Março, 2011 - Associação Portuguesa dos Nutricionistas

Março, 2010 2011
Entrevista com…
… Dr. José Pedro Lima Reis, Médico Endocrinologista
Foi Chefe de Serviço de Endocrinologia e Nutrição do Hospital de S. João do Porto e Professor Auxiliar
Convidado de Patologia e Dietoterapia da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do
Porto (FCNAUP), tendo-se reformado em 2002. É autor de dezenas de trabalhos na área da sua especialidade, e
integra o Conselho Científico das revistas Comportamento Alimentar e Revista Portuguesa de Diabetes.
APNnews: Cerca de 12% da população portuguesa dos 20 aos
79 anos é diabética, em que consiste a Diabetes Mellitus
Tipo 2?
José Pedro Lima Reis (JPLR): A diabetes deste tipo caracterizase
por resistência à insulina e falência progressiva da produção
da hormona pelas células β do pâncreas. Habitualmente, à
data do diagnóstico, a deficiência hormonal é relativa e não
absoluta, por isso, durante muitos anos não costuma haver
necessidade da utilização da hormona para tratamento das
pessoas afectadas.
APNnews: Quais os seus principais factores de risco?
JPLR: Os factores de risco constituem uma tríade que reúne
sedentarismo, obesidade e stresse que tem como
característica acompanhar-se da produção de hormonas que
antagonizam a acção da insulina.
APNnews: Quais os seus principais sintomas e formas de
diagnóstico?
JPLR: Os mais conhecidos e mais chamativos são a sede e a
poliúria, contudo há outros dados clínicos que podem evocar
o diagnóstico tais como a presença da doença em familiares, a
macrossomia fetal e as infecções vaginais por fungos. Muitas
vezes o diagnóstico é uma má surpresa veiculada numa
avaliação analítica de rotina.
Se há suspeita da presença da doença a sua confirmação pode
fazer-se através do doseamento de glicose no sangue.
APNnews: Da sua vasta experiência, considera, a equipa
multidisciplinar (médico endocrinologista, nutricionista,
enfermeiro, psicólogo) fundamental para o tratamento
desta patologia? De que forma a integração dos
conhecimentos destes profissionais poderá auxiliar estes
doentes?
JPLR: Trata-se de uma doença cónica sujeita a variadíssimas
complicações agudas e crónicas, de natureza infecciosa,
vascular e neurológica, que podem revelar-se a qualquer
momento durante a sua evolução, por isso, o doente necessita
de assistência e vigilância permanentes, não só para ensino de
procedimentos adequados no que diz respeito ao tratamento
da doença e à profilaxia das suas complicações, mas também
na detecção precoce das que não puderam ser evitadas.
A importância e complexidade deste seguimento explicam a
necessidade da formação de equipas multidisciplinares bem
articuladas constituídas por médico, nutricionista, enfermeiro
e psicólogo.
APNnew: É sabido que a alimentação é fundamental no
tratamento desta patologia, quais são outros tratamentos
coadjuvantes?
JPLR A doença poderá requerer para tratamento após o
diagnóstico, e não raramente durante muitos anos, apenas
modificações do estilo de vida que incidirão preferencialmente no
tipo de actividade física e na composição e distribuição do regime
alimentar.
Como medidas complementares o médico dispõe dos antidiabéticos
orais que, grosso modo, ou diminuem a resistência à
insulina, ou estimulam a sua produção.
No caso de a doença evoluir para a falência pancreática grave a
insulina exógena terá de ser utilizada.
APNnew: Após o diagnóstico recente de Diabetes Mellitus Tipo
2, quais as alterações que este doente deverá efectuar de
imediato?
JPLR: As alterações imediatas dizem respeito à alimentação e tipo
de actividade física. A sua importância deve ser explicada e
realçada de forma a obter a necessária adesão ao programa que
estabeleceremos e adaptaremos individualmente.
Se a descompensação metabólica verificada pelo estudo analítico
for grande caberá ao médico estabelecer paralelamente a
medicação adequada ao caso em apreço.
APNnew: Quais os principais receios destes doentes? E de que
forma os profissionais de saúde poderão auxiliar estes
pacientes?
JPLR: O receio dos diabéticos é o das complicações da doença que
conhecem por terem afligido ou vitimado familiares próximos ou
de que tiveram notícia através dos meios de comunicação. As que
mais os preocupam e, por isso, citam mais frequentemente, são a
cegueira, a insuficiência renal, a amputação de membros e o
coma.
A maneira de auxiliá-los é estabelecer-lhes um plano de
tratamento adequado e exequível, responsabilizá-los por ele e
transmitir-lhes a segurança de que se forem capazes de manter-se
bem compensados o que mais receiam não acontecerá.
APNnew: De que forma a família do doente diabético deverá
auxiliá-lo nas mudanças que este poderá ter que efectuar?
JPLR: Apoiando-o nas modificações sugeridas para adequar à
doença o seu estilo de vida e, se possível, integrando-se nelas
para facilitar a adesão do familiar a uma nova forma de estar que
implica limitações e esforços.