo<br />

XXI ñ guia<strong>do</strong> principalmente pelos altos rendimentos ñ e tornou-se maior <strong>do</strong> que o sistema<br />

banc·rio protegi<strong>do</strong> pelo Fed.<br />

Esse conflito entre obter dinheiro que pode ser retira<strong>do</strong> a qualquer momento e<br />

emprestar esse dinheiro de mo<strong>do</strong> a ser devolvi<strong>do</strong> sÛ com o passar <strong>do</strong> tempo os torna<br />

vulner·veis. Assim, eles s„o obriga<strong>do</strong>s a separar algum dinheiro para emergÍncias,<br />

manter reservas substanciais de capital para absorver as perdas, submeter-se ‡<br />

regulaÁ„o governamental para n„o assumirem riscos imprudentes e tÍm o privilÈgio de<br />

tomar empresta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Fed em uma <strong>crise</strong>. (WESSEL, 2009:149).<br />

Para Henrique Meirelles (in PAULSON, 2010), a <strong>crise</strong> e as soluÁıes tomadas para<br />

revertÍ-la deixaram um lega<strong>do</strong> de liÁıes para os EUA e seus governantes. Inicialmente,<br />

salienta a necessidade <strong>do</strong> paÌs contar com agÍncias que regulem a atividade das instituiÁıes<br />

envolvidas no sistema financeiro, alÈm da necessidade <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s<br />

equilibra<strong>do</strong>s, de regras de transparÍncia e responsabilizaÁ„o para a securitizaÁ„o de tÌtulos, e a<br />

competÍncia governamental de evitar polÌticas de estÌmulo que distorÁam os merca<strong>do</strong>s e<br />

aumentem o risco moral.<br />

15


2. EST¡GIO DA REGULA« O DAS INSTITUI«’ES FINANCEIRAS<br />

NOS EUA<br />

2.1 RegulaÁ„o PrÈ-1929<br />

De 1819 a 1914, o padr„o monet·rio utiliza<strong>do</strong> era o padr„o ouro-libra. ApÛs a<br />

Primeira Guerra Mundial, o sistema comeÁou a apresentar deficiÍncias, a Inglaterra incorreu<br />

em in˙meros dÈficits comerciais, porÈm decidiu retornar ‡ paridade ouro-libra em vista de<br />

interesses nacionais. A libra era conhecida, atÈ ent„o, por ser ìas good as goldî (t„o boa<br />

quanto ouro). PorÈm nas dÈcadas de 1920 e 1930, as reservas de ouro inglesas escorreram<br />

para o merca<strong>do</strong> norte-americano. (SERRANO, 2002)<br />

O padr„o ouro era visto como fonte de estabilidade para as trocas em moeda, mas<br />

tambÈm como fundamento <strong>do</strong> sistema monet·rio internacional. Selwyn Parker (2009) explica<br />

que o padr„o ouro previa que todas as principais moedas correntes fossem atreladas a um<br />

valor especÌfico com relaÁ„o ao metal precioso, e as moedas secund·rias indexadas em dÛlar<br />

ou libra. O autor ainda ressalta que este era um padr„o rÌgi<strong>do</strong>, porÈm com a vantagem de<br />

oferecer disciplina ao sistema financeiro.<br />

ìA ades„o ao padr„o implicava a manutenÁ„o pelos paÌses de certos depÛsitos de ouro<br />

relativos a quantidade de cÈdulas e moedas emitidas. Se n„o conseguissem fazer isso, o valor<br />

da moeda corrente nacional ficava am<strong>ea</strong>Áa<strong>do</strong>.î (PARKER, 2009: 55-56)<br />

Em 1907 eclodiu, no sistema financeiro norte americano, uma <strong>crise</strong> de degradaÁ„o das<br />

negociaÁıes na bolsa de valores e no merca<strong>do</strong> de imÛveis, que gerou uma corrida desenfr<strong>ea</strong>da<br />

aos bancos, principalmente os bancos comerciais superficialmente regula<strong>do</strong>s e entrem<strong>ea</strong><strong>do</strong>s<br />

por difusas redes de participaÁıes, conheci<strong>do</strong>s como trustes. ¿ partir desta corrida pela<br />

liquidez, o p‚nico se alastrou por to<strong>do</strong> o pais e por diversos setores da economia. (MIHM e<br />

ROUBINI, 2010)<br />

16


Fato importante em 1907, foi que esta <strong>crise</strong> revelou a necessidade de um banco central<br />

que apoiasse o sistema banc·rio, o regulasse e exercesse a funÁ„o de empresta<strong>do</strong>r de ˙ltima<br />

inst‚ncia nos momentos de <strong>crise</strong> (MIHM e ROUBINI, 2010).<br />

PorÈm, como lembra<strong>do</strong> por Mihm e Roubini (2010), existia a crenÁa entre os<br />

economistas de que a economia se autorregularia e autocorrigiria, de forma que a existÍncia<br />

de uma entidade que exercesse esses papÈis era desnecess·ria. A Grande Depress„o da dÈcada<br />

de 1930 mu<strong>do</strong>u essa vis„o.<br />

A maioria <strong>do</strong>s economistas tradicionais <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> sÈculo XIX e <strong>do</strong> comeÁo<br />

<strong>do</strong> sÈculo XX acreditava na idÈia de que a economia È uma entidade autorregul·vel e<br />

autocorrigÌvel, e que, quan<strong>do</strong> funciona por conta prÛpria, tende a um esta<strong>do</strong> de<br />

equilÌbrio, em que a estabilidade e o pleno emprego seriam resulta<strong>do</strong>s inevit·veis...<br />

Essa estranha confianÁa desapareceu com a Grande Depress„o. Esse acontecimento<br />

transformou a disciplina da economia. (Mihm e Roubini, 2010:57).<br />

Durante a dÈcada de 1920, o ouro era atraÌ<strong>do</strong> para Nova York pelas elevadas taxas de<br />

juros, que geravam altos retornos para os especula<strong>do</strong>res. Assim acredita-se que o catalisa<strong>do</strong>r<br />

para o crash de 1929 tenha si<strong>do</strong> a rigidez <strong>do</strong> padr„o ouro, que ao invÈs assumir o papel de<br />

ìfonte de forÁa e const‚nciaî, tornou-se uma fonte de nervosismo para to<strong>do</strong> o merca<strong>do</strong><br />

financeiro mundial (PARKER,2009).<br />

Na Grande Depress„o, assim como na <strong>crise</strong> financeira de 2008, È possÌvel apontar<br />

semelhanÁas com relaÁ„o ‡ n„o existÍncia de uma regulamentaÁ„o financeira adequada, uma<br />

sÈrie de inovaÁıes financeiras e o crescimento de bolhas especulativas, tanto imobili·rias<br />

quanto na bolsa de valores. Para Mihm e Roubini (2010), esses fatores levaram ao estouro de<br />

uma <strong>grande</strong> bolha que gerou uma reduÁ„o violenta na atividade econÙmica e em conseq¸Íncia<br />

a recess„o mundial.<br />

2.2 RegulaÁ„o PÛs-1929<br />

No dia 4 de marÁo de 1933, Roosevelt assumiu a presidÍncia <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

eleito atravÈs de uma plataforma de reforma radical e sob o estigma de salva<strong>do</strong>r. Parker<br />

17


(2009) relata que os cidad„os americanos o elegeram esperan<strong>do</strong> que ele colocasse um ponto<br />

final nos abusos financeiros que levaram os paÌs ao caos. AlÈm disso, o povo americano<br />

tambÈm estava influencia<strong>do</strong> pela descrenÁa nos governantes anteriores e nas instituiÁıes<br />

Em seu discurso de posse, o novo presidente prometeu uma ìnova polÌtica econÙmica<br />

para o povo americanoî, que deveria recuperar a economia e a dignidade da populaÁ„o,<br />

polÌtica econÙmica que foi posteriormente apelidada de New D<strong>ea</strong>l (PARKER, 2009).<br />

Uma nova polÌtica econÙmica para o povo americano: era uma promessa<br />

gigantesca, praticamente um juramento, e transformaria radicalmente a vida<br />

americana em senti<strong>do</strong>s que ainda hoje s„o debati<strong>do</strong>s e que despertaram furioso<br />

desacor<strong>do</strong> na Època (PARKER, 2009: 339-340).<br />

A primeira medida tomada por Roosevelt visan<strong>do</strong> combater as conseq¸Íncias da <strong>crise</strong><br />

econÙmica foi decretar feria<strong>do</strong> banc·rio de quatro dias, atÈ que o Congresso votasse uma<br />

medida na qual em uma emergÍncia grave, como aquela, todas as ferramentas necess·rias<br />

para reverter o quadro fossem usadas imediatamente uniformemente em ‚mbito nacional - a<br />

esta medida foi da<strong>do</strong> o nome de Emergency Banking Relief Act [Decreto de CompensaÁ„o<br />

Banc·ria de EmergÍncia] (Parker, 2009).<br />

Parker (2009) disserta sobre a primeira lei aprovada pelo Congresso, que dava amplos<br />

poderes ao presidente. Diante <strong>do</strong> colapso <strong>do</strong> dÛlar, o presidente sancionou leis que<br />

penalizariam com, no m·ximo, dez anos de pris„o qualquer pessoa, dentro <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s ou em qualquer outro lugar sob sua jurisdiÁ„o, que r<strong>ea</strong>lizasse transaÁıes em moeda<br />

estrangeira, ouro ou prata, exportaÁ„o e transferÍncia de crÈdito ou pagamento por instituiÁıes<br />

banc·rias.<br />

ìBasicamente, as novas leis se destinavam a dar ao governo federal muito mais<br />

supervis„o <strong>do</strong> sistema banc·rio para projetar sua r<strong>ea</strong>bilitaÁ„oî (PARKER, 2009: 344).<br />

O feria<strong>do</strong> banc·rio, segun<strong>do</strong> Parker (2009), permitiu que o Departamento de GravaÁ„o<br />

e Impress„o <strong>do</strong> Tesouro emitisse moeda suficiente para cobrir a demanda por dinheiro e<br />

garantir que a economia continuasse giran<strong>do</strong>. Estas medidas iniciais deram forÁa ‡ economia<br />

que voltou a caminhar a passos lentos.<br />

A Grande Depress„o salientou a estrutura arcaica que o sistema banc·rio americano<br />

possuÌa, que permitiu que instituiÁıes mal administradas levassem a economia ‡ depress„o.<br />

