educação sentimental dos direitos humanos - Catedraunescoeja
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que se atribui a um homem em função do juízo ou da necessidade de outro, por<br />
exemplo, em virtude de sua competência ou habilidade 6 . Por sua vez, Kant estabelecerá<br />
uma distinção, inexistente na língua portuguesa, entre wert 7 (valor moral absoluto –<br />
valor intrínseco) e value (valor instrumental). Para Kant, aquilo que pode ser<br />
comparado ou substituído por algo equivalente, tem um “preço”. Em contrapartida,<br />
aquilo que é incomparável e insubstituível, encontra-se acima de qualquer preço<br />
(dignidade). Destarte, o homem pode ser avaliado sob dois prismas distintos: em função<br />
de suas habilidades, méritos ou competências, ele tem um valor (value); entretanto,<br />
enquanto pessoa moral, ele é portador de um valor incalculável (wert), que recebe o<br />
nome de “dignidade” (würdigkeit). E um ser digno, acrescenta Kant, deve ser tratado,<br />
pelos outros, mas também por ele próprio, sempre com respeito (achtung), isto é, como<br />
um fim um si mesmo e não como meio para obtenção de alguma coisa 8 .<br />
No entanto, a concepção de dignidade humana proposta por Kant suscita certa<br />
desconfiança entre os pós-modernos. Primeiro, pelo fato de que ela se alicerça na<br />
suposição de uma irredutibilidade do homem ao mundo natural. No mais, a própria<br />
representação kantiana do homem como agente moral autônomo também desperta<br />
várias suspeitas. Afinal, tudo aquilo que parecia ser, aos olhos de Kant, uma escolha<br />
humana livre e racional, passou a ser visto com extrema cautela. Talvez por trás da<br />
liberdade humana, encontrem-se forças econômicas, pulsões inconscientes,<br />
condicionamentos culturais ou reações bioquímicas 9 .<br />
Modelos alternativos à fundamentação e definição de dignidade humana foram<br />
construí<strong>dos</strong> ao longo da nossa história ocidental com o propósito de superar alguma das<br />
aporias apontadas. Trataremos de alguns destes na próxima seção.<br />
3. EDUCAÇÃO SENTIMENTAL, DIGNIDADE HUMANA E PÓS-MODERNIDADE<br />
A partir do início da década de 70, um grupo de filósofos de Oxford, entre os<br />
quais Ruth Harrison, Richard D. Ryder et al.(Animals, Men, and Morals, 1971) 10 ,<br />
trouxeram à baila o importante debate acerca <strong>dos</strong> limites das concepções tradicionais<br />
<strong>dos</strong> valores do homem e da natureza. O principal alvo das filosofias ambientalistas foi a<br />
6 Dworkin (2003: 96).<br />
7 “echt moralischer wert” (KANT, 1973:234)<br />
8 Rabenhorst (2007: 221).<br />
9 Rabenhort (2007: 222).<br />
10 Mora (2000: 141).