OAB Jovem 10 Anos - OAB/MG
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ANO XVIII - Nº 247 - Informativo Oficial da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Minas Gerais - Belo Horizonte - Janeiro - Abril / 2007<br />
Apesar dos pareceres contrários<br />
da <strong>OAB</strong> (na maioria dos casos),<br />
a União liberou geral a criação de<br />
novos cursos jurídicos no Brasil.<br />
Vai crescendo, assim, de forma<br />
indiscriminada, o número dos<br />
bacharéis, muitos dos quais se<br />
habilitam ao exercício da advocacia,<br />
após aprovação nos Exames<br />
de Ordem. Já somos 600.000<br />
advogados no País, o que tem gerado<br />
preocupação e desânimo de muita<br />
gente quanto às possibilidades de<br />
colocação no mercado de trabalho.<br />
Haveria lugar para todos?<br />
É bom lembrar que a palavra<br />
ADVOGADO (ad + vocatus) significa<br />
um chamado, uma verdadeira<br />
vocação. A propósito, meu saudoso<br />
pai, o Cândido Raymundo, chegou<br />
a dizer que a advocacia seria um<br />
sacerdócio, lembrando que ninguém<br />
construiria impunemente a sua<br />
felicidade sobre os escombros da<br />
dor e do sofrimento alheios. Para os<br />
verdadeiramente vocacionados não<br />
faltará, com o serviço da advocacia,<br />
o pão de cada dia que pedimos na<br />
oração que o Senhor nos ensinou.<br />
Se nos lembrarmos que uma das<br />
finalidades da advocacia não é o<br />
recebimento dos cada vez mais<br />
escassos honorários (questão de<br />
honra), mas, sim, a garantia da vida,<br />
da liberdade, da saúde, da paz, do<br />
patrimônio para os clientes, sem<br />
dúvida que seremos recompensados<br />
e não nos faltará o pão de cada dia.<br />
Os honorários são mera conseqüência<br />
de um trabalho sadio e honesto, pois<br />
que a finalidade da advocacia é,<br />
sem dúvida, a defesa do cidadão e<br />
da cidadania, conforme o art. 44 do<br />
Estatuto.<br />
Merece citação o exemplo singular<br />
do advogado Evandro, lá de Ouro<br />
Fino, cidade consagrada como do<br />
menino da porteira da conhecida<br />
Defesa social<br />
A sociedade se organizou politicamente<br />
em Estados, por razões estritamente<br />
utilitárias. Esta organização não foi fruto<br />
de estudos sociais ou de alguma ciência<br />
social, mas antes resultado de práticas<br />
que se mostraram mais eficientes no<br />
sentido de favorecer a vida das pessoas.<br />
O Estado, assim, é uma conquista<br />
social, visando o bem estar comum. Ele<br />
não se confunde com a sociedade, que<br />
é maior.<br />
A função primordial do Estado é o<br />
monopólio da violência, do poder de<br />
coerção. E o direito é isto, coerção,<br />
proibição, controle de conduta das<br />
pessoas, individuais ou coletivas. Só o<br />
Estado pode impor normas de conduta,<br />
geralmente proibindo certas ações, mas<br />
isto só tem sentido quando visa o bem<br />
coletivo.<br />
Quando o Estado se omite, a sociedade<br />
não desaparece, ela encontra formas<br />
alternativas de suprir as omissões.<br />
Isso é um ponto fundamental a se ter<br />
em vista, quando a discussão sobre a<br />
violência criminal ganha um novo alento<br />
nestes dias. Discutir-se qual seria a<br />
idade adequada para a responsabilidade<br />
penal é inteiramente irrelevante, quando<br />
o crime violento é praticado por pessoas<br />
de todas as idades. O que seria oportuno<br />
discutir é como prevenir o crime, ou<br />
mesmo como reprimi-lo, pois foi para<br />
isto que se criou o Estado ao longo da<br />
história.<br />
Mas como esta questão sequer tangencia<br />
as preocupações dos governantes, a<br />
canção: aprovado nos concursos<br />
para a Magistratura e para a<br />
Defensoria Pública, de modo quase<br />
incompreensível para muitos, neste<br />
mundo de um capitalismo desenfreado,<br />
acabou optando, o dr. Evandro, por<br />
esta última carreira, de defensor<br />
dos pobres e oprimidos, a despeito<br />
de perceber uma remuneração pelo<br />
menos quatro vezes menor. Por quê?<br />
Loucura?! Não, apenas fez ele a<br />
escolha imposta pela sua VOCAÇÃO,<br />
atendendo a um chamado interior para<br />
a defesa intransigente dos carentes,<br />
mostrando uma preocupação com o<br />
ser humano, rara de ser ver nos dias<br />
atuais, deixando de lado o desespero<br />
de muitos com o ter, esquecidos<br />