18


Roosevelt estipulou que controla<strong>do</strong>res deveriam avaliar a situaÁ„o <strong>do</strong>s bancos, estes<br />

encarrega<strong>do</strong>s descobriram bancos de <strong>grande</strong>s grupos com gestıes indignas.<br />

Entretanto, essa experiÍncia de primeira m„o da inÈpcia e obstinaÁ„o que<br />

desfigurava o setor financeiro foi esclarece<strong>do</strong>ra para a nova administraÁ„o,<br />

confirman<strong>do</strong> as suspeitas de Roosevelt, e, a partir daÌ, dirigiria uma difÌcil<br />

negociaÁ„o. E, assim, os bancos <strong>do</strong> paÌs tiveram a permiss„o para r<strong>ea</strong>brir somente<br />

depois que um conta<strong>do</strong>r os avaliasse como financeiramente seguros. (PARKER, 2009:<br />

353)<br />

As primeiras aÁıes <strong>do</strong> governo Roosevelt foram extremamente relevantes para<br />

estabilizar as instituiÁıes banc·rias e, a partir de abril de 1933, as falÍncias tiveram uma<br />

acentuada queda atÈ chegarem a nÌveis prÛximos de zero (PARKER, 2009).<br />

ApÛs impedir um colapso nacional <strong>do</strong> sistema banc·rio, a administraÁ„o de Roosevelt<br />

comeÁou a lanÁar diversas agÍncias governamentais que entrem<strong>ea</strong>vam toda a atividade<br />

americana. A mais notÛria e relevante era a NRA [National Recovery Administration] ñ<br />

AdministraÁ„o da RecuperaÁ„o Nacional ñ que possuÌa poderes quase ilimita<strong>do</strong>s. Assim,<br />

estabeleceu um cÛdigo geral para toda a forÁa de trabalho com o estabelecimento de um<br />

sal·rio mÌnimo, a imposiÁ„o de limite de horas de trabalho e a proibiÁ„o <strong>do</strong> trabalho infantil.<br />

As empresas que cumpriram todas as regras estabelecidas eram agraciadas com o direito de<br />

portar o sÌmbolo da ¡guia Azul e a inscriÁ„o ìNÛs fazemos nossa parteî (PARKER, 2009).<br />

As outras agÍncias tambÈm contribuÌam para a melhora da economia como um to<strong>do</strong>.<br />

Parker (2009) cita a import‚ncia da AdministraÁ„o Federal de AssistÍncia de EmergÍncia ñ<br />

destinada a distribuir fun<strong>do</strong>s para obras de melhoramentos para ·r<strong>ea</strong>s muito afetadas ñ a<br />

AdministraÁ„o de Ajuste AgrÌcola ñ voltada a fornecer subsÌdios agrÌcolas , a AdministraÁ„o<br />

de Obras P˙blicas ñ criada para, atravÈs de obras, gerar empregos que absorveriam <strong>grande</strong><br />

parte <strong>do</strong>s desemprega<strong>do</strong>s.<br />

Para o novo presidente, o sistema financeiro estava no cerne de toda a <strong>crise</strong> que levara<br />

a economia norte-americana ao declÌnio. Assim, medidas que visavam <strong>do</strong>utrinar o sistema<br />

banc·rio foram lanÁadas, as atividades banc·rias, de crÈdito e de investimento seriam<br />

submetidas a supervis„o rigorosa. Selwyn Parker (2009) e Corinne Crawford (2011) relatam<br />

que de um <strong>grande</strong> estu<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong> em 1932 e entitula<strong>do</strong> Comiss„o Pecora ñ em homenagem<br />

ao seu encarrega<strong>do</strong>, Ferdinand Pecora ñ surgiria, em 1934, a SEC ñ Securities and Exchange<br />

19


Comission [Comiss„o de TÌtulos e Valores Mobili·rios]. Joseph P. Kennedy retratou em um<br />

de seus discursos a import‚ncia da Comiss„o Pecora para o sistema financeiro:<br />

N„o hesito em empregar essa palavra [espiritual] com respeito ‡s finanÁas.<br />

Estamos buscan<strong>do</strong> recriar, reconstruir, restaurar a confianÁa. ConfianÁa È uma<br />

extens„o <strong>do</strong> car·ter. Acreditamos que o car·ter sÛ existe solidamente no mun<strong>do</strong><br />

financeiro, portanto n„o temos de compelir a virtude; procuramos evitar o vÌcio. Nossa<br />

fÛrmula completa È impedir os transgressores de operar sob a Ègide <strong>do</strong>s que possuem<br />

senso de responsabilidade Ètica. Estamos ·vi<strong>do</strong>s por perceber as finanÁas como<br />

autossuficientes como elas merecem quan<strong>do</strong> administradas com honra e<br />

responsabilidade. (KENNEDY apud PARKER, 2009: 385)<br />

O FDIC ñ Federal Deposit Insurance Corporation [CorporaÁ„o Federal de Seguros de<br />

DepÛsitos] tambÈm foi cria<strong>do</strong> com esta lei, esta instituiÁ„o assegura os depÛsitos banc·rios de<br />

bancos comerciais, em troca desta proteÁ„o, o Federal Reserve mantinha um controle rÌgi<strong>do</strong><br />

sobre estas instituiÁıes (CRAWFORD, 2011; WESSEL, 2010).<br />

TambÈm em 1933, o Security Act exigia que emissores de tÌtulos os registrassem e<br />

publicassem um prospecto, e que os bancos de investimento que r<strong>ea</strong>lizassem quaisquer erros<br />

ou falsas declaraÁıes no prospecto seria responsabiliza<strong>do</strong> criminalmente. Em 1934, a SEC ñ<br />

Comiss„o de TÌtulos e Valores Mobili·rios ñ foi criada para regulamentar a compra e venda<br />

de valores mobili·rios, asseguran<strong>do</strong> que o merca<strong>do</strong> de aÁıes n„o seria manipula<strong>do</strong><br />

(CRAWFORD, 2011; WESSEL, 2009).<br />

Para Parker (2009) foi atravÈs da Comiss„o de TÌtulos e Valores Mobili·rios que o<br />

governo <strong>do</strong>s EUA conseguiu extinguir a onerosa autossuficiÍncia da Bolsa de Valores de<br />

Nova York, que se tornou sujeita ‡s leis que visavam garantir a honestidade.<br />

AlÈm da criaÁ„o de novas agÍncias, a Lei Glass-St<strong>ea</strong>gal foi sancionada. Esta lei,<br />

segun<strong>do</strong> Crawford (2011), obrigava as instituiÁıes financeiras a optarem por serem bancos<br />

comerciais ou de investimento ñ um banco comercial n„o poderia subscrever tÌtulos<br />

mobili·rios, deveria manter depÛsitos e r<strong>ea</strong>lizar emprÈstimos enquanto os bancos de<br />

investimento lidariam com a subscriÁ„o tÌtulos mobili·rios. Dessa forma foi criada criou uma<br />

importante barreira entre essas duas atividades. Grumet (2009) compara a import‚ncia desta<br />

separaÁ„o ‡ import‚ncia da separaÁ„o entre Esta<strong>do</strong> e Igreja. A idÈia desta lei era bem simples:<br />

manter os bancos comerciais longe das atividades de investimento.<br />

Corinne Crawford (2011) ressalta o porquÍ da import‚ncia desta nova lei, que alÈm de<br />

restaurar a confianÁa e integridade <strong>do</strong> sistema financeiro norte americano, resolveu o<br />

20


problema <strong>do</strong> conflito de interesses entre ser um banco comercial e de investimento ao mesmo<br />

tempo:<br />

Many believed these investment banking activities caused a conflict of<br />

interest in that banks often suggested that their customers purchase securities the<br />

Banks had underwritten. They believed that this conflict of interest contributed<br />

significantly to the stock market crash and the bank failures. 7 (CRAWFORD, 2011: 1)<br />

PrÛximo ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1944, autoridades econÙmicas das<br />

naÁıes aliadas r<strong>ea</strong>lizaram, em Bretton Woods, uma conferÍncia para elaborar a nova ordem<br />

mundial. A partir dessa reuni„o surgiram o Fun<strong>do</strong> Monet·rio Internacional e o precursor <strong>do</strong><br />

Banco Mundial, alÈm de um novo sistema de taxas de c‚mbio denomina<strong>do</strong> de padr„o-dÛlar ou<br />

Sistema de Bretton Woods ñ neste caso, as moedas de outros paÌses seriam conversÌveis em<br />

dÛlar a taxas fixas. AlÈm destas medidas, reforÁou-se a necessidade de uma regulamentaÁ„o<br />

rÌgida que separava bancos comerciais e bancos de investimento nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, e<br />

previam controles de capitais para evitar a volatilidade da moeda, alÈm de prever a<br />

estabilizaÁ„o da economia atravÈs, principalmente, da obrigatoriedade <strong>do</strong> seguro de depÛsito.<br />

Os excessos econÙmicos foram controla<strong>do</strong>s durante, pelo menos um quarto de sÈculo, com<br />

essas restriÁıes internas nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s (MIHM e ROUBINI, 2010).<br />

Na Època <strong>do</strong> pÛs-guerra, tanto o empresta<strong>do</strong>r de ˙ltima inst‚ncia quanto o<br />

seguro de depÛsito tornaram-se a norma n„o apenas nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, mas na<br />

maioria das naÁıes capitalistas. Isso teve um custo para os bancos participantes: eles<br />

deveriam abdicar de parte de sua autonomia em troca de proteÁ„o para evitar o<br />

problema de risco moral. Eles se submeteram ‡ regulamentaÁ„o e ‡ supervis„o na<br />

forma de controles sobre sua liquidez, alavancagem e capital, os quais,<br />

necessariamente, implicam limitaÁıes em seu potencial de lucros. Como resulta<strong>do</strong>, a<br />

atividade banc·ria tornou-se um negÛcio enfa<strong>do</strong>nho, embora confi·vel. (MIHM e<br />

ROUBINI, 2010: 91)<br />

Em 1971, os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s aban<strong>do</strong>naram o padr„o-ouro e, em conseq¸Íncia, o<br />

Sistema de Bretton Woods teve que sofrer adaptaÁıes. Mihm e Roubini (2010) revelam que<br />

os dÈficits fiscais e em conta corrente <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, resultantes da Guerra <strong>do</strong> Vietn„,<br />

