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MEMÓRIA E POESIA NA OBRA DE H.DOBAL Débora ... - Cielli

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Universidade Estadual de Maringá – UEM<br />

Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – A<strong>NA</strong>IS - ISSN 2177-6350<br />

_________________________________________________________________________________________________________<br />

“O Tempo Conseqüente” (1966), o primeiro livro de Dobal, já carrega seus principais<br />

temas e as características que norteiam toda sua obra: a opção pela concisão e reflexão<br />

sóbria, com recusa tácita do exagero sentimental, diante da presença discretíssima de<br />

um eu poético geralmente dissolvido nas paisagens, ou camuflado como um outro. A<br />

poesia de Dobal quer trate do homem no sertão nordestino, nas grandes cidades ou em<br />

terras estrangeiras é de desnudamento e o que resta diante de seus olhos é o desencanto<br />

e a solidão. Homens consolados, vez por outra, pelas lembranças de belas imagens e<br />

pela presença fugaz do amor.<br />

O poeta se retira do mundo para lembrar e em sua memória as paisagens e os<br />

habitantes do sertão, das cidades ou de qualquer terra estrangeira impulsionam imagens<br />

evocativas de um passado que foi substituído pela racionalização da vida, pelo<br />

individualismo, pela incomunicabilidade, mas que vive como memória de uma condição<br />

humana que persiste e que nos mantém intrinsecamente ligados a velhos temas. “What<br />

can I but enumerate old themes?”, a epígrafe de W.B.Yeats que nos dá boas-vindas em<br />

“Tempo Conseqüente” (<strong>DOBAL</strong>, 2007, p.24) nos alerta sobre a recuperação de temas<br />

caros à tradição, vista aqui de forma ampla, como uma imensa ordem discursiva<br />

antecedente. Se há o retorno a velhos temas (como infância, desencanto, viagens,<br />

desterro, desamparo, melancolia, solidão, religiosidade, amor e morte) é porque as<br />

questões suscitadas persistem e se faz necessário relembrar e re-imaginar para atualizá-<br />

las. Essa reiteração já nos indica a importância e o papel desempenhado pela memória.<br />

H.Dobal simultaneamente se retira do mundo para lembrar e refletir e nele se põe para<br />

agir, para criar poesia e essa criação também se constitui em um relato de vida<br />

(individual e coletivo). Assim, a memória dá suporte para a tessitura da poesia e a<br />

poesia transforma-se em memória, em narração de seu tempo.<br />

Carregada de tensão, a vida para H.Dobal “é uma sucessão de imagens/a alegria de<br />

belas imagens/guardadas na memória” (<strong>DOBAL</strong>, 2007, p.287) assim como também são<br />

as imagens relacionadas a temas sombrios – “Fixaram-se temas sombrios no fundo da<br />

minha memória” (<strong>DOBAL</strong>, 2007, p.315). Nessa direção, é importante lembrar que a<br />

memória possui um caráter dinâmico e não estático. A memória é responsável por<br />

recuperar as experiências vividas e os estados de consciência associados, os

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