Violência contra as mulheres no trabalho: o caso do ... - SciELO
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Violência <strong>contra</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> <strong>no</strong> <strong>trabalho</strong> 17<br />
confiança, <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> moral, na capacidade produtiva e n<strong>as</strong> expectativ<strong>as</strong> de carreira<br />
d<strong>as</strong> vítim<strong>as</strong>; <strong>no</strong>s trabalha<strong>do</strong>res que testemunham o <strong>as</strong>sédio ou que têm conhecimento<br />
dele, e que <strong>as</strong>sistem à degradação <strong>do</strong> ambiente de <strong>trabalho</strong>; <strong>no</strong>s próprios<br />
emprega<strong>do</strong>res que, através <strong>do</strong> seu comportamento, põem em causa a eficiência<br />
produtiva e económica da empresa, corren<strong>do</strong> o risco de publicidade negativa e de<br />
eventuais implicações ou sanções legais (União Europeia, 2005).<br />
É difícil avaliar a totalidade <strong>do</strong>s efeitos que o <strong>as</strong>sédio sexual pode ter na vida<br />
d<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> vítim<strong>as</strong> desta experiência. Contu<strong>do</strong>, é inegável que aquel<strong>as</strong> que são<br />
alvo deste tipo de violência reportam efeitos negativos ao nível da sua condição<br />
física e emocional, da perda da auto-estima e da autoconfiança. Revelam ainda<br />
uma maior predisposição para reacções emocionais que incluem depressão,<br />
me<strong>do</strong>, ansiedade, irritabilidade, sentimentos de humilhação e de vulnerabilidade<br />
(Gutek, 1985).<br />
Atenden<strong>do</strong> aos efeitos descritos importa actuar ao nível da prevenção, intervenção<br />
e tratamento d<strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> e <strong>as</strong>sedia<strong>do</strong>res. No primeiro c<strong>as</strong>o, é necessário, à<br />
semelhança <strong>do</strong>s restantes tipos de violência de que <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> são alvo, definir<br />
guidelines de actuação para os diversos profissionais que intervêm a jusante e a<br />
montante <strong>do</strong> problema; proporcionar apoio e validação <strong>do</strong>s relatos d<strong>as</strong> vítim<strong>as</strong><br />
com b<strong>as</strong>e <strong>no</strong> apuramento <strong>do</strong>s factos; monitorar os sintom<strong>as</strong> físicos, emocionais e<br />
materiais <strong>do</strong> <strong>as</strong>sédio; proporcionar <strong>as</strong>sistência social e legal às dificuldades emergentes<br />
(Di<strong>as</strong>, 2008). A intervenção com os perpetra<strong>do</strong>res de <strong>as</strong>sédio é praticamente<br />
inexistente. A nível internacional tem si<strong>do</strong> ensaiada a terapia de grupo voltada<br />
para a mudança d<strong>as</strong> atitudes que sustentam este tipo de agressão (Wagner, 1992).<br />
A intervenção deve ainda ser dirigida para os contextos organizacionais. Nestes, é<br />
importante existir uma definição clara <strong>do</strong> que é o <strong>as</strong>sédio sexual, a par de uma cultura<br />
organizacional que não tolere o <strong>as</strong>sédio e que encoraje a identificação deste<br />
tipo de situações. A criação de canais de difusão da informação contribui para a<br />
consciencialização deste problema entre os trabalha<strong>do</strong>res (Koss e outros, 1994:<br />
152). Aprodução de legislação especificamente voltada para a penalização <strong>do</strong> <strong>as</strong>sédio<br />
sexual <strong>no</strong> <strong>trabalho</strong> contribuiria largamente para sua eliminação.<br />
Por último, tal como em qualquer outro problema social crítico, é fundamental<br />
a prevenção primária. No c<strong>as</strong>o concreto <strong>do</strong> <strong>as</strong>sédio sexual, faz senti<strong>do</strong> a implementação<br />
de polític<strong>as</strong> sociais que promovam o estatuto social d<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> <strong>no</strong> espaço<br />
laboral. Com efeito, <strong>as</strong> organizações que têm um número idêntico ou aproxima<strong>do</strong><br />
de trabalha<strong>do</strong>res femini<strong>no</strong>s e m<strong>as</strong>culi<strong>no</strong>s têm me<strong>no</strong>s problem<strong>as</strong> de <strong>as</strong>sédio<br />
sexual. O mesmo acontece com aquel<strong>as</strong> que não produzem qualquer tipo de discriminação<br />
em função <strong>do</strong> género na <strong>contra</strong>tação e na promoção de pessoal e que desenvolvem<br />
polític<strong>as</strong> de facilitação da articulação entre família e <strong>trabalho</strong>.<br />
O <strong>as</strong>sédio sexual como parte de um continuum de violência <strong>contra</strong><br />
<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong><br />
O <strong>as</strong>sédio sexual partilha algum<strong>as</strong> semelhanç<strong>as</strong> com outr<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de violência<br />
praticad<strong>as</strong> <strong>contra</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong>. Em primeiro lugar, é uma forma de exercer poder e<br />
SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 57, 2008, pp.11-23