28.06.2014 Views

Violência contra as mulheres no trabalho: o caso do ... - SciELO

Violência contra as mulheres no trabalho: o caso do ... - SciELO

Violência contra as mulheres no trabalho: o caso do ... - SciELO

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Violência <strong>contra</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> <strong>no</strong> <strong>trabalho</strong> 19<br />

estes <strong>as</strong>pectos reforçam a vitimação d<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> que p<strong>as</strong>sam pela experiência de<br />

<strong>as</strong>sédio sexual <strong>no</strong> local de <strong>trabalho</strong>. Revelam ainda que a participação feminina <strong>no</strong><br />

merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> e <strong>as</strong> divers<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de violência de que <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> são alvo<br />

estão profundamente imbuíd<strong>as</strong> de pressupostos <strong>no</strong>rmativos e ideológicos.<br />

Por último, tal como <strong>as</strong> restantes form<strong>as</strong> de vitimação sexual, o <strong>as</strong>sédio constitui<br />

mais um fenóme<strong>no</strong> estrutural <strong>do</strong> que um desvio <strong>do</strong> comportamento individual.<br />

Ele opera como um instrumento de controlo social. Tal tem si<strong>do</strong> demonstra<strong>do</strong> por<br />

vários estu<strong>do</strong>s que revelam, por um la<strong>do</strong>, que <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> que se en<strong>contra</strong>m em<br />

ocupações tradicionalmente reservad<strong>as</strong> aos homens, correm um risco superior de<br />

serem vítim<strong>as</strong> de <strong>as</strong>sédio sexual e, por outro, aquel<strong>as</strong> que reportam a experiência<br />

de vitimação sofrem sempre algum tipo de retaliação (Koss e outros, 1994: 115).<br />

Conclusão<br />

O <strong>as</strong>sédio sexual é uma forma de violência e de discriminação. É responsável pelo<br />

facto de muit<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> se verem obrigad<strong>as</strong> a mudar com frequência de emprego<br />

ou a demitirem-se. É, de igual mo<strong>do</strong>, responsável por uma evolução mais lenta n<strong>as</strong><br />

carreir<strong>as</strong> profissionais feminin<strong>as</strong>, alimentan<strong>do</strong> o gap salarial existente entre homens<br />

e <strong>mulheres</strong>. Ao <strong>as</strong>sédio sexual en<strong>contra</strong>m-se muit<strong>as</strong> vezes <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> atitudes<br />

sexist<strong>as</strong> e racist<strong>as</strong> (Gutek, 1985).<br />

O <strong>as</strong>sédio sexual pode ser uma experiência traumática e humilhante. Contu<strong>do</strong>,<br />

<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> que sobrevivem a este tipo de violência revelam um intenso sentimento<br />

de resiliência. Para algum<strong>as</strong>, o facto de terem sobrevivi<strong>do</strong> ao <strong>as</strong>sédio sexual<br />

resultou <strong>no</strong> aumento da sua capacidade de superação de dificuldades e numa melhoria<br />

significativa <strong>do</strong> seu orgulho pessoal. Adquiriram um maior conhecimento<br />

<strong>do</strong>s seus direitos <strong>no</strong> <strong>trabalho</strong> e <strong>do</strong> sistema legal. Este conhecimento fá-l<strong>as</strong> sentir<br />

mais segur<strong>as</strong> <strong>contra</strong> eventuais experiênci<strong>as</strong> futur<strong>as</strong> de <strong>as</strong>sédio. Por vezes, est<strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong> dinamizam movimentos comunitários de auto-ajuda e de sensibilização<br />

para a violência <strong>no</strong> <strong>trabalho</strong>, contribuin<strong>do</strong>, desta forma, para a mudança de atitudes<br />

neste <strong>do</strong>mínio.<br />

O problema <strong>do</strong> <strong>as</strong>sédio sexual <strong>no</strong> espaço laboral é persistente e comum entre<br />

<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong>. Est<strong>as</strong> en<strong>contra</strong>m-se sobre-representad<strong>as</strong> <strong>no</strong>s segmentos eco<strong>no</strong>micamente<br />

mais vulneráveis <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> e mantêm-se nele por razões distint<strong>as</strong>.<br />

Muit<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> são solteir<strong>as</strong> e dependem <strong>do</strong> seu próprio <strong>trabalho</strong> como<br />

condição de auto<strong>no</strong>mia e sobrevivência; outr<strong>as</strong> são c<strong>as</strong>ad<strong>as</strong> ou vivem em união de<br />

facto e estão <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> por necessidade de subsistência da própria família;<br />

para outr<strong>as</strong> o <strong>trabalho</strong> representa a única fonte de rendimento d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> famíli<strong>as</strong>,<br />

constituíd<strong>as</strong> muit<strong>as</strong> vezes por crianç<strong>as</strong> dependentes; m<strong>as</strong> também, e talvez<br />

mais importante <strong>do</strong> que tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> razões evocad<strong>as</strong>, porque o <strong>trabalho</strong> é um direito<br />

fundamental, que deve ser exerci<strong>do</strong> em condições de plena igualdade entre homens<br />

e <strong>mulheres</strong> (artigos 9.ºh e 59.º, Constituição da República Portuguesa, 1998). O<br />

<strong>as</strong>sédio sexual não só atenta <strong>contra</strong> estes direitos, como coloca tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong><br />

vítim<strong>as</strong> numa situação complexa e intolerável. Contu<strong>do</strong>, muit<strong>as</strong> são obrigad<strong>as</strong> a<br />

suportarem-<strong>no</strong> como condição de manutenção <strong>do</strong> emprego, que é visto por el<strong>as</strong><br />

SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 57, 2008, pp.11-23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!