7 Muitos acreditavam que as atividades de investimento geravam um conflito de interesses, no qual os bancos<br />

regularmente sugeriam que seus clientes comprassem tÌtulos que ele prÛprio havia subscrito. Eles acreditavam<br />

que este conflito de interesses contribuÌra significantemente para a quebra <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de aÁıes e insolvÍncia <strong>do</strong>s<br />

bancos. (CRAWFORD, 2011: 1, traduÁ„o nossa)<br />

21


levaram o paÌs a aban<strong>do</strong>nar o padr„o-ouro. Com isso o mun<strong>do</strong> passou a utilizar o sistema<br />

cambial de taxas flexÌveis.<br />

Para Mihm e Roubini (2010), a Grande Depress„o deveria ter extermina<strong>do</strong> a idÈia <strong>do</strong><br />

laissez faire 8 no sistema financeiro, porÈm nos anos de 1970 a idÈia de que os merca<strong>do</strong>s eram<br />

eficientes e racionais foi amplamente difundida nas Universidades <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Desta<br />

forma, foi formulada a HipÛtese <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> Eficiente que se tornou senso comum.<br />

AlÈm das medidas a<strong>do</strong>tadas internamente nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, em 1974, a<br />

Comunidade Internacional a<strong>do</strong>tou uma regulamentaÁ„o visan<strong>do</strong> controlar a atividade banc·ria<br />

atravÈs da imposiÁ„o de diversas restriÁıes, a esta iniciativa foi da<strong>do</strong> o nome de ComitÍ de<br />

Supervis„o Banc·ria da BasilÈia. (MIHM e ROUBINI, 2010)<br />

2.3 RegulaÁ„o prevista nos Acor<strong>do</strong>s da BasilÈia<br />

Em BasilÈia, na SuÌÁa, encontra-se a sede <strong>do</strong> BIS [Bank for International<br />

Settlements] 9 , cria<strong>do</strong> em 1930 com o objetivo de supervisionar os bancos, promover<br />

cooperaÁ„o entre bancos centrais e demais agÍncias visan<strong>do</strong> a estabilidade das economias,<br />

tanto monet·ria quanto financeiramente, tornou-se o elemento central <strong>do</strong> sistema financeiro<br />

mundial. O BIS È uma OrganizaÁ„o Internacional, e exerce o papel de banco <strong>do</strong>s bancos<br />

centrais (BIS WEBSITE, www.bis.org, 2009).<br />

Mihm e Roubini (2010) relatam que o ComitÍ de Supervis„o Banc·ria da BasilÈia foi<br />

funda<strong>do</strong> em 1974 e seus membros eram recruta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s bancos centrais das economias<br />

pertencentes ao G-10. A miss„o deste ComitÍ foi de elaborar normas eficientes de<br />

regulamentaÁ„o e supervis„o de bancos e outras instituiÁıes financeiras; as recomendaÁıes<br />

geradas n„o possuem car·ter de obrigatoriedade, porÈm possuem <strong>grande</strong> influÍncia.<br />

8 Laissez faire, È uma express„o em lingua francesa que significa ìdeixe fazerî, e com relaÁ„o ‡ economia foi<br />

bastante defendida por liberalistas, como Adam Smith. Esta express„o significa que atividades privadas<br />

deveriam ser isentas da influÍncia e interferÍncia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, inclusive atravÈs de regulaÁ„o restritiva, taxas e<br />

impostos. (HENRY, 2008)<br />

9 Banco de CompensaÁıes Internacionais<br />

22


Em 1988, o ComitÍ publicou um <strong>do</strong>cumento introduzin<strong>do</strong> o ìsistema de adequaÁ„o de<br />

capitalî que tratava <strong>do</strong> risco relativo de diversos ativos manti<strong>do</strong>s por bancos e estabelecia<br />

mÈto<strong>do</strong>s para determin·-lo. Nom<strong>ea</strong><strong>do</strong> de Acor<strong>do</strong> de Capital de BasilÈia ñ mas mais conheci<strong>do</strong><br />

como BasilÈia I ñ, este sistema determinou o montante de capital que os bancos deveriam<br />

dispor em relaÁ„o ao risco <strong>do</strong>s ativos manti<strong>do</strong>s por eles. Este Acor<strong>do</strong> recomendava que os<br />

riscos fossem diferencia<strong>do</strong>s entre as diferentes classes de ativos, e assim entender melhor o<br />

risco de possuir determina<strong>do</strong> ativo (MIHM e ROUBINI, 2010).<br />

O BasilÈia I tambÈm determinava, segun<strong>do</strong> Mihm e Roubini (2010), que os bancos<br />

que operassem internacionalmente reservassem capital mÌnimo de 8% sobre o valor de seus<br />

ativos j· pondera<strong>do</strong>s pelo risco. Apesar das recomendaÁıes n„o serem de cumprimento<br />

obrigatÛrio, a maioria <strong>do</strong>s paÌses a<strong>do</strong>taram a norma de regulaÁ„o.<br />

ìComo medida adicional, as normas especificaram a forma que este capital ou<br />

participaÁ„o poderia ter: aÁıes ordin·rias, aÁıes preferenciais e outros capitais de alta<br />

qualidade (que se chamou capital de 1 o nÌvel [Tier 1] e ent„o to<strong>do</strong> o restante (capital de 2 o<br />

nÌvel [Tier 2[)î (MIHM e ROUBINI, 2010: 224).<br />

Houve larga aceitaÁ„o das determinaÁıes impostas pelo BasilÈia I entre os paÌses <strong>do</strong><br />

G-10 ñ Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Canad·, Reino Uni<strong>do</strong>, BÈlgica, FranÁa, Alemanha, It·lia, Jap„o,<br />

Holanda, SuÈcia e SuÌÁa ñ e em algumas economias emergentes, que a<strong>do</strong>taram as normas a<br />

partir de 1992. Com o tempo, esses padrıes acabaram prejudican<strong>do</strong> os merca<strong>do</strong>s emergentes<br />

ñ os padrıes que faziam senti<strong>do</strong> para as maiores economias <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> n„o faziam tanto<br />

senti<strong>do</strong> para os emergentes, ainda mais em tempos de <strong>crise</strong>. AlÈm desse obst·culo para o<br />

sucesso <strong>do</strong> BasilÈia I, os bancos passaram a buscar meios para encobrir os riscos que o acor<strong>do</strong><br />

n„o previa, como por exemplo, a securitizaÁ„o de ativos (Idem Ibidem, 2010).<br />

A percepÁ„o de lacunas deixadas pelo BasilÈia I motivou a formulaÁ„o <strong>do</strong> BasilÈia II:<br />

Como um relatÛrio <strong>do</strong> ComitÍ divulga<strong>do</strong> em 1997 assinalou: ìA fraqueza de<br />

um sistema banc·rio de um paÌs, seja em desenvolvimento, seja desenvolvi<strong>do</strong>, pode<br />

am<strong>ea</strong>Áar a estabilidade tanto no interior <strong>do</strong> paÌs como internacionalmente.î. Esse<br />

espÌrito norteou uma revis„o subseq¸ente <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> de Capital de BasilÈia, em 2006,<br />

conhecida como BasilÈia II. (MIHM&ROUBINI, 2010: 92)<br />

O novo acor<strong>do</strong> era mais extenso e complexo, estabelecia precisas normas tÈcnicas<br />

sobre maneiras adequadas de medir o risco relativo <strong>do</strong>s ativos e sugeria mÈto<strong>do</strong>s para r<strong>ea</strong>lizar<br />

os c·lculos, ampliava a definiÁ„o de risco, procurava abranger as omissıes de risco r<strong>ea</strong>lizadas<br />

23


pelos bancos, cobrava um monitoramento rigoroso <strong>do</strong>s regula<strong>do</strong>res com relaÁ„o ao<br />

cumprimento da retenÁ„o de capital pelos bancos, e definia os termos para a publicaÁ„o de<br />

demonstraÁıes financeiras pelos bancos. Mais uma vez, os membros <strong>do</strong> G-10 ratificaram os<br />

acor<strong>do</strong>s em 2006. PorÈm, como relata<strong>do</strong> por Mihm e Roubini (2010), as especificaÁıes,<br />

apesar de completas, n„o foram suficientes para conter a <strong>crise</strong> de 2008, as falhas b·sicas <strong>do</strong><br />

BasilÈia II advinham da suposiÁ„o de que o sistema financeiro internacional era mais est·vel<br />

<strong>do</strong> que ele r<strong>ea</strong>lmente era.<br />

Diferentemente <strong>do</strong> primeiro acor<strong>do</strong>, nem todas as recomendaÁıes <strong>do</strong> BasilÈia<br />

II foram implementadas...Por quÍ? Resumi<strong>do</strong> de forma mais simples: nem to<strong>do</strong>s os<br />

envolvi<strong>do</strong>s com a atividade banc·ria estavam interessa<strong>do</strong>s na estabilidade e seguranÁa.<br />

Um n˙mero crescente de pessoas que entraram nesse setor a partir da dÈcada de 1980<br />

percebia que havia muito dinheiro a ganhar, desde que se estivesse disposto a andar na<br />

corda bamba banc·ria sem a proteÁ„o de uma rede de seguranÁa. Em outras palavras,<br />

elas viram que havia meios de agir como bancos livres de regulamentaÁ„o, mas<br />

tambÈm livres da proteÁ„o concedida aos bancos comuns. (MIHM e ROUBINI, 2010:<br />

92).<br />

Este novo acor<strong>do</strong> possuÌa trÍs pilares de sustentaÁ„o, o primeiro pilar retrata a quest„o<br />

<strong>do</strong>s riscos de crÈditos assumi<strong>do</strong>s e apresenta requisitos e exigÍncias de capital para os bancos;<br />

o segun<strong>do</strong> pilar versa sobre os mÈto<strong>do</strong>s de supervis„o banc·ria; e o terceiro pilar trata da<br />

disciplina necess·riano merca<strong>do</strong> financeiro e de fornecimento obrigatÛrio de informaÁıes. Os<br />

pilares funcionam como recomendaÁıes ‡s instituiÁıes banc·rias, principalmente com relaÁ„o<br />

