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Violência contra as mulheres no trabalho: o caso do ... - SciELO

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Violência <strong>contra</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> <strong>no</strong> <strong>trabalho</strong> 15<br />

Vítim<strong>as</strong> e perpetra<strong>do</strong>res de <strong>as</strong>sédio sexual<br />

Como já foi referi<strong>do</strong>, o <strong>as</strong>sédio sexual envolve <strong>mulheres</strong> e homens com diferentes<br />

estatutos e posições sociais, tornan<strong>do</strong> mais complexa a cl<strong>as</strong>sificação <strong>do</strong>s perfis d<strong>as</strong><br />

vítim<strong>as</strong> e <strong>do</strong>s seus perpetra<strong>do</strong>res. Por isso, há que fazer entrar em jogo divers<strong>as</strong> variáveis,<br />

como o esta<strong>do</strong> civil, a idade, o nível de escolaridade, a situação conjugal e<br />

profissional, a cultura <strong>do</strong>s contextos organizacionais, entre outr<strong>as</strong>.<br />

Assim, entre <strong>as</strong> principais vítim<strong>as</strong> deste tipo de violência en<strong>contra</strong>m-se <strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong> jovens e sós, bem como <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> celibatári<strong>as</strong> ou divorciad<strong>as</strong>. Neste<br />

c<strong>as</strong>o, após uma situação de ruptura conjugal, cerca de 6% d<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> em França,<br />

<strong>no</strong> conjunto d<strong>as</strong> activ<strong>as</strong>, correm o risco de sofrerem agressões sexuais <strong>no</strong> <strong>trabalho</strong><br />

(J<strong>as</strong>pard, 2005). Acumulan<strong>do</strong> <strong>as</strong> desvantagens sociais <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> ao seu estatuto,<br />

<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> em situação de mo<strong>no</strong>parentalidade também são particularmente afectad<strong>as</strong><br />

pelo <strong>as</strong>sédio sexual (idem).<br />

Em <strong>contra</strong>partida, quanto mais eleva<strong>do</strong> for o nível de instrução e o poder d<strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong>, maior é o risco de serem encarad<strong>as</strong> como uma ameaça pelos perpetra<strong>do</strong>res,<br />

e consequentemente será superior a probabilidade de se tornarem alvo de <strong>as</strong>sédio<br />

sexual. A imagem da mulher activa, “emancipada e autó<strong>no</strong>ma” é muit<strong>as</strong> vezes<br />

confundida pelos homens com maior disponibilidade sexual por parte <strong>do</strong> género<br />

femini<strong>no</strong>.<br />

O tipo de profissão, o nível de instrução, o estatuto <strong>do</strong> emprego e certos estatutos<br />

precários (e. g., mo<strong>no</strong>parentalidade; divórcio; mi<strong>no</strong>ri<strong>as</strong> étnic<strong>as</strong>; emigrantes)<br />

aumentam <strong>as</strong>sim a probabilidade de <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> serem vítim<strong>as</strong> de violência sexual<br />

<strong>no</strong> <strong>trabalho</strong>. As <strong>mulheres</strong> jovens, celibatári<strong>as</strong> e divorciad<strong>as</strong> acumulam, em particular,<br />

to<strong>do</strong>s estes factores de risco (Gutek, 1985).<br />

O risco de vir a ser vítima de <strong>as</strong>sédio sexual aumenta, de igual mo<strong>do</strong>, para <strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong> que trabalham em organizações que promovem cultur<strong>as</strong> de género discriminatóri<strong>as</strong><br />

e em que os trabalha<strong>do</strong>res são maioritariamente <strong>do</strong> sexo m<strong>as</strong>culi<strong>no</strong><br />

ou este é prevalecente na estrutura hierárquica. Estão ainda mais expost<strong>as</strong> ao risco<br />

de virem a ser vítim<strong>as</strong> de <strong>as</strong>sédio sexual <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> que dependem <strong>do</strong>s homens<br />

para efeitos de <strong>trabalho</strong>s de segurança ou de promoção na carreira (Defour, 1990),<br />

<strong>as</strong> que dependem <strong>do</strong> sexo oposto para efeitos de oportunidades de emprego ou de<br />

educação/formação, <strong>as</strong> que necessitem <strong>do</strong> rendimento auferi<strong>do</strong> <strong>no</strong> emprego para<br />

o seu sustento e da própria família e, por último, <strong>as</strong> que são mães solteir<strong>as</strong>, divorciad<strong>as</strong><br />

ou separad<strong>as</strong> (sobretu<strong>do</strong> <strong>as</strong> que não têm apoio familiar ao nível da prestação<br />

de cuida<strong>do</strong>s aos filhos). Ataxa de vitimação <strong>do</strong> <strong>as</strong>sédio sexual aumenta para <strong>as</strong> que<br />

trabalham em horário <strong>no</strong>ctur<strong>no</strong>.<br />

Nos contextos de <strong>trabalho</strong> de pre<strong>do</strong>minância m<strong>as</strong>culina, <strong>as</strong> interacções tornam-se<br />

sexualizad<strong>as</strong> e o <strong>as</strong>sédio é frequente. Tal resulta, em parte, da prevalência<br />

de uma cultura m<strong>as</strong>culina, supostamente viril, inerente a estes empregos. Acapacidade<br />

de <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> conquistarem a sua própria autoridade depende da habilidade<br />

para gerirem não só o <strong>as</strong>sédio <strong>do</strong>s seus supervisores, m<strong>as</strong> também <strong>do</strong>s seus subordina<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> sexo m<strong>as</strong>culi<strong>no</strong>. Nest<strong>as</strong> organizações, a diversidade de género <strong>no</strong>s<br />

locais de <strong>trabalho</strong> tende a ser referida, como forma de reduzir <strong>as</strong> tentativ<strong>as</strong> de <strong>as</strong>sédio<br />

m<strong>as</strong>culi<strong>no</strong> (Pryor, 1987).<br />

SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 57, 2008, pp.11-23

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