10.10.2013 Views

MEMÓRIA E POESIA NA OBRA DE H.DOBAL Débora ... - Cielli

MEMÓRIA E POESIA NA OBRA DE H.DOBAL Débora ... - Cielli

MEMÓRIA E POESIA NA OBRA DE H.DOBAL Débora ... - Cielli

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Universidade Estadual de Maringá – UEM<br />

Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – A<strong>NA</strong>IS - ISSN 2177-6350<br />

_________________________________________________________________________________________________________<br />

acontecimentos pessoais e históricos de que participou, de inscrever as ações na<br />

existência, de pensá-las e de transmiti-las. H.Dobal tem consciência disso e convoca a<br />

memória para realizar um trabalho de chegar à consciência de sua condição humana, é<br />

o que indica o próprio poeta ao dizer “Eu via as coisas e aquilo foi somando. Fiquei<br />

com aquelas impressões no subconsciente e vieram depois quando eu fazia poesia” 2 . O<br />

trabalho da memória (que já se inicia com o ordenamento das imagens) é contra a<br />

ameaça do esquecimento, agravada pela modernidade (racionalismo exagerado,<br />

individualismo que leva ao isolamento, incomunicabilidade, etc.). Assim, é possível<br />

dizer que a memória tem a função de manter uma ligação entre uma ordem discursiva<br />

antecedente (tradição) e uma ordem discursiva do agora (moderno). São as imagens da<br />

memória, atuantes e entrelaçadas, que o poeta convoca para construir sua poesia, relato<br />

transmissível, testemunho fixado pela linguagem escrita. Nesse sentido, a memória e a<br />

poesia (não esquecendo de suas particularidades estéticas) são responsáveis por acionar<br />

as engrenagens do mecanismo que envolve a tradição e o moderno. Retornar a velhos<br />

temas é função do poeta e repetir não é necessariamente um problema, já que a<br />

repetição requer uma re-imaginação particular, resultado de uma configuração histórica<br />

e de posicionamentos crítico-reflexivos fincados no agora e expostos por uma<br />

linguagem poética personalíssima, capaz de perceber de forma aguçada as tensões<br />

existentes. Neste ponto vale lembrar o que nos diz Silviano Santiago (SANTIAGO,<br />

1999, p.243) sobre o artigo de T.S.Eliot (autor traduzido por H.Dobal e com quem, sob<br />

vários aspectos, Dobal mantém diálogo poético):<br />

Eliot opõe a emergência de um poeta através de traços distintivos e<br />

pessoais à maturidade do próprio poeta, momento que é determinado<br />

pelo fato de ele inscrever a sua produção poética numa ordem<br />

discursiva que o antecede. Portanto, o poeta moderno para Eliot, na<br />

sua idade madura, nada mais faz do que ativar o discurso poético que<br />

já está feito: ele o recebe e lhe dá novo talento. Dá força ao discurso<br />

da tradição.<br />

Memória e tradição mantêm relações interdependentes, mas vale ressaltar que essa<br />

“força” dada à permanência do discurso da tradição, ou o deixar guiar-se pela tradição<br />

2 Fala de H.Dobal no Documentário “Um homem particular” (MACHADO, 2002).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!