‡ seletividade e cautela no fornecimento de crÈti<strong>do</strong>. Se as instituiÁıes ultrapassam os limites<br />

estabeleci<strong>do</strong>s pelo BasilÈia II, precisam reter mais capital para cobrir os riscos (PEREIRA,<br />

2006).<br />

2.4 RegulaÁ„o prÈ-<strong>crise</strong> de 2008<br />

A rÌgida regulamentaÁ„o banc·ria gerou, com o tempo, uma evas„o intencional das<br />

instituiÁıes financeiras em busca de retornos mais eleva<strong>do</strong>s, e isto levou a criaÁ„o de um<br />

merca<strong>do</strong> de bancos paralelos. O nom<strong>ea</strong><strong>do</strong> Global Sha<strong>do</strong>w Banking System, era caracteriza<strong>do</strong>,<br />

antes da <strong>crise</strong> de 2008, por instituiÁıes financeiras que n„o possuÌam acesso aos seguros de<br />

24


depÛsitos e ‡s atividades de redesconto oferecidas pelos sistemas de bancos centrais.<br />

(CINTRA e FARHI, 2009; MIHM e ROUBINI, 2010).<br />

O termo Global Sha<strong>do</strong>w Banking System foi utiliza<strong>do</strong> pela primeira vez pelo diretor<br />

executivo da Pimco 10 , Paul McCullley. Esse sistema banc·rio paralelo cresceu, nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s, ao longo das ˙ltimas dÈcadas, atrela<strong>do</strong> ao desmantelamento <strong>do</strong> sistema regulatÛrio e<br />

de supervis„o financeiro. A pauta seguida por este sistema era focada em transaÁıes<br />

r<strong>ea</strong>lizadas por instituiÁıes financeiras feitas nos obscuros merca<strong>do</strong>s de balc„o 11 , na busca pela<br />

cobertura <strong>do</strong>s riscos cambiais, de juros e de preÁos no merca<strong>do</strong>, mas tambÈm procuran<strong>do</strong><br />

especular sobre as prÛximas tendÍncias e r<strong>ea</strong>lizar operaÁıes de arbitragem (CINTRA e<br />

FARHI, 2009).<br />

Nos anos prÈvios ‡ <strong>crise</strong>, os bancos comerciais eram bem regula<strong>do</strong>s, e por isso<br />

ganhavam o direito de possuir uma rede de seguranÁa governamental atravÈs <strong>do</strong>s seguros de<br />

deposito e empresta<strong>do</strong>r de ˙ltima inst‚ncia em momentos crÌticos. Apesar da proteÁ„o, os<br />

acor<strong>do</strong>s firma<strong>do</strong>s com o governo impediam os banqueiros de assumirem mais riscos. Desta<br />

maneira surgiu um efeito conheci<strong>do</strong> como arbitragem regulatÛria, representa<strong>do</strong> pela evas„o,<br />

na atividade financeira, de instituiÁıes reguladas para outros tipos de instituiÁıes, menos<br />

reguladas, ou seja, os banqueiros passaram a r<strong>ea</strong>lizar transaÁıes banc·rias atravÈs de<br />

instituiÁıes que atuavam como bancos e lembravam a estrutura de um banco, porÈm n„o eram<br />

reguladas como bancos (MIHM e ROUBINI, 2010; WESSEL, 2010).<br />

Para Mihm e Roubini (2010), o efeito da arbitragem regulatÛria foi fortaleci<strong>do</strong> pela<br />

pobreza de idÈias relacionada a autorregulaÁ„o <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s: os regula<strong>do</strong>res estabeleciam<br />

uma sÈrie de princÌpios gerais a serem segui<strong>do</strong>s, a melhor forma de segui-los deveria ser<br />

definida pelas prÛprias instituiÁıes financeiras. A possibilidade de escolha levou as<br />

instituiÁıes a escolherem modelos de regulaÁ„o que desdenhavam a possibilidade de maiores<br />

riscos, e assim n„o exigiam o valor de retenÁ„o de capital necess·rio para enfrentar um abalo<br />

na economia.<br />

Como estabeleci<strong>do</strong> anteriormente, no final <strong>do</strong> sÈculo XX, o fundamentalismo que<br />

defendia o livre merca<strong>do</strong> foi amplamente difundi<strong>do</strong>. Com isso os regula<strong>do</strong>res tornaram-se<br />

lenientes e n„o agiram em tempo de resolver os problemas referentes ao surgimento de um<br />

merca<strong>do</strong> paralelo. Mihm e Roubini (2010) ressaltam que to<strong>do</strong>s os regula<strong>do</strong>res e supervisores<br />

10 Empresa gestora de recursos. (CINTRA e FARHI, 2009)<br />

11 O merca<strong>do</strong> de balc„o tomou formato nos anos 1980 e s„o utiliza<strong>do</strong>s para a negociaÁ„o de derivativos<br />

financeiros.<br />

25


norte americanos, e n„o apenas o Federal Reserve, assistiam inertes ‡s fraudes cometidas por<br />

instituiÁıes financeiras, que entrem<strong>ea</strong>vam todas as regulamentaÁıes estipuladas, desde<br />

obrigatoriedade de reservas de capital ‡ regras cont·beis.<br />

Muitos desses regula<strong>do</strong>res encorajavam ativamente esses tipos de<br />

ìinovaÁıesî financeiras que iriam se tornar os catalisa<strong>do</strong>res da <strong>crise</strong>: hipotecas<br />

limitadas somente ao pagamento de juros regulares, sem amortizaÁ„o <strong>do</strong> principal;<br />

emprÈstimos com amortizaÁ„o ìnegativaî ñ em que os juros mensais devi<strong>do</strong>s eram<br />

pagos apenas parcialmente, com adiÁ„o da diferenÁa n„o paga ao principal da dÌvida -;<br />

taxas de juros vari·veis, inicial e temporariamente baixas, depois r<strong>ea</strong>just·veis para<br />

mais altas; hipotecas com opÁıes de pagamentos mensais vari·veis, cujos juros eram<br />

corrigi<strong>do</strong>s mensalmente, com base em Ìndices contrata<strong>do</strong>s. A isso tu<strong>do</strong> se<br />

acrescentavam tÌtulos de crÈditos cada vez mais esotÈricos, com valor deriva<strong>do</strong> de<br />

ativos ìtÛxicosî. (MIHM e ROUBINI, 2010: 41-42).<br />

Allan Greenspan, antecessor de Bernanke no Federal Reserve, demonstrava que n„o<br />

acreditava na regulamentaÁ„o, pois tinha como ideologia o livre merca<strong>do</strong>, porÈm quan<strong>do</strong> uma<br />

bolha estourava ñ como a bolha de tecnologia de 1996 ñ ele corria para salvar a economia,<br />

crian<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> a expectativa de que o Fed sempre salvaria as instituiÁıes com gestıes<br />

irrespons·veis que se viam em emergÍncia causada por uma bolha, geran<strong>do</strong> assim um risco<br />

moral muito perigoso. Greenspan apostou cegamente na capacidade das instituiÁıes, guiadas<br />

por interesses prÛprios, de policiarem os merca<strong>do</strong>s, assim os Ûrg„os regula<strong>do</strong>res norte<br />

americanos foram desacredita<strong>do</strong>s. Como o Fed apenas regulava instituiÁıes banc·rias, as<br />

entidades financeiras n„o banc·rias, que estavam cada vez mais presentes no sistema<br />

financeiro <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, continuaram fora <strong>do</strong> escopo de regulaÁ„o <strong>do</strong> Federal Reserve<br />

(MIHM e ROUBINI, 2010; WESSEL, 2009).<br />

PorÈm, Greenspan n„o era o ˙nico homem a favor da desregulamentaÁ„o, e ao longo<br />

<strong>do</strong>s anos de 1980, a regulaÁ„o, criada em face da <strong>crise</strong> de 1929, foi desfeita aos poucos, atÈ<br />

ser eliminada. A lei considerada mais importante, Glass-St<strong>ea</strong>gall, representou <strong>grande</strong> perda<br />

para o sistema regulatÛrio norte americano ao ser derubada, em 1999, pela Lei Gramm-L<strong>ea</strong>ch-<br />

Bliley (CRAWFORD, 2011; MIHM e ROUBINI, 2010).<br />

A Lei Glass-St<strong>ea</strong>gall foi aos poucos modificada. Na dÈcada de 1980, permitiu-se que<br />

os bancos comerciais ganhassem 5% de suas receitas advindas de transaÁıes com tÌtulos, e, no<br />

fim desta mesma dÈcada, este n˙mero subiu para 10% <strong>do</strong> total das receitas. Os bancos<br />

tambÈm ganharam a permiss„o de r<strong>ea</strong>lizar uma pequena cota de subscriÁ„o. Em 1996, os<br />

26


ancos j· podiam obter 25% de suas receitas totais em transaÁıes com tÌtulos (CRAWFORD,<br />

2011).<br />

O que motivou a extinÁ„o completa da Lei Glass-St<strong>ea</strong>gall foi a fus„o entre o Citicorp e<br />

Travellers Insurance Company para formar o Citigroup. Em 1999 a lei foi revogada, em nome<br />

da modernizaÁ„o, apesar <strong>do</strong> aviso de alguns economistas de que as liÁıes <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> estavam<br />

sen<strong>do</strong> esquecidas, e que aquele ato era um erro. O S.900 Financial Services Modernization<br />

Act of 1999 [Lei de ModernizaÁ„o de ServiÁos Financeiros] tornaria mais f·cil para os<br />

bancos, companhias de tÌtulos e de seguros tornarem-se gigantes conglomera<strong>do</strong>s financeiros<br />

que <strong>do</strong>minariam a economia norte americana ñ empresas como o Citigroup e o JPMorgan<br />

Chase passaram a ser apresenta<strong>do</strong>s como bancos comerciais, corretoras, segura<strong>do</strong>ras, gestores<br />

de ativos, fun<strong>do</strong>s de hedge e fun<strong>do</strong>s de private equity.PorÈm, esta lei n„o previa nenhum tipo<br />

de regulaÁ„o especÌfica para essas novas corporaÁıes que surgiriam. Alguns estudiosos<br />

apontaram para o fato de que estas novas instituiÁıes se focaram mais em satisfazer os<br />

caprichos <strong>do</strong>s analistas de Wall Street, <strong>do</strong> que em proteger os seus depositantes <strong>do</strong> risco<br />

