Março, 2011 - Associação Portuguesa dos Nutricionistas
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<strong>Março</strong>, <strong>2011</strong><br />
Actualidades<br />
A importância da alimentação no tratamento da diabetes<br />
Rute Sá Azevedo<br />
Nutricionista, Unidade Local de Saúde de Alto Minho<br />
A Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crónica que se caracteriza pelo aumento <strong>dos</strong> níveis de glicose no sangue, devido a uma<br />
ausência total ou parcial e/ou resistência à actuação da insulina. Esta é uma hormona produzida pelo pâncreas que funciona como<br />
uma “chave”, abrindo a “porta” das nossas células à glicose, a fonte principal de energia do nosso organismo. Se a actuação da<br />
insulina não é eficaz, a glicose acumula-se no sangue (hiperglicemia), causando danos nas nossas artérias e órgãos.<br />
A DM 1 caracteriza-se por uma falência total na produção de insulina, por causas não totalmente conhecidas. Na DM 2 há uma<br />
insuficiência da insulina e/ou uma resistência do organismo à sua acção. Este tipo é muito mais frequente e tem vindo a aumentar<br />
de forma preocupante, devido à combinação: sobrecarga ponderal, excessos alimentares e sedentarismo. Existem outros tipos de<br />
diabetes, menos frequentes.<br />
Os cuida<strong>dos</strong> alimentares são fundamentais na sua prevenção e tratamento. Pré-diabéticos ou diabéticos devem receber<br />
aconselhamento individualizado (por nutricionista), sensível às necessidades individuais, preferências e motivações. Deve<br />
encorajar-se um peso adequado e uma actividade física regular. A alimentação deve seguir um padrão saudável, rica em fibras,<br />
vitaminas, minerais e fitonutrimentos com efeito antioxidante. As fibras promovem a saciedade e tornam a libertação de glicose<br />
na corrente sanguínea mais gradual. Alimentos com glíci<strong>dos</strong> (ami<strong>dos</strong> e açúcares), como cereais pouco refina<strong>dos</strong>/integrais,<br />
hortícolas, frutos e lacticínios magros, devem fazer parte da dieta, mas o diabético deve aprender a contabilizá-los, através da<br />
leitura de rótulos e tabelas, ou uso de equivalentes. O açúcar e alimentos açucara<strong>dos</strong> devem ser consumi<strong>dos</strong> esporádica e<br />
cuida<strong>dos</strong>amente. Adoçantes artificiais são uma alternativa segura ao açúcar.<br />
São importantes: a consistência, ou seja, comer mais ou menos a mesma quantidade de glíci<strong>dos</strong> em cada refeição, respeitando<br />
horários; o limite máximo de glíci<strong>dos</strong> em cada refeição e, no caso da DM1, a adequação, ou seja, a quantidade e distribuição de<br />
glíci<strong>dos</strong> versus insulina. Uma vez que o diabético tem um risco aumentado de doença cardiovascular, deve-se limitar a ingestão de<br />
gordura, sobretudo de saturada, trans e colesterol, presente em diversas carnes vermelhas, leite e deriva<strong>dos</strong> gor<strong>dos</strong>, produtos de<br />
pastelaria e fast-food, etc.<br />
De um modo geral, pode dizer-se que, para o diabético, “nada é proibido, mas tudo é quantificado”…<br />
Diabetes Mellitus Tipo 2 e Tecido Adiposo Visceral<br />
Hugo de Sousa Lopes<br />
Nutricionista, Centro de Saúde de Felgueiras, ACES Tâmega III – Vale do Sousa Norte, ARS Norte | Instituto Superior de Ciências da Saúde Norte<br />
A associação entre Tecido Adiposo Visceral (TAV) e risco de Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2) é um assunto largamente<br />
documentado na bibliografia, na continuação <strong>dos</strong> estudo de relação entre TAV e outros factores, como o risco cardiovascular,<br />
sobre acumulação lipídica, elevação das concentrações de triacilgliceróis em jejum e aumento da mortalidade após a meia<br />
idade(1). Contudo, a avaliação de TAV, fora <strong>dos</strong> grandes centros de investigação, revela-se, de extrema dificuldade e comporta<br />
eleva<strong>dos</strong> custos, criando a necessidade do desenvolvimento de medições fiáveis, práticas e sem custos, que permitam aceder a<br />
este componente específico da composição corporal em contexto clínico (2). O Perímetro da Cintura (PC) revelou ser a medida de<br />
excelência para este fim, dada a sua independência do Índice de Massa Corporal e a sua correlação com o TAV (3). Apesar de a<br />
evidência aconselhar a utilização do PC como medição de rotina pelos profissionais de saúde (4), existe alguma controvérsia<br />
relativamente ao local de medição mais adequado. Devido à sua correlação com TAV avaliado por TAC e ao seu baixo erro de<br />
medição considera-se que o local de medição mais fiável é a denominada “cintura natural” (zona mais estreita do tronco abaixo<br />
do esterno) (5). Objectivando a prevenção de DM2, a International Diabetes Federation sugere a avaliação de risco pelo uso <strong>dos</strong><br />
pontos de corte de PC ≥94 cm para homens e PC ≥80 cm para mulheres (6), na população europeia.<br />
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