educação sentimental dos direitos humanos - Catedraunescoeja
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dever nada a um conhecimento moral tanscendental, a-histórico, averso as emoções,<br />
mas deve tudo a histórias tristes e sentimentais. Neste sentido, afirma Rorty (1998:177):<br />
Eventos como a Revolução Francesa e o fim do comercio<br />
transatlântico de escravos ajudaram os intelectuais das democracias<br />
ricas do século XIX a dizer: para nós, basta saber que vivemos numa<br />
época em que nós, seres <strong>humanos</strong>, podemos fazer coisas melhores<br />
para nós próprios. Não precisamos vasculhar os arredores desse fato<br />
histórico em busca de fatos não históricos sobre o que realmente<br />
somos.<br />
Assim, a partir consciência que fazemos de nós mesmo de “animais excepcionalmente<br />
talentosos, inteligentes o suficiente para tomar conta de nossa própria evolução” 15 , o<br />
fundacionalismo se tornou menos importante, com pouca repercussão entre nós, pós-<br />
modernos. Com efeito, hoje, parece pretendermos direcionar o nosso olhar mais para o<br />
futuro do que propriamente para a eternidade.<br />
Isso significa, em suma, deixarmos de lado a questão “O que é o homem?”, no<br />
sentido de “Qual é a natureza a-histórica <strong>dos</strong> seres <strong>humanos</strong>?”, e substituí-la pela<br />
questão “Que tipo de mundo podemos preparar para os nossos filhos?”.<br />
Nossa tradição, fundacionalista, ao insistir que poderia, invocando um poder<br />
superior ao sentimento, o poder da razão, reeducar pessoas que haviam amadurecido<br />
sem adquirir os sentimentos morais adequa<strong>dos</strong>, prestou à <strong>educação</strong> moral uma pista<br />
errada. Assim, se pretendemos superar este engodo, o melhor a fazer é “concentrar<br />
nossas energias na manipulação <strong>dos</strong> sentimentos, na <strong>educação</strong> <strong>sentimental</strong>. Esse tipo de<br />
<strong>educação</strong> deixa pessoas diferentes suficientemente familiarizadas umas com as outras,<br />
de modo que elas se sentem menos tentadas a pensar que aqueles que são diferentes<br />
delas são apenas semi-humanas. O objetivo desse tipo de manipulação do sentimento é<br />
expandir a referência <strong>dos</strong> termos “nosso tipo de gente” e “gente como nós”.” 16<br />
No entanto, expandir a referência de identidade que as pessoas fazem de si<br />
mesmas não é uma tarefa fácil. Afinal, como é possível convencermos estudantes<br />
orientais, membros de comunidades culturais diferentes, de status morais diferentes, da<br />
cultura <strong>dos</strong> <strong>direitos</strong> <strong>humanos</strong>? A tarefa parece ser mais simples ao nos depararmos com<br />
a <strong>educação</strong> de estudantes que cresceram, por exemplo, à sombra do Holocausto;<br />
convencer-lhes que o preconceito a outros grupos racionais ou religiosos é uma coisa<br />
terrível, ou mesmo, que é necessário defender os <strong>direitos</strong> <strong>dos</strong> homossexuais, parece ser<br />
15 Roty (1998: 176).<br />
16 Rorty (1998: 180).