(CRAWFORD, 2011).<br />

O catalisa<strong>do</strong>r da revogaÁ„o final da Lei Glass-St<strong>ea</strong>gall foi a proposta de fus„o<br />

entre o Travellers Group e o Citigroup. A combinaÁ„o, que reuniu banco comercial,<br />

seguros e lanÁamento de tÌtulos sob o mesmo teto, levou a uma tomada de posiÁ„o<br />

para resolver uma quest„o urgente: o novo gigante financeiro contrariava as leis em<br />

vigor... o Congresso revogou o que restava da Lei Glass-St<strong>ea</strong>gall no fim de 1999, com<br />

o Financial Services Modernization Act, a lei de modernizaÁ„o financeira, que abria<br />

caminho para fusıes adicionais entre bancos de investimento, bancos comerciais e<br />

companhias de seguros. (MIHM e ROUBINI, 2010: 87)<br />

Corinne Crawford (2011) retoma perspectivas que comparam as <strong>grande</strong>s corporaÁıes<br />

<strong>do</strong> sÈculo XXI ‡quelas que causaram o crash na Bolsa De Nova York em 1929. O conflito de<br />

interesses, endemicamente presente nos anos 1920, voltou ‡ tona atravÈs da oferta de crÈdito a<br />

especula<strong>do</strong>res, securitizaÁ„o e empacotamento de crÈdito para venda, no ataca<strong>do</strong> ou varejo,<br />

alÈm de extraÌrem taxas de cada transaÁ„o r<strong>ea</strong>lizada.<br />

A desregulamentaÁ„o levou os bancos de investimento ao aumento de suas<br />

alavancagens. Mihm e Roubini (2010) explicam que isto significa o aumento da percentagem<br />

de ativos com relaÁ„o ao capital, as proporÁıes aumentaram de 20 a 25 vezes, ou mais,<br />

quan<strong>do</strong> o imposto a bancos comerciais, mais rigorosamente regula<strong>do</strong>s, era de 12,5% <strong>do</strong><br />

capital.<br />

27


A regulaÁ„o vigente n„o conseguiu acompanhar as evoluÁıes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> no mo<strong>do</strong> de<br />

elaborar e vender hipotecas. Constatou-se, no que tange as securitizaÁıes, que a evoluÁ„o <strong>do</strong>s<br />

merca<strong>do</strong>s superou o sistema regulatÛrio financeiro. A estrutura regulatÛria vigente, que fora<br />

organizada focan<strong>do</strong> linhas de negÛcios tradicionais, n„o acompanhou as tendÍncias <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> financeiro. Esse fator, em conjunto com a competiÁ„o entre as agÍncias regula<strong>do</strong>ras<br />

se constituiu num ponto relevante para agravar os problemas da regulaÁ„o.<br />

Pode-se assim dizer que a estrutura <strong>do</strong> sistema regulatÛrio vigente estava ultrapassada<br />

e n„o correspondia ‡s demandas <strong>do</strong> sistema financeiro moderno. No entanto, a soluÁ„o seria<br />

uma reforma no sistema regulatÛrio e n„o a revogaÁ„o de leis que mantinham o sistema<br />

financeiro controla<strong>do</strong> (PAULSON, 2010; WESSEL, 2009).<br />

Se as polÌticas governamentais ajudaram a inflar a bolha e a desregulaÁ„o<br />

aju<strong>do</strong>u a remover as restriÁıes das instituiÁıes financeiras, a incapacidade <strong>do</strong> governo<br />

de se atualizar e monitorar as inovaÁıes financeiras tambÈm foi importante. Essa<br />

incapacidade vai muito alÈm de apenas deixar de regular derivativos exÛticos, ou de<br />

n„o tocar o sistema de bÙnus favoreci<strong>do</strong> pela ind˙stria de serviÁos financeiros... O<br />

sistema banc·rio paralelo consiste em instituiÁıes financeiras que parecem bancos,<br />

agem como bancos, tomam empresta<strong>do</strong> e emprestam como bancos, mas ñ e aqui est· a<br />

parte importante ñ n„o s„o regulamentadas como bancos.î (MIHM e ROUBINI, 2010:<br />

89)<br />

De fato, a desregulaÁ„o <strong>do</strong> sistema financeiro foi crucial para a criaÁ„o <strong>do</strong>s fatores que<br />

levaram ‡ <strong>crise</strong> de 2008, porÈm È relevante lembrar que os regula<strong>do</strong>res n„o conseguiram<br />

determinar a existÍncia <strong>do</strong>s os excessos mais absur<strong>do</strong>s. Normalmente as bolhas est„o repletas<br />

de especulaÁ„o, alto nÌvel de endividamento, <strong>grande</strong> propens„o ao risco, opacidade e fraude.<br />

Essa ˙ltima bolha n„o foi diferente, e esses fatores passaram desapercebi<strong>do</strong>s da maioria <strong>do</strong>s<br />

Ûrg„os regula<strong>do</strong>res (CRAWFORD, 2011; PAULSON, 2010; WESSEL, 2010).<br />

28


3. OS PR”XIMOS PASSOS RUMO ¿ REGULA« O ADEQUADA PARA<br />

OS ESTADOS UNIDOS DA AM…RICA<br />

A <strong>crise</strong> experimentada pela economia mundial, que se agravou em m<strong>ea</strong><strong>do</strong>s de 2008,<br />

deixou um <strong>grande</strong> lega<strong>do</strong> de aprendizagem para os envolvi<strong>do</strong>s, os estudiosos e os futuros<br />

formula<strong>do</strong>res de polÌticas. Meirelles (in PARKER, 2010) ressalta, principalmente, a<br />

necessidade de se contar agÍncias que regulem a atividade das instituiÁıes envolvidas no<br />

sistema financeiro.<br />

Diversos autores apontam possÌveis mudanÁas na arquitetura financeira internacional<br />

que podem mitigar o risco de novas <strong>crise</strong>s como a vivida na dÈcada de 2000. Para Cintra et al.<br />

(2008), a consolidaÁ„o das agÍncias regulatÛrias em todas as economias È necess·ria. Todas<br />

as instituiÁıes envolvidas no merca<strong>do</strong> financeiro devem possuir regras de regulaÁ„o e to<strong>do</strong> o<br />

processo deve ser acompanha<strong>do</strong> pelos bancos centrais e jamais transferi<strong>do</strong>s para instituiÁıes<br />

autÙnomas.<br />

3.1 As aÁıes tomadas em face da Crise<br />

Em m<strong>ea</strong><strong>do</strong>s da <strong>crise</strong>, a Comiss„o de Bancos <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> colocou em pauta uma lei que<br />

instituiria uma nova agÍncia regula<strong>do</strong>ra, com poderes para determinar nÌveis de capital<br />

seguros e mÈto<strong>do</strong>s de boa gest„o de portfÛlio, destinada a verificar os negÛcios das GSEs ñ<br />

como a Fannie Mae e Freddie Mac. O projeto de lei, segun<strong>do</strong> Paulson (2010), foi entitula<strong>do</strong><br />

de Federal Housing Finance Regulatory Reform Act of 2008 [Lei Federal de Reforma<br />

RegulatÛria de Financiamento Habitacional de 2008].<br />

Em 21 de setembro de 2008, influencia<strong>do</strong> pela mudanÁa econÙmica norte americana<br />

em relaÁ„o a seus bancos de investimentoo Fed utilizou-se de um poder concedi<strong>do</strong> pelo<br />

Congresso para transformar os bancos Goldman Sachs e Morgan Stanley em holdings<br />

29


anc·rias. Com o seu novo formato, as empresas apresentariam diminuiÁ„o da alavancagem e<br />

da lucratividade, tornan<strong>do</strong>-se mais regulamentadas. Os <strong>do</strong>is bancos ent„o atingi<strong>do</strong>s<br />

constituÌam-se no que havia resta<strong>do</strong> <strong>do</strong> outrora poderoso conjunto de bancos de investimento,<br />

duramente atingi<strong>do</strong> pela absorÁ„o <strong>do</strong> B<strong>ea</strong>r St<strong>ea</strong>rns pelo JPMorgan Chase (marÁo de 2008),<br />

pela falÍncia <strong>do</strong> Lehman Brothers e pela absorÁ„o <strong>do</strong> Merril Lynch pelo Bank of America<br />

(setembro de 2008). Com esta mudanÁa, o Fed tornou-se supervisor de to<strong>do</strong> o merca<strong>do</strong><br />

financeiro norte americano (WESSEL, 2010).<br />

A mudanÁa <strong>do</strong> Morgan Stanley e <strong>do</strong> Goldman Sachs marcou o fim de um<br />

modelo de negÛcios: bancos de investimento lucrativos e levemente regulamenta<strong>do</strong>s<br />

que tomam muito mais emprÈstimos que os bancos comerciais e fazem muitas<br />

negociaÁıes por conta prÛpria e para os clientes... Para o Fed, a mudanÁa tornou<br />

oficial o que j· havia fica<strong>do</strong> aparente: ele agora era supervisor de toda a Wall Street,<br />

fato que o Congresso mais tarde seria solicita<strong>do</strong> a ratificar ao designar o Fed como o<br />

ëregula<strong>do</strong>r da estabilidade financeiraí da naÁ„o.î (WESSEL, 2010: 216-217).<br />

Os socorros r<strong>ea</strong>liza<strong>do</strong>s pelo Fed em prol <strong>do</strong> salvamento da economia <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s evitaram uma cat·strofe. PorÈm alguns congressistas sentiam que esta agÍncia <strong>do</strong><br />

governo se tornava cada vez mais poderosa e, como relata<strong>do</strong> por Wessel (2010), n„o deveria<br />

se tornar o ìsupervisor supremo da estabilidade financeira e o monitor das maiores<br />

instituiÁıes <strong>do</strong> paÌsî. J· como presidente <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Barack Obama colocou em<br />

pauta esta discuss„o: para muitos o fato <strong>do</strong> Fed ter certa responsabilidade sobre a regulaÁ„o<br />

<strong>do</strong> risco que levou ‡ <strong>crise</strong> de 2008 n„o deveria ser esqueci<strong>do</strong>. Para o Sena<strong>do</strong>r Mark Warner<br />

