28.10.2013 Views

educação sentimental dos direitos humanos - Catedraunescoeja

educação sentimental dos direitos humanos - Catedraunescoeja

educação sentimental dos direitos humanos - Catedraunescoeja

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

uma tarefa fácil, posto que podemos fazer isso manipulando os seus sentimentos de tal<br />

modo que eles se imaginem na pele <strong>dos</strong> humilha<strong>dos</strong> e oprimi<strong>dos</strong>. Mas, estariam também<br />

os orientais sensibiliza<strong>dos</strong> diante de tal tragédia, aos nossos exemplos de terror? Essa é<br />

uma esperança que, no fundo, cultivamos.<br />

A forte experiência do holocausto, do fascismo e do nacional-socialismo, por<br />

exemplo, nos deixaram mais suscetíveis aos sentimentos e desconfia<strong>dos</strong> de atitudes<br />

racionalistas fundacionalistas. Neste sentido, apelamos para disseminação da cultura<br />

<strong>dos</strong> <strong>direitos</strong> <strong>humanos</strong> não como uma questão de nos tornarmos mais conscientes das<br />

exigências de uma lei moral a-histórica, mas no sentido de promover o “progresso do<br />

sentimento”. Esse progresso consiste na habilidade crescente de enxergar as<br />

similaridades entre nós mesmos e as pessoas diferentes de nós como mais importantes<br />

do que as diferenças. Isso é o que Rorty (1998) chama de “<strong>educação</strong> <strong>sentimental</strong>”.<br />

Confiar mais nos sentimentos do que nos coman<strong>dos</strong> da razão significa pensar<br />

que as pessoas poderosas gradualmente deixarão de oprimir os outros ou permitir a<br />

opressão apenas por bondade. Mas que algo é este capaz de amolecer os corações <strong>dos</strong><br />

fortes e orientar os seus olhos vorazes para o sofrimento <strong>dos</strong> fracos? Esperamos<br />

desesperadamente que exista algo mais forte e poderoso – um Deus vingador, um<br />

proletariado vingador, ou pelo menos o tribunal da pura razão prática de Kant – capaz<br />

de ferir o forte caso este não se disponha a fazer o justo. 17 Talvez uma progressiva<br />

cultura <strong>sentimental</strong> <strong>dos</strong> <strong>direitos</strong> <strong>humanos</strong> permita esta tão esperada reforma social.<br />

Mas, afinal, porque devemos nos preocuparmos com um estranho, alguém que<br />

não é nosso parente ou afim, com uma pessoa cujos hábitos considero detestáveis? Uma<br />

resposta apropriada a questão proposta seria aquele tipo de história longa, triste e<br />

<strong>sentimental</strong> que começa do seguinte modo: “Porque é assim que acontece na situação<br />

em que ela se encontra – longe de casa, no meio de estranhos”, “Porque algum dia ela<br />

pode ser a sua cunhada”, etc. Essas histórias, repetidas e alteradas ao longo <strong>dos</strong> séculos,<br />

têm feito com que nós, pessoas ricas, poderosos e que vivem em segurança, tenhamos<br />

tolerância e até mesmo estima para com pessoas menos poderosas, pessoas cuja<br />

aparência, hábitos ou crenças inicialmente nos pareceram um insulto à nossa própria<br />

identidade moral. 18<br />

Em suma, com fulcro no que fora apresentado, tudo parece convergir para um<br />

único ponto: estamos agora na posição de deixar de lado os últimos vestígios da idéia de<br />

17 Rorty (1998: 183).<br />

18 Rorty (1998: 184).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!