de que caixão não tem gaveta e de<br />
que, como lembramos na 4ª Feira de<br />
Cinzas, neste período da Quaresma,<br />
que somos pó e ao pó tornaremos,<br />
deixando de lembrança, nesta terra,<br />
apenas a marca dos bons serviços que<br />
tenhamos prestado em benefício do<br />
próximo. Dr. Evandro pode não estar<br />
sociedade vem encontrando soluções<br />
e, a última delas, que tende a se<br />
espalhar pelo país, é uma nova forma<br />
de privatização da atividade estatal,<br />
através das milícias que, segundo<br />
se noticia, controlam hoje a maior<br />
parte das favelas do Rio de Janeiro,<br />
expulsando os traficantes de drogas<br />
e outros criminosos, exterminando os<br />
recalcitrantes. Essas organizações são<br />
integradas por policiais, da ativa ou<br />
aposentados, têm óbvia ligação com as<br />
forças de segurança oficiais e cobram<br />
módicas taxas dos moradores, tornando<br />
seguras as periferias. Na verdade, tratase<br />
de pura barbárie, do ressurgimento<br />
dos senhores da guerra da alta idade<br />
média, mas o que se tem é que parece<br />
funcionar.<br />
Enquanto estas milícias mostram uma<br />
grande eficiência na tarefa a que se<br />
propõem, em Minas Gerais a Polícia<br />
Militar utiliza 200 homens durante o mês<br />
para tentar capturar quatro assaltantes<br />
de banco, homiziados no cerradão do<br />
noroeste do Estado. Nosso Estado,<br />
aliás, segundo o “Mapa da Violência<br />
nos Municípios Brasileiros”, editado pelo<br />
Ministério da Saúde e com apoio de<br />
organismos internacionais, galgou dez<br />
postos no índice de crimes violentos,<br />
passando do 25º lugar para o 15º lugar<br />
em dez anos. Esses dados, bastante<br />
confiáveis, pois que calcados em<br />
estatísticas de atendimento médico do<br />
SUS sobre mortalidade, são contestados<br />
pelo Secretário de Defesa Social, sem<br />
amealhando bens materiais, mas<br />
certamente está muito bem consigo<br />
e com os irmãos, defendendo os<br />
necessitados, buscando saciá-los<br />
na sua fome e sede de justiça.<br />
Mas o mercado consumista escreveu<br />
numa camiseta vendida no Porto<br />
Seguro dos prazeres mundanos, que<br />
“dinheiro não traz felicidade; me dê o<br />
seu e seja feliz!”. Infelizmente, essa<br />
é a máxima que tem regido o homem<br />
no planeta e que nós, advogados,<br />
como agentes de transformação<br />
da sociedade, precisamos mudar.<br />
Podemos atracar no porto seguro da<br />
felicidade, tendo fé no que rezamos<br />
diariamente, ao pedir o pão nosso de<br />
cada dia e não todos os pães num dia<br />
só. Que Deus, com o seu exemplo<br />
de se entregar por nós, pregado<br />
numa cruz, nos ajude, seguindo<br />
os passos da nossa vocação de<br />
serviço. Amém!<br />
*Presidente da <strong>OAB</strong>/<strong>MG</strong><br />
CARLOS VICTOR MUZZI*<br />
nenhum fundamento, e se chocam com<br />
a propaganda enganosa de nossas<br />
polícias, na linha do famigerado “Choque<br />
de Gestão” do Governo Estadual, cuja<br />
única política pública é dar suporte<br />
à candidatura de nosso Governador<br />
à Presidência da República... Mas a<br />
realidade concreta, a incapacidade<br />
evidente das polícias em lidar com reles<br />
assaltantes de banco dizem tudo sobre<br />
a péssima qualidade da segurança<br />
pública, aqui e alhures.<br />
Então, enquanto políticos usam a máquina<br />
do Estado para sua autopromoção,<br />
enquanto organismos, como a Igreja<br />
Católica, agem com demagogia pueril,<br />
lançando campanhas de defesa da<br />
Amazônia orquestradas do exterior,<br />
sem atentar par os problemas concretos<br />
da imensa maioria da população,<br />
assolada pela violência, a sociedade<br />
dá respostas, como a das milícias e<br />
até dos esquadrões de extermínio,<br />
respostas que, certas ou erradas, são as<br />
únicas que se apresentam na ausência<br />
de ação dos governantes. Sempre<br />
que o Estado, governado por políticos<br />
ineptos, primários ou desonestos, se<br />
omite no cumprimento de suas funções<br />
fundamentais, podemos estar certos de<br />
que soluções virão da sociedade, sejam<br />
elas milícias ou mesmo uma ruptura<br />
violenta da ordem institucional.<br />
Conselheiro Seccional e Presidente<br />
da Comissão de Direitos<br />
Humanos da <strong>OAB</strong>/<strong>MG</strong><br />
Pág. 02