(apud WESSEL, 2010) a resposta ‡ <strong>crise</strong> com relaÁ„o ao sistema regulatÛrio seria distribuir os<br />

poderes regulatÛrios <strong>do</strong> Fed em um conselho de regula<strong>do</strong>res, e n„o tornar o Fed ainda mais<br />

poderoso. Para Wessel (2010), mesmo que estes esforÁos n„o surtissem o efeito espera<strong>do</strong>, o<br />

Congresso deveria abrir o Federal Reserve Act ñ lei que instituiu a instituiÁ„o ñ uma vez que<br />

este modernizou o aparato regulatÛrio <strong>do</strong> sistema financeiro.<br />

O governo Obama sugeriu, em 2009, uma reorganizaÁ„o regulatÛria que se bas<strong>ea</strong>va na<br />

criaÁ„o de trÍs novas agÍncias regula<strong>do</strong>ras: Financial Services Oversight Counsil [Conselho<br />

de Supervis„o de ServiÁos Financeiros], National Bank Supervisor [Supervisor Nacional <strong>do</strong>s<br />

Bancos], Office of National Insurance [AgÍncia Nacional de Seguros]. PorÈm, como<br />

apresenta<strong>do</strong> ao longo deste capÌtulo, o fato desta proposta aumentar ainda mais a dispers„o <strong>do</strong><br />

sistema regulatÛrio em relaÁ„o a seus Ûrg„os regula<strong>do</strong>res È extremamente preocupante. Ao<br />

analisarem esta proposta, Mihm e Roubini (2010) salientam que o n˙mero de regula<strong>do</strong>res<br />

30


aumentaria e outros seriam consolida<strong>do</strong>s, porÈm esta proposta, apesar de colocar um conselho<br />

de supervis„o, n„o altera a dispers„o existente no sistema de regulaÁ„o estadual e federal.<br />

No comeÁo de 2010, projetos apresenta<strong>do</strong>s no Congresso discutiam a volta da Lei<br />

Glass-St<strong>ea</strong>gall. Muitos reforma<strong>do</strong>res acreditam que esta seria a melhor maneira de iniciar uma<br />

reforma regulatÛria financeira. Mihm e Roubini (2010) relatam como Paul Volcker ñ ex-<br />

presidente <strong>do</strong> Federal Reserve ñ aconselhou o governo Obama a proibir holdings banc·rias ñ<br />

como o Goldman Sachs ñ de negociarem com seus prÛprios recursos, fun<strong>do</strong>s de participaÁ„o<br />

privadas e de exercer qualquer transaÁ„o com fun<strong>do</strong> de hedge. Os autores s„o cÈticos quanto ‡<br />

forÁa destas propostas, uma vez que o lobby desta ind˙stria È muito forte e far· de tu<strong>do</strong> para<br />

evitar que tais propostas entrem em vigor.<br />

3.2 BASILEIA III<br />

O cen·rio mundial atual È de globalizaÁ„o financeira, mobilidade e pouco controle de<br />

capitais. Alguns regula<strong>do</strong>res poderiam induzir as empresas irrespons·veis a deixarem o<br />

territÛrio que regulam. PorÈm com a rapidez da informaÁ„o gerada pela globalizaÁ„o, de nada<br />

adianta mand·-las embora e, na sequÍncia, sofrer eventuais conseq¸Íncias de<br />

irresponsabilidades praticadas em outro ponto <strong>do</strong> planeta. Assim, os paÌses deveriam<br />

coordenar suas reformas regulatÛrias (MIHM e ROUBINI, 2010).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, os Acor<strong>do</strong>s de BasilÈia poderiam cumprir papel importante em ‚mbito<br />

internacional. A reforma <strong>do</strong> BasilÈia II poder· levar muito tempo para ser concluÌda, porÈm<br />

pode ser extremamente importante para evitar futuras <strong>crise</strong>s. Algumas mudanÁas possuem<br />

car·ter de urgÍncia. Para Mihm e Roubini, os meios de definiÁ„o e hierarquizaÁ„o <strong>do</strong> capital<br />

devem ser muda<strong>do</strong>s imediatamente.<br />

Em vez de depender da definiÁ„o <strong>do</strong> NÌvel 1, vale a pena considerar se o<br />

capital de um banco deveria ser calcula<strong>do</strong> com base em uma medida mais estreita<br />

conhecida por Tangible Common Equity (TCE), participaÁıes ordin·rias tangÌveis. A<br />

TCE contabiliza somente as aÁıes ordin·rias no calculo <strong>do</strong> capital; j· a definiÁ„o de<br />

capital NÌvel 1 <strong>do</strong> BasilÈia inclui tanto as aÁıes ordin·rias quanto as preferenciais. A<br />

TCE, portanto, È uma avaliaÁ„o mais conserva<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> capital disponÌvel de um banco.<br />

31


Dessa forma, ela pode ser um mo<strong>do</strong> mais r<strong>ea</strong>lista de aferir a sa˙de de um banco diante<br />

da <strong>crise</strong>. (MIHM e ROUBINI, 2010: 225)<br />

Ponto importante <strong>do</strong> prÛximo acor<strong>do</strong> deve ser a necessidade de retenÁ„o de capital, ao<br />

invÈs de se exigir que os bancos mantenham um montante est·tico de capital com relaÁ„o ao<br />

ativos. O limite de 8%, estabeleci<strong>do</strong> pelo Acor<strong>do</strong> da BasilÈia n„o È suficiente para garanttir<br />

estabilidade no longo perÌo<strong>do</strong> diante da ocorrÍncia de fatores adversos (MIHM e ROUBINI,<br />

2010).<br />

Nos anos de crescimento, as exigÍncias de capital aumentariam. Quan<strong>do</strong> as<br />

coisas azedassem, as exigÍncias de capital diminuiriam. Uma vers„o disso j· foi usada<br />

pelos bancos espanhÛis, e embora n„o seja um remÈdio para tu<strong>do</strong>, sua a<strong>do</strong>Á„o<br />

generalizada sob um novo regime de BasilÈia vale a pena ser tentada. (MIHM e<br />

ROUBINI, 2010: 226)<br />

Fator importante a ser discuti<strong>do</strong> no ComitÍ de Supervis„o Banc·ria de BasilÈia, È a<br />

quest„o da liquidez das instituiÁıes. Para Mihm e Roubini (2010), a ultima <strong>crise</strong> revelou que,<br />

tanto bancos tradicionais, quanto bancos <strong>do</strong> sistema paralelo, s„o extremamente vulner·veis a<br />

apertos de liquidez. A <strong>crise</strong> recente aconteceu em um cen·rio em que instituiÁıes financeiras<br />

de to<strong>do</strong>s os tipos tomavam recursos lÌqui<strong>do</strong>s no curto prazo e investiam estes recursos em<br />

ativos de longo prazo que eram ilÌqui<strong>do</strong>s: a chegada da <strong>crise</strong> cortou a fonte de financiamento<br />

em curto prazo e tornou as instituiÁıes ilÌquidas. As futuras discussıes sobre reformas<br />

regulatÛrias devem conter o debate essencial sobre a administraÁ„o <strong>do</strong> risco de liquidez, e<br />

maneiras para evitar que eventos como os ocorri<strong>do</strong>s no inÌcio <strong>do</strong> sÈculo XXI n„o voltem a<br />

assombrar as economias ñ uma forma de fazer esta reforma È proibin<strong>do</strong> as instituiÁıes de<br />

tomar emprÈstimos de curto prazo, e assim aumentar o prazo de vencimento <strong>do</strong> passivo.<br />

Existe uma outra falha nos acor<strong>do</strong>s de BasilÈia, referente ao mÈto<strong>do</strong> de avaliaÁ„o de<br />

risco. Atualmente as instituiÁıes financeiras podem decidir quais mÈto<strong>do</strong>s usar. Mihm e<br />

Roubini (2010) versam sobre estes mÈto<strong>do</strong>s e seus problemas com relaÁ„o ‡ efic·cia:<br />

Esses incluem o modelo Value ar Risk (VaR), valor em risco, uma Formula<br />

matem·tica que simula a probabilidade de uma instituiÁ„o financeira vir a sofrer uma<br />

perda nos seus ativos e ferramentas estatÌsticas como a curva de Gauss, que era usada<br />

para fixar o preÁo de ativos esotÈricos como CDOs. Ambos os modelos ignoraram a<br />

possibilidade de <strong>crise</strong>s e outros eventos perturba<strong>do</strong>res, deixan<strong>do</strong> os bancos vulner·veis<br />

quan<strong>do</strong> a <strong>crise</strong> ocorre. (MIHM e ROUBINI, 2010: 228).<br />

32


Existem outras formas, que poderiam ser propostas pelo ComitÍ, para trazer a<br />

estabilidade ‡s economias. Mihm e Roubini (2010) sugerem que, visan<strong>do</strong> minimizar os riscos,<br />

a administraÁ„o das instituiÁıes financeiras com relaÁ„o aos riscos seja revista, que o modelo<br />

de abordagem ìsiloî ñ as diferentes divisıes e linhas de negÛcio consideram isoladamente<br />

seus riscos ñ deveria ser aban<strong>do</strong>nada em prol de uma vis„o geral, holÌstica, <strong>do</strong> risco.<br />

Os Acor<strong>do</strong>s de BasilÈia podem n„o ter car·ter obrigatÛrio para as economias, porÈm se<br />

as discussıes forem encabeÁadas por economias extremamente influentes, como as <strong>do</strong> G-10, a<br />

chance das recomendaÁıes serem aceitas em diversos paÌses faria com que a estabilidade e<br />

seguranÁa econÙmica mundial pairasse sobre o sistema financeiro global (MIHM e<br />

ROUBINI, 2010). Por outro la<strong>do</strong>, a recente ampliaÁ„o das discussıes sobre estabilidade<br />

financeira, que tÍm si<strong>do</strong> r<strong>ea</strong>lizadas no ‚mbito <strong>do</strong> G-20, parecem indicar uma tendÍncia cada<br />

vez mais ampla de formaÁ„o de um concenso mais amplo sobre essas questıes.<br />

3.3 O que ainda precisa ser feito<br />

Existe um consenso entre os autores consulta<strong>do</strong>s no senti<strong>do</strong> de que manter a liquidez<br />

das instituiÁıes financeiras È extremante importante: muitas instituiÁıes, apesar de possuÌrem<br />

capital abundante, enfrentam problemas por falta de liquidez. Pensan<strong>do</strong> desta maneira, os<br />

bancos deveriam ser obriga<strong>do</strong>s, por suas agÍncias regula<strong>do</strong>ras, a manter nÌveis suficientes de<br />

liquidez (MIHM e ROUBINI, 2010; PAULSON, 2010; WESSEL, 2009).<br />

Esperava-se que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s demonstrassem pioneirismo na quest„o da reforma<br />

financeira. A confus„o financeira salientou os principais pontos fracos <strong>do</strong> sistema financeiro<br />

norte-americano, assim como a <strong>defasage</strong>m de regulamentaÁ„o e supervis„o. PorÈm, os<br />

clamores por reformas regulatÛrias tornaram-se fracos com a recuperaÁ„o da economia ao<br />

longo de 2010. Assim as reformas radicais propostas para o sistema regulatÛrio n„o sairam <strong>do</strong><br />

papel. Para Mihm e Roubini (2010) esta conformaÁ„o <strong>do</strong>s congressistas e autoridades<br />

monet·rias pode ser comparada a de um solda<strong>do</strong>, que n„o mais se lembra da promessa de<br />

viver uma vida melhor logo depois que acaba a guerra.<br />

33


Apesar da inatividade <strong>do</strong> governo em busca de armas regulatÛrias potentes o bastante<br />

para impedir outra <strong>crise</strong> de igual magnitude, os autores ressaltam que as mudanÁas s„o<br />

necess·rias. Em seus relatos, Paulson (2010) ressalta que o mais importante È criar um<br />

sistema que seja capaz de auto ajustar-se, que se adapte ‡s mudanÁas <strong>do</strong> sistema e <strong>do</strong>s<br />

produtos financeiros, que n„o seja est·tico.<br />

Quan<strong>do</strong> as pessoas pensam na nova regulaÁ„o financeira, geralmente<br />

imaginamos regras, normas e leis em vigor que prometem acabar com o mau<br />

comportamento, encorajar a estabilidade e evitar as <strong>crise</strong>s. Isso È bom e saud·vel, mas<br />

os banqueiros e corretores tÍm um mo<strong>do</strong> perspicaz e raro talento para burlar mesmo as<br />

regras mais cuida<strong>do</strong>samente elaboradas. Tal ëarbitragem regulatÛriaí È uma das<br />

questıes que as autoridades respons·veis pela polÌtica econÙmica devem levar em<br />

consideraÁ„o para que as reformas tenham algum efeito. (MIHM e ROUBINI, 2010:<br />

232-233)<br />

No decorrer da <strong>crise</strong>, o consenso era de que as instituiÁıes financeiras <strong>do</strong> sistema<br />

paralelo deveriam ser reguladas como bancos comuns, e que a regulaÁ„o deveria ser a mesma<br />

para instituiÁıes de diversos portes. A seletividade na regulaÁ„o seria um erro monstruoso,<br />

segun<strong>do</strong> Mihm e Roubini (2010), e abriria caminho para a arbitragem regulatÛria crescer.<br />

Regular ferrenhamente as <strong>grande</strong>s instituiÁıes faria com que estas passassem os riscos para<br />

seus parceiros, menores e menos regula<strong>do</strong>s. Essas instituiÁıes menos expressivas se tornariam<br />

sistematicamente importantes pelas interconexıes e uma bancarrota nesse merca<strong>do</strong> possuiria<br />

amplitude semelhante ‡ recentemente vivida. Desta forma, as reformas regulatÛrias devem ser<br />

aplicadas a todas as instituiÁıes financeiras, sem exceÁıes.<br />

ìOs engenheiros financeiros n„o devem ter lugar para se refugiar; a regulaÁ„o n„o<br />

deve ser aplicada de mo<strong>do</strong> espor·dico. Caso contr·rio, haver· mais arbitragem ñ e mais<br />

<strong>crise</strong>s.î (MIHM e ROUBINI, 2010: 234).<br />

Visan<strong>do</strong> ainda conter a imaginaÁ„o <strong>do</strong>s engenheiros financeiros propensos a riscos em<br />

busca de altos retornos, os regula<strong>do</strong>res n„o devem publicar um <strong>grande</strong> e complexo n˙mero de<br />

regras para cada tipo especÌfico de produto financeiro. Isto levaria a incidÍncias de novas<br />

arbitrages regulatÛrias, ou seja, uma ìsuperespecificaÁ„oî de normas traria mais inovaÁıes<br />

financeiras. Por outro la<strong>do</strong>, tambÈm È preciso fugir <strong>do</strong> antigo sistema de regulaÁ„o atravÈs de<br />

poucos princÌpios que devem ser monitora<strong>do</strong>s pelas prÛprias instituiÁıes.<br />

A soluÁ„o È criar uma sÈrie rÌgida de regras descomplicadas para regular macro<br />

aspectos <strong>do</strong> sistema financeiro. Estas devem ser instauradas coletivamente e qualquer<br />

contestaÁ„o dever· ser solucionada pelos regula<strong>do</strong>res, e n„o pelos banqueiros. Esta quest„o da<br />

34


egulaÁ„o versus a disciplina de merca<strong>do</strong> È provavelmente um <strong>do</strong>s maiores desafios para a<br />

polÌtica norte americana (MIHM e ROUBINI, 2010; PAULSON, 2010).<br />

Mihm e Roubini (2010) sugerem que a Lei Glass-St<strong>ea</strong>gall deveria ser reformulada e<br />

voltar a vigir no sistema financeiro norte americano. Para os autores, esta seria a forma mais<br />

assertiva para que as instituiÁıes e as suas atividades sejam separadas, tornan<strong>do</strong>-as menores e<br />

eliminan<strong>do</strong> a possibilidade de to big to fail. Ou seja seriam evitadas instituiÁıes que, em<br />

virtude de seu <strong>grande</strong> porte, requerem um suporte governamental para impedir as<br />

consequÍncias sistÍmicas de seu eventual fracasso.<br />

Tanto Paulson (2010), quanto Mihm e Roubini (2010) retratam o sistema regulatÛrio<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s como uma colcha de retalhos, cria<strong>do</strong> em decorrÍncia <strong>do</strong> sistema<br />

federativo e inviavelmente ultrapassa<strong>do</strong>. No nÌvel estadual e federal existem diversas agÍncias<br />

regula<strong>do</strong>ras respons·veis por instituiÁıes financeiras que foram se desenvolven<strong>do</strong><br />

desordenadamente ao longo da histÛria norte americana, a exemplo <strong>do</strong> prÛprio Federal<br />

Reserve que possui <strong>do</strong>ze 12 agÍncias espalhadas pelo paÌs.<br />

O <strong>grande</strong> n˙mero de agÍncias regula<strong>do</strong>ras introduz uma concorrÍncia entre elas, mas<br />

tambÈm redunda em falhas e sobreposiÁ„o de competÍncias que n„o geram valor adicional.<br />

Alguns defensores deste sistema se apegam ao fato da concorrÍncia induzir ao melhoramento<br />

de pr·ticas regulatÛrias. Isto pode ser v·li<strong>do</strong> para outros setores mas n„o para o regulatÛrio.<br />

As instituiÁıes financeiras, que podem optar por qual agÍncia ser„o reguladas, n„o procuram<br />

a melhor regulaÁ„o, mas sim aquela que menos limite suas atividades. A consolidaÁ„o das<br />

muitas agÍncias regulatÛrias seria uma proposta necess·ria quan<strong>do</strong> se trata de uma renovaÁ„o<br />

na regulaÁ„o. (CINTRA e FARHI, 2009; PAULSON, 2010; MIHM e ROUBINI, 2010)<br />

E um regula<strong>do</strong>r sem ninguÈm a quem inspecionar n„o tem motivo para<br />

existir. Isso significa que os regula<strong>do</strong>res tÍm to<strong>do</strong> o incentivo para ser leniente, a fim<br />

de atrair mais instituiÁıes financeiras para sua rede regulatÛria. Aqui tambÈm temos<br />

uma corrida para o lucro. Esse È o para<strong>do</strong>xo da escolha, ou ëconcorrÍncia regulatÛriaí.<br />

(MIHM e ROUBINI, 2010: 237).<br />

Como cita<strong>do</strong> anteriormente, a volta da Lei Glass-St<strong>ea</strong>gall ocupou os pensamentos de<br />

diversos estudiosos da <strong>crise</strong>. Assim Paul Volcker (apud Mihm e Roubini, 2010) defende o<br />

retorno de desta lei que separava os bancos comerciais <strong>do</strong>s bancos de investimento.<br />

12 As cidades onde os escritÛrios s„o localiza<strong>do</strong>s s„o Atlanta, Boston, FiladÈlfia, Nova York, S„o Francisco,<br />

Dallas, Kansas City, Minn<strong>ea</strong>polis, St. Louis, Chicago, Cleveland e Richmond. AlÈm <strong>do</strong> Federal Reserve de<br />

Washignton. (FEDERAL RESERVE WEBSITE, 2011b)<br />

35


Mas, para Mihm e Roubini (2010), a r<strong>ea</strong>lidade È que o sistema financeiro <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s precisa de uma nova lei que lembre aquela, mas que seja aprimorada e crie novas<br />

barreiras. Nesse senti<strong>do</strong>, a simples separaÁ„o entre bancos comerciais e de investimento n„o<br />

serve para o sÈculo XXI. … preciso uma lei que separe e englobe os diversos tipos de<br />

instituiÁıes financeiras que foram cria<strong>do</strong>s, e ainda reduza o emprÈstimo de curto prazo entre<br />

estas instituiÁıes, que as interligou e criou um perigoso risco sistÍmico.<br />

Haveria, assim, uma divis„o institucional e relacional entre os <strong>do</strong>is tipos de<br />

banco... Como muitos bancos paralelos tiveram problemas toman<strong>do</strong> emprÈstimos<br />

lÌqui<strong>do</strong>s de curto prazo para aplic·-los em investimentos ilÌqui<strong>do</strong>s de longo prazo, ser·<br />

necess·rio restringir sua capacidade de fazÍ-lo. Isso significa que os bancos de<br />

investimentos e corretoras devem ser proibi<strong>do</strong>s de r<strong>ea</strong>lizar qualquer tipo de<br />

emprÈstimo de curto prazo... Essa reforma tornaria o sistema financeiro menos<br />

propenso ao tipo de r<strong>ea</strong>Á„o em cadeia sistÍmica que levou a falÍncias generalizadas.<br />

(MIHM e ROUBINI, 2010: 252).<br />

Visan<strong>do</strong> maior estabilidade <strong>do</strong> sistema financeiro, os bancos comerciais e de<br />

investimento dever„o ser proibi<strong>do</strong>s de r<strong>ea</strong>lizar qualquer transaÁ„o com recursos prÛprios, de<br />

atuar como fun<strong>do</strong> de hedge e de private equity. A atividade central destes bancos deveria ser<br />

limitada ‡ sua atividade historicamente exercida por eles: angariar capital e subscriÁ„o<br />

(MIHM e ROUBINI, 2010).<br />

Um tipo de instituiÁ„o financeira n„o poderia interferir ou se aventurar na atividade de<br />

outra categoria de instituiÁ„o. As instituiÁıes restantes, de seguros e os fun<strong>do</strong>s de private<br />

equity seriam colocadas em categorias adicionais, n„o poderiam intermediar outras transaÁıes<br />

alÈm de suas atividades focais. Assim como as companhias de seguros n„o poder„o negociar<br />

com recursos prÛprios, outras instituiÁıes n„o poder„o atuar no ramo de seguros. Os fun<strong>do</strong>s<br />

de hedge continuariam a atuar exclusivamente no investimento em participaÁıes privadas<br />

(MIHM e ROUBINI, 2010).<br />

Este sistema de segregaÁ„o completa de atividades entre diferentes categorias de<br />

instituiÁıes financeiras seria importantÌssimo na eliminaÁ„o das perigosas e numerosas<br />

interligaÁıes existentes e acabaria com os conflitos de interesse entre os serviÁos presta<strong>do</strong>s<br />

por uma mesma companhia (MIHM E ROUBINI, 2010).<br />

ìUm ˙ltimo lembrete: somente os bancos comerciais poderiam ter acesso ao seguro<br />

de depÛsito e a uma rede de proteÁ„o <strong>do</strong> governoî (MIHN e ROUBINI, 2010: 253).<br />

36


Esta proposta de separaÁ„o das companhias financeiras e <strong>do</strong>s serviÁos por elas<br />

presta<strong>do</strong>s sen<strong>do</strong> regula<strong>do</strong>s por um mesmo guarda-chuva de regula<strong>do</strong>res eliminaria o perigo<br />

das instituiÁıes <strong>grande</strong>s demais para falir.<br />

ApÛs reformular o quesito de separaÁ„o entre as instituiÁıes da lei Glass-St<strong>ea</strong>gall,<br />

Mihm e Roubini (2010) constatam que o sistema financeiro se tornaria mais transparente e<br />

menos inst·vel atravÈs <strong>do</strong> afastamento da opacidade nas estratÈgias e inibiÁ„o da extraÁ„o de<br />

enormes ganhos as custas de investi<strong>do</strong>res desavisa<strong>do</strong>s.<br />

Um <strong>grande</strong> benchmarking para o governo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> Mihm e<br />

Roubini (2010), seria a instituiÁ„o brit‚nica criada para regular o sistema financeiro, a FSA<br />

[Financial Services Authority] ñ Autoridade de ServiÁos Financeiros ñ È respons·vel pela<br />

regulaÁ„o de todas as instituiÁıes financeiras existentes no Reino Uni<strong>do</strong> ñ bancos,<br />

segura<strong>do</strong>ras, derivativos, valores mobili·rios, hipotecas. Os autores explicam que os agentes<br />

regula<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s diversos departamentos est„o abaixo de uma mesma lideranÁa, o que, na<br />

teoria, limitaria a arbitragem regulatÛria e a ìescolha da melhor cerejaî, atravÈs da<br />

centralizaÁ„o ñ em um sistema regulatÛrio descentraliza<strong>do</strong>, defasa<strong>do</strong> e fragmenta<strong>do</strong> estes<br />

acontecimentos s„o recorrentes.<br />

ìComo o <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s (...) uma consolidaÁ„o e uma centralizaÁ„o significativas<br />

s„o desej·veis e necess·rias. Embora n„o evitem o tipo de arbitragem regulatÛria que aju<strong>do</strong>u a<br />

criar a <strong>crise</strong> recente, certamente elas teriam dificulta<strong>do</strong> sua ocorrÍnciaî. (MIHM e ROUBINI,<br />

2010: 238).<br />

Independente da linha de pensamento, to<strong>do</strong>s os autores relevantes que tratam da <strong>crise</strong><br />

de 2008 concordam que a falta de regulaÁ„o adequada e a desregulamentaÁ„o em favor <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> livre foram extremamente prejudiciais e levaram o sistema a buscar inovaÁıes cada<br />

vez mais arriscadas, que passaram despercebidas para os Ûrg„os que deveriam regular e<br />

supervisionar todas as instituiÁıes financeiras ativas na economia. A constataÁ„o È que È<br />

extremamente necess·rio atualizar a arquitetura regulatÛria arcaicamente inadequada,<br />

tornan<strong>do</strong>-a male·vel para englobar um merca<strong>do</strong> financeiro constantemente em movimento e<br />

mudanÁa. Por sua vez, È preciso lembrar de aumentar a fiscalizaÁ„o de produtos financeiros,<br />

reformar a estrutura das agÍncias de classificaÁ„o de risco de crÈdito e padronizar o<br />

monitoramento <strong>do</strong>s riscos (MIHM e ROUBINI, 2010; PAULSON, 2010; WESSEL, 2009).<br />

37


CONSIDERA«’ES FINAIS<br />

As fases da regulaÁ„o norte americana mostram que a leniÍncia de agÍncias<br />

regula<strong>do</strong>ras, e a <strong>defasage</strong>m regulatÛria levam o sistema financeiro ao caos. Na busca por<br />

lucros exponencialmente crescentes, as instituiÁıes financeiras assumem altos riscos, que n„o<br />

s„o observa<strong>do</strong>s por regula<strong>do</strong>res desatentos.<br />

A histÛria das <strong>crise</strong>s demonstra, principalmente para as instituiÁıes irrespons·veis, que<br />

quan<strong>do</strong> as situaÁıes crÌticas ocorrem, os Bancos Centrais acabam servin<strong>do</strong> como<br />

empresta<strong>do</strong>res de ˙ltima inst‚ncia. O perigo da desregulamentaÁ„o financeira reside nesta<br />

idÈia, mesmo as instituiÁıes n„o cobertas pelo seguro de depÛsito acabam se benefician<strong>do</strong> em<br />

tempos de <strong>crise</strong>, uma vez que os governos n„o desejam que a quebra de uma instituiÁ„o<br />

derrube to<strong>do</strong> o sistema financeiro.<br />

A situaÁ„o <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s antes da recess„o de 2008 era de excesso de dinheiro<br />

f·cil na econÙmia, eleva<strong>do</strong>s Ìndices de crescimento, polÌtica monet·ria frouxa, surgimento <strong>do</strong><br />

global sha<strong>do</strong>w banking system, inovaÁıes financeiras inconsequentes, a constantante <strong>do</strong> risco<br />

moral, alÈm da <strong>defasage</strong>m regulatÛria crescente. PorÈm os <strong>do</strong>is problemas que conduziram o<br />

estouro da <strong>crise</strong> de 2008 foram a dependÍncia crescente <strong>do</strong>s agentes financeiros de<br />

endividamento e alavancagem.<br />

A <strong>crise</strong> de 2008 mostrou claramente que o Federal Reserve estava disposto a fazer o<br />

que fosse preciso para salvar a economia norte americana de uma depress„o, e assim o<br />

governo injetou uma exorbitante quantidade de capital para oferecer liquidez a instituiÁıes<br />

financeiras como bancos de investimento, corretoras de seguros e fun<strong>do</strong>s de private equity. A<br />

idÈia de segregaÁ„o perde o senti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> outras instituiÁıes, alÈm <strong>do</strong>s bancos comerciais,<br />

obtÍm ajuda <strong>do</strong> governo para cubrir os seus problemas de capital e liquidez.<br />

Este trabalhou apresentou diversos motivos para que as instituiÁıes financeiras sejam<br />

submetidas a uma rÌgida regulamentaÁ„o de suas atividades, mas o principal deles È a<br />

necessidade Ûbivia de uma instituiÁ„o financeira possuir liquidez suficiente para enfrentar<br />

adversidades.<br />

… importante ressaltar que uma reforma regulatÛria n„o teria salva<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> de<br />

passar por esta <strong>crise</strong> financeira, portanto a procura por novas formas de controlar as atividades<br />

38


financeiras È essencial para evitar que novas <strong>crise</strong>s ocorram. A <strong>crise</strong> de 2008 salientou que os<br />

merca<strong>do</strong>s ultrapassaram a capacidade de regular das agÍncias, portanto ser· necess·rio pensar<br />

em um sistema mais moderno e adequa<strong>do</strong> ‡s atividades desenvolvidas atualmente. Os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s precisam de um sistema regulatÛrio financeiro que se adapte continuamente, de forma<br />

a ajustar-se as merca<strong>do</strong>s, instituiÁıes e produtos financeiros que sofrem constantes mudanÁas.<br />

A quest„o central que se coloca È, o que funciona melhor: o sistema brit‚nico, tambÈm<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo Brasil, de uma ˙nica autoridade regula<strong>do</strong>ra, ou um conjunto de agÍncias<br />

regula<strong>do</strong>ras, como discuti<strong>do</strong> nos EUA, com os riscos de superposiÁ„o j· aponta<strong>do</strong>s.<br />

Outra quest„o central È saber se a soluÁ„o seria a segregaÁ„o, prevista na Lei Glass<br />

St<strong>ea</strong>gal, e superada pelo merca<strong>do</strong> ou um robusto sistema regulatÛrio sobre bancos universais.<br />

Parece que o problema central n„o reside na segregaÁ„o de atividades porque a engenharia<br />

financeira tem estrutura<strong>do</strong> soluÁıes, ao longo <strong>do</strong> tempo, que tornam inÛqua essa segregaÁ„o.<br />

Em consequÍncia, parece mais lÛgico substituir a iÈia da segregaÁ„o por um processo<br />

detalha<strong>do</strong> de supervis„o que atinja bancos universais: o problema n„o estaria na abrangÍncia<br />

das operaÁıes que uma instituiÁ„o pode r<strong>ea</strong>lizar, mas sim na correta avaliaÁ„o <strong>do</strong>s riscos que<br />

as mesmas envolvem.<br